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9l-B
3306
NOTAS DE ARQUEOLOGIA
L0UR05R
DF)
5ERRF1
DF)
E5TRELR
VERGILIO
CORREIA
'$<2
E
>\'ÜANEIRO
1912TYP. DE ANTONIOMARIA ANTUNES
Calí-adadaGloria,6ato
Antiguidades de
Lourosa—
Um
cemiterio de sepulturasantro-pomorfas
—
Uma
tampa
sepulcral arciforme—
Uma
aravotiva—
0 pelourinho—Edifícios dos séculos XVI e XVII.Estudava ainda
cm
Coimbra
quando
fui convidado porum
amigo
(*) a visitaro seu concelho, Oliveirado
Hospital onde, di-zia, se conservavam interessantes cousas de arte e arqueologia,como
a capela dos Ferreiros, a Bobadela e a igreja deLouroza
anterior ao ano mil.
Admirei-me. Conhecia as mais antigas igrejas
de
Portugal,se não de as visitar, ao
menos
das referencias dos entendidosc espantava-me que
uma
de tal antiguidadetivesse escapado ao estudo dos arqueologos e eruditos portuguezes.Sabia de Balsemão, que
uma
referencia de FilipeSimões
nos «Escriptos Diversos» (-)
me
fizeravisitareque
uma
serie dcartigos do sr. Joaquim deVasconcelos,na Arte(3
)
do
Portotor-nara mais conhecida. Considerava-a o mais antigo santuario de
Portugal: só depois apareciam as pequenas igrejas romanicas
do
Minho
como
Vilarinho, S. Cristovamdo
Rio Máu,Travan-ca e tantas outras, todas
porem
já puramente romanicas epos-(')
O
sr. Antero daVeiga, que também amavelmenteme
acompanhounavisita a Louroza,e aquem deixo expressotodo o meu reconhecimento.
O
presente trabalho foi publicado em artigos na «Folha de Oliveira» jornalde que aquele meu amigoé director.Quando este estudo já estava empublicação fuiinformado de que a «Arte» do Porto trazia unsartigos sobre o mesmo assumpto. Nãome pre-ocupei com isso econtinuei o meu trabalhocomo o tinha delineado,
imper-feito, decerto, mas independente. E' o que apresento agoraá benevolencia
dos leitores.
(
2
) Escriptos Diversos—Filipe Simões, pag. 156 e seg.
(
3
teriores ao milcnio. Ir-se-ia preencher
uma
lacuna na historiad i arquitetura portugueza?
Num
dos derradeiros dias de agosto deste ano parti deOli-veira
do
Hospital para Louroza.O
caminho é delicioso.Estra-da da Beira abaixo, levando a
accmpanhar
á esquerda,como
gigantesca
amiga
a serra do Colcorinhodum
azul muito negroem
que as capelas brancas da Senhora das Preces mal sedis-tinguiam, depressa alcancei as
Vendas
de Galizes.Deixando
então essa que é a mais linda estrada dePortu-gal, meti para a esquerda, e, tendo avistado primeiro na
des-cida o vasto convento de Vila Pouca, cheguei rapidamente á
igreja, pouco afastada da estrada.
Louroza é
uma
terra antiga:quando
outra cousa nãohou-vesse para o demonstrar, a igreja bastava.
Mas
alem d’estaso-bejam por lá as provas documentaes.
Em
volta da igreja,em
frente edo
lado direito, abrem-se no schisto amarelado da regiãoumas
tantas sepulturascom
aforma
do
corpo, perfeitas ainda algumas, destruídasem
gran-de parte as restantes.
As
melhor conservadas fazem parte deum
grupo de 8, quedesde debaixo da actual torre se prolonga uns tres metrospelo
adro fóra á esquerda da porta principal, apresentando-se 4 ou
5 quasi completamente boas. Ila-as de adulto e de creança,
to-das simples e de arestas vivas, exceptuada
uma
que possuees-cavado
em
toda a voltaum
pequeno resalto, decerto destinadoa deixar assentar melhor a tampa, fosse de pedra ou de
ma-deira.
Todas
teem no alto acavidadecircular destinada ácabe-ça, seguindo-se depois o resto da sepultura
com
o feitio detra-pézio alongado, cuja base fosse o lado onde se cava a
cabecei-ra.
Os
lados dos trapézios onde se encontravam os pés dosde-funtos são levemente arredondados
em
algumas das sepulturase a orientação de tudo é nitidamente Este
—
Oeste, ou seja acabeça para o Oriente e os pés para o Ocidente.
