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Revisitando o conceito de democracia: A participação política na sociedade na informação

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Academic year: 2021

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REVISITANDO O CONCEITO DE

DEMOCRACIA: A PARTICIPAÇÃO

POLÍTICA NA SOCIEDADE DA

INFORMAÇÃO

ANELINE DOS SANTOS ZIEMANN1

JORGE RENATO DOS REIS2

RESUMO

O presente texto teve como objetivo analisar a participação política na Sociedade da Informação e a possibilidade de adoção da democracia direta mediante a utilização do ferramental disponibilizado pelos meios informáticos. Com este objetivo, em um primeiro momento foi analisada a concepção de democracia e de participação política sob um viés histórico. Em um segundo momento, foi realizada uma revisão da concepção clássica de democracia, abordando-se a participação política e a legitimidade democrática. Por fim, foi realizada a análise dos aspectos conformadores da Sociedade da Informação, com o intuito de fazer uma revisitação do conceito de democracia. Concluiu-se, que o processo de participação política e democrática sofreu uma mudança após o advento da Sociedade da Informação. Esta mudança ocorreu nos meios de participar na esfera pública, por exemplo, através do uso de aplicativos entre outros meios. Concluiu-se, também, que os resultados desta mudança podem ser positivos ou não, conforme haja

1 Doutoranda em Direito na Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC com bolsa Capes/Prosup (Tipo II). Mestra em Direito pela UNISC, com bolsa Capes/Prosup (Tipo II) e com dupla titulação em Direitos Humanos pela Universidade do Minho (UMINHO, Portugal). Integrante do grupo de pesquisas “Intersecções Jurídicas entre o Público e o Privado”, sob coordenação do prof. Pós- Dr. Jorge Renato dos Reis, junto ao PPGD - UNISC. Advogada. Email: aneziemann@yahoo.com.br. 2 Pós-Doutor pela Università Degli Studi di Salerno-Itália. Doutor pela Universidade do

Vale do Rio dos Sinos. Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul. Especialista em Direito Privado pela Universidade de Santa Cruz do Sul. Graduado em Direito pelas Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul. Professor e Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Direito – Mestrado e Doutorado da UNISC. Professor na graduação da UNISC. Coordenador do Grupo de Pesquisa Direito de Autor no Constitucionalismo Contemporâneo. Autor de diversos artigos sobre o tema. É advogado atuante.

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uma consciência democrática e uma educação cidadã para a participação qualitativa e efetiva nos processos democráticos.

Palavras-chave: Democracia. Participação Política. Sociedade da

Informação.

ABSTRACT

This paper aimed to analyze the political participation in the information society and the possibility of adoption of direct democracy by using the tools made available by electronic means. For this purpose, at first it analyzed the concept of democracy and participation politician from a historical bias. In a second step, a revision of the classical conception of democracy was held, addressing to political participation and democratic legitimacy. Finally, we performed the analysis of conformers aspects of the information society, in order to make a revisiting of the concept of democracy. It was concluded that the process of political and democratic participation underwent a change after the advent of the Information Society. This change occurred in the media to participate in the public sphere, for example, by means of application use and other means. It was, also, that the results of this change can be positive or not, as there is a democratic awareness and civic education for the qualitative and effective participation in democratic processes.

Key-words: Democracy. Political Participation . Information Society.

1. INTRODUÇÃO

Repensar a democracia e sua conexão com a participação cidadã na esfera pública é a proposta do texto que se segue. O propósito maior é o de verificar se a chamada Sociedade da Informação impactou de alguma maneira na forma como os cidadãos participam da esfera pública.

Ao que tudo indica, sim. Fala-se, inclusive, de uma “nova esfera pública virtual». Mas, antes de mais nada, é necessário revisitar a noção de democracia em si mesma, recobrando os seus elementos conformadores. Mais do que isso, é necessário entender as formas pelas quais a democracia pode ser exercida: diretamente, indiretamente, semidiretamente, participativamente …

As recentes crises (de representatividade ou de legitimidade?) observadas no Brasil, os movimentos sociais que se articularam pela internet, a repercussão global destes eventos, o acompanhamento

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em tempo real das articulações em torno do processo de impeachment através do uso de smartphones, estas e outras situações hoje corriqueiras são exemplos desta nova forma de participar, de interagir e de retroalimentar a esfera pública.

Haveria espaço, inclusive, para a implementação da democracia direta? Os computadores pessoais poderiam ser vislumbrados como «urnas permanentemente abertas»? Mais do que isso, seriam estes meios eficazes o suficiente para qualificar os processos democráticos ou é necessário que haja uma cultura de democracia para que estes meios se tornem realmente eficazes?

Estas e outras reflexões serão realizadas nas linhas abaixo.

2. A CONCEPÇÃO DE DEMOCRACIA E DE PARTICIPAÇÃO

POLÍTICA: ANTECEDENTES HISTÓRICOS

Em um primeiro momento se faz necessário responder ao seguinte questionamento: o que é democracia? Além de buscar esta resposta, também se faz necessário compreender qual a relação, se é que ela existe, entre democracia e participação política. Com o objetivo de responder a tais questionamentos serão buscadas as noções mais elementares da concepção de democracia.

