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Número de casos de aids em pessoas acima de 60 anos é extremamente preocupante

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Academic year: 2021

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Entrevista

Número de casos de aids em pessoas acima de 60 anos é

extremamente preocupante

Texto: Guilherme Salgado Rocha Fotos: Denise Vida

psicólogo Nilo Martinez Fernandes, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, participou, de 28 a 31 de agosto, no Anhembi, em São Paulo, do IX Congresso Brasileiro de Prevenção das DST e AIDS; VI Fórum Latino-americano e do Caribe em HIV/AIDS e DST e V Fórum Comunitário Latino-americano e do Caribe em HIV/AIDS e DST, onde foi entrevistado para o Portal do Envelhecimento. Afirma que é um “grande equívoco” considerar a aids “controlada”, e lamenta o crescimento de casos em jovens de 15 a 24 anos.

Portal – Você nasceu, mora e trabalha no Rio de Janeiro?

Nilo – Exatamente. Nasci no dia 30 de março de 1952, no bairro de Jacarepaguá. Fiz 60 anos. Sou casado há 32 anos, tenho dois filhos: o Pablo é fisioterapeuta, e a Maira está cursando Medicina.

Portal – E sua formação?

Nilo – Primeiramente fiz o curso de Filosofia, que terminei em 1974. Depois cursei Psicologia, formei-me em 1981. Alguns anos depois fiz o mestrado em

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Saúde Pública – 2002. Atualmente estou no doutorado em Pesquisa Clínica, pelo Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz, conhecido como Ipec/Fiocruz. O objeto do meu estudo é a vulnerabilidade dos casais sorodiscordantes para o HIV/AIDS.

Portal – Começou então como psicólogo clínico?

Nilo - Desde 1982 trabalho com Psicologia. Comecei no acompanhamento domiciliar terapêutico, e depois da formação em Psicanálise, com consultório particular. Em 1986 fui aprovado por concurso público, e passei a trabalhar com saúde mental nos Hospitais Teixeira Brandão e Jurujuba. Em 1990, me transferi para o Programa de DST/AIDS da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, iniciando o percurso nas ações de prevenção de DST/AIDS. Tornei-me um dos consultores do Departamento de DST/AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde para a Área de Aconselhamento em DST/AIDS. Tive a honra de pertencer à equipe que elaborou o primeiro Manual de Aconselhamento em DST/AIDS do Brasil.

Portal – E aí entra a Fiocruz?

Nilo – Um pouco mais tarde. Em 1998, comecei a trabalhar com pesquisa em DST/AIDS no primeiro estudo de vacina anti-HIV, desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e o National Institute of Health (NIH), correlato norte-americano do Ministério da Saúde do Brasil. Lá não existe ministério, mas Institutos Nacionais de Saúde. A sede fica em Bethesda, Washington. Em 2002, aí sim, fui convidado pelo Ipec/Fiocruz para, por meio de uma bolsa de pesquisa, ser o coordenador das áreas de Aconselhamento em DST/AIDS e Educação Comunitária nas pesquisas do Ipec. Iniciamos o trabalho com uma pesquisa sobre a possibilidade de as medicações antirretrovirais - remédios para tratamento para pessoas com aids - serem utilizadas como forma de prevenção pelos casais sorodiscordantes para o HIV, em que um parceiro é positivo para o HIV e o outro é negativo. Finalmente, em 2005 fui aprovado, por concurso público, como funcionário do Ipec/Fiocruz. Esse é o meu percurso, de grande aprendizado.

Portal – Antes de começar a entrevista, você comentava sobre a aids presente entre os idosos. A que se deve isso? À desinformação?

Nilo – Os dados são mesmo muito impressionantes. No início dos anos 1980 havia 2847 casos de aids entre pessoas com 60 anos ou mais, casos notificados no Departamento de DST/AIDS do Ministério da Saúde. Em junho de 2011, chegamos a 13414 casos, nessa mesma faixa etária, um aumento de mais de 400%. São 8830 homens e 4584 mulheres. Embora esse número corresponda a cerca de apenas 2,2% do total de casos de aids na população geral, que são 608230, é extremamente preocupante.

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Nilo - A via sexual, sem dúvida, principalmente a heterossexual. Portal – E as razões para o crescimento desse número?

Nilo – O crescimento se deve a alguns fatores combinados. Do ponto de vista das pessoas com mais de 60 anos, elas têm a representação social da aids como doença que atinge apenas jovens e pessoas promíscuas, com vários parceiros sexuais, portanto, estariam fora dos “grupos de risco”.

Portal – Não usam o preservativo?

Nilo – É outro fator, não há dúvida. O preservativo não faz parte dessa geração. Portanto, não conhecem ou não sabem utilizá-lo. Finalmente, a melhora na qualidade de vida e saúde das pessoas dessa faixa etária e o advento dos medicamentos para impotência, como Viagra e outros, permitiram que se viva a vida afetiva e a sexualidade de maneira mais efetiva.

Portal – Os agentes de saúde se “assustaram” com esses números?

Nilo – Naqueles que trabalham com prevenção, havia o preconceito de achar que a geração dos nossos “avós” não fazia sexo. E esse grupo acabou sendo esquecido nas populações sob risco da infecção pelo HIV.

