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O desenvolvimento de coleções em bibliotecas digitais: uma análise histórico-metodológica

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O DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES EM BIBLIOTECAS

DIGITAIS: UMA ANÁLISE HISTÓRICO-METODOLÓGICA

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THE DEVELOPMENT OF COLLECTIONS IN THE DIGITAL

LIBRARIES:

A HISTORICAL-METHODOLOGICAL ANALYSIS

GT2 – Gestão de bibliotecas e informação Artigo completo para comunicação oral

CAMPOS, Fhillipe de Freitas2

RESUMO

Apresenta a evolução teórica-conceitual do que hoje se entende por biblioteca digital e dialoga com os termos “biblioteca virtual” e “biblioteca eletrônica”. Aborda a evolução teórica do processo de desenvolvimento de coleções e ressalta as particularidades de se realizar esse processo no ambiente digital, que diverge dos métodos aplicados nas coleções tradicionais. Aponta a importância de se redigir políticas de desenvolvimento de coleções tanto para auxiliar a rotina de trabalho dos profissionais bibliotecários, quanto para dar respaldar as aquisições de materiais bibliográficos. Conclui que há necessidade de expandir a publicação científica nessa temática, principalmente no contexto do Brasil, que ainda apresenta déficit de publicações que lidem especificamente com as coleções digitais.

Palavras-chave: Desenvolvimento de coleções. Bibliotecas digitais. Coleções digitais.

Organização da informação.

1 Parte de reflexões originadas ao cursar a disciplina Formação e Desenvolvimento de Acervos, ministrada pelo

Prof. Dr. Rodrigo Rabello.

2 Discente de bacharelado em Biblioteconomia da Universidade de Brasília (UnB). E-mail:

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ABSTRACT

This article presents the theoretical-conceptual evolution of what is now understood as a digital library and dialogues with the terms "virtual library" and "electronic library". It addresses the theoretical and practical evolution of the collections development process, as well as emphasizes the particularities of performing this process in the digital environment, which differs from the methods applied in traditional collections. It also points out the importance of drafting collections development policies for both support the work routine of librarians and to support the acquisition of bibliographic materials. I have concluded that there is necessary to expand scientific publication in this area, especially in the Brazil's context, which still has a deficit of publications dealing specifically with the digital collections.

Keywords: Development of collections. Digital library. Digital colections. Organization of

information.

1. INTRODUÇÃO

Pensar a formação de bibliotecas requer planejamento e análises rotineiras. A definição do público-alvo a ser atendido certamente deve ser a linha central de preocupação ao gerenciar uma unidade de informação, neste caso, a biblioteca. Nessa perspectiva, o desenvolvimento de coleções é o processo que influencia diretamente na satisfação dos usuários, posto que uma coleção desenvolvida sem este enfoque poderá ser considerada ineficaz. Percebe-se que as políticas de desenvolvimento de coleções são redigidas para uso dos profissionais da informação no seu dia a dia de trabalho, mas seu foco principal são, na verdade, os usuários, já que que são eles a essência das unidades de informação.

A redação de uma política de desenvolvimento de coleções constitui a pedra fundamental de toda boa coleção, quer seja tradicional (física) ou eletrônica. O desafio que se coloca atualmente é o de desenvolver uma coleção pertinente e útil para os usuários em um contexto onde a escolha documentária é considerável e os recursos financeiros, humanos e tecnológicos sejam limitados. (LEROUX, 2007, p. 4).

Sabe-se que as coleções representam quase que a totalidade do produto de uma unidade de informação. Entretanto, foi somente a partir do início da década de 1970, com a “explosão bibliográfica” e, consequentemente, com o aumento do volume de informações

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produzidas, que a sistematização do processo de desenvolvimento de coleções começou a ser discutida, tanto no âmbito acadêmico quanto no campo técnico, dada sua complexidade e sua relevância no ciclo documentário (VERGUEIRO, 1989).

Mesmo com o notável crescimento de pesquisas acerca do tema, é crucial ressaltar que, inicialmente, tais pesquisas se debruçaram a estudar a constituição de coleções tradicionais, formadas exclusivamente por materiais físicos, até mesmo porque os avanços tecnológicos que permitiram a criação e o desenvolvimento das bibliotecas digitais ocorreram principalmente a partir da década de 1990. Especificamente no contexto brasileiro, a literatura cientifica em relação ao tema ainda é prematura, o que justifica o presente estudo.

