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Tel Fax Volume 1, Número 4 Agosto/Setembro 2003

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BOLETIM BI-MESTRAL DO CENTRO TERRA VIVA

Distribuição Electrónica Gratuita

Tel. 303267 Fax 303724

Email: ctv@tvcabo.co.mz

Agosto/Setembro 2003

Volume 1, Número 4

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Tal como aconteceu com as edições anteriores, a quarta

edição do nosso “Justiça Ambiental” integra uma variedade de assuntos actuais que esperamos sejam do seu interesse. O “Artigo de Opinião” desta edição apela para a valorização do prestígio a nível internacional que o país e alguns dos seus cidadãos têm estado a conquistar na área da conservação e da gestão sustentável de recursos naturais. Ao nível de país, a intenção do Governo de pretender ratificar a Convenção de RAMSAR- Convenção Internacional para a Protecção das Terras Húmidas, trouxe ao país, mais um Gift to the Earth, o terceiro em cerca de um ano. A nível individual assinalamos com satisfação o prémio atribuído ao Sr. António Reina, do Fórum para a Natureza em Perigo. António Reina foi o vencedor da edição 2002 do prestigiado prémio internacional de conservação, o J. Paul Getty Wildilife Conservation Prize. Estabelecido em 1974 e tendo rodado os quatro continentes, finalmente chegou a Moçambique. A julgar pelo percurso de António Reina, pensamos que a escolha não poderia ter sido mais acertada. A título individual registamos também o reconhecimento do empresário moçambicano Momade Sulemane como “Líder na Conservação” pela WWF International como resultado do uso do dispositivo de exclusão de tartarugas(TED) na pesca de camarão.

Chamamos a atenção para este reconhecimento internacional não só porque nos parece que o mesmo deverá ser manifestado também a nível nacional mas, sobretudo, porque paralelamente a este reconhecimento, continuamos a verificar acções atentórias à conservação e a gestão sustentável de recursos naturais no nosso país, protagonizadas, em bastantes casos, por aqueles cujo mandato os obriga a defender o meio ambiente.

Através do “Artigo de Fundo”, fazemos uma incursão pela costa moçambicana, e tentamos trazer aspectos da realidade que se vive na área do turismo, particularmente no que respeita ao uso e aproveitamento da terra para esse fim. Tendo sido seleccionada no programa do governo como área estratégica para o desenvolvimento sócio-económico do país, julgamos ser importante contribuir para que alguns aspectos sejam abordados com vista a que, de facto, o turismo produza os efeitos e benefícios proclamados. Neste sentido, trazemos à ribalta, embora de forma muito resumida, os principais problemas relacionados com o não cumprimento da legislação, com a descoordenação institucional e até com a corrupção, os quais concorrem para minar as oportunidades de desenvolvimento que o

turismo oferece.

NESTA EDIÇÃO:

Artigo de Fundo. Turismo e conservação:

um olhar sobre a costa moçambicana ... 2

Testemunho Ocular.

Dugongo morto em

Vilankulo! ...4

Artigo de Opinião. Valorizemos as nossas

conquistas! ... 5

Destaque CTV

... 6

No “Testemuho Ocular” relatos e imagens chocantes chegam-nos do Parque Nacional do Arquipélago de Bazaruto, onde a população de dugongos continua a diminuir drasticamente, vitima de pescadores ilegais. Embora não haja precisão sobre o actual número de dugongos, opiniões são unânimes em considerar que existem neste momento apenas escassas dezenas.

Destaques da nossa vida interna incluem várias actividades fundamentalmente direccionadas a contribuir para a disseminação de informação ambiental, aumento da consciencialização pública nessa área, para além do estabelecimento de contactos e parcerias.

Neste âmbito, iniciamos no mês de Outubro o Programa de Debates Públicos Ambientais (DPAs), em que através de sessões mensais abertas e informais, divulgaremos e discutiremos resultados de estudos e pesquisas realizados no país relacionados com a gestão e conservação de recursos naturais. Os DPAs servirão também para discutirmos políticas e estratégias de desenvolvimento sustentável do país, nas suas várias vertentes, mas especialmente na vertente que toca à participação e contribuição da sociedade civil nesse processo. O primeiro DPA, realizado a 9 de Outubro, versou sobre o turismo costeiro e sobre os desafios de sustentabilidade que o mesmo enfrenta.

