O gerenciamento de resíduos sólidos no município de Barcelos-AM: conscientização da população e gestores

(1)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

1

O Gerenciamento de Resíduos Sólidos no Município de Barcelos-AM:

Conscientização da População e Gestores

Davi Marques de Oliveira – davimarques26@hotmail.com – UFF/ICHS Resumo

Com a crescente industrialização mundial, superprodução de bens e produtos de consumo, a humanidade gera toneladas de resíduos dia após dia. O descarte do lixo é uma questão de interesse público, mesmo sendo um assunto tratado de forma negligente devido a certos aspectos, principalmente a falta de rigor na fiscalização do cumprimento das leis que tratam do referido tópico. Este Relatório Técnico possui o objetivo de propor um plano de conscientização da problemática dos resíduos sólidos no Município de Barcelos - AM, tendo como público-alvo seus habitantes. Para a construção deste trabalho, foram realizadas pesquisas bibliográficas em sites como o Scielo e Capes, bem como análise de dados de Organizações que atuam na área, além uma pesquisa on-line contendo questões fechadas, a qual foi respondida por moradores da cidade em questão. Após coleta e análise dos dados, conclui-se que os habitantes do município de Barcelos possuem pouco conhecimento sobre as leis e normas vigentes que tratam sobre a temática dos resíduos sólidos.

Palavras-chave: Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos, Políticas Públicas, Meio Ambiente

1 – Introdução

O constante desenvolvimento dos centros urbanos, agregado à crescente industrialização da sociedade moderna, tem por consequência gerar uma quantidade considerável de resíduos sólidos, onde a busca incansável pela superprodução de bens causa diferentes problemas ambientais que precisam ser acompanhados por todos, afinal, o ser humano é parte integrante do meio ambiente.

O descarte incorreto dos resíduos, associado à falta de conhecimento, conscientização da população, de fiscalização e empenho dos órgãos competentes pode acarretar em danos graves à saúde pública e ao meio ambiente. Aterros “controlados” ou simplesmente lixões são uma forma ágil, pouco onerosa e principalmente, inapropriada de destinação final dada aos RSU e RSS, visto que comprometem a integridade do meio ambiente, poluindo o ar, os afluentes e cursos d’água próximos. O gerenciamento correto dos resíduos sólidos reflete em melhoria na qualidade de vida dos habitantes e como consequência, a preservação do meio ambiente. A busca por soluções inovadoras depende do esforço de integrado de atores importantes como os cidadãos, gestores públicos e empresários.

Este relatório originou-se da preocupação com os impactos causados à sociedade e ao meio ambiente, devido a falta de tratamento que é dado aos Resíduos Sólidos Urbanos – RSU e Resíduos produzidos pelo Serviço de Saúde – RSS, no Município de Barcelos, Amazonas. Como a cidade possui um “aterro controlado”, percebe-se que não é dada uma atenção

(2)

2 adequada ao manuseio e descarte dos resíduos. Em contrapartida, a população precisa ser esclarecida para que possa cobrar, fiscalizar e contribuir dentro de sua esfera de atribuição. O gestor público tem o dever de saber como agir com relação a problemática dos resíduos, e deve contar com a ajuda da população para que não ocorra a degradação do meio ambiente em que vivemos. Compreender que a destinação final adequada dos resíduos, segundo Barbosa e Ibrahin (2014), inclui a reciclagem, reutilização, a compostagem, aproveitamento energético ou destinações diferentes admitidas por órgãos competentes, de modo que se evitem os riscos à saúde pública e minimizar os possíveis impactos ambientais adversos. Deve-se ainda atentar, que a área atual do aterro sanitário da cidade de Barcelos não está de acordo com as normas e leis vigentes (Lei 12.305, de 02 de agosto de 2010, Resolução CONAMA 04/95 entre outras), onde os lixões só seriam permitidos até agosto de 2014, sendo assim, a cidade de Barcelos está contrariando a lei.

A adoção de medidas para a redução e reaproveitamento dos resíduos não é uma tarefa simples, pois nos traz um choque cultural, exige persuasão, um trabalho de esclarecimento sobre os benefícios da gestão ambiental e requer ainda, tempo e paciência para que a população entenda seu papel e possa participar de forma voluntária e consciente.

Uma das funções deste relatório é conscientizar todos os indivíduos, principalmente os gestores públicos, dos problemas causados à saúde e ao meio ambiente, com a finalidade de que estes mudem hábitos nocivos e prejudiciais à natureza e a própria sociedade.

