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Osteoporose em Implantodontia: o Estado Atual da Questão

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Osteoporose em Implantodontia: o

Estado Atual da Questão

Osteoporosis in Implantology: the Actual State of the

Question

Sérgio A. M. Ourique* André Yasumoto Ito** Omar F. Suarez***

Ourique SAM, Ito AY, Suarez OF. Osteoporose em implantodontia: o estado atual da questão. Rev Bras Implantodont Prótese Implant 2005: 12(47/48):237-45.

Aborda-se, neste estudo, alguns fatores ligados à manifestação da osteoporose como doença sistêmica e sua relação com a saúde do tecido ósseo bucal, orientando o cirurgião-dentista sobre as alterações no comportamento ósseo alveolar em pacientes acometidos por esta enfermidade e a possível relação da doença com o processo de osseointegração de implantes dentários.

PALAVRAS-CHAVE: Osso alveolar; Osteoporose; Implantes dentários.

* Especialista e Mestre em Prótese Dentária; Pós-Graduado em Prótese Dentária e Odontologia Estética pela New York University – NY – EUA; Livre Docente pela American Wolrd University of Iowa – EUA; Professor da EAP/ APCD/ São Paulo e Guarulhos – SP; Professor Adjunto da Universidade de Guarulhos – UNG – SP; Rua Dr. Félix, 100, Aclimação – 01533-030, São Paulo, SP; e-mail: sourique@uol.com.br.

** Cirurgião-dentista, especialista em Periodontia; Professor Assistente de Periodontia da Universidade Metropolitana de Santos – UNIMES – SP.

*** Director TMJ and Orofacial Pain Service-Department of Reumatology and Medicine Hospital for Joint Diseases – Orthopaedic Institute – NY – USA

INTRODUÇÃO

No processo natural de envelhecimento, todas as estruturas do organismo sofrem modifi cações passíveis de serem observadas clinicamente, acompanhadas por comprometimento gradativo, anatômico, estético e fun-cional. O periodonto de proteção e de sustentação sofre modifi cação no posicionamento da margem gengival, acompanhando a reabsorção do osso alveolar, em diferentes graus de intensidade.

Este processo se torna mais marcante após a quarta e quinta década de vida, acometendo tanto homens como mulheres, com pequenas variáveis de acordo com dieta, hábitos de higiene e fatores sistêmicos diversos, principalmente fatores locais associados à presença de placa bacteriana.

A osteoporose é uma das alterações sistêmicas que podem ocorrer durante a “fase madura” do indivíduo e se inicia de forma incipiente, a partir da terceira década de vida, modifi cando o metabolismo dos tecidos ósseos, interferindo na fi siologia do trabeculado ósseo do osso cortical e do osso alveolar, responsável pela sustentação do órgão dentário.

Em implantologia, torna-se importante o conhecimento desta alteração sistêmica, para que sejam tomadas medidas necessárias para minimizar os eventuais prejuízos provocados pela doença na integridade anatômi-ca, fi siológica e funcional do osso alveolar, munindo-se do cuidado necessário para o sucesso do processo de osseointegração, avaliando criteriosamente os potenciais fatores de risco.

REVISÃO DA LITERATURA

A anamnese bem conduzida, seguindo critérios médicos e odontológicos, funciona como um instrumento importante, efi ciente e imprescindível, norteando e organizando dados, sinais e sintomas de grande signifi ca-do e fornecenca-do informações que contribuem para a identifi cação de eventuais enfermidades e/ou alterações sistêmicas ou locais, ainda que pareçam dissociadas da queixa principal do paciente.

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funcionamento do organismo e de suas alterações, desde os meios de diagnóstico, como também a condução terapêutica, vêm postergando o apare-cimento e controlando a evolução de alterações degenerativas, comuns às pessoas de idade avan-çada. O ganho de longevidade implica em melhoria e/ou manutenção da qualidade de vida do idoso e inevitavelmente o sorriso, a apresentação pessoal e a capacidade mastigatória passam a fazer parte das exigências na terceira idade. A osteoporose, em suas diversas formas, manifestada isoladamente ou associada a outras enfermidades, representa um dos maiores e mais freqüentes problemas da população de maior idade.