Já dizia Aristóteles que a partir da reunião de várias aldeias constituíram-se as cidades. Cidades estas que têm com objetivo não somente conservar a existência dos seus habitantes, mas também proporcionar-lhes o bem-estar. Afinal o homem é um animal cívico, mais do que qualquer outro animal já o tenha revelado ser. Inclusive, o filósofo menciona que o homem civilizado é o melhor de todos os animais, na mesma medida em que aquele que desconhece as leis e a justiça revela-se o pior de todos. (ARISTÓTELES, 2010)

Surgem desta “civilidade” um sem fim de problemas de convivência: quem decide quais problemas solucionar e como os solucionar, talvez seja o grande problema enfrentado por todas as teorias que investigam a organização do Estado e a política.

O Estado Democrático, seja social ou liberal, fundamenta-se no princípio da soberania popular, ou seja, demanda uma participação popular efetiva, não apenas por meio de instituições representativas, destaque-se, pois estas constituem apenas um estágio da evolução do Estado Democrático, mas não revelam seu desenvolvimento integral. No cenário brasileiro, a Constituição Federal de 1988 traz a palavra «democrática»como um qualificativo do Estado, disseminando, assim,

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os valores da democracia sobre a totalidade de elementos que conformam o Estado brasileiro. (SILVA, 2005)

A democracia pode ser compreendida como um meio de realização de valores intrínsecos à convivência humana. Por se tratar de um elemento histórico, seu conteúdo é modificado com o passar do tempo, porém não se altera o fato de repousar na vontade popular. Como explica José Afonso da Silva (2005, p. 126, grifo no original) «sob esse aspecto, a democracia não é um mero conceito político abstrato e estático, mas é um processo de afirmação do povo e de garantia dos direitos fundamentais que o povo vai conquistando do decorrer da história.”

Ou seja, percebe-se já de início que a apreensão de um «conceito» de democracia não pode se afastar do entendimento de que este próprio conceito é dinâmico e não estático, e, portanto, a compreensão que se tem de democracia é algo variável e mutável de acordo com o contexto histórico de cada local e época. É uma noção construída pelo povo de acordo com as sua história e de acordo com a sua cultura. Porém, o que parece não se alterar é que ao tratar de «democracia» necessariamente parte-se do pressuposto de que se considera a vontade e a participação popular como integrantes inafastáveis do processo de governança.

Este processo, inclusive, define e redefine a concepção de «povo». Isto porque partindo do pressuposto de que não há democracia sem governo do povo, fundamental se faz saber quem é o povo, e de que forma ele governa. A concepção de povo varia historicamente, pois embora a democracia seja sempre o governo do povo, não é sempre o governo do mesmo povo. Assim, a democracia na Grécia antiga não é a mesma democracia da atualidade, da mesma forma que a democracia capitalista se diferencia da democracia popular. (SILVA, 2005)

A respeito da busca de uma definição em torno do que venha a ser a democracia, Bobbio (2000) menciona que o único modo se alcançar um acordo a respeito da democracia (no sentido de contraposição às formas de governo autocrático) é considerá-la como um conjunto de regras que buscam determinar quem possui legitimidade para tomar as decisões coletivas e mediante quais procedimentos, já que todo o grupo social necessariamente deverá tomar decisões que vinculem a todos os seus membros, para que assim tenham condições de manter sua sobrevivência tanto interna como externamente.

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Importa pontuar que, para que seja possível alcançar uma mínima definição de democracia, não é suficiente a atribuição a um elevado número de cidadãos, do direito de participar direta ou indiretamente das decisões de caráter coletivo, nem mesmo é suficiente o estabelecimento de regras de procedimento (como a da maioria, ou mesmo da unanimidade). Além disso, torna-se indispensável mais uma condição: aqueles que são convocados a decidir, devem estar diante de alternativas reais entre as quais possam efetivamente escolher. Ou seja, é necessário que sejam garantidos aos cidadãos os chamados direitos de liberdade, de opinião, de reunião, de associação, entre outros. (BOBBIO, 2000)

Ainda sobre a democracia na obra de Bobbio, importa destacar a observação feita pelo cientista político, com relação à necessidade de transparência das ações dos governantes para que se possa, efetivamente, falar em democracia.

A democracia em seu nascedouro, teve como perspectiva a eliminação definitiva do «poder invisível»», ou seja, as ações do governo deveriam ser sempre públicas, visíveis. Aquilo que não é publicizado, naturalmente deve ocultar algo de errado, a exemplo do servidor público que pretende se apropriar do dinheiro público, mas certamente não o dirá em alto e bom som. Os atos do Poder Público devem ser conhecidos pelos cidadãos, inclusive para que estes possam controlá-los. (BOBBIO, 2000)

Como um jogo de palavras que se coloca, a definição do governo democrático poderia ser aquele governo do poder público que ocorre em público. A palavra «público» comporta dois significados distintos, ou seja, significa tanto aquilo que se contrapõe ao «privado», quanto aquilo que se contrapõe ao «secreto», «oculto», ou seja, público é aquilo que não é privado e que também é manifesto, visível. (BOBBIO, 2000)

Doutrinariamente, afirma-se que são os três princípios basilares da democracia: o princípio da maioria, o princípio da igualdade e o princípio da liberdade. Já de acordo com Aristóteles, a democracia contempla de um lado a questão do número, ou seja, da maioria sem, no entanto, abandonar as concepções de liberdade e de igualdade, ou seja, todos seriam considerados iguais. Inclusive, para Aristóteles, tão mais pronunciada seria a democracia quanto mais pronunciada fosse a liberdade. A questão da maioria, em verdade, não configura exatamente um princípio da democracia, mas sim uma técnica, podendo inclusive, ser substituída por outra, tanto que foi desenvolvida a técnica da representação proporcional. Ressalte-se,

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por oportuno, que uma análise cuidadosa revela que a maioria nem sempre diz respeito à maioria do povo, mas muitas vezes a uma maioria dominante. (SILVA, 2005)

Neste ponto, traga-se a lição de Jeans-Jacques Rousseau (2010), que trabalha a ideia de «vontade geral», que segundo o filósofo, seria diferente de «vontade de todos». A vontade geral seria a soma das vontades privadas, excluídas destas as que em menor ou maior grau se destroem reciprocamente, restando, então, a vontade geral. A vontade geral, diferente da vontade de todos, tenderia sempre à utilidade pública.

