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Processo 1339/17.1T8PVZ.P2 Data do documento 3 de dezembro de 2020 Relator Carlos Portela

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DO PORTO | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Impugnação da decisão da matéria de facto > Contrato de seguro de vida > Cláusula de exclusão

SUMÁRIO

I - Na decisão da matéria de facto a convicção do tribunal deve ser fundada na análise crítica e conjugada de toda a prova produzida nos autos.

II - No domínio do regime do contrato de seguro de vida constante do Código Comercial de 1888, assistia as partes a faculdade de delimitar o âmbito de cobertura do risco, nos termos dos respectivos artigos 426.º & único, 4.º, e 455.º, no quadro amplo da liberdade contratual consagrado no artigo 405.º do CC, disposições essas que respeitam à formação do contrato;

III - Posteriormente e agora no artigo 191.º, n.º 1, o novo regime do contrato de seguro, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 72/2008, de 16-04, veio estabelecer-se uma exclusão supletiva da cobertura do risco em caso de morte causada por suicídio da pessoa segura, quando esta ocorra no primeiro ano subsequente à celebração do contrato;

IV - O carácter inovador dessa norma supletiva limita-se à exclusão do risco de morte causado por suicídio da pessoa segura no ano subsequente à celebração do contrato, permitindo que as partes afastem a aplicação daquela norma supletiva, quer assumindo tal tipo de risco por todo esse período, quer reduzindo ou aumentando este período;

V - A cobertura daquele tipo de risco para além do ano subsequente à data da celebração do contrato permanece, como anteriormente, na esfera da liberdade contratual, podendo ser, por isso, objecto de exclusão convencional.

VI - Tratando-se de uma cláusula de exclusão de cobertura, cabe à seguradora, nos termos do disposto nos artigos 18.º, al. c) e 21.º, n.º 1 da LCS, o dever de informação e de esclarecimento relativamente ao seu conteúdo.

TEXTO INTEGRAL

Apelação nº 1339/17.1T8PVZ.P2

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Tribunal recorrido: Tribunal Judicial da Comarca do Porto Juízo Central Cível da Póvoa de Varzim

Relator: Carlos Portela

Adjuntos: Joaquim Correia Gomes António Paulo Vasconcelos

Acordam na 3ª Secção do Tribunal da Relação do Porto I. Relatório:

B…, residente na Rua …, …, …, Póvoa de Varzim, instaurou a presente acção de processo comum contra C1… – Companhia de Seguros de Vida, S.A., …, …, …, Vila do Conde, pedindo a condenação desta a cumprir o contrato de seguro de vida que, juntamente com o falecido marido, celebrou com a mesma, pagando o capital em dívida ao beneficiário e a si as quantias pagas, depois da morte do marido, ao Banco C… em cumprimento do empréstimo.

Para o efeito e em síntese alegou que juntamente com o marido, para garantia do empréstimo que contraiu junto do Banco C…, S.A., celebrou com a R. um contrato de seguro de vida, a que sobreveio a morte do dito marido.

Citada, a R. apresentou Contestação dizendo que a morte do marido da A. ocorreu por suicídio, estando, como tal, excluída da apólice de seguro em causa.

Requerida, mediante prévio convite para o efeito, foi admitida a intervenção principal provocada de D… e E…, filhos da A. e do falecido marido, e do Banco beneficiário.

Proferido despacho saneador, identificado o objecto do processo e enunciados os temas de prova, houve lugar à reclamação da A. de fls. 115, a qual veio a ser parcialmente deferida por despacho de fls.122. Foi realizada a audiência de discussão e julgamento de acordo com o formalismo legal e proferida sentença, a qual foi, no âmbito do recurso dela interposto pelos AA., anulada, ampliando-se a matéria de facto no sentido do aditamento de um tema de prova que consistiu em indagar se “A morte por asfixia a que alude o ponto 12 se deveu a um acto voluntário da vítima”, sem prejuízo da reapreciação da matéria contraditória vertida nos pontos 7º, 10º e 11º quanto ao valor e da reapreciação de outros pontos da matéria de facto com o fim de evitar contradições na nova decisão.

Aditado o novo tema de prova, as partes juntaram a prova que tiveram por conveniente ordenando ainda o Tribunal novas diligências de prova.