Trata-se de patologia caracterizada histolo-gicamente pela redução signifi cativa da espessura e número de trabéculas ósseas, diminuindo dras-ticamente seu potencial de atividade osteogênica, levando à redução da massa óssea e desorganização da arquitetura trabecular, aumentando, em decor-rência, o risco de fraturas, de acordo com Francis-chetto et al. (1993).

A doença se inicia a partir da terceira e quarta década de vida, acometendo indivíduos de ambos os sexos e provoca perda óssea gradual, embora haja nítida evidência de aceleração deste processo no sexo feminino, particularmente a partir dos pri-meiros anos da quinta década de vida e é oportuno lembrar que a associação entre a menopausa e osteoporose é descrita em inúmeros estudos como os apresentados por Johnston, Epstein (1981).

É prudente observar que fatores de risco adi-cionais como hereditariedade, menopausa precoce, menopausa artifi cial, função testicular reduzida (hipogonadismo masculino), nulíparas, estados de reposição de estrógenos, uso de tabaco, álcool, ca-feína, obesidade, ausência de atividade física, etnia, alterações do nível de cálcio, estados de desnutrição, diminuição de níveis de vitamina D, elevação dos níveis de paratormônio e outros hormônios que, associados à menopausa, podem estar presentes na manifestação da osteoporose.

São também citadas por Johnston, Epstein (1981) interferências provocadas por medicamentos como corticosteróides, tetraciclinas, ciclosporinas, anticonvulsivantes, antiácidos, diuréticos,

hiperpa-ratireoidismo, tumores e neoplasias, imobilizações por longos períodos, Síndrome de Cushing, altera-ções renais e outras.

O diagnóstico das afecções dos tecidos ósseos tem sido feito de forma rotineira e satisfatória por exames complementares como a densitometria. A observação destes exames em estudos diversos sugere não existir padrões e dados estabelecidos como fi xos e universais de normalidade da qualidade e quantidade óssea, fi cando os resultados sujeitos a variáveis passiveis de interpretação de acordo com o peso, idade, sexo, etnia, expressando valores variáveis, impossibilitando a elaboração de tabelas rígidas e confi áveis.

São descritas diversas técnicas para a quan-tifi cação e qualifi cação da massa óssea, como a radiografi a morfométrica (obtenção de imagem e medidas ósseas) e fotoabsorcrometria (mensuração da massa óssea, principalmente cortical), defendidos por Chesnut, Wergedal, em 1975. A radiogrametria (mensuração da espessura cortical do osso metacar-po), tomografi a computadorizada (mensuração da massa óssea em cortes determinados), análise do nêutron ativado (medição da quantidade de cálcio no esqueleto ou em parte determinada dele), foram sugeridos por Johnston, Epstein, em 1981.

Bays, Weinstein indicaram em 1982 a foto-densitometria para quantifi cação do volume mineral ósseo e a fotoabsorcrometria e dual fotoabsormetria (Dexa – técnica de dupla fonte de raios X) foi reco-mendada por Cummings et al., em 1985.

Jackson, Kleerekoper, em 1990, sugeriram a associação dos diversos exames específi cos para estudos do tecido ósseo a exames do perfi l bioquí-mico, contagem sangüínea de plaquetas, soro de proteínas, testes funcionais da tireóide, LH, testos-terona, cálcio, cortisol e creatinina.

De acordo com o estudo de Jeffcoat, Chesnut, de 1993, Francischetto et al. e Baxter, Fattore, ambos de 1993, foi observada uma perda mineral óssea na ordem de 30% a 50% antes que as técni-cas radiográfi técni-cas convencionais fossem capazes de auxiliar na detecção da alteração.

Os trabalhos publicados por autores como Bays, Weinstein (1982), Kribbs, Chesnut (1984), Cummings et al. (1985), Francischetto et al. (1993),

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Baxter, Fattore (1993) sugerem que a perda óssea pode se apresentar com grande variação individual, muito embora o osso trabecular tenha a tendência a responder de maneira mais sensível às infl uências metabólicas do que o osso cortical.

É fundamental, entretanto, o entendimen-to dos fenômenos de reabsorção e neoformação óssea, como fenômenos dinâmicos que ocorrem simultaneamente pela ação dos osteoclastos e osteoblastos, de acordo com estímulos produzidos por fatores locais e sistêmicos, explicando, assim, o metabolismo ósseo.

