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Fenologia de Heteropterys aphrodisiaca O. Mach. Malpighiaceae, em Mato Grosso

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Recebido para publicação em 06/12/2005 Aceito para publicação em 21/08/2007

Fenologia de Heteropterys aphrodisiaca O. Mach. – Malpighiaceae, em Mato Grosso

COELHO, M.F.B.1*; SPILLER, C.2

1Departamento de Ciências Vegetais, Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Km 47 da BR 110. Bairro Pres.

Costa e Silva.Mossoró-RN,CEP 59625-900, * coelhomfstrela@gmail.com 2UFMT-Instituto de Biociências. Av. Fernando Correa da Costa, s/n. Cuiabá-MT, CEP 78625-900

RESUMO: Este trabalho teve como objetivo caracterizar aspectos da fenologia de nó-de-cachorro

(Heteropterys aphrodisiaca O. Mach.) cultivada em Várzea Grande-MT, durante o período de janeiro de 2003 a agosto de 2004. Foram avaliadas quinzenalmente em 50 plantas da população as seguintes fenofases: brotamento, queda foliar, floração, frutificação e dispersão das sementes.

H. aphrodisiaca apresentou comportamento perenifólio desde que a queda foliar ocorreu ao mesmo

tempo em que o brotamento. O período de floração ocorreu durante a estação seca entre abril e agosto, em sincronia com a frutificação e dispersão das sementes. Ocorreu brotamento contínuo durante todo o período de estudo, sendo mais intenso no período chuvoso entre dezembro e março. A deciduidade foliar parece sofrer interferência direta da ausência de chuvas durante o período seco entre abril e agosto. Os índices de atividade e de intensidade de Fournier foram correspondentes e proporcionais, indicando elevado sincronismo intra-especifico das fenofases.

Palavras-chave: Heteropterys aphrodisiaca, fenologia, planta medicinal

ABSTRACT: Phenology of Heteropterys aphrodisiaca O. Mach. Malpighiaceae in Mato Grosso. This work had the objective of characterizing the phenological aspects of Heteropterys aphrodisiaca O. Mach. plants, cultivated in an experimental area at Varzea Grande, Mato Grosso

State, brazil, from December 2003 to August 2004. Fifty plants with approximately 13 months of age were chosen and were monitored biweekly twice a week, observing the occurrence of flowering, fructification, leaf flushing and leaf fall. H. aphrodisiaca presented a perennial behavior, since leaf fall occurred at the same time as leaf flushing. Budding occurred during the dry station between April and August, at the same time as fructification and seed dispersion. Leaf flushing was observed during all the study period; despite it was more intense in the rainy season between December and March. Leaf fall seemed to be affected by rain absence during the dry season between April and August. The activity index coincided with the Fournier intensity index.

Key words: Heteropterys aphrodisiaca, phenology, medicinal plant

INTRODUÇÃO

A fenologia é definida como o estudo do ritmo sazonal dos eventos que caracterizam os ciclos de vida (Rathcke & Lacey, 1985), ou atividade de plantas e animais, pois os seres vivos respondem biologicamente ao clima (Borgignon & Piccolo, 1981). Assim, a fenologia de uma espécie está ligada aos fatores ambientais e estes regulam os fenômenos biológicos (Barros & Caldas, 1980; Borgignon & Piccolo, 1981; Ribeiro et al., 1981). Segundo Alvim (1964), uma série de fatores, tais como, alternância

de períodos secos e úmidos, comprimento do dia e intensidade da radiação solar, além do próprio número de horas de insolação, pode influenciar nos processos fenológicos.

Mediante estudos fenológicos é possível prever a época de reprodução, deciduidade e ciclo de crescimento vegetativo, eventos que podem ser utilizados para o manejo adequado da flora (Ribeiro & Castro, 1986). Segundo Fournier (1974), uma boa compreensão da fenologia da planta que se cultiva é

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fundamental para o planejamento de reflorestamento. A informação fenológica deve ter um caráter quantitativo e deve cobrir todo o período de manifestação das características: início, plenitude e declínio.