Noto
que sãodemasiado estreitas, comparadas
com
as que conheço de váriospontos
do
nosso paiz onde são vulgares.Empregadas
desde otempo
dos romanos, continuaram a usar-se pelo dominio visigo-tico fóra, talvez até muito tarde.— Enterradas nos claustros da Sé deCoimbra
as vi eu semelhantes,do
século quatorze,cava-das
cm
blocos isolados de cantaria.Como
estas, aparecem mais no concelho de Oliveira,ten-do-me
sido apontadas algumasem
Salgodins perto de S. Paioe dadas informações de que muitas mais havia que o
tem-po
e os homens, mais oshomens
que o tempo, se tinham7
Para o lado direito da igreja prolongava-se o cemiterio, e,.
embora
muito deteriorados, reconhecem-se claramente cinco lei-tos sepulcraes.Como
todos parecem sahir de sob as paredesda
igreja é natural a pré-existencia
do
cemiterio, sendo o temploedificado sobre ele muito posteriormente.
Factos semelhantes não rareiam na arqueologia e, por
exem-plo,cm
Viannado
Alemtejo o vasto santuario da Senhorad’Aires assenta sobre
uma
necrópo'e da epoca romana. (*)Deste lado direito da igreja de Louroza ha
uma
portaum
pouco alta, cujo acesso é facilitado poruma
escada de poucosdegraus. Servindo de pavimento no patamar desta, encontra-se
um
monumento
funerário gentílico,uma
tampa
sepulcral, cujofeitio semi-cilindricoou abaulado,a faz denominar arciforme. (á )
A
sua posiçãoporém
está invertida, encontrando-se a base,mas-siça, a descoberto e o doiso metido na parede da escada.
—
O
seu feitio é,perdoe-se
me
acomparação,perfeitamente o deuma
tampa
de maquina de costura.Nas
partes quetem
visíveis,um
dos topos e a base, não
tem
inscrição alguma, sendoporem
provável ou pelo
menos
possível que a tenha no outro topo ousobre o dorso.
Estes monumentos, usados pelos luso-romanos não se sabe
até quando, encontram-se frequentemente no /Wgarve, Alemtejo
e Extremadura,
mas
nãohavia ainda aparecidonenhum
para onorte desta ultima região. Colocavam-se sobre os tumulos e
quando
nãoeram
anepigrafos diziam osnomes
filiação e edadedo
morto, acrescentandoem
geral osnomes
dos parentes quemandavam
construir omonumento
euma
saudação amavel,como
o clássico sil tibi terra levis.Um
outr<tachado interessanteque fiz, foi o deuma
ara voti-va.No
lado esquerdo da igreja, existeum
terreno que separa a residência paroquial da capela-mór: esse terreno é isoladoduma
horta que se estende a N. E. porum
grossomuro
de alvenaria onde se abre
uma
porta que estabelece acomuni-cação entre os dois terrenos.
A
porta está ligada á ombreira esquerda por uns duplos gonzos, afastadosum
metro.No
sitio
onde
secravam
na pedra as ferragens inferioresencon-tra-se deitada
uma
pedracom
as esquinas cortadas, cujo feitio é o carateristico das aras votivas.Precisamente, o espigão
do
cachimbo foi pregado sobre ainscrição inutilizando algumas letras. Apezar disso lê-se ainda
(l)
O
Arqueologo Portuguez.—
Vol. IX,pag. 282 eseg.daramcnte
em
duas linhas, por cimaO
N
e inferiormenteV.
.I: as letras, que
vem
logo sob a cornija, parecem eguaes ásempregadas
no século II.As
araseram
também
monumentos
funerários, que osdevo
tos ofereciam e consagravam aos manes, pelos mortos queridos.
Esta nossa, é de granito,
dum
tipo vulgar, formada porum
paralelepipedo alongado, de secção quadrada, que nos doisextremos alarga
em
resalto, formando duas saliências, aba-se e a cornija, desbastadas posteriormente para a pedra ser
adaptada ao uso quetem.
Na
parte superior conserva ainda acavidade sacrificial tão vulgar nas suas semelhantes.
Espalhados pela povoação, utilisados nos alpendres, nas
lo-jas e nas paredes encontrei vários capiteis antigos e alguns
fus-tes de coluna de variados diâmetros.
Para detraz da capela-mór da igreja,
num
pequeno largo,er-gue-se sobre alguns degraus
um
belo e forte pelourinhoque
me
parece, pelo apontamento que dele tenho,do
ultimogotico.
Nas
casas nota-se que muitas portas e janelastem
osân-gulos da cantaria cortados, apresentando
uma
agradaveldistra-ção aos olhos, cançados das arestas modernas.
Algumas
portasaté, teem nas ombreiras faceadas, ao fundo, uns resaltosinhos foliados, ultimo vestígio das bases de coluna dos arcos que envolviam os portaes dos edificios
do
séculoXV.
Plste costume de cortar as esquinas
como
ornato,encontra-se já frequentemente no gotico, aparece muito no manuelino,
toma
fóros de cidade durante a renascença e o seu usoprolon-ga-se na Beira por todo o século
XVI
e primeiro quarteldo
XVII, tendo eu encontrado ja na região portas assim ornadas,
com
as datas de 1627 e até de 1632. (')IIa
também
na freguezia alguns bons exemplares deedifi-cios do século XVII.