Histologicamente, os osteoclastos são reco-nhecidos como células grandes, multinucleares, responsáveis pela atividade de reabsorção óssea, estimulados pela presença do paratormônio e a hipocalcemia, da mesma forma que são inibidos pelos estrógenos e a calcitonina, de acordo com Francischetto et al. (1993); Shapiro et al. (1985) e Jeffcoat, Chesnut, em 1993.

De acordo com a afi rmação de Francischetto et

al. (1993), os osteoblastos são células responsáveis

pela mineralização da matriz óssea, respondendo, quando estimulados pela presença de vitamina D e estados de hipercalcemia. Os autores esclarecem que a remodelação do metabolismo e estrutura óssea depende da atuação destes dois conjuntos celulares e dos fatores capazes de estimular ou inibir sua atividade.

Segundo Bueno (2004), os estrogênios exer-cem ação antiabsortiva em nível ósseo. Os estro-gênios ligam-se a receptores presentes nos osteo-blastos e inibem fatores que aumentam a atividade ostoclástica, como as citoquinas e interleucinas, de maneira a aumentar a formação óssea. Além disso, aumentam as concentrações de calcitonina, inibem a prostaglandina E, que é regulador local da formação de reabsorção óssea, aumentam o paratormônio e aumentam o número de receptores de progesterona nos osteoblastos.

Em pacientes portadores de osteoporose, é possível encontrar níveis de vitamina D diminuída e de paratormônio aumentado, evidenciando que a alteração destes dois fatores tidos como reguladores e mediadores do metabolismo ósseo é fato capaz de produzir interferência signifi cativa no

comportamen-to metabólico das estruturas ósseas, comportamen-tornando estes tecidos sujeitos a modifi cações em suas respostas biológicas, quando em presença de desajustes entre a concentração dos dois mediadores (Francischetto

et al., 1993).

Considerando-se a osteoporose como uma desordem metabólica importante e relativamente comum, parece ser relevante a classifi cação didá-tica, facilitando a compreensão desta desordem, capaz de alterar e fragilizar o equilíbrio ósseo e, esta sugestão, embora não seja consensual, repre-senta concordância de diversos autores e pode ser descrita como:

OSTEOPOROSE PRIMÁRIA

Menopáusica

Associada a baixos níveis de estrógeno, aco-mete mulheres após 15 a 20 anos do aparecimento da menopausa, interferindo predominantemente no osso trabecular, (Cummings et al., 1985; Francis-chetto et al., 1993; Baxter, Fattore, 1993).

Senil

Apresenta capacidade destrutiva igualmente ao osso trabecular e cortical, em ambos os sexos e em idades superiores a 70 anos (Baxter, Fattore, 1993).

OSTEOPOROSE SECUNDÁRIA

Pode apresentar-se como generalizada ou localizada e é causada por doenças ou estados que possam alterar direta ou indiretamente o metabo-lismo ósseo (Baxter, Fattore, 1993).

OSTEOPOROSE IDIOPÁTICA

Manifestação rara, que acomete ambos os se-xos, cujo mecanismo é pouco conhecido. A presença de níveis normais de cálcio não garante a ausência da osteoporose como talvez fosse previsível. Jo-nhston, Epstein, em 1981, afi rmam que pacientes portadores de níveis de cálcio tidos como normais podem apresentar a doença. Contrariamente, Spen-cer, Kramer em 1986, concluem que a ingestão de 1.000 a 1.500mg/dia de cálcio é capaz de prevenir o aparecimento da doença, atuando não só como

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medida profi lática, mas também como auxiliar no controle da doença quando já instalada.

Estudos associando à ingestão de cálcio e à reposição de hormônios estrógenos revelam que, se o cálcio quando ingerido isoladamente não é capaz de prevenir defi nitivamente o aparecimento de osteoporose, quando administrado juntamente com estrógenos levam a um aumento da massa óssea trabecular (Gordon, Vaughan, 1986; Jeffcoat, Chesnut, 1993).