Há ainda uma questão que se coloca frente à compreensão do que seja a democracia: necessariamente, a democracia seria o melhor tipo de governo?

Para Aristóteles, a melhor o melhor governo é aquele no qual cada um possa encontrar a melhor forma de viver feliz. Ou seja, o Estado surgiu não apenas para que as pessoas vivam juntas, mas para que bem vivam juntas. Assim, quando o monarca, a maioria ou a minoria, buscam a felicidade geral, o governo é justo, mas a partir do momento em que a busca se concentra no interesse privado do príncipe ou de outro chefe, ocorreria, então, um desvio. Aristóteles menciona também, em determinado momento, que o Estado somente poderia ser feliz se mantivesse uma boa disciplina e virtudes. Assim, de acordo com o filósofo, seria necessário que aqueles que são iguais em algum ponto, não pretendam a igualdade absoluta (em tudo), e que as pessoas superiores em algum ponto, da mesma forma, não pretendam a superioridade absoluta. (ARISTÓTELES, 2010) Ou seja, Aristóteles pontua a necessidade de equilíbrio nas mais variadas áreas do convívio em sociedade.

Em sua conhecida obra, chamada “A Política», Aristóteles investiga os tipos de governo possíveis, abordando suas características e criticando suas inconsistências. Assim, a aristocracia teria como objeto primeiro o mérito, segundo qual os cargos mais altos seriam distribuídos. Já na oligarquia, a riqueza seria o objeto determinante, ao passo que na democracia, seria a liberdade o norte para a sua construção. Estes três governos, ressalte-se, decidem pela máxima da maioria, de forma que aquilo que for decidido pela maioria dos cidadãos passa a ter força de lei. (ARISTÓTELES, 2010)

Contemporaneamente, a forma pela qual o povo participa do poder repercute em três tipos de democracia, quais sejam, a direta, a indireta (ou representativa) e semidireta. A democracia indireta é

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aquela na qual o povo outorga as funções de governo para representantes, frente à impossibilidade de o fazer diretamente, em razão da extensão territorial, da multiplicidade de problemas sociais e da densidade demográfica. A democracia semidireta é representativa compreendendo também alguns institutos de participação direta do povo no governo. E na democracia direta, o povo exerce por si mesmo os poderes de governo. (SILVA, 2005) Em suma, importa ressaltar que «a democracia não teme, antes requer, a participação ampla do povo e de suas organizações de base no processo político e na ação governamental.» (SILVA, 2005, p. 136)

Importa mencionar que existem formas de “não participação que na verdade simulam a real participação, tais como a participação manipulada, a participação decorativa (por exemplo quando a participação ocorre pela troca de um brinde) e, ainda, a participação simbólica, que ocorre quando alguns indivíduos se manifestam, mas de maneira que esta manifestação em nada influência no curso de seu objeto. GORCZEVSKI; MARTIN, 2011) Percebe-se que a dissimulação dentro do âmbito democrático não necessariamente ocorre apenas por parte dos representantes eleitos, mas os próprios cidadãos podem dissimular seu interesse e participação política.

Quanto à participação do povo nas ações governamentais, importa que se destaque também a concepção de democracia participativa. Se a participação popular através das eleições realizam o princípio representativo, perante o qual o eleito recebe um mandato para agir em nome do povo, a democracia participativa ocorre mediante a realização do princípio participativo, ou seja, frente a participação cidadã direta e pessoal nos atos de governo. (SILVA, 2005)

No sentido de encerrar esta breve abordagem sobre a questão da «participação» nas questões políticas, traga-se a explicação de Gorczevski e Martin (2011, p. 120), a respeito do fundamento desta participação:

Mas, o que fundamenta a obediência e a participação em uma real sociedade política, composta de indivíduos livres? Para Hobbes a segurança individual era a razão do poder político. O indivíduo abre mão de sua liberdade individual e a transfere ao Estado para que esse a garanta, através da sua defesa contra os perigos externos e internos. Locke assevera que a garantia dos direitos naturais (vida, propriedade, liberdade) serve como fundamento determinante. Rousseau tenta fundamentar a legitimidade na maioria absoluta dos cidadãos, considerada como a vontade geral. Defende que os homens chegaram a esse estágio depois que os fatos que ameaçavam sua própria

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conservação no estado de natureza lhes levaram, por sobre as forças de cada indivíduo, a mudar seu modo de ser.

O próprio fundamento da participação política, percebe-se, é controverso e ocupa a atenção dos cientistas políticos desde os tempos mais remotos da civilização.

