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Aula 1 - Constituição. Conceito. Classificação. Aplicabilidade e Interpretação das Normas Constitucionais.

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Academic year: 2021

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Aula 1 - Constituição. Conceito. Classificação. Aplicabilidade e Interpretação das Normas Constitucionais.

Olá!

Seja bem-vindo(a) a esse nosso curso, por meio do qual iremos nos enfronhar no mundo maravilhoso do Direito Constitucional para concursos! A cada quinze dias, apresentarei uma aula, com um assunto diferente, seguindo aquele conteúdo programático proposto na aula zero. Em primeiro lugar, quero agradecer a confiança e deixá-lo tranquilo, pois, a cada aula, a cada assunto, abordarei os aspectos mais relevantes para fins de concurso, fazendo o possível para tentar deixá-lo o mais claro possível. Mas, sem me estender demais naquilo que tem pouca incidência em concursos.

Então, após passar a teoria, apresentarei como as questões têm abordado o tema, o que facilitará a sua memorização.

Em alguns casos, utilizarei a própria questão para aprofundar num tema tratado durante a apresentação da teoria (ou para mencionar algo ainda não comentado).

Falando em questões: no final apresentarei mais exercícios de fixação. E eventuais dúvidas poderão ser sanadas por meio do fórum de dúvidas. Um esclarecimento: nosso foco é a Esaf. Entretanto, a fim de aumentar o número de exercícios que você deve resolver (como forma de fixação da matéria e reforço do aprendizado), complementarei com questões do Cespe, mas exclusivamente quando não houver risco de divergência entre as bancas (em regra, não há divergência).

Vejamos, então, o conteúdo de hoje:

1 – Direito Constitucional e Constituição 1.1 Conceitos: político, sociológico e jurídico 1.2 – Classificação das Constituições

1.3 – Supremacia da Constituição

2 – Aplicabilidade e eficácia: Classificação das normas constitucionais 2.1 – Normas de eficácia plena

2.2 – Normas de eficácia contida 2.3 – Normas de eficácia limitada 3 – Interpretação da Constituição 3.1 – Princípios de Interpretação 3.2 – Métodos de Interpretação 4 – Exercícios de Fixação

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1 – Direito Constitucional e Constituição

O que seria o Direito Constitucional?

Bem, podemos defini-lo como o ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado. E tem como objeto a Constituição desse Estado.

Quanto ao conceito de Constituição, podemos relacioná-lo à noção de forma de organização do Estado.

Quando eu digo Estado, temos de relacionar essa concepção à junção de três elementos fundamentais (território, população e governo) que podem ser completadas com mais um elemento: a finalidade. Assim, o Estado seria constituído de um governo (poder institucionalizado) que tem por finalidade essencial a regulamentação das relações sociais travadas pelos membros de uma população distribuída em determinado

território.

Nesse sentido, qualquer Estado tem sua Constituição, independentemente de estar essa organização compilada em um livro, um documento específico.

Toa, o estudo sistemático da Constituição somente se desenvolve a partir do momento em que os Estados passam a compilar em um único documento as regras de organização de suas estruturas. E isso ocorre especialmente a partir das revoluções burguesas do fim do séc. XVIII, cujos ideais iluministas e liberais coincidiam com a necessidade de se estabelecer normas para o funcionamento do Estado (até como forma de limitar seu poder).

É nesse ambiente que surge o constitucionalismo, movimento que concebeu a ideia de limitação do poder estatal por meio da criação de um documento escrito, que estabelecesse as regras fundamentais e supremas de organização do Estado.

Como não podia deixar de ser, aquelas primeiras constituições eram sucintas. Tratavam de poucos assuntos: (i) regras de organização do Estado; (ii) exercício e transmissão do poder; e (iii) direitos e garantias fundamentais, como forma de limitação do poder estatal.

Nesse contexto, cabe mencionar o conceito de Constituição ideal, decorrente do triunfo do movimento constitucional no início do séc. XIX e apresentado por J. J. Gomes Canotilho. Assim, essa concepção identifica-se com os postulados político-liberais e deve: (i) ser escrita; (ii) consagrar um sistema de garantias de liberdades (reconhecimento de direitos individuais e sistema democrático formal); e (iii) limitar o poder do Estado por meio do princípio da divisão dos poderes;

Mas, se as primeiras Constituições escritas e rígidas eram de orientação puramente liberal; com o tempo elas começam a apresentar caráter social. Com isso, as Constituições passam a expandir seu objeto,

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ganhando uma vertente social. Passam a traçar os fins estatais e estabelecer programas e linhas de direção para o futuro.

Bem, esse início é importante para contextualizar o assunto. Mas, em concurso, o mais comum é serem cobrados os conceitos político, jurídico e sociológico de Constituição (que veremos logo adiante).

Vamos resolver a nossa primeira questão de hoje?

1) (ESAF/AFRFB/2010) O conceito ideal de constituição, o qual surgiu no movimento constitucional do século XIX, considera como um de seus elementos materiais caracterizadores que a constituição não deve ser escrita.

A noção de Constituição ideal (oriunda do movimento constitucional do séc. XIX) relaciona-se a determinados elementos caracterizadores. Como vimos, segundo essa concepção a Constituição deve ser escrita (solenemente elaborada por um órgão constituinte num determinado momento, constituindo um documento único).

Item errado.

2) (ESAF/EPPGG/MPOG/2009) A Constituição contém normas fundamentais da ordenação estatal que servem para regular os princípios básicos relativos ao território, à população, ao governo, à finalidade do Estado e suas relações recíprocas.

A noção de Constituição está ligada à Organização do Estado. Ou seja, ordenação dos princípios básicos relacionados àqueles quatro elementos constitutivos: território, população, governo e finalidade. É de se observar que nesse núcleo concentram-se as normas de conteúdo materialmente constitucional. Guarde esse conceito, que será mais bem desenvolvido adiante.

Item certo.

1.1 Conceitos: político, sociológico e jurídico

Excepcionalmente neste assunto, é importante que você memorize os nomes relacionados a cada uma das concepções de Constituição: política, sociológica e jurídica.

Constituição em sentido POLÍTICO

Carl Schmitt é quem desenvolve a concepção política de Constituição. Segundo esse conceito, a Constituição é uma decisão política fundamental.

Assim, a Constituição surge a partir de uma vontade política fundamental de definir a forma e modo de organização do Estado.

Carl Schmitt estabeleceu uma distinção entre Constituição e leis constitucionais. A Constituição disporia somente sobre as matérias

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substancialmente constitucionais, materialmente constitucionais devido à sua grande relevância jurídica (organização do Estado, direitos e garantias fundamentais etc.). Essas sim seriam, por excelência, as decisões políticas fundamentais.

As demais matérias integrantes do texto da Constituição, de menor relevância, seriam tão somente leis constitucionais.

Ou seja, uma coisa é tratar de temas realmente “importantes”, substancialmente constitucionais, assunto para a Constituição. Outra coisa seriam aqueles temas menos relevantes, que constituiriam meras leis constitucionais.

Com base nessa teoria, podemos mencionar um aspecto importante para concursos: a distinção entre Constituição em sentido material e Constituição em sentido formal.

Importante:

No sentido material de Constituição, as normas constitucionais são identificadas a partir do seu conteúdo (somente são constitucionais as normas que tratam de temas substancialmente constitucionais, como: organização e finalidades do Estado e direitos fundamentais, por exemplo).

Já as demais normas constitucionais são apenas formalmente constitucionais (têm “forma” de Constituição, na medida em que integram um documento constitucional solenemente elaborado; mas, não têm conteúdo constitucional).