Voltemos
porém
á igreja que é o que mais nos interessa.í 1
) 1627 nacapelinha daS.ada Ribeira, sob a Povoadas Quartas, no
li-mitedo concelho de Oliveira do Hospital e 1632 no portal de uma casa da Bobadela.
Falta de grandes
monumentos
antigosem
Portugal—
Causas dessa falta—
Igrejasromanicas—
Um
templocom
1040
anos de existência
Portugal é
um
paiz falto de grandesmonumentos.
Aquelesque a devoção e o fausto dos reis e ricos
homens
levantaram dos séculos onze a quinze pelos vales tranquilos etransbordan-tes de agua, levaram-nos na maior parte os séculos seguintes
na
voragem
das guerras, dos terremotos, das vicissitudesdo
tempo, tranformados os estilos dos que escapavam a salvo, pe-las riquezas da índia e pelos ourosdo
Brazil.Bem em
contrario de paizescomo
a França a Inglaterra oua Italia, onde cada igreja de
comuna
éum
monumento
avisi-tar, a nossa primitiva arquitetura não se manifesta por
edifí-cios grandiosos senão de
onde
em
onde, excepcionalmente, deprovíncia
em
província.Se
porém
a sorte dos grandesmonumentos
os levou a des-truições totaes ou a reconstruções desastradas, omesmo
nãoaconteceu felizmente a muitas e muitas igrejitas humildes,
con-servadas intactas na sua pobreza ena dasuafreguezia,
providen-cialmente libertas de doadores, reformadores e brazileiros ricos.
São
inumeráveis ainda, desfiando se pelas serras e socalcosde Traz-os-Montes, pelas colinas suaves
do
Minho
ou pelasagrestes chapadas das Altas Beiras,
dando
á paisagem e aospovoados
com
a negrura dos seus arcaboiços de pedra,um
ardaquela rudeza simples que a terra toda devia ter nesses
tem-pos remotos
em
que cada cavào era aomesmo
tempo
um
soldado.O
estilo dess.-s specimens da primitiva arquitetura,faz compreender o seu século de florescimento e a vida dos
seus coevos: inquebrantavelmente solido, humilde na sua rude
e desafeiçoada fabrica, indissoluvelmente ligado á terra de
que
pouco parece querer afastar-se, o estilo dos
monumentos
é aimagem
perfeita da epocaem
que foram levantados.Não
pode
ninguém furtar-se aum
sentimento de respeitoem
frente do portal lavradodum
desses santuários construídosha oito séculos. Encontrar-se
porém
qualquer, anteuma
igrejaou capela anterior ao século decimo, ao fatal século
do
milê-nio, ante
um
edifício levantadonuma
idade cuja historia mal se distingue, tão talado está o seucampo
de cavalgadas de as-turianos, leonezese arabes, excede e apaga quantas impressõessimilares o espirito tenha recebido anteriormente.
E’ o que succede a
quem
entrar, sabendo onde entra, naigreja da pequena freguezia de Louroza do concelho de
Olivei-ra
do
Hospital, igreja cujo registo de nascimento foi gravadonuma
larga pedra colocada interiormente sobre a porta prin-cipal.Este registo, inscripto
em
belos carateresromanos
diz ape-nas:ERA
DCCCCX
: ou seja reduzindo á era vulgar, ano 872depois de Cristo. (*)
Faz portanto até 1912 a bonita
soma
de Io4o anos.Uma
unica terraem
Portugalpode
juntamentecom
Lou-roza orgulhar-sede possuir
um
monumento
de tão remotaanti-guidade,
como
adeante veremos.(')
Como
se sabe a diferença entreaera deCezare ade Cristoéde 380 interior da igreja
—
Os arcos de volta de ferradura—
Um
retábulo
com
a crucifixão—Uma
virgem gótica-Tole-rância religiosa dos arabes
—
Rapida cronologia daepoca
em
que foi levantada a igreja de LourozaTres portas estabelecem a comunicação entreo interior e o
exterior da igreja: a principal, emoldurada
num
arco banalde
ombreiras redondasdo
século XVII, a da direita de que jáfa-lei, onde se encontra a
tampa
sepulcral arciforme, euma
ter-ceira, á esquerda, que serve a sacristia e a capela-mór.
Quem
descer da residência paroquial ao terreiro,encontra-se
em
frente desta ultima porta, que á primeira vista nadaapre-senta de notável no seu simples caixilho rectangular.
Se, porém, olharmos
com
atenção, depressareparamos que,espalhados pela
massa
da parede e fóra dos seus logares, seencontram os silhares completos de
uma
primitiva entrada,cuja
armação
dc pedra tinha na parte superior a forma do arcode ferradura.