Bastante curiosa é a reflexão realizada por Aristóteles (2010) quando menciona a respeito da relatividade do melhor governo, ou seja, este deve ser o que convém a cada povo, pois nem todos os povos são suscetíveis do melhor. Salvo melhor juízo, compreende-se desta afirmação que a cada povo, considerando-se as suas peculiaridades é que se verificará qual seria o melhor governo, de forma que a ideia abstrata de melhor governo talvez não se adeque de maneira eficaz a todo e qualquer povos.

Ao analisar as causas das revoluções em cada tipo de Estado, Aristóteles (2010) menciona que o meio mais importante para a conservação do Estado, porém o mais negligenciado, é a combinação entre a educação dos cidadãos e a Constituição.

Ou seja, a percepção do quão relevante é a combinação entre esfera pública e participação dos indivíduos (particulares) na gerência desta esfera pública é um elemento decisivo para a própria conservação do Estado.

Enfim, estes primeiros aportes cuidaram de traçar uma breve perspectiva a respeito do conteúdo encerrado na ideia de «democracia», verificando-se, neste momento, a inafastabilidade das concepções de democracia e de participação popular, que caracterizam, em verdade, duas faces de uma mesma moeda. A democracia pode ser exercida de forma direta, indireta ou semidireta, sendo variável neste aspecto, mas invariavelmente deve contar com a participação popular efetiva. Não há democracia sem povo e sem participação popular.

3. PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E LEGITIMIDADE

DEMOCRÁTICA: UMA REVISÃO DA CONCEPÇÃO

CLÁSSICA DE DEMOCRACIA

Superados os primeiros aportes a respeito da concepção de democracia, buscar-se-á em um segundo momento relacionar a ideia de democracia à de participação política, buscando realizar uma revisão da noção clássica de democracia, de forma a alcançar uma percepção contemporânea a respeito da temática. A concepção e,

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especialmente, a prática da democracia, conforme mencionado anteriormente, se modifica diante da dinamicidade do contexto histórico. Ou seja, a democracia dos dias atuais necessariamente difere da democracia, por exemplo, da antiguidade. Portanto, necessário rever, diante das particularidades da sociedade contemporânea, o que é que se pode chamar de democracia e como ela ocorre nos dias de hoje.

O século XX, apesar de ter sido palco de muitos reveses contra a democracia (tais como a sua própria supressão por regimes totalitários em diversas ocasiões) foi também um momento de seu grande sucesso. Conforme explica Dahl, «o alcance global e a influência de idéias, instituições e práticas democráticas tornaram este século, de longe, o período mais florescente para a democracia na história do homem.» (DAHL, 2001) Considerando os riscos e desafios que se colocam frente à consolidação da democracia em diversas partes do globo, alguns elementos que a solidificam são apontados pelos estudiosos do assunto.

Dahl (2001), aponta as condições que são essenciais para a democracia e as condições que a favorecem. Aquelas que se mostram essenciais são: controle dos militares e da Polícia por funcionários eleitos, cultura política e convicções democráticas e nenhum controle estrangeiro hostil à democracia. Já as condições que embora não consideradas essenciais, favorecem a democracia, são: uma sociedade e uma economia de mercado modernas e o fraco pluralismo subcultural.

A democracia representativa enfrenta, atualmente diversos desafios. Exemplificativamente, é possível mencionar as questões que ultrapassam os limites da fronteira de um determinado país, como as questões ambientais. (GORCZEVSKI; MARTIN, 2011). Ainda neste sentido:

Outro desafio da democracia representativa é sua própria debilidade para resolver a questão da participação cidadã na vida social. Embora seja evidente que o cidadão comum não conhece sequer o funcionamento da sua prefeitura, o rechaço e a insatisfação ao sistema é contundente, e abre caminho aos novos movimentos sociais (GORCZEVSKI; MARTIN, 2011, p. 81)

Dito de outra forma, a distância crescente entre a representatividade e participação cidadã na vida social faz com que surja um verdadeiro abismo entre o simples «votar»e o «sentir-se representado».

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A respeito das crises na democracia, é importante lembrar que muito provavelmente todos os países democráticos enfrentarão, em algum momento, crises tão profundas a ponto de colocar em risco a sua estrutura democrática. Crises políticas, econômicas, internacionais, entre outras, podem refletir na própria estabilidade democrática. Os países que conseguem superar estas crises sem sucumbir a regimes totalitários, podem, inclusive, suplantar tais momentos críticos e fortalecer a sua democracia. Em momentos de crise, «as perspectivas para a democracia estável num país são melhores quando seus cidadãos e seus líderes apoiam vigorosamente as práticas, as idéias e os valores democráticos.» Ou seja, é mais provável a resistência a estes momentos críticos e incertos quando existe uma convicção pela democracia já inserida na cultura do país, em outras palavras, é mais provável que resista à crise quando já possui uma cultura democrática (DAHL, 2011),

Uma cultura política democrática ajudaria a formar cidadãos que acreditem no seguinte: democracia e igualdade política são objetivos desejáveis; o controle sobre militares e Polícia deve estar inteiramente nas mãos dos líderes eleitos; as instituições democráticas básicas descritas no Capítulo 8 devem ser mantidas; diferenças e desacordos políticos entre cidadãos devem ser tolerados e protegidos. (DAHL, 2011, p. 174)

Ou seja, reforça-se mais uma vez o entendimento de que a cultura de democracia é um diferencial determinante para a manutenção (ou não) do sistema democrático em momentos de crise.

