• Nenhum resultado encontrado

DISCURSO SOBRE A LÍNGUA E EFEITO DE COMUNIDADE

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "DISCURSO SOBRE A LÍNGUA E EFEITO DE COMUNIDADE"

Copied!
15
0
0

Texto

(1)

REVISTA CONVERSATIO – ISSN 2525-9709 Vol. 2 / Número 3 / Jan. / Jun. / 2017 44

DISCURSO SOBRE A LÍNGUA E EFEITO DE COMUNIDADE

Isabel Frantz 1 - Unochapecó

Resumo

Este artigo traz alguns resultados da pesquisa desenvolvida durante o mestrado em Estudos Linguísticos na Universidade Federal da Fronteira Sul2, em que procuramos compreender a formação imaginária e subjetividades em funcionamento na comunidade Língua Portuguesa na rede social Facebook. Para tanto, consideramos que o trabalho de interpretação exige que nos exponhamos à opacidade do texto, utilizando dispositivos teórico-analíticos desenvolvidos pela Análise de Discurso fundada, sobretudo, nos trabalhos de Michel Pêcheux e Eni Orlandi, associados à História das Ideias Linguísticas. Nessa perspectiva, ligamos o texto ao discurso, este às formações discursivas e estas às ideologias, o que nos permite compreender o trajeto em que se estabelecem os sentidos e os sujeitos pela inscrição da língua na história. Para a constituição do nosso corpus construímos um arquivo de postagens e comentários da comunidade Língua Portuguesa. O recorte para este trabalho é constituído pela análise da descrição dessa comunidade. A comunidade Língua Portuguesa foi fundada em 11 de agosto de 2011, num momento histórico em que são criados o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, a Comunidade dos países de Língua Portuguesa, a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, e é promulgado um novo Acordo Ortográfico, visando manter o imaginário de unidade que conforma sentidos para a Lusofonia. Depreendemos da materialidade de nosso recorte efeitos de sentidos conformados por essas políticas linguísticas de Estado filiadas ao discurso da Lusofonia, ao discurso pedagógico e ao discurso da norma, ao discurso purista.

Palavras-chave: Imaginário linguístico. Processos de subjetivação. Língua Portuguesa.

1. DO PERCURSO ANALÍTICO

Nas ciências da linguagem há várias formas de pesquisar os fenômenos linguísticos. Há modos de lidar com fenômenos linguísticos que trabalham com fatos e outros com dados. Discursivamente, trabalhamos com fatos linguísticos e não com dados. Para nós, isso “significa a possibilidade de trabalhar o processo de produção da linguagem e não apenas seus produtos” (ORLANDI, 1996, p. 209), trazendo a questão da historicidade para a reflexão.

Nosso objeto de estudo, fato linguístico que exige um gesto de interpretação, é o discurso. É importante frisar que, em nossa perspectiva teórica, o discurso não é

1

Mestre em Estudos Linguísticos, professora de inglês da rede pública municipal de Xaxim e de língua portuguesa na Universidade Comunitária da Região de Chapecó. E-mail: isafrantz@unochapeco.edu.br.

2

(2)

REVISTA CONVERSATIO – ISSN 2525-9709 Vol. 2 / Número 3 / Jan. / Jun. / 2017 45 a fala ou o texto, é “efeito de sentidos” (PÊCHEUX, 2010a, p. 81) entre locutores, conjugação da língua com a história pelo efeito ideológico (ORLANDI, 1996, p. 212). Para compreender o funcionamento do discurso e sua relação com os sujeitos e a ideologia, é necessário observar o interdiscurso. Este é o modo de funcionamento da memória pelo esquecimento, “um saber que não se transmite, não se aprende, não se ensina, e que, no entanto, existe produzindo efeitos” (PÊCHEUX, 2012, p. 43). O interdiscurso permite remeter o dizer a uma memória e identificar o dizer em sua historicidade, pois determina, pelo já-dito, aquilo que constitui uma formação discursiva em relação a outra (ORLANDI, 2012a, p. 43-44). Entendemos que é na/pela relação do dizer com a(s) formação(ões) discursiva(s) que se constituem os sentidos, ou melhor,

As palavras, expressões, proposições, etc., mudam de sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que as empregam, o que quer dizer que elas adquirem seu sentido em referência a essas posições, isto é, em referência às formações ideológicas (...) nas quais essas posições se inscrevem. (PÊCHEUX, 2009, p. 147, grifos do autor).

Desta forma, discursivamente, não podemos considerar a evidência de sentido, pois isso apagaria a historicidade de sua construção, não nos permitindo compreender a materialidade discursiva de nosso arquivo. Corroborando a tese de Pêcheux, Orlandi (2012a, p. 43-44) afirma que o discurso se constitui pela inscrição do dizer em uma formação discursiva e não outra, para ter um sentido e não outro. A autora continua, dizendo que o sentido não existe em si, na palavra, mas deriva de sentidos inscritos em formações discursivas.

