Uso do PTFE (Gore-Tex) para tratamento da
blefaroptose severa
The use Df PTFE (Gore·Te�) for severe blepharoptosis.
Ana Estela Besteti P.P. Sant' Anna (I)
Carmem Belluzzo Genta (:&I
Waldir Portellinha (3)
(I) Chefe do Selor de Cirurgia Pláslica Ocular da F.M. de JWldiaí e Colaboradora do Selor de Cirurgia Plástica Ocular da Escola Pauli&1a de Medicina.
(1) Colaboradora do Selor de Cirurgia PIá. .. ica Ocular da Escola Paul;"1a de Medicina.
(1) Mestre e Doutor em Oftalmologia. O,efe do Setor de Cimrgia Plástica Ocular da Escola Paulista de Medici na.
End�reço para corre.pond�ncia : Ana Estela B. P. P. San\' Anna - Rua Ibiturulla, 24 1 ap.3 1
CEP -04302-05 1 - São Paulo - SP
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RESUMO
Nesse estudo relatamos a expencncia e complicações com o uso do politetrafluoroetileno (Gor� Tex), na realização de suspensão ao frontal em 19 pacientes com ptose palpebral severa. A complicação mais comum foi a formação de granuloma de corpo estranho.
Palavras-chave: Ptose palpebral severa, suspensão ao frontal, politetranuoroetileno (PTFE).
INTRODUÇÃO
A ptose palpebral severa, com au sência ou má função do músculo eleva dor da pálpebra (5mm ou menos), é tratada com a técnica de suspensão ao frontal. Essa técnica, que foi inicial mente descrita por Payr em 1 909
I,
reintroduzida por Wright e m 1 922 2 e modificado por Crawford em 1 9563,
sofreu poucas modificações. A grande dificuldade é encontrar um material adequado para a suspensão. Até hoje a fáscia lata autógena, apesar das limita ções de sua retirada em crianças com idade inferior a 3 anos e em pacientes com muita idade, não foi substituída de maneira eficaz por nenhum outro mate rial.Entre os vários materiais que têm sido utilizados nesse tipo de cirurgia, mas com resultados discutíveis temos: fáscia lata homóloga, dura mater, esclera conservada, fios de silicone, mersilene, nylon, supramid e etc . . Complicações com esses materiais incluem infecção, granuloma de corpo estranho e recorrência da ptose
8.9.
O
politetrafluoroetileno (PTFE) é um material expansivo desenvolvido por Gore em 1969. Primeiramente, foiempregado por Soyer para enxertos vasculares em 1 972. Hoj e é largamente utilizado por muitos cirurgiões das mais diversas especialidades.
PTFE é um material que dentro das suas características físico-químicas se assemelha ao Teflon.
É
mn polímero sintético constituído por estrutura fi brilar multidirecional que lhe propor ciona solidez e inalterabilidade. A lar gura mínima entre as fibras é de 1 7 micra. Esta estrutura, apesar de ter 85% de porosidade, é impenneável a sangue e água. Não é alergizante, não carcino gênico e quase não produz reação de corpo estranho.Entre as principais características do material temos: inalterabilidade, bio compatibilidade, flexibilidade, imper meabilidade, resistência à dilatação, sutura e à propagação de infecção '.
Nesse estudo prospectivo avaliamos a utilização do Politetrafluoroetileno (PTFE) na suspensão ao frontal em pa cientes com ptose severa e apresenta mos uma nova opção de material sinté tico para essa cirurgia.
MATERIAL E MÉTODOS
Os pacientes desse estudo eram do
ARQ. BRAS. OFrAL. 57(2), ABRIU1994
ambulatório do Departamento de Oftal mologia da Escola Paulista de Medici na, Hospital do Servidor Público Muni cipal e Hospital de Clínicas Especia lizadas de Franco da Rocha. Todos os pacientes tinham função do elevador de 4mm ou menos.
Foram operados 1 9 pacientes, 1 0 do sexo masculino e
9
do sexo feminino com idade de 2 meses a 27 anos; total d�
37 pálpebras, pois um paciente foi sub metido a suspensão ao frontal unilateral.Os pacientes foram seguidos de j a neiro de 1 9 89 a janeiro de 1 992 com "foIlow-up" de 6 meses a 2 anos.
Dezessete cirurgias foram com anestesia geral e duas com local.
