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TÍTULO V DOS CONTRATOS EM GERAL CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS. Seção I Preliminares

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TÍTULO V

DOS CONTRATOS EM GERAL CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS Seção I

Preliminares

Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.

Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.

Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.

Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

Considerações inovadoras. Constituem princípios contratuais aceitos pela doutrina e pela jurisprudência, por excelência, os da autonomia contratual e da força obrigatória das convenções. Pelo primeiro, as partes podem licitamente estabelecer o que melhor lhes convier, desde que respeitadas as normas de ordem pública vigentes por ocasião da avença. E, pelo segundo, uma vez formulado o contrato, devem suas cláusulas serem rigorosamente cumpridas (pacta sunt servanda), ressalvada a hipótese de se verificarem fatores que autorizem seja invocada a teoria da imprevisão, a rebus sic stantibus. Além disso, em decorrência do princípio do consensualismo, os contratos, salvo nos casos expressos em lei, não exigem forma especial. Assim, a compra e venda de imóvel de valor superior ao previsto em lei exige escritura pública. Por escrito, público ou particular, deve formalizar-se, por exemplo, o contrato de depósito. Nos demais casos, no entanto, vale a simples vontade das partes. A revisão do contrato é uma situação de excepcionalidade. O novo Código, modificando o espírito individualista do Estatuto de 1916, estabelece, em seu art. 421, que a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Isso significa que não podem ser respeitadas, como absolutas, as regras da liberdade contratual e nem da força obrigatória das convenções. Não importa, apenas, o que as partes querem, mas interessa, também, a função social do contrato, referida na Exposição de Motivos, em seu item 21. A regra vale, naturalmente, como princípio, que o Juiz aplicará, no caso concreto, quando verificar presentes os pressupostos exigíveis. Da Exposição do Relator na Câmara dos Deputados, Deputado Ricardo Fiúza, extraímos o seguinte:

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“Na parte concernente ao direito geral das obrigações, uma das alterações mais significativas foi a normatização da resolução do negócio jurídico por onerosidade excessiva, estabelecida nos artigos 478 a 480 do Projeto, que tem por fundamento a manutenção do equilíbrio econômico do contrato, princípio há muito consagrado na doutrina e jurisprudência. Assim, o princípio pacta sunt servanda (os contratos devem ser cumpridos) sofre um abrandamento, ganhando maior vulto a norma rebus sic stantibus (teoria da imprevisão).” Estatui o art. 425 a liberdade das partes em estipularem contratos atípicos. Com efeito, um contrato para ser firmado não precisa ter previsão no Código Civil. Basta que as partes sejam maiores e capazes e que o objeto seja lícito para que exista um contrato.

Sobrevivência do Código de Defesa do Consumidor: como lei especial, o Código de Defesa do Consumidor sobreviverá com o novo Código Civil (relativamente às situações jurídicas que disciplina), com o qual, aliás, se identifica muito mais do que com o anterior, pelo seu forte cunho social.

Grande parte dos contratos modernos são despersonalizados, celebrados em massa e de adesão, nos quais inexistem as discussões e debates que, no geral, precedem à formação dos contratos. Daí o tratamento diferenciado que a eles se deve dar.

Sobre o alcance do conceito de contratos de adesão merece transcrição a ementa de acórdão do STJ, a seguir parcialmente transcrita:

“Civil – Compra e venda de imóvel resilida pela vontade unilateral do adquirente – Código do Consumidor.

1. Contrato de adesão.

Contrato de adesão é aquele cujo conteúdo não pode ser substancialmente modificado pelo consumidor (Lei nº 8.078/1990, art. 54, caput), em cujo rol se inclui o contrato de compra e venda de apartamento, salvo se, v.g., comprovada ou a modificação da planta padrão ou a redução significativa do preço ou o respectivo parcelamento em condições não oferecidas aos demais adquirentes de unidades no empreendimento. 2. Omissis ” (Recurso especial nº 59.870-SP, Relator Min. Ari Pargendler, em 16.11.99, DJ de 07.02.2000, apud Biblioteca Jurídica Consulex).

Sobre contratos administrativos deve ser consultada a Lei nº 8.666/93, que, em seu art. 62, § 3º, contém regra recomendando aplicação das normas do contrato administrativo aos contratos de seguro, financiamento, de locação em que o Poder Público seja locatário, e os demais, cujo conteúdo seja regido, predominantemente, por normas de direito privado (inciso I).