Pêcheux denomina formação discursiva “aquilo que, numa formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição numa conjuntura dada, determinada pelo estado de luta de classes, determina o que pode e deve ser dito” (PÊCHEUX, 2009, p. 147). As formações discursivas representam as formações ideológicas no discurso, o que nos permite depreender que sujeitos e sentidos são sempre determinados ideologicamente. Orlandi (2012a, p.44) chama a atenção para o fato de que as formações discursivas são “constituídas pela contradição, são heterogêneas nelas mesmas e suas fronteiras são fluidas, configurando-se e reconfigurando-se continuamente em suas relações”. A formação discursiva funciona como lugar de articulação da língua com o discurso.

Os discursos constituem-se pelo trabalho da memória, e para depreender a relação do discurso com as formações discursivas e ideológicas que o constituem, precisamos analisar a materialidade do discurso. Lembramos que a materialidade

(3)

REVISTA CONVERSATIO – ISSN 2525-9709 Vol. 2 / Número 3 / Jan. / Jun. / 2017 46 não é somente o que está dito, ou o “dado” (ORLANDI, 2012d, p. 70), mas sim o que permite observar a ideologia, que funciona pelo inconsciente (Ibidem, p. 72), observando a relação da língua com a exterioridade. Novamente entra em questão a não evidência do sentido. É no entremeio da língua e da ideologia que está a materialidade e que se compreende como os sentidos são produzidos. É necessário um trabalho de interpretação a partir da materialidade linguística para compreender sua materialidade histórica.

Interessando-nos a materialidade linguístico-histórica, o funcionamento do discurso (ORLANDI, 2012a, p.64-65), para nossa análise construímos um arquivo. Denominamos como arquivo, em sentido mais amplo, o conjunto de documentos pertinentes e disponíveis sobre nossa questão de pesquisa (PÊCHEUX, 1994, p. 57). É pelo trabalho da interpretação sobre a materialidade do arquivo que chegamos ao processo discursivo, compreendendo em que formação discursiva e ideológica o discurso está inscrito.

O recorte deste trabalho se constitui em fragmento da situação discursiva que buscamos compreender, assim, o recorte constitui-se em um “gesto de interpretação” (ORLANDI, 2012c, p. 18). Compreendemos, com Orlandi, que “recortes são feitos na (e pela) situação de interlocução, aí compreendido um contexto (de interlocução) menos imediato: o da ideologia” (ORLANDI, 1984, p.14).

Pelo procedimento de recorte, selecionamos a sequência discursiva que interessa para nosso trabalho. Com Courtine, definimos sequências discursivas “como as seqüências orais ou escritas de dimensão superior à frase” (COURTINE, 2009, p.57), que deixam marcas do interdiscurso no intradiscurso. Em conformidade com o autor, consideramos que as sequências discursivas devem ser compreendidas como objeto “tomado num processo discursivo de reprodução/transformação dos enunciados no interior de uma dada FD [formação discursiva]: o estudo do intradiscurso que tal sequência manifesta é indissociável da

consideração do interdiscurso da FD” (COURTINE, 2009, p. 84, grifos do autor).

Nesse sentido, pela materialidade das sequências discursivas, podemos compreender a rede de formações discursivas e ideológicas em que o discurso se inscreve, o trajeto em que se estabelecem os sentidos e os sujeitos pela inscrição da língua na história.

As marcas de que tratamos em nosso processo analítico são propriedades discursivas que referem a língua à história para significar (ORLANDI, 2012a, p. 90) ou, como denomina Pêcheux (2009, p. 150), são traços do interdiscurso, reinscritos no discurso do próprio sujeito. As marcas se constituem pela inscrição da história na

(4)

REVISTA CONVERSATIO – ISSN 2525-9709 Vol. 2 / Número 3 / Jan. / Jun. / 2017 47 língua, representando a filiação do dizer a determinadas redes de sentidos. O dizer em si não é uma marca com propriedade discursiva, por isso interessa-nos interpretar o modo como as marcas estão no dizer, para depreender as formações discursivas e ideológicas a que o dizer está filiado.

O ponto de partida de nosso estudo começa no desejo de compreender os discursos sobre a Língua Portuguesa. Durante o início do trabalho de construção de arquivo, pesquisando, na internet, (sites, blogs, redes sociais e fóruns, entre outros) espaços de discussão sobre a língua, deparamo-nos com a comunidade Língua

Portuguesa, no Facebook. Passamos a construir outro arquivo, composto por

postagens e comentários dessa comunidade, publicados no período entre 11 de agosto de 2011, época em que a comunidade foi criada, e julho de 2013, quando encerramos a construção de nosso arquivo.