Visto isso, e considerando a prematuridade da literatura científica na área de Ciência da Informação acerca do referido tema, o trabalho que segue propõe-se, principalmente, discutir, a partir de uma breve revisão de literatura nacional, como se dá o processo de desenvolvimento de coleções em bibliotecas digitais, assim como ressaltar as principais disparidades em relação ao mesmo processo realizado nas bibliotecas tradicionais (que contam com acervos majoritariamente físicos).

Para tanto, realizou-se uma pesquisa descritiva com uma abordagem qualitativa. Na pesquisa descritiva, “[...] o pesquisador apenas registra e descreve os fatos observados sem interferir neles” e na explicativa se “[...] procura explicar os porquês das coisas e suas causas, por meio do registro, da análise, da classificação e da interpretação dos fenômenos observados” (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 52-53). Já a abordagem qualitativa pressupõe “[...] um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito” (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 70). Ao utilizar esse tipo de abordagem foi possível verificar, ainda que preliminarmente, a maneira como os trabalhos em torno do tema vem sendo realizados até o momento e quais são as perspectivas futuras.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. DAS BIBLIOTECAS CONVENCIONAIS ÀS DIGITAIS: UMA DISCUSSÃO CONCEITUAL

As bibliotecas, como instituições milenares, estão passando por constantes transformações, e essas mudanças afetam a maneira como os usuários utilizam os serviços e produtos oferecidos pelas unidades de informação.

Desde o surgimento das primeiras bibliotecas, o acesso às coleções se deu basicamente por meio de acesso físico, em diferentes suportes, como pergaminhos e tabuinhas de argila. O livro em suporte papel, originado após a invenção da imprensa, passou a redefinir e a delimitar a biblioteca na modernidade como “[...] aquela em que a maioria dos itens do seu acervo é constituída de documentos em papel.” (CUNHA, 2008, p. 4). Entretanto, a partir de meados da década de 1970 começaram a ser implantados os catálogos online e os periódicos eletrônicos, o que já significou uma mudança no modo de se prover acesso aos documentos das bibliotecas (CUNHA, 2008).

O surgimento das primeiras bibliotecas digitais, que se dá por volta da primeira metade da década de 1990, está fortemente atrelado à constante evolução das tecnologias de informação, especialmente das redes de computadores, que levou à modificação das maneiras de se tratar documentos e disponibilizá-los posteriormente.

À medida que as tecnologias da informação foram sendo criadas, disponibilizadas e aperfeiçoadas, os sistemas de representação e recuperação de informações documentais assistiram a uma extrapolação dos limites dos tradicionais catálogos referenciais em fichas, alcançando as bases de dados em linha. Essa nova situação resultou em uma grande mudança no ambiente dos sistemas de representação, assistindo-se a um gradual envolvimento de bibliotecários com profissionais oriundos de outros campos do conhecimento, destacando-se dentre esses, o pessoal da ciência da computação, da linguística e os produtores comerciais de bases de dados [...] (ALVARENGA, 2006, p. 77).

Apesar de essa discussão aparentar ser recente, já que o tema vem sendo debatido cada vez com mais frequência nas escolas de biblioteconomia do país, há mais de vinte anos já se falava no assunto. Em 1997, o periódico Ciência da Informação publicou um número

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especial3 sobre o tema, trazendo artigos que tratavam desde a discussão terminológica, orientações para implementação, questões técnicas do processamento da informação dentre outros assuntos, todos eles relacionados às bibliotecas digitais.

Ao tratar de bibliotecas digitais, uma questão ainda hoje em discussão é a que diz respeito à sua definição. A comunidade bibliotecária (e da Ciência da Informação, em contexto mais amplo) ainda não chegou ao consenso, e isso tende a ser mais confuso quando os termos “biblioteca eletrônica” e “biblioteca virtual” são utilizados como sinônimos.