Por ser um Relatório Técnico, foi realizada uma análise in loco da situação do Município, onde foram feitas fotografias atuais do local de descarte dos resíduos da cidade e algumas entrevistas com moradores locais.

Considerou-se o período compreendido entre os anos de 2009 a 2014, devido a disponibilidade dos dados estatísticos sobre resíduos sólidos urbanos na cidade de Barcelos. Foi implementada uma pesquisa on-line, composta de cinco perguntas fechada, onde foram consideradas três como relevantes ao trabalho, tendo como participantes 62 (sessenta e dois) habitantes do município. Por se tratar de uma pesquisa on-line, não foi permitido um levantamento preciso das características da população de amostra.

Incluíram-se dados de organizações que atuam na área de resíduos sólidos, como a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), além de pesquisas bibliográficas em publicações de revistas e sites como o CAPES e Scielo, e de autores como Filho e Soler (2015), Barbosa e Ibrahin (2014), Castilhos Junior (2003), França (1996), Garcia e Zanetti-Ramos (2004), Gouveia (2012), Hempe e Nogueira (2012), Lima (2007), Oliveira, Mazzarino e Turatti (2009), Leite (1990), Santos e Silva (1995), Nunesmaia (2002) e Valle (2002).

Este Relatório Técnico possui além do resumo e introdução, o tópico 2, no qual é apresentado o objetivo do relatório; o tópico 3, o qual é constituído de uma apresentação do caso, onde será abordada a situação atual do sistema de coleta e depósito de resíduos no Município de Barcelos e as características da cidade. O tópico 4 é constituído do Referencial Teórico, onde apresenta-se a fundamentação deste relatório. O Plano de Ação, o qual está inserido uma Matriz 5W2H, onde o plano de conscientização está disposto, encontra-se no tópico 5. O

(3)

3 tópico 6 deste Relatório Técnico apresenta uma conclusão e considerações sobre o trabalho e, por fim, o tópico 7 é constituído das referências bibliográficas que compõem este relatório. 2 – Objetivo

Este Relatório Técnico propõe um plano de conscientização da população barcelense, onde possui o objetivo de disseminar informações acerca dos RSU e RSS aos habitantes através de palestras educativas sobre as leis e normas vigentes, descarte, manejo, destinação final e reaproveitamento dos resíduos sólidos. Uma população bem informada se torna uma potencial ferramenta de controle social, estando apta a fazer parte de um sistema de preservação e conservação ambiental.

3 – Apresentação do Caso

3.1 – Características da Cidade de Barcelos

A cidade de Barcelos - AM, fundada em 27 de maio de 1758, é localizada às margens do Rio Negro. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2016), a população de Barcelos é estimada em 27.589 habitantes, distribuídos numa área de 122.475,065 km², possuindo uma densidade demográfica de 0,21 habitantes por km². Seu Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, em 2010, foi de 0,500, o 55º dos 62 Municípios amazonenses analisados à época. Tal IDHM reflete os problemas enfrentados pelo município, onde o mesmo passa por situações de total descaso, principalmente pelas “guerras” eleitorais que ocorrem na cidade. Ainda segundo dados do IBGE (2016), Barcelos-AM possui um PIB per capta a preços correntes de R$ 4.960,69 reais, auferidos em 2013. A cidade possui excelente potencial turístico, abrigando em seu território o arquipélago de Mariuá, maior arquipélago fluvial do mundo, com 140 quilômetros e 400 ilhas. Possui a pesca esportiva e a Festa do Peixe Ornamental como suas atrações principais. Durante o período compreendido entre 2008 a 2010, foi possível observar que não se dispende uma atenção adequada à coleta e tratamento dos resíduos sólidos urbanos e de saúde.

3.2 – Situação Atual da Coleta e Depósito de Resíduos no Município

Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (2009), o aterro controlado representa um local onde não se atenta para as medidas e técnicas necessárias para que não haja danos ao meio ambiente e à saúde pública, sendo assim, uma solução inadequada para o destino final dos RSU.