Seção II

Da Formação dos Contratos

Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.

Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:

I – se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;

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resposta ao conhecimento do proponente;

III – se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; IV – se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente.

Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos.

Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada.

Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos.

Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta.

Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa.

Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante.

Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto:

I – no caso do artigo antecedente;

II – se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; III – se ela não chegar no prazo convencionado.

Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto.

Considerações. O novo Código disciplina a formação dos contratos em seus arts. 427 a 435. A matéria deve ser examinada à luz também do Código de Defesa do Consumidor que, em seu art. 30, dispõe que toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. Suponhamos que determinado industrial divulgue, pela imprensa, uma garantia extra de seu produto, por determinado período, para os que o adquiram dentro do prazo estabelecido. O consumidor vai a uma loja comercial e adquire o produto, não se consignando, no certificado de garantia, aquele prazo estendido. Posteriormente o produto vem a apresentar defeito no prazo da garantia estendida, mas além do previsto no manual. Pode o consumidor, provando aquela publicidade veiculada, exigir o cumprimento do prazo adicional da garantia. A matéria tem despertado grande interesse, especialmente nos contratos à distância, em que o direito pátrio carece de regulamentação adequada.

Seção III

Da Estipulação em Favor de Terceiro

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Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar nos termos do art. 438.

Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe a execução, não poderá o estipulante exonerar o devedor.

Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato, independentemente da sua anuência e da do outro contratante.

Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de última vontade.

Considerações. O instituto da estipulação em favor de terceiro já era conhecido do Código de 1916 (arts. 1.098 a 1.100). Para sua compreensão basta que se lembre do contrato de seguro de vida, em que uma pessoa (segurado, estipulante) formula com outra (seguradora, promitente) o pagamento de indenização a um terceiro (beneficiário, terceiro designado). Seção IV

Da Promessa de Fato de Terceiro

Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar.

Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus bens.

Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este, depois de se ter obrigado, faltar à prestação.

Considerações. O Código de 1916 prevê a possibilidade de alguém prometer fato de terceiro (art. 929), o qual responderá por perdas e danos quando este não o executar. O novo Código contempla o instituto. Ex.: o promitente vendedor de imóvel, sendo nu-proprietário, se compromete a cancelar o usufruto, que recai sobre o imóvel (fato que depende de terceiro). Pode ocorrer, no entanto, que alguém, casado pelo regime de comunhão universal de bens, venha a prometer à venda imóvel do casal, sem a outorga uxória, responsabilizando-se por ela. O cônjuge, no entanto, não anui ao ato. Nesse caso, o Código exclui a responsabilidade pelo fato do terceiro, porque implica em onerar bens dele.

Outro exemplo de promessa de fato de terceiro: corretor que promete vender o imóvel sem poderes para tanto, respondendo pessoalmente.

Seção V

Dos Vícios Redibitórios

Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.

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Art. 442. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode o adquirente reclamar abatimento no preço.

Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato.

Art. 444. A responsabilidade do alienante subsiste ainda que a coisa pereça em poder do alienatário, se perecer por vício oculto, já existente ao tempo da tradição.

Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.

§ 1º Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis.

§ 2º Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras disciplinando a matéria.

Art. 446. Não correrão os prazos do artigo antecedente na constância de cláusula de garantia; mas o adquirente deve denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu descobrimento, sob pena de decadência.

Considerações. Uma pessoa pode comprar um objeto com um vício oculto. Por exemplo, um automóvel com o motor fundido. Ou um animal de reprodução, estéril. A espécie é de vício redibitório, instituto já conhecido e disciplinado pelo Código de 1916. O adquirente pode postular a rescisão (ação redibitória) ou redução do preço (ação quanti minoris ou estimatória). O vício redibitório pressupõe: defeito oculto, desconhecimento do adquirente, contrato comutativo, perda da utilidade ou desvalorização da coisa. Deve ser consultado, também, sobre o tema, o Código de Defesa do Consumidor.

O CDC, em seu art. 26, disciplina o direito do consumidor de reclamar contra os defeitos aparentes do produto ou serviço, estabelecendo os prazos decadenciais respectivos e o § 3º do citado artigo cuida dos defeitos ocultos.

Seção VI Da Evicção

Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.

Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção.

Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.

Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral do preço ou das quantias que pagou:

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II – à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção;

III – às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído.

Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na época em que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção parcial.

Art. 451. Subsiste para o alienante esta obrigação, ainda que a coisa alienada esteja deteriorada, exceto havendo dolo do adquirente.