Os eventos fenológicos envolvem nas plantas superiores, a germinação, crescimento, indução, estabelecimento e queda de dormência, produção e queda de folhas, indução e desenvolvimento de gemas florais, antese, produção e maturação dos frutos e dispersão de diásporos, entre outros fenômenos (Martins, 1982). De acordo com Rizzo et al. (1971), Barros & Caldas (1980), Mantovani & Martins (1988), são quatro as principais fenofases consideradas na maioria dos estudos em plantas: floração, frutificação, brotamento (folhas novas) e queda foliar.

Na maioria das espécies vegetais o crescimento é periódico e sazonal, embora predomine o hábito sempre verde (Sarmiento et al., 1985). Os hábitos decíduo e semidecíduo são freqüentes com a renovação das folhas ocorrendo na estação seca (Hopkins, 1970; Mantovani & Martins, 1988; Batalha & Mantovani, 2000). Espécies com flor podem ser encontradas durante todo ano, sendo que a maioria floresce na estação seca (Frankie et al. 1974) ou no início da estação chuvosa como indicam os estudos de Oliveira (1998) no cerrado.

Ribeiro et al. (1981), trabalhando com espécies nativas do Cerrado, salientam que um dos passos iniciais para o conhecimento e utilização destas espécies é o estudo de sua biologia, e em particular, o de sua fenologia. Os mesmos autores afirmam que dados sobre a fenologia são particularmente importantes, pois o conhecimento da época da floração, frutificação e produção, são fundamentais para embasar a coleta dos frutos e sementes para fins silviculturais, além de permitir posteriores trabalhos experimentais visando à identificação dos fatores responsáveis pelas transições fenológicas.

Heteropterys aphrodisiaca O. Mach., espécie

conhecida popularmente em Mato Grosso como nó-de-cachorro, é uma espécie usada para agravos nos sistemas reprodutivo (Hoehne, 1939; Morais, 2003), circulatório (Jorge, 2001; Morais, 2003), digestivo (Morais, 2003) e nervoso (Machado, 1949; Morais, 2003).

Estudos fitoquímicos comprovaram a presença de polifenóis, taninos condensados e hidrossolúveis, alcalóides, glicosídeos flavônicos, glicosídeos aromáticos simples, glicosídeos cardiotônicos e saponinas. Estão comprovadas suas propriedades no sistema nervoso, através de trabalhos de pesquisa realizados por Galvão (1997) e Galvão et al. (2002) sobre o efeito farmacológico e toxicológico dessa espécie em roedores jovens e idosos. Palazzo et al.(2000) verificou ação cicatrizante em ratos

ulcerados e Santos & Carlini (2000), testando o extrato de H. aphrodisiaca em ratos de três faixas etárias, constaram efeito afrodisíaco e estimulante sobre os ratos mais idosos.

Segundo Macedo & Ferreira (2000) não se conhece todo o ciclo vital de H. aphrodisiaca, e tampouco sua fenologia (Arruda, 2001). Por ser uma espécie muito extraída no estado de Mato Grosso e ter perspectiva de uso pela indústria farmacêutica, é necessário iniciar sua domesticação e cultivo. Este trabalho teve como objetivo fornecer informações sobre a fenologia de H. aphrodisiaca para facilitar posteriormente o seu cultivo.

MATERIAL E MÉTODO

O estudo foi realizado no campo experimental do Departamento de Agronomia do Centro Universitário de Várzea Grande-UNIVAG, em área de cerrado, no município de Várzea Grande-MT, situado a 192 m de altitude e coordenadas geográficas 15º 38’ 39,2’’ S e 56º 05’ 55,3’’ W.

