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TERRITÓRIO E FRONTEIRA: COLONIZAÇÃO E RELIGIOSIDADE NO OESTE DO PARANÁ ( ) Eixo temático: TERRITÓRIOS E TERRITORIALIDADES FRONTEIRIÇAS

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Academic year: 2021

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TERRITÓRIO E FRONTEIRA: COLONIZAÇÃO E RELIGIOSIDADE NO OESTE DO PARANÁ (1940-1960)

Ademir Luis Kinzler1 Tarcísio Vanderlinde2

Eixo temático: TERRITÓRIOS E TERRITORIALIDADES FRONTEIRIÇAS

RESUMO: Território e fronteira podem ser considerados conceitos-chave ao se discutir a

“colonização” contemporânea no Oeste do Paraná. Novas abordagens e ressignificações destes conceitos são motivadas pelas demandas específicas de estudos com enfoque geográfico. Durante o governo do Presidente Getúlio Vargas surgiu uma grande preocupação com a ocupação das áreas de fronteira do Brasil. No caso do Oeste do Paraná verificava-se uma grande presença de população estrangeira, formada, principalmente, por paraguaios e argentinos. A política de ocupação da fronteira do governo de Getúlio Vargas ficou conhecida como “A Marcha para o Oeste”, e tinha como motivação um viés nacionalista. Em determinadas áreas de “colonização”, como o espaço territorial da Fazenda Britânia, ocorreu uma oportuna parceria entre os interesses da empresa colonizadora – no caso a MARIPÁ (Madeireira Colonizadora Rio Paraná S.A) – e a Igreja Católica. O atual município de Quatro Pontes, no Oeste do Paraná, guarda em sua história as marcas dessa associação e constitui-se no objeto de estudo do presente trabalho. A territorialização motivada por interesses econômicos, políticos e religiosos imprime características peculiares na formulação de uma territorialidade, como se percebe no tempo presente no município de Quatro Pontes. O texto, resultado de estudos preliminares da pesquisa, tenta problematizar a questão.

PALAVRAS-CHAVE: Território; Fronteira; Nacionalismo; Colonização, Religiosidade.

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo busca analisar o processo de ocupação territorial contemporânea ocorrido no Oeste do Paraná na segunda metade do século XX. É no governo do então

1

Mestrando em Geografia: Espaço de Fronteira– Território e Ambiente, pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste - PR, e-mail: ademirlk@gmail.com

2 Orientador e professor do Programa de Mestrado em Geografia: Espaço de Fronteira – Território e Ambiente –

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presidente Getúlio Vargas que a ocupação da fronteira Oeste se transforma numa política de Estado, conhecida como “A Marcha para o Oeste”. Anteriormente, a passagem da Coluna Prestes pela região havia dado visibilidade à situação de abandono que ali se verificava. Um dos espaços geográficos a serem “colonizados” no Oeste do Paraná era anteriormente conhecido como Fazenda Britânia. Nos anos de 1940, a Empresa Colonizadora Maripá, no contexto da política de estado estabelecida por Getúlio Vargas, adquire a área, transformando-a em um projeto de coloniztransformando-ação. No empreendimento gerencitransformando-ado peltransformando-a Mtransformando-aripá, observou-se uma inusitada parceria da empresa com a Igreja Católica. Um dos locais em que ocorreu esta associação foi no espaço territorial conhecido na atualidade como o Município de Quatro Pontes, que será objeto desta pesquisa.

2 OBJETIVO

O projeto de pesquisa apresentado tem por finalidade realizar uma discussão sobre o processo de ocupação e colonização territorial de uma área de fronteira, na qual está inserida a Região Oeste do Paraná. A ocupação territorial está vinculada a uma política de Estado que objetivava nacionalizar as fronteiras e que, em alguns casos, contou com a participação ativa da Igreja Católica. A Igreja parece ter tido o objetivo de proporcionar um estreitamento das relações entre a empresa colonizadora Maripá e os colonos que estavam ocupando a região.

3 METODOLOGIA

Para a execução deste trabalho pretende-se realizar levantamentos em diversas bibliografias, as quais possibilitarão uma maior compreensão sobre o tema em questão. A coleta de materiais, tais como fotografias, entrevistas, folders de propaganda e documentos da época constituem documentação importante para, juntamente com a bibliografia específica, realizar a pesquisa.

4 PROBLEMATIZAÇÃO

O espaço geográfico que corresponde à Região Oeste do Paraná incorpora uma territorialidade de fronteira. Mais do que a delimitação de uma fronteira territorial em que se localiza, o termo “fronteira” é empregado a partir das relações construídas entre os grupos étnicos que marcaram presença no processo de colonização da região.