Art. 452. Se o adquirente tiver auferido vantagens das deteriorações, e não tiver sido condenado a indenizá-las, o valor das vantagens será deduzido da quantia que lhe houver de dar o alienante.

Art. 453. As benfeitorias necessárias ou úteis, não abonadas ao que sofreu a evicção, serão pagas pelo alienante.

Art. 454. Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção tiverem sido feitas pelo alienante, o valor delas será levado em conta na restituição devida.

Art. 455. Se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o evicto optar entre a rescisão do contrato e a restituição da parte do preço correspondente ao desfalque sofrido. Se não for considerável, caberá somente direito à indenização.

Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do processo.

Parágrafo único. Não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendo manifesta a procedência da evicção, pode o adquirente deixar de oferecer contestação, ou usar de recursos.

Art. 457. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa.

Considerações. Trata-se de instituto consagrado e bastante estudado no Código de 1916. O exemplo é corrente: uma pessoa adquire um veículo furtado, com o chassi adulterado, fato que desconhece. Vem a perdê-lo em razão de ação movida pelo real proprietário ou por ato de apreensão da autoridade policial. Tem o direito de voltar contra quem lhe vendeu o veículo para obter o preço pago, em decorrência da evicção. O art. 448 estabelece, no entanto, que as partes, por cláusula expressa, podem reforçar, diminuir ou excluir a evicção. A evicção é, pois, a garantia do objeto que se transfere. Cogita-se da necessidade de sentença judicial para que se verifiquem os efeitos da evicção. Com efeito, na maioria das vezes ela ocorre. Alguém perde um imóvel numa reivindicatória em razão de título melhor de terceiro e pode obter a devolução do preço de quem lhe alienou a coisa, inclusive com denunciação à lide, no próprio processo. Em geral, o direito do evicto será, assim, reconhecido por decisão judicial. Sustentamos, no entanto, perfeitamente possível a pretensão na hipótese de ato legal de autoridade pública, por exemplo, apreensão da autoridade policial, quando o alienante, notificado, não contesta a legalidade do ato. Nesse sentido decisão do Superior Tribunal de Justiça:

“Civil. Evicção. O direito de demandar pela evicção não supõe, necessariamente, a perda da coisa por sentença judicial. Hipótese em que, tratando-se de veículo roubado, o adquirente de boa-fé não está obrigado a resistir à autoridade policial, diante da evidência

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do ato criminoso, tinha o dever legal de colaborar com as autoridades, devolvendo o produto do crime. Recurso especial não conhecido” (Rec.Especial nº 69.496-SP, Rel. Min. Ari Pargendler, DJU de 07.02.2.000, apud DJMG de 1º.04.2.000).

Seção VII

Dos Contratos Aleatórios

Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir.

Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada.

Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido.

Art. 460. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assumido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato.

Art. 461. A alienação aleatória a que se refere o artigo antecedente poderá ser anulada como dolosa pelo prejudicado, se provar que o outro contratante não ignorava a consumação do risco, a que no contrato se considerava exposta a coisa.

Considerações. O Código Civil de 1916 regulava-os nos arts. 1.118 a 1.121. Os contratos podem ser classificados em comutativos e aleatórios, segundo orientação doutrinária dominante, embora a nomenclatura seja objeto de contestação por muitos. Comutativos seriam aqueles em que se assegura às partes prestações equivalentes, previstas no momento do contrato. Na compra e venda uma das partes transfere a coisa e a outra efetua o pagamento em dinheiro. Nos aleatórios, ao contrário, uma das partes cumpre a sua obrigação, enquanto o cumprimento, pela outra, fica subordinado a um evento futuro e, em certos casos, incerto, de que é exemplo o contrato de seguro. O evento pode ou não acontecer, como no seguro geral de automóveis. Ou tem data incerta, como o seguro de vida. O conceito de contrato aleatório, no entanto, é mais amplo do que faz supor os exemplos apresentados. Como se consignou na Exposição de Motivos Original do Código: “Além disso, entendeu-se conveniente dar diversa configuração aos contratos aleatórios, nos quais não se prevê apenas a entrega de coisas futuras, mas toda e qualquer prestação que, por sua natureza ou convenção, possa importar risco, explicável em função da estrutura do negócio jurídico.”

Seção VIII

Do Contrato Preliminar

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essenciais ao contrato a ser celebrado.

Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive. Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente.

Art. 464. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação.