Assim, é importante você saber que há: (i) temas propriamente constitucionais (substancialmente constitucionais); e (ii) temas que, apesar de menos relevantes, integram a Constituição.

Não é pacífica a definição exata do que seja substancialmente constitucional. De qualquer forma, há um núcleo de temas sobre os quais não há muita controvérsia. Assim, seriam materialmente constitucionais temas como a organização do Estado, distribuição de competências, regulação do exercício do poder e limites ao poder do Estado (direitos fundamentais).

É importante conseguir entender bem essa distinção entre os sentidos material e formal de Constituição. Alguns exercícios mais à frente auxiliarão seu aprendizado.

Constituição em sentido SOCIOLÓGICO

Na concepção sociológica, a Constituição é concebida como fato social, como resultado da realidade social do país, e não propriamente como norma. A Constituição seria a soma dos fatores reais de poder que imperam na sociedade (tais como a aristocracia, a burguesia, os banqueiros etc.).

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Aquele documento escrito teria a função de simplesmente sistematizar essa correlação de forças, e só teria eficácia se, de fato, representasse os valores sociais da sociedade.

Essa noção é defendida por Ferdinand Lassalle, segundo o qual há duas Constituições: a real e a escrita. A real é a “soma dos fatores reais de poder” e a escrita, mera “folha de papel”. Em caso de conflito, aquela sempre prevalecerá sobre esta.

Dessa forma, Lassalle nega a força normativa da Constituição escrita. Afinal, para ele, se a Constituição escrita não representar a real soma dos fatores de poder, ela não passará de uma folha de papel.

Constituição em sentido JURÍDICO

Para Hans Kelsen, defensor da concepção jurídica de Constituição, a Constituição é norma jurídica pura, sem qualquer consideração de ordem social, política, moral ou filosófica.

Nesse caso, a Constituição teria um caráter estritamente formal.

É interessante como a visão de Kelsen contrapõe-se à concepção sociológica de Ferdinand Lassalle. Por um lado, Lassalle nega a força normativa da Constituição, ao considerar que ela só teria valor se representasse os fatores reais de poder. Ao contrário, na visão de Kelsen, a validade de uma norma independe da sua aceitação pelo sistema de valores sociais da sociedade.

Kelsen estabeleceu uma distinção entre Constituição em sentido lógico-jurídico e Constituição em sentido lógico-jurídico-positivo.

De acordo com o sentido lógico-jurídico, a Constituição significa norma fundamental hipotética, cuja função é servir de fundamento lógico transcendental da validade da Constituição jurídico-positiva. Ou seja, trata-se de fato instaurador não positivado (já que apenas pressuposto, pensado, imaginado), origem de todo o processo de criação das normas. Já em seu sentido jurídico-positivo, a Constituição equivale à norma positiva suprema, conjunto de normas que regula a criação de outras normas, lei nacional no seu mais alto grau.

Assim, enquanto o jurídico-positivo está corporificado pelas normas postas, positivadas, o lógico-jurídico situa-se em nível do suposto, do hipotético (haja vista não configurar norma editada por nenhuma autoridade).

A partir desse conceito de Kelsen, você já pode observar algo interessante: há um escalonamento das normas, em que uma constitui fundamento de validade para a outra (hierarquicamente inferior), constituindo uma verticalidade hierárquica.

Assim, podemos dizer que as normas inferiores buscam seu fundamento de validade numa norma superior, e esta na Constituição (lei nacional no seu mais alto grau), que se caracteriza como fundamento de validade de

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todo ordenamento jurídico. Segundo Kelsen, essa Constituição positivada busca seu fundamento de validade na norma hipotética fundamental (sentido lógico-jurídico).

O que você acha de esquematizarmos esses importantes sentidos da Constituição? Já fiz isso por você...

Sintetizando:

Vamos ver como a Esaf cobra esse assunto.

3) (ESAF/AFC/STN/2005) Na concepção de constituição em seu sentido político, formulada por Carl Schmmitt, há uma identidade entre o conceito de constituição e o conceito de leis constitucionais, uma vez que é nas leis constitucionais que se materializa a decisão política fundamental do Estado.

Carl Schmitt estabeleceu uma distinção entre Constituição (que disporia somente sobre as matérias substancialmente constitucionais, de grande relevância jurídica, as ditas decisões políticas fundamentais) e leis constitucionais (as demais matérias integrantes do texto da Constituição, de menor relevância).

Item errado.

4) (ESAF/PROCURADOR DA FAZENDA/PGFN/2007) Para Ferdinand Lassalle, a constituição é dimensionada como decisão global e fundamental proveniente da unidade política, a qual, por isso mesmo, pode constantemente interferir no texto formal, pelo que se torna inconcebível, nesta perspectiva materializante, a idéia de rigidez de todas as regras.

Ferdinand Lassalle defende o conceito sociológico de Constituição, enquanto a definição apresentada na questão relaciona-se com a noção

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de sentido político de constituição (ao mencionar a decisão política fundamental). Assim, no conceito apresentado pela questão, a Constituição trata das matérias de grande relevância jurídica, as decisões políticas fundamentais. Diferentemente, as demais normas da Constituição são tão somente leis constitucionais.

Item errado.

5) (ESAF/AFTE/RN/2005) A constituição em sentido político pode ser entendida como a fundamentação lógico-política de validade das normas constitucionais positivas.

Caro aluno, você deve observar que é comum a ESAF apresentar determinado conceito, trocando o sentido de Constituição que a ele se refere.

Nessa questão, por exemplo, foi apresentada uma característica relacionada com o sentido jurídico de Constituição. Com efeito, em seu sentido jurídico, a Constituição é compreendida como norma fundamental do Estado, paradigma de validade de todo ordenamento jurídico.

Já no sentido político, a validade da Constituição apóia-se na decisão política fundamental que lhe dá existência.

Item errado.

6) (ESAF/ENAP/2006) Na concepção sociológica, defendida por Ferdinand Lassale, a Constituição seria o resultado de uma lenta formação histórica, do lento evoluir das tradições, dos fatos sóci-opolíticos, que se cristalizam como normas fundamentais da organização de determinado Estado.

Não há relação entre a concepção sociológica e uma Constituição resultante do lento evoluir das tradições.

Para Lassalle, a Constituição representa a soma dos fatores reais de poder que atuam no país (Constituição real), refletindo a realidade social e a distribuição de forças na sociedade (banqueiros, aristocracia, burguesia etc.). A Constituição escrita seria apenas uma folha de papel. Nesse sentido, por mais que decorresse da evolução histórica daquele país não teria validade se estivesse desconexa dos fatores reais de poder.

Item errado.

1.2 – Classificação das Constituições

Em todo direito constitucional, há diversas formas de se classificar determinada Constituição. Vamos estudar aqui as classificações mais relevantes para fins de concurso público.

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- quanto ao conteúdo; - quanto à forma;

- quanto ao modo de elaboração; - quanto à origem;

- quanto à estabilidade; - quanto à extensão; - quanto à finalidade; e

- quanto à correspondência com a realidade. Vejamos uma a uma.

Quanto ao conteúdo: materiais e formais

Já falamos um pouco sobre o sentido material e formal de Constituição.

Constituição material (ou substancial) é aquele conjunto de normas substancialmente constitucionais. Não importa se as normas estão ou não codificadas em um único documento (um livro denominado “Constituição”). Se a norma fala sobre temas substancialmente constitucionais, ela integra a Constituição material.

A Constituição formal é aquela que está restrita a um documento solene, de forma escrita. Assim, independentemente do tema sobre o qual versem, aquelas normas ali inseridas terão status de normas constitucionais.