Segundo Tammaro e Salarelli (2008), biblioteca eletrônica pode ser definida como “[...] a biblioteca informatizada que emprega todos os tipos de equipamento eletrônico necessários ao seu funcionamento [...]”. Já segundo Tennant (1999 apud TAMMARO; SALARELLI, 2008, p. 116) “[...] compreende tanto materiais quanto serviços que empregam eletricidade para que sejam usados”. Em relação à terminologia “biblioteca virtual”, na visão de Berners-Lee (1997 apud TAMMARO; SALARELLI, 2008, p. 117) é a “[...] biblioteca como uma coleção de documentos ligados em rede, constituídos por objetos digitais e páginas Web produzidas por milhares de autores”. Essas duas terminologias, hoje menos usadas, se distinguem pelo fato de que “[...] a eletrônica [biblioteca] ainda pode ter uma presença física, enquanto a biblioteca virtual, posto que é percebida como transparente, possuirá instalações físicas transparentes e bibliotecários transparentes”. (BECKMAN, 1993 apud ROWLEY, 2002, p. 4).

No que tange, exclusivamente, à definição de bibliotecas digitais, as discussões são mais amplas. Segundo Ciotti e Roncaglia (2002 apud TAMMARO; SALARELLI, 2008, p. 122) é [...] uma coleção de documentos digitais estruturados, sejam os produzidos mediante digitalização de materiais existentes sejam os preparados de modo digital na origem [...]”.

Na concepção de Mazzitelli (2005):

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[...] é o conjunto de uma ou várias coleções de objetos digitais, da descrição desses objetos, que é feita com o emprego dos chamados metadados, colocadas à disposição de todos os usuários interessados graças a uma interação de tipo eletrônico que pode abranger diversos serviços, como a catalogação, indexação, recuperação de documentos e fornecimentos de informações à distância. (MAZZILETTI 2005 apud TAMMARO; SALARELLI, 2008, p. 122).

Na visão de Alvarenga (2006):

[...] entende-se por biblioteca digital uma seleção de documentos, destinados a determinada comunidade, concebidos ou convertidos para o meio digital, preferencialmente em toda a sua integridade, disponibilizados na internet, desmaterializados de suas condições físicas tradicionais e constituídos de funções inteiramente novas, que lhes garantem hipertextualidade e caráter multimidiático. (ALVARENGA, 2006, p. 80).

Diante os diversos autores que tratam sobre o tema, a concepção mais aceita atualmente, segundo Tammaro e Salarelli (2008), e que será considerada para efeitos deste trabalho, é a da Digital Libray Federation:

Bibliotecas digitais são organizações que fornecem os recursos, inclusive o pessoal especializado, para selecionar, estruturar, oferecer acesso intelectual, interpretar, distribuir, preservar a integridade e garantir a permanência no tempo de coleções de obras digitais, de modo que estejam acessíveis, pronta e economicamente, para serem usadas por uma comunidade determinada ou por um conjunto de comunidades. (DIGITAL LIBRARY FEDERATION, 1998).

Percebe-se, portanto, que há certa divergência entre os estudiosos do tema supracitado, evidenciando a indefinição na dimensão conceitual do que vem a ser biblioteca digital. Entretanto, todas as visões esplanadas convergem com o fato de que as bibliotecas digitais representam, sem dúvida alguma, um novo modo de tratar e disponibilizar o acesso à informação. Nesse sentido, o processo de desenvolvimento de coleções, que é a porta de entrada de qualquer biblioteca, precisa ser pensado e estruturado de forma a atender todas as especificidades desse tipo de instituição.

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2.2. DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS

O desenvolvimento de coleções é inerente e indispensável às atividades bibliotecárias, e tal processo, mais especificamente a seleção e aquisição, influenciam todo o ciclo documental de uma unidade de informação, devendo ser realizado sob princípios e fundamentos bem definidos.

A preocupação com esse processo iniciou-se por volta do século XVII, apesar de que com critérios totalmente distintos daqueles que são considerados atualmente, já que àquela época a preocupação era em formar coleções que satisfizessem e exaltassem os aspectos religiosos da sociedade e, também, os aspectos físicos das obras, e não necessariamente seu conteúdo (WEITZEL, 2012).