Entra-se e está se
numa
pequena sacristia, logo a seguir nacapela-mór e, descendo
um
pouco, encontramo-nos dentrodo
corpo principal da igreja,em
cujo solo levantaramum
es-trado de relativa altura para tornar
menos
sensivel a diferençade nivel entre a capela-mór e o resto
do
edificio.Então
agen-te queda-se a olhar a simplicidade da construcçào, cujos blocos
de granito a cal aldeã branqueou, e a remota idade
do
temploque
em
Portugal é o segundoem
antiguidade.O
corpo da igreja acha-se divididoem
tres naves deen-tre elas faz-se de
um
e outro lado nas paredes divisórias, portres arcos seguidos, de volta de ferradura, sendo o todo
extre-mamente
singelo esem
ornatos.A
serie dos arcos apoia-se nosdois extremos
em
impostas bastante salientes e nos intervalosem
abacos rectangulares que repousam sobre colunas deuma
especie de
ordem
toscana.Cs capiteis são
do
tipo vulgar dessa ordem, eguaes ásba-ses de coluna de S. Pedro de Halsemão, precisamente do tipo
dos muitos, romanos, que aparecem por todo o paiz e
especial-mente semelhantes aos de Idanha a Velha, cidade que,
como
ésabido, conservou importância até á conquista arabe.
Os
fustessão lisos e vão perder-se sob o taboado
do
estrado que cobre o pavimento, impedindo que se veja por inteiro a construção.Sobre o arco da capela-mór, ao centro, olhando o corpo
principal, ha
um
retabulosinho de pedra co.n a Crucifixão:assumpto e logar de colocação são frequentes
em
igrejas góti-cas do distrito de Coimbra. Deste genero existeum
muitobom
na igreja da Pampilhosa do Botão.Na
nave esquerda ha algumas particularidades: no topodelaaparece desemtaipado já,
um
arco de volta de ferraduraquees-tava metido na parede e establecia outrora
uma
segundapas-sagem
para a parte superiordo
templo. Esse arco éperfeita-mente
igual aos restantes.Ao
fundo damesma
navecomeça
uma
escada de pedra que conduz ao côro.Ali, sob
uma
janela geminada cujos arcostambém
são deferradura, encontra-se embutida na paredeao rez do soalho
uma
lage onde se acha gravada a já falada certidão de idade daigreja.
Lá
estábem
claro,ERA
dccccx:A
ultimaletra contudo,não está absolutamente perfeita: falta-lhe a aste superior di-reita
do
X. (*)Pode
ser que esta letra venha a ser lida pormodo
diferen-te daquele porque eu o fiz; apezar disso a sua alteração nunca
invalidará ou modificará as considerações que tenho leito e
fa-rei: basta fixar que a região
onde
fica Louroza esteve mais oumenos
em
poder dos cristãos uns IOo anos seguidos, até áperda de
Coimbra
em
987.Descendo, encontramos ainda, a seguir aos arcos lateraes
(<) Quando estetrabalhojáestava em provas,fui amavelmente informado por alguém que lèra os meusartigos, de quehavia quemtomasse a ultima
letra da inscriçãopor
um
L.E’ caso para a importantepedra sersubmetida ao examede
um
epigra13
quasi debaixo
do
côro, duas capelas modificadas no séculoXVII
juntamentecom
o portal da igreja.A
epoca exacta dasua reconstrução é talvez 1632 porque é esta a data que se en
contra no altar da Senhora da capela da direita.
Nesse
mesmo
altar aum
lado, hauma
interessante virgemgótica
do
tipo das que oMuseu do
Institutotem
do séculoXIV,
e egual ás duasdo
retábulo da capela dos Ferreirosem
Oliveira.
A
imagem
está coroada de corôa baixa, aberta,as-sentando no lenço que lhe cahe sobre os ombros, e
tem
ome-nino ao colo, delado, apiesentando elao corpotorcido,
cambré
,com
omovimento
de o segurar, atitude que é cheia de vidapara a rudeza da epoca.
Sobre a parede, onde se crava a ultima imposta da arcaria
esquerda no fundo da igreja, está gravada
uma
data que pelarapidez da
minha
visita e pelacamada
de cal que a cobre, nãopude
ler completamente.As
letras estãoem
duas linhas sobre-postas, separadas porum
traçoe lê-se por cimaCCXXVI.
ein-feriormente E. O.
Haverá
talvezquem
lendo esta despretenciosa noticia digade si para si, ou
mesmo
para outros, que tanta minuciosidadeé demasiada; responderei que
em
assumptos destaordem
omaispequeno ponto por desprezível que pareça,
tem
a suaim-portância no conjunto e que toda a sintese cientifica,
aces-sível, das coisas passadas, é producto de pequenas analises.