Segundo Ferreira (1997), o clima é do tipo Aw, ou seja, tropical quente e subúmido, com temperatura média anual de 30ºC. As chuvas são concentradas no período de dezembro a março, com precipitação média anual de 2.057 mm. A umidade relativa do ar ultrapassa 80% entre novembro a março e cai para menos de 60% durante os meses de estio. A obtenção das sementes para o cultivo foi feita em 300 plantas de H. aphrodisiaca em Santo Antônio do Leverger-MT, durante os meses de junho a julho de 2002. Os frutos em desenvolvimento foram envolvidos em sacolas de filó para evitar a dispersão das sementes e a coleta efetuada de agosto e setembro de 2002. A semeadura foi realizada em setembro em caixas do tipo gerbox preenchidas com areia de rio lavada e mantidas em germinador à temperatura de 25ºC. Aos trinta dias após a semeadura, as plantas emergidas foram transferidas para sacolas de polietileno preenchidas com substrato de terra preta e casca de arroz carbonizada, na proporção de 1:1, sendo mantidas em casa-de-vegetação com sombrite 70% e irrigadas diariamente. Quando as plantas apresentavam seis a oito folhas, em janeiro de 2003, foram plantadas no espaçamento de 1,0 x 1,0 m, na área experimental da UNIVAG. Em dezembro de 2003 foram sorteadas 50 plantas com altura semelhante, que foram identificadas e numeradas com etiquetas de alumínio, e monitoradas quinzenalmente até agosto de 2004, para determinar a época de ocorrência das seguintes fenofases: a) floração - botão floral até antese, b) frutificação - frutos jovens e maduros, c) dispersão das sementes, d) brotamento - período em que ocorre o aparecimento de brotos até as expansão das folhas novas, e) queda foliar - período de perdas de folhas.

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Foi adotada a metodologia proposta por Fournier (1974), na qual se estabelece um índice de atividade e um índice de intensidade, ambos em porcentagem. O índice de atividade é a proporção de indivíduos com a fenofase, em cada período, sendo utilizado para avaliar a sincronia intra-específica. O índice de intensidade de Fournier é a variável a partir da qual os picos fenológicos podem ser evidenciados com maior precisão e refinamento representando melhor o comportamento fenológico das espécies (Bencke & Morellato, 2002). A escala de Fournier (1974) foi utilizada para quantificar visualmente a magnitude da produção de cada fenofase. A escala empregada vai de 0 a 4, onde “0” corresponde a produção nula, “1” a produção que cobre até 25% do dossel, “2” a produção que cobre entre 26% e 75% do dossel e “4” a produção que cobre mais de 76% do dossel.

Os dados referentes à precipitação pluviométrica, temperatura e umidade relativa do ar foram obtidos na Estação Meteorológica do Centro Universitário – UNIVAG em Várzea Grande-MT, durante o período de estudo.

RESULTADO E DISCUSSÃO

A área do estudo apresentou um período chuvoso e um marcante período de seca. A precipitação pluviométrica total durante os meses de observação foi de 2.023 mm, sendo os valores mais altos observados entre dezembro e março e os menores entre maio e agosto. O maior índice da umidade relativa do ar foi de 99% durante o mês de março e o menor índice de 59% em agosto (Figura 1). A temperatura máxima durante o período do experimento foi de 36,5ºC registrada em maio e a mínima de 12,5ºC registrada em junho (Figura 2).

05-D ec-0 3 20-D ec-0 3 04-J an-0 4 19-J an-0 4 03-F eb-0 4 18-F eb-0 4 04-M ar-0 4 19-M ar-0 4 03-A p r-04 18 -Ap r-04 03-M ay-0 4 18-M ay-0 4 02-J un -04 17-J un -04 02-J u l-04 17-J ul-04 01-A ug -04 Período 0 42 84 126 168 210 P re c ip it a ç ã o ( m m ) 50 60 70 80 90 100 U R ( % ) 64 67 64 91 93 95 99 61 89 95 93 84 94 85 82 59 157.9 199.1 87.3 71.9 202.3 135.2 179.6 163.3 56.1 74.9 77.2 43.2 0 16.3 0 10.8

FIGURA 1. Variação da precipitação quinzenal (linha contínua) e da média da umidade relativa do ar (UR, linha

pontilhada) em Várzea Grande MT durante o período de dezembro-2003 a agosto-2004.

