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Academic year: 2021

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FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

ESPECIALIZAÇÃO EM INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL À EDUCAÇÃO BÁSICA NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS

Histórias de Vidas e Saberes Docentes da EJA:

Os Memoriais Formativos

Leonardo Luiz Pereira

Orientador: Prof. Ms. Rafael Arenhaldt Porto Alegre 2009

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FICHA CATALOGRÁFICA

___________________________________________________________________________ P436h Pereira, Leonardo Luiz

Histórias de vidas e saberes docentes da EJA: os memoriais formativos / Leonardo Luiz Pereira ; orientador Rafael Arenhaldt. – Porto Alegre, 2009. 18 f.

Trabalho de conclusão (Especialização) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação. Curso de Especialização em Educação Profissional integrada à Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos, 2009, Porto Alegre, BR-RS.

1. Educação. 2. Educação de Jovens e Adultos. 3. EJA. 4. Memórias – Saberes docentes – Histórias de vida – EJA. 5. Memoriais formativos – Docentes - EJA. I. Arenhaldt, Rafael. II. Título

CDU 374.7

___________________________________________________________________________ __

CIP-Brasil. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação. (Jaqueline Trombin – Bibliotecária responsável - CRB10/979)

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RESUMO

PEREIRA, Leonardo Luiz. Histórias de Vidas e Saberes Docentes da EJA: Os memoriais formativos. Porto Alegre: UFRGS, 2009. 21f. Trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada a Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos - Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.

Este estudo foi realizado com o objetivo de visualizar os saberes docentes, que estão envolvidos na Educação de Jovens e Adultos. Para isso foi utilizado o recurso dos memoriais formativos de professores da EJA que participaram do Curso de Especialização em Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada a Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos (PROEJA). Foram escolhidos os memoriais, pois trazem um pouco das histórias de vidas de seus autores e o seu uso como instrumento de pesquisa já está bem aceito e respeitado. Nos memoriais observamos os saberes relacionados às experiências familiares e escolares dos professores, a trajetória acadêmica, o ingresso na docência e a docência na EJA. Através dessas diretrizes buscamos responder as questões da pesquisa para contemplar o problema da mesma. Verificar como os saberes narrados nas histórias de vidas contribuem na docência da Educação de Jovens e Adultos. A fundamentação teórica foi relacionada sempre com os memoriais tentando estabelecer relação com os saberes narrados com o seu aproveitamento em sala de aula. Com um levantamento dos saberes empregados na Educação de Jovens e Adultos, o estudo fica mais próximo da realidade do PROEJA, do que se fossemos utilizar memoriais de professores do ensino fundamental regular. A busca pelos saberes docentes desse público pesquisado nos propicia fazermos sugestões para o PROEJA - Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos, como alguns apontamentos em relação à formação continuada dos docentes que estarão trabalhando no projeto, pois essa é uma das demandas que constam no documento base do PROEJA. Uma formação que leve em consideração alguns aspectos que foram levantados na pesquisa e que poderão contribuir no direcionamento mais focado da formação continuada. Despertar o seu auto-reconhecimento através dos memoriais e buscar possíveis soluções para as dificuldades encontradas pode ser um indicativo.

Palavras-chave: 1. Memoriais, 2. Saberes Docentes, 3. Histórias de Vida, 4. PROEJA.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 4

2. POR QUE OS MEMORIAIS FORMATIVOS? ... 4

2.1. O PROBLEMA DE PESQUISA E AS QUESTÕES ... 6

2.2. METODOLOGIA ... 6

3. OS SABERES DOCENTES ... 7

3.1. EXPERIÊNCIAS FAMILIARES E ESCOLARES DOS PROFESSORES ... 7

3.2. TRAJETÓRIA ACADÊMICA E O INGRESSO NA DOCÊNCIA ... 11

3.3. DOCÊNCIA NA EJA ... 12

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 14

REFERÊNCIAS ... 15

ANEXO 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO ... 17

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1. INTRODUÇÃO

A Educação de Jovens e Adultos passou a ter um cuidado especial do Governo Federal nos últimos anos, e hoje conta com alguns programas que apresentam propostas inovadoras no que diz respeito a essa modalidade de ensino. Com isso o PROEJA, Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos, do Governo Federal instituído através da Lei nº. 11.741 de 16 Julho de 2008 pretende agregar à educação de jovens e adultos a uma perspectiva de formação profissional nas modalidades fundamental e médio do ensino.