A técnica utilizada foi a de Fox 4
modificada. Inicialmente faz-se na pele palpebral, com verde brilhante, 5 mar cas de 3mm de comprimento, duas aci ma da linha dos cílios a mais ou menos 6mm dos cantos medial e lateral, tendo o limbo como referênci a. Três marcas acima do supercílio nas regiões cen tral, medial e temporal formando um pentágono (Fig. I ) . Essas incisões são aprofwldadas até o periósteo. Para pas sar a faixa de Gore-Tex da margem palpebral para o supercílio utiliza-se a agulha de Wright. Em 6 pacientes, op tou-se por fazer incisão cutânea do sul co palpebral e fixar a faixa ao tarso com seda 6-0.
Figura 1
ARQ. BRAS. OFTAL. 57(2), ABRILl1 994
Uso do PTFE (Gore- Tex) para Iralall/enlo da blefaroplose severa
O material utilizado foi o fio de Gore-Tex 3-0 ou a prótese recortada em faixas de 2mm de largura por 1 5 cm de comprimento (Foto I ).
A faixa foi atada com mersilene 5-0 e colocada junto ao periósteo. A pálpe bra foi posicionada levemente hiper corrigida.
RESULTADOS
Todos os pacientes tiveram resul tado cosmético bom no pós-operatório imediato (± 1 mm da posição" dese j ada) .
Dos 1 9 pacientes operados, 7 (3 6%) desenvol veram granuloma de corpo es tranho, sendo 4 na região frontal e 3 na pálpebra superior. Todos os casos com granuloma foram operados com a faixa, e o local do granuloma correspondia ao local da fixação da fai xa com mer si Iene.
O tempo de aparecimento do gra nuloma variou de 1 a 9 meses de pós operatório, sendo a média de 4,7 me ses. Desses 7 pacientes, 2 tiveram me lhora com tratamento clínico e 5 foranl reoperados, retirando-se a faixa. Dentre esses 5 pacientes, 3 evoluiram com bom resultado cosmético mesmo após a retirada da faixa e 2, após 6 meses, foram novanlente submetidos à suspen são ao frontal.
Os 6 pacientes, nos quais utilizou-se
o fio de Gore-Tex 3-0 em vez da faixa
-' nao apresentaram complicações.
DISCUSSÃO
Extrusão do Gore-Tex foi a compli cação que ocorreu em 3 de 1 3 pacientes operados de suspensão ao frontal por Morax e coI. ( 1 9 87) s . Essa complica
ção foi descrita como sendo devida ao nó, que ata a faixa de Gore-Tex ter ficado muito superficial. No m
:
smo grupo foi observado um paciente. com granuloma de corpo estranho. Lemagne e Liu ( 1 990), utilizando a mesma técni ca em 3 0 pacientes, além de 3 casos deFoto 1
hipocorreção, tiveram wn caso de in fecção na incisão frontal, concomitante
à i nfecção por Varicela
6.
Em nosso estudo, apesar do bom re sultado cosmético no pós-operatório imediato, tivemos formação de gra nuloma em 3 6% dos casos. Como o aparecimento do granuloma coincidiu com o local de fixação da faixa com Mersilene ou Seda, e também como em nenhum dos casos, em que foi utilizado apenas o fio de Gore-Tex 3 -0 observou se qualquer complicação, acreditamos que a formação de granuloma seja de vido a presença do material de sutura utilizado para fixar a faixa, e não ao Gore-Tex.
Foto 3 -Pós-operalório de uma semana.
Em conclusão, o Gore-Tex é um ex celente material para suspensão ao frontal, podendo mesmo substituir a fáscia lata autógena, desde que tenha mos os seguintes cuidados de técnica: de preferência usar o fio de Gore-Tex 3-0 ao invés da faixa; quando utilizar a faixa, fazer a suspensão sem a fixação tarsal e sepultar o nó que une a faixa na região do supercílio o mais profundo possível, junto ao periósteo.
SUMMARY
ln this study the authors show
Uso do PTFE (Gore-Tex) para tratamento da blefaroptose severa
their experience and problems with
polytetrafluoroethylene
(Gore-Tex), pel
f
orming
frontalissuspension in 19 patients with
severe blepharoptosis. The most
comum complication was
granuloma formation.
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PROGRAME-SE DESDE JA
XXVIII
CONGRESSO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA
SALVADOR - BAHIA
86
05-08
DE SETEMBRO DE
1 995
CENTRO
DE
CONVENCÕES
DA BAHIA
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