O nosso protocolo com a Rádio Moçambique já está a dar os seus frutos. Assim, na nossa luta pela consolidação do jornalismo ambiental integramos, recentemente, dois estudantes do curso médio de jornalismo, para que durante seis meses recebam treinamento prático, em forma de estágio, na abordagem de questões ambientais.

Esperamos que estes assuntos não suscitem apenas interesse mas também alguma reacção. Este boletim é seu. Bom proveito!

Alda Salomão, L.L.M. Directora Executiva – CTV

António Reina ganha o prémio “J. Paul Getty Wildlife Conservation”. António Reina Director do Fórum para a

Natureza em Perigo (FNP), é o vencedor da edição 2002 do “J. Paul Getty Wildlife Conservation Prize”. A cerimónia pública de entrega do prémio em Moçambique teve lugar no passado dia 7 de Setembro na presença do Presidente do WWF, Chief Emeka Anyaoku, e do seu Director Geral, Dr. Claude Martin.

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O “J. Paul Getty Wildlife Conservation Prize” foi estabelecido em 1974 pelo falecido J. Paul Getty em homenagem a contribuições excepcionais à conservação internacional sendo agora continuado pelo seu filho, Gordon P. Getty e Família.

Dada a grande diversidade de áreas no campo da conservação em todo o mundo, os

candidatos a este prémio são seleccionados de acordo com uma gama variada de acções. Esta diversidade vai desde a conservação de espécies raras ou em perigo de extinção, passando pelas acções em prol da conservação dos seus habitats, até ao apoio à conservação inovadora, legislação e políticas. A atribuição deste prémio a António Reina vem homenagear os seus esforços em prol da conservação da natureza e mobilização da sociedade civil na promoção da conservação e da utilização sustentável dos recursos naturais. A sua obra inclui, entre outras menções de mérito, o seu trabalho como representante do Endangered Wildlife Trust (EWT) em Moçambique nos anos 80, o apoio à recuperação da Reserva Especial de

Maputo, a criação do Fórum para a Natureza em Perigo (FNP) de que é ainda seu Director, a co-fundação do Livaningo e a mobilização da Sociedade Civil em torno do problema dos Pesticidas Obsoletos, a sua contribuição na extensão do Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto, a incansável luta pela conservação do dugongo, e o trabalho comunitário em Catuane.

O “J. Paul Getty Wildlife Conservation Prize” é administrado pelo WWF, preparando anualmente uma lista de candidatos da qual é seleccionado um vencedor por um ilustre júri de indivíduos de reconhecido valor para a conservação. Os candidatos são avaliados de acordo com a sua contribuição como “inovadores na conservação” e seu papel como modelos para a conservação da fauna bravia e seus habitats. A lista de personalidades e instituições a quem o prémio já foi atribuído desde 1974 inclui a Dra. Jane Goodall (Tanzânia), Sr. Perez Olindo (Quénia), Fundação TAMAR (Brasil), Sir Peter Escott (Grã Bretanha), Fundação Charles Darwin (Reino Unido), entre outras figuras e organizações de renome.

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Turismo e Conservação: Um olhar sobre a Costa Moçambicana

Assinalou-se no passado dia 27, o Dia Mundial do Turismo.

Indústria em franca expansão em muitos países africanos, em que a exploração das potencialidades naturais conjugada com as ricas variedades culturais, o turismo é apontado com uma das principais chaves para o desenvolvimento sócio-económico.

E não é por acaso que a atenção sobre esta área é cada vez mais crescente. Na África do Sul, por exemplo, onde o sector já está integrado nas tecnologias de informação, no desenvolvimento cultural, na indústria de entretenimento e na sustentabilidade do ambiente, o turismo foi responsável, no ano passado, pela geração de uma receita de 58 biliões de Randes. E dizem os sul africanos: “o nosso orgulho reside na associação da indústria à

melhoria da vida das populações com resultados tangíveis, principalmente na criação de emprego”.

Moçambique é um dos países africanos com enormes vantagens e possibilidades para o desenvolvimento da indústria, particularmente o turismo costeiro, pois ao longo de uma costa de cerca de 2700 km estende-se uma beleza exótica, com um manancial de recursos naturais quase intactos, diferentes ecossistemas, aliados a um mosaico cultural diversificado. Tem ainda a vantagem

resultante da proximidade com a África do Sul, a placa giratória do turismo na África Austral.