Procedeu-se a nova sessão de julgamento e não obstante a falta das informações solicitadas ao Banco interveniente foram, com o consentimento dos ilustres mandatários, proferidas as competentes alegações, sem prejuízo do contraditório relativamente ao que viesse a ser junto, entretanto cumprido.

Foi então proferida sentença na qual se julgou a acção improcedente por não provada e, em consequência, se absolveu a Ré do pedido.

Os Autores vieram interpor recurso desta decisão, apresentando desde logo e nos termos legalmente prescritos as suas alegações.

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A Ré contra alegou.

Foi proferido despacho onde se considerou o recurso tempestivo e legal e se admitiu o mesmo como sendo de apelação, com subida imediata, nos autos e efeito meramente devolutivo.

Recebido o processo nesta Relação, emitiu-se despacho que teve o recurso como próprio, tempestivamente interposto e admitido com efeito e modo de subida adequados.

Colhidos os vistos legais, cumpre decidir. *

II. Enquadramento de facto e de direito:

Ao presente recurso são aplicáveis as regras processuais da Lei nº 41/2013 de 26 de Junho.

É consabido que o objecto do presente recurso, sem prejuízo das questões que sejam de conhecimento oficioso obrigatório, está definido pelo conteúdo das conclusões vertidas pelos autores/apelantes nas suas alegações de recurso (cf. artigos 608º, nº2, 635º, nº4 e 639º, nº1 do CPC).

E é o seguinte o teor dessas mesmas conclusões:

I -Pelo presente recurso, a autora, ora recorrente, impugna a Douta sentença, de facto e de Direito.

II -No seu entendimento, deverá ser julgado não provado o artigo 14, da Douta matéria de facto, do qual consta que “A morte por asfixia a que se refere o ponto 13) deveu-se a um acto voluntário da vítima”, uma vez que a prova pericial produzida na segunda audiência de discussão, após a anulação da primeira sentença, e determinada por este Venerando Tribunal da Relação, pelo Douto Acórdão precedente, foi taxativa e inequívoca no sentido de não ser possível afirmar que a morte do marido da autora se deveu a ato voluntário seu.

III -Logo, subsiste a dúvida quanto à origem da morte em apreço, se acidente, homicídio ou suicídio.

IV -O que, salvo o maior respeito, impõe a aplicação do disposto no artigo 414º, do CPC, em conjugação com o disposto no artigo 342º, n.º 2, do Código Civil, os quais, por não terem sido atendidos pela Douta sentença, se mostram, assim, violados.

V -Modificada a Douta matéria de facto supra, no sentido da presente impugnação, por eliminação do citado artigo 14, da Douta matéria de facto, como ora se requer, temos, salvo o maior respeito, verificada a necessária factualidade que permite julgar o pedido totalmente procedente, por não se mostrar provada a causa de exclusão da apólice em análise por suicídio.

VI -Acresce que, sempre ressalvando o maior respeito, o Tribunal a quo extravasou os limites da Douta Decisão imposta pelo precedente Acórdão deste Venerando Tribunal da Relação.

VII -Com efeito, cremos que este Venerando Tribunal da Relação, pelo seu precedente Acórdão, vinculou a resposta ao artigo 14, ao depoimento do Senhor Perito do IML, em conjugação estrita com a restante matéria já definitivamente assente.

VIII -Porém, o Tribunal a quo desconsiderou esse depoimento, o qual, como se disse atrás, foi inequívoco ao afirmar não ser possível concluir que a morte em questão se deveu a um ato voluntário da vítima.

IX -Assim, no nosso entendimento, o Tribunal a quo violou também o artigo 152º, n.º 1, in fine, do CPC. X -Por outro lado, o Tribunal a quo socorreu-se para fundamentar a sentença de factos que não constam da

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Douta matéria de facto julgada provada, o que consideramos constituir violação ao artigo 607º, n.º 3, do CPC.

XI -Em síntese, ao decidir como decidiu, na nossa opinião, o Tribunal a quo violou as seguintes normas legais: artigo 414º, do CPC, em conjugação com o disposto no artigo 342º, n.º 2, do Código Civil, o artigo 152º, n.º 1, in fine, e o artigo 607º, n.º 3, do CPC.