Para atender a esta demanda do PROEJA, há uma preocupação com a formação continuada do docente que estará à frente do projeto.

A formação continuada dos gestores, técnicos e docentes deve ser realizada, objetivando assegurar aos profissionais o aprimoramento para o exercício de suas funções, devendo garantir a (re)construção de conhecimentos voltados para: a elaboração do planejamento, a construção da proposta pedagógica, a elaboração de material didático que contemple a integração entre EJA e Educação Profissional, a elaboração de relatórios; e a implantação, implementação, acompanhamento e avaliação do projeto. Esta formação deverá ser permanente e sistemática, enfocando ações de natureza política, técnico-pedagógica e administrativa. (BRASIL, 2007). É com relação a essa formação que esta pesquisa pretende contribuir, através das histórias de vida de docentes, que atuam na educação de jovens e adultos narradas em memoriais formativos, que poderão nos mostrar saberes que irão contribuir para esse processo pois o saber está em “construção ao longo de uma carreira profissional na qual o professor aprende progressivamente a dominar seu ambiente de trabalho” (TARDIF, 2006, p.14).

2. POR QUE OS MEMORIAIS FORMATIVOS?

O interesse em usar os memoriais formativos surgiu quando ficamos sabendo que todos que estavam realizando o Curso de Especialização - PROEJA deveriam escrever o memorial, pois seria a forma de avaliação do primeiro módulo do curso. Ou seja, um material muito rico que trazia a prática e saberes de docentes da EJA e que estavam se qualificando em Educação de Jovens e Adultos através do PROEJA.

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A pesquisa foi elaborada a partir da leitura e análise de seis memoriais formativos, que foram elaborados por alunos do Curso de Especialização em Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada a Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos das turmas A e B na disciplina de Invenções e Intervenções Pedagógicas como instrumento de avaliação do curso. E publicados em 2008 no blog do seguinte endereço

http://memorialformativo.blogspot.com . Os autores não terão seus nomes

divulgados e serão substituídos nas citações por nomes fictícios. Os autores concordaram com o uso dos memoriais, assinando o Termo de Consentimento Informado (Anexo 1).

O memorial formativo é definido como:

um gênero discursivo privilegiado para a divulgação dos saberes e conhecimentos docentes; uma escrita reflexiva sobre suas práticas e sobre si mesmo; uma narrativa reflexiva onde se pode fazer “dialogar” o processo de formação e a prática docente; uma possibilidade interessante para estimular uma reflexão sobre a escola e seus contextos de aprendizagem; uma reflexão de como nos tornamos o que nós somos, isto é, uma reflexão do porque e do modo pelo qual nos tornamos educadores. (ARENHALDT, 2007).

A escolha do memorial formativo, como objeto de análise, foi feita por se tratar de uma escrita onde os autores tiveram um tempo suficiente para refletir e escrever sobre as suas trajetórias até chegarem à docência. A seguir podemos ver a importância que esse gênero de texto está tendo na formação continuada.

O Memorial Formativo tem sido cada vez mais utilizado enquanto ferramenta e instrumento em cursos e percursos formativos devido sua natureza reflexiva, na perspectiva do “professor reflexivo”. [...] Assim sendo, o exercício de produção de Memoriais é uma plataforma de lançamento à reflexão sobre si mesmo e um dispositivo privilegiado para a compreensão do processo de formação pessoal e profissional. Essa é uma perspectiva que vem se afirmando progressivamente nos espaços de formação continuada, à medida que torna as narrativas como gêneros discursivos privilegiados para os educadores escreverem suas histórias e comunicarem os seus saberes e conhecimentos. (ARENHALDT, 2007)

O texto também serve para o professor visualizar a si e ao seu entorno, podendo assim se reconhecer no todo. E isso gera elementos para refletir sobre o seu processo de ensino-aprendizagem.