05 -D ec -03 20 -D ec -03 04 -J an -04 19 -J an -04 03 -F eb -04 18 -F eb -04 04 -M ar-0 4 19 -M ar-0 4 03 -Ap r-04 18 -Ap r-04 03 -M ay -04 18 -M ay -04 02 -J un -04 17 -J un -04 02 -J ul-0 4 17 -J ul-0 4 01 -Au g -04 Período 10 15 20 25 30 35 40 T e m p e ra tu ra ( ºC ) 25 24 24 24 23 22.5 22 22.5 23.5 22.5 22.5 18.5 12.5 18 20 14 34.5 35 33.5 32.5 31.5 31 34 32 34.5 36 36.5 29.5 23 34.5 33.5 33 máxima  mínima

FIGURA 2. Variação da temperatura do ar (máxima e mínima) em Várzea Grande-MT durante o período de

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0 20 40 60 80 100

Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago

Período chuvoso Período seco

%

d

e

í

n

d

iv

íd

u

o

s

Floração Frutificação Brotamento Queda foliar

As características fenológicas apresentadas na população de nó-de-cachorro foram sazonais e sincrônicas, pois foram praticamente concomitantes ou pouco defasadas, evidenciadas durante a estação chuvosa e a estação seca. A população também apresentou comportamento perenifólio, pois 70% dos indivíduos que apresentavam queda foliar no período seco entre abril e agosto concomitantemente 30% apresentavam brotamento. Segundo Ribeiro et al. (1982), o comportamento perenifólio é caracterizado como pequena concentração de perda de folhas juntamente com a produção de folhas novas nos mesmos indivíduos durante o período seco do ano (Figura 3).

Estudos conduzidos com outras espécies também mostraram perda de folhas no período seco, concomitante com emissão de brotações. Joly & Felippe (1980) e Araújo et al. (1987), estudando a fenologia de diversas espécies de Cerrado do Distrito Federal e Minas Gerais, respectivamente, verificaram a produção de folhas novas no fim da estação da seca e no início da estação chuvosa. Ribeiro et al. (1982) observaram que o surgimento de folhas novas pode estar sincronizado com o início do período chuvoso. Oliveira (1991), Arrigoni (1993) e Ribeiro & Walter (1998) mostraram que no Cerrado sentido restrito em Planaltina-SP, a produção de folhas novas nas espécies perenifólias e caducifólias geralmente ocorre no período seco (maio a setembro). Sano et al. 1995 verificaram que a cagaiteira (Eugenia dysenterica Mart.), no Cerrado de Planaltina-DF, apresentou um comportamento perenifólio com perda de folhas no período seco, como também foi observado no presente estudo com a população de H. aphrodisiaca.

FIGURA 3. Freqüência de indivíduos de Heteropterys aphrodisiaca (n=50) com ocorrência das fenofases em

Várzea Grande-MT no período de dezembro-2003 a agosto-2004.

Estudos conduzidos com outras espécies também mostraram perda de folhas no período seco, concomitante com emissão de brotações. Joly & Felippe (1980) e Araújo et al. (1987), estudando a fenologia de diversas espécies de Cerrado do Distrito Federal e Minas Gerais, respectivamente, verificaram a produção de folhas novas no fim da estação da seca e no início da estação chuvosa. Ribeiro et al. (1982) observaram que o surgimento de folhas novas pode estar sincronizado com o início do período chuvoso. Oliveira (1991), Arrigoni (1993) e Ribeiro & Walter (1998) mostraram que no Cerrado sentido restrito em Planaltina-SP, a produção de folhas novas nas espécies perenifólias e caducifólias geralmente ocorre no período seco (maio a setembro). Sano et al. (1995) verificaram que a cagaiteira (Eugenia

dysenterica Mart.), no Cerrado de Planaltina-DF,

apresentou um comportamento perenifólio com perda de folhas no período seco, como também foi observado no presente estudo com a população de

H. aphrodisiaca.

A floração de H. aphrodisiaca teve início em abril com cerca de 15% de indivíduos com flores e atingiu o máximo de floração em agosto, com todos os seus indivíduos floridos (100%). O mesmo ocorreu com a fenofase de frutificação, que teve início em abril em sincronia com o período de floração sendo intensa a produção de frutos em agosto (Figura 3).