Termos em que, com o Douto suprimento de V. Ex.ªs. requer-se seja o presente recurso julgado procedente, condenando-se a ré integralmente no pedido, assim fazendo-se Sã e Verdadeira Justiça. *

Por seu turno a ré/apelante conclui do seguinte modo as suas contra alegações:

I -O presente recurso vem interposto da douta Sentença proferida no âmbito do processo supra identificado o qual, tendo julgado improcedente a acção instaurada pela ora Autora, ora Recorrente, veio absolver a ora Ré C1… – Companhia de Seguros, S.A, ora Recorrida, dos pedidos contra si formulados.

II -A Recorrente pretende a alteração à matéria de facto, considerando que foi incorrectamente julgado o facto 14, dos Factos Provados, e requerendo que o mesmo seja julgado como não provado.

III -Entende a ora Recorrente ter sido incorrectamente julgado o facto 14 da matéria de facto provada, que prescreve: 14. A morte por asfixia a que se refere o ponto 13) deveu-se a um ato voluntário da vítima. IV -Ora, consequentemente, com base no referido facto provado, decidiu a douta Sentença julgar a presente acção totalmente procedente e, em consequência, absolver a ora Recorrida da totalidade dos pedidos contra si formulados.

V -Posição que a ora Recorrida entende não merecer qualquer censura dada a prova testemunha produzida, mormente o Depoimento do Dr. F… gravado em CD, em ficheiro com referência n.º …………._... – com início às 14:37:25 horas e com a duração de 15 minutos e 3 segundos.

VI -Assim, e face a tal testemunho, nomeadamente quanto à clareza e espontaneidade com que foi prestado, outra conclusão não poderia ter retirado o Tribunal que não a de que, o marido da ora Autora provocou a sua própria morte por afogamento.

VII -Na verdade, dúvidas não restam à referida testemunha: “Há um conjunto de antecedentes que nos levam a tornar mais provável um diagnóstico de suicídio em relação a um outro que não seja diagnóstico de suicídio. Daí que a nossa conclusão tenha sido destes elementos que harmonizam com a etologia suicida, mas não podemos afirmar categoricamente sim que foi um suicídio.”.

VIII -Ora, resultou provado que o G…, desaparecido de casa desde o dia 21/03/2016, foi encontrado sem vida, em decúbito ventral, dentro de um poço com dois metros de profundidade (facto 4) e que o cadáver tinha vestígios de vegetação e estava em avançado estado de putrefacção (facto 5).

IX - Além disso, resultou provado, e bem no entendimento da aqui recorrida que “A morte de G… deveu-se a asfixia por submersão.” (facto 13) e que “A morte por asfixia a que se refere o ponto 13) deveu-se a um acto voluntário da vítima.” (facto 14).

X - De facto, salvo o devido respeito por posição contrária, da factualidade apurada resultou inequívoco que o marido da ora Autora cometeu suicídio, provocando a sua própria morte por afogamento.

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conclusão de que a morte de G… só pode ter ocorrido voluntariamente porquanto o poço onde o mesmo foi encontrado não tinha qualquer utilização regular, não sendo possível aceder ao mesmo que não com intuito suicida.

XII -Da análise da documentação remetida pela ora Recorrente à ora Recorrida, aquando da participação de sinistro, apurou-se que “…a morte de G… tenha sido devido a asfixia por submersão…”, (vide documento três junto com a douta Contestação).

XIII -Tendo-se, apurado, igualmente, que “…não foram encontradas lesões traumáticas que pudessem indiciar a intervenção de terceiros na morte da vítima.”, (vide documento quatro junto com a Contestação). XIV -Pelo que se concluiu, conforme consta do relatório de autópsia, que “Os dados necrópsicos e as informações policial e social colhidas nesta delegação, harmonizam- se com a hipótese de suicídio.” – cfr. documento três.

XV -Com efeito, na estrita articulação dos documentos juntos aos autos e bem assim aos depoimentos testemunhais proferidos, entende a ora Recorrida que nenhuma censura merece a sentença proferida pelo douto Tribunal a quo.

XVI - Porquanto, resulta por demais evidente que o douto Tribunal recorrido alicerçou a sua posição nas regras da experiência comum e da normalidade de acontecer, coadjuvadas, precisamente, na associação daquelas, com as regras da ciência implícitas em tal testemunho.