Uma das consequências de um posicionamento errôneo de um aterro controlado é o excesso de aves carniceiras, as quais provocam a ameaça do “perigo aviário”, que em Barcelos é constante, mesmo que não exista uma estatística desse tipo de acidente. O local onde são despejados os resíduos não possui a mínima adequação, seja na distância estipulada pela Resolução CONAMA 04/95, seja pela estrutura do aterro sanitário, onde não existe licença ambiental para seu funcionamento, não é realizada a cobertura dos resíduos, a incineração é realizada a céu aberto, não possui cercamento ou delimitações da área, sem instalações administrativas, não possui impermeabilização da base do solo, não possui drenagem de águas pluviais, nem reaproveitamento dos gazes. De acordo com Gouveia (2012, p. 1504) a

(4)

4 disposição errada de resíduos no solo, nos lixões e aterros controlados, se transforma em uma fonte de disseminação de várias substâncias tóxicas à saúde humana.

Em época de alta temporada do turismo (janeiro, fevereiro e março), a cidade recebe em seu aeroporto diversas aeronaves bimotoras, sendo estas as mais vulneráveis à ameaça aviária. Segundo a Resolução CONAMA nº 4, de 09 de outubro de 1995:

Art. 1º. São consideradas “Área de Segurança Aeroportuária - ASA” as áreas abrangidas por um determinado raio a partir do “centro geométrico do aeródromo”, de acordo com o seu tipo de operação, divididas em duas categorias: I - raio de 20 km para aeroportos que operam de acordo com as regras de vôo por instrumento (IFR); e II - raio de 13 km para os demais aeródromos.

Parágrafo Único: No caso de mudança de categoria do aeródromo, o raio da ASA deverá se adequar à nova categoria.

Atualmente o aeródromo de Barcelos está aproximadamente cerca de 3 km de distância do aterro da cidade, descumprindo assim tal resolução. O aeroporto ficou fechado entre os anos de 2007 e 2012, para adequações exigidas pela Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC, apenas utilizado em emergências e pela Força Aérea Brasileira.

Segundo o Ministério das Cidades – SNIS – Sistema Nacional de Saneamento, 2013, a população total atendida com serviços de coleta de lixo domiciliar gira em torno de 11.761 habitantes, ou seja, cerca de 45,76% da população total. Deve-se considerar também que a população ribeirinha como as comunidades de Piloto, Ponta da Terra, Bolichu, Canafé, São Luiz, Floresta I, Floresta II, Cucuí dentre outras, não possuem condições atuais de infraestrutura para que seja realizada uma coleta, pois tais locais não possuem estradas que as ligam ao centro urbano, seu acesso apenas é possível por meio fluvial. Nessas localidades os resíduos são incinerados pelos próprios moradores. A cidade de Barcelos começou a enviar os dados para compor os relatórios do Sistema Nacional de Saneamento - SNIS em 2013.

O serviço de coleta de resíduos sólidos em Barcelos é administrado pela Prefeitura Municipal por meio de uma ação conjunta entre as Secretarias de Meio Ambiente, Transportes e de Saúde. Cerca de 80 funcionários realizam o serviço de coleta e 20 fazem os serviços de capina e poda de árvores (Fonte: SNIS). A coleta atinge a todos os bairros localizados no centro urbano, deixando de atuar com tempestividade em bairros como Santo Antônio, Marará, Mariuá e Bairro da Paz, mesmo com estes tendo acesso por estrada asfaltada. Os materiais coletados são os resíduos de origem domiciliar, comercial, e hospitalar, produzidos no município, incluindo os entulhos provenientes das obras. Atualmente, todos os resíduos sólidos de Barcelos são depositados em um aterro controlado. Segundo um funcionário da prefeitura, que trabalha na coleta, os resíduos produzidos pelas unidades de saúde (Resíduos do Serviço de Saúde – RSS) são coletados pelo mesmo veículo da coleta domiciliar, descartados no aterro sanitário, em valas e, com frequência, incinerados. Segundo dados obtidos no SNIS, em 2013 foram produzidos 20 toneladas de RSS. Podemos perceber o total descaso com os RSU e RSS, que poderão contaminar os igarapés, seus afluentes, o solo e até mesmo o ar, devido às incinerações feitas sem um controle e condições para tal, a céu aberto e causar um problema de saúde pública generalizado, conforme demonstrado nas fotos a seguir:

(5)

5 Figura 1 – Parte do Lixão da Cidade

(Fonte: Elaborado pelo autor, 2016)

Figura 2 – Incineração a céu aberto

(6)

6 Antes do ano de 2013, a coleta era realizada por caminhões caçamba e tratores agrícolas, sendo estes veículos nada adequados para a realização de tal atividade, colocando em risco a vida dos funcionários que trabalham com a coleta. De acordo com a notícia divulgada na Sala de Imprensa do Portal do Governo do Estado do Amazonas, o Governador Omar Aziz entregou caminhões coletores a 08 (oito) municípios do interior em julho de 2013, sendo Barcelos agraciado com uma unidade, com capacidade de 12 m³. Pelo tamanho da cidade, apenas uma viatura coletora não é suficiente, pois a mesma fica sobrecarregada, e existem eventuais manutenções, quebras e demais infortúnios que fogem ao controle da administração.