Piña-Rodrigues & Piratelli (1993) associaram a floração na época seca devido às condições propícias à dispersão do pólen em espécies anemofílicas. As espécies do Cerrado como

Campomanesia rufa (Arrigoni, 1993), e Magonia pubescens (Joly & Felippe, 1980), são exemplos de

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2 4 6 8 Período 0 20 40 60 80 100 % d e i n d iv íd u o s 2 4 6 8 Período 0 20 40 60 80 100 % d e i n d iv íd u o s C D J F M A M J J A D J F M A M J J A D

índice de atividade (% de individuos) índice de intensidade de Fournier (1974)

2 4 6 8 Período 0 20 40 60 80 100 % d e i n d iv id u o s A J F M A M J J A D 2 4 6 8 Período 0 20 40 60 80 100 % d e i n d iv íd u o s B J F M A M J J A D

FIGURA 4. Índice de atividade (% de indivíduos) e índice de intensidade de Fournier (1974) na população de Heteropterys aphrodisiaca (n=50) para A. Floração; B. Frutificação, C. Brotamento; D. Queda foliar, no período de

dezembro de 2003 a agosto de 2004 em Várzea Grande-MT. espécies que tipicamente produzem flores na estação

seca. Entretanto, Oliveira (1991) observou no cerrado, que a fenologia da floração é diferente dentro e entre grupos de plantas, pois existem plantas com flor durante todo o ano e algumas espécies com floração limitadas às condições climáticas, apresentando o período de floração restrita.

Mantovani (1983), trabalhando em Cerrados menos secos no limite sul (Moji Guaçu – SP), verificou um pico de floração no período chuvoso. De acordo com Mantovani & Martins (1988), a maior concentração de espécies florindo na época chuvosa estaria relacionada não só com o alto índice de pluviosidade e umidade relativa, mas também com temperaturas mais altas e fotoperíodos mais longos.

Aparentemente para algumas espécies do Cerrado, incluindo H. aphrodisiaca, a floração parece estar associada à disponibilidade de água e ao fator temperatura, e possivelmente essa pode ser uma característica própria das espécies na região.

De acordo com o padrão descrito por Piña-Rodrigues & Aguiar (1993), em espécies anemocóricas a produção e a maturação do fruto ocorrem em períodos mais curtos (dois a três meses). Além disso, a produção de frutos e sementes é abundante, geralmente concentrada em uma determinada época do ano e a maturação dos frutos é rápida, com pouca variação dentro do mesmo indivíduo. As épocas de maturação, dispersão dos frutos e sementes podem ocorrer no período de seca em algumas espécies como Tabebuia avellanedae,

Schyzolobium parahybum, Cedrela odorata, Cedrela fissilis, Cordia trichotoma entre outras.

Gottsberger & Silberbauer-Gottsberger (1983) e Oliveira & Moreira (1992) postularam que a estratégia de frutificação de espécies do Cerrado estaria relacionada com mecanismos de dispersão. Oliveira (1991) acrescentou que, geralmente, o período de desenvolvimento de frutos é decorrente de um ajustamento entre a fenologia de florescimento e o período de dispersão com suas restrições ambientais. O índice de atividade da população de H.

aphrodisiaca observada apresentou proporções

máximas para as fenofases de floração, frutificação e queda foliar, isso indica que nos meses de julho e agosto, os quais correspondem ao período seco, essas fenofases tiveram maior ocorrência em relação aos outros períodos. Na fenofase de brotamento, a proporção de indivíduos com a fenofase foi alta no período chuvoso entre dezembro e janeiro, embora tenha sido significativa nos demais períodos, o que revela que a espécie do estudo manteve crescimento e produção de folhas novas ou brotos ao longo do período observado.