De acordo com Lapierre (2003, posição 58, edição Kindle), uma sociedade não é apenas um agrupamento de pessoas, de maneira que, “una verdadera sociedad animal que está fundada sobre las atracciones mutuas de los indivíduos de la misma espécie, es decir, una única sociabilidad natural.” Interligados pela mesma sociabilidade, portanto, a sociedade nasce da existência de atrações e necessidades mútuas. Mas o que é que justifica a participação de um indivíduo (ou cidadão) na tomada de decisões políticas?

É pela razão lógica e racional de que todos estão submissos às consequências das decisões tomadas no âmbito político é que os indivíduos que vivem em sociedade, interagindo diariamente e influenciando, em maior ou menor medida a sociedade, ao mesmo tempo que é influenciado por ela. Além disso, a história revela que toda a comunidade é formada pela soma dos indivíduos com interesses comuns, interesses esses dos mais variados e os quais

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criam elos entre os indivíduos que se associam em busca da sua concretização. (GORCZE-

VSKI; MARTIN, 2011)

Questiona-se, atualmente, a respeito da possibilidade de uma retomada da ideia de participação direta na democracia. Isto porque, com a emergência da chamada «Sociedade da Informação», parece plausível cogitar da participação direta dos cidadãos mediante o uso de microcomputadores (ou mesmo, smartphones, por exemplo). Com o intuito de encerrar a breve abordagem aqui proposta, o próximo tópico deste texto fará uma análise do que vem a ser a «Sociedade da Informação» e de que forma o conceito de democracia pode ser revisitado a partir desta forma de sociedade.

4. A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E A PARTICIPAÇÃO

POLÍTICA: REVISITANDO O CONCEITO DE DEMOCRACIA

Certamente as últimas décadas trouxeram consigo profundas mudanças sociais. Mas muito provavelmente, a mais impactante delas tenha sido o surgimento do que se convencionou chamar de «Sociedade da Informação.»

A respeito deste contexto, Manuel Castells explica que “o nosso mundo está em processo de transformação estrutural desde há duas décadas”, e segue mencionando que “é um processo multidimensional, mas está associado à emergência de um novo paradigma tecnológico, baseado nas tecnologias de comunicação e informação, que começaram a tomar forma nos anos 60 e que se difundiram de forma desigual por todo o mundo.“ (CASTELLS, 2005, p. 17)3

A respeito da expressão «Sociedade da Informação» mencione-se que Manuel Castells diferencia as denominações “Sociedade da informação” e “Sociedade Informacional” entendendo que a segunda expressão seria a mais adequada, pois “indica o atributo de uma forma específica de organização social em que a geração, o processamento e a transmissão da informação tornam-se as fontes vitais de produtividade e poder, devido às novas condições tecnológicas surgidas nesse período histórico.” (WACHOWICZ, 2008, p. 300)

3 O trecho acima mencionado foi originalmente mencionado da dissertação de mestrado desta autora.

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Em suma, a “Sociedade da informação» nada mais é do que o estágio mais atual do desenvolvimento das telecomunicações, um estágio no qual o estar em constante contato, em tempo real, com pessoas, notícias, informações, etc., tornou-se regra e não mais excessão.4

Há, em suma, um nova esfera pública oportunizada pelo advento da internet, esfera esta que abre espaço para o aprimoramento do debate que já acontece de forma presencial, por exemplo, através dos plebiscitos ou das eleições. A construção do espaço público online presume a existência dos elementos: inclusão, transparência e universalidade. Inclusão por partir-se da premissa de que o ciberespaço é inclusivo na medida em que proporciona a livre manifestação do pensamento. Transparente na medida em que passando a ter acesso a informações antes inacessíveis, os internautas se tornem cidadãos politicamente mais ativos, conscientes e bem informados do que aqueles que não “frequentam” o espaço público virtual. E universal em virtude de que a internet é um sistema de comunicação interativo e sem fronteiras, sejam elas territoriais, linguísticas ou temporais. De pronto observa-se que há um desafio implícito, qual seja o de tornar efetivos estes elementos, notadamente a universalidade, considerando as dificuldades enfrentadas por pessoas em situações econômicas desfavoráveis. (OLIVEIRA; RODEGHERI, 2013)

Conforme explica Pérez Luño (2014), entre os acontecimentos mais relevantes atualmente, no que tange ao desenvolvimento das sociedades democráticas, estão os novos movimentos sociais. Estes movimentos têm se articulado através dos meios disponibilizados pelas novas tecnologias (NT) ou pelas tecnologias da informação e da comunicação (TIC)

Cada época atribui uma característica distinta às suas instituições políticas e jurídicas, sendo que contemporaneamente esta característica se dá justamente pela presença constante das NT e das TICs, nos mais variados âmbitos da vida. Notadamente no ambiente político e jurídico é possível notar uma maior incidência destas novas tecnologias nos últimos anos. (PÉREZ LUÑO, 2014)

4 Não esquecendo de pontuar, por oportuno, o atual estágio da democracia como ocorre contemporaneamente: «de qualquer maneira, a democracia, tal como a conhecemos hoje, é uma democracia representativa, baseada no sufrágio universal, livre, direto e secreto, no império da lei, na divisão de poderes e no respeito aos direitos humanos. Suas formas e procedimentos refletem a evolução das sociedades, ao menos a ocidental. “ (GORCZEVSKI; MARTIN, 2011,p. 81)

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“Teledemocracia” é o termo cunhado para denominar o conjunto de teorias e práticas em torno da influência das NT sobre a política, ou seja, trata-se da projeção das NT sobre os processos de participação política nas sociedades democráticas. Esta noção comporta três exigências básicas, quais sejam, metodologicamente, compreende a aplicação das NT em seu mais amplo espectro (televisão, informática, internet, etc.), quanto ao seu objeto, abrangendo os processos de participação política cidadã; e quanto ao seu contexto de aplicação o fato de que a teledemocracia somente se projeta em sociedades democráticas. (PÉREZ LUÑO, 2014) Há, ainda, uma expressão que parece guardar alguma relação com a teledemocracia, qual seja, a cibercidadania5.