Entretanto, em 1627, Gabriel Naudé, escritor e bibliotecário francês, começou a pensar em inovações no que tange ao processo de seleção dentro das bibliotecas, para que assim as coleções formadas pudessem ser úteis (do ponto de vista de seus conteúdos) e não somente refletissem o caráter luxuoso e aristocrático dessas instituições (WEITZEL, 2012). Essa, portanto, vem a ser uma das primeiras tentativas de sistematização de diretrizes no processo de desenvolvimento de coleções.

Já no século XIX, quando se deu um salto na produção editorial, devido à explosão informacional, causada principalmente pela invenção da prensa de tipos móveis, começaram a surgir os primeiros manuais voltados à formação de coleções.

Por fim, o termo desenvolvimento de coleções que se aproxima daquilo que hoje é conhecido e ensinado nas escolas de Biblioteconomia e Documentação, data da década de 1960, quando, nos Estados Unidos, a preocupação passou não mais ser somente com a acumulação de itens, mas, sim, com as necessidades dos públicos aos quais as instituições serviam (WEITZEL, 2012).

Assim como a maioria dos assuntos nas áreas de Ciências Sociais Aplicadas e Ciências Humanas, o termo desenvolvimento de coleções também sofre diversas influências,

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e, na literatura científica brasileira da área de Ciência da Informação, apesar de ser uma área relativamente recente, o assunto já é abordado e debatido por diversos autores. Entretanto, para a elaboração deste trabalho, foram considerados, principalmente, os estudos de Leroux (2007), Vergueiro (2010) e Weitzel (2012).

Apesar de esses estudos abordarem perspectivas, em certo ponto, distintas, percebe-se que todos eles tratam do caráter cíclico do desenvolvimento de coleções e da necessidade de se adequar as políticas a cada tipo de biblioteca, considerando os objetivos e a comunidade de cada unidade de informação.

Na realidade, trata-se de um processo que, ao mesmo tempo, afeta e é afetado por muitos fatores externos a ele. E, como processo, é, também, ininterrupto, sem que se possa indicar um começo ou um fim. Não é algo que começa hoje e tem um prazo estipulado para seu término. Nem é, tampouco, um processo homogêneo, idêntico em toda e qualquer biblioteca. (VERGUEIRO, 1989).

Já em relação às principais vantagens trazidas pela formalização de uma política de desenvolvimento de coleções, seja em bibliotecas tradicionais ou em bibliotecas digitais, pode-se citar: economia de verbas, pois o orçamento disponível para aquisição de material bibliográfico é direcionado à materiais, de fato, pertinentes aos usuários da biblioteca; norteia os trabalhos dos bibliotecários, dando respaldo às tarefas de seleção, aquisição e, até mesmo, de desbaste e descarte; informa aos gestores da coleção as necessidades específicas dos seus usuários, assim como auxilia no momento de se verificar possíveis falhas na coleção, dentre outras vantagens no dia-a-dia de trabalho (VERGUEIRO, 1989).

A política para desenvolvimento de coleções não precisa ser necessariamente um documento extenso, mas, isto sim, um documento completo, onde se apresentam diretrizes para as decisões a respeito da coleção, deixando o mínimo de coisas possível sem previsão; tal só deve acontecer em casos absolutamente não previsíveis [...] (VERGUEIRO, 1989, p. 27-28).

2.3. POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES EM BIBLIOTECAS DIGITAIS

Tão importante quanto implantar bibliotecas digitais é pensar na composição de seu acervo (o que não difere das bibliotecas tradicionais). Entretanto, sabe-se que a consolidação

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dos critérios que norteiam esse processo, ou seja, a política de desenvolvimento de coleções, que objetiva a formação de coleções de acordo com os objetivos institucionais e a manutenção constante dos acervos, nem sempre é realizada dentro das instituições, e isso parece ser mais visível ainda no contexto das coleções digitais. Nessa perspectiva, uma pesquisa realizada por Traw (2000 apud LEROUX, 2007, p. 5) junto a 163 bibliotecas colegiais e universitárias americanas revelou que somente 21% desses estabelecimentos possuem uma política de desenvolvimento de suas coleções eletrônicas. Desse número, apenas 33% tornavam acessíveis tais políticas aos usuários. Apesar de englobar um universo menor (por ter como objeto de análise somente bibliotecas digitais de língua portuguesa), uma pesquisa realizada por Andrade e Araújo (2012), portanto doze anos depois da pesquisa de Traw, “[...] reafirmou que a maioria das bibliotecas não possuem políticas de acervo e que apenas uma4 está em fase de elaboração”.