Vimos em nosso arquivo, a partir das regularidades que observamos, ao menos três imaginários em funcionamento:

1) O imaginário da correção. Exemplo: Figura 2: “Cuidado com este erro!”

Fonte: Comunidade Língua Portuguesa.

2) O imaginário da Lusofonia. Exemplo: A língua portuguesa hoje não pertence a um país. É tudo de mais precioso que une as pessoas no mundo da

lusofonia

3) O imaginário da globalização/mundialização da língua. Exemplo: Mais de 160.000 pessoas de países não lusófonos estão a aprender português, contribuindo para a sua “crescente afirmação como uma língua global”.

Cada um dos imaginários que identificamos resultou em um capítulo de nossa dissertação. Nos capítulos referentes aos imaginários, analisamos de que maneira cada um constitui a formação imaginária em funcionamento na comunidade analisada.

Pêcheux (2009, p. 165) afirma que o lugar de constituição do imaginário linguístico é o espaço de reformulação-paráfrase que caracteriza uma formação discursiva. É no/pelo funcionamento do interdiscurso, das redes de memória, que se

(5)

REVISTA CONVERSATIO – ISSN 2525-9709 Vol. 2 / Número 3 / Jan. / Jun. / 2017 48 constitui o imaginário linguístico. Orlandi (2008, p. 44) explica que o imaginário suspende “a relação da produção de sentido com o „seu lugar‟ para levá-lo para „outro‟ como se fosse o próprio, apagando a materialidade das condições de produção”. É no imaginário linguístico que se encontram os efeitos da ideologia na constituição do sujeito (e do sentido) na/pela linguagem.

Compreender o funcionamento do imaginário linguístico é compreender a formação imaginária a que ele se filia. A partir de uma reflexão sobre a teoria da comunicação de Jakobson, Pêcheux (2010a, p. 81) formula o que “o que funciona nos processos discursivos é uma série de formações imaginárias que designam o lugar que A e B se atribuem cada um a si e ao outro, a imagem que eles se fazem de seu próprio lugar e do lugar do outro” (grifos do autor). As imagens que resultam dessas projeções constituem as condições de produção do discurso, mas é importante “atravessar esse imaginário que condiciona os sujeitos em suas discursividades” (ORLANDI, 2012a, p. 42) para compreender o que está sendo dito.

Pêcheux (2012, p. 85) acrescenta à sua reflexão sobre formação imaginária que ela resulta “de processos discursivos anteriores (provenientes de outras condições de produção) que deixaram de funcionar mas que deram nascimento a „tomadas de posição‟ implícitas que asseguram a possibilidade do processo discursivo em foco”. Por isso, para compreender que imagem (formação imaginária) é produzida sobre a Língua Portuguesa na comunidade que analisamos e como os sujeitos são constituídos por essa imagem, foi necessário compreender o que foi dito antes, em outro lugar, e que ressoa, produzindo sentido, na discursividade da comunidade.

Orlandi (2003, p.14), aponta que “todo dizer se produz sobre um já-dito”, nossas palavras se produzem em uma memória. Com Pêcheux, compreendemos que

A memória seria aquilo que, face a um texto que surge como acontecimento a ler, vem restabelecer os “implícitos” (quer dizer, mais tecnicamente, os pré-construídos, elementos citados e relatados, discursos-transversos, etc.) de que sua leitura necessita: a condição do legível em relação ao próprio legível. (PÊCHEUX, 2010b, p. 52).

Assumimos, assim, que os sentidos se constroem nas relações de sentidos. Todo discurso se constitui pelo trabalho da memória discursiva, que funciona pelo esquecimento ou pelo dever de lembrar (ORLANDI, 2003, p. 15). O arquivo é o modo de funcionamento da memória pelo dever de lembrar. Segundo Orlandi (Ibidem), o arquivo é memória institucionalizada. Nele há um efeito de fechamento,

(6)

REVISTA CONVERSATIO – ISSN 2525-9709 Vol. 2 / Número 3 / Jan. / Jun. / 2017 49 que congela, organiza e distribui sentidos, ou seja, nele há uma estabilização de sentidos, que repousa sobre o que pode e, mais ainda, sobre o que deve ser dito.