XVII -Ora, sucede que, o contrato de seguro de vida celebrado com a Ré prevê a exclusão do seu âmbito de cobertura de sinistros em que “o falecimento da pessoa segura seja devido a suicídio…” - cfr. artigo 1.7 das Condições Gerais do seguro de vida subscrito que se juntam como Doc. 5 junto com a contestação.

XVIII -Conforme elencado na douta Sentença recorrida: “Ora, das condições especiais do contrato em apreço a morte por suicídio da pessoa segura está excluída da respectiva cobertura, o que, de resto, se insere na linha da exclusão legal prevista no art.º 191.º da Lei do Contrato de Seguro- LCS (Decreto-Lei n.º 72/2008 de 16/04) para suicídio ocorridos até um ano após a celebração do contrato, salvo convenção em contrário.”

XIX -Tratando-se de exclusão de cobertura, cabia à seguradora, nos termos dos artigos 18.º, al. c) e 21.º, n.º 1 da LCS, informar, esclarecer e fornecer o seu conteúdo ao tomador do seguro, o que no caso resulta ter sucedido.

XX -Face ao supra exposto, verificando-se a circunstância de exclusão da cobertura do seguro em apreço, é forçoso concluir pela irresponsabilidade da ora Recorrida, nos precisos termos em que a douta Sentença conclui.

Nestes termos e nos demais de direito, requer-se a V. Exas. que seja negado provimento ao presente recurso, mantendo-se a douta Sentença recorrida, só assim se fazendo JUSTIÇA.

*

Perante o antes exposto resulta claro serem as seguintes a resolver no presente recurso: 1ª) A impugnação da decisão da matéria de facto;

2ª) A procedência da acção. *

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Antes do mais importa recordar aqui qual o conteúdo da decisão de facto que foi proferida e que agora se impugna.

Assim:

Factos provados

1. Em 30-03-2012, a autora e o seu falecido marido, G…, contraíram junto do “Banco C…, S.A.” empréstimo de €65.000, titulado pelo contrato nº ………, a ser pago em 276 prestações mensais sucessivas (23 anos), de capital e juros, adiante apenas “empréstimo”.

2. Paralelamente ao empréstimo, em subordinação à contratação deste, em 31-05- 2012, a autora e o seu falecido marido celebraram com a ré seguro de vida, adiante apenas “seguro”.

3. Tal seguro, para o que aqui interessa, tem as cláusulas e definições seguintes: 3.1 Designação: Crédito à habitação – C2… – Apólice individual;

3.2.Seguradora: C1… – Companhia de Seguros de Vida, S.A., com sede na Rua …, n.º .., …. - … Lisboa – NIPC ………;

3.3.Apólice: ...; Empréstimo ……….. - % inicial do empréstimo seguro – 100%; 3.4.Início da vigência: 31-05-2012;

3.5.Duração: cinco anos, sendo, após este período automática e sucessivamente renovada por idênticos períodos para a mesma modalidade “C2…”, tendo como prazo máximo o ano em que a 1ª pessoa segura complete 80 anos de idade.

3.6.Tomador de seguro: G…, Rua …, …. - …, …. - … Vila do Conde, nif. ………;

3.7.1ª Pessoa Segura: G…, Rua …, …. - …, …. - … Vila do Conde, nif ………., B. I ………, nascido a ..-01-1956;

3.8.2ª Pessoa Segura: B…, nif ………, B.I. ………, nascida a ..-11-1959; 3.9.Beneficiário:

-Capital em divida do empréstimo contraído pela Pessoa Segura, à data da ocorrência: “ Banco C…, S.A. ”, com sede na Rua …, .., …. - … Lisboa”, NIPC ………., que expressamente aceita o Benefício.

3.10. Natureza do Seguro: Seguro de vida, com cobertura de Morte e Invalidez;

3.11. Riscos cobertos: morte de qualquer um dos tomadores do seguro sempre que a mesma ocorra antes do termo do contrato;

3.12. Capital seguro: €65.000,00; 3.13. Âmbito das coberturas:

Morte da pessoa segura sempre que a mesma ocorra antes do termo do contrato. 3.14. Obrigações da Seguradora:

-Garantir a cobertura dos riscos contratados;

-Pagar ao beneficiário, que haja aceitado a cláusula beneficiária, as importâncias seguras.