Os cenários apresentados nas pesquisas de Traw (2000) e Andrade e Araújo (2012) levam a entender que consolidar políticas de desenvolvimento de coleções não é o foco central ao planejar uma biblioteca digital. Pode-se inferir, portanto, que a não realização de estudos de necessidades informacionais (que serviria como suporte ao desenvolvimento de uma política de desenvolvimento de coleções) pode fazer com que as coleções sejam desenvolvidas com lacunas e se torne ineficiente. Caso isso ocorra, a biblioteca poderá ter sua função social comprometida, onde seus usuários reais e potenciais não tenham suas necessidades de informação devidamente sanadas.

Ao redigir uma política de desenvolvimento de coleções para bibliotecas digitais, os gestores dessas instituições precisam ter em mente o fato de que os métodos utilizados serão diferentes daqueles usados em bibliotecas tradicionais. Ou seja, os gestores ainda poderão, como já se é feito, utilizar as políticas de bibliotecas físicas como suporte à elaboração das políticas para coleções digitais, uma espécie de benchmarking, mas tendo cuidado em fazer as devidas alterações, para que, futuramente, ao implementar a política, ela não cause entraves

4 Ressaltando que “uma” diz respeito exclusivamente à pesquisa de Andrade e Araújo (2012). Não foi possível,

neste trabalho, coletar dados referentes à existência ou à elaboração de políticas de desenvolvimento de coleções digitais em um contexto mais amplo.

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ao processo de seleção e aquisição. Nesse sentido, Tammaro e Salarelli (2008) citam a questão de que, nas coleções digitais, os serviços são provenientes de recursos heterogêneos e que, por muitas vezes, estão distribuídos na rede, e isso precisa ser levado em consideração no momento da elaboração da política. Além do mais, a possibilidade de auto publicação por parte dos autores e a indústria editorial, que, apesar de estar adaptando e renovando seus serviços nem sempre lançam suas publicações em formato digital, precisam ser consideradas, pois influenciarão os processos de seleção e aquisição dos materiais. Ainda no mesmo contexto, Vergueiro (2010) nos aponta, sinteticamente, as principais distinções no que diz respeito ao processo de seleção entre coleções físicas e digitais:

[...] as considerações sobre conteúdo são iguais às feitas sobre documentos impressos, na medida em que sua inclusão se justifica com base nos objetivos da biblioteca e no interesse dos usuários. [...] em termos de acesso, os documentos eletrônicos devem ser avaliados não apenas quanto à sua maior facilidade para realizar buscas específicas, [...] a análise deve englobar também questões como a compatibilidade do documento eletrônico com o sistema de automação da biblioteca. As questões relacionadas com o suporte necessário para utilização do documento eletrônico são sempre muito pertinentes. Para muitas bibliotecas, trata-se de materiais com os quais seu pessoal não tem ainda suficiente familiaridade, para utilização independente. Necessitarão, portanto, de um período de adaptação e mesmo de treinamento. [...] os usuários precisarão receber orientação para que se tornem independentes no uso dos novos recursos. [...] por fim, fatores relacionados com o custo do documento em formato eletrônico têm um peso grande na decisão da seleção. Por custos entende-se não apenas o mais evidente, como o valor da compra do produto. Devem ser considerados todos os demais custos, como os de atualização [...] manutenção e uso. (VERGUEIRO, 2010, p. 43-45, grifos do autor).

Visto tais especificidades, é importante ressaltar que a elaboração de políticas de desenvolvimento de coleções é uma tarefa que deve ser realizada conjuntamente pelos bibliotecários da instituição a qual pertence, por profissionais especialistas na área do conhecimento de atuação da instituição, e, se possível, com “[...] aqueles5 a que a mesma se destina. ” (VERGUEIRO, 1989, p. 26). Essa parceria fará com que a política desenvolvida tenha qualidade tanto dos quesitos técnicos (referentes ao trabalho bibliotecário) quanto nos

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quesitos científicos (referentes à área de conhecimento da instituição). Com isso, as coleções desenvolvidas a partir de então serão capazes de refletir as verdadeiras necessidades informacionais dos usuários.