Continuando... Conhecida já a epoca da construcçào
do
monumento
de Louroza ocorre perguntar.No
tempo
em
quefoi levantado, não estava a Península
em
poder dos arabesafri-canos? Consentiriam eles ouc os cristãos erigissem templos da
sua religião?
Facilmente se responde a estas interrogações.
O
arabe era tolerantecomo
o fôra oromano
e fechava os olhos ante essascrenças diferentes que humilde e publicamente se praticavam,
porque
nenhum
perigo político lhe traziam. Construiam-se até igrejas e conventos.Numerosíssima foi a população monastica
mosarabc
porqueos
mahometanos
consentiram a sua continuação.Na
serra deCordova
viviamem
paz muitos frades eem
Portugal omostei-ro de
Lorvão
daordem
de S. Bento, fundado no século VII,conserva se e progredia.
A
razão da raridade dasconstru-ções religiosas vigisodas e asturianas deve-se não aos arabes,
mas
sim ao furor de reformar de que os portuguezessempre
sofreram
do
século XII aoXX.
Podia portanto a igreja ter sido fundada
em
pleno dominiobenevolen-cia dos infiéis: basta-nos o
exame
da cronologia da epoca,ape-zar dos
documentos
serem poucos e vagos, para ficarmoscon-vencidos de queo devoto ou devotos que a
mandaram
construir,viviam
em
território cristão.Cs
arabes entraram na Penínsulaem
711 ou 712 e depressaa tinham
em
seu poder, exceptuada a parte mais norte.Nos
finsdo
mesmo
século VIII jáAfonso
II, o Casto, fazuma
correriaaté ás margens doTejo. (*)Entre 866 e910 Afonso
III senhorea-se das regiões de
Lamego,
Vizeu e Coimbra.Coim-bra foi
tomada
em
878; di-lo claramente o CroniconLaurba-nense. <Era
DCCCCXVI
prendita est conimbria ad ermegildocomitê». ()
No
centro orográfico da Estrela o dominio arabe devia serdificílimo de sustentar não o aceitando os habitantes de
bom
grado.
Assim
Louroza,em
poder dos cristãos, levantava a suaigreja
em
872, seis anos antes datomada
de Coimbra, pelofa-cto de Vizeu, o coração da Beira, pertencer ao monarca leonez.
Compreende-se perfeitamente este facto; a guerra não se fazia
como
hojeem
que a perda deuma
praça forte faz perderuma
grande região ou atéum
paiz.Um
exemplo basta.Em
987,
Almansor
conquistavaCoimbra
e sóem
99o conseguiaapoderar-se de Montemór-O-Velho, distante apenas 5 léguas.
Costumados
como
estamos ásmodernas
divisõesprovin-ciaes, custa-nos a seguir a sinuosidade instável das fronteiras
desse
tempo
em
que grandesespaços deterreno se encontravamuns incultos, outros cobertos de florestas, sendo as povoações
tão raras e pobresque maravilha era encontrá-las que não
fos-se afastadas de léguas.
(*) Historia de Portugal
—
Herculano. I,*113.(
2
) Port. Mon. Hist., «Scriptores»,20, e
um
magnifico artigosobre cronologia medieval publicado pelo sr. Pedro deAzevedo no «Arqueologo» Vol. 13, pag. 67e seg.
0 arco de volta de ferradura paraalem do séculoX,
em
Espa-nhaePortugal—
Entre 03 visigodos— 0cemitério deMer-tola
—
Entre o* luso-romanos—
As
lapides dosMuseus
de Madrid e
Leon—
As
stelas doMuseu
Etnologico Por-tuguezEstudada a epoca da construçáodo
monumento
deLouroza
fixada a sua cronologia,
vamos
agora ocupar-nos da igreja porpartes, para melhor a integrarmos na historia da arquitetura.
Investigaremos primeiro a causa
do
emprego
dos arcos devolta de ferradura e a origem deste
modo
de construçãocm
Portugal, seguiremos
com
o estudo do plano aque
obedeceram
os arquitetos da obra e terminaremos este
pequeno
trabalhocom
acomparação
entre esta igreja c a sua irmã mais velhade S.
Pedro
de Balsemão.Adquirimos
para a ciência o seguinte facto: existe no nossopaiz
um
santuario do ano de 872em
que os arcos são de volta de ferradura.
