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O Estatuto do Desarmamento e o Porte de Arma de Fogo no Brasil.

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Academic year: 2021

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FABIANO AUGUSTO DE SOUZA MOREIRA

O Estatuto do Desarmamento e o Porte de

Arma de Fogo no Brasil.

Monografia apresentada à Banca

examinadora da Universidade

Católica de Brasília como exigência parcial para obtenção do grau de bacharelado em Direito sob a

orientação do Professor Heli

Gonçalves Nunes.

Brasília 2006

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TERMO DE APROVAÇÃO

Monografia apresentada à Banca examinadora da Universidade Católica de Brasília como exigência parcial para obtenção do grau de bacharelado em Direito sob a orientação do Professor Heli Gonçalves Nunes.

Aprovado pelos membros da banca examinadora em ____/____/____, com menção_________ (_______________________________________________________).

Banca Examinadora:

______________________________ Presidente: Prof. Heli Gonçalves Nunes

______________________________

Integrante: Prof. Dr. Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy

______________________________ Integrante: Prof. MSc. Arnaldo Siqueira de Lima

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(4)

! "

(5)

“Eu não recearia muito as más leis se elas fossem aplicadas por bons juízes. Não há texto de lei que não deixe campo à interpretação. A lei é morta. O magistrado vivo. É uma grande vantagem que ele tem sobre ela”.

(6)

RESUMO

Monografia sobre o Estatuto do Desarmamento e o porte de arma de fogo no Brasil. O Estado está tentando dar um passo importante para conter o avanço da criminalidade. Através do estudo da Lei 10.826/03, mais conhecida como Estatuto do Desarmamento tentou-se sanar eventuais dúvidas referentes à nova Lei. Iniciou-se o Estudo com uma abordagem histórica sobre as armas de fogo. Analisou-Iniciou-se propriamente a Lei e foi demonstrado como ficou a concessão de porte de arma de fogo, como adquiri-las, os crimes, o funcionamento do Sistema Nacional de Armas – SINARM, Sistema de Gerenciamento Militar de Armas – SIGMA e algumas peculiaridades da nova Lei em relação a anterior, Lei 9437/97 como a competência para conceder porte de arma de fogo no Brasil. Analisou-se também o artigo 21 quanto a sua constitucionalidade e aplicação nos crimes previstos no estatuto e a competência para apurar, processar e julgar os crimes referentes à Lei 10.826/03, previstos nos artigos 12 ao 18, onde se analisou especificamente se o objeto jurídico da Lei anterior foi modificado ou não. O trabalho foi feito de modo a ser um meio explicativo e informativo sobre a nova lei das armas de fogo, pois desde sua promulgação muitas informações foram veiculadas de forma a induzir ao erro a população brasileira.

Palavras-Chaves: Desarmamento, porte, arma de fogo, armas, SINARM, SIGMA, crimes, constitucionalidade, artigo 21, concessão, competência, jurisdicional.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ____________________________________________________ 10 Armas ____________________________________________________________ 13

1.1 História das armas________________________________________________ 13

1.2 Armas de fogo ______________________________________________________ 14

1.3 Armas de fogo no Brasil ___________________________________________ 15

1.4 O Controle de armas de fogo no Brasil _________________________________ 16

1.4.1 Teoria geral dos crimes de porte de arma de fogo e figuras típicas análogas _________ 16 1.4.2 Natureza jurídica dos crimes de porte de arma de fogo e figuras similares típicas _____ 17

1.5 Classificação dos tipos penais na Lei 10.826 de 2003 ______________________ 20 1.6 Do Porte e da posse de arma de fogo ___________________________________ 20 Do Cadastro de Armas de Fogo _______________________________________ 21 2.1 Sistema Nacional de Armas - SINARM _________________________________ 21

2.1.2 Competências do SINARM _______________________________________________ 22

2.2 Sistema de Gerenciamento Militar de Armas - SIGMA____________________ 23 2.3 Requisitos para compra ______________________________________________ 24 2.4 Autorização para portar arma de fogo no Brasil _________________________ 24

2.4.1 Legislação própria ______________________________________________________ 25 2.4.2 Integrantes das Forças Armadas (artigo 6º, inciso I) ____________________________ 26 2.4.3 Órgãos referidos nos incisos do caput do artigo 144 da Constituição Federal (artigo 6º, inciso II)___________________________________________________________________________ 27

2.4.4 Integrantes das Guardas Municipais das Capitais dos Estados e dos Municípios, com mais de 500.000 habitantes nas condições estabelecidas no regulamento da Lei (artigo 6º, inciso III) _______ 28

2.4.5 Integrantes das Guardas Municipais das Capitais dos Municípios, com mais de 50.000 habitantes e menos de 500.000 habitantes, quando em serviço (artigo 6º, inciso IV) ________________ 29

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2.4.6 Os Agentes Operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e os Agentes do

Departamento de Segurança do Gabinete Institucional da Presidência da República (artigo 6º, inciso) __ 29 2.4.7 Os integrantes dos órgãos policiais referidos no artigo 51, IV, e no artigo 52, XIII, da Constituição Federal (artigo 6º, inciso VI)_________________________________________________ 30

2.2.8 Os Integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, os integrantes e das escoltas de presos e as guardas portuárias (artigo 6º, inciso VII)________________________________ 30

2.4.9 As empresas de segurança privada e de transporte de valores constituídas, nos termos do Estatuto do Desarmamento (artigo 6º, inciso VIII) __________________________________________ 31

2.4.10 Os integrantes das entidades de desporto, legalmente constituídas, cujas atividades esportivas demandem o uso de armas de fogo, na forma do regulamento do Estatuto do Desarmamento, observando-se, no que couber, a legislação ambiental (artigo 6º, inciso IX)_______________________ 31

2.4.11 Os Integrantes da Carreira de Auditoria da Receita Federal, Auditores-Fiscais e Técnicos da Receita Federal. (artigo 6º, inciso X) __________________________________________________ 32 2.4.12 – Demais Casos de porte de arma de Fogo. __________________________________ 33

Dos Crimes Referentes ao Porte e Posse de Arma de Fogo__________________ 34 3.1 Dos crimes e das penas_______________________________________________ 34

3.1.1 Posse irregular de arma de fogo de uso permitido ______________________________ 34 3.1.2 Omissão de cautela______________________________________________________ 35 3.1.3 Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido_________________________________ 36 3.1.4 Disparo de arma de fogo _________________________________________________ 37 3.1.5 Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito ___________________________ 38 3.1.7 Tráfico internacional de arma de fogo _______________________________________ 40 3.1.8 Aumento de pena _______________________________________________________ 41 3.1.9 Aumento de pena para os agentes constantes nos artigos 6º,7º e 8º do Estatuto do

Desarmamento. _____________________________________________________________________ 41 3.1.10 O artigo 21 do Estatuto do Desarmamento __________________________________ 41

Pontos Controvertidos no Estatuto do Desarmamento _____________________ 42 4.1 O artigo 21 da Lei n.º 10.826/03 e o artigo 5º, inciso LXVI, da Constituição

Federal ______________________________________________________________________ 42

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4.1.3 O Estatuto do Desarmamento e sua constitucionalidade _________________________ 49

4.2 A Concessão de porte de arma de fogo no Brasil__________________________ 56

4.2.1 Competência legislativa para a fixação de normas gerais ________________________ 56 4.2.2 Competência para conceder porte de arma de fogo _____________________________ 59

4.3 A competência para julgar e processar os crimes referentes ao porte e posse de arma de fogo__________________________________________________________________ 61

4.3.1 Competência __________________________________________________________ 62

(10)

INTRODUÇÃO

O Estado tentou dar resposta, pronta e enérgica, ao clamor de milhões de brasileiros contra a violência e a insegurança, que desafiam o Estado e afrontam o cidadão. Ao elaborar uma nova legislação referente às armas de fogo, o Estado quis fazê-la conhecida e, principalmente, respeitada, para que se cumpra o direito que todos temos à vida, à segurança e à paz. Não há dúvidas de que a criminalidade se relaciona, íntima e diretamente à posse e ao uso de armas de fogo, responsáveis, no Brasil, por milhares de mortes a cada ano, e ainda meio usado para prática de crimes violentos. Mais triste é saber que, em sua maioria, essas pessoas são jovens. O Brasil representa apenas 2,8% da população mundial, porém já responde por 11% dos homicídios praticados com o uso de armas de fogo. Inquietante e preocupante tais números espelham, também, um drama social, a dor de milhares de famílias que vêem, de uma hora para outra, o sonho do futuro transformar-se no desespero do presente. Daí a importância do Estatuto do Desarmamento, que veio para o controle que urge estabelecer sobre armas e munições, reprimindo o comércio ilegal e o contrabando, combatendo o porte ilícito, responsabilizando legalmente aos comerciantes e impedindo que a arma ilegal, objeto de apreensão, volte a circular em nossa sociedade.