Outro ponto importante de ser levado em consideração é que, no Brasil, as bibliotecas digitais são majoritariamente caracterizadas por serem extensões das bibliotecas físicas em que estão inseridas, sendo raro conhecer bibliotecas que já foram totalmente criadas no contexto digital. Assim sendo, uma das funções das bibliotecas digitais acaba sendo o preenchimento das lacunas deixadas pela coleção física. É nesse sentido de complementação que se utiliza o termo biblioteca híbrida, pois “[...] parece ser o mais adequado para satisfazer as atuais necessidades informacionais de transição pelas quais as bibliotecas convencionais vêm passando [...]” (GARCEZ; RADOS, 2002, p. 45). Ainda na visão de Garcez e Rados (2002), “o nome biblioteca híbrida deve refletir o estado transacional da biblioteca, que hoje não pode ser completamente impressa nem completamente digital.” (GARCEZ; RADOS, 2002, p. 45).

A biblioteca híbrida é designada para agregar diferentes tecnologias, diferentes fontes, refletindo o estado que hoje não é completamente digital, nem completamente impresso, utilizando tecnologias disponíveis para unir, em uma só biblioteca, o melhor dos dois mundos (o impresso e o digital). (GARCEZ; RADOS, 2002, p. 47).

O compartilhamento de recursos (informacionais e tecnológicos) é o único meio para enfrentar a situação presente e para conhecer as demandas de usuários das bibliotecas, assegurando acesso aos recursos disponíveis em várias bibliotecas, acadêmicas, especiais e públicas. Isto só será possível mediante esforços em comum de todas as unidades informacionais existentes, pois a utilização dessas instalações, infraestrutura e recursos possibilitará, ao usuário, cada vez mais pesquisas relevantes, sendo esperado que permaneçam ativas nos feriados e no período noturno, para suprir as necessidades dos usuários remotos [...] (GARCEZ; RADOS, 2002, p. 46).

São inúmeros os exemplos de bibliotecas híbridas hoje existentes no Brasil, como é o caso da Biblioteca Central da Universidade de Brasília, que conta com a Biblioteca Digital de Monografias e com o Repositório Institucional da Universidade; Biblioteca Nacional Digital; Biblioteca Digital da UNICAMP; Biblioteca Digital da Fundação Getúlio Vargas entre outras. Todas essas bibliotecas se convergem no sentido de complementarem o acervo físico das

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instituições a que pertencem, assim como em dar aos usuários a possibilidade de terem acesso às publicações de forma mais eficiente, já que o acesso digital independe de horário de funcionamento (que é restrito nas bibliotecas físicas), de feriados, fins de semana dentre outras questões.

Exemplo conhecido, a JusLaboris: Biblioteca Digital da Justiça do Trabalho, gerenciada pela seção de Biblioteca Digital da Coordenadoria de Documentação do Tribunal Superior do Trabalho. Com a convergência entre os suportes físicos e eletrônicos de muitos periódicos assinados, notou-se que as estatísticas de uso do suporte físico reduziram. Visto isso, foi iniciado o processo de inclusão dos periódicos eletrônicos na plataforma, o que resultou em um número de acessos muito maior, fazendo com que a biblioteca tenha se tornado referência na área trabalhista e venha contribuindo para o cumprimento de sua missão. Além disso, a possibilidade de o usuário fazer sua pesquisa consultando o texto integral do documento e não somente a descrição do registro representa uma interação com a informação mais eficaz6. Essa notável melhoria na qualidade dos serviços prestados é muito

bem citada por Leroux (2007, p. 11), ao descrever que “[...] a instalação de uma biblioteca virtual permite a uma biblioteca física oferecer aos seus usuários um acesso direto, rápido e constante a recursos, pouco importando a distância que os separa”.