Vamos
ver seconseguimos
explicar o uso deeste
modo
árquitetonico nessa epoca e as raaoes e factos his_toricos que
determinaram
o seu emprego.Nesseestudo não
podemos
limitar-nos aosdocumentos
quenos forneça o nosso actual território porque a
moderna
divi-são nacional de
nenhum
modo
corresponde ás divisõesmedie-vaes e antigas; temos de recolher na vizinha
Espanha
muitos elementos indispensáveis; desde a fundação da igreja, para traz,iremos
sempre
descendo e profundando nos séculos.Coevas
deLouroza
e identicamente construidas são as igre-jas asturianasque
os reconquistadôres da parte norte daPe-nínsula
iam
levantando onde quer que assentavam as suasten-das
com
demora.No
altodasmontanhas haviam
ficado independentes eindomá-veis os rudes habitantes das Asturias e agora precipitavamse
como
um
rioem
cheia sobre os seus inimigos,começando
um
embate
formidável que só sete séculos caidos, conseguiarom-per e levar para o
mar
as muralhasque
lheopunham.
Essa reconquista teve do século VIII ao
XI
o periodo maisperigoso e duro porque de
um
momento
para o outro osara-bes
podiam
reunir-se e subverter os incipientes reinos cristãos.Nesse espaço detrês séculos, o estilo seguido nas construções
foi o anterior estilo visigotico
um
tudo nada modificado.O
arcode ferradura adoptado nos ed:ficios da epoca, foi
uma
naturalconsequência da arquitetura cristã, cuja tradição os asturianos
representavam. B.ista citar para exemplo as igrejas de Lino,
Naranto
e Lera. (*)Mas
o estilo que os asturianos recolhiam dos visigodospertencia a estes originariamente ou fora já respectivamente
adoptado de construções
romanas ou
barbaras ?E’ o
que
espeeialmente nos interessa saber.Vamos
aos factos.Os
visigodosusaram
nas suas igrejas osarcos de ferradura, quer os achassem já na Península, queros
trouxessem do Oriente:
provam-no
os templos de S. Juan deBanos
(Palencia), S.Pedro
daNave
(Zamora) e SantaComba
de
Bande
(Orense). este ultimo perto da fronteira portuguezadc norte e logar escolhido por alguns indivíduos para quartel
general de conspiração, contra o paiz.
Façamos
agotauma
exposição de todos osdocumentos
deque
se póde inferir o uso dos arcos de volta de ferraduraem
Portugal na epoca visigotica e anteriormente.
Fornece-nos elementos preciosos
um
cemiterio cristão doséculo VI de Mertola (Myrtiiis),
em
que as lapides sepulcraesse
encontram
em
geral ornadascom
desenhos e inscrições; es-sastampas de sepulturas estãohoje noMuseu
EtnologicoPor
tuguez de
Belem,
onde tomei estas notas.Uma
delasm
deum
metro de comprido por o.qS de largo etem
no centro, gravado ao de leve. o desenho deum
portalcompleto
com
0,79 de altura cujo arco e de volta deferra-dura.
A
armação
do arco éformada
pela junção de dois,re-unidos e sobrepostos, assentando apenas o exterior sobre os
capiteis, prolongando-se o outro
em
curva,sem
apoio, peoin-Lampérez y Romêa. Hist. dela Arq.cristiana. etc.
O
exce’entelivro17
ícrior.
Os
capiteis sãoesguios, eos fustestorcidos descançandosobre bases rectangularessimples.
A
altura da coluna completaé de 0.47?.
No
vão do arco está gravado omonograma
deCristo, X. P. e entre as colunas segue o resto da inscrição.
Uma
outra lapide pequena (o,58o por 0,26;com
todo ola-do direito quebrado, apresentana parte intacta
um
arcocomo
o precedente.
Ainda
uma
tampa
sepulcral da altura da primeira,tem
es-culpido
um
arco altoque
tende para a volta de ferraduramas
ccm
os caracteres dosempregados
pela arquitetura arabe.Muitas outras pedras
do
cemiterio apresentam fragmentosde arcosecolunas
do
mesmo
estilo.Todas
elasteem
oenorme
valor dc nos
mostrarem que no
séculoVI
nas igrejas cristãs se adotava o arco de volta de ferradura.Os
operários esculpiam na pedra oque
tinham ante os olhos, não temos razões para duvidar disso.Sabemos
portanto que anteriormente ás citadas igrejas de Nave,Bãnos
e Bande, que sãodo
século VII, jáno
século
VI
havia edifícioscom
os arcos dafôrma
de que vimosfaiando.
Vejamos
ainda oque
ha para traz desse século.No
Museu
deMadrid
existeuma
lapide de séculoindeter-minado
da epocaromana
em
que se vêum
arco de ferraduraenvolvendo
um
swastica.No
Museu
deLeon
hatambém
duaslapides
do
século II ou III, que nos interessam.A
primeiratem
na parte inferioruma
arcada dc tres arcos de volta deferradura parecendo o desenho representar o corte transversal
de 1
ma
basilica de tres naves; a outra,também
ao fundo,adorna se
com
dua? portas paralelas, de arcos semelhantes aosanteriores, sendo
porém
o ornato cavado,tm
lo ar dedesen-hado, deliniando apenas o contorno delas.