Observem a Constituição de 1988. Ela é do tipo formal, tendo em vista que qualquer dos temas inseridos naquele documento revestem-se da mesma dignidade jurídica. Não importa se trata da organização do Estado (tema essencialmente constitucional, substancialmente constitucional) ou de qualquer outro aspecto pouco relevante, o que importa é o processo de formação, é o fato de aquela norma estar dentro daquele documento.

Quer um exemplo para esclarecer?

O art. 242, § 2° da CF/88 assim dispõe: “O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal.”

Acho que fica claro para qualquer um que isso não tem dignidade constitucional. Não é um assunto essencialmente constitucional. Entretanto, segundo o sentido formal de Constituição, o que importa é o fato de ele integrar a Constituição. É dizer, o art. 242, § 2° é tão formalmente constitucional quanto os artigos que estabelecem os princípios constitucionais ou os direitos fundamentais.

Quanto à forma: escritas e não escritas

Constituição escrita é aquela solenemente elaborada por um órgão constituinte num determinado momento. Disso resulta um documento escrito único, integrado por todas as normas constitucionais. E aquele

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documento é que rege todo ordenamento jurídico, regulando jurídica e efetivamente as relações da vida e dirigindo as condutas.

Já a Constituição não escrita (costumeira ou consuetudinária) é aquela que surge com o lento passar do tempo, como resultado de lenta síntese da evolução histórica do Estado. É integrada por leis escritas esparsas, jurisprudências, normas costumeiras e convenções.

A Constituição de 1988 é do tipo escrita, pois está compilada em um único documento elaborado por um órgão constituinte.

Atenção! É errado dizer que a Constituição não escrita é integrada

apenas por normas costumeiras, sem textos propriamente ditos. Observe que o que distingue uma da outra não é exatamente a existência ou não de textos escritos, mas o fato de as escritas estarem compiladas em um único documento, e as não escritas estarem espalhadas, sendo compostas também de normas não escritas.

Quanto ao modo de elaboração: dogmáticas e históricas

Constituição dogmática é formada em determinado momento histórico, baseada nas ideias, ideologias e princípios da teoria política e do direito daquele tempo. É o caso da Constituição de 1988 que elaborada por uma assembléia constituinte, em determinado momento fixo, segundo os dogmas reinantes àquela época.

Ao contrário, a Constituição histórica é fruto da lenta e contínua síntese da história daquele povo, constituindo um longo processo de formação.

Quanto à origem: promulgadas e outorgadas

Constituição promulgada (democrática ou popular) é produzida pela participação popular, normalmente por força do regime de democracia representativa. Assim, a Constituição surge do trabalho de uma assembléia constituinte, formada por representantes do povo (eleitos democraticamente).

Por outro lado, a Constituição outorgada é imposta de forma unilateral pelo poder da época, sem a participação popular. Trata-se de obra de um agente revolucionário que atua sem legitimidade para representar o povo.

Há, por fim, a Constituição cesarista, que também não é democrática. Trata-se de uma Constituição elaborada pelo detentor do poder e submetida ao povo, com vistas a referendar aquele documento, dando a ele ares de aparente legitimidade.

No Brasil, já tivemos tanto Constituições promulgadas, quanto outorgadas. Sabendo um pouquinho de história você pode ter uma noção inicial do perfil daquela Constituição. É só verificar o “ambiente” em que surge aquela Constituição.

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II) Em 1937, tivemos uma Constituição outorgada, durante o regime totalitário de Getúlio Vargas (Estado Novo).

II) A Constituição de 1967 e a emenda constitucional de 1969 foram outorgadas logo após o golpe militar de 1964 e regeram o país até 1988. Em suma, na história do constitucionalismo brasileiro tivemos Constituições outorgadas (1824, 1937, 1967 e 1969) e Constituições promulgadas (1891, 1934, 1946 e 1988).

Quanto à estabilidade (ou alterabilidade): imutáveis, rígidas, flexíveis e semi-rígidas

A Constituição imutável é aquela que não admite alteração do seu texto em nenhuma hipótese. Atualmente, podemos dizer que esta forma está em desuso (constituem relíquias históricas), tendo em vista que a imutabilidade pode resultar na total desconexão entre a Constituição e a realidade à sua volta.

A Constituição rígida é aquela que admite alteração do seu texto, mas somente mediante um processo legislativo solene, mais dificultoso do que aquele de elaboração das leis.

A Constituição flexível admite alteração do seu texto mediante processo legislativo simples, igual ao de elaboração das leis. Em regra, são também não escritas (classificação quanto a forma), mas podem ser excepcionalmente escritas.

A Constituição semiflexível ou semirrígida mescla os dois tipos anteriores. Exige um procedimento especial para alteração de parte do seu texto (parte rígida) e permite a alteração da outra parte mediante procedimento simples, igual ao de elaboração das leis (parte flexível). Destaque-se que, no Brasil, todas as Constituições foram do tipo rígida (inclusive a de 1988), exceto a Imperial de 1824, que foi do tipo semirrígida.

A propósito, quer ver como funciona uma Constituição semi-rígida? A Constituição de 1824 apresentava a seguinte regra no seu artigo 178: “Art. 178. É só Constitucional o que diz respeito aos limites e atribuições respectivas dos Poderes Políticos, e aos Direitos Políticos e individuais dos Cidadãos. Tudo o que não é Constitucional pode ser alterado, sem as formalidades referidas, pelas Legislaturas ordinárias.”

Ou seja, a própria Constituição traz um dispositivo que indica qual é a sua parte rígida (que vai exigir procedimento mais dificultoso para sua modificação) e qual é a sua parte flexível.

Atenção! Apesar de a Constituição de 1988 ser do tipo rígida, há na doutrina (Alexandre de Moraes) quem a classifique como super rígida, uma vez que possui um núcleo não passível de supressão (cláusulas pétreas).

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A Constituição sintética (breve ou concisa) é aquela de texto abreviado, que trata apenas de matérias substancialmente constitucionais.

De outra forma, a Constituição analítica (extensa ou prolixa) é aquela de texto extenso, tratando de matérias variadas, e não só de temas substancialmente constitucionais.

A Constituição de 1988 é classificada como analítica, pois apresenta texto extenso, abrangendo normas materialmente constitucionais, normas apenas formalmente constitucionais e normas programáticas. Nesse sentido, nossa Constituição segue a tendência moderna de as Constituições analíticas como forma de: (i) conferir maior estabilidade a certas matérias, levando-as para o texto da Constituição; e (ii) assegurar uma maior proteção social aos indivíduos, por meio da fixação de programas e diretrizes de política social para a concretização futura pelos órgãos estatais.

Quanto à finalidade: garantia, balanço e dirigente

A Constituição garantia (negativa) é aquela de texto abreviado (sintéticas) que se limita a estabelecer as garantias fundamentais e limites frente ao Estado. Podemos dizer que elas “olham para o passado”, no sentido de garantir aquelas conquistas.

A Constituição balanço é aquela elaborada para retratar a vida do Estado por um período certo de tempo. Podemos dizer que elas “olham o presente”.

A Constituição dirigente (ou programática) tem texto extenso (analíticas) e, além de estabelecer as garantias fundamentais frente ao Estado, fixam programas e diretrizes para a atuação futura dos órgãos estatais, normalmente de cunho social. Em suma, elas “olham para frente, para o futuro”.

Nasceram com o surgimento do chamado Estado Social, e passaram a introduzir no texto constitucional verdadeiros programas sociais a serem concretizados no futuro pelos órgãos estatais. Esses programas, em sua maioria de cunho social-democrático, correspondem às chamadas “normas programáticas”.