E certo que o Estatuto do Desarmamento concorre para significativo decréscimo na prática da violência e na impressionante estatística dos que morrem por arma de fogo. Certamente, nossa nova legislação desarmamentista contribuirá significativamente para a diminuição dos crimes cometidos com arma de fogo em nosso país, mas não resolverá o problema da violência urbana e do crime organizado que se abastecem com o contrabando e a corrupção de nosso país.

Devem coexistir, com a nossa legislação desarmamentista, políticas públicas que viabilizem a segurança pública e o investimento no povo para que ele tome consciência que a violência é parte do problema e não a solução de conflitos.

O porte de arma de fogo no Brasil, foi por muito tempo considerado, apenas, contravenção penal, previsto no artigo 19 da Lei das contravenções Penais

(BRASIL, 1941)1, porém diante da enorme escalada de violência que vem assolando

(11)

o país, o legislador resolveu transformar tal conduta em crime, o que se concretizou

com a Lei 9427/97 (BRASIL, 1997).2

Essa Lei, além de possuir vários defeitos em sua redação, não colaborou em muito para a diminuição da criminalidade, o que culminou na criação da Lei

10.826/2003, mais conhecida como Estatuto do Desarmamento (BRASIL, 2003).3

Essa Lei passou a tratar de forma dura os crimes de porte de arma de fogo, trazendo, ainda, várias outras providências moralizadoras, como a restrição à venda, registro e autorização para o porte de arma de fogo, tipificação dos crimes de posse e porte de munição, tráfico internacional de armas de fogo, dentre outros.

Em seu Capítulo I, o Estatuto do Desarmamento regulamenta o Sistema Nacional de Armas (SINARM), órgão com circunscrição em todo território nacional, incumbido de cadastrar:

- as características das armas de fogo e suas eventuais alterações;

- a propriedade das armas de fogo e suas respectivas transferências, e eventuais perdas, roubos, furtos, extravios e aquelas que forem apreendidas, mesmo que vinculadas a procedimentos policial ou judicial;

- as autorizações para porte de arma de fogo e as renovações expedidas pela Polícia Federal;

- os armeiros em atividade no país, os produtores, atacadistas, varejistas, exportadores e importadores de armas de fogo.

As atribuições do SINARM encontram-se dispostas no artigo 2º do Estatuto, assim como em alguns outros dispositivos da própria lei do desarmamento e de seu

Decreto regulamentador (BRASIL, 2004).4

Em seu Capítulo II e III, trata das questões atinentes ao registro e ao porte de arma de fogo, sendo que suas regras e os tipos penais foram tratados em conjunto no Capítulo IV.

Por fim, em seu Capítulo V, tratou das questões gerais referentes a ele.

Com o presente trabalho, pretende-se elucidar as dúvidas sobre o porte de arma de fogo no Brasil, uma vez que as condutas típicas da lei anterior foram fragmentadas em tipos específicos. Pretende-se, ainda, apresentar um estudo sobre a parte histórica das armas de fogo, as formas de se obter porte de arma de fogo no

2BRASIL. Lei 9.437 de 20 de fevereiro de 1997. 3BRASIL. Lei 10.826 de 23 de dezembro de 2003. 4BRASIL. Decreto 5.123 de 1º de julho de 2004.

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Brasil, os órgãos e entidades competentes para concedê-lo, a existência ou não de competência concorrente para legislar sobre tal assunto, as condutas típicas hoje existentes na nova Lei do desarmamento.

Encerra-se o estudo com um breve sobre pontos controvertidos da Lei desarmamentista, como comentário ao artigo 21 do Estatuto do Desarmamento, que trata da vedação de liberdade provisória para quem comete alguns dos tipos penais constantes na Lei do desarmamento, competência para legislar sobre porte de arma de fogo e sobre a competência para se processar e julgar os crimes referentes ao porte e posse de arma de fogo.

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Capítulo 1

A

RMAS

1.1 História das armas

As armas estão presentes na vida do homem desde os primeiros momentos da nossa história. Os homens das cavernas já utilizavam pedras amoladas e amarradas a galhos de árvores, para perfurar a pele dos animais durante as caçadas e também manter o inimigo à distância. Com o passar do tempo e a descoberta do metal, as pedras e a madeira deram lugar as armas feitas em aço, como espadas, lanças e machados chegava a era das chamadas armas básicas, ou armas brancas.

No Egito antigo, as armas eram reforçadas com cobre. Cerca de 1500 a 2000 a.C. surgiu o emprego de ferro no exército assírio.

Mas nenhuma outra invenção, antes das bombas de átomos e nêutrons, foi tão importante para o desenvolvimento bélico quanto à descoberta da pólvora, pelos chineses, entre os séculos XV e XVI d.C.

Foram os árabes que a utilizaram para fins militares. A partir daí, a arte da guerra passou por rápidas evoluções. Três séculos depois surgiram as primeiras artilharias de canhões e os primeiros mosquetes. Mas a evolução das armas não parou por aí.

As primeiras foram versões menores do canhão. Mais tarde seu disparo foi aperfeiçoado com a invenção da trava de mecha, mecanismo pelo qual um rastilho que queimava lentamente era colocado em contato preciso com uma caçarola de escova, sendo que , da sua queima, a carga principal era disparada.

Armas pesadas como o Arcabuz, conhecidas como mosquete, foram introduzidas no século XVI, tornando este termo genérico para arma de soldado de infantaria.

Mais tarde, surgiram armas mais curtas e leves que serviam de auxílio para as cavalarias quando em combate. Em 1.515, na Alemanha, foi desenvolvido um

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novo sistema de ignição chamado “Trava de roda”, que gerava uma série de centelha na caçarola de escova por meio do movimento de uma redá serreada, acionada por uma mola com um pedaço de pirita de ferro (como o de certos modelos de isqueiro).

Ainda no século XVI, foram estreitados os canos das armas, surgindo aí as primeiras armas raiadas (pequenos sulcos no interior do cano da arma que dão um movimento giratório ao projétil, quando ele é arremessado, aumentando assim a precisão do tiro).

No século XIX, surgiu o primeiro sistema de ignição-percussão, que utilizava um detonador ativado por um impacto súbito, ou seja, cartuchos com carga explosiva fixa. Surgiram aí as armas recarregáveis pela culatra, e não pelo cano, o que possibilitava uma recarga mais ágil do armamento.

Já no século XX, os projetos de armas de fogo não mudaram muito, até a Segunda Grande Guerra Mundial, onde houve a substituição das pistolas por submetralhadoras e o surgimento dos rifles semi-automáticos, fazendo assim com que as inovações não mais parassem. Passaram então a surgir armas com poder de fogo cada vez melhor.

1.2 Armas de fogo

Arma de fogo, geralmente, é um instrumento natural com o qual são disparados projéteis pela combustão ou da pólvora ou de outro explosivo (SILVA, 2004).5

Em 1884, surgiu nos Estados Unidos da América a primeira arma automática do mundo, gerando um grande interesse nos círculos militares, pois era capaz de disparar centenas de tiros por minuto. Nascia a primeira metralhadora. As armas ganharam tamanhos, modelos e especificações variadas.

Além da utilização militar, elas ganharam fins esportivos, chegando às olimpíadas, e no dia-a-dia de milhões de pessoas, seja para a caça, seja para a

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defesa pessoal. Mas tal proximidade levantou questões polêmicas, como, por exemplo, se elas trazem, ou não, segurança para quem as possui.