Art. 465. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte considerá-lo desfeito, e pedir perdas e danos.

Art. 466. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo devedor.

Considerações. Não disciplinado de forma sistemática pelo Código de 1916, contrato preliminar é aquele pelo qual as partes se comprometem a, no futuro, firmarem outro, considerado definitivo. Ex.: compromisso de compra e venda de imóvel, preparatório da compra e venda definitiva. O art. 462 é expresso no tocante à dispensa da forma. Daí resulta que o compromisso de compra e venda de imóvel pode ser feito por instrumento particular, o que é usual.

Seção IX

Do Contrato com Pessoa a Declarar

Art. 467. No momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes.

Art. 468. Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de cinco dias da conclusão do contrato, se outro não tiver sido estipulado.

Parágrafo único. A aceitação da pessoa nomeada não será eficaz se não se revestir da mesma forma que as partes usaram para o contrato.

Art. 469. A pessoa, nomeada de conformidade com os artigos antecedentes, adquire os direitos e assume as obrigações decorrentes do contrato, a partir do momento em que este foi celebrado.

Art. 470. O contrato será eficaz somente entre os contratantes originários: I – se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se recusar a aceitá-la;

II – se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pessoa o desconhecia no momento da indicação.

Art. 471. Se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento da nomeação, o contrato produzirá seus efeitos entre os contratantes originários.

Considerações. Instituto criado expressamente pelo novo Código. No momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade de indicar a pessoa

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que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações decorrentes do contrato. Consignou-se na Exposição de Motivos do Código:

“Reformulação do contrato com pessoa a declarar, para dar-lhe maior aplicação e amplitude, enquanto que, no Anteprojeto anterior, ficara preso, segundo o modelo do Código Italiano de 1942, ao fato de já existir a pessoa no ato da conclusão do contrato.” Parece-nos enquadrar-se na espécie a cláusula do compromisso de compra e venda, na qual o promitente-vendedor se compromete a outorgar a escritura a terceiro indicado pelo compromissário-comprador.

CAPÍTULO II

DA EXTINÇÃO DO CONTRATO Seção I

Do Distrato

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

1. Considerações. Uma vez formulado o contrato, o natural é que ele seja regularmente cumprido. Alguém vai a uma loja e efetua uma compra à crédito. Recebe a mercadoria. Paga a prestação na data aprazada. O contrato foi regularmente cumprido. Pode o contrato ser anulado, quer em razão de vício grave, que leva à nulidade absoluta, quer por que foi contraído com vício de consentimento ou social. Pode ser objeto de resolução, por inexecução das obrigações por uma das partes (caso em que, na prática, se utiliza o termo rescisão que, no sentido mais técnico, significaria apenas determinada forma de extinção, como a decorrente de lesão) ou de distrato, amigavelmente formulado entre os interessados. Pode, enfim, ser objeto de dissolução unilateral nos casos previstos em lei por renúncia ou revogação. São essas, dentre outras, as principais formas de extinção contratual. O novo Código relaciona, no capítulo da extinção do contrato, o distrato, a cláusula resolutiva, a exceção do contrato não cumprido e a resolução por onerosidade excessiva.

2. Do distrato. O distrato é a extinção do contrato por acordo entre os interessados. A lei menciona a expressão resilição unilateral, de que seriam exemplos a denúncia da locação ou a revogação do mandato.

Seção II

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Art. 474. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial.

Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.

Considerações. Os contratos podem conter, de modo expresso ou tácito, uma cláusula prevendo a sua resolução, em se verificando o descumprimento das obrigações por uma das partes. Se essa cláusula é expressa, a resolução se opera de pleno direito, independendo de interpelação judicial. Se for tácita a cláusula, que é implícita em todo contrato bilateral, haverá necessidade de interpelação judicial para a resolução do contrato. A lei diz que a parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato (se não preferir exigir-lhe o cumprimento – inovação do novo Código); significa isso dizer que a resolução, em princípio, não pode ser pleiteada pela parte que deu causa ao inadimplemento. Com o advento do CDC tem-se visto, no entanto, inúmeros casos de acolhimento do pleito a pedido de parte culpada, como se dá no clássico exemplo do consorciado que não consegue pagar as prestações do plano em que ingressou e ainda obtém de volta o que pagou corrigido, segundo jurisprudência hoje consolidada. Há certos tipos de contrato, contudo em que, não obstante a previsão da resolução expressa, há necessidade de interpelação para que se operem os seus efeitos, como ocorre com o leasing e a alienação fiduciária em garantia (v. Súmula nº 72 do STJ). Embora os efeitos da cláusula resolutiva operem de pleno direito, sustentamos a necessidade do pronunciamento judicial para o seu reconhecimento. A doutrina tradicional, no entanto, é dominante no sentido da dispensa da intervenção judicial (v., por exemplo, o atualizado Marco Aurélio S. Viana, Curso de Direito Civil, vol. 5, Del Rey, p. 135):