Quanto à correspondência com a realidade: normativas, nominativas e semânticas

Karl Loewenstein formulou uma classificação que leva em conta a correspondência entre o texto constitucional e a realidade política do Estado.

A Constituição normativa é aquela que consegue efetivamente normatizar a vida política do Estado, limitando sua ingerência por meio da garantia de direitos aos indivíduos. Existe em países em que há perfeita correspondência entre as normas estabelecidas (pela

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Constituição) e a realidade (o que, de fato, ocorre na vida política do Estado).

A Constituição nominativa é aquela que tem o objetivo de regular a vida política do Estado, mas não consegue cumprir essa função. Ou seja, até que se busca essa normatização das relações em sociedade, mas sem sucesso.

Por fim, há ainda a Constituição semântica, em que não há sequer o objetivo de limitar a ingerência estatal em favor do indivíduo. Busca-se apenas conferir legitimidade meramente formal aos governantes, servindo como instrumento em favor dos detentores do poder.

Façamos umas questões para fixar o conteúdo; mas, antes, vamos organizar tudo isso que eu falei.

Sintetizando:

7) (ESAF/AFRFB/2010) A constituição dogmática se apresenta como produto escrito e sistematizado por um órgão constituinte, a partir de princípios e ideias fundamentais da teoria política e do direito dominante.

De fato, a definição de Constituição dogmática relaciona-se ao conceito de constituições escritas por um órgão constituinte, segundo as ideias reinantes no momento histórico de sua elaboração.

Item certo.

8) (ESAF/AFRFB/2010) A constituição sintética, que é constituição negativa, caracteriza-se por ser construtora apenas de liberdadenegativa ou liberdade-impedimento, oposta à autoridade.

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As Constituições sintéticas são aquelas de texto abreviado, que tratam apenas da proteção do indivíduo frente ao Estado. Relacionam-se com a definição de “constituições negativas”, tendo em vista sua preocupação na fixação de limites à atuação do Estado, em respeito às garantias dos indivíduos. Contrapõem-se a uma Constituição positiva, concepção que surge junto ao conceito de Estado Social.

Item certo.

9) (ESAF/EPPGG/MPOG/2009) São constitucionais as normas que dizem respeito aos limites, e atribuições respectivas dos poderes políticos, e aos direitos fundamentais. As demais disposições que estejam na Constituição podem ser alteradas pelo quórum exigido para a aprovação das leis ordinárias.

No sentido material de Constituição, as normas constitucionais são identificadas a partir do seu conteúdo, isto é, nessa concepção só são normas constitucionais aquelas que tratam de matérias substancialmente constitucionais (organização e finalidades do Estado e direitos fundamentais, por exemplo).

Aí você me pergunta: Afinal, quais são, exatamente, esses temas substancialmente constitucionais? Bom, esse assunto não é nada pacífico, mas você deve conhecer aquele núcleo de temas sobre os quais não há muita controvérsia.

Nesse sentido, pode ser considerado materialmente constitucional aquele conteúdo que verse sobre organização do Estado, distribuição de competências, regulação do exercício do poder e limites ao poder do Estado (direitos fundamentais).

A questão está errada, pois, como vimos, quando determinado Estado concentra a Constituição em um documento solene e rígido, escrito por um órgão soberano, são consideradas constitucionais não só as normas materialmente constitucionais, mas também as demais.

É como a CF/88. Ao tratar de educação, saúde, cultura (ordem social), ela traz normas que podem não ser materialmente constitucionais, mas são hierarquicamente equivalentes às demais, tendo sim caráter constitucional. E, com isso, sua alteração requer procedimento mais rígido que o das leis ordinárias, como qualquer outra norma constitucional. Daí o erro da questão.

Por fim, guarde os seguintes detalhes sobre esse assunto:

I – O conceito de Constituição em sentido formal só existe em Estados de Constituição rígida e escrita;

II – O fato de determinada norma não tratar de temas propriamente (materialmente, substancialmente) constitucionais não a torna inferior às demais;

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III – Para fins de controle de constitucionalidade e de aplicabilidade das normas constitucionais não importa se a norma inserida na Constituição é (ou não) substancialmente constitucional.

Item errado.

10) (ESAF/EPPGG/MPOG/2009) A Constituição material é o peculiar modo de existir do Estado, reduzido, sob a forma escrita, a um documento solenemente estabelecido pelo poder constituinte e somente modificável por processos e formalidades especiais nela própria estabelecidos.

Observe que a assertiva trouxe a noção de Constituição formal, que se relaciona com um documento solene e rígido, independentemente do conteúdo tratado.

Item errado.

11) (ESAF/EPPGG/MPOG/2009) A constituição formal designa as normas escritas ou costumeiras, inseridas ou não num documento escrito, que regulam a estrutura do Estado, a organização dos seus órgãos e os direitos fundamentais.

A assertiva trouxe a definição de constituição material. Só faz sentido falarmos em constituição formal caso haja um documento solene único, com formalidades especiais (constituições escritas e rígidas).

Item errado.

12) (ESAF/APOFP/SEFAZ/SP/2009) Assinale a opção correta relativa à classificação da Constituição Federal de 1988.

a) É costumeira, rígida, analítica.

b) É parcialmente inalterável, outorgada, sintética. c) É rígida, outorgada, analítica.

d) É rígida, parcialmente inalterável, promulgada. e) É flexível, promulgada, analítica.

Tratando da nossa Constituição de 1988, podemos dizer que ela é classificada como: promulgada (elaborada com participação popular), dogmática (escrita por um órgão constituinte, apresentando as idéias reinantes no momento de sua elaboração), rígida (sua alteração exige procedimento mais dificultoso do que o das leis ordinárias) e analítica (de texto extenso, tratando das mais variadas matérias).

Assim, a única alternativa que satisfaz corretamente a classificação da CF/88 é a letra “d”.

Cabe destacar que nossa Constituição pode ser caracterizada como parcialmente inalterável, tendo em vista a existência de um núcleo que não está sujeito à supressão: as cláusulas pétreas. De qualquer forma, como veremos em aulas posteriores, a rigor, aquelas normas que

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configuram cláusulas pétreas não podem é sofrer alteração que tenda a aboli-las.

Gabarito: “d”

13) (ESAF/AFC/CGU/2003) Em sua concepção materialista ou substancial, a Constituição se confundiria com o conteúdo de suas normas, sendo pacífico na doutrina quais seriam as matérias consideradas como de conteúdo constitucional e que deveriam integrar obrigatoriamente o texto positivado.

A primeira parte do enunciado está correta, pois, de fato, na concepção materialista ou substancial, a Constituição se confundiria com o conteúdo de suas normas, haja vista que a Constituição, na concepção material, é identificada a partir do conteúdo das normas. Entretanto, não é pacífico na doutrina quais seriam as matérias substancialmente constitucionais. Portanto, errada a questão.

Atenção! A CF/88 é do tipo formal (compõe-se de algumas normas

apenas formalmente constitucionais e outras formal e materialmente constitucionais). Assim, não é correto afirmar que a nossa Constituição Federal de 1988 é parte material (parcela que trata de assuntos substancialmente constitucionais) e parte formal (demais assuntos). Item errado.

14) (ESAF/AFC/CGU/2003) Segundo a classificação das Constituições, adotada por Karl Lowenstein, uma constituição nominativa é um mero instrumento de formalização legal da intervenção dos dominadores de fato sobre a comunidade, não tendo a função ou a pretensão de servir como instrumento limitador do poder real.

O conceito apresentado refere-se à Constituição semântica (e não à Constituição nominativa, como afirmado).