Já o interdiscurso, ainda conforme Orlandi (Ibidem),funciona pelo esquecimento de que os sentidos não começam no sujeito e que, ao dizer, o sujeito se constitui pela inscrição na memória discursiva. É o esquecimento que permite que sentidos sejam reinscritos no discurso. Podemos, então, nos referir ao que Pêcheux postula sobre a reinscrição do já-dito no discurso pela ressignificação da memória, afirmando que

A memória tende a absorver o acontecimento, como uma série matemática prolonga-se conjeturando o termo seguinte em vista do começo da série, mas o acontecimento discursivo, provocando interrupção, pode desmanchar essa „regularização‟ e produzir retrospectivamente uma outra série sob a primeira, desmascarar o aparecimento de uma nova série que não estava constituída enquanto tal e que é assim o produto do acontecimento; o acontecimento, no caso, desloca e desregula os implícitos associados ao sistema de regularização anterior. (PÊCHEUX, 2010b, p. 52).

A regularização é da ordem da repetição, sentidos já produzidos são repetidos e retomados, regularizando-se. Quanto à desregulação, como formula Pêcheux, “todo enunciado é suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente de seu sentido para derivar para um outro” (PÊCHEUX, 2012, p. 53).

A memória é constitutiva do sujeito, sempre aberta, heterogênea, sujeita ao equívoco e à contradição, portanto, não é lugar de transparência e homogeneidade, mas lugar de estabilização e de movimento dos sentidos. Discursivamente, a memória é constituída, também, pelos sentidos não semanticamente estabilizados, desviantes, errantes, por processos discursivos cuja origem não é localizável no tempo e nem no espaço. Pela depreensão dos processos discursivos que constituem a comunidade que analisamos foi possível compreender a formação imaginária que constitui sujeitos e sentidos no Facebook.

2. O OBJETO E ALGUMAS REFLEXÕES

O Facebook, de acordo com Teixeira (2013), criado no dia 4 de fevereiro de 2004 por Mark Zuckerberg, Dustin Moskovitz e Chris Hughes, alunos da Universidade de Harvard, é a mais popular rede social da história. Seu nome origina-se da denominação do livro que circulava entre os calouros das universidades americanas e servia para que conhecessem seus colegas na instituição - um maço de páginas encadernadas, contendo fotos de estudantes e algumas informações sobre cada um. Desde o início, esta rede teve como objetivo configurar um espaço

(7)

REVISTA CONVERSATIO – ISSN 2525-9709 Vol. 2 / Número 3 / Jan. / Jun. / 2017 50 no qual as pessoas possam encontrar umas às outras, compartilhando informações, opiniões, vídeos e fotografias.

Criada em 11 de agosto de 2011, a comunidade Língua Portuguesa é administrada pela professora Maria do Céu, do Rio de Janeiro. A administradora da comunidade concluiu o curso de Letras com ênfase em Língua Portuguesa e Literatura de Língua Portuguesa pela Universidade Santa Úrsula, em 1997, e dá aulas particulares para alunos do ensino fundamental (1º ao 9º ano). Além da

comunidade, a professora administra um blog

(http://ceulinguaportuguesa.blogspot.com.br/), também dedicado ao português. Em nosso trabalho verificamos que a comunidade que analisamos foi criada em meio à produção de políticas linguísticas de Estado voltadas para a valorização e promoção nacional e internacional da Língua Portuguesa, visando manter o imaginário de unidade que conforma sentidos para a Lusofonia. Algumas ações dessas políticas linguísticas são a criação do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP); a criação da Comunidade dos países de Língua Portuguesa (CPLP); a criação da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab); e a promulgação do Acordo Ortográfico; dentre outras. Os sentidos que circulam na comunidade Língua Portuguesa se inscrevem nas discursividades dessas políticas linguísticas de Estado como veremos pela análise da sequência discursiva, que aparece no espaço destinado à descrição da comunidade:

Figura 3: Sobre a comunidade.

Fonte: Comunidade Língua Portuguesa.

Na guia “Sobre”, a comunidade Língua Portuguesa é identificada como “educação”. Isso filia a comunidade ao discurso pedagógico, que tem como função

(8)

REVISTA CONVERSATIO – ISSN 2525-9709 Vol. 2 / Número 3 / Jan. / Jun. / 2017 51 ser “um dizer institucionalizado, sobre as coisas, que se garante, garantindo a instituição em que se origina e para a qual tende” (ORLANDI, 2009b, p. 23). O dizer institucionalizado na comunidade é o dizer da norma gramatical da Língua Portuguesa.

A partir da reflexão de Orlandi (Ibidem), na prática da escola, sobre o discurso pedagógico, a autora passou a compreender que esse discurso não é neutro, e formulou, a partir disso, três tipos de discurso em funcionamento: o lúdico, o polêmico e o autoritário. De acordo com as condições de produção, Orlandi afirma que,

no discurso lúdico, há a expansão da polissemia pois o referente do discurso está exposto à presença dos interlocutores; no polêmico, a polissemia é controlada uma vez que os interlocutores procuram direcionar, cada um por si, o referente do discurso e, finalmente, no discurso autoritário há a contenção da polissemia, já que o agente do discurso se pretende único e oculta o referente pelo dizer. (Ibidem, p. 29).