Os memoriais inspiram e potencializam os elementos essenciais no ensinar e aprender, pois se traduzem em conhecimento de si, do outro, da escola em situações de aprendizagem. Portanto, o “visível” e ou o “invisível” dos escritos revelam sinais e expressam as múltiplas histórias do contexto familiar, da história de vida, da escolha profissional e da própria escola, que

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se alastram no cotidiano de educandos e educadores. (BENDER; FRANZÓI, 2007, p.246)

Os memoriais ajudam a perceber que muitas vezes temos saberes que estavam adormecidos e com a lembrança do passado em busca do que escrever, esses saberes acabam se reencontrando com outros mais novos e é aí que acontecem as relações entre eles, e é justamente isso que queremos visualizar nesta pesquisa.

2.1. O PROBLEMA DE PESQUISA E AS QUESTÕES O problema de pesquisa é:

Como os saberes docentes, das histórias de vidas narradas nos memoriais, contribuem na docência da Educação de Jovens e Adultos?

Juntamente seguem três questões que auxiliaram a reflexão durante o transcorrer do trabalho:

 Quais os saberes que os professores da EJA trazem consigo?

 Quais são os saberes em comum dos professores que atuam na EJA?  Como se constituiu este saber docente?

Para respondê-las buscamos nos memoriais os seguintes aspectos: experiências familiares e escolares; a trajetória acadêmica; o ingresso na docência e a docência na EJA.

2.2. METODOLOGIA

A pesquisa qualitativa foi realizada seguindo as seguintes etapas:  Definição da abordagem de pesquisa: os Memoriais Formativos;

 Definição do grupo de professores da Educação de Jovens e Adultos alunos do Curso de Especialização em Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada a Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos;

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 Definição dos tópicos a serem investigados, como experiências familiares e escolares, trajetória acadêmica, ingresso na docência e docência na EJA;

 Leitura de memoriais, através do blog Memorial Formativo acessado pelo endereço: http://memorialformativo.blogspot.com;

3. OS SABERES DOCENTES

Procuramos compreender os textos dos memoriais com base em alguns pontos em comum: Experiências familiares e escolares dos professores; trajetória acadêmica e o ingresso na docência; e a docência na EJA.

3.1. EXPERIÊNCIAS FAMILIARES E ESCOLARES DOS PROFESSORES

Em relação ao primeiro aspecto, durante as narrativas dos memoriais conseguimos visualizar claramente as experiências familiares e escolares dos professores, que Tardif (2006) chama de “socialização pré-profissional”.

Ao longo de sua história de vida pessoal e escolar, supõe-se que o futuro professor interioriza um certo número de conhecimentos, de competências, de crenças, de valores, etc., os quais estruturam a sua personalidade e suas relações com os outros (especialmente com as crianças) e são reatualizados e reutilizados, de maneira não reflexiva mas com grande convicção, na prática de seu ofício. Nessa perspectiva, os saberes experienciais do professor, longe de serem baseados unicamente no trabalho em sala de aula, decorreriam em grande parte de preconcepções do ensino e da aprendizagem herdadas da história escolar. (TARDIF, 2006, p.72)

Para Gauthier (1998, apud ALMEIDA; BIAJONE, 2007, p. 285), é preciso um ensino com a mobilização de vários saberes que formam uma espécie de reservatório que é utilizado para responder às exigências das situações concretas de ensino. O autor classifica os saberes em vários itens e um deles é a “experiência, referente aos julgamentos privados responsáveis pela elaboração, ao longo do tempo, de uma jurisprudência particular” (GAUTHIER, 1998 apud ALMEIDA; BIAJONE, 2007, p. 285).

Essas experiências são trazidas muito fortemente e geralmente como ponto de partida da escrita e são recordadas ao longo dos textos para se relacionar com outros temas.

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Podemos observar em algumas citações dos memoriais onde essas questões aparecem:

Bom, imagino que possa ser interessante começar falando sobre minha família, sobre ser filho de uma professora [...] faço parte de uma família que tem forte ligação com a educação, tendo eu convivido com o ambiente escolar praticamente desde que nasci o que provavelmente influenciou nas minhas escolhas profissionais. (PEDRO, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

Com certeza esse é um fator que pode ter influenciado sim a escolha de ser professor do autor.