Item errado.

15) (ESAF/AFRF/TRIBUTÁRIA E ADUANEIRA/2005) Uma constituição não-escrita é aquela cujas normas decorrem de costumes e convenções, não havendo documentos escritos aos quais seja reconhecida a condição de textos constitucionais.

O exemplo doutrinário para a Constituição não escrita é a Constituição inglesa. Lá, uma lei constitucional não surge a partir da sua elaboração solene por um órgão constituinte. A lei é elaborada ordinariamente pelo parlamento e, com o passar do tempo, caso essa norma assuma relevância para o Estado inglês, os Tribunais passam a considerá-la uma norma constitucional (ela é alçada ao “status” constitucional).

O enunciado está errado porque as Constituições não-escritas são formadas por normas costumeiras, jurisprudência e convenções, mas também por leis escritas esparsas. A diferença é que elas não foram

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formalmente elaboradas como uma Constituição, num procedimento solene, e não estão consolidadas num único documento.

Item errado.

16) (ESAF/EPPGG/MPOG/2009) São classificadas como dogmáticas, escritas e outorgadas as constituições que se originam de um órgão constituinte composto por representantes do povo eleitos para o fim de as elaborar e estabelecer, das quais são exemplos as Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988.

Realmente, podemos dizer que são classificadas como dogmáticas e escritas as Constituições que se originam de um órgão constituinte composto por representantes do povo, escolhidos em determinado momento para o fim de elaborar a Constituição como um documento solene.

Toa, essa definição não se aplica às Constituições outorgadas, que

são aquelas impostas, originadas sem a participação popular. Daí o erro da questão.

Observe que todas as Constituições brasileiras citadas na questão foram promulgadas ou democráticas.

Item errado.

17) (ESAF/AFC/CGU/2003) Segundo a melhor doutrina, a tendência constitucional moderna de elaboração de Constituições sintéticas se deve, entre outras causas, à preocupação de dotar certos institutos de uma proteção eficaz contra o exercício discricionário da autoridade governamental.

A tendência moderna é de elaboração de Constituições analíticas. Essa tendência decorre da necessidade de (i) conferir maior estabilidade a certas matérias, no intuito de limitar a discricionariedade do Estado; e (ii) assegurar uma maior proteção social aos indivíduos (com o surgimento do Estado social, a partir do estabelecimento de programas e diretrizes para a concretização futura pelos órgãos estatais).

Item errado.

18) (ESAF/Auditor-Fiscal do Trabalho/2006) Na concepção materialista de Constituição, é dada relevância ao processo de formação das normas constitucionais, que, além de ser intencional, deve produzir um conjunto sistemático com unidade, coerência e força jurídica próprias, dentro do sistema jurídico do Estado.

Na concepção material de Constituição, é dada relevância ao conteúdo da norma. São normas constitucionais aquelas que tratem dos elementos essenciais de organização do Estado. Em nada interessa o seu processo de sua elaboração.

(17)

I) o fato de determinada norma não tratar de temas propriamente (materialmente, substancialmente) constitucionais não a torna inferior às demais; e

II) para fins de controle de constitucionalidade e de aplicabilidade das normas constitucionais não importa se a norma inserida na Constituição é (ou não) substancialmente constitucional.

Item errado.

19) (ESAF/MPOG/ENAP/ADMINISTRADOR/2006) Segundo a doutrina, são características das constituições concisas: a menor estabilidade do arcabouço constitucional e a maior dificuldade de adaptação do conteúdo constitucional.

Ao contrário do afirmado no enunciado, as Constituições sintéticas são mais estáveis, exatamente por tratar apenas dos temas fundamentais, aqueles princípios mais basilares de organização do Estado. Não descem aos detalhes e, assim, se adaptam com maior facilidade à evolução da sociedade, na medida em que seus princípios são interpretados e adequados aos novos anseios.

Segundo Paulo Bonavides, essas Constituições resultam numa maior estabilidade do arcabouço constitucional, bem como numa flexibilidade que permite adaptar a Constituição a situações novas e imprevistas do desenvolvimento institucional de um povo.

Item errado.

20) (ESAF/MPOG/ENAP/ADMINISTRADOR/2006) As constituições classificadas quanto à forma como legais são aquelas sistematizadas e apresentadas em um texto único.

Com esse enunciado, vou apresentar uma classificação pouco tradicional (e pouco cobrada), apresentada pelo Professor André Ramos Tavares e que divide as Constituições em codificadas ou legais.

As primeiras (codificadas) são aquelas sistematizadas em um único documento. As Constituições legais são aquelas integradas por documentos diversos, espalhados. Assim, são formadas por inúmeras leis constitucionais, redigidas em momentos distintos, tratando cada qual de elementos substancialmente constitucionais.

O enunciado apresenta o conceito de Constituição codificada, e não de Constituição legal.

Item errado.

1.3 – Supremacia da Constituição

Antes de passar para o próximo tópico, quero que você consiga identificar de onde surge a chamada supremacia da Constituição.

(18)

Relembrando o que acabamos de falar ao tratar da classificação da Constituição quanto à estabilidade... Se a nossa Constituição é rígida, ela exige um procedimento especial para sua alteração, mais dificultoso do que o das demais normas.

Ou seja, alterar a Constituição é mais difícil que alterar uma simples lei. Como resultado, não pode uma simples lei revogar uma norma constitucional qualquer, afinal a Constituição é mais forte do que as leis. Veja que se o procedimento de alteração da Constituição fosse o mesmo das demais leis, uma simples lei poderia alterar a Constituição. Afinal, imagine um sistema de Constituição flexível, em que tanto as normas constitucionais quanto as demais normas exigem apenas maioria simples para sua produção. Nessa hipótese, qualquer lei aprovada após a Constituição que esteja em conflito com ela poderá revogar seus dispositivos. Isso porque nos sistemas de Constituição flexível, não há superioridade formal entre as normas constitucionais e as demais leis. Assim sendo, estas (as leis) não precisam respeitar aquelas (as normas constitucionais).

Daí ser importante você memorizar: a rigidez traz como conseqüência lógica, o posicionamento da nossa Constituição Federal no vértice, no topo do ordenamento jurídico. É nos ordenamentos de Constituição rígida que vigora o princípio da supremacia formal da Constituição. E, por conseqüência, todos os atos e manifestações jurídicas, para permanecerem no ordenamento jurídico, devem estar de acordo com a Lei Maior, a Constituição.

Entretanto, você tem de saber que supremacia material e supremacia formal não se confundem.

Essa superioridade que posiciona a Constituição em um plano superior e exige conformidade das demais normas com seus princípios e suas regras consiste na supremacia formal (supremacia decorrente das formalidades especiais exigidas para a alteração das normas constitucionais).

Observe que essa força das normas constitucionais não existe devido ao seu conteúdo. Não é a dignidade do tema tratado que faz nascer essa superioridade. Ela decorre do simples fato de a norma estar dentro da Constituição rígida.

Por seu turno, existe a supremacia material; aí sim, decorrente da matéria, do conteúdo da norma. Essa supremacia decorre do fato de uma norma tratar de matéria relevante, substancialmente constitucional. Não há qualquer relação com o processo de elaboração da norma ou com o fato de ela estar dentro ou fora de um documento único.

Supremacia formal → relaciona-se ao processo de elaboração; Supremacia material → relaciona-se à dignidade do conteúdo;

(19)

É possível então que você já tenha formulado uma constatação interessante:

I) só há que se falar em supremacia formal das normas constitucionais em um sistema de Constituição rígida;

II) já a supremacia material também existe nas Constituições flexíveis, não-escritas, históricas e costumeiras.