“Dispensa-se a interpelação judicial, porque já está pactuada a resolução, não se fazendo necessária a constituição em mora; ela não precisa ser pedida em Juízo, porque outro caminho tornaria inútil a presença da cláusula no contrato.”

Nas relações de consumo, especialmente, é forte dispensar a intervenção judicial, mesmo porque a própria cláusula é firmada, no mais das vezes, sem adequado conhecimento do outro contraente. Ademais, nos casos em que em que a lei exige notificação para a caracterização da mora não podem os efeitos se operar de pleno direito, mesmo porque ficaria inviabilizado o exercício da purga da mora. A jurisprudência vacila sobre o tema, gerando uma instabilidade incompatível com as necessidades do mundo atual, que reclama normas dotadas de maior clareza e objetividade. Há decisões entendendo carente da ação quem, dispondo de cláusula resolutória expressa, busca o pronunciamento judicial e há outras exigindo o pronunciamento judicial, mesmo diante da cláusula expressa.

Seção III

Da Exceção de Contrato não Cumprido

Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.

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diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la.

Considerações. O instituto da exceção do contrato não cumprido (exceptio non adimpleti contractus) é conhecido pelo Código de 1916. Nos contratos bilaterais um dos contraentes não pode, antes de cumprida a sua obrigação, exigir o implemento da do outro. Assim, numa venda à vista, não pode o comprador exigir a entrega da coisa antes de efetuar o pagamento do preço.

Seção IV

Da Resolução por Onerosidade Excessiva

Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.

Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do contrato.

Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.

1. Considerações. Consignou-se na Exposição de Motivos do novo Código:

“Por outro lado, firme consciência ética da realidade sócio-econômica norteia a revisão das regras gerais sobre a formação dos contratos e a garantia de sua execução equitativa, bem como as regras sobre a resolução dos negócios jurídicos em virtude de onerosidade excessiva, às quais vários dispositivos expressamente se reportam, dando a medida do propósito de conferir aos contratos estrutura e finalidades sociais. É um dos tantos exemplos de atendimento da socialidade do Direito. A resolução por onerosidade excessiva quebra, em nome do fim social do contrato, o princípio da pacta sunt servanda e constitui-se, sem dúvida, na adoção da rebus sic stantibus. Ou seja, se por fatores extraordinários e imprevisíveis o contrato de execução continuada ou diferida se tornar, para uma das partes, excessivamente oneroso, pode o devedor pedir sua resolução.”

Entendemos que o Código foi tímido na matéria. O equilíbrio contratual, a nosso ver, não deve ser buscado apenas em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis. Ademais, o Código fala em resolução do contrato, não em revisão, que se justifica, nesses mesmos casos, em nome da consagrada teoria da imprevisão, que nos parece irá sobreviver. O próprio Código, em seu art. 479, permite que a resolução seja substituída pela revisão, se o réu se oferecer para modificar equitativamente as condições do contrato.

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2. Revisão de contrato administrativo. Deve ser consultada a Lei nº 8.666, de 21.06.93, alterada pela Lei nº 8.883, de 08.06.1994, que, em seu art. 65, II, d, dispõe que o contrato pode ser revisto, por acordo das partes, para restabelecer a relação pactuada inicialmente entre os encargos do contratado e a retribuição da Administração para a justa remuneração da obra, serviço ou fornecimento, objetivando a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato, na hipótese de sobrevirem fatos imprevisíveis ou previsíveis, porém de conseqüências incalculáveis, retardadoras ou impeditivas da execução do ajustado, ou, ainda, em caso de força maior, caso fortuito ou fato do príncipe, configurando álea econômica extraordinária e extracontratual.

Portanto, nas relações de direito público, o equilíbrio contratual deve ser buscado com muito maior extensão que nas submetidas ao direito privado. É por isso importante que, ao decidir uma causa, o profissional se inspire nos princípios que orientam a especialidade do direito que irá aplicar.

Referências

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