No próximo memorial esse ponto de partida é trazido pelo professor quando ele diz: “[...] cresci rodeado de pessoas que me deram muito carinho [...] minha mãe esteve sempre muito presente na minha criação, me orientando sobre a vida.” (ROBERTO, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

O aprendizado com os laços familiares fica mais evidente quando ele coloca: “Ela sempre teve uma visão muito clara da vida, dos valores, da integridade e da confiança como formas de conquistar as pessoas. Isso eu tenho como valores primordiais para mim” (ROBERTO, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

Assim também afirma outro professor: “Percebo em minha mãe uma excelente habilidade lógico-matemática e em meu pai o gosto pela leitura” (ISABELA, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008). Segue a narrativa em outro trecho dizendo,

Ao revisitar esses momentos consigo depreender que a educação realmente acontece através do exemplo. Aprendi em nossas orações os valores morais, no trabalho digno, que faz levantar cedo todo dia, a certeza de que se pode construir uma família com honestidade e nas leituras de meu pai, só agora percebo que o encantamento que sentia naqueles momentos formou-me uma pessoa apaixonada pela leitura e me encaminhou ao curso de Letras. (ISABELA, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

Essas lembranças remetem ao exemplo positivo, que como mecanismo de aprendizagem funciona muito bem, lembrando que o negativo também é aprendido, por isso devemos ter cuidado no que fazemos e falamos aos nossos alunos.

A professora Claudete diz:

para falar da minha caminhada como educadora é preciso, antes de tudo, falar das minhas escolhas e questionamentos, que desde muito cedo colocaram vários pontos de interrogação em minha cabeça, logo, em minha mente (CLAUDETE, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

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E mais adiante ela segue:

Essas experiências ao longo dos anos deram forma a minha mente. É, como se minha trajetória, tomasse a forma de um mosaico inacabado, sempre em constante construção, ganhando forma e cores através de sons, imagens e infinitos questionamentos. Assim, começo pela infância, e como qualquer criança, tudo era motivo de questionamento, quem sou? Por que essa é minha família etc, indagações essas, que estão presentes no imaginário de qualquer criança. (CLAUDETE, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

Esses vários pontos de interrogações, que dão a forma de mosaico inacabado com infinitos questionários que a autora coloca, é o que o educador da EJA produz e encontra. Produz porque provoca e desperta muitas interrogações, só que com um diferencial, o sujeito provocado é um jovem ou um adulto que já traz consigo uma série de questionamentos. Ou seja, já encontra um sujeito que tem muito a contribuir para o aprendizado de ambos, tanto no fazer docente quanto no fazer discente.

O próximo memorial traz mais uma vez a importância dos pais na orientação profissional.

Ter de driblar muitas adversidades, por exemplo, em meu caso, o que eu pretendia ser na vida foi se modificando diante das circunstâncias vividas. Meus pais tão preocupados em dar conta de suas obrigações e sem ter muito conhecimento de mercado de trabalho, incentivavam a compensar uma vida difícil que tiveram, com uma mais fácil para mim, de forma que se eu estudasse e me saísse bem no que me propunha me apoiariam. Claro que não eram ingênuos a ponto de me sugerir ser médico ou advogado, pois tinham consciência das dificuldades enfrentadas na formação escolar básica, mas queriam que eu não sofresse muito. Hoje vejo que na educação recebida por eles, ainda consegui com esforço e boa vontade ser esse cidadão que quer melhorar cada vez mais. (EDUARDO, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

E no último memorial a situação familiar que é lembrada, que é trazida pelo autor é a questão do trabalho dos pais onde ele diz no que os pais trabalharam.

Meu pai trabalhou nas minas de carvão de Hulha Negra; em Bagé, trabalhou em padarias, como assistente de padeiro (“repartidor” de pão) e, de vigia em uma garagem de veículos no centro da cidade. Minha mãe, sempre trabalhou em casa, e durante parte de sua vida foi lavadeira. Lavava roupas nas pedras do arroio que tinha atrás da nossa casa. (SANDRO, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

E a próxima lembrança é o início precoce no mundo do trabalho devido à situação familiar daquele momento, conforme ele conta.