1.3 Armas de fogo no Brasil

Iniciou-se no Brasil, a fabricação de armas de fogo, após a chegada de D. João VI. Às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, foi instalada em 1810, a Real Fábrica de Pólvora, sendo que, no mesmo ano, a antiga Casa das Armas, criada em 1765, na Fortaleza da Conceição, foi transformada em fábrica de armas através da coordenação de armeiros vindos da Alemanha.

Após a independência, foram instalados arsenais de guerra na Bahia, Recife, Pará e Mato Grosso, em obediência a razões estratégicas, sendo que no Rio e Janeiro entraram em funcionamento duas fábricas, mas foi a partir de 1930 que a indústria bélica brasileira desenvolveu-se consideravelmente, pois, hoje em dia são três as principais fábricas de armas e munição no Brasil:

- Forjas Taurus, instalada no Rio Grande do Sul, fabricante de pistolas e revólveres. Exporta armas para mais de 80 países;

- Amadeo Rossi, Também sediada no Rio grande do Sul, produtora de revólveres, espingardas e carabinas. Chega a exportar cerca de 30% de sua produção;

- Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), com fábrica em Ribeirão Preto, na região do ABC paulista. Controlada pela pelo grupo Arbi, é a maior produtora de munições do país produzindo, também, rifles e espingardas.

Com as restrições impostas pelo Estatuto do desarmamento a cerca da concessão de porte de arma de fogo no território nacional, os fabricantes de arma de fogo terão um decréscimo nas vendas internas.

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1.4 O Controle de armas de fogo no Brasil

1.4.1 Teoria geral dos crimes de porte de arma de fogo e figuras

típicas análogas

A segurança pública é tutelada pela nossa Constituição Federal (artigo 5º, caput), preceituando o seu artigo 144, caput:

$ % #

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' ( ) *+, -.//06

As armas de fogo, espécie de material bélico, estão intimamente ligadas coma segurança pública, competindo à União, por esse motivo, autorizar e fiscalizar a sua produção e comércio (artigo 21, VI da Constituição Federal).

Essas normas traduzem o interesse do estado no regular desenvolvimento do sistema no que diz respeito à observância dos direitos dos cidadãos nas relações da sociedade, garantindo-lhes a segurança.

A incolumidade pública é interesse que se encontra vinculado não há uma pessoa isoladamente, mas sim ao corpo social. Assim sendo, deve ser vista como interesse público, no sentido de ter a coletividade como titular. Não se trata de interesse difuso, uma vez que falta o requisito do conflito, como ocorre nas hipóteses ambientais (ambientalistas X usineiros), nas relações de consumo (consumidor X produtor) etc. ara Ada Pellegrini seria interesse público, constituindo-se uma função

primária e natural do próprio Estado de Direito.7

Para HUGO NIGRO MAZZILLI, interesse público é “bem geral, ou seja, o

interesse geral da coletividade ou interesse da coletividade como um todo”./

O objeto jurídico, na maior parte dos delitos tradicionais, pertence ao homem, à pessoa jurídica ou ao Estado. Nos delitos de porte de arma e figuras similares, o objeto jurídico principal pertence à coletividade, sendo esse seu traço marcante.

Nada impede que se reconheça, nesses delitos, uma objetividade jurídica secundária já que a norma penal que se tutela é o interesse coletivo e a segurança

6BRASIL. Constituição da República de 1988.

7GRINOVER, Ada Pellegrini. A tutela jurisdicional dos interesses difusos.1990. 8MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 1997. p.3

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pública assim como proteger por via indireta interesses individuais, como a vida, a integridade física, a saúde, etc.

A maioria dos crimes descritos na Lei n.º 10.826/03 (BRASIL, 2003)9,

apresenta a incolumidade pública, ou seja, segurança coletiva, como objeto jurídico principal (imediato). O direito à vida, o direito à saúde, etc. compõe a sua objetividade jurídica secundária (mediata) e são tutelados por eles de forma indireta, oblíqua ou reflexa.

Assim, há uma superposição de interesses jurídicos. Se pegarmos, por exemplo, a saúde, ela é protegida como objeto jurídico principal no Código Penal

(BRASIL, 1941)10, em capítulo próprio (artigos 267 e seguintes).

Nos crimes relacionados com armas de fogo, contudo, aparece como interesse jurídico secundário. Como a maioria dos crimes violentos (roubo, homicídio, etc.) são cometidos com o uso de arma de fogo, em regra com o porte ilegal, a norma procura prevenir essas ocorrências, punindo a fabricação, o transporte, o porte, a venda e outros. Realizados sem autorização da autoridade competente e em desacordo com o ordenamento jurídico vigente.

1.4.2 Natureza jurídica dos crimes de porte de arma de fogo e

figuras similares típicas

Para Fragoso (1985, p. 275), o objeto da tutela penal, seja considerado bem ou interesse: 1 % % 2 % ! " $ % --Para Damásio (2005, p.33): 3 4 ! ! $ " % 5 6 7 8 12

9BRASIL. Lei 10.826 de 23 de dezembro de 2003.

10BRASIL. Decreto-Lei 2.848 de 07 de dezembro de 1940.

11FRAGOSO, Cláudio Heleno. Lições de direito Penal; a nova parte geral. 1985.

12DAMÁSIO, Evangelista de Jesus. Direito penal do desarmamento, Anotações à parte criminal da lei

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Esses interesses não deixam, ainda, segundo FRAGOSO (1985,P.277) “... de

referir-se à concreta realidade social.”13 De modo que, quando lesionados,

interferem na vida real de todos os membros da sociedade ou de parte dela, antes de haver dano individual. Suponha-se a hipótese do disparo de arma de fogo em via pública por onde passam transeuntes. O agente põe em risco quaisquer pessoas que tenha necessidade de transitar pelo local. Na verdade causa um perigo a um número indeterminado de pessoas indistintamente, visto que qualquer delas, que representa o corpo social, pode passar pela via pública. Sendo assim, os delitos de porte de arma de fogo e figuras similares não são crimes de perigo abstrato nem concreto, mas crimes de lesão de mera conduta.

Sob outro aspecto, os delitos de porte de arma e tipos similares não precisam ser conceituados como infrações de perigo concreto, que exigem, caso a caso, a demonstração da real ocorrência de probabilidade de dano ao objeto material, uma vez que, em alguns deles a potencialidade do dano está dentro da conduta, prescindindo da averiguação maior da mesma natureza.

Os delitos de porte de arma de fogo e similares, na verdade, como os disparos em local público são, na verdade, infrações de lesão e de mera conduta.

Segundo DAMÁSIO, “[...] o bem jurídico é lesado e não apenas posto em perigo.”14 A constituição, em seu artigo 5º, caput, tutela o direito dos cidadãos à

incolumidade pessoal (BRASIL, 1988).15 Há interesses coletivos de que as relações

sociais se desenvolvam dentro de um nível de segurança. Toda vez que alguém vende, fabrica ou porta uma arma de fogo de forma ilícita, atua fora do círculo de permissão estatal e rebaixa o nível de segurança física coletiva.

Neste sentido, existem dois planos superpostos:

O primeiro é de condutas permitidas. Ex: porte legal de arma de fogo. Não há infrações penais quando o cidadão atua conforme o direito, ainda que sua conduta apresente risco normal do uso da arma de fogo, como um disparo acidental, que é um risco permitido. Assim existe permissão legal da realização de comportamento que se situa, no plano vertical entre dois níveis diferentes.

O segundo, é o plano de condutas proibitivas ou criminosas, surge quando o comportamento do cidadão situa-se no limite. Há lesão ao interesse coletivo

13FRAGOSO, Cláudio Heleno. Lições de direito Penal; a nova parte geral. 1985.

14DAMÁSIO, Evangelista de Jesus. Direito penal do desarmamento, Anotações à parte criminal da lei

n.º 10.826 de 2003. 2005.

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incolumidade pública ou risco proibido, praticando-se delito nas condutas típicas previstas na Lei 10.826/2003. Rebaixa-se o nível de segurança coletiva tutelada pela ordem jurídica. Ex: o sujeito, negligentemente, deixa uma arma de fogo ao alcance de uma criança, que a manuseia.