A teledemocracia, no que tange ao seu objeto, projeta-se sobre os processos de participação política cidadã, sendo que este aspecto fundamental da teledemocracia é correspondente à cibercidadania. Tal conceito faz referência à proeminência das NT e Tics a exercício do sufrágio e demais questões referentes ao status cívico. Ou seja, trata-se, do aspecto mais amplo da teledemocracia. (PÉREZ LUÑO, 2014)

Entre as tantas situações que emergiram a partir da sociedade da informação, Manuel Catells (2005) menciona a emergência da comunicação sem obstáculos. Ou seja, a possibilidade de auto-organização sociopolítica em desafio à política formal. O sociólogo menciona os seguintes exemplos para que ilustram suas explanações:

Este foi o caso das campanhas políticas de revolta, como a campanha de Howard Dean, nos EUA em 2003-2004, ou das mentiras de José Maria Aznar sobre o terrorismo, expostas por milhares de jovens espanhóis, telemóbilizados com os seus telemóveis, e levando à derrota eleitoral dos conservadores espanhóis em Março de 2004. É por isso que de facto os governos são ambíguos em relação aos usos da Internet e das novas tecnologias. Eles apreciam os seus benefícios, porém temem perder o controlo da informação e da comunicação em cujo poder sempre se apoiaram. (CASTELLS, 2005, p. 29)

5 Existe uma variedade de expressões que remontam `a questão da sociedade da informação e sua incidência nas mais variadas esferas sociais. Assim ocorre com a expressão “cibercultura”, conforme explica Nascimento (2012, p. 94): “nessa linha de orientação, surge o que se pode denominar de cibercultura, ou seja, o conjunto tecnocultural emergente do final do século XX, impulsionado pela so- ciabilidade pós-moderna em sinergia com a microinformática e o aparecimento das redes telemáticas mundiais.”

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É o que o autor chama de democracia da comunicação, a qual em sendo aceita traria consigo a democracia direta, algo que até então não foi aceito por nenhum Estado ao longo da história. (CASTELLS, 2005) Destaque-se o receio dos Estados com relação à possibilidade de perda de controle do acesso à informações.

A respeito da possibilidade de implementação de uma democracia direta por meio do uso de computadores convém mencionar o alerta feito por Norberto Bobbio. O que a primeira vista pode parecer algo que colocaria nas mãos dos cidadãos uma maior possibilidade de controle do espaço público pode, em verdade, transformar-se na situação oposta.

Rousseu admitia que a democracia direta somente seria realizável nas pequenas repúblicas, ou seja, tratava-se de uma circunscrição bastante limitada, assim como a do Panopticon. Atualmente, porém, não é fantasioso sugerir o uso de computadores para fins de exercício da democracia direta6. Porém, assim como os cidadãos podem utilizar

esta ferramenta para “conhecer”o Estado, um Estado bem organizado pode também conhecer os seus cidadãos. (BOBBIO, 2000) Não se trata de uma previsão a se realizar, mas apenas de uma possibilidade que “seria de todo modo uma tendência oposta à que deu vida ao ideal da democracia como ideal do poder visível: a tendência não mais rumo ao máximo controle do poder por parte dos cidadãos, mas ao contrário rumo ao máximo controle dos súditos por parte de quem detém o poder. “ (BOBBIO, 2000, p. 105)

Manuel Castells (2015) aborda a questão da inserção de informações e dados pessoais na rede mundial de computadores e da utilização destas informações para fins de controle do cidadão, seja por parte do Estado, seja por parte do Capital:

Nesse mundo digitalizado e conectado, o Estado nos vigia e o Capital nos vende, ou seja, vende nossa vida transformada em dados. Vigiam-nos pelo nosso bem, para proteger-nos do mal. E nos vendem com nossa própria concordância, quando aceitamos cookies e confiamos nos bancos que nos permitem viver de crédito (e, portanto, julgam-se no direito de saber a quem fornecem cartão). Os dois processos, a vigilância

6 Neste sentido, menciona Pérez Luño (2014, p. 17): “hoy ya existen los medios técnicos, en épocas anteriores inimaginables, para dotar a cada domicilio de una pantalla conectada a una Red comunicativa universal (Internet) de teleproceso, de modo que cada ciudadano puede expresar instantáneamente, desde su pantalla de ordenador, su punto de vista sobre las cuestiones que se sometan a su elección, o sobre las que se recabe su opinión, optando en favor o en contra de ellas.”

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eletrônica maciça e a venda de dados pessoais como modelo de negócio, ampliaram-se exponencialmente na última década, pelo efeito da paranoia da segurança, a busca de formas para tornar a internet rentável e o desenvolvimento tecnológico da comunicação digital e do tratamento de dados.