Contudo, apesar destas potencialidades naturais e vantagens, Moçambique não tem ainda sabido retirar os devidos dividendos, com vários factores concorrendo para isso, dentre os quais se destacam aspectos ligados à implementação da legislação e problemas institucionais sobre a gestão da terra e licenciamento de actividade ao longo da faixa costeira. E porque a correcta gestão da terra é fundamental para a eficácia de outras actividades, dum olhar pelo turismo costeiro em Moçambique, salta à primeira vista uma corrida desenfreada pela ocupação de espaços “livres” nas praias, com os mais hediondos crimes contra a integridade ecológica,

contra a legalidade vigente, incluindo mesmo a violação dos direitos fundamentais dos cidadãos, como o direito a não discriminação racial. Tudo isto parece acontecer perante o olhar cúmplice das instituições públicas, muitas das quais, alega-se, desconhecem ou simplesmente ignoram a lei, eximindo-se das suas responsabilidades num desfilar inacreditável de actos de corrupção.

Os problemas relacionados com a desorganização do sector turístico em Moçambique, começam com atropelos sistemáticos às normas sobre o

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uso e aproveitamento da terra. Devido aos factores mencionados, aliados à falta de capacidade de fiscalização, são frequentemente reportados casos de “venda” de terras aos estrangeiros, ao longo da costa, terras “compradas” às comunidades, titulares do Direito de Uso e Aproveitamento da Terra (DUAT), numa clara violação ao art. 46 da Constituição da República (CRM), segundo o qual, “a terra é propriedade do Estado, não podendo ser vendida, ou por qualquer forma alienada, nem penhorada ou hipotecada”. Isto significa que qualquer titular do DUAT, embora possa gozar de direitos reais limitados em relação à terra, tem restrições legais impostas à propriedade da terra e à alienação da mesma.

Saliente-se que a proibição de alienação decorrente do artº46 da CRM, não recai apenas sobre o titular do DUAT, mas também ao próprio proprietário da terra, o Estado.

A corrida às terras costeiras moçambicanas parece ter dois tipos de intervenientes. Por um lado, um olhar atento aos empreendimentos já implantados por estrangeiros, mostra que grande parte pertence a “aventureiros” sem nenhum passado na actividade turística e cuja situação de ilegalidade e desmandos é incompreensível e escandalosamente tolerada e estimulada. Por outro lado, temos os nacionais, na maior parte sem intenção nem capacidade nem de investir, que simplesmente querem garantir o seu pedaço de terra, enquanto Moçambique e quem de direito “dorme” ou, quiçá, prepara uma reforma agrária sobre a qual não temos informação.

Falámos em reforma agrária porque, se isso não está a ser engendrado em algum lugar, então não percebemos como é que as seguintes situações podem ocorrer e manter-se aos olhos de todos nós, nomeadamente a ocupação de terras e implantação de infra-estruturas sem respeito por valores ambientais e pela legislação aplicável, como é o caso de empreendimentos construídos em zonas de protecção total ou parcial sem licença ambiental, sem licença de construção ou licença para o exercício da actividade turística, ou então com estas licenças emitidas

ilegalmente. É também surpreendente o caso da homologação de negócios ilegais de compra e venda de terras e de reconhecimento de sociedades sem existência jurídica, em que cidadãos nacionais são descaradamente burlados por estrangeiros, perdendo aqueles não só o seu DUAT como qualquer benefício decorrente das actividades das ditas sociedades. O turismo costeiro tem ainda trazido outros problemas de carácter social pois em em àreas costeiras, de conservação total ou parcial, é já assinalável o número de conflitos entre os empreendedores turísticos e as comunidades locais.

De facto, embora a Lei de Terras (LT) proíba expressamente a aquisição do DUAT em zonas de protecção total e parcial, como é o caso da “ faixa da orla marítima e no contorno de ilhas, baías e estuários, medida da linha das máximas preia-mares até 100 metros para o interior do território”, é normal encontrarmos casos em que as autoridades públicas competentes, atribuem o DUAT em tais zonas, ( cfr. al.c do artº5 da L.T). Para estas zonas, como se sabe, a lei apenas

admite a emissão de uma licença especial para o exercício de actividades determinadas. Um aspecto que deve ser permanentemente considerado são os objectivos que ditam a classificação dessas zonas como tal, os quais têm a ver com o facto destas áreas serem particularmente sensíveis à actividade humana e propensas à degradação, daí que mesmo as infra-estruturas instaladas nestes locais não devam ser duradoiras.