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Um dos autores que aborda o conceito de território é Claude Raffestin (1993). Merece destaque em sua obra o caráter político do território, bem como a sua compreensão sobre o conceito de espaço geográfico, pois o entende como substrato, um palco, preexistente ao território. Nas palavras do autor,

é essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, e é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (...) o ator “territorializa” o espaço. (RAFFESTIN, 1993, p. 143)

Dentro da concepção discutida pelo autor, o território é tratado, principalmente, com uma ênfase político-administrativa, isto é, como o território nacional, espaço físico onde se localiza uma nação; um espaço onde se delimita uma ordem jurídica e política; um espaço medido e marcado pela projeção do trabalho humano com suas linhas, limites e fronteiras. Segundo o mesmo autor, ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente, o ator territorializa o espaço. Neste sentido, entende o território como sendo:

um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. (...) o território se apóia no espaço, mas não é o espaço. É uma produção a partir do espaço. Ora, a produção, por causa de todas as relações que envolve, se inscreve num campo de poder. (RAFFESTIN, 1993, p. 144)

Na análise de Raffestin (1993), a construção do território revela relações marcadas pelo poder. Assim, faz-se necessário enfatizar uma categoria essencial para a compreensão do território, que é o poder exercido por pessoas ou grupos sem o qual ele não se define. Poder pode ser considerado um elemento essencial para a consolidação de um território. Assim, o poder é relacional, pois está intrínseco em todas as relações sociais.

Rogério Haesbaert analisa o território com diferentes enfoques, elaborando uma classificação em que se verificam três vertentes básicas: a) jurídico-política, segundo a qual “o território é visto como um espaço delimitado e controlado sobre o qual se exerce um

determinado poder, especialmente o de caráter estatal”; b) cultural(ista), que “prioriza dimensões simbólicas e mais subjetivas, o território visto fundamentalmente como produto da apropriação feita através do imaginário e/ou identidade social sobre o espaço”; e, c)

econômica, “que destaca a desterritorialização em sua perspectiva material, como produto

espacial do embate entre classes sociais e da relação capital-trabalho”. (HAESBAERT apud

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multiterritorialidade reunida em três elementos: os territórios-zona, os territórios-rede e os aglomerados de exclusão. No entanto, é importante destacar que:

esses três elementos não são mutuamente excludentes, mas integrados num mesmo conjunto de relações sócio-espaciais, ou seja, compõem efetivamente uma territorialidade ou uma espacialidade complexa, somente apreendida através da justaposição dessas três noções ou da construção de conceitos “híbridos” como o território-rede. (HAESBAERT, 2002, p. 38)

Caio Prado Júnior (1987), em sua obra História Econômica do Brasil, utiliza-se da vertente econômica para explicar as transformações ocorridas no espaço brasileiro. O território é sempre visto como porção territorial e como palco dos acontecimentos econômicos e das transformações vivenciadas pela sociedade. Na obra mencionada, os ciclos econômicos e as transformações do território em razão da economia são as formas predominantes, na abordagem do autor.

Milton Santos (2002) é outro autor que faz importantes contribuições para a construção do conceito de território. Santos questiona a validade de se estudar o território, pois, antes de tudo, ele provoca o leitor, movendo-o para a compreensão da importância da categoria “território”, uma vez que, para o autor, é na base territorial que tudo acontece em termos de configurações e reconfigurações de base territorial.

A formação do território é algo externo ao território. Segundo Santos (1985), a periodização da história é que define como será organizado o território, ou seja, o que será o território e como serão as suas configurações econômicas, políticas e sociais. O autor evidencia o espaço como variável a partir de seus elementos quantitativos e qualitativos, partindo de uma análise histórica:

o que nos interessa é o fato de que cada momento histórico, cada elemento muda seu papel e a sua posição no sistema temporal e no sistema espacial e, a cada momento, o valor de cada qual deve ser tomado da sua relação com os demais elementos e com o todo. (SANTOS, 1985, p. 9)

Neste contexto, é possível perceber a fronteira não apenas enquanto delimitação de territórios nacionais, mas numa dimensão de diferenciações internas do espaço analisado. Neste contexto são percebidos aspectos étnico-culturais no período de colonização de uma região que estava à mercê de estrangeiros, em maioria considerados paraguaios e argentinos, que exploravam riquezas naturais como a erva mate e a madeira de lei sem qualquer tipo de fiscalização por parte do Estado brasileiro. Esta era a situação predominante no Oeste do Paraná.

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Em vista das revelações feitas após a passagem da Coluna Prestes pela região, em 1924, e devido ao total descaso em relação ao povo da região e a presença de capital e mão-de-obra estrangeira, o governo federal, através da “Lei de 2/3” – lei da nacionalização de fronteiras –, exigiu que as companhias instaladas em regiões fronteiriças adotassem o mínimo de dois terços do quadro de seus funcionários de nacionalidade brasileira.