4. G…, desaparecido de casa desde o dia 21/03/2016, foi encontrado sem vida, em decúbito ventral, dentro de um poço com dois metros de profundidade.

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6. O respectivo óbito foi verificado às 23 h do dia 26/04/2016.

7. Desde o falecimento do marido até 31/08/2017, a A. pagou ao Banco C1…, aqui interveniente, a título de capital, juros, comissões e impostos de selo, a quantia de 4.665,65€.

8. O contrato de seguro celebrado com a R. prevê a exclusão do seu âmbito de cobertura de sinistros em que o falecimento da pessoa segura seja devido a suicídio (cfr. art. 1.7 das Condições Gerais do seguro de vida subscrito).

9. As cláusulas inscritas no seguro foram elaboradas exclusivamente pela R. e apresentadas em formulário pré-impresso, sem prévia negociação com a A. e o seu falecido marido.

10. Após a morte do marido a A. continuou e continua a pagar ao Banco C… as prestações mensais relativas ao empréstimo.

11. A 26/04/2016 o capital em dívida era de 56.506,05€. 12. O capital em dívida à data de 2/02/2020 era de 46.584,70€. 13. A morte de G… deveu-se a asfixia por submersão.

14. A morte por asfixia a que se refere o ponto 13) deveu-se a um acto voluntário da vítima. 15. Não foram encontradas no corpo do falecido lesões traumáticas.

16. O falecido marido da A. no dia 18/03/2016 havia ingerido uma grande quantidade de medicamentos que exigiu o seu transporte por uma equipa do INEM para o Hospital H… onde foi assistido.

17. No art.º 1.7.1.2 das Condições Especiais do contrato de seguro supra id., sob o tema riscos excluídos refere que “A Seguradora não garante o pagamento das importâncias seguras, caso o falecimento da Pessoa Segura seja devido a:

Suicídio ocorrido em qualquer momento após a celebração do presente contrato”.

18. G… foi informado do teor das cláusulas contratuais do seguro celebrado, designadamente da cláusula de exclusão supra identificada em 8.

Factos não provados:

Todos os que se mostram em contradição com os que acima se deram como provados. *

Como antes já vimos neste seu recurso os autores/apelantes pretendem que a matéria de facto contida no supra identificado ponto 14) passe a ser tida como não provada.

Para tanto, cumprem devidamente os ónus previstos no art.º 640º, nºs 1 e 2 do CPC.

E para fundamentar esta sua pretensão afirma que ao decidir como decidiu dando como provado o facto inscrito no referido ponto 14), “o Tribunal a quo violou as seguintes normas legais: artigo 414º, do CPC, em conjugação com o disposto no art.º 342º, nº2, do Código Civil, o art.º 152º, nº1, in fine e o artigo 607º, nº3 do CPC.”

Vejamos, pois, se é assim, começando pela pretensa violação do disposto na parte final do nº1 do art.º 152º do CPC.

Segundo dispõe tal norma “os juízes têm o dever de administrar justiça, proferindo despacho ou sentença sobre as matérias pendentes e cumprindo, nos termos da lei, as decisões dos tribunais superiores.”

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Como já vimos, para o acórdão desta Relação de 25.09.2019, a questão fulcral consiste em saber se a asfixia resultou de um acto voluntário ou não, sendo para tal indispensável que os Srs. Peritos esclareçam se o mencionado na 4ª cláusula das conclusões do relatório, diz respeito a um acto do próprio suicida. E por isso se determinou o aditamento aos temas de prova da seguinte matéria: “A morte por asfixia a que alude o ponto 12 deveu-se a um acto voluntário da vítima?”.

Ora em cumprimento de tal determinação superior o Tribunal “a quo” procedeu ao aditamento de tal facto aos temas de prova e procedeu à reinquirição dos Srs. Peritos do INML do Porto, o Dr. F… e a Dr.ª I… (cf. acta de fls.212 e 213).