Por imposição do Regulamento do Processo de AIA, é obrigatório realizar um Estudo de Impacto Ambiental (EIA), de entre outros, para os casos que realçamos a seguir;

- “ Os Planos e projectos de desenvolvimento e ocupação territorial com qualquer finalidade, inclusive turística;

- Os Planos, programas e projectos que possam afectar, directa ou indirectamente, áreas sensíveis, tais como:

• zonas de erosão eminente, inclusive dunas da orla marítima

• zonas ou áreas de conservação e protecção”. Mesmo assim, e sob o olhar passivo das autoridades públicas fiscalizadoras, uma das grandes ilegalidades a que a costa moçambicana está sujeita é que a maior parte das instâncias turísticas existentes (incluindo alguns hotéis de renome), não possuem licença ambiental, embora estejam muitas vezes situados nas dunas ou dentro da orla marítima.

Como se sabe, a licença ambiental deve condicionar a autorização do DUAT para a realização de investimentos, assim como a emissão das licenças para o exercício de actividades e para implantação de infra-estruturas.

Normalmente, a situação acima indicada anda associada também ao desrespeito total pelos planos de exploração da

terra, concebidos na altura do processo de emissão do DUAT, pondo em causa o próprio ordenamento territorial e a beleza paisagística dos locais.

Percorrendo a costa, particularmente nas praias do Sul, assiste-se a diversos empreendimentos que em condições normais não estariam a funcionar, não fosse a cumplicidade das autoridades públicas. Na verdade, uma grande percentagem não possui, sequer, o próprio alvará para o exercício da actividade, e muito menos o título de uso e aproveitamento da terra. Mesmo este, quando existente, encontra-se inquinado de diversas irregularidades, muitas vezes relacionadas com a atribuição do DUAT a favor de sujeitos juridicamente inexistentes ou efectuado por um órgão sem competência para tal.

De facto, são vários os casos em que cidadãos estrangeiros, particularmente sul africanos, entram em conluio com cidadãos locais, titulares do DUAT de extensos terrenos, criando uma “sociedade fantasma” com vista a tornar possível a construção de empreendimentos em nome do cidadão Justiça Ambiental, Volume 1, Número 4, Agosto/Setembro 2003 3

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estrangeiro provido de poder económico, numa flagrante afronta à lei.

Para além disso, é frequente os investidores entenderem que por possuírem a licença da DINATUR podem praticar todas as actividades relacionadas com o turismo. Isto é errado porque, por exemplo, a pesca e as operações conexas de pesca ficam sujeitas à obtenção prévia de uma licença concedida nos termos da Lei das Pescas junto das actividades competentes. Em resumo, o que tem acontecido no nosso país é, em resumo: o licenciamento de actividades a favor de sujeitos sem existência legal; concessão do DUAT por instituições sem competência; títulos de uso e aproveitamento da terra concedidos em áreas dentro das zonas de protecção; licenças de construção emitidas por entidades sem competência; projectos que se enquadram no âmbito do anexo ao Regulamento do Processo de AIA sem licença ambiental, dentre outras irregularidades. E porque um acto administrativo que viola a lei é ilegal, há que primeiro corrigir

a actuação do agentes da administração pública, como premissa para futuros passos que conduzirão a ganhos efectivos do turismo em Moçambique.

Concluímos recordando a Política Nacional do Ambiente, segundo a qual “exemplos singulares graves de erosão costeira e poluição marinha em Moçambique já mostram que, se o desenvolvimento económico não for acompanhado de um desenvolvimento institucional adequado na área de gestão ambiental, o impacto da poluição e a necessidade de desenvolvimento podem conduzir a danos ambientais significativos e, por vezes, irreparáveis”.

Por Frederico Dava e Vicente Manjate

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Dugongo morto em Vilanculo!

Espécie em vias de extinção, é

protegida em Moçambique e no mundo. É no Arquipélago do Bazaruto, na província de Inhambane, onde se encontra a maior e possivelmente a última população viável destes mamíferos marinhos, na África Oriental.