Por fim, observe que, se a noção de supremacia formal posiciona a Constituição acima de todas as demais normas, a Constituição funciona como parâmetro de validade dessas normas, que devem sempre estar de acordo com ela. Em outras palavras, o controle de constitucionalidade das leis e atos normativos decorre da noção de supremacia formal da Constituição. Mas, voltaremos a tratar disso nas últimas aulas; aliás, as mais interessantes do curso...

21) (ESAF/AFRFB/2009) A ideia de escalonamento normativo é pressuposto necessário para a supremacia constitucional e, além disso, nas constituições materiais se verifica a superioridade da norma magna em relação àquelas produzidas pelo Poder Legislativo.

De fato, a supremacia constitucional relaciona-se ao fato de a Carta Maior estar no topo do ordenamento jurídico (noção de escalonamento normativo), funcionando como parâmetro de validade das demais normas. Toa, essa noção tem relação com a Constituição formal e,

não material. Item errado.

22) (ESAF/EPPGG/MPOG/2009) Sob o ponto de vista jurídico, a supremacia da Constituição sob os aspectos formal e material se apóia na regra da rigidez decorrente da maior dificuldade para modificação da Constituição do que para a alteração das demais normas jurídicas.

Você deve saber distinguir “supremacia formal” (presente somente nas Constituições que adotam a rigidez constitucional, por resultar do processo especial de elaboração das normas constitucionais) de “supremacia material” (decorrente da dignidade do conteúdo das normas substancialmente constitucionais sobre as demais leis do ordenamento). A supremacia formal da Constituição relaciona-se com as Constituições escritas e rígidas. Assim, ela se apóia na rigidez da Constituição como um documento solene que exige mais rigor na alteração de seu texto do que é exigido para as demais normas.

Toa, essa não é uma característica da supremacia no aspecto material, que se apóia no conteúdo da norma.

(20)

23) (ESAF/AFC/CGU/2003) A existência de supremacia formal da Constituição independe da existência de rigidez constitucional.

Como vimos, a supremacia formal das Constituições decorre exatamente da rigidez do seu texto.

Item errado.

2 – Aplicabilidade e eficácia: Classificação das normas constitucionais

Nesse tópico passarei a abordar sucintamente o assunto eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais.

Em primeiro lugar: todas as normas constitucionais possuem eficácia jurídica. Podemos até considerar a existência de uma variação no grau de eficácia e aplicabilidade dessas normas. Mas, não existem normas desprovidas de eficácia jurídica no texto da Constituição.

Bem, ocorre que algumas normas já produzem seus efeitos essenciais com a simples promulgação da Constituição. Outras têm um grau de eficácia reduzido, já que só produzem os seus plenos efeitos quando forem regulamentados por lei.

Já falamos sobre o Preâmbulo na aula zero, você se lembra?

Eu cheguei a comentar que, para o STF, o preâmbulo não é norma constitucional e não possui a mesma força normativa das demais normas constitucionais. É apenas mera manifestação de cunho político/filosófico/ideológico que não se insere no âmbito do Direito Constitucional.

Você pode perguntar: o mesmo pode ser afirmado quanto às normas integrantes do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT? Bem, o ADCT é uma norma constitucional como qualquer outra, ressalvada a sua natureza transitória. Assim: (i) as normas do ADCT são formalmente constitucionais; (ii) têm a mesma rigidez e situam-se no mesmo nível hierárquico das demais normas constitucionais (não há subordinação entre norma integrante do ADCT e norma do corpo principal da Constituição); (iii) e podem ser modificadas (ou revogadas, ou acrescentadas) por emenda à Constituição.

Nesse sentido, a única diferença entre as normas do ADCT e as demais (parte dogmática, corpo principal da Constituição) é que a primeira tem natureza transitória: ocorrida a situação transitória prevista na norma do ADCT, esgota-se a sua eficácia.

Vamos ver se assunto tem alguma importância...

24) (ESAF/AFRF/2001) As normas do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição de 1988 não se definem como normas formalmente constitucionais.

(21)

Como visto, o ADCT reveste-se de caráter constitucional, da mesma forma que as demais disposições constitucionais. Pode, até mesmo, ser parâmetro para controle de constitucionalidade das leis. Daí o erro da questão, já que o ADCT é uma norma constitucional como qualquer outra, ressalvada a sua natureza transitória.

Item errado.

Bem, de qualquer forma, quando se fala em “aplicabilidade das normas constitucionais”, o mais comum é serem cobradas questões sobre a classificação do prof. José Afonso da Silva: normas constitucionais de eficácia plena, limitada e contida. Esse assunto não cai.... despenca em concursos! E o melhor é que é bem simples de você dividi-las...

Assim, as normas constitucionais dividem-se em três diferentes graus de eficácia:

→ eficácia plena → eficácia contida → eficácia limitada

2.1 – Normas de eficácia plena

As normas de eficácia plena são aquelas que já estão aptas para produzirem os seus plenos efeitos com a simples entrada em vigor da Constituição, independentemente de regulamentação por lei.

Assim, são dotadas de aplicabilidade imediata (porque estão aptas para produzir efeitos imediatamente, com a simples promulgação da Constituição); direta (porque não dependem de nenhuma norma regulamentadora intermediária para a produção de efeitos); e integral (porque já produzem seus essenciais efeitos).

2.2 – Normas de eficácia contida

As normas de eficácia contida, restringida ou restringível também estão aptas para a produção de seus plenos efeitos com a simples promulgação da Constituição, mas podem ser restringidas. Promulgada a Constituição, aquele direito (nelas previsto) é imediatamente exercitável, mas esse exercício poderá ser restringido no futuro.

Assim, são dotadas de aplicabilidade imediata (porque estão aptas para produzir efeitos imediatamente, com a simples promulgação da Constituição); direta (porque não dependem de nenhuma norma regulamentadora intermediária para a produção de efeitos); mas não-integral (porque sujeitas à imposição de restrições).

Ademais, vale a pena comentar que as restrições às normas de eficácia contida podem ser impostas:

(22)

a) por lei (exemplo: art. 5º, XIII, da CF/88, que prevê as restrições ao exercício de trabalho, ofício ou profissão, que poderão ser impostas pela lei que estabelecer as qualificações profissionais);

b) por outras normas constitucionais (exemplo: art. 139 da CF/88, que impõe restrições ao exercício de certos direitos fundamentais, durante o período de estado de sítio);

c) por conceitos ético-jurídicos geralmente aceitos (exemplo: art. 5º, XXV, da CF/88, em que o conceito de “iminente perigo público” autoriza a autoridade competente a impor uma restrição ao direito de propriedade, requisitando administrativamente a propriedade particular).

2.3 – Normas de eficácia limitada

As normas de eficácia limitada são aquelas que só produzem seus plenos efeitos depois da exigida regulamentação. Elas asseguram determinado direito, mas esse direito não poderá ser exercido enquanto não for regulamentado pelo legislador ordinário. Enquanto não expedida a regulamentação, o exercício do direito permanece impedido.

São, por isso, dotadas de aplicabilidade mediata (só produzirão seus efeitos essenciais posteriormente, depois da regulamentação por lei); indireta (não asseguram, diretamente, o exercício do direito, dependendo de norma regulamentadora intermediária para tal); e reduzida.

Podemos dizer que, com a simples promulgação da Constituição, sua eficácia é meramente “negativa”. É importante explicar melhor essa eficácia negativa.

É que elas não produzem seus plenos efeitos ainda (já que dependem da regulamentação), mas já servem de parâmetro para a realização do controle de constitucionalidade das leis: (i) revogando a legislação pretérita em sentido contrário; e (ii) permitindo a declaração da inconstitucionalidade da legislação posterior em sentido contrário.