Meu pai faleceu quando eu tinha onze anos e, aos doze anos enquanto os meus colegas tiravam férias, comecei a trabalhar no centro da cidade para

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ajudar minha mãe. Na Livraria, realizava “pequenos trabalhos”, varria a loja, arrumava prateleiras, vendia canetas, borrachas, folhas, fazia feira (e força pra carregar as sacolas) pra Dona Branca. Arrumava o depósito de mercadorias. (SANDRO, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

Podemos perceber que os saberes adquiridos na família estão relacionados diretamente a valores, e tornam-se a base para o desenvolvimento do futuro professor.

Outro aspecto analisado foi a trajetória escolar, que também faz parte da “socialização pré-profissional”, também é narrada nos memoriais e surge de diferentes formas, com recordações que vão desde o início da vida escolar até a universidade e outras que partem diretamente das lembranças acadêmicas.

Um dos autores dos memoriais trás a sua experiência escolar do ensino fundamental. Lembra que a escola era para alunos de classe social privilegiada e que por isso era isolado pelos colegas, pois era pobre. Ele fala também das duas primeiras professoras dizendo o seguinte:

Minhas primeiras professoras foram Beatriz Dias, na primeira série; e Marilice Lopes, na segunda. Não sei dizer o porquê de nunca tê-las esquecido, mas acredito que seja pela atenção e pela forma como me ensinavam as coisas. Penso muito sobre isso hoje por ser um professor. Era fascinado por elas. Tudo era novidade para mim e as descobertas daquele mundo novo me deixavam feliz quando chegava a hora de ir para escola. (ROBERTO, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

Os bons professores têm esse poder de ficarem nas lembranças de seus alunos, e com certeza vão servir de modelos ou de inspiração na prática daqueles que ingressarem na docência.

No memorial de Isabela aparece a seguinte situação em relação à fase escolar:

Desde quatro anos de idade eu já sonhava ser professora, o que era comum para meninas na década de 80, pois tínhamos uma visão romântica acerca da profissão. [...] Iniciei meus estudos aos cinco anos de idade (1984) na Escola Municipal de 1º grau incompleto Lourdes Fontoura da Silva, na qual frequentei até a 5ª série. (ISABELA, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

Aqui podemos ver que a escolha pela docência, iniciou-se cedo e teve um reforço positivo na escola para que se mantivesse viva essa ideia, como podemos observar:

A escola Lourdes de Fontoura acentua a minha escolha pelo Magistério. A diretora da época, [...] sempre relatava que só deixaria a escola quando eu estivesse pronta para lecionar lá. Desejo que se cumpriu. (ISABELA, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

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A fase escolar foi decisiva na decisão da autora, e o curso de magistério foi o escolhido no ensino médio para que pudesse realizar o sonho de ser professora. E aqui aparece uma característica que é mais comum às mulheres, que é o ingresso na docência antes da universidade por conta do curso de magistério, o que aproxima muito, em termos de tempo, as experiências da vida escolar e seu possível aproveitamento na docência.

3.2. TRAJETÓRIA ACADÊMICA E O INGRESSO NA DOCÊNCIA

A trajetória acadêmica e o ingresso na docência são outros pontos que precisamos analisar para entendermos melhor a constituição do professor. A seguir temos o olhar do professor para a sua trajetória acadêmica: “Durante o curso, amadureci muito. [...] Realmente o mundo acadêmico é diferente. É um espaço de experiências de vida, de projetos, de escolhas, de crescimento, de evolução...”. (ROBERTO, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

E para esse professor o ingresso na docência aconteceu em meio ao seu curso, conforme ele relata: “Quando estava no quarto semestre de curso, me inscrevi para contrato na prefeitura de Porto Alegre. Umas duas semanas depois fui chamado”. (ROBERTO, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