E foi no culminar da respectiva audiência de discussão e julgamento que proferiu a decisão de facto que já antes aqui deixamos melhor transcrita, decisão essa cuja fundamentação agora passamos também a reproduzir para um melhor esclarecimento do que aqui se discute:

“O Tribunal fundou a sua convicção na análise crítica e conjugada da prova produzida, designadamente na documentação junta, como seja a ficha de informação normalizada de contratos de crédito à habitação de fls. 6 e ss.; a apólice individual de fls. 16 v. e ss. (50 e ss.); a proposta de seguro e documentação contemporânea de fls. 142 e ss. e o relatório de autópsia de fls. 25 e ss., donde constam além do mais as informações prestadas pela A. e pelo filho acerca do então recente episódio hospitalar do seu marido; o despacho de arquivamento de fls. 57 e ss.; o impresso de informação pré-contratual de fls. 62 v. e ss.; os extractos bancários de fls. 31 e ss., 115 v. e ss. e 119 e ss. e a informação bancária de fls. 218 e ss.

Em conjugação com os apontados documentos, nas partes respectivas, foram ponderados os depoimentos de J…, funcionário do banco beneficiário, igualmente mediador relativamente ao seguro, que acompanhou a concessão de crédito ao casal assim como a subscrição do seguro cujas cláusulas explicou aos segurados, designadamente as de exclusão, como então reconheceram por escrito os tomadores do seguro (cfr. fls. 144 v.) e que depôs, ainda, no sentido da regularização do pagamento das prestações do crédito; de K…, médico colaborador da R. seguradora que com base na documentação a que teve acesso como seja o despacho de arquivamento e o relatório da autópsia, supra ids., explicou a causa da morte por afogamento, devido à presença de líquido na traqueia e brônquios que afasta a possibilidade de morte prévia por terceiro, o mesmo sucedendo em relação à hipótese de morte acidental, visto tratar-se de pessoa adulta, sem necessidade ou interesse natural, de acordo com as regras da experiência, em aproximar-se de um poço abandonado e coberto com tampa que permite a abertura e fecho automático após introdução do respectivo agente.

Para mais, as informações fornecidas por familiares próximos, esposa e filho, às autoridades de um episódio recente do próprio relativo à ingestão em excesso de medicação com necessidade de assistência hospitalar constitui um elemento que aponta para um quadro de perturbação psíquica, reconhecido pelos mesmos familiares, e reforça os já fortes indícios de suicídio por parte do marido da A. que, assim, se considera ter ficado demonstrado, não obstante o relatório da autópsia, assim como os seus subscritores, Dr. F… e Dr.ª L…, ouvidos em julgamento, da mera observação do cadáver, não poderem determinar de forma concludente que a morte se deveu a um acto voluntário da vítima, limitando-se antes a registar que a morte da vítima se harmoniza com uma etiologia suicida.

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mencionados no relatório de autópsia, o Tribunal respaldado nas regras da experiência e da normalidade do acontecer, considerou ter ficado demonstrado que a morte por asfixia foi precedida, desencadeada e sequencialmente provocada por uma acção voluntária da vítima, qual seja a de se aproximar e introduzir no interior do poço movido pela sua vontade.

Na verdade, não havendo sinais de lesões traumáticas ou notícia de inimizades que de alguma forma o coagissem a tal, assim como se aproximou do poço e levantou a sua tampa por vontade própria, a vítima, também se introduziu no mesmo movido nos momentos subsequentes pela mesma vontade que determinou finalisticamente aquele seu comportamento e a morte que dele resultou.”

Na tese dos autores/apelantes e no que toca ao ponto 14) dos factos provados, tal fundamentação é questionável por não cumprir o que antes havia sido determinado por este Tribunal da Relação, considerando outros meios de prova que não apenas as declarações prestadas pelos Srs. Peritos do INML do Porto.

Não têm no entanto razão neste seu entendimento.

Assim e salvo melhor opinião, não se pode de todo considerar que segundo esta Relação, para se responder à referida matéria de facto o Tribunal “a quo” só se poderia ter em conta as declarações prestadas pelos referidos Peritos do INML.

Ou seja, afastando tal alegação, o que se deve entender é que nesta parte nenhuma censura nos merece a decisão recorrida, já que na mesma o que se fez, mais não foi do que cumprir o disposto no nº4 do art.º 607º, nº4 do CPC.

A propósito desta norma e mais concretamente do sei nº3, alegam também os autores/apelantes que para fundamentar a decisão proferida o Tribunal “a quo” se socorreu de factos que não constam do rol de factos dados como provados.