A evidência de profunda relação entre densida-de óssea alveolar e volume total densida-de cálcio, encontrado em estudos apresentados por Shapiro et al. (1985) e corroborada por Jackson, Kleerekoper (1990), Roberts et al. (1991; 1992); Kribbs et al. (1989); Francischetto et al. (1993) e Baxter, Fattore (1993), e justifi ca a hipótese que, na ausência ou diminuição dos níveis de cálcio, há uma perda óssea qualitativa, capaz de levar a quadros de osteoporose.

A literatura relata sinais de correlação entre a administração de corticosteróides e o aparecimento e/ou agravamento da osteoporose, como afi rmam Spenser, Kramer em trabalho publicado em 1986, quando esclarecem que a perda de cálcio é induzida pela ação de corticosteróides. Gordon, Vaughan, em estudo apresentado no ano de 1986, estabelecem a relação entre corticosteróides e o metabolismo de cálcio, concluindo que a presença deste hormônio, produzido pelas glândulas supra-renais e adminis-trado como suporte medicamentoso, afeta direta e sensivelmente a normalidade de absorção do cálcio e seu depósito nas estruturas ósseas.

Estas evidências foram confi rmadas nos traba-lhos elaborados por Jackson, Kleerekoper em 1990 e também no ano de 1993 por Baxter, Fattore, e contestadas pelas observações de Smith et al., em 1992; Hildebrand et al., 1994 e Fujimoto et al., em 1998.

Se a osteoporose modifi ca o comportamento ósseo cortical e mais intensamente o tecido trabe-cular, há que se considerar as alterações e prejuízos causados por este quadro patológico em ossos como o maxilar e mandibular, particularmente em relação ao osso alveolar, que é eminentemente trabecular.

Os estudos direcionados à observação do metabolismo ósseo de interesse especial à prática

odontológica, em suas diversas especialidades, levam a indícios importantes, sinalizadores do comporta-mento biológico dos tecidos ósseos de todo o corpo humano, como os resultados obtidos por Hildebrand

et al., em 1994, denotando a susceptibilidade do

osso bucal a sofrer com alterações ósseas diversas, incluindo aí a osteoporose, com a concordância de Ulm et al., em 1995, quando afi rmam ter encontra-do reduções signifi cativas encontra-do reborencontra-do alveolar em pacientes acometidos por esta doença.

A alteração da crista óssea alveolar parece ser um indicador seguro de qualquer alteração no metabolismo ósseo corpóreo, como afi rmam Bays, Augusta, em 1983, cuja opinião foi corroborada posteriormente nos estudos de Kribbs et al., em 1993, quando encontraram alterações estruturais importantes na mandíbula de pacientes portadores de osteoporose.

Kribbs et al., em 1989, e Kribbs, em 1993, afi rmam ter encontrado signifi cativa correlação entre a altura do rebordo alveolar em relação à massa do esqueleto e a massa óssea mandibular, relacionando a perda de dentes com a diminuição da massa e densidade óssea em pacientes portadores de osteoporose.

Ainda assim não foi possível creditar a esta doença a responsabilidade ou co-participação em nenhuma das alterações periodontais apresentadas por estes pacientes, embora Hirai et al., em 1993, afi rmem que a reabsorção óssea bucal é tanto mais severa quanto mais grave for a osteoporose.

Estudos conduzidos por Jeffcoat, Chesnut e pu-blicados 1993 imputaram à osteoporose a gravidade pela perda óssea bucal, tornando a mandíbula mais sujeita à reabsorção óssea alveolar. O comprome-timento da massa óssea e a densidade tecidual na maxila e mandíbula em portadores de osteoporose podem causar aumento signifi cativo na taxa de perda óssea no osso que envolve os dentes.

De acordo com a literatura pertinente dispo-nível, fi ca clara a necessidade de investigação no exame inicial e anamnese de maneira cuidadosa, investigando o maior número de dados, sinais e sin-tomas, para que se estabeleça um perfi l minucioso da saúde geral e específi ca do paciente, particular-mente no idoso.

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As experiências clínicas, soberanas que são, mostram que muitas enfermidades e alterações no organismo evoluem de maneira subclínica, silen-ciosa e caberá à prudência e à conduta zelosa do profi ssional da saúde, médico ou Cirurgião-dentista conduzir todas as informações possíveis sobre a vida pregressa e atual do paciente, incluindo aí antece-dentes familiares, para identifi cação de eventuais desvios da normalidade.