No memorial abaixo a autora também fala das coisas boas da academia, das amizades, das semanas acadêmicas, dos diversos momentos de estudos. E decide buscar o ingresso na docência após a sua primeira prática de ensino na universidade, conforme ela diz:

Decidi que queria começar. Mas eu ainda não estava formada, então só havia duas possibilidades de trabalho: estágios ou contrato emergencial. Então redigi meu currículo e em outubro de 2001 distribuí nas escolas particulares [...] e me inscrevi pra contrato emergencial na 2ª CRE, em São Leopoldo. (CLAUDETE, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

A professora foi chamada em uma escola particular e começou a trabalhar em 2003. Ela lembra também das dificuldades enfrentadas com o ineditismo: “O começo foi muito difícil, afinal tudo era novidade para mim [...] coisas que nunca antes havia feito e para as quais a universidade não havia me preparado”. (CLAUDETE, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

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Quanto a esse preparo podemos ver Almeida e Biajone (2007, p.284) que falam sobre os “saberes sem ofício, que têm sua origem nas Ciências da Educação, ou seja, são os conhecimentos produzidos nos centros acadêmicos”. Mais adiante temos: “Muitos desses conhecimentos, foram produzidos sem considerar as condições concretas do exercício do magistério”, ou seja, é preciso buscar a complementação para a docência e ela vai se dar na prática, como veremos mais adiante no próximo tópico.

Ao contrário dos outros memoriais citados podemos perceber no próximo que algumas vezes a decisão de tornar-se professor acontece mais tardiamente como diz o relato a seguir onde depois de quatorze anos o autor busca o ingresso na universidade e encontra o caminho da docência.

Fui trabalhar em uma empresa de construção civil pesada. Durante quatorze anos vivi uma experiência de viagens, trabalho, aprendizagem profissional e algumas frustrações com esse ramo de atividade profissional [...] No inicio dos anos 90, fiz vestibular e fui cursar História. (SANDRO, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

Os saberes que esse professor construiu durante todo o tempo que esteve em outro tipo de atividade, também irão contribuir na sua docência, a escolha tardia pela profissão não significa que teve mais dificuldades que os professores que começaram mais cedo.

3.3. DOCÊNCIA NA EJA

E para encerrar o estudo dos saberes, vamos analisar a docência na EJA. Para Tardif os primeiros anos de prática profissional são fundamentais e contribuem

para a aquisição do sentimento de competência e no estabelecimento das rotinas de trabalho, ou seja, na estruturação da prática profissional. Ainda hoje, a maioria dos professores aprendem a trabalhar na prática, às apalpadelas, por tentativa e erro. (TARDIF, 2002, p.261).

Ser professor na Educação de Jovens e Adultos é um exercício de aprendizagem. Aprende-se muito com a prática de sala de aula, porque muitas vezes, pra não dizer na maioria das vezes, é o primeiro contato do professor com o público da EJA. Isso porque a sua formação acadêmica não se aprofundou no tema, como podemos perceber nos relatos dos memoriais a seguir.

No início eu preparava aulas para turmas regulares e tentava dar a mesma aula para os adultos. Logo em seguida eu já percebi que isso não funcionaria devido ao período reduzido de aulas que eu tinha no noturno, e

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ao longo do ano eu comecei a ver que as aulas com os adultos não rendiam da mesma forma que com as crianças. Era necessário uma nova linguagem e aulas com ênfases diferentes das aulas para as crianças, então comecei a preparar materiais específicos para o trabalho com os adultos, dando mais atenção para o diálogo e experiências de vida dos alunos. (PEDRO, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

Esse é um erro que acontece muito na EJA, que é pegar aulas que foram planejadas para crianças e repassá-las aos adultos. Mas pode ser corrigido se for percebido pelo professor como o autor fez através da observação e análise da sua prática, que segundo Paulo Freire “é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática” (Freire, 2004).

Álvaro Pinto (1994) também fala do “equívoco da infantilização do adulto” mostrando o seguinte:

A concepção ingênua do processo de educação de adultos deriva do que se pode chamar uma “visão regressiva”. Considera o adulto [...] como uma criança que cessou de desenvolver-se culturalmente. Por isso, procura aplicar-lhe os mesmos métodos de ensino. (PINTO, 1994, p.87).