Ora segundo o disposto no referido artigo, “a sentença começa por identificar as partes e o objecto do litígio, enunciando, de seguida, as questões que ao tribunal cumpre solucionar” (nº2); “seguem-se os fundamentos, devendo o juiz descriminar os factos que considera provados e indicar, interpretar e aplicar as normas jurídicas correspondentes, concluindo pela decisão final” (nº3).

Perante tal redacção não vemos, pois, como se pode afirmar que ao fazer as referências contidas no 2º parágrafo, segunda parte e parte final e no parágrafo 3º, o Tribunal “a quo” desrespeita tais regras já que não estamos perante factos (provados ou não provados) mas apenas e só perante considerações, que segundo o Tribunal “a quo”, servem para justificar a decisão proferida.

Saber se a decisão de facto proferida merece ser subscrita é questão diversa a analisar mais adiante mas que claramente não tem a ver nem com a violação do disposto no art.º 152º, nº1, nem com o desrespeito pelas regras do nº3 do art.º 607º do CPC.

Improcede assim nestes pontos o recurso aqui interposto. Agora, sim, a análise da impugnação da decisão de facto.

Como todos já vimos, a pretensão dos autores/apelantes é que seja dada como não provada a matéria contida no ponto 14).

E isto porque tal resulta quer do relatório de autópsia de fls. 22 e seguintes, quer dos esclarecimentos prestados em julgamentos pelos Peritos do INML do Porto.

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Temos também nós como inquestionável que nos seus depoimentos, os referidos peritos médico-legais, afirmaram o seguinte: que da mera observação do cadáver não podiam determinar de forma concludente que a morte se deveu a um acto voluntário da vítima.

No entanto, não deixaram de reiterar, como aliás já tinham feito na conclusão 4ª do referido relatório pericial que os dados necrópsicos e as informações policial e social que tinham sido obtidas naquela Delegação do INML, ali também transcritas, se harmonizam com uma etiologia suicida.

Ora importa não esquecer que a convicção do tribunal deve ser fundada na análise crítica e conjugada de toda a prova produzida nos autos.

E desta e para este efeito, cabe salientar a seguinte:

- O já referido relatório de autópsia de fls. 22 e seguintes do qual constam para além do mais, as informações prestadas pela autora e filho acerca do episódio hospitalar do seu marido e pai do dia 18.03.2016;

- O despacho de arquivamento do inquérito instaurado pelo Ministério Público de Vila do Conde de fls. 57 e 58;

- O depoimento prestado em julgamento pelo médico colaborador da ré/apelada, a testemunha K….

Assim da conjugação de todos estes meios de prova e porque outras razões não existem, bem decidiu pois o Tribunal “a quo”, quando tendo também por base “as regras da experiência e da normalidade do acontecer”, acabou por entender que estava demonstrado que a morte por asfixia tinha sido precedida, desencadeada e sequencialmente provocada por uma acção voluntária da vítima, mais concretamente a aproximação e a introdução no interior do referido poço de dois metros de profundidade.

E a ser deste modo também não nos assaltam quaisquer dúvidas sobre a realidade do facto mandado aditar aos temas de prova por esta Relação.

Por isso, temos como ajustada a resposta afirmativa dado ao mesmo pelo Tribunal “a quo”.

Ou seja, contrariamente ao que defendem os autores/apelantes, ao decidir-se como se decidiu, não se violaram as regras conjugadas dos artigos 414º do Código de Processo Civil e 342º, nº2 do Código Civil. Improcede também nesta parte o recurso aqui interposto.

Cabe agora apreciar e decidir da procedência/improcedência do pedido formulado pela autora, B… e que se traduz na condenação da ré/apelada a pagar-lhe enquanto beneficiária do seguro titulado pela apólice ..., o valor do capital que a mesma tem em dívida ao Banco C1… no âmbito do empréstimo que, em conjunto juntamente com o seu falecido marido, contraiu junto do mesmo.

Ora está provado que para garantia do pagamento do capital em dívida, proveniente do referido empréstimo, em caso de morte ou invalidez da autora ou do marido, estes celebraram com a ré seguradora, um contrato de seguro de vida que tem por beneficiário o aqui interveniente Banco C…. Está igualmente provado que o marido da autora e pai dos intervenientes, D… e E… faleceu razão pela qual, a mesma autora A. pretende que seja feito o pagamento quer do capital em dívida à referida entidade bancária quer a si própria dos valores que entretanto pagou à mesma instituição.