Compreendemos que, no caso do discurso pedagógico identificado na comunidade, está em funcionamento o discurso autoritário, que contém a polissemia. A maioria das postagens da comunidade refere-se a questões ortográficas (como na Figura 2), em que funciona o imaginário linguístico da evidência da metalinguagem.

Percebemos o espaço da metalinguagem no discurso pedagógico identificado pela formulação “Cuidado com este erro!”, no caso da figura, e em outras postagens enuncia-se “o correto é...”. Esta noção de certo e errado, que funciona nas postagens, é criada pelo discurso do poder, tomando como referência a norma, o saber institucionalizado, e em conformidade com Orlandi (Ibidem, p. 29), compreendemos que o discurso pedagógico enquanto discurso autoritário “aparece como discurso do poder, isto é, como em R. Barthes, o discurso que cria a noção de erro e, portanto, o sentimento de culpa, falando, nesse discurso, uma voz segura e auto-suficiente” (Ibidem, p. 17).

Percebemos sentidos filiados ao discurso pedagógico (certo/errado) ressoarem na descrição da comunidade.

Sequência discursiva 1 (SD1):

Um espaço para os admiradores da LÍNGUA PORTUGUESA.

Junte-se a nós. Cuide do seu idioma. Fale e escreva corretamente.

Ao entrar na página da comunidade, os indivíduos são interpelados em sujeitos “admiradores da Língua Portuguesa”. A Língua Portuguesa é significada

(9)

REVISTA CONVERSATIO – ISSN 2525-9709 Vol. 2 / Número 3 / Jan. / Jun. / 2017 52 como uma. Na SD1, caracterizam-se os “admiradores”, como admiradores “da Língua Portuguesa”. Utiliza-se a preposição da, definindo que há somente uma Língua Portuguesa, não permitindo significar outra Língua Portuguesa como língua, mas, no máximo, significá-la como uma variação “da” língua que “herdamos” de Portugal. O imaginário de que há uma unidade linguística funciona na evidência de que há uma relação direta entre a língua fluida e a língua imaginária. No entanto, com Orlandi, entendemos que,

Em nosso imaginário (a língua imaginária) temos a impressão de uma língua estável, com unidade, regrada, sobre a qual, através do conhecimento de especialistas, podemos aprender, termos controle. Mas na realidade (língua fluida) não temos controle sobre a língua que falamos, ela não tem a unidade que imaginamos, não é clara e distinta, não tem os limites nos quais nos asseguramos, não a sabemos como imaginamos, ela é profundidade e movimento contínuo. Des-limite. (ORLANDI, 2009a, p. 18).

Desse modo, a relação entre a língua gramatical (imaginária) e a língua falada (língua fluida) não é direta, e só o parece por causa do imaginário em funcionamento. No caso da SD1, o imaginário identificado na preposição “da” conforma sentidos para a Lusofonia, significando como uma “a” Língua Portuguesa porque a evidência da semelhança faz desconhecer a distinta materialidade histórica, ou seja, é porque a Língua Portuguesa do Brasil e a Língua Portuguesa de Portugal são semelhantes em alguns aspectos, que não se percebem as diferenças históricas e se tomam as duas línguas como sendo uma só (ORLANDI, 2002a, p. 24). Esse é um efeito da história da colonização brasileira.

Além da unidade linguística, percebemos, na SD1, que a Língua Portuguesa é significada como objeto de admiração, tem “admiradores”. Mas o que significa ser “admirador” de uma língua? De acordo com uma das acepções do dicionário, o admirador é “2. Aquele que admira, que aprecia” (FERREIRA, 2009, p. 53) e as acepções para “admirar” são:

1. Olhar ou considerar com admiração, espanto, assombro. 2. Experimentar sentimento de admiração por.

4. Extasiar-se diante de.

6. Sentir admiração, surpresa, assombro, etc. (FERREIRA, 2009, p.

53).

Então o “admirador da Língua Portuguesa” é aquele que: olha com e sente admiração pela língua, experimenta sentimento de admiração pela língua, e extasia-se diante da língua. Cabe dizer, então, que extasia-ser “admirador” é ter um extasia-sentimento pela língua, de admiração, entendida como “3. Consideração, respeito, estima. 4. Afeição, inclinação, simpatia” (Ibidem).