Portal - A aids continua como epidemia? É equívoco dizer que está controlada?

Nilo – Sim, isso é um equívoco. Não está controlada em hipótese alguma. Os Boletins Epidemiológicos, ano 2011, da UNAIDS, que é o Departamento de AIDS das Nações Unidas, e do Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde ressaltam que desde 1980, até junho de 2011, houve 34 milhões e 200 mil pessoas, em todo o mundo, vivendo com HIV e aids, e 608230 casos acumulados de aids no Brasil. Segundo esses mesmos dados, a epidemia está estabilizada. Isso não quer dizer que ela está controlada, mas que o número de novos casos não está aumentando e nem diminuindo.

Portal – Em nenhum lugar se constata aumento?

Nilo - Apenas em algumas regiões, como na África subsaariana e na Ásia, e na faixa etária de 15 a 24 anos está havendo aumento. O aumento nessas regiões se deve aos altos índices de pobreza e escolaridade, além da falta de acesso à informação.

Portal – E entre os jovens, a que se deve o aumento?

Nilo - O aumento de novos casos entre os 15 e 24 anos é realmente preocupante. Dois fatores contribuiriam para esse aumento: “banalização” do HIV pela geração que não viveu os piores momentos da aids, em que pessoas

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importantes e amigos morreram infectados pelo HIV. Outro fator seria um certo “otimismo”, algo como “a aids não é mais aquela!”, em relação à aids, por causa dos avanços no tratamento antirretroviral.

Portal – E ainda há, como você afirmava, a feminização da aids. Comente esse fato, por favor.

Nilo - O aumento de novos casos entre mulheres é igualmente preocupante. Em 1985, a proporção de casos de aids entre homens e mulheres era de 26 casos de homens com aids para uma mulher. Em 2011, esse número impressiona: para 1,7 caso de homens há uma mulher. A perspectiva é que as mulheres, em um futuro próximo, ultrapassem o número de homens com aids. Portal – Por quê?

Nilo - As mulheres estão muito vulneráveis porque acreditam que estão protegidas em suas relações amorosas fixas, e em uma sociedade machista não têm poder de negociação no relacionamento conjugal, principalmente no uso do preservativo. É preciso que as ações de prevenção desmistifiquem esses mitos existentes entre os jovens e as mulheres, que os colocam em posição de vulnerabilidade frente ao HIV/aids.

Portal - Quais os avanços em relação ao combate?

Nilo - Além dos avanços laboratoriais, com exames modernos de diagnóstico do HIV, contagem da quantidade do vírus no organismo (carga viral) e das células de defesa (CD4+) e no tratamento com mais de 20 antirretrovirais, as pesquisas recentes ressaltam o sucesso de novas tecnologias na prevenção. Elas mostram que o tratamento antirretroviral eficaz das pessoas que têm aids, tornando a carga viral indetectável, pode proteger em 96% o parceiro negativo, se caso em uma relação sexual o preservativo furar ou não for utilizado, por algum motivo. Outro estudo indica que pessoas que não têm o HIV e não conseguem utilizar o preservativo, se beneficiariam por tomar um antirretroviral chamado Truvada, que deu proteção contra a infecção pelo HIV entre 42% a 72%. Essa variação da proteção se deu pelo uso inconsistente da medicação que deveria ser usada todos os dias do mês. Assim, aqueles que utilizaram mais dias a medicação tiveram mais proteção, e aqueles que a utilizaram menos tiveram menos proteção. Essa tecnologia, chamada de profilaxia pré-exposição sexual, foi aprovada para uso pelo FDA, órgão que fiscaliza alimentos e remédios nos EUA, no dia 16 de agosto passado, deste ano de 2012, mas ainda não foi aprovada no Brasil. Outra tecnologia, a profilaxia pós-exposição sexual, que é o uso de antirretrovirais por 28 dias, está disponível no Brasil e no mundo em caso de um preservativo rasgar ou furar na relação sexual com pessoas com alto risco para o HIV.

Portal - Qual a importância dos voluntários nessa luta?

Nilo - As leis brasileiras que regulam as pesquisas com seres humanos são as mais rigorosas do mundo. Por exemplo, enquanto nos EUA uma pessoa pode

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receber para participar de uma pesquisa, no Brasil isso é proibido. O voluntário brasileiro pode receber apenas ajuda de transporte e alimentação para participar de uma pesquisa. Parece-me que a lei brasileira está corretíssima, porque sem ela acabaríamos por ter voluntários profissionais de pesquisa que, por interesse em receber o dinheiro, não se preocupariam com os riscos para a saúde envolvidos em certos estudos e perderiam a autonomia para escolher participar ou não. Desse modo, quem participa de pesquisa no Brasil são pessoas que de fato levam a fundo o sentimento de voluntariado. Devemos a milhares de pessoas anônimas os avanços da ciência e da medicina. Elas nos ensinam o verdadeiro sentido de solidariedade.

Portal – Cite, por favor, ao menos uma fonte de informação.

Nilo - Um site sério para tirar dúvidas é o do Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde: www.aids.gov.br.

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Guilherme Salgado Rocha - Jornalista e revisor. Formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) em 1979, tem 53 anos. Desde dezembro 2011 passou a integrar a equipe do Portal do Envelhecimento. E-mail:

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