Figura 3 – Caminhão coletor e funcionário de coleta de Barcelos-AM

(7)

7 Percebe-se o descaso com a problemática dos RSS e RSU, onde o funcionário não utiliza equipamentos de proteção individual adequados. A poluição do ambiente compromete a qualidade de vida da população.

A gestão de resíduos é uma das principais ferramentas que o gestor público tem a sua disposição para evitar transmissão de doenças relacionadas ao lixo, a contaminação dos lençóis freáticos e cursos d’água e ainda, lidar com questões sociais que envolvem as pessoas que vivem dos resíduos sólidos, como os catadores e cooperativas de reciclagem.

4 – Referencial Teórico

A problemática dos Resíduos Sólidos Urbanos e de Saúde pode ser combatida com uma gestão pública eficiente. Um caso de sucesso na gestão de resíduos é o Aterro Sanitário de Nova Iguaçu, localizado na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, o qual se tornou referência mundial no tratamento de resíduos sólidos, sendo o primeiro no mundo a estar oficialmente inscrito como projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL, do Protocolo de Kyoto, segundo Kornexl (2004). A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10) determina que todo resíduo seja processado apropriadamente antes da destinação final. De acordo com Barbosa e Ibrahin (2014) existe a teoria dos R’s, na qual reduzir, reutilizar, reciclar, repensar e recusar, ficou conhecida mundialmente após aparição na Agenda 21, documento elaborado durante a Eco-92. Uma das medidas que devem ser incentivadas é a criação de cooperativas de reciclagem, pois tal medida fortalece o conceito da coleta seletiva na sociedade.

A resolução CONAMA 306/2002, em seu Anexo I, define meio ambiente como: “[...] é o conjunto de condições, leis, influência e interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

O trabalho de preservação ambiental é um dever de todo o cidadão e, a degradação do mesmo se torna um problema público, visto que afeta toda uma comunidade. Vejamos o que afirma Oliveira, et al:

[…] o processo de destinação dos resíduos sólidos domésticos é um problema de responsabilidade de âmbito individual, da comunidade e dos poderes públicos. A responsabilidade assume uma dimensão individual na medida em que cada cidadão é responsável por depositar seus resíduos domésticos em local adequado. (OLIVEIRA, et al., 2009, p 2425.)

Conforme Hempe e Noguera (2012, p. 684) cita,

[…] poluição ambiental pode ser definida como a ação de contaminar as águas, solos e ar. Tem ocorrido com a liberação no meio ambiente de lixo orgânico, industrial, gases poluentes, objetos materiais, elementos químicos, entre outros, o que tem prejudicado o funcionamento dos ecossistemas, até matado várias espécies de animais e vegetais.

Percebe-se então, a real importância que um plano de conscientização e esclarecimento possui sobre a temática dos resíduos sólidos.

Conforme explica Garcia e Zanetti-Ramos (2004) os Resíduos de Serviços de Saúde – RSS, geralmente, são considerados apenas os produzidos pelos hospitais, clínicas médicas ou

(8)

8 outros relacionados apenas à área da “saúde”. No entanto, os RSS são produzidos por outros setores nos quais se incluem: farmácias, clínicas odontológicas e veterinárias, necrotérios, hemocentros, laboratórios, dentre outros. No momento em que se despreza o verdadeiro potencial poluidor de tais resíduos, podemos considerar a possibilidade de um problema saúde pública e ambiental inestimáveis.

Filho e Soler (2015, pg. 28) destacam os responsáveis pelo cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS:

Os Municípios e o Distrito Federal são responsáveis pela operacionalização do sistema, pela entrega dos serviços necessários ao cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos, notadamente os serviços de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, com especial ênfase ao sistema de coleta seletiva.