(10)

REVISTA CONVERSATIO – ISSN 2525-9709 Vol. 2 / Número 3 / Jan. / Jun. / 2017 53 Orlandi (2005, p. 29), problematizando a questão da nomeação da língua falada no Brasil, comenta que a “língua que se fala toca os sujeitos em sua autonomia, em sua identidade, em sua autodeterminação”. No caso da comunidade que analisamos, o “admirador” não é, necessariamente, o falante da Língua Portuguesa, mesmo assim, de alguma forma a língua o tocou em sua identidade, produz um sentimento de “admiração”. O sentimento é reforçado pelo uso do pronome possessivo “seu” na injunção “Cuide do seu idioma”, interpelando o indivíduo em sujeito constituído pela Língua Portuguesa.

Ainda na SD1, verificamos que há quatro verbos funcionando no imperativo, interpelando os indivíduos em sujeitos. A partir do enunciado “Junte-se a nós”, o sujeito é interpelado a juntar-se a um “nós” e nos questionamos a quem ele se referia. Observando toda a SD1, compreendemos que o “nós” poderia ser reescrito como:

(1) “admiradores” da língua; (2) os que “cuidam” da língua;

(3) os que falam e escrevem “corretamente”.

Os enunciados da SD1 estão, em nível gradativo, diretamente relacionados. Os injuntivos da SD1, que interpelam o indivíduo, estão postos em sequência, o que permite relacioná-los. A possibilidade de reescrita do pronome “nós” como (1), (2) e (3) se dá pela compreensão de que

a produção do sentido é estritamente indissociável da relação de paráfrase entre sequências tais que a família parafrástica destas sequências constitui o que se poderia chamar a “matriz do sentido”. Isto equivale a dizer que é a partir da relação no interior desta família que se constitui o efeito de sentido, assim como a relação a um referente que implique este efeito. (FUCHS; PÊCHEUX, 2010, p. 166-167).

Há na paráfrase um processo de regularização de sentidos, efeito da inscrição da sequência em uma ou outra formação discursiva. Ainda segundo os autores, é pelo pertencimento da sequência a uma formação discursiva que se explica a possibilidade da sequência ter vários sentidos.

Na família parafrástica que analisamos, ser “admirador da língua” significa “cuidar” dela, falar e escrever “corretamente”, filiando os sentidos para admirador à perspectiva do purismo linguístico. A relação entre purismo e correção é corrente e encontra-se, por exemplo, em Câmara Jr.. O autor define purismo como

(11)

REVISTA CONVERSATIO – ISSN 2525-9709 Vol. 2 / Número 3 / Jan. / Jun. / 2017 54

uma atitude de extremado respeito às formas lingüísticas consagradas

pela tradição do idioma, que muitas vezes se assume na língua literária; a língua é considerada à maneira de uma água cristalina e pura, que não deve ser contaminada, daí a hostilidade aos estrangeirismos, aos

neologismos e a todas as formas linguísticas não autorizadas pelo uso literário tradicional. Essa atitude, adotada rigidamente, cerceia a capacidade expressiva. (CÂMARA JR., 2002, p. 202, grifos nossos).

O purismo linguístico se sustenta no que Orlandi (2009a, p. 18) propõe denominar de língua imaginária, a língua normatizada, impressa em instrumentos linguísticos. As “formas linguísticas consagradas pela tradição do idioma” são encontradas nas gramáticas, dicionários e outros instrumentos linguísticos. Não há espaço, nessa perspectiva, para as “formas linguísticas” usadas na fala, diferentes da norma, do padrão estabelecido pela “tradição do idioma”. A língua fluida é significada como aquilo que contamina a língua. Ser “admirador” é considerar apenas a língua imaginária, tanto na escrita quanto na fala, para “cuidar” desta “água cristalina e pura” e não contaminá-la.

Para compreender melhor que sentidos são produzidos para “admirador”, expomos a SD1 à sua opacidade pela paráfrase, visto que assim podemos “observar a relação entre diferentes [sentidos], tanto no interior das mesmas formações discursivas, como entre distintas formações discursivas” (ORLANDI, 2008, p. 48). Parafraseando, temos:

(1) Admiradores da Língua Portuguesa

(2) Corruptores da Língua Portuguesa

O fato de haver “admiradores” da língua possibilita formularmos a paráfrase (2). Enquanto no enunciado (1) a língua é objeto de admiração, de êxtase, na paráfrase (2) ela é objeto de corrupção. Em (1) funciona o imaginário de unidade linguística em que se considera haver uma relação direta entre a língua fluida e a língua imaginária. Havendo essa relação direta, não há corrupção da língua. A língua imaginária (gramatizada) não se corrompe na língua fluida (oral). Em (1) a língua é significada como idioma gramatizado, a norma padrão “da” Língua Portuguesa, remetendo ao purismo linguístico. Já em (2) a relação entre língua fluida e imaginária não é direta, há a possibilidade de se corromper a língua imaginária. Em (2), a língua é “contaminada” (CÂMARA JR., 2002, p. 202) com as “formas linguísticas não autorizadas pelo uso literário tradicional” (Ibidem).