O conhecimento do estado geral de saúde do paciente é fator sine qua non para que se evitem complicações quando da instalação de implantes osseointegrados, já que se busca a obtenção de conexão direta, estrutural e funcional entre o leito receptor e a superfície do implante (Adell et al. 1981).

De acordo com Shapiro et al., em 1985, o Cirurgião-dentista que se propõe a realizar implan-tes em pacienimplan-tes idosos deve estar consciente do impacto que as alterações sistêmicas podem gerar sobre o osso alveolar. Neste trabalho, são descritas como contra-indicações à instalação de implantes, o alcoolismo, dependência química, doença renal crônica, desordens hormonais, entre outras.

Divergindo desta afi rmativa, Rodriguez et al., em 1992, estudando um grupo de 16 mulheres por-tadoras de osteoporose que tiveram perda precoce de seus dentes, concluíram que a osteoporose gene-ralizada não tinha nenhuma relação com as perdas dentárias do grupo estudado e que assim sendo, esta doença não teria infl uência com doenças periodontais e comprometimento de implantes dentários.

Em 104 pacientes que receberam 313 implan-tes, Smith et al. (1992) não puderam relacionar como fatores de risco idade, sexo, hormônios ou corticosteróides.

Em 1992, Roberts et al. propuseram que a resposta óssea aos implantes pode estar ligada a sinais bioelétricos, biomecânicos e metabolismo mineral (hormônios, dieta e excreção), explicando que a resposta óssea ao implante envolve estágios fi siológicos de formação do calo ósseo, compactação e remodelação deste calo, remodelação da interfa-ce implante-osso, maturação do novo osso e esta remodelação óssea é responsável pela manutenção do implante.

Estes autores relacionaram a osteoporose, idade, sexo, raças, padrão hormonal, síntese de vitamina D diminuída, inibição da absorção de cálcio, aumento do paratormônio, glucocorticóides, anti-convulsivantes, tetraciclina, heparina, ciclosporina, nicotina, estrutura física frágil, defi ciência renal, menopausa, dismenorréia, álcool, cirrose e baixo consumo de cálcio como desordens metabólicas ósseas capazes de contra-indicar ou comprometer o sucesso do implante.

A osteoporose está relacionada com defi ciência do metabolismo ósseo, podendo comprometer a ne-oformação e reparação óssea ao redor do implante. Ainda assim, Dao et al., em 1993, demonstraram em estudos histomorfométricos que em muitos pacientes osteoporóticos, o remodelado ósseo apresentou-se com normalidade, podendo estar relacionado com as fases de fl utuação da doença, mostrando comportamento de normalidade na época de instalação do implante.

No trabalho destes autores, buscando relacio-namento entre idade e sexo como fatores de risco para implantes, não foi possível observar indício de fracasso que pudesse ser atribuído a estes fa-tores. Afi rmam, entretanto, que se a osteoporose realmente representasse risco, os fracassos es-tariam relacionados com o aumento de idade (e presumível aumento da osteoporose), o que não foi verifi cado.

Lecklolm (1985) apud Dao et al. (1993) afi rma que a taxa de fracasso tem sido maior na maxila em relação à mandíbula e também maior na região posterior que na anterior. Foi observado também que no osso tipo 4 (Figura 1), existe maior incidência de fracasso e mais osteoporose.

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Jeffcoat, Chesnut (1993) relacionam os fato-res de risco para perda óssea bucal e sistêmica da seguinte forma:

1. Periodontite: Idade avançada, fumo,

dia-betes, perda óssea sistêmica/osteoporose, placa bacteriana patogênica, disfunção de imunidade e uso de alguns medicamentos.

2. Osteoporose sistêmica: Idade

avança-da, fumo, uso de medicamentos, vida sedentária, menopausa, álcool, cafeína, pouco cálcio, fatores genéticos e baixo peso corpóreo.

3. Reabsorção residual da crista: Idade

avançada, perda de dente, anatomia da crista, uso de prótese total e fatores sistêmicos.

Frieberg, em 1994, publicou o relato de um caso de uma mulher portadora de osteoporose se-vera que foi submetida à instalação de implantes os-seointegrados. Houve diagnóstico de poliartrite, em 1955, que passou a ser tratada com corticosteróides, em 1960, seguida de várias cirurgias articulares.