A incolumidade pública, bem jurídico tutelado, não resulta da soma das garantias físicas individuais dos membros que compõe a coletividade. A locução refere-se ao nível de segurança pública no que tange às relações sociais. Diz respeito ao nível de bem-estar físico da população no que respeita à circulação social. Realmente, o nível de segurança dos integrantes do corpo social é algo mais do que a segurança física de cada um. Esse nível é garantido pela constituição e pela legislação ordinária. Cuida-se de interesse de relevante importância, uma vez que o cidadão, enquanto membro do corpo social tem direito a um nível coletivo de segurança diferente da garantia individual.

Em alguns delitos, o fato atinge não o cidadão, considerado isoladamente, mas lesionam os membros da comunidade inteira, afetando não só a qualidade de vida em seu sentido genérico como também colocando em risco ou produzindo danos efetivos aos seus habitantes. O infrator, nos delitos relacionados com armas de fogo, situando sua conduta a partir do limite inicial do plano das condutas delituosas, lesa a objetividade jurídica.

Com o simples comportamento, reduzindo-se o nível de segurança, já pratica delito, pois lesionam o interesse público. Não é exigível que o fato ofenda a bens jurídicos individuais, já que a objetividade jurídica pertence à coletividade.

Os delitos de porte de arma de fogo, não são delitos materiais. A lesão ou dano refere-se, para DAMÁSIO, “ao interesse jurídico e não ao objeto material do

delito”.16 Sempre há ofensa ao bem jurídico primário, no sentido de que o fato

delituoso reduz o nível mínimo de segurança que deve existir nas relações sociais conforme os parâmetros impostos pelo Estado.

A essência dos crimes relacionados com armas de fogo está na lesão ao interesse jurídico da coletividade, que se consubstancia na segurança pública não pertencendo, necessariamente, ao tipo incriminador à lesão, objeto material individual. Isso pode ocorrer, quando então se falará em objeto jurídico, sujeito passivo e objeto material secundários. Os tipos, porém, continuam sendo de lesão.

16DAMÁSIO, Evangelista de Jesus. Direito penal do desarmamento, Anotações à parte criminal da lei

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Como ficou consignado, os tipos de porte de arma e figuras análogas, retratam crimes de lesão porque o infrator, com sua conduta, reduz o nível de segurança coletiva exigido pelo legislador, atingindo a objetividade jurídica concernente à incolumidade pública. São crimes de mera conduta porque basta à sua existência, a demonstração da realização do comportamento típico, sem necessidade de prova de que o risco atingiu, de maneira séria e efetiva, determinada pessoa, como por exemplo, o disparo de arma de fogo nas proximidades de uma pessoa.

1.5 Classificação dos tipos penais na Lei 10.826 de 2003

O legislador classificou os delitos definidos na Lei 10.826 de 2003 em categorias distintas:

Quanto às condutas, referiu-se a:

- posse irregular de arma de fogo (artigos 12 e 16); - posse ilegal de arma de fogo (artigos 14 e 16); - omissão de cautela (artigo 13);

- disparo de arma de fogo (artigo 15);

- comércio ilegal de arma de fogo (artigo 17); e - tráfico internacional de arma de fogo (artigo 18). Quanto ao uso, podem ser classificados os delitos em:

- posse e porte de arma de fogo de uso permitido (artigos 12 e 14); - posse e porte de arma de fogo de uso restrito ou proibido (artigo 16)

1.6 Do Porte e da posse de arma de fogo

O legislador endureceu ainda mais as penas impostas aos crimes da antiga legislação, bem como aumentou de 25 para 40 as formas de cometimento de delitos penais pertinentes às armas de fogo.

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O porte e posse de arma de fogo são figuras distintas, tratadas em nossa Lei desarmamentista. DAMÁSIO conceitua possuir em “[...] agir como proprietário ou

simplesmente titular do poder de ter a arma à sua disposição.”17 Não é preciso que o

sujeito seja proprietário da arma. Assim sendo, o sentido de possuir tem o sentido legal de ter em seu poder.

Porte está ligado a trazer consigo a arma de fogo. DAMÁSIO define portar como “[...] a ação de ter a arma de fogo ao seu alcance físico (nas mãos, vestes,

maleta, pasta, pacote etc.). Trata-se de conduta típica permanente.”18

Capitulo 2

D

O

C

ADASTRO DE

A

RMAS DE

F

OGO

2.1 Sistema Nacional de Armas - SINARM

O Sistema Nacional de Armas – SINARM, instituído no âmbito do Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, tem a sua competência delineada no artigo

2º, da Lei n.º 10.826 de 2003 (BRASIL, 2003)19 e sua finalidade desenhada no artigo

1º do Decreto n.º 5.123 de 2004 (BRASIL, 2004).20

Além do SINARM, existe um outro sistema de controle de armas de fogo, instituído no âmbito do Comando do Exército, o SIGMA – Sistema de Gerenciamento Militar de Armas, com a finalidade delimitada no artigo 2º, do

Decreto regulamentador (BRASIL, 2004).21

O espírito legislativo que concebeu a disciplinação dos registros e portes de arma de fogo, após reunir as dezenas de projetos de Lei, esparsos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, levou em conta qual a proliferação das armas de fogo, acessórios e munições, em mãos de pessoas não autorizadas, é conseqüência

17DAMÁSIO, Evangelista de Jesus. Direito penal do desarmamento, Anotações à parte criminal da lei

n.º 10.826 de 2003. 2005. p.32.

18DAMÁSIO, Evangelista de Jesus. Direito penal do desarmamento, Anotações à parte criminal da lei

n.º 10.826 de 2003. 2005. p.34.

19BRASIL. Lei 10.826 de 23 de dezembro de 2003. 20BRASIL. Decreto 5.123 de 1º de julho de 2004. 21BRASIL. Decreto 5.123 de 1º de julho de 2004.

(22)

das facilidades de acesso, decorrentes da limitação dos sistemas de fiscalização até então existentes.

O SINARM, então, ao exercer sua competência de identificar e cadastrar as armas de fogo e seus proprietários sejam elas produzidas, importadas ou vendidas no país, assim como todas as ocorrências envolvendo transferências, extravios, furtos e roubos das mesmas, estará realizando um rigoroso controle da produção, transporte, comércio e posse da arma de fogo, o que vem ao encontro das aspirações da sociedade brasileira no combate à violência, uma das suas principais preocupações.

Antes da vigência da nova Lei, uma arma de fogo furtada no Piauí, e posteriormente apreendida em São Paulo, não poderia ser rastreada em razão da inexistência de um registro único de armas de fogo no território nacional. Com o SINARM, é possível detectar que a arma de fogo apreendida no estado de São Paulo fora objeto de furto no estado do Piauí.

2.1.2 Competências do SINARM

Incumbe ao SINARM, gerenciar todas as operações relacionadas ao cadastro de armas de fogo, como o controle de circulação, alteração das características e entrada das armas em território nacional. Pela letra da lei, são excluídas ao controle do SINARM, as armas de fogo institucionais (das forças armadas e auxiliares, sendo estas as Polícias Militares e Corpo de Bombeiros Militares, Abin e Gabinete de segurança Institucional da Presidência da República), que passam a ser registradas no SIGMA – Sistema de Gerenciamento Militar de Armas, conforme preceitua o

artigos 1º e 2º do Decreto n.º 5123/04 (BRASIL, 2004).22 Os dados do SINARM e

SIGMA deveriam ser compartilhados em até um ano, conforme o artigo 9º do decreto 5.123/04.

Há duas figuras a considerar: o registro e o porte de arma de fogo. Enquanto o registro se refere ao direito de possuir arma de fogo, o porte autoriza o trazer consigo, o pronto uso. O assunto será abordado em tópico específico onde também

(23)

será abordado quem são as autoridades competentes para emitir tal autorização seja em caráter pessoal ou funcional.