É preciso perceber os saberes que esse adulto carrega e que serão importantes, se bem aproveitados, para o planejamento e desenvolvimento das atividades em aula. Para o próximo autor, a experiência com a Educação de Jovens e Adultos começa parecida com a de muitos outros professores que atuam na EJA. Ele relata o seguinte:

No primeiro momento foi um choque, mas tinha de encarar isso. Não tinha a mínima idéia de como trabalhar na EJA e nem sabia por onde começar. Deram-me uma folha com meia dúzia de conteúdos e um “boa sorte” e era isso...Aprendi na marra. Alguma coisa tinha de sair. Comecei conversando com todos os alunos das salas em que eu entrava. Precisava conhecê-los para saber por onde começar. (ROBERTO, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

Isso mostra o quanto é difícil o início na EJA por conta da defasagem acadêmica em relação à temática.

Na citação do próximo memorial podemos ver a integração que existe entre os sujeitos envolvidos no processo da Educação de Jovens e Adultos.

Trabalhar Ensino Religioso com a EJA foi bem interessante, trouxe muitos momentos de reflexão e de formação humana para meus alunos e principalmente para mim. Fiz das aulas terapia de vida, aproveitando o dia-a-dia deles e o meu para trocarmos conceitos e pré-conceitos. (EDUARDO, Curso em PROEJA-UFRGS, 2008).

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Trocas que acontecem no dia-a-dia da EJA são sempre relatadas com muito entusiasmo pelos professores. E segundo Brandão:

Sempre que eu saio diferente e melhor do que era antes, por haver compartido algo com alguém, houve ali um momento de ensino-e-aprendizagem entre nós. Logo, um momento peculiar da experiência plural e complexa de algo a que damos o nome de educação. (BRANDÃO, 2002, p.327)

Esses processos de construção do conhecimento superam ignorâncias específicas que se valem de saberes específicos como nos mostra Santos (2004, p.790)

não há ignorância em geral nem saber em geral. Toda a ignorância é ignorante de um certo saber e todo o saber é a superação de uma ignorância particular. [...] O confronto e o diálogo entre os saberes é um confronto e diálogo entre diferentes processos através dos quais práticas diferentemente ignorantes se transformam em práticas diferentemente sábias.

Diante de tal situação o professor busca em suas memórias, mesmo que inconscientemente, lembranças da sua trajetória como estudante, como acadêmico, procurando parâmetros que possam atender aquele público e aqui também entram as experiências pessoais, que irão contribuir bastante.

Os ensinamentos que tivemos com outros adultos, como pais, professores e outras pessoas que de certa forma marcaram nossa vida, começam a aparecer na hora do diálogo em sala de aula. Eles podem vir à tona em forma de valores, de possibilidades de resolução de conflitos, de explicações com as mais variadas formas, enfim são muitas possibilidades que surgem diante do fato que para muitos é novo.

Com isso o professor vai se constituindo em educador da Educação de Jovens e Adultos, com esse saber da prática, da docência que é forjado no dia-a-dia de suas atividades.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todos os professores, que participaram da pesquisa, demonstraram carinho e respeito pela Educação de Jovens e Adultos o que é muito significativo pois demonstra comprometimento.

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Conseguimos relacionar vários saberes dentro dos itens que nos propusemos a pesquisar. E observamos o quanto estão relacionados às decisões dos professores, à suas práticas, ao seu ser professor.

Assim, o problema de pesquisa, Como os saberes docentes, das histórias de vidas narradas nos memoriais, contribuem na docência da Educação de Jovens e Adultos, foi respondido desde as primeiras leituras dos memoriais, as narrativas de momentos de aprendizagem entre educandos e educadores comum a todos os textos é algo que nos faz acreditar cada vez mais na EJA. Com base no que lemos nos memoriais e pela pequena parcela, mas significativa, que foi transcrita para a pesquisa é que apontamos para a formação continuada do PROEJA e como sugestão inicial a escrita de si através de memoriais formativos, ou de outra forma onde os professores possam se enxergar no passado, no presente e projetar o futuro.