Lom
esta ultimapedem
relacionarse4
stelas votivas que seencontram no
Museu
de Belem, provenientesde Traz-os-Mon:es daTerra
de Miranda. Estão colocadas no final dasec-ção lapidar da epoca lusitano-romana.
Teem
todas omesmo
tipo, variando de
dimensões
e substancias, sendopotem
duasdelas quasi cguaes.
Começo
por descrever essas dua«.São
de granitocom
um
metro
de altura e o,o35 de largoeestão lavradas de alto a baixo, apresentando
em
relevodo
topo para a base, primeiro
um
circulo que envolvenuma,
um
SWJSíica, noutra,
uma
roseta sexifolia, depoisem
ambas
doispequenos
rcctangulos(num
dos quaesera gravada a usualins-cripção) e finalmente
no
funde de tudo, duas portas eguaes asjá desetiptas do
Museu
de Leon.Apezar
do gasto da pedraconhece se
bem
a volta de ferradura dos arcos.alto por 0,28 de largo, está partida na base e é egual ás ante-riores tendo no circulo superior
um
swastica.A
de maiores dimensões difereum
pouco das outras; é decalcareo,
tem
1,138 por o,38, encabeça-aum
swasticatam-bém,
seguindo-se-lhe parabaixo o rectangulo,onde
haum
por-co
em
relevo e finalmente, tres portasdo
tipo já nosso conhe-cido, paralelas e eguaes.Quem
teria importado para a Península este feitio de arcosque
nós á falta de melhor designaçãochamamos
de volta deferradura?
Teria por acaso esta
forma
de arco aparecido na regiãodas Citanias, inventado
ou
conservado de remotostempos
pe-los povos acantonados para o Norte do
Douro?
E’um
proble-ma
a resolver.Todas
estas lapides, portuguezas e espanholasproveem
do
território deAlem
Douro.Do
século II aoXI
ficouportan-to estabelecida a continuação construcional,
sem
intervenção deestranhos.
Resta-nos agora falar
do
plano da igreja de Louroza ecom-pará-la
com
a de S.Pedro
de Balsemão ecom
as igrejas0 plano dos dois santuárioseo dos seus congeneres espanhoes
—
Os capiteis deBalsemão
e os de SantaComba
de Bande—
A
arte decorativa deBalsemão
e a suacor-respondência e origens
—
Os swaíticas e as rosetas se-xifolias na arquitetura primitiva—
Algunsdocumentos
sobre Louroza
Em
numeros
successivosda Arle, revista portuense, inseriuem
1908 o sr.Joaquim
de Vasconcellosum
interessanteestu-do
sobre o que elechama
o unico exemplarda
arquitecturala-tino-bizantina emPortugal.
A
nossa historia da artetem
agora para colocar ao ladodela a não
menos
notável igreja de Lcurozado
concelho deOliveira do Hospital, melhor conservada
comquanto
menos
in-teressante nos detalhes, do que a de Balsemão.
O
plano nas duas é idêntico,mas
otamanho
deLouroza
maior: ha
também
outras diferenças importantescomo
porexemplo
nas respectivas capelas-móres.Uma
completa a outra.Por
ambas
se póde fazer ideiado
estilo de construção usadona terra portugueza anteriormente ao românico.
A
disposiçãodo
côrpoda
igrejacm
ambos
os santuários,encontra-se
em
monumentos
espanhoes damesma
epoca,como
sejaem
San
Julian de Prados (Santullano)que
foifun-dada, parece
mc,
porAfonso
o Casto e cujo plano até aocru-zeiro é egual ao das nossas duas igrejas,
podendo
bem
consi-derar-se o tipo perfeito da bazilica latina de 3 naves e 3
absi-des, de planta quadrada
ou
rectangularcom
cobertura de20
e 3 arcos de leve ferradura
em
cada parede divisória, a qualfoi sagrada na era de
DCCCCLVIII
(920).Em
Balsemão
osarcosdescançam
directamente sobre os ca-piteis, para ali trazidos posteriormentee adaptados, pois que osprimitivos
deviam
corresponder ás bases que lá seveem.
Em
Louroza os arcos de volta de ferradura assentam
cm
abacoslargos que por seu turno se apoiam
em
capiteis e fustes cujosdiâmetros se
harmonizam
perfeitamente.Este facto esclarece o caso de Balsemão, já indicado pelo
sr. Vasconcelos.