A Lei 12.305, de 02 de agosto de 2010 nos traz a definição de resíduos sólidos:

[...] material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.

Deve-se observar que a mesma Lei define os geradores de resíduos sólidos como sendo “[...] pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, que geram resíduos sólidos por meio de suas atividades, nelas incluído o consumo” (Lei 12.305, 02 Ago. 2010).

A produção de resíduos sólidos nas atividades humanas do cotidiano exige uma série de medidas e ações preventivas no que diz respeito aos hábitos e conscientização da população. Valle (2002) cita a classificação tradicional dos resíduos sólidos que incluem os resíduos pastosos e líquidos concentrados que não fluem por canalizações – divide-os em perigosos e não perigosos:

Classe I – resíduos perigosos – inflamáveis, corrosivos, reativos, tóxicos ou patogênicos. Classe II – resíduos não inertes – combustíveis, solúveis e biodegradáveis.

Classe III – resíduos inertes – não oferecem riscos à saúde ou ao meio ambiente Segundo Valle:

Os resíduos sólidos perigosos são os resíduos ou misturas que em razão de suas características, podem apresentar risco à saúde pública, provocando ou contribuindo para um aumento de mortalidade ou incidência de doenças, e ainda trazer efeitos adversos ao meio ambiente quando manuseados ou dispostos de forma inadequada. O conceito de resíduos perigoso baseia–se, portanto no grau de nocividade que representa para o homem e o meio ambiente e pode variar de acordo com a legislação ambiental estabelecida em cada país. (VALLE, 2002, p.53).

A classificação dos resíduos não perigosos pode ser: inertes ou não inertes. Sua disposição é relativamente simples e pouco onerosa, comparado aos resíduos perigosos. O autor relata ainda que os resíduos domiciliares e uma grande parcela dos industriais são de classificação não perigosa. Se feita uma segregação destes resíduos, logo após sua produção, os custos de tratamento e destinação final serão bem mais baixos. Valle (2002) aponta que em relação á

(9)

9 origem os resíduos sólidos são geralmente agrupados em: domiciliar, comercial, industrial, hospitalar, agrícola, público, entulho e de terminais (portos, aeroportos entre outros).

A solução para uma cidade do porte de Barcelos, apesar de sua grande extensão territorial, a área urbana é relativamente pequena, aproximadamente 91,5 km² (dados estimados através do Google Earth), seriam os aterros sanitários sustentáveis, apoiados com uma coleta seletiva de resíduos. Segundo Castilhos Junior (2003, pg. 52), existem aspectos que devem ser considerados para a implantação de tais aterros como: a geração de RSU per capita, o volume de RSU gerado nas atividades de varrição/ manutenção das vias, o sistema de coleta/transporte disponível, o tratamento e o destino final dado ao RSU.

Conforme Filho e Soler (2015), a diversidade local e regional no Brasil deve ser observada e respeitada, onde se faz necessário a adequação das matérias que regulamentam a gestão de resíduos, levando em consideração as condições e peculiaridades de cada localidade, considerando as características da população e sua capacidade de pagamento. Logo, percebe-se que todos os dados coletados devem estar em total concordância com a realidade, para que se possa traçar um plano condizente com a real situação do município em questão.

5 – Plano de Ação

A cidade de Barcelos, atualmente não possui cooperativas de reciclagem ou reaproveitamento de materiais. O aterro controlado da cidade não funciona de acordo com as normas vigentes e, possivelmente, em sua localização já deva existir algum indício de contaminação do meio ambiente. Este relatório propõe uma forma de começar a lidar com tal problemática, partindo do princípio da conscientização dos habitantes e estímulo à reciclagem dos materiais.

Para que possa implementar um sistema efetivo de reciclagem, a população em geral deve estar consciente de que o processo começa na segregação dos resíduos. Há uma infinidade de produtos que podem ser reciclados e reaproveitados, porém, existem outros que já não podem passar pelo processo, pois já são derivados ou mesmo estão contaminados, como é o caso de papel vegetal, papel-celofane, seringas e agulhas descartáveis, ou seja, resíduos produzidos pelo serviço de saúde.

A figura do “catador” deve ser conscientizada de sua importância para o ciclo da reciclagem, pois será um elemento da força de trabalho importante para que o sistema seja auto-sustententável.