Tão importante quanto desenvolver as áreas temáticas, as coleções, as listas de autores, de assuntos e de títulos e as categorias (tipos de documentos), os gestores de bibliotecas digitais precisam ter em mente que as tecnologias de armazenamento e acesso à informação precisam ser periodicamente monitoradas para não cair no erro de possuir um acervo que não é acessível aos usuários. Ou seja, as tecnologias de armazenamento e preservação da informação precisam ser atualizadas conforme o surgimento de novas versões dos softwares utilizados. Exemplo da evolução dessas tecnologias é o Dspace, software livre, de código aberto, atualmente distribuído pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e um dos mais utilizados para a construção de repositórios institucionais e de bibliotecas digitais (SEGUNDO; SHINTAKU, 2013). O referido software teve sua

6 Informação obtida a partir de entrevista com Fabrício de Oliveira Costa, supervisor da Seção de Biblioteca

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primeira versão lançada em 2002, e vem passando constantemente por atualizações, fazendo com que os gestores das plataformas que o utilizam precisem estar dispostos a melhorar e readequar seus serviços às novas ferramentas que o software traz a cada atualização.

As novas versões do DSpace surgem para corrigir pequenos problemas (bugs) ou, principalmente, para acrescentar novas funcionalidades. Assim, manter o software atualizado garante um melhor funcionamento do repositório, além de agregar ferramentas de recuperação, preservação, apresentação ou interoperabilidade. (SEGUNDO, SHINTAKU, 2013, p. 5).

Por consequência das mudanças na forma de se prover acesso aos materiais, os gestores das coleções digitais precisam estar atentos, também, a uma das grandes questões da modernidade no que tange o acesso à informação: os direitos autorais. A gestão de recursos digitais deve levar em consideração aquilo que diz a Lei n. 9.610, de 19/02/1998 (BRASIL, 1998), que trata tanto dos direitos dos autores e dos editores sob o uso e reprodução das obras intelectuais, quanto dos direitos do usuário. Sob o olhar desta legislação, os bibliotecários que trabalham com coleções digitais passam a ter preocupações que, no método tradicional de biblioteca, tinham em uma escala menor, já que a circulação e difusão de materiais em meio eletrônico é mais rápida e dinâmica do que no suporte papel.

Em face de tudo o que até aqui foi exposto, cabe aos bibliotecários e a todos aqueles envolvidos no gerenciamento de bibliotecas digitais pensarem “suas” coleções tendo em mente que todo o processo de organização da informação (seleção, aquisição, tratamento técnico, disseminação, acesso e todos os pormenores que ocorrem no processo) deverá ser realizado com uma metodologia diferenciada da que é usada em bibliotecas físicas, tendo em vista as especificidades aqui elencadas

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Notavelmente, o desenvolvimento de coleções é um processo fundamental e decisivo no gerenciamento das unidades de informação, já que estabelece diretrizes que vão desde a cobertura temática até o acesso aos documentos disponibilizados. Portanto, a redação da

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política de desenvolvimento de coleções deve ser vista como uma atividade indispensável, e não como algo secundário.

Percebe-se que as bibliotecas convencionais, mesmo que não possuam suas próprias políticas consolidadas, podem utilizar as políticas de outras instituições como base, tentando adaptar às suas próprias realidades. Entretanto, no contexto digital, o cenário é diferente, pois apesar do ciclo documentário ser basicamente o mesmo, os métodos a serem empregados são outros, já que o suporte digital demanda necessidades específicas e que são diferentes das necessidades do suporte físico. Além do mais, o fato da elaboração de políticas de desenvolvimento de coleções para bibliotecas digitais ainda não ser algo rotineiro nessas instituições faz com que os seus gestores não tenham muitos exemplos para se embasarem no momento de desenvolver e fazer a manutenção periódica de suas coleções.

Nesse sentido, destaca-se a importância do aumento da produção científica na área de Biblioteconomia e Ciência da Informação sobre a temática assim como a elaboração de políticas de desenvolvimento de coleções para bibliotecas digitais, principalmente no contexto brasileiro, o que facilitará as atividades de gestão e dará suporte às bibliotecas no que diz respeito ao cumprimento de sua missão institucional.

4. REFERÊNCIAS

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Referências

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