Dito de outra forma, a acessibilidade criada pela internet, a facilidade da interceptação de informações e de divulgação de conteúdo na rede é uma “via de mão dupla”. Ao mesmo tempo em que este acesso pode ser feito pelos cidadãos no sentido de tornarem-se pessoas mais bem informadas, ponderadas, mais capazes de entender o contexto político e de decidir a partir dele, também o Estado pode utilizar as informações disponibilizadas pelos próprios cidadãos para, conhecendo suas inclinações e interesses, dirigir suas ações para aquilo que for de interesse do Estado (e não necessariamente dos governados). Os governados, via de regra, não passam por um filtro que selecione as informações que são disponibilizadas na internet, já o Estado, ao que tudo indica, age de maneira inversa, somente disponibilizando espontaneamente aquilo que for absolutamente conveniente a si mesmo.

Além disso, entre os estudiosos da telepolítica há o temor de que esta, em vez de proporcionar um maior amadurecimento dos cidadão, acabe por enfraquecer sua responsabilidade política, pois o crescimento na quantidade de informações não parece impactar em uma ampliação do conhecimento ou da capacidade crítica dos cidadãos. Para que se torne possível, efetivamente, a reflexão política de maneira responsável, são condições inafastáveis o repouso e a ponderação. E esta forma de operação não se compatibiliza com o modo de operar das NT, que, em verdade, opera na lógica das respostas urgentes e das conclusões simplificadas. Deve, portanto, haver uma maior reflexão a respeito dos benefícios que podem frutificar da utilização das NT, desde que de maneira responsável. (PÉREZ LUÑO, 2014)

No Brasil, um exemplo, entre tantos outros possíveis, e que demonstra a questão do maior acesso à informação e a consequente participação cidadã por meio da internet é o Portal da Transparência. Neste portal encontra-se o “E-cidadania”, que estimula os cidadãos a participar das atividades legislativas e orçamentárias do Senado Federal. (OLIVEIRA; RODEGHERI, 2013)

Outra ferramenta disponíveis no ambiente virtual, que não foram criadas pelo Poder Público, mas que se relacionam diretamente ao incremento das possibilidades de participação na esfera pública

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mediante o uso da internet são aplicativos como o «Meu Deputado». Este aplicativo, disponível para download no ITunes, « […] permite que você possa acompanhar os deputados federais com apenas alguns toques. Você pode ver informações referentes a presenças em sessões, despesas e votos em algumas leis”, além disso “ é possível comparar o comportamento dos deputados além de acessar um ranking com filtros personalizados que permite viualização dos maiores gastos mensais em cada área”. (APLICATIVO MEU DEPUTADO, ITUNES, 2016) Esta ferramenta institui uma forma de, com extrema facilidade, acompanhar as ações tomadas pelo representante eleito para a Câmara dos Deputados, o que, de outra forma, demandaria uma maior disponibilidade de tempo para tanto.

Mais uma ferramenta bastante interessante que surgiu especialmente diante da crise política vivenciada no Brasil no corrente ano de 2016, é o Mapa do Impeachment. Este «mapa»» disponível na internet» é uma ferramenta criada pelo movimento «Vem pra Rua»7 com o intuito de mobilizar a sociedade civil a

respeito do impeachment da Presidente Dilma Roussef, buscando transparecer a posição dos parlamentares a respeito deste assunto. O sítio virtual do movimento, convida “ sempre que tiver 5 minutos livres e quiser exercer cidadania, cobre de um político seu posicionamento”. (MAPA DO IMPEACHMENT, 2016)

Entre os que desqualificam a teledemocracia, são comumente apontadas três espécies de riscos que seria inerentes à esta forma de democracia, os riscos políticos, o s jurídicos e os morais. No que tange ao risco político, destaque-se a tese de que as novas tecnologias promovam uma despersonalização do cidadão e a sua alienação política, isto diante do esvaziamento de estruturas intermediárias entre o Estado e o indivíduo, tais como os partidos e os sindicatos, entre outras. Os riscos jurídicos estariam relacionados ao fato de que o processo legislativo seria unicamente teledemocrático, ou seja, haveria uma supressão de algumas formas de debate, como a

7 O Vem Pra Rua é um movimento suprapartidário, democrático e plural que surgiu da organização espontânea da sociedade civil para lutar por um Brasil melhor. Brasileiros de todas as regiões do país, de todas as classes sociais e de todas as idades passaram a se mobilizar, desde o final de 2014, contra a grave situação econômica, política e social pela qual passamos. Preocupados com os rumos que tomava a política brasileira, sequestrada que estava e está por gente incompetente, despreparada e sem compromissos com o país, alarmados com os casos de corrupção de proporção cada vez mais gigantesca, que consomem nossas riquezas e energias como Nação, e indignados com o agravamento da crise econômica – com suas consequências sociais –,

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reanálise de emendas. Contando com a participação direta neste processo, poderia haver a perda da qualidade das leis. Há ainda a possibilidade de violação e manipulação do sistema teledemocrático (hackers). Por fim, no que tange aos riscos morais da teledemocracia, haveria o risco de esvaziamento de valores comunitários e das relações solidárias.

(NASCIMENTO, 2012)

Como explica Pérez Luño (2014, p. 34) a este respeito, « internet implica, por tanto, el riesgo de un efecto multiplicador de los atentados contra derechos, bienes e intereses jurídicos”, e segue explicado que “[…] su potencialidad en la difusión ilimitada de imágenes e informaciones la hace un vehículo especialmente poderoso para perpetrar atentados criminales contra bienes jurídicos básicos: La intimidad, la imagen, la dignidad y el honor de las personas, la libertad sexual, la propiedad intelectual e industrial,[…]” entre outros.