Os professores acabam percebendo os saberes quando escrevem os memoriais, e acabam relacionando as suas práticas com acontecimentos ocorridos lá na infância, na adolescência, na universidade e se olharem melhor talvez consigam enxergar outras relações que ainda não descobriram. O que conseguimos ver é que todos que escreveram mostraram-se entusiasmados em poder contar a sua história de vida pois também é uma forma de valorização do profissional.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Patrícia Cristina Albieri de; BIAJONE, Jefferson. Saberes Docentes e Formação Inicial de Professores: implicação e desafios para as propostas de formação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.33, n.2, p. 281-295, maio/ago. 2007. ALVES, Wanderson Ferreira. A formação de Professores e as Teorias do Saber: contextos, dúvidas e desafios. Eduacação e Pesquisa, São Paulo, v.33, n.2, p. 263-280, maio/ago. 2007.

ARENHALDT, Rafael. Memoriais e Histórias de Vida. Blog. 2007. Disponível em: <http://memorialformativo.blogspot.com>. Acesso em: 12.ago.2009.

BRASIL. Lei nº. 11.741, de 16 Julho de 2008.

BRASIL. Ministério da Educação. Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA: formação inicial e continuada/ensino fundamental, Documento Base, Brasília: MEC, 2007.

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BENDER, Dalva J. Balz; FRANZÓI, Naira Lisboa. Saberes, inscrições e movimentos na trajetória formativa de corpos-educadores: Memoriais de esperanças no ensinar e aprender com a EJA. In: SANTOS, Simone Valdete dos et al. Reflexões sobre a prática e a teoria em PROEJA. Porto Alegre: EVANGRAF, 2007. p. 236-251.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A Educação Popular na Escola Cidadã. Petrópolis, RJ. Vozes, 2002 29ª ed. São Paulo. Paz e Terra, 2004. 148p.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 29ª ed. São Paulo. Paz e Terra, 2004. 148p.

PINTO, Álvaro Vieira. Sete Lições Sobre Educação de Adultos. São Paulo. Cortez, 1994.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Conhecimento Prudente para uma Vida Decente. São Paulo. Cortez, 2004. 824p.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional: 7ª ed. Petrópolis. RJ. Ed. Vozes, 2006. 325p.

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ANEXO 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

Sob o título ___________________________ o estudo, que culminará na elaboração de uma monografia do curso Especialização em Educação Profissional Integrada à Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos, pretende__________________________.

Os dados e resultados individuais da pesquisa estarão sempre sob sigilo ético, não sendo mencionados os nomes das participantes em nenhuma apresentação oral ou trabalho escrito que venha a ser publicado, a não ser que o/a autor/a do depoimento manifeste expressamente seu desejo de ser identificado/a.

A participação nesta pesquisa não oferece risco ou prejuízo à pessoa entrevistada. Se no decorrer da pesquisa o participante resolver não mais continuar ou cancelar o uso das informações prestadas até então, terá toda a liberdade de o fazer, sem que isso lhe acarrete qualquer conseqüência.

Os pesquisadores responsáveis pela pesquisa são a Professora Dra. ___________________ do curso de Especialização em Educação Profissional Integrada à Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, orientadora, e a (o) candidata (o) à especialista ____________________, do referido Programa de Pós-Graduação. Ambas(os) se comprometem a esclarecer devida e adequadamente qualquer dúvida ou necessidade de informações que o/a participante venha a ter no momento da pesquisa ou posteriormente, através do telefone...

Após ter sido devidamente informado/a de todos os aspectos da pesquisa e

ter esclarecido todas as minhas dúvidas, eu

______________________________________, Identidade n.º __________________________ concordo em receber a candidata ao título de Especialista em Educação em minha casa e / ou outro local a ser combinado, prestar depoimentos, preencher questionários, disponibilizar documentos sobre o objeto da referida pesquisa.

Quanto à identificação da autoria de meu depoimento opto: ( ) pela não identificação de meu nome.

( ) pela identificação de meu nome.

_____________________________________________________ Participante da Pesquisa (assinatura)

Pesquisadora (assinatura)

Referências

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