2.2 Sistema de Gerenciamento Militar de Armas - SIGMA

O SIGMA mantém o registro de todas as armas de fogo institucionais (Forças Armadas, Polícias Militares, Corpos de Bombeiros Militares, ABIN, e Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República dos integrantes das instituições já nominadas e constantes de registros próprios), as importadas, ou adquiridas no país para fins de testes e avaliações técnicas e as obsoletas, o que torna possível exercer um controle mais estreito sobre esse tipo de armamento especial, as armas de fogo de colecionadores, atiradores, caçadores e as armas de fogo das representações diplomáticas.

Também será objeto de autorização do SIGMA a aquisição de armas de fogo diretamente da fábrica.

Entende-se por registro próprio os feitos pelas instituições, órgãos, e corporações em documentos oficiais de caráter permanente.

Hoje, encontra-se em fase de estudo a passagem do registro das armas de fogo particulares dos integrantes das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares para o SIGMA, que realizaria o controle de tais armas e passaria o controle da emissão dos registros a tais instituições, saindo da esfera de competência da Polícia Federal.

Os registros de armas de fogo do SIGMA e SINARM deverão ser

compartilhados, como preceitua o decreto n.º 5.123 de 2004 (BRASIL, 2004)23, em

seu artigo 9º. As armas alcançadas por esta centralização de dados não alcançam as armas institucionais das forças armadas e das forças auxiliares, por razão de segurança nacional.

A interligação dos cadastros de armas de fogo são muito onerosas, mas é necessária para um melhor gerenciamento das armas em circulação no país.

(24)

2.3 Requisitos para compra

Os requisitos objetivos e subjetivos antes exigidos para o porte de arma de fogo, agora passam a ser exigidos para a sua aquisição e registro. O artigo 12, do decreto regulamentador, estabelece que para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá declarar efetiva necessidade, ter no mínimo 25 anos de idade, apresentar cópia autenticada da carteira de identidade, comprovar a inexistência de antecedentes criminais, mediante certidões das justiças Federal, Estadual, Militar e Eleitoral, exercer ocupação lícita e ter residência certa, mediante documento comprobatório e comprovar a capacidade técnica e aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo.

Com a expedição do CRA – Certificado de Registro de arma de fogo, pela Polícia Federal, o proprietário estará autorizado a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou dependências desta, ou, ainda, em seu local de trabalho, desde que ele seja o titular ou o responsável pelo

estabelecimento ou empresa, nos termos do artigo 16, do Decreto n.º 5.123 de

2004 (BRASIL, 2004).24

Já os requisitos de idoneidade, comprovação de ocupação lícita, e residência certa, e a comprovação de capacidade técnica e aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, deverão ser renovados a cada três anos, para fins de renovação do Certificado de Registro de Armamento - CRA.

A aquisição e o registro da arma de fogo de uso restrito dependerá de prévia autorização do Comando do exército, como preceitua o artigo 18 do Decreto 5.123 de 2004.

A comercialização de armas de fogo de uso restrito, assim como suas munições e demais produtos controlados passou a ser proibida pelo Estatuto do Desarmamento.

2.4 Autorização para portar arma de fogo no Brasil

(25)

Após o estatuto do desarmamento, muitas pessoas acreditaram que o porte de arma de fogo havia sido banido do ordenamento jurídico, porém, isso não é verdade.

Em seu artigo 6º, o Estatuto do Desarmamento proíbe o porte de arma de fogo em todo território nacional, salvo para os casos previstos em legislação e para os integrantes das Forças Armadas, dos órgãos de segurança pública, das guardas municipais dos estados com mais de 500.000 e dos municípios com mais de 50.000 habitantes, os agentes da Agência Brasileira de Inteligência (ABIn) e do Departamento de Segurança Institucional da Presidência da República, os integrantes dos órgãos policiais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, os agentes e guardas prisionais, os integrantes das escoltas de preso, os guardas portuários, as empresas de segurança privada e de transportes de valores, legalmente constituídas, e os integrantes das entidades de desporto legalmente constituída. Foi, ainda, ampliado o rol das pessoas autorizadas a portarem armas de fogo, em maio de 2005, ao serem incluídos os integrantes da Carreira de Auditoria da Receita Federal, Auditores Fiscais, e Técnicos da Receita Federal.

Trataremos particularmente caso a caso da autorização de porte de arma de fogo e a legislação pertinente a cada um dos autorizados, segundo o artigo 6º da Lei em estudo.

2.4.1 Legislação própria

Preceitua no artigo 6º da Lei 10.866/2003 que “é proibido o porte de

arma de fogo em todo território nacional, salvo para os casos previstos em

legislação própria [...] (BRASIL, 2003)25”

Estes são os casos dos membros do Ministério Público Federal e estadual, e os dos Magistrados, beneficiados respectivamente pelo artigo 18, I, , da Lei

Complementar Federal n.º 75/93 (BRASIL, 1993)26, pelo artigo 42 da Lei Federal n.º

25BRASIL. Lei 10.826 de 23 de dezembro de 2003. 26BRASIL. Lei Complementar 75 de 20 de maio de 1993.

(26)

8.625/93 (BRASIL, 1993)27 e pelo artigo 33, V, da Lei Complementar Federal n.º

35/7928.

É importante salientar que o porte, tanto dos Magistrados, quanto dos Membros do Ministério Público são independentes de qualquer ato formal de licença ou autorização do poder público. Porém, as armas que venham a adquirir e/ou portar devem estar devidamente registradas, uma vez que o porte legal abrange as armas de fogo de uso e porte permitido.

Tem igual imunidade os Membros do Ministério Público e Magistrados aposentados, sendo que qualquer um deles, ativos ou aposentados, estão sujeitos às penas impostas pela legislação vigente referente a portar arma de forma irregular. Os membros do Poder Legislativo possuíam o privilégio de porte de arma de fogo, de acordo com o artigo 29 do Decreto Federal n.º 2.222/97, que regulamentava a Lei 9.437/97, revogada pelo Estatuto do desarmamento.

2.4.2 Integrantes das Forças Armadas (artigo 6º, inciso I)

O artigo 6º, I, do Estatuto do Desarmamento autoriza os integrantes das Forças Armadas a portar arma de fogo, sendo que seu porte é fornecido pela corporação ou instituição. Nos termos do artigo 6º, § 1º, poderão também porta-las fora de serviço, não sendo ainda necessários os requisitos previstos no artigo 4º, caput e incisos I, II e III do referido estatuto: declaração de idoneidade, comportamento social produtivo e capacidade técnica e aptidão psicológica (artigo 6º, § 4º), sendo também a ele exigido o registro de arma particular.

As praças, porém, necessitam ainda de autorização superior, conforme artigo

33, § 1º, do Decreto n.º 5.123/04 (BRASIL, 2004)29, para portarem arma de fogo fora

do horário de serviço, sendo que em serviço, o porte é automático, cabendo a seus comandantes sua manutenção, suspensão e cassação.

27BRASIL. Lei 8.625 de 12 de fevereiro de 1993. (Institui a Lei Orgânica Nacional do Ministério

Público, dispõe sobre normas gerais para a organização do Ministério Público dos Estados e dá outras providências)

28BRASIL. Lei Complementar 35 de 14 de março de 1979. 29BRASIL. Decreto 5.123 de 1º de julho de 2004.

(27)

Preceitua, ainda, em seu artigo 37 que ao se transferirem para a reserva remunerada ou aposentadoria, os integrantes das Forças Armadas deverão submeter-se, a cada três anos, aos testes de avaliação de aptidão psicológica a que faz menção o inciso III do artigo 4º do Estatuto.

É claro o artigo 37, do Decreto regulamentador, ao referir-se somente aos integrantes das Forças armadas da reserva ou aposentadoria, não estendendo tal benefício aos integrantes da reserva não remunerada.

2.4.3 Órgãos referidos nos incisos do caput do artigo 144 da

Constituição Federal (artigo 6º, inciso II)

Os órgãos referidos no artigo 144 da Constituição Federal são (BRASIL, 1988)30:

a) Polícia Federal;

b) Polícia Rodoviária Federal; c) Polícia Ferroviária Federal; d) Polícia Civil;

e) Polícia Militar;

f) Corpo de Bombeiros Militar.