Aos
arcos deste santuario foram tirados ossi-lhares
qne
faziam a curva inferior da volta de ferradura (*) eos capiteis que havia, substituídos pelos que lá estãohoje e que foram á certa trazidos de
alguma
estaçãoromana
dasvizinhan-ças, das ruinas
que
aparecem
para baixo da capela, deCo
velas,
uma
estaçãoromana
um
pouco mais longe, ou pelome
nos da varzea da
Queimada,
ondecomo
é conhecido, osvestígios
romanos
são abundantíssimos. (2)
Em
Balsemão, a comunicação entre o côrpo dosantuario ea capela
mór
faz-se porum
só arco, essecom
a volta defer-radura
bem
clara,mas
alteado por lhe terem metido de cadalado
um
novo
silhar, o que deuuma
fórma extravagante aoconjunto. Pelo lado de dentro conhece-se que não podia ter
havido outra
passagem
para o côrpo da egreja.De
facto correna parede á altura das impostas e partindo delas,
um
tríplicecordão gravado, cuja origem
vem
de tão longe, que já o encon-treinaslapides visigoticas de Mertola,numa
tampa
sepulcraldo
templo de Endovelico (3) e nas portadas das cividades minhotas
e galegas.
E
não é esta a unica aproximação que se póde fazer entrea arte decorativa de
Balsemão
e a arte protoistorica, visigodae
mesmo
lusitana.Os
sivasticas e as rosetas sexifoliasaparecem
nascividades,nas inscripções luso-romanas, na arquitetura visigoda, astu-riana e
mosarabe
e até na romanica.(‘)Compreendi claramentecomo a transformaçãose tinha dado, quando
olhei para
uma
vivenda mourisca situadaem
fremedo maravilhosopalacio que osr. Dr.Carvalho Monteiro tememCintra.—
Aspedrasque assentam so-bre oscapiteis estãoum
pouco desconjuntados Tiradas elas,a arcaria licaegual á de Balsemão
(-’/
O
mesmo facto se deu em SantaComba
de Bande. Oscapiteisda igreja foram levados para ládeumas termas romanas, vizinhas.(
3
21
Para
exemplo
das primeiras basta citar. Briteiros,Sabrôso
e
Monte Redondo;
para as segundas, as4
stelas votivas deque
já falei e muitas outras que o
Museu
Etnologico oossue.Para
a arquitetura visigoda serve S.Pedro
deNave
(Zamora)
em
que
a meia altura das paredes correuma
li ha degravu-ras na pedra
em
que se alternam os swasticas e as roseta-;para a asturiana, S. Cristina de
Lena
e a sua irmã SantaMaria de
Naranco
(Oviedo), para amosarabe
o Canecillo deSan
Miguel de la CogolladeSuso
íLogrôno), para a romanica, porexemplo
os arcos do portal de S.Pedro
de Galliganesem
Gerona
(rosetas),ou
os abacos(como
em
B.-dsemão) deSan
Pablo deiCampo
em
Barcelona. (*)Esta barbara ornamentação, (de
que
Balsemão
tem
tãode-liciosos specimens) alcança tanta brutalidade e tudeza no
tím-pano
do portico de S. Fiz deCangas
(Galiza), que é românico,que a gente quasi duvida «e a pedra não seria trazida para la
dalguma
rude citania dos arredores.Não
ha duvida que todosestes motivos ornamentaes, os de
Balsemão
e os espanhoes, sãocomo
dizLampérez,
ala turbia cristalizacion á través lossi-glos de formas tradicionales.»
Corro
atraz vimos, as swasticas e as rosetasacompannam
nas stelas, as portas
com
arcos de ferradura.Anda
tudo ligado.Ora
toda esta brilhante decoração faltaem
Lcuroza: osúnicos lavrados
que
láaparecem
são cs das duas já citadasins-cripções.
Os
construtores da igrejagostavam
da simplicidade. Sahi da igreja deLouroza
pela porta da direita cujasitua-ção é idêntica á de
uma
outra de Balsemão.Cá
tóra pensei na hora e meia que lá estivera dentro e queme
deixourecorda-ções para toda a vida.
E
para terminar: Louroza aparece frequentemente citadaem
documentos.
Nas
Inquirições deAfonso
IIIem
que
é in-quirida juntamentecom
Villa Pouca, naTavoada
dos ForaesNovos
daComarca
daBeira,em
que
se diz que apezar de ha-vermemória
de antigo particular foral a terra é do Bispo deCoimbra,
e, nasMemórias
Parochiaes de 1758 (2
) onde o
paro-dio para a distinguir da
Louroza
dacomarca
da Feira lhechama
Louroza
da Serra da Estrella titulo que adopto paraeste despretencioso trabalho.
Ha
bastantes anosque
esta(
1
) Elementos de uin trabalho em preparação. «A roseta sexifoliacomo
motivo ornamental popular»
(
2
) Mem-Paroch-V-2'-n
22
igreja de
Louroza
era conhecida e tidacomo
antiga porquejá
numa
corographia do districto deCoimbra
se diz: (')«E’ de fundação antiquíssima esta povoação e notável a sua
igreja
em
estilo gotico».O
auctor pelo visto, só lhe olhou paraa frontaria.
(') Corografia do Dist. de Coimbra.—Agostinho d'Andrade, 1S96, pag. 145.