Os mais altos índices de intensidade de Fournier ocorreram no período em que os índices de atividade foram mais elevados, ou seja, todos os indivíduos da população apresentaram determinada fenofase com maior intensidade (Figura 4). Neste estudo o máximo de intensidade alcançado por cada indivíduo da população foi de 25% do dossel com a fenofase.

Comparando-se os dois índices verifica-se que os picos de atividade e intensidade de Fournier coincidiram para a população de H. aphrodisiaca. Durante o mesmo período entre julho e agosto quando os indivíduos apresentavam-se 100% floridos e com frutos, o pico de intensidade para a fase reprodutiva

D J F M A M J J A D J F M A M J J A

D J F M A M J J A

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alcançou o maior valor (25%) e o pico de intensidade para a fase vegetativa alcançou 22,5%, embora tenha sido em períodos diferentes.

Na fenofase de floração Figura 4A e na fenofase de frutificação Figura 4B os índices de atividade e intensidade foram correspondentes e proporcionais, indicando elevado sincronismo intra-especifico.

A Figura 4C indica que houve crescimento de brotos e folhas novas ao longo de todo o período, porém, apresentou picos de atividade de 100% dos indivíduos com brotos no início do período chuvoso entre dezembro e março, caindo para 30% apenas de produção de brotos durante o período mais seco entre abril e agosto.

Durante o período chuvoso entre dezembro e março, apenas 15% dos indivíduos apresentavam perda de folhas, enquanto que 80% dos indivíduos apresentaram queda foliar no período mais seco entre abril e agosto, ou seja, houve uma variação considerável do número de indivíduos que apresentavam esta fenofase, devido principalmente, ocorrerem em função da disponibilidade de água nos períodos observados (Figura 4D).

O índice de intensidade de Fournier revelou um padrão contínuo de intensidade para fenofase queda foliar, indicando haver perda de folhas durante todo o período observado, contudo, houve uma intensidade alta de 22,5% no período seco.

A falta de coincidência entre os picos de atividade e intensidade tende a ser mais evidente nas fenofases vegetativas, porque nestas o incremento cumulativo na magnitude da fenofase é mais lento e gradual do que nas fenofases reprodutivas (Bencke & Morellato 2002).

Os resultados obtidos neste estudo são semelhantes aos de Gajardo & Morellato, (2003), que estudando espécies de Rubiaceae arbustivas de sub-bosque, observaram queda foliar em 38% dos indivíduos e baixa intensidade de Fournier (13%) no período de dezembro. A produção de brotos e folhas novas no mesmo estudo foi de 70% dos indivíduos durante o período de chuva (janeiro e fevereiro), com intensidade de Fournier alta de 49% no mesmo período.

Por outro lado, os resultados de Talora & Morellato (2000), estudando espécies de planície litorânea, foram diferentes. Os autores obtiveram padrões sazonais menos acentuados, pois as florestas são mais úmidas e as temperaturas mais amenas, e não há diferença significativa entre queda foliar e brotamento ao longo do ano, pois há disponibilidade de água durante todas as estações. Para a fenofase de floração e frutificação observaram apenas leve sazonalidade com presença de flores e frutos no período mais quente, devido ao aumento do fotoperíodo, decaindo em junho no período mais frio.

CONCLUSÂO

A população de H. aphrodisiaca em condição de cultivo apresentou comportamento perenifólio ou não decíduo, com floração durante a estação seca entre abril a agosto, em sincronia com o período de frutificação e dispersão das sementes. O brotamento, apesar de contínuo foi mais intenso no período chuvoso (dezembro a março), e o padrão de deciduidade foliar parece sofrer interferência direta da ausência de chuvas durante no período seco entre abril e agosto. Os índices de atividade e intensidade foram correspondentes e proporcionais, indicando elevado sincronismo intra-especifico nas fenofases.

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Referências

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