No ano de 1932, sentiu-se a necessidade de reforçar o abrasileiramento da área de fronteira do Oeste do Paraná. Getúlio Vargas, através do decreto 19.842, proíbe a permanência de estrangeiros em regiões de fronteira como forma de reforçar a segurança nacional. A população estrangeira que estava ocupando essa região obrigatoriamente deveria nacionalizar-se ou sair dela. As revelações do completo abandono da região oeste paranaense, após a passagem da Coluna Prestes, mostraram ao Governo Federal a realidade da mesma. Isso despertou o interesse pela colonização das terras e provocou discursos e movimentos organizados, defendendo a necessidade de nacionalizar áreas de fronteira e reforçando a brasilidade e a necessidade de integrar vazios demográficos no contexto nacional. Assim, após 1930, Getúlio Vargas adotou um discurso carregado de emoções e imagens para difundir essa mentalidade.

A “Marcha para Oeste” é exemplo da fabricação de imagens pelo Governo Federal, é a imagem da nação em movimento em busca de uma unificação política, econômica e um sentimento comum de ser brasileiro. Segundo Valdir Gregory,

O argumento de ocupar vazios demográficos está vinculado ao objetivo de abrir “caminho” para ser ocupado pelo contingente populacional excedente de antigos núcleos coloniais, ocupando regiões com população nacional neutralizando a presença de estrangeiros resultando no abrasileiramento de fronteiras geo-políticas. (GREGORY, 2002, p. 75).

Para realizar a ocupação de parte deste “vazio demográfico”, o Governo Brasileiro delega a responsabilidade à empresa INDUSTRIAL MADEIREIRA COLONIZADORA RIO PARANA S/A – MARIPÁ, que tinha seu escritório na cidade de Toledo. Esta havia adquirido, em 1946, os direitos sobre as terras da companhia inglesa MADERA DEL ALTO PARANÁ, com o objetivo de derrubar a mata, assentar colonos, comercializar a madeira extraída, constituir colônias, além de estabelecer núcleos urbanos. Isto veio a concretizar-se nas áreas que hoje constituem o município de Marechal Candido Rondon e os novos municípios que dele se desmembraram, como é o caso de Quatro Pontes.

Ainda segundo Valdir Gregory, o Plano de Ação da MARIPÁ era composto por uma série de regras previamente estudadas e combinadas entre os dirigentes da empresa, dentre as quais podem ser destacadas as seguintes: a) prévia escolha dos elementos humanos para

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povoar a Fazenda Britânia; b) divisão das terras em glebas de mais ou menos 25 hectares, tendo como finalidade proporcionar a todo agricultor que viesse à Fazenda Britânia a possibilidade de tornar-se proprietário da terra onde fosse cultivar; c) industrialização da região; d) auxilio aos agricultores na venda de seus produtos. Neste contexto, a empresa colonizadora preocupou-se em escolher os elementos humanos para participarem do processo de ocupação e colonização da região.

Para a concretização dessas estratégias, a MARIPÁ contou com a parceria da Igreja Católica, que objetivava o estreitamento das relações entre a empresa e os colonos que ocuparam a região, sendo marcada por um vasto número de ações pastorais que contribuíram ao longo de todo o período.

Nessa perspectiva, a construção do discurso católico entrava em convergência com os interesses empresariais da MARIPÁ. A relação entre Igreja e colonos se construía numa dupla dimensão, onde o conteúdo transmitido pela Igreja sofria um processo de adaptação e reelaboração para que a recepção pudesse ser efetivada. Parece ser evidente que a recepção discursiva passou por um processo interno de reelaboração por parte de quem recebia o discurso. Essa dimensão pode ser demonstrada historicamente por meio das várias iniciativas pastorais desenvolvidas no interior das diversas comunidades paroquiais e que a investigação pretende mostrar mais detalhadamente.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de colonização de parte da Região Oeste do Paraná é fruto de um planejamento organizado e realizado pela Empresa Colonizadora Maripá. Esta empresa objetivava explorar os recursos naturais existentes e, para tanto, contou com a participação da Igreja Católica, que esteve presente nos discursos e nas pregações sobre a qualidade das terras, sua fertilidade e sua abundância. Estas marcas em termos de ações e discursos ainda são perceptíveis no atual município de Quatro Pontes.

REFERÊNCIAS

GREGORY, Valdir. Os Eurobrasileiros e o Espaço Colonial: migrações no oeste do Paraná. Cascavel, Edunioeste, 2002.

HAESBAERT, R. Des-territorialização e Identidade: a rede “gaúcha” no nordeste. Niterói: EdUFF, 1997.

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PRADO JUNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 26ª Ed. Editora Brasiliense, 1987 RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do Poder. Tradução de Maria Cecília França. São Paulo: Ática, 1993.

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