Seus portes de armas são fornecidos pela própria corporação ou instituição, porém, são dispensados de atender os requisitos constantes do artigo 4º, caput e incisos I, II, III do Estatuto, cabendo a elas regularem em norma específica por ato de seus comandantes ou instituição a que pertençam.

Para portarem arma de fogo fora de suas Unidades Federativas deverão ser observadas as normas emitidas pelos seus dirigentes (Comandantes, Chefes, diretores, etc.).

Vale ressaltar que a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Ferroviária Federal, tem jurisdição em todo território nacional, em suas respectivas funções, sendo expresso que podem portar arma de fogo em todo território nacional, no exercício de suas funções, independente de autorização, sendo necessário, para

(28)

que porte arma de fogo particular, autorização de suas instituições e registro das suas armas (regra essa válida para todos).

Todos os membros das instituições citadas no artigo 144 da Constituição Federal devem, ao se transferirem para a reserva remunerada ou inatividade,

submeterem-se aos requisitos do artigo 37 do Decreto 5.123/2004 (BRASIL, 2004).31

2.4.4 Integrantes das Guardas Municipais das Capitais dos Estados

e dos Municípios, com mais de 500.000 habitantes nas condições

estabelecidas no regulamento da Lei (artigo 6º, inciso III)

O porte de arma de fogo deverá ser fornecido pela corporação ou instituição nos termos do artigo 6º, § 1º do Estatuto do Desarmamento (porte funcional). Porém, para portar arma particular, deverão atender os requisitos previstos no artigo 4º, caput e incisos I, II, III do Estatuto do Desarmamento, tornando-se obrigatório o registro de arma particular.

Os integrantes das Guardas Municipais deveriam portar arma de fogo livremente, pois os crimes acontecem tanto em cidades pequenas como nas cidades grandes. Na verdade, as Guardas Municipais, se destinam à proteção do patrimônio público municipal.

Diz o artigo 144, § 8º da Constituição Federal que “os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e

instalações, conforme dispuser a Lei.” (BRASIL, 2004)32

Atualmente, as Guardas Municipais atuam de forma ostensiva, de forma que sua atividade não está restrita à proteção dos bens públicos municipais. Seus integrantes prestam relevantes serviços à comunidade, apoiando as polícias civis e militares na prevenção ao crime, efetuando prisões em flagrante e se defrontando com marginais que estão praticando infrações penais. A capacidade técnica é atestada pela própria instituição conforme artigo 36 do Decreto n.º 5.123 de 2004

(BRASIL, 2004)33.

31BRASIL. Decreto 5.123 de 1º de julho de 2004. 32BRASIL. Constituição da República de 1988. 33BRASIL. Constituição da República de 1988.

(29)

2.4.5 Integrantes das Guardas Municipais das Capitais dos

Municípios, com mais de 50.000 habitantes e menos de 500.000

habitantes, quando em serviço (artigo 6º, inciso IV)

O texto original do inciso IV limitava as guardas municipais dos municípios àqueles com mais de 250.000 habitantes. Aquele texto foi alterado pela Medida Provisória n.º 157, de 23 de dezembro de 2003, atual artigo 1º da Lei 10.867/2004

(BRASIL, 2004)34, dando o atual texto do inciso em comento.

O porte de arma é fornecido pela corporação ou instituição, ou seja, porte funcional restrito ao serviço ( a contrário senso do exposto no artigo 6º, § 1º, as Guardas Municipais Estados dos Municípios com mais de 50.000 e menos de 500.000 habitantes, não estão relacionadas).

Não é permitido o porte de arma de fogo fora de serviço, contrariamente ao das Guardas Municipais das capitais dos Estados e dos Municípios com mais de 500.000 habitantes, conforme artigo 6º, § 1º do Estatuto do Desarmamento, sendo também obrigatório o curso de formação funcional.

A capacidade técnica é atestada pela própria instituição conforme artigo 36 do

Decreto n.º 5.123 de 2004 (BRASIL, 2004)35.

2.4.6 Os Agentes Operacionais da Agência Brasileira de Inteligência

e os Agentes do Departamento de Segurança do Gabinete

Institucional da Presidência da República (artigo 6º, inciso)

Seu porte de arma de fogo é fornecido pela corporação ou instituição, por ser funcional, bem como são autorizados a portar arma fora do horário de serviço, conforme o artigo 6º, § 1º do Estatuto do Desarmamento, devendo atender, ainda os requisitos do artigo 4º, III, artigo 6º, §2º da Lei em comento. A capacidade técnica é atestada pela própria instituição conforme artigo 36 do Decreto n.º 5.123 de 2004.

34BRASIL. Lei 10.867 de 12 de maio de 2004 35BRASIL. Decreto 5.123 de 1º de julho de 2004.

(30)

2.4.7 Os integrantes dos órgãos policiais referidos no artigo 51, IV,

e no artigo 52, XIII, da Constituição Federal (artigo 6º, inciso VI)

São os integrantes das Polícias Legislativas da Câmara dos Deputados (artigo 51, IV, da Constituição Federal) e do Senado Federal (artigo 51, XIII, da Constituição Federal). O porte será fornecido pela corporação ou instituição, podendo também portar arma de fogo fora do horário de serviço (artigo 6º, § 1º do Estatuto do Desarmamento).

Devem também atender os requisitos do artigo 4º, III, do Estatuto do Desarmamento. O porte de arma é deferido a eles em razão de suas funções, de

acordo com o decreto 5.123/04 (BRASIL, 2004)36. A capacidade técnica é atestada

pela própria instituição, conforme artigo 36 do Decreto regulamentador.

2.2.8 Os Integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas

prisionais, os integrantes e das escoltas de presos e as guardas

portuárias (artigo 6º, inciso VII)

Primeiramente, vale lembrar que os agentes e guardas prisionais e os guardas portuários não são policiais, uma vez que seu porte de arma de fogo é restrito ao serviço, pois não estão elencados no artigo 6º, §1º do Estatuto do Desarmamento.

Deve-se observar, porém que os agentes penitenciários e funcionários que fazem à escolta de presos nos Estados podem portar armas de fogo, ao contrário do que diz o Estatuto do Desarmamento. A autorização está na portaria 315 da Polícia

Federal (BRASIL, 2006).37

A medida foi adotada depois dos atentados sofridos durante o ano de 2006 por agentes no Estado de São Paulo, que estavam de folga ou fora do trabalho.

36BRASIL. Decreto 5.123 de 1º de julho de 2004.

(31)

O texto da portaria determina que o porte da arma conste da própria carteira de identidade funcional do servidor. Tanto a carteira como o certificado de registro da arma deverá estar sempre com o funcionário.

Para portá-la, porém, os agentes devem fazer prova escrita sobre normas de segurança e passar por testes práticos de tiro. A capacidade técnica é atestada pela própria instituição, conforme artigo 36 do Decreto n.º 5.123 de 2004 (BRASIL, 2004)38.

Fora do serviço, os servidores só poderão carregar armas registradas e de uso pessoal, como revólver calibre 38 e alguns tipos de pistola.

2.4.9 As empresas de segurança privada e de transporte de valores

constituídas, nos termos do Estatuto do Desarmamento (artigo 6º,

inciso VIII)

Os guardas das empresas de segurança privada e de transporte de valores não possuem porte de arma, uma vez que são emitidos em nome da empresa, como preceitua o artigo 7º do Estatuto do desarmamento.

Os funcionários que portam armas de fogo devem atender aos requisitos do artigo 4º, caput e incisos I,II,III, bem como artigo 7º, §2º, todos do estatuto do desarmamento.

Caso os funcionários possuam armas particulares, deverão registrá-las junto à Polícia Federal (como qualquer outra pessoa que possua arma de fogo particular).

A autorização para o uso de arma de fogo será expedida nos termos do artigo 38 do decreto n.º 5.123 de 2004.

2.4.10 Os integrantes das entidades de desporto, legalmente

constituídas, cujas atividades esportivas demandem o uso de

armas de fogo, na forma do regulamento do Estatuto do

Desarmamento, observando-se, no que couber, a legislação

ambiental (artigo 6º, inciso IX)

(32)

Trata-se do porte de arma de fogo para atiradores. Suas agremiações serão registradas no Comando do Exército, que estabelecerá normas e verificará o cumprimento das condições de segurança.