Em 1987 e 1988, foram instalados implantes na maxila e mandíbula respectivamente. Nos anos seguintes, a osteoporose progrediu e a paciente teve uma diminuição de sua estatura de 12 cm, creditada a uma compressão da coluna cervical. Houve uma fratura de fêmur em 1992 e, em 1993, foram efetuados exames clínicos e radiográfi cos que

constataram estabilidade dos implantes, com perda óssea marginal mínima.

Este caso levou Frieberg (1994) a corroborar com Dao et al. (1993) que é possível que a oste-oporose, ainda que severa, pode não representar contra-indicação formal aos implantes dentários.

Em 1995, Stark, Epker, embasados na lite-ratura disponível, afi rmam que são raras as opor-tunidades que contra-indicam implantes dentários devido a doenças metabólicas preexistentes, em que a administração de alguns fármacos induza a defi ciências na osseointegração.

Ainda assim, estes autores acompanharam o caso de uma senhora de 75 anos com osteoporose, hipotireoidismo, tireoidectomizada, histerectomi-zada e vítima de algumas fraturas, que recebeu implantes osseointegrados. A paciente recebeu a prótese seis meses depois e foi monitorada durante o ano seguinte. Aproximadamente 24 meses após a instalação dos implantes, houve queixa de dor e pôde-se constatar perda óssea ao redor dos cinco implantes, levando à sua perda 10 meses depois.

A paciente relatou estar usando eridronato de sódio, difosfonato que interfere no metabolismo ósseo e é utilizado em pacientes portadores de osteoporose e Doença de Paget e esta observação o levou os autores à conclusão que pacientes sub-metidos a este tipo de terapia não devem receber implantes ou, para recebê-los, esta medicação deve ser suspensa ou substituída.

Em estudo conduzido por Fujimoto et al. (1996), o período de cicatrização parece ser esten-dido, embora a osseointegração aconteça de forma normal em pacientes portadores de osteoporose, desde que estejam diagnosticados e recebam acom-panhamentos adequados, contrariando a opinião de Blomqvlst et al. que, em 1996, encontraram evidências que complicações locais e gerais como a osteoporose devem ser consideradas como fatores de risco ao sucesso da osseointegração.

Hildebolt, em 1997, considerando estudos ra-diológicos, verifi cou associação entre perda óssea bucal e osteoporose em pacientes após 50 anos, de forma mais pronunciada em mulheres que em homens (1,5% e 0,9% por ano respectivamente) e potencializada pela doença periodontal.

FIGURA 1: Descrição macroscópica dos quatro tipos de

densidade óssea (Misch, 2000). D1 – Osso cortical denso.

D2 – Osso cortical espesso denso a poroso na crista do rebordo e trabecular fino no interior.

D3 – Osso cortical poroso e fino no rebordo envolvendo um osso trabecular fino.

D4 – Osso trabecular fino.

D5 – Osso imaturo não mineralizado.

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Nasu et al. (1998), em estudos radiográfi cos de implantes de titânio em mandíbulas de ratos, concluíram que há reparação pós-cirúrgica e ma-nutenção satisfatória do tecido ósseo ao redor dos implantes, mais rápida e evidente quando há ingestão de cálcio.

Fujimoto et al., em 1998, avaliou a adminis-tração de esteróides em coelhos submetidos a im-plantes de titânio na tíbia e na mandíbula. Após três meses, os animais foram sacrifi cados e foi possível observar que nos animais que receberam predni-solona (10mg/Kg/dia) 4 dias antes, 1 e 2 meses após a instalação dos implantes, necessitou-se de menor força para a remoção destes implantes, se comparados ao grupo controle, embora não tenha havido diferença da força necessária para remoção dos implantes na mandíbula de ambos os grupos. Estes dados sugerem que os esteróides produzem menor interferência no metabolismo ósseo da man-díbula se comparada a outros ossos do corpo.

De acordo com os relatos de Becker et al. (2000), a ocorrência de osteoporose tem sido des-crita por alguns autores como potencial fator de risco para o fracasso de implantes ósseointegrados. Ainda que estes autores sustentem argumentos que classi-fi cam esta enfermidade como contra-indicação total ou relativa para a implantologia oral, as evidências clínicas, segundo Becker et al. (2000), tornam estas afi rmações como limitadas e discutíveis.