As imagens ilustram um dugongo morto no dia 22 de Agosto de 2003, por pescadores, em Vilanculo. Estávamos de partida do Parque Nacional do Arquipélago de Bazaruto para Vilanculos onde rumaríamos para

Maputo. Depois do Parque ter sido informado da ocorrência, deslocamo-nos, na companhia de um fiscal, ao local onde o animal se encontrava já despedaçado e possivelmente parte da carne já retirada. O nosso objectivo era recolher e conservar o necessário para embalsamar e o resto queimar.

Com a população ávida a pôr a mão na carne, depois de grande esforço conseguimos levar as "barbatanas" e a cabeça; o resto foi queimado. Em 1994, a população de dugongos no Arquipélago de Bazaruto era estimada em cerca de duas centenas e hoje acredita-se que não ultrapasse três dezenas. Esta situação leva-nos à reflexão sobre as acções de sensibilização no que se refere à situação dos dugongos, cujas mortes são cada vez mais frequentes em Vilanculo, quando a população deste mamífero está em colapso no Parque Nacional do Arquipélago de Bazaruto.

Por Cristina Louro e Eduardo Videira

WWF Internacional distingue o empresário mocambicano Mamade Sulemane como “Líder na Conservação”

Momade Sulemane tornou-se no primeiro empresário

moçambicano a ser distinguido como “Líder na Conservação” pela WWF Internacional, por ter sido o primeiro a adoptar na pescaria de camarão, no banco de Sofala, o dispositivo de exclusão de tartarugas ou “Turtle Excluder Device” mais conhecido por TED. O dispositivo de exclusão de tartarugas foi desenvolvido nos anos 80, nos Estados Unidos depois que a pesca de camarão foi identificada como a maior causa da mortalidade de tartarugas marinhas. Calcula-se que 200.000 a 300.000 tartarugas sejam mortas no mundo como fauna acompanhante, particularmente nas redes de arrasto de camarão, daí que o uso do TED permita que a tartaruga escape da rede logo após ter entrado acidentalmente. Em

Moçambique, a maior parte da pesca de camarão ocorre no Banco de Sofala. Nesta pescaria, a fauna acompanhante chega a perfazer cerca de 70% de toda a captura.

Experiência dos “TED” em Moçambique

Entre Agosto e Novembro de 2001, o Programa do WWF para a Eco-Região Marinha do Leste de Africa (EAME), realizou um estudo com vista a determinar as vantagens da introdução dos TEDs nas pescarias em Moçambique e o impacto destas pescarias sobre as tartarugas marinhas. O estudo foi feito em colaboração com o Centro de Desenvolvimento Sustentável das Zonas Costeiras do MICOA e a Universidade Eduardo Mondlane, e teve a anuência do Ministério das Pescas. Foi no âmbito deste

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estudo que foi assinado um acordo entre o WWF e a empresa privada moçambicana de pesca de arrasto de camarão – a “SSSS” – para o projecto – piloto de introdução dos TEDs nas suas redes e embarcações de pesca. Os resultados mostraram que os “TEDs” não têm efeito negativo nos rendimentos de camarão por arrasto, nem sobre a quantidade de fauna acompanhante. Pelo contrário eles evitam a captura acidental de pedras e troncos, raias e tubarões e outros objectos ou organismos de tamanho razoável, para além de contribuir na melhoria da qualidade do camarão. Calcula-se que morram anualmente nas redes de arrasto de camarão em Moçambique, uma média de 2.000 a 6.000 tartarugas, na maior parte dos casos, a tartaruga verde (Chelonia mydas), o que coloca esta pescaria como uma das principais fontes de mortalidade de tartarugas marinhas no país. Crê-se que a introdução dos “TED” na pesca semi-industrial e industrial do camarão traga como principais vantagens não só o aumento do valor comercial das capturas e a redução dos gastos com combustível, mas sobretudo a abertura de mais mercados à industria pesqueira moçambicana. As tartarugas são espécies em vias de extinção no mundo, por causa da sua extrema vulnerabilidade: têm uma taxa de fecundidade

muito baixa, movem-se lentamente, estando sujeitas a todo o tipo de predadores, são afectadas pela poluição marinha, entre outros.

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Valorizemos as nossas conquistas!