Deverão ser, os atletas, registrados nas agremiações de tiro esportivo assim como em suas agremiações, devendo também, as armas que compõem seus arsenais, serem registradas junto ao Comando do Exército.

A Guia de Trânsito, necessária para o porte de trânsito de arma de fogo, será expedida pelo Comando do Exército para que os desportistas não sejam presos por portarem arma de fogo ilegalmente, uma vez que estes só têm autorização para portar arma de fogo durante suas competições e não em trânsito livre pelo país.

Deverão também ter autorização judicial para os praticantes de tiro desportivo, menores de 18 anos, conforme artigo 30, §3º, do Estatuto do Desarmamento.

A prática de tiro desportivo por maiores de dezoito anos e menores de vinte e cinco anos, poderia ser feita utilizando-se arma de sua propriedade, registrada com

o amparo da Lei n.º 9.437/97 (BRASIL, 1997)39 (Lei essa revogada pelo estatuto do

desarmamento), de agremiação, ou arma registrada e cedida por outro desportista. A autorização para entrada de armas e munições no país, como bagagem de atletas para competições internacionais será autorizada pelo Comando do Exército.

É previsto o porte de arma de fogo para os menores de 25 anos na modalidade de competidor, porém, a propriedade de armas é vedada, pois o dispositivo que autorizava sua compra pela Lei 9437/97 foi revogado pelo Estatuto do Desarmamento.

2.4.11 Os Integrantes da Carreira de Auditoria da Receita Federal,

Auditores-Fiscais e Técnicos da Receita Federal. (artigo 6º, inciso

X)

(33)

Tem porte de arma de fogo nos termos do artigo 6º, inciso X do Estatuto do

Desarmamento. Este inciso foi incluído pela Lei 11.118/2005 (BRASIL, 2005).40

Não foi feliz o legislador ao fazer referência ao porte de arma de fogo de tais carreiras uma vez que não foi claro quanto ao período o qual fazem jus aqueles integrante. Para que fossem beneficiados com o porte de arma de fogo fora do horário de serviço, deveriam também ser incluídos no artigo 6, § 1º, do Estatuto do desarmamento, pois assim também seriam beneficiados com o porte de arma de fogo em seu horário de folga.

Devem também preencher os requisitos do artigo 6º, § 2º do Estatuto do desarmamento e as condições estabelecidas no regulamento.

2.4.12 – Demais Casos de porte de arma de Fogo.

Ao contrário do que muitas pessoas acham, erradamente, o porte de arma de fogo no Brasil não foi extinto ou limitado, apenas as pessoas elencadas no artigo 6º do Estatuto do Desarmamento.

Preceitua o artigo 10 do referido Estatuto que a autorização de porte de arma de fogo em todo território nacional é de competência da Polícia Federal, após autorização do SINARM, sendo ainda vinculado ao prévio cadastro da arma de fogo

junto ao mesmo, conforme artigo 22 do Decreto n.º 5.123/04 (BRASIL, 2004)41.

Sendo assim, qualquer pessoa pode requerer o porte de arma (estadual ou federal) junto a Polícia Federal, desde que preencha os requisitos da Lei (artigo 4º e 10 do Estatuto do desarmamento).

40BRASIL. Lei 11.118 de 19 de maio de 2005. 41BRASIL. Decreto 5.123 de 1º de julho de 2004.

(34)

Capítulo 3

D

OS

C

RIMES

R

EFERENTES AO

P

ORTE E

P

OSSE DE

A

RMA DE

F

OGO

3.1 Dos crimes e das penas

Em seu capítulo IV, o Estatuto trata dos crimes e penas referentes às armas de fogo, sendo eles tratados nos artigos 12 ao 21.

Passaremos a analisar suas peculiaridades.

3.1.1 Posse irregular de arma de fogo de uso permitido

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5 5

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Trata-se de tipo alternativo de mera conduta. Tanto faz possuir ou manter sob a guarda, qualquer acessório ou munição ou munição de uso permitido dentro de sua residência ou dependência desta, ou ainda em seu local de trabalho, desde que seja o titular ou responsável legal do estabelecimento. Manter sobre a guarda tem o sentido de ter sobre seus cuidados. As armas de uso permitido só alcançam as armas próprias referidas no artigo 10 do Decreto n.º 5.123 de 2004 (BRASIL, 2004)43.

O acessório e, segundo o artigo 3º, II, do Decreto n.º 3.665/00, R-105 é o “artefato que acoplado a uma arma, possibilita a melhora do desempenho do atirador, a modificação de um efeito secundário, do tiro ou aspecto visual da arma.”

(BRASIL, 2000)44

42BRASIL. Lei 10.826 de 23 de dezembro de 2003. 43BRASIL. Decreto 5.123 de 1º de julho de 2004. 44BRASIL. Decreto 3.665 de 20 de novembro de 2000.

(35)

Este decreto ainda conceitua no inciso LXIV munição como sendo “artefato completo, pronto para o carregamento e disparo de uma arma, cujo efeito desejado pode ser: destruição, iluminação, ou ocultamento do alvo; efeito moral sobre

pessoal; exercício, manejo; outros efeitos especiais” (BRASIL, 2000).45

3.1.2 Omissão de cautela

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Esse tipo consiste em o sujeito omitir o dever de observância necessária para impedir que um menor de 18 anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse propriedade ou guarda.

É elemento normativo do tipo a culpa, primeiramente, que é espécie de negligência, manifestada na omissão de obrigatoriamente observar a cautela, competindo ao magistrado analisar se realmente esta seria necessária.

Ensina DAMÁSIO que “não se trata de inobservância do dever genérico de cuidado no trato social, mas de omissão de dever específico de diligência referente à arma de fogo.”47

Vale ressaltar que incorrem nas mesmas penas o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou quaisquer outras formas de extravio de arma de fogo acessório ou munição que esteja sob sua guarda nas primeiras vinte e quatro horas depois do ocorrido. É um tipo de crime próprio já que só poderá ser cometido por pessoa certa e determinada.

45BRASIL. Decreto 3.665 de 20 de novembro de 2000. 46BRASIL. Lei 10.826 de 23 de dezembro de 2003.

47DAMÁSIO, Evangelista de Jesus. Direito penal do desarmamento, Anotações à parte criminal da Lei

(36)

3.1.3 Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido

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Embora a denominação legal do delito seja “porte ilegal de arma de fogo de uso permitido”, é fácil notar que o texto legal possui abrangência muito maior, já que existem inúmeras condutas outras condutas típicas. Trata-se de crime de ação múltipla ou tipo misto alternativo, em que a realização de mais de uma conduta típica, em relação ao mesmo objeto material, constitui crime único, na medida em que as diversas ações descritas na Lei estão separadas pela conjunção alternativa “ou”. Assim se o agente adquire e, em seguida, porta a mesma arma de fogo, comete apenas um crime.

Tratando-se de arma de fogo de uso permitido, teremos duas situações: a posse em residência ou no local de trabalho caracteriza o crime do artigo 12, se a arma não for registrada, enquanto o porte, em outros locais, caracteriza o crime do artigo 14, se o agente não tiver a devida autorização expedida pela Polícia Federal, ainda que a arma seja registrada. Já a arma de uso restrito, tanto a posse em residência, quanto o porte caracterizam crime mais grave, previsto no artigo 16,

caput da Lei n.º 10.826/03 (BRASIL, 2003)49. Se a arma estiver com a numeração

raspada, marca ou qualquer outro sinal identificador raspado, suprimido ou alterado, a posse ou porte caracterizará, indistintamente, o crime do artigo 16, parágrafo único, IV do Estatuto do Desarmamento.

O regulamento do estatuto do Desarmamento, Decreto n.º 5.123/04 (BRASIL,

2004)50, dispõe que as armas de uso permitido são aquelas cuja utilização pode ser

autorizada a pessoas físicas e as pessoas jurídicas, de acordo com as normas do Comando do Exército e nas condições estabelecidas no Estatuto do Desarmamento.