(12)

REVISTA CONVERSATIO – ISSN 2525-9709 Vol. 2 / Número 3 / Jan. / Jun. / 2017 55 Dessa forma, em (1) temos os que “cuidam” da língua, falam e escrevem “corretamente”, sem corromper a língua imaginária. Os “corruptores”, em (2), são os que não cuidam da língua, os que corrompem (“contaminam”) a língua gramatizada, pois não falam e nem escrevem “corretamente”. O correto, na perspectiva purista a que os sentidos de (1) estão filiados, é o que está gramatizado, a norma, e tudo o que foge à norma é contaminação da língua.

3. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Depreendemos da materialidade de nosso recorte efeitos de sentidos conformados pelas políticas linguísticas de Estado (apresentadas na introdução) filiadas ao imaginário da lusofonia (em que se defende a unidade linguística) e ao imaginário da correção (em que se defende o “uso correto” e o zelo pela língua), ambos efeitos da colonização.

Os indivíduos são interpelados por esses imaginários como sujeitos “admiradores” dessa língua. Esse assujeitamento é efeito do trabalho da ideologia e do inconsciente, filiando o dizer à formação discursiva lusófona. Assim também é pelo trabalho da ideologia e do inconsciente que se constitui uma comunidade inscrita nessa formação discursiva.

DISCOURSE ABOUT LANGUAGE AND COMMUNITY EFFECT Abstract

This article brings some results of the research developed during the Master 's Degree in Linguistic Studies at the Federal University of South Frontier, in which we try to understand the imaginary formation and subjectivities in operation in the Portuguese Language community in the social network Facebook. For this, we consider that the work of interpretation requires that we expose ourselves to the opacity of the text, using theoretical-analytical devices developed by Discourse Analysis based, above all, on the works of Michel Pêcheux and Eni Orlandi, associated to the History of Linguistic Ideas. In this perspective, we link the text to the discourse, this to the discursive formations and these to the ideologies, which allows us to understand the path in which the senses and the subjects are established by the inscription of the language in history. For the constitution of our corpus we have built a file of posts and comments from the Portuguese language community. The cut for this work is constituted by the analysis of the description of this community. The Portuguese Language community was founded on August 11, 2011, at a historic moment in which the International Institute of the Portuguese Language, the Community of Portuguese-speaking Countries, the University of International Integration of Afro-Brazilian Lusophone, are created, and a new Orthographic Agreement is promulgated, aiming to maintain the imaginary of unity that shapes meanings for Lusophony. We infer from the materiality of our cut the effects of meanings conformed by these linguistic State policies affiliated to the discourse of Lusophony, to the pedagogical discourse and to the discourse of the norm, to the purist discourse.

(13)

REVISTA CONVERSATIO – ISSN 2525-9709 Vol. 2 / Número 3 / Jan. / Jun. / 2017 56

REFERÊNCIAS

COURTINE, Jean-Jacques. Análise do discurso político: o discurso comunista endereçado aos cristãos. São Carlos, SP: EdUFSCar, 2009.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua

Portuguesa. Coordenação Marina Baird Ferreira, Margarida dos Anjos. 4. ed.

Curitiba: Editora Positivo, 2009. Conforme a nova ortografia. Inclui bibliografia. 2120 p. ISBN: 9788538528258 (enc.).

FUCHS, Catherine; PÊCHEUX, Michel. A propósito da análise automática do discurso: atualização e perspectivas (1975). In: GADET, Françoise; HAK, Tony (org.). Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Tradução: Bethania S. Mariani... [et al.]. 4.ed., Campinas: Unicamp, 2010, p. 159 – 249.

LEANDRO FERREIRA, Maria Cristina (coord.). Glossário de termos do discurso:

projeto de pesquisa: a Aventura do texto na perspectiva da teoria do discurso: a posição do leitor-autor (1997-2001). Orientadora: Maria Cristina Leandro

Ferreira; Bolsista de Iniciação Científica Ana Boff de Godoy... [et al.] Porto Alegre: UFRGS. Instituto de Letras, 2001. Reimpressão: 2005.

Língua Portuguesa (comunidade). Disponível em:

<http://www.facebook.com/linguaportuguesa07?fref=tck>. Acesso em: 10 dez. 2013.

ORLANDI, Eni P. Segmentar ou recortar? Lingüística: questões e controvérsias. Uberaba, Fiube, 1984.

______. O lugar das sistematicidades lingüísticas na Análise de Discurso. D.E.L.T.A, São Paulo, v.10, n.2, 1994a, p.295-307.