É dado adquirido que Moçambique continua a nutrir simpatia

da comunidade internacional pelos seus bons feitos, se bem que não faltem algumas acções não muito condignas.

Nos últimos anos, o Governo tem se notabilizado na expansão das antigas e declaração de novas áreas de conservação. Tal como nos outros campos, reconhecimentos e congratulações não param de chegar. Em cerca de um ano, Moçambique recebeu três reconhecimentos de prestígio internacional, os “Gift to the Earth ou Ofertas à Terra”, os primeiros dois no ano passado, como resultado da extensão dos limites do Parque Nacional do Arquipélago de Bazaruto e da declaração do Parque Nacional do Arquipélago das Quirimbas.

Numa cerimónia decorrida em Bazaruto onde o governo esteve representado ao mais alto nível, a partir do Presidente da República, passando pelos ministros até aos governadores provinciais, os galardoados não deixaram de reafirmar o seu comprometimento com a natureza vincando a necessidade de tornar Moçambique uma zona de conservação.

Volvido exactamente um ano, o Governo volta a merecer aplausos da comunidade internacional ao trazer para Moçambique mais um Gift to the Earth, desta vez pela intenção de ratificar a Convenção de RAMSAR – Convenção Internacional para a Protecção das áreas Húmidas de importância mundial.

E não é para menos! O Vale do Zambeze e particularmente o seu delta, é uma das áreas húmidas de importância mundial com características únicas. A ratificação da convenção de RAMSAR há muito que era esperada particularmente pela comunidade científica e conservacionista, preocupada com a sua progressiva degradação como resultado, dentre vários factores, da mudança do ciclo hidrológico das águas do rio Zambeze, devido à edificação de infra-estruturas hídricas, com destaque para a hidroeléctrica de Cahora Bassa.

É no Delta do Zambeze onde se encontra a Reserva de Marromeu, a tal que num passado não muito passado, foi a maior reserva de búfalos do mundo e que hoje não passa de uma reduzida população.

A decisão de ratificação da convenção de Ramsar, surge como “injecção de reanimação” para a comunidade académica e instituições de conservação há muito preocupados com a degradação do grande mosaico ecológico que é o “Zambeze”, num grito que aparentemente antes nunca foi ouvido pelo Governo e, pior ainda, pelos gestores de empreedimentos apontados como contribuindo largamente para a degradação como é o caso da Hidroeléctrica de Cahora Bassa. O ânimo é tão grande e vai daí que já se pensa num Plano de Maneio, cujos trabalhos de elaboração estão para breve.

Dizia alguém, que por sinal assumiu altas responsabilidades no Governo, em conversa, que os Planos de Maneio tal como os Estudos de Impacto Ambiental são iguais às comissões de inquérito. Enquanto as últimas são criadas, aparentemente, para dificultar a descoberta da verdade, os primeiros são aparentemente criados para satisfazer a vista do “Inglês”. Defendia, ele, que ao invés dos Planos de Maneio ou Estudos de Impacto Ambiental, o ideal seria a colocação da mão na consciência por parte de alguns membros que aprovam estes instrumentos, sobre a necessidade real da conservação. O que em poucas palavras quer dizer que são os mesmos os primeiros a não respeitar nem os Planos de Maneio nem os EIA em projectos pessoais, ou protegendo terceiros.

O Parque Nacional do Arquipélago de Bazaruto, o primeiro GttE da história do país, resume em parte esta afirmação. É um facto inquestionável que há uma luta tenaz por parte de várias instituições e pessoas para que a conservação do “Bazaruto” seja efectivo mas é também notória a dimensão assustadora de desmandos que em condições normais não teriam lugar dado haver um Plano de Maneio.

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E aqui, Bazaruto serve de referência por ser um GttE. Não caberiam neste espaço e provavelmente na edição inteira exemplos de casos contrários à conservação protagonizados por gente que publicamente canta a necessidade de conservação, acumula prémios, em alguns casos até os reivindica.

Dirão alguns que tal se deve à falta de capacidade de fiscalização. Sim, mas em muitos casos é apenas resultado de falta de vontade política, e da “defesa” de interesses pessoais

em detrimento do bem e do interesse público que juraram servir. É a sobreposição do interesse económico sobre o ambiental, cujos efeitos nefastos, embora não sejam imediatos em muitos casos, serão em muitos casos severos. Valorizemos os nossos recursos e as nossas conquistas, com ou sem prémios!