No estudo conduzido por Becker et al. (2000), o autor sugere que sejam considerados qualidade e valor (tipo) de osso que irá receber o implante, uti-lizando-se, para tanto, de exames mais específi cos, como a tomografi a computadorizada.

Mais recentemente, Frieberg et al. (2001) esclarecem que as falhas nos implantes osseoin-tegrados Brånemark podem ser creditadas à qua-lidade pobre do osso das maxilas implantadas. Nesta investigação, buscou-se obter resultados de implantes instalados em pacientes osteoporóticos, efetuando-se 70 implantes do sistema descrito, com acompanhamento longitudinal de 3 anos e 4 meses. O resultado obtido representou uma porcentagem de sucesso da ordem de 97% para os implantes ins-talados na maxila e 97,3% para aqueles colocados na mandíbula, demonstrando que pacientes com

diagnóstico conclusivo de osteoporose são capazes de apresentar resultados satisfatórios a longo prazo, quando submetidos a terapias reabilitadoras por meio de implantes odontológicos.

Bianchi, Sanfi llipo, em 2002, afi rmam que o implante osseointegrado não é contra-indicado para pacientes com osteoporose. Relatam que é uma boa solução para pacientes que perderam seus dentes, sendo um procedimento melhor que uma prótese removível, que assim como a osteoporose, acelera o processo de reabsorção óssea. Foi demonstrado que além de o tecido ósseo ao redor do implante ter se ajustado morfologicamente e geometricamente, ocorreu um aumento da densidade óssea devido à estimulação mecânica que o osso necessita.

Degidi, Piatelli, em 2003, acompanharam um paciente de 65 anos com osteoporose, em quem foram realizados 4 implantes na região anterior da mandíbula, conectados por uma barra para suportar uma overdenture, com ativação imediata. Após 12 meses de acompanhamento, os 4 implantes apa-rentavam estar clinicamente osseointegrados, com ausência de mobilidade. Outro fator constatado foi a mínima reabsorção ao redor do implante. Com esse resultado, os autores concluíram que é possível pla-nejar e executar implantes imediatos em pacientes com osteoporose, ainda que eles reconheçam que são necessários mais estudos para sustentar estas evidências.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a literatura pertinente consul-tada, a ocorrência de alterações no metabolismo ósseo, caracterizando a osteoporose, é um assunto de grande interesse para a odontologia, de forma multidisciplinar, e deve fazer parte do conhecimento do cirurgião-dentista, capacitando este profi ssional a entender as alterações ósseas sistêmicas que aco-metem também os ossos maxilares, ainda que não haja consenso entre os diversos autores estudados, no que se refere à possível interferência e contra-indicação aos implantes osseointegrados.

A tendência atual, para a maioria dos autores, particularmente nos trabalhos mais recentes, suge-re o conhecimento do diagnóstico de osteoporose e a avaliação de sua gravidade, direcionando-se

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mais objetivamente à observação da qualidade do osso presente e a utilização de exames rotineiros pré-implante (radiografi as e tomografi as) do que propriamente à presença desta alteração do meta-bolismo ósseo.

Em vista destas informações, é prudente que

Ourique SAM, Ito AY, Suarez OF. Osteoporosis in implantology: the actual state of the question. Rev Bras Implantodont Prótese Implant 2005: 12 (47/48):237-45.

This article approaches the relationship between the osteoporosis and its manifestations as a systemic disease and the health of the oral bone, informing the dental practitioner (DDS) abaut possible the modifi cations in the alveolar bone, and its possible relationship in the osseointegration process. KEYWORDS: Alveolar Bone, osteoporosis, dental implants.

REFERÊNCIAS

o cirurgião-dentista tenha, como cuidado rotineiro, a atenção voltada para qualquer eventual alteração sistêmica potencialmente capaz de interferir no processo de osseointegração dos implantes den-tários, impedindo ou minimizando, desta forma, a ocorrência de fracassos.

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Recebido para publicação em:04/12/02 Enviado para análise em:25/03/03 Aceito para publicação em:28/10/05

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