______. Discurso, imaginário social e conhecimento. Em Aberto, Brasília, ano 14, n.61, jan./mar. 1994b.

______. Discurso: Fato, dado, exterioridade. In: CASTRO, Maria Fausta Pereira de.

O método e o dado no estudo da linguagem. Campinas, SP: Unicamp, 1996, p.

209-218.

______. Língua e conhecimento lingüístico: para uma história das idéias no Brasil. São Paulo: Cortez, 2002a.

______. A análise de discurso e seus entremeios: notas para a sua história no Brasil. Caderno de Estudos Lingüísticos (42), Campinas: Jan./Jun. 2002b.

(14)

REVISTA CONVERSATIO – ISSN 2525-9709 Vol. 2 / Número 3 / Jan. / Jun. / 2017 57 ______. Ler a Cidade: o Arquivo e a Memória. In: ORLANDI, Eni Puccinelli (org.).

Para uma Enciclopédia da Cidade. Campinas, SP: Pontes, Labeurb/ Unicamp,

2003, p. 07- 20.

______. A língua brasileira. Ciência e Cultura [online]. São Paulo, v.57, n.2, abr./jun. 2005, p. 29-30. ISSN 2317-6660. Disponível em:

<http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252005000200016&script=sci_arttext>. Acesso em: 25 out. 2013.

______. Terra à vista - discurso do confronto: velho e novo mundo. 2.ed. Campinas: Unicamp, 2008.

______. Língua Brasileira e outras histórias: discurso sobre a língua e ensino no Brasil. Campinas: Editora RG, 2009a.

______. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. 5.ed., Campinas, SP: Pontes, 2009b.

______. Análise do discurso: princípios e procedimentos. 10.ed. Campinas, SP: Pontes, 2012a.

______. Discurso e texto: formulação e circulação dos sentidos. 4.ed., Campinas, SP: Pontes Editores, 2012b.

______. Interpretação: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. 6.ed., Campinas, SP: Pontes Editores, 2012c.

______. Discurso em Análise: sujeito, sentido e ideologia. 2.ed., Campinas, SP: Pontes Editores, 2012d.

PÊCHEUX, Michel. Ler o arquivo hoje. In: ORLANDI, Eni P. (org.) [et al.]. Gestos de

leitura: da história no discurso. Tradução: Bethania S. Mariani... [et al.]. Campinas,

SP: Editora da Unicamp, 1994, p. 55-66.

______. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 4. ed. Tradução de Eni Puccinelli Orlandi... [et al.]. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2009.

______. Análise automática do discurso (AAD-69). In: GADET, Françoise; HAK, Tony (org.). Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Tradução: Bethania S. Mariani... [et al.]. 4.ed., Campinas: Unicamp, 2010a, p. 59-158.

(15)

REVISTA CONVERSATIO – ISSN 2525-9709 Vol. 2 / Número 3 / Jan. / Jun. / 2017 58 Tradução e introdução: José Horta Nunes. 3.ed., Campinas, SP: Pontes Editores, 2010b, p. 49-57.

______. O discurso: estrutura ou acontecimento. 6.ed. Campinas: Pontes, 2012.

SANTOS, Mário Ferreira dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. São Paulo: Editora Matese, 1963.

TEIXEIRA, Carlos Alberto. A origem do Facebook. Disponível em:

<http://oglobo.globo.com/tecnologia/a-origem-do-facebook-4934191>. Acesso em: 10 jun. 2013.

Referências

Documentos relacionados

Esperamos então com esse estudo ter contribuído de alguma forma, mesmo que de maneira simples, para o conhecimento de alguns dos problemas fonológicos do

A actual multiplicidade de países que assumem o Português como Língua oficial torna a nossa Língua comum politicamente muito mais relevante, sendo a quinta língua mais

As sementes foram avaliadas pelos testes de germinação, primeira contagem da germinação, comprimento de plântulas (parte aérea e raiz), fitomassa seca (parte

Introdução Pág. Solo em engenharia Cap. Rochas em engenharia Cap. Contenção lateral de solos Cap. Reconhecimento das características do terreno Cap. Critérios de dimensionamento

Com relação ao Word 97, assinale a opção correta, tendo como base a figura mostrada no texto CI-II.. A O botão permite ao usuário salvar o documento

A figura acima mostra uma janela do Windows Explorer, que está sendo executado em um computador cujo sistema operacional é o Windows 98. Com relação a essa figura, ao Windows Explorer

C As propriedades de login em redes Microsoft para estações Windows9x dizem respeito à configuração de validação de logon para os clientes da rede, que devem estar apontadas para

1.2. As bolsas de estudo não são válidas para os cursos de: Medicina; Odontologia; Hotelaria; Medicina Veterinária; Biomedicina; e Gastronomia. Ressaltamos que