48BRASIL. Lei 10.826 de 23 de dezembro de 2003. 49BRASIL. Lei 10.826 de 23 de dezembro de 2003. 50BRASIL. Decreto 5.123 de 1º de JULHO de 2004.

(37)

Seu rol é disciplinado em ato do Chefe do Poder Executivo Federal, mediante proposta do Comando do Exercito, conforme artigo 23 do Estatuto do Desarmamento. Atualmente, o Rol de armas de uso permitido encontra-se no artigo

17 do Decreto n.º 3.665/00. (BRASIL, 2000)51

Victor Eduardo Rios Gonçalves (2006, p.105) explica que:

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O parágrafo único do artigo em comento torna inafiançável o crime de porte ilegal e arma de fogo, salvo se a arma estiver registrada em nome do agente, sendo ainda incabível a suspensão condicional do processo por se tratar de crime com pena mínima ser de 02 anos,o que impossibilita a aplicação do artigo 89 da Lei n.º

9.099/1995. (BRASIL, 1999)53

3.1.4 Disparo de arma de fogo

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Trata-se de delito de perigo abstrato, em que não é necessária a prova de que pessoas determinadas tenham sido expostas a risco. O perigo é presumido porque o disparo em via pública ou em direção a ela, por si só coloca em risco a coletividade.

O projétil tem de ser verdadeiro. Balas de festim não configuram a infração porque não causam perigo, nem mesmo em tese, conforme ensina Victor Eduardo

Rios Gonçalves. (2006, p.125)55

A Lei somente confere autonomia ao crime de disparo de arma de fogo quando essa conduta não tem como objetivo a prática de outro crime. Assim,

51BRASIL. Decreto 3.665 de 20 de novembro de 2000.

52GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Sinopses Jurídicas. Legislação Penal Especial. 2006. p.105. 53BRASIL. Lei 9.099 de 26 de setembro de 1995.

54BRASIL. Lei 10.826 de 23 de dezembro de 2003.

(38)

quando o disparo visa, por exemplo, matar ou lesionar alguém, o agente responsável por homicídio ou lesão corporal, consumados ou tentados, dependendo do resultado.

Quanto ao porte e disparo, existem duas correntes, segundo Victor Eduardo Rios Gonçalves:

A primeira seria no sentido de que o porte é crime meio para o disparo, e por isso fica sempre absolvido em face do princípio da consumação.

A segunda seria no sentido de que há absorção apenas quando fica provado que o agente só portou arma de fogo com a finalidade específica de efetuar

disparo.(GONÇALVES, 2006)56

O parágrafo único do artigo em comento veda a fiança no crime de disparo de arma de fogo, não havendo vedação de liberdade provisória.

3.1.5 Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito

-A : " 2 : ; <( 5 0 A( 0 : 8 $ 1 2 + ; 6 ++; 8D " ! "6 +++ ; & 8 " 6 +E ; 6 E ; & 6 E+ ; " " & ( ) *+, 9==<0CF

Nos tipos dos artigos 12 e 14 da presente Lei, podemos verificar a repressão de posse e porte de armas de uso permitido. O artigo 16 do Estatuto do Desarmamento equipara as condutas e as sanciona com maior gravidade quando se

56GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Sinopses Jurídicas. Legislação Penal Especial. 2006. p.126. 57BRASIL. Lei 10.826 de 23 de dezembro de 2003.

(39)

trata de arma de uso restrito. As penas são bastante grandes, sendo inclusive a pena máxima idêntica ao homicídio simples consumado.

Importante salientar que a pena que supera quatro anos não admite regime aberto inicial de cumprimento de pena, ou seja, a amplitude nos limites de pena trazidos pela lei deve ser tratada com especial atenção.

Seu rol é disciplinado em ato do Chefe do Poder Executivo Federal, mediante proposta do Comando do Exército, conforme artigo 23 do Estatuto do Desarmamento. Atualmente, o rol de armas de uso restrito encontra-se no artigo 16

do Decreto n.º 3665/00 (BRASIL, 2000)58.

As penas são para qualquer pessoa que incorra em quaisquer das 14 condutas típicas do caput do artigo em comento, assim como em qualquer um dos seus incisos.

O objeto material é a arma de fogo de uso restrito.

3.1.6 Comércio ilegal de arma de fogo

-F " & > " & " 2 : ; @( 0 / ( 0 : 8 $ # D > % & 5 ( ) *+, 9==<0C.

A grande peculiaridade da infração comentada é a especial qualidade do sujeito ativo, uma vez que o crime apenas pode ser praticado por aquele que exerce a atividade comercial ou industrial, assim entendida qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino. Se por um lado é possível que a atividade comercial seja exercida de forma irregular, por outro é necessária alguma habitualidade, não incidindo no presente artigo aquele que vende apenas uma arma, acessório ou munição. Para Gustavo Octaviano Diniz Junqueira “se o tipo buscasse alcançar toda venda, não haveria necessidade da fórmula no exercício

58BRASIL. Lei 3.335 de 20 de novembro de 2000. 59BRASIL. Lei 10.826 de 23 de dezembro de 2003.

(40)

de atividade comercial ou industrial.” (2006, p. 378)60 Caso não haja habitualidade

poderá ser penalizado o agente nas penas dos artigo 14 ou 16.

Vale relembrar que se a arma, munição ou acessório for de uso proibido, incide a causa de aumento do artigo 19.

É interessante lembrar que quem tem autorização do SINARM (conforme artigo 20 e 21 do Decreto 5.123 de 2004) para comercializar arma de fogo e realiza-las sem as comunicar, ou, vender armas de fogo sem observar os preceitos legais, estará cometendo o crime do artigo em comento.

3.1.7 Tráfico internacional de arma de fogo

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9==<0

A-Ainda na busca de prevenir, diminuir e controlar a circulação de armas de fogo no território nacional, a lei pune o tráfico internacional de arma de fogo.

Importar é fazer entrar em território nacional, assim como exportar é fazer sair. O tipo ainda prevê como relevante penal a conduta que favorecer de qualquer forma a entrada ou saída do território nacional de arma de fogo, acessório ou munição.

Explica Gustavo Octaviano Diniz Junqueira que:

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A9

Por ser uma legislação especial, em relação ao previsto no Código Penal Brasileiro, no artigo 334, o qual trata sobre contrabando e descaminho, prevalece o artigo 18 do Estatuto do Desarmamento sobra aquela.

60JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz; FULLER, Paulo Henrique Aranda. Legislação Penal

Especial. 2006.

61BRASIL. Lei 10.826 de 23 de dezembro de 2003.

62JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz; FULLER, Paulo Henrique Aranda. Legislação Penal

(41)

3.1.8 Aumento de pena

Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito.

(BRASIL, 2003)63

Algumas armas de fogo merecem especial atenção, pela especial potencialidade lesiva. São assim classificadas como de uso restrito, em decreto próprio, incrementando assim a dificuldade para aquisição e porte das mesmas.

Quando as condutas previstas no nos artigos 17 e 18 da Lei 10.826/03

(BRASIL, 2003)64, forem relacionadas com as armas de fogo, acessórios ou

munições de uso restrito, a pena será aumentada, pela maior potencialidade lesiva do próprio objeto, que causa assim maior ruptura no nível de segurança em relação de armas.

3.1.9 Aumento de pena para os agentes constantes nos artigos 6º,

7º e 8º do Estatuto do Desarmamento.

Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é aumentada da metade se forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos artigos. 6o, 7o e 8o desta Lei.” ( ) *+, 9==<0AC

Por terem uma maior facilidade em possuírem e portar arma de fogo, o legislador optou por penalizar de forma mais severa os agentes públicos e particulares constantes nos artigos 6º, 7º e 8º da Lei 10.826 de 2003.

3.1.10 O artigo 21 do Estatuto do Desarmamento

Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de liberdade provisória. ( ) *+, 9==<0AA

63BRASIL. Lei 10.826 de 23 de dezembro de 2003. 64BRASIL. Lei 10.826 de 23 de dezembro de 2003. 65BRASIL. Lei 10.826 de 23 de dezembro de 2003.

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