Por Frederico Dava

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CTV e Rádio Moçambique na co-produção de programas ambientais. A produção de programas ambientais na Rádio-Moçambique, já conta com a participação do CTV, no âmbito de um memorandum de entendimento recentemente assinado entre as duas instituições. O acordo prevê, para além da realização de co-produções de programas ambientais, o apoio no estabelecimento de uma rede interna (RM) de jornalistas ambientais e formação dos mesmos em reportagem e legislação ambiental. O acordo, com a duração de dois anos renováveis, tem como objectivo principal apoiar a Rádio-Moçambique a criar uma sustentabilidade humana na produção de programas ambientais através da elevação de capacidade técnica dos seus profissionais para além de contribuir para a diversificação e aprofundamento na produção de programas ambientais.

CTV aposta na consolidação de jornalismo ambiental. Dois estudantes do curso médio de comunicação social, especialidade de jornalismo, estão integrados no CTV para durante seis meses receberem treinamento em reportagem e legislação ambiental. Durante este período, os estudantes terão a oportunidade de acompanhar as várias fases da produção de programas ambientais no âmbito do protocolo entre o CTV e a Rádio-Moçambique, participarão de workshops e acções de formação em matérias ambientais e terão a oportunidade de contacto e familiarização com as diversas instituições governamentais e não governamentais de conservação e/ou maneio dos recursos naturais a operar no país. Neste programa, serão admitidos, semestralmente, dois estudantes e o objectivo de médio e curto prazos é criar o gosto pelo jornalismo ambiental para possível especialização e preenchimento de lacunas existentes nos órgãos de Comunicação Social.

CTV inicia Programa de Debates Públicos. “Turismo Costeiro em Moçambique: Desafios de Sustentabilidade” foi o tema do primeiro de uma série de debates mensais que o CTV levará a cabo. Com estas sessões, pretende-se também criar um espaço de divulgação e discussão de trabalhos cientificos realizados no país. As áreas temáticas são todas aquelas que directa ou indirectamente têm a ver com a biodiversidade e gestão dos recursos naturais. O primeiro debate teve lugar no dia 9 de Outubro no anfiteatro do Museu de História Natural. A participação é livre.

Comunidades do Parque Transfronteiriço do Grande Limpopo exigem benefícios. As comunidades de Chibememe na área do Parque Nacional de Gonarezhou no Zimbabwe, parte zimbabweana do Grande Parque Transfronteira do Limpopo, instou as comunidades moçambicana e sul africana, também residentes nas zonas abrangidas pelo parque transfronteiriço a exigir mudanças face à forma como são distribuídos os ganhos resultantes da exploração das áreas protegidas. As comunidades manifestaram a sua preocupação, através de uma maratona de ciclismo envolvendo os três países que iniciou no Zimbabwe, passando por Moçambique, tendo terminado na África do Sul, Durban, durante a realização do 5º Congresso Mundial sobre os Parques. Para os mentores da iniciativa, a experiência mostra que as comunidades residentes nas áreas adjacente às zonas protegidas não usufruem das oportunidades económicas geradas por essas áreas, mas sim o sector privado que tem os ganhos resultantes da caça nas concessões, facilidades turísticas, oportunidades de promoção de turismo e safari. Para as comunidades adjacentes aos parques, os ganhos são ínfimos. Estas comunidades exigem mudanças sustentando que, ”são as comunidades vizinhas das áreas protegidas que sofrem com os animais selvagens, sendo portanto as comunidades que precisam de benefícios tangíveis para tornarem o papel da conservação real”, dizem.

Justiça Ambiental – Boletim Bi-mestral do CTV Directora Executiva: Alda Salomão, L.L.M. Editor: Frederico Dava

Layout e Maquetização: Marcos A M Pereira

Colaboradores permanentes: Alda Salomão, Helena Motta, Frederico Dava e Marcos A M Pereira Distribuição: Gratuita, exclusivamente electrónica.

Por favor envie as suas contribuições, comentários e críticas para Centro Terra Viva – Estudos e Advocacia Ambiental, Av. Agostinho Neto, 799 1o andar flat 4, Maputo - Moçambique. Tel: 303267, Fax 303724.

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