Ademais, essas normas também servem de parâmetro para o exercício da interpretação constitucional.

Atenção! Diante do que eu disse aqui, é errada a questão que afirme que até a regulamentação, as normas de eficácia limitada são desprovidas de eficácia.

Continuando nossa análise sobre as normas de eficácia limitada, elas podem ser divididas em dois grupos:

a) de princípio institutivo ou organizativo; b) de princípio programático.

As normas definidoras de princípio institutivo ou organizativo são aquelas em que a Constituição estabelece regras para a futura criação, estruturação e organização de órgãos, entidades ou institutos, mediante

(23)

lei (por exemplo, “a lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos Territórios” (CF, art. 33)).

Vale comentar que essas normas constitucionais definidoras de princípio institutivo podem ser impositivas (quando determinam peremptoriamente a edição de norma) ou facultativas (quando apenas facultam ao legislador, não impõem).

Ou seja:

I) Impositivas → aquelas vinculadas, em que se determina ao legislador a obrigação de emissão da legislação integrativa (por exemplo, art. 20, §2°; art. 32, §4°; art. 33; art. 88; art. 91, § 2°); e

II) Facultativas → aquelas que dão ao legislador ordinário a

possibilidade (e não a obrigação) de instituir ou regular a situação nelas delineada (por exemplo, art. 22, § único; art. 125, § 3°; art. 195, § 4°; art. 25, § 3°; art. 154, I).

Já as normas constitucionais definidoras de princípios programáticos são aquelas em que a Constituição estabelece os princípios e diretrizes a serem cumpridos futuramente pelos órgãos estatais (legislativos, executivos, jurisdicionais e administrativos), visando à realização dos fins sociais do Estado.

Constituem programas a serem realizados pelo Poder Público, disciplinando interesses econômico-sociais, tais como: realização da justiça social; valorização do trabalho; amparo à família; combate ao analfabetismo etc. (por exemplo, “a República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações” (CF, art. 4°, parágrafo único)). Esse grupo é composto pelas chamadas normas programáticas.

Sabemos bem que não são agradáveis esses termos (normas definidoras de princípio institutivo e normas programáticas), mas o que importa é você saber distinguir um grupo do outro na hora da prova. Para isso, pense que: se a norma de aplicabilidade limitada não estiver relacionada à criação e à organização de órgãos ou entidades, ela será uma norma programática.

Bem, esquematizei essas informações para que você possa memorizá-las de forma mais simples.

(24)

Sintetizando:

25) (ESAF/AFT/2003) Segundo a melhor doutrina, as normas de eficácia contida são de aplicabilidade direta e imediata, no entanto, podem ter seu âmbito de aplicação restringido por uma legislação futura, por outras normas constitucionais ou por conceitos ético-jurídicos. Acredito que você não teve dificuldades em acertar essa questão. Ela apresenta corretamente o conceito de norma constitucional de eficácia contida ou restringível.

Memorize esses conceitos:

Se o direito pode ser restringido → eficácia restringível ou contida

Item certo.

26) (ESAF/Auditor-Fiscal da Receita Estadual – Ceará/2007) As normas constitucionais de eficácia contida são aquelas que apresentam aplicabilidade reduzida, haja vista necessitarem de norma ulterior para que sejam aplicadas.

Para acertar essas questões você vai precisar saber diferenciar as normas de eficácia limitada e as normas de eficácia contida.

Eficácia Plena

Eficácia Contida

- Só produzem seus plenos efeitos depois da exigida regulamentação

- Aplicabilidade

- Princípio Institutivo → regras para a futura criação, estruturação e organização de órgãos, entidades ou institutos, mediante lei.

- Princípio Programático → princípios e diretrizes a serem cumpridos futuramente pelos órgãos estatais visando à realização dos fins sociais do Estado.

Eficácia das normas constitucionais

Mediata (efeitos essenciais apenas após regulamentação) Indireta (dependem de nenhuma norma regulamentadora)

Reduzida (com a promulgação da Constituição, sua eficácia é meramente “negativa”, isto é, revogam a legislação pretérita e proíbem a legislação futura em sentido contrário)

- Produzem seus efeitos essenciais com a simples entrada em vigor

Imediata (aptas para produzir efeitos imediatamente) Direta (não dependem de nenhuma norma regulamentadora) Integral (já produzem seus integrais efeitos)

- Aplicabilidade

- Produzem seus efeitos essenciais, mas eles podem ser restringidos

Imediata (aptas para produzir efeitos imediatamente) Direta (não dependem de nenhuma norma regulamentadora) Não integral (sujeitas à imposição de restrições)

- Aplicabilidade

Eficácia Limitada

(25)

As normas de eficácia contida são dotadas de aplicabilidade imediata e, por isso, não necessitam de lei posterior para que sejam aplicadas. Na realidade, lei posterior viria apenas para restringir o exercício do direito nelas previsto.

Item errado.

27) (ESAF/Auditor-Fiscal da Receita Estadual – Ceará/2007) As normas constitucionais de eficácia limitada estreitam-se com o princípio da reserva legal, haja vista regularem interesses relativos à determinada matéria, possibilitando a restrição por parte do legislador derivado.

Mais uma vez, a Esaf inverteu os conceitos tentando confundir o candidato. A assertiva apresenta um conceito relacionado com as normas de eficácia contida (e não limitada), pois é característica desse tipo de norma a possibilidade de restrição pelo legislador ordinário.

Item errado.

28) (ESAF/Auditor-Fiscal da Receita Estadual – Ceará/2007) O condicionamento da aplicação de direitos e garantias fundamentais à preexistência de lei, não retira o poder normativo do dispositivo constitucional, haja vista impor ao legislador e ao aplicador da norma limites de atuação.

O fato de a Constituição condicionar o exercício da aplicação de certos direitos e garantias fundamentais à regulamentação por lei não retira a força normativa dessas normas constitucionais de eficácia limitada. É importante você ter em mente que mesmo uma norma constitucional dependente de regulamentação já tem alguma eficácia com a sua simples entrada em vigor.

Com efeito, podem-se destacar pelo menos dois efeitos da entrada em vigor de uma norma constitucional de eficácia limitada:

a) a revogação de todas as disposições contrárias ou incompatíveis com seus comandos; e

b) a vedação à produção legislativa ulterior que seja com ela incompatível.

Significa dizer, em simples palavras, que com a mera entrada em vigor da Constituição, as normas de eficácia limitada, mormente as de princípio programático, já servem de parâmetro para a realização do controle de constitucionalidade das leis.

Ademais, mesmo antes de sua regulamentação por lei, essas normas de eficácia limitada servem como parâmetro para a interpretação do texto constitucional.

(26)

29) (ESAF/PROCURADOR DA FAZENDA/PGFN/2007) As normas programáticas não são auto-aplicáveis porque retratam apenas diretrizes políticas que devem ser alcançadas pelo Estado Brasileiro, não possuindo caráter vinculante imediato.

A entrada em vigor de um preceito de natureza programática vincula a atuação do Estado no sentido de buscar o seu alcance. Tanto é assim que pode ser questionada a inconstitucionalidade de uma ação estatal em sentido contrário. Assim, está errado afirmar que não teriam as normas programáticas caráter vinculante.

Item errado.