Mas afastando do pensamento as possibilidades mais negativas trazidas pela incidências NT na participação política e cidadã, verifique-se em que medida esta situação poderia ser positiva em termos de fortalecimento da democracia.

Os reflexos as NT não se resumem aos processos eleitorais mas, antes disso, espalham-se por sobre todo um complexo de relações tra-

nós, cidadãos brasileiros, não podemos deixar que a política seja feita apenas nos gabinetes: já era hora de a política tomar as ruas! Foi por isso que o Vem Pra Rua levou, juntamente com outros movimentos da sociedade civil, mais de 2 milhões de pessoas às ruas de todo o Brasil em 4 grandes manifestações contra a corrupção e o desgoverno que ameaçam nossa sociedade.”(VEM PRA RUA, 2016) vadas entre os poderes públicos e os cidadãos. Exemplo disso é a possibilidade de uma comunicação direta entra Administração Pública e administrados o que, consequentemente, poderia tomar a direção de uma maior profundidade democrática, mais transparência e eficiência na prestação de serviços públicos, tal como ocorre nas experiências de países anglo-saxônicos e escandinavos. (PÉREZ LUÑO, 2014)

Torna-se possível, em suma, a verificação direta e imediata, através de votação instantânea, da vontade dos governados. Desta forma, o contrato social deixa de ser uma ideia subentendida de legitimação política e passa a ser uma experiência passível de comprovação prática. Estes referendos permanentes e instantâneos convertem as

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residências dos cidadãos em verdadeiras «urnas ininterruptas». (PÉREZ LUÑO, 2014)

Enfim, o caminho que se coloca à frente da democracia nos dias de hoje é um emaranhado de possibilidades. E também, uma série de potenciais problemas a serem enfrentados, tais como a busca pela verdadeira universalidade conforme acima mencionado. Os exemplos mencionados no texto são apenas ilustrativos, ou seja, não esgotam as inúmeras formas de participação política que estão disponíveis na sociedade em rede. Por fim, à guisa de conclusão, é possível mencionar que a «luta»pela democracia já passou por inúmeros momentos, e que cada contexto histórico teve um (ou mais) desafios para implementar a democracia: a luta contra o totalitarismo, a complexidade do multiculturalismo, problemas sócio-políticos como a corrupção entre outros. Ao que tudo indica é chegada a hora de encaras os desafios trazidos à democracia pela Sociedade da Informação.

5. CONCLUSÃO

Diante do breve referencial teórico exposto, algumas conclusões tornam-se pertinentes.

A primeira delas é a de que a democracia é, na verdade, uma busca. Quer-se uma democracia. Mas esta é alcançada, por vezes, em parte. Por vezes, debilmente. Como acontece nos casos em que os instrumentos (sufrágio, pebliscito, referendo, iniciativa popular, etc.) existem, porém não são utilizados, ou, não são bem utilizados. Ocorre que o elemento fundamental da concepção de democracia (sobrevivente ao passar do tempo) é o elemento «povo». E quando justamente o elemento mais essencial é problemático, começam a surgir problemas: uma democracia que não nasce da vontade do povo é ilegítima, a democracia é feita pelo povo e para o povo, portando a ausência deste na tomada de decisões cria o problema da falta de representatividade. Desta nascem os movimentos sociais, e assim se configuram as crises de legitimidade e representatividade.

A emergência da Sociedade da Informação criou um novo paradigma para diversos âmbitos das relações humanas: antes as pessoas se relacionavam de uma forma, hoje de outra, antes trocavam cartas, telefonemas, hoje é pelo Whatsapp, Facebook e outras ferramentas similares. Assim, a democracia também se coloca diante de um novo paradigma: propor e acompanhar projetos de lei online? Sim, é possível. Acompanhar pelo celular o trabalhado que é

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feito pelo deputado no qual se votou? Também. Então porque não repensar o sistema em toda a sua amplitude considerando, inclusive, a inédita possibilidade de, em países de dimensões continentais como o Brasil, se implementar a democracia direta? Sim, o assunto está em pauta.

Não é possível prever com certeza se os resultados deste novo cenário político emergente da Sociedade da Informação serão positivos ou negativos. Em verdade, esta resposta parece depender mais da consciência política dos cidadãos do que dos meios pelos quais estes exercem a sua cidadania. É dizer, a educação para a cidadania e a cultura de preservação da democracia talvez sejam mais relevantes do que definir se a participação será por cédula de papel, por urna eletrônica, por aplicativos, por e-mail, por telefone, ou por qualquer outro meio. A consciência democrática, algo que pode ser semelhante à «vontade de Constituição» de Konrad Hesse, ou seja, a vontade de que a ideia de democracia se torne uma realidade prática, talvez seja mais relevante para que a democracia se concretize do que tudo o mais. Mas como se alcança esta consciência e como fazer nascer esta vontade no âmago da consciência cidadã? A educação para a cidadania, a cultura da participação política, o fortalecimento de laços sociais são algumas sugestões possíveis para responder a este questionamentos.

Da mesma forma, sugere-se que possibilidades não interessantes como uma certa ruptura de laços sociais pela não vinculação a partidos políticos parecem estar mais relacionadas à uma cultura de democracia do que propriamente à forma através da qual ela é exercitada.

REFERÊNCIAS

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recebido em: 19.10.16 aprovado para publicação em: 06.02.17

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