O gestor público deve oferecer incentivos e facilidades à formação das cooperativas de reciclagem, devendo incentivar as ações de conscientização, promovendo palestras sobre o assunto, distribuindo panfletos explicativos e criando oficinas sobre o tema.

Conforme dados de pesquisa on-line realizada com o universo da amostra, sessenta e dois habitantes do município de Barcelos, conclui-se que a população precisa ser esclarecida, para que esteja em condições de cooperar e apoiar o Poder Público em programas de conscientização. Devido a falta de acesso à internet das comunidades mais afastadas do Centro Urbano, deduz-se que os habitantes entrevistados sejam predominantes dos bairros centrais da cidade.

(10)

10 Gráfico 1 - Conhece alguma Lei/ Norma em vigor, que aborde a temática dos RSU e RSS?

Gráfico 2 - Separa os resíduos produzidos, com a finalidade de facilitar a coleta ou mesmo, futura reutilização?

Gráfico 3 - Problemas relevantes que os entrevistados vincularam ao descaso com a destinação dada aos RSU e RSS:

(11)

11 As Secretarias de Meio Ambiente e Saúde deverão coordenar uma série de palestras e panfletagens, abordando quaisquer habitantes da cidade. O trabalho de conscientização deverá alcançar as comunidades mais afastadas, pois estas não são beneficiadas regularmente pelo serviço de coleta urbana. Para atingir tais objetivos, utilizaremos uma Matriz 5W2H.

5.1 - Matriz 5W2H

Para a construção da Matriz 5W2H foram consideradas as condições reais da cidade, para que este Relatório possa ser o mais viável possível e, realmente possa ser posto em prática.

Tabela 1: Matriz 5W2H do Plano de Conscientização

Ord Passos Detalhes

1 What – O que faremos?

Conscientizar todos os gestores públicos e cerca de 70% da população das áreas centrais da cidade sobre as normas e leis vigentes, manuseio, descarte e reaproveitamento, bem como a destinação final dada aos RSU e RSS. A população das áreas mais afastadas da cidade será abordada tão logo a campanha de informação atinja o percentual estabelecido de habitantes do centro da cidade, onde deverá ser alcançada em cerca de 70% de sua totalidade.

2 Why – Por que?

Dados levantados na pesquisa on-line apontam que 74,20% dos entrevistados desconhecem a existência de leis e normas que abordem a temática dos RSS e RSU. Assim como 80,65% dos entrevistados não realiza a segregação dos resíduos produzidos. Diante do que foi relatado, nota-se que a população precisa receber as informações necessárias para que possa ser conscientizada e assim, dar a importância adequada à problemática da geração indiscriminada de RSS e RSU.

3 Where – Onde?

No município de Barcelos-AM e suas comunidades ao longo do Rio Negro. Será dada uma atenção maior ao centro urbano, local onde a geração dos resíduos é consideravelmente maior.

4 Who – Quem fará?

O Secretário de Meio Ambiente junto com o Secretário de Saúde ficará responsável por coordenar as palestras e treinar o pessoal. Terão o auxílio da área de finanças e aquisições, para confecção de panfletos explicativos e os gastos decorrentes do plano de conscientização.

5 When – Quando será realizado?

A partir do dia 20 Fev. 2017, pois a nova equipe de gestão, que deverá assumir dia 1º Jan. 2017, devido às Eleições Municipais de 2016, terá tempo para realizar os preparativos iniciais.

6 How – Como?

Conscientização e esclarecimento através de panfletagem e palestras realizadas em escolas, hospitais e outros órgãos públicos, com o objetivo de alcançar 70% da população urbana. Os responsáveis por ministrar as palestras deverão conhecer rigorosamente o assunto, para que possam esclarecer corretamente a população acerca da problemática dos RSS e RSU, bem como apontar as vantagens do reaproveitamento dos resíduos. Será feita divulgação dos dias de campanha do plano de conscientização em carros de som da própria prefeitura e na rádio local.