30) (ESAF/APO/MPOG/2005) Uma norma constitucional que possua em seu texto a expressão “na forma da lei”, até a promulgação e publicação dessa lei, é classificada por José Afonso da quanto

à sua aplicabilidade, como norma constitucional de eficácia contida. Não há que se estabelecer uma relação entre a expressão “na forma da lei” e a classificação da norma. De qualquer forma, normalmente, essa expressão indica uma norma constitucional de eficácia limitada (e não contida, como afirmado no enunciado). Entretanto, não se trata de regra absoluta! Diversas normas constitucionais de eficácia limitada não vêm acompanhadas de nenhuma dessas expressões.

Item errado.

31) (ESAF/AFRF/2000) As normas programáticas são, na sua maioria, normas auto-aplicáveis.

Sendo espécie de normas de eficácia limitada, as normas programáticas não são auto-aplicáveis.

Item errado.

32) (ESAF/AFRF/2000) Normas constitucionais não auto-aplicáveis somente se tornam normas jurídicas depois de reguladas por lei, uma vez que, antes disso, não são capazes de produzir efeito jurídico.

As normas constitucionais não auto-aplicáveis (as normas de eficácia limitada) não produzem os seus plenos/essenciais efeitos com a sua promulgação. Porém, não se pode afirmar que sejam elas totalmente desprovidas de eficácia jurídica, pois, como já vimos exaustivamente nesta aula, com a simples promulgação da Constituição, já produzem, pelo menos, os seguintes efeitos:

a) revogam as disposições pretéritas em sentido contrário;

b) impedem a produção legislativa posterior contrária aos seus comandos.

(27)

33) (ESAF/AFRF/TRIBUTÁRIA E ADUANEIRA/2005) O art. 5º, inciso XXII, da Constituição Federal de 1988, que estabelece “Art. 5º [...] inciso XXII – é garantido o direito de propriedade”, é uma norma constitucional de eficácia contida ou restringível.

O classifica o direito de propriedade (art. 5º, XXII) como típica norma de eficácia contida.

Segundo o prof. José Afonso da o direito de propriedade é norma

de eficácia contida porque, embora a Constituição Federal assegure sua imediata eficácia (art. 5º, XXII), o mesmo texto constitucional já autoriza a imposição de restrição ao seu gozo, mediante desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social (art. 5º, XXIV) e também mediante requisição administrativa, em caso de iminente perigo público (art. 5º, XXV).

Item certo.

34) (ESAF/ADVOGADO/IRB/2006) Uma norma constitucional classificada quanto à sua aplicabilidade como uma norma constitucional de eficácia contida não possui como característica a aplicabilidade imediata.

Como vimos, uma norma constitucional de eficácia contida tem como característica a aplicabilidade direta e imediata, podendo o exercício do direito nela previsto ser restringido posteriormente por lei, por outras normas constitucionais ou por conceitos ético-jurídicos amplamente aceitos.

Item errado.

35) (ESAF/PROCURADOR Da FAZENDA NACIONAL/2006) Uma norma constitucional programática pode servir de paradigma para o exercício do controle abstrato de constitucionalidade.

Vimos que, com a mera promulgação da Constituição, a norma programática poderá ser parâmetro para o controle de constitucionalidade das leis (abstrato ou concreto), haja vista que nem a legislação pretérita, nem a legislação futura poderão contrariar os seus comandos programáticos.

Assim, a legislação pretérita conflitante com a norma programática será por esta revogada, e a legislação futura que a contrariar poderá ser declarada inconstitucional.

Item certo.

36) (ESAF/PROCURADOR DA FAZENDA/PGFN/2007) No caso das normas constitucionais de eficácia contida, a atividade integradora do legislador infraconstitucional é vinculada e não discricionária, ante a necessidade, para fins de auto-execução, de delimitar o ambiente da sua atuação restritiva.

(28)

A assertiva está incorreta, pois dá a entender que, para fins de auto-execução das normas de eficácia contida, seria necessária atuação do legislador infraconstitucional.

As normas constitucionais de eficácia contida são plenamente exercitáveis independentemente de regulamentação. Diante disso, também não há que se falar em vinculação dessa atividade legislativa. Item errado.

3 – Interpretação da Constituição

A partir de agora, tratarei da interpretação constitucional. Você precisa conhecer os métodos de interpretação e principalmente os princípios de interpretação, sendo mais comuns de serem cobrados estes últimos. Nesse assunto, você vai ter que aprender os conceitos de forma de geral e guardar determinadas expressões para identificar de qual princípio/método a questão está falando.

3.1 – Princípios de Interpretação

Vejamos um a um os principais aspectos relacionados a cada princípio. Princípio da Unidade da Constituição

O texto da Constituição deve ser interpretado de forma a evitar contradições (antinomias) entre suas normas. Isso porque a Constituição deve ser considerada na sua globalidade, exigindo-se do intérprete a busca da interpretação que harmonize suas aparentes contradições.

Como decorrência desse princípio, temos que não existem antinomias normativas verdadeiras entre os dispositivos constitucionais. Cabe ao intérprete o exercício de eliminar as eventuais contradições (antinomias) aparentes.

Princípio do Efeito Integrador

De acordo com o princípio do efeito integrador, na resolução dos problemas jurídico-constitucionais, deve-se dar primazia aos critérios ou pontos de vista que favoreçam a integração política e social e o reforço da unidade política.

Princípio da Máxima Efetividade

Segundo o princípio da máxima efetividade (ou princípio da eficiência, ou princípio da interpretação efetiva), o intérprete deve extrair da norma constitucional o sentido que lhe dê maior eficácia, a mais ampla efetividade social.

(29)

Também chamado de princípio da conformidade funcional, o princípio da justeza preconiza que os intérpretes não poderão chegar a um resultado que subverta ou perturbe o esquema organizatório-funcional estabelecido pelo legislador constituinte, notadamente no que tange à alteração da repartição de funções constitucionalmente estabelecida. Princípio da Harmonização

Conhecido também como princípio da concordância prática, exige a coordenação e combinação dos bens jurídicos quando houver conflito ou concorrência entre eles, a fim de se evitar o sacrifício (total) de uns em relação aos outros. Ou seja, decorre da inexistência de hierarquia entre os princípios, ocasionando uma coexistência harmônica entre eles.

Princípio da Força Normativa da Constituição

Desenvolvido por Konrad Hesse, esse princípio preconiza que o intérprete dê sempre prevalência aos pontos de vista que contribuem para uma eficácia ótima da Constituição (haja vista seu caráter normativo). Assim, devem ser valorizadas as soluções que possibilitem a atualização normativa, a eficácia e a permanência da Lei Maior.

Interpretação conforme a Constituição

Esse princípio é o mais relevante de todos, portanto, não deixe de conhecê-lo.

O princípio da interpretação conforme é especialmente aplicável no âmbito do controle de constitucionalidade, em casos de normas infraconstitucionais de múltiplos significados (plurisignificativas). Assim, havendo vários significados para aquela norma, cabe ao intérprete dar prevalência àquele sentido que esteja conforme a Constituição. Assim, ao invés de declarar a norma inconstitucional, o intérprete deve dar aplicação ao seu sentido compatível com a Constituição e afastar a aplicação daquele sentido que seja desconforme.

Podemos dizer que dessa forma prevalece a supremacia da Constituição (na medida em que repele a aplicação inconstitucional) e o princípio de presunção de constitucionalidade das leis (que inclui o esforço de conservação da norma, já que deixa de declará-la inconstitucional como um todo).

Evidentemente, nesse esforço não pode o aplicador da lei chegar a uma interpretação que subverta o próprio sentido e teor da lei (ou seja, a fim de adequá-la à Constituição, não pode o intérprete seguir interpretação dissonante com a vontade do legislador). Isso porque essa forma de interpretação, na prática, transformaria o intérprete em legislador positivo.

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