Tudo isto por entender que a identificada situação encontra cobertura nas garantias do supra referido seguro de vida.

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A ré seguradora por seu turno, afasta a sua responsabilidade, defendendo que a morte do marido da autora foi provocada pelo próprio.

Já sabemos todos, que resultou provado que de facto, o marido da autora se suicidou, provocando a sua própria morte por afogamento.

Verifica-se que das condições especiais do contrato dos autos a morte por suicídio da pessoa segura está excluída da respectiva cobertura.

Ora como bem se afirma na decisão recorrida, tal circunstância insere-se na linha da exclusão legal prevista no art.º 191.º da Lei do Contrato de Seguro- LCS (Decreto-Lei n.º 72/2008 de 16/04) para suicídio ocorridos até um ano após a celebração do contrato, salvo convenção em contrário.

Ou seja, a referida cláusula geral alarga pois o prazo de exclusão do suicídio previsto no art.º 191.º n.º 1 da LCS.

Perante tal realidade importa agora chamar à colação o que foi feito constar no Acórdão do STJ de 29.06.2017, no processo nº1026/13.0TVLSB.L1.S1, em wwww.dgsi.pt, onde em síntese se defendeu o seguinte:

Antes e no domínio do regime do contrato de seguro de vidas constante do Código Comercial de 1888, assistia as partes a faculdade de delimitar o âmbito de cobertura do risco, nos termos dos respectivos artigos 426.º & único, 4.º, e 455.º, no quadro amplo da liberdade contratual consagrado no artigo 405.º do CC, disposições essas que respeitam à formação do contrato;

Posteriormente e agora no artigo 191.º, n.º 1, o novo regime do contrato de seguro, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 72/2008, de 16-04, veio estabelecer uma exclusão supletiva da cobertura do risco em caso de morte causada por suicídio da pessoa segura, quando esta ocorra no primeiro ano subsequente à celebração do contrato;

O carácter inovador dessa norma supletiva confina-se à exclusão do risco de morte causado por suicídio da pessoa segura no ano subsequente à celebração do contrato, permitindo-se que as partes afastem a aplicação daquela norma supletiva, quer assumindo tal tipo de risco por todo esse período, quer reduzindo ou aumentando este período;

Por fim, deve entender-se que a cobertura daquele tipo de risco para além do ano subsequente à data da celebração do contrato permanece, como anteriormente, na esfera da liberdade contratual, podendo ser, por isso, objecto de exclusão convencional.

De acordo com o acabado de expor e voltando ao caso concreto, cabe recordar o que já antes ficou dito ou seja que a cláusula geral consagrada no contrato em apreço, (cf. ponto 8 dos factos provados), alarga o prazo de exclusão do suicídio previsto no art.º 191.º n.º 1 da LCS.

Sendo assim e tratando-se de uma cláusula de exclusão de cobertura, resulta claro que cabia à seguradora, nos termos do disposto nos artigos 18.º, al. c) e 21.º, n.º 1 da LCS e aquando da celebração do contrato, o dever de informar, esclarecer e fornecer ao tomador do seguro o seu respectivo conteúdo. Ora como resulta de 18) dos factos provados tal obrigação foi pontualmente cumprida pela ré.

Deste modo, verificando-se e sendo válida a referida cláusula de exclusão do seguro dos autos, bem pensou o Tribunal “a quo” quando concluiu pela irresponsabilidade da ré Seguradora e, em consequência, decidiu pela improcedência da acção.

(12)

Em suma, nenhuma censura merece a decisão recorrida.

Ou seja, também aqui não colhem os argumentos recursivos da autora B…. * Sumário (cf. art.º 663º, nº7 do CPC): ... ... ... * III. Decisão:

Pelo exposto, julga-se improcedente o presente recurso de apelação e, em consequência, confirma-se a sentença recorrida.

*

Custas a cargo da autora/apelante (cf. art.º 527º, nºs 1 e 2 do CPC). *

Notifique.

Porto 3 de Dezembro de 2020 Carlos Portela

Joaquim Correia Gomes António Paulo Vasconcelos

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