(12)

12

7 How Much – Quanto custa?

A equipe precisará de pelo menos 02 (dois) projetores de mídia, 02 (dois) notebooks, material para panfletagem, combustível para deslocamento fluvial e terrestre. O valor estimado, com base em pesquisas de preço (média de, pelo menos, três fornecedores) foi de R$ 12.250,00 (doze mil duzentos e cinquenta reais). Tendo como base a população total do município, será preciso cerca de 30.000 (trinta mil) panfletos, onde estes custarão em média R$ 45,90 (quarenta e cinco reais e noventa centavos) o milheiro, sendo um total de R$ 1.377,00 (mil trezentos e setenta e sete reais). O gasto total estimado do plano de conscientização será de aproximadamente R$ 13.627,00 (treze mil seiscentos e vinte e sete reais) no 1° mês e R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais) de combustível mensal, enquanto durar o plano de conscientização. Não foi considerado o gasto com pagamento de pessoal, visto que não serão contratados funcionários extras para a atividade, e sim, os próprios do quadro efetivo da Prefeitura.

Inicialmente, será dada uma atenção maior ao centro urbano de Barcelos-AM e, tão logo seja possível, as palestras e panfletagens estender-se-ão para as comunidades ribeirinhas dispostas ao longo do Rio Negro.

6 – Conclusão

A problemática dos Resíduos Sólidos é um tanto complexa, pois envolve diversos atores de uma sociedade. Para programar ações de melhorias públicas, a população precisa estar consciente de todo o processo, pois somente assim teremos a colaboração de todos. Tal conscientização demanda tempo, pois envolve mudança comportamental e cultural das pessoas, e este é um processo lento.

Uma limitação relevante encontrada durante a coleta de dados foi que a população não se sente confortável em se identificar, nem mesmo os agentes públicos, pois a cidade ainda sofre com os mandos e desmandos da gestão pública atual. As guerras políticas por reeleições de prefeito e vereadores acabam por dividir a sociedade barcelense, e estes candidatos se utilizam das mazelas locais para transformar promessas em moedas de troca. Outro fator limitante que não se pode deixar de registrar é a falta de interesse do Poder Público local na problemática dos Resíduos Sólidos e seu manejo, pois aproximadamente 10 anos que o “aterro controlado” da cidade não é modificado para se adequar as normas e leis vigentes. Programas de conscientização devem ser massificados na sociedade, visto que em um município de pequeno porte, como o de Barcelos, os principais produtores de resíduos são os próprios habitantes. Ao se implementar medidas conscientizadoras, o Poder Público acaba promovendo uma melhoria na qualidade de vida da população, onde haverá uma redução de rejeitos produzidos, a coleta será realizada com mais segurança e o descarte, mesmo que em um aterro controlado, causará menos impactos ao meio ambiente.

Seguindo o que foi reunido neste Relatório, pode-se dar início ao processo de conscientização de pessoas que, em sua maioria, desconhecem seus direitos e deveres, no tocante à produção e

(13)

13 manejo dos resíduos e as transformando em agentes multiplicadores. Com a sociedade esclarecida, as etapas seguintes (implantação de cooperativas de catadores e reciclagem, reaproveitamento dos resíduos e sua correta manutenção, por exemplo) ficarão mais exequíveis.

Este Relatório não esgota o assunto abordado, visto que o tema é amplo. Como proposta, deve-se elaborar um projeto para a implantação de um aterro sanitário padrão, de acordo com as normas e leis vigentes, adequado às cidades de pequeno porte, como é o caso de Barcelos-AM.

Todas as propostas de conscientização aqui descritas não devem ser tratadas como um projeto, com um início e fim definidos, mas sim, ter o conceito de um Programa, apoiado pelo Poder Público local e massificado na sociedade.

7 – Referências

ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil- 2009. São Paulo: Abrelpe, 2009.

AMAZONAS, Governo do Amazonas entrega caminhões coletores de lixo para oito municípios. Disponível em: < http://www.amazonas.am.gov.br/2013/07/governo-do-amazonas-entrega-caminhoes-coletores-de-lixo-para-oito-municipios/>. Acessado em: 28 Set. 2015.

BARBOSA, Rildo Pereira; IBRAHIN, Francini Imene Dias. Resíduos Sólidos – Impactos, Manejo e Gestão Ambiental. 1. ed. 2014. São Paulo: Ed. Érica.

BRASIL. Lei nº 6.514 de 22 de dezembro de 1997. In: FILHO, Carlos Roberto Vieira da Silva; SOLER, Fabrício Dorado. Gestão de Resíduos Sólidos: O que diz a lei. 3 ed. atual. e rev. 2015. São Paulo: Ed. Trevisan.

BRASIL. Lei nº 12.305 de 02 de agosto de 2010. In: FILHO, Carlos Roberto Vieira da Silva; SOLER, Fabrício Dorado. Gestão de Resíduos Sólidos: O que diz a lei. 3 ed. atual. e rev. 2015. São Paulo: Ed. Trevisan.

BRASIL, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Você Sabia, Curiosidades, Maior Arquipélago Fluvial do Mundo. Disponível em: <http://7a12.ibge.gov.br/voce-sabia/curiosidades/maior-arquipelago-fluvial-do-mundo>. Acessado em 29 Set. 2015.

BRASIL, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Cidades. Disponível em:

<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=130040>. Acessado em: 07 Out. 16. CASTILHOS JUNIOR, Armando Borges (Coord.) Resíduos sólidos urbanos: aterro

sustentável para municípios de pequeno porte. Rio de Janeiro: ABES, RiMa, 2003. Disponível para download em: http://livroaberto.ibict.br/handle/1/492. Acessado em 26 Set. 2015.

(14)

14 FILHO, Carlos Roberto Vieirada Silva; SOLER, Fabrício Dorado. Gestão de Resíduos

Sólidos: O que diz a lei. 3 ed. atual. e rev. 2015. São Paulo: Ed. Trevisan.

FRANÇA, J. L. et al. Manual para normalização de publicações técnico-científicas. 3.ed. rev. aum. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1996.

GARCIA, Leila Posenato; ZANETTI-RAMOS, Betina Giehl. Gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde: uma questão de biossegurança. Cad Saúde Pública 2004; 744-752.

Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v20n3/11>. Acessado em: 25 Abr. 2016. GOUVEIA, Nelson. Resíduos sólidos urbanos: impactos socioambientais e perspectiva de manejo sustentável com inclusão social. SCIELO, 2012, p. 1503-1510. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n6/v17n6a14.pdf>. Acessado em: 2 Abr. 2016.

HEMPE, Cléa; NOGUERA, Jorge Orlando Cuellar. A educação ambiental e os resíduos sólidos urbanos. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental, v. 5, n. 5, p. 682-695, 2012. Disponível em: <periodicos.ufsm.br/reget/article/download/4117/2798>. Acessado em: 28 Mar. 2016.

IPea. Diagnóstico dos serviços de Água e Esgotos 2001.sistema nacional de Informações sobre saneamento. Programa de Modernização do setor de saneamento, 2002.

KORNEXL, Werner. Nova Iguaçú faz o primeiro registro mundial de MDL. Revista Eco 21. Ed. 96. 2004. Disponível em: <http://www.eco21.com.br/textos/textos.asp?ID=952>. Acessado em: 02 Abr. 2016.

OLIVEIRA, A. C. M. A.; MAZZARINO, J. M.; TURATTI, L.. A responsabilidade na

destinação dos resíduos sólidos domésticos: análise de discurso dos cidadãos no município de Lajeado. In: SALÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 10, Anais. Porto Alegre: PUCRS, 2009. Disponível em:

<http://www.pucrs.br/edipucrs/XSalaoIC/Ciencias_Sociais_Aplicadas/Direito/70793-ANA_CHRISTINA_MAJOLO_ALVES_DE_OLIVEIRA.pdf>. Acessado em: 15 Mar. 2016. LIMA, Ana Marina Martins. Conceito de meio ambiente. Disponível em:

<http://ambientedomeio.com/2007/07/29/conceito-de-meio-ambiente/>. Acessado em: 25 Set. 2015.

LEITE, P. S. A prática de elaboração de relatórios. 3.ed. rev. Fortaleza : BNB : ETENE, 1990. SANTOS, Gildenir C.; SILVA, Arlete I. Pitarello da. Norma para referências bibliográficas: conceitos básicos: (NBR-6023/ABNT-1989). Campinas, SP : UNICAMP-FE, 1995.

NUNESMAIA, Maria de Fátima. A gestão de resíduos urbanos e suas limitações. Revista Baiana de Tecnologia – SSA, v. 17, nº 1, jan/abr. 2002. P120-129. Disponível em:

<http://web-resol.org/textos/gestao_de_residuos_urbanos_(nunesmaia_2002).pdf>. Acessado em: 03 Out 2015.

(15)

15 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Biblioteca Central. Normas para apresentação de trabalhos: teses, dissertações e trabalhos acadêmicos. 5.ed. Curitiba : Ed. UFPR, 1996. VALLE, Cyro Eyer do, Qualidade Ambiental: ISO 14000/ Cyro Eyer do Valle. – São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2002.