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Processo

0163/19.1BEPRT

Data do documento 27 de maio de 2021

Relator

Cláudio Ramos Monteiro

SUPREMO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO | ADMINISTRATIVO

Acórdão

DESCRITORES

Recurso jurisdicional > Alegações > Falta de conclusões

SUMÁRIO

I - Nos termos da alínea b) do número 2 do artigo 145.º do CPTA, o requerimento de recurso é indeferido quando a alegação do recorrente não tenha conclusões.

II - A rejeição do recurso apenas não ocorre no caso previsto no n.º 4 do artigo 146.º.

TEXTO INTEGRAL

ACORDAM NO PLENO DA SECÇÃO DO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO DO SUPREMO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO

I. Relatório

1. JPP – JUNTOS PELO POVO - identificado nos autos – recorreu para este Supremo Tribunal Administrativo, para uniformização de jurisprudência, nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 152.º do CPTA, das seguintes decisões:

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- Acórdão da Secção do Contencioso Administrativo deste Supremo Tribunal Administrativo, de 29 de outubro de 2020, que revogou os Acórdãos proferidos pelo Tribunal Central Administrativo Norte (TCAN), de 30 de agosto de 2019, e 13 de março de 2020, e que julgou improcedente a ação de perda de mandato proposta pelo Recorrente contra os ora Recorridos A…………. e B……….; - Acórdão da Secção do Contencioso Administrativo deste Supremo Tribunal Administrativo, de 3 de dezembro de 2020, que indeferiu os pedidos de declaração de nulidade e de reforma do acórdão anterior.

Para fundamentar o seu recurso, alegou que os acórdãos recorridos estão em contradição, relativamente a duas questões de direito distintas, com as seguintes decisões:

- Acórdão da Secção do Contencioso Administrativo deste Supremo Tribunal Administrativo, de 13 de outubro de 2016, proferido no Processo n.º 0869/16; e - Acórdão da Secção do Contencioso Administrativo deste Supremo Tribunal Administrativo, de 20 de junho de 2017, proferido no Processo n.º 0456/15. Contudo, nas suas alegações de recurso o Recorrente não formulou conclusões.

2. Os Recorridos contra-alegaram, concluindo o seguinte:

«DA REJEIÇÃO DO RECURSO

(por falta absoluta de conclusões)

A. Um recurso – ainda que extraordinário para uniformização de jurisprudência e interposto ao abrigo do artigo 152.º do CPTA - tem que conter obrigatoriamente conclusões, sendo estas que, aliás, delimitam o seu objecto.

B. Compulsada a peça processual que contém o requerimento de interposição de recurso e respectivas alegações, resulta claro que estão em falta as exigíveis conclusões, observando-se que, após as referidas alegações, a peça processual

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passa imediatamente ao pedido.

C. A lei processual administrativa – que radica subsidiariamente nas normas processuais civis - atribui uma consequência clara e inequívoca à falta de conclusões num recurso, salvo numa única excepção (prevista no artigo 146.º, n.º 4 do CPTA e à qual, note-se, o caso em apreço não se subsume), dedicada a processo impugnatórios e mediante determinadas condições.

D. Esta norma (artigo 146.º, n.º 4 do CPTA) define especificamente o único caso em que, na falta de conclusões, o relator pode convidar o Recorrente a apresentá-las, deixando todos os outros subsumidos ao regime geral aplicável no processo civil, maxime no artigo 641.º, n.º 2, alínea b) do CPC, o qual estipula de forma clara que “o requerimento é indeferido quando: b) não contenha ou junte a alegação do recorrente ou quando esta não tenha conclusões”.

E. Mas também a jurisprudência dos tribunais superiores tem tido um entendimento unânime acerca desta matéria, destacando-se, inter alia, um recente Acórdão do Tribunal da Relação do Porto que, no seu sumário, refere de forma lapidar o seguinte:

“I - Não oferece dúvidas que a falta de conclusões num recurso é fundamento da sua rejeição – assim o disciplina de forma clara o artigo 641º nº 2 al. b) do CPC.

II - Pela sua própria natureza e finalidade, as conclusões são a súmula final e sintética da pretensão formulada em função do antes alegado. Não é neste sentido defensável invocar que alegação expositiva ao longo do articulado, em que naturalmente a parte foi manifestando a sua pretensão sob pena de o

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articulado ser incompreensível, configura a observância das exigidas conclusões.

III - Assente que as conclusões não foram apresentadas junto com o articulado de interposição de recurso, é a própria lei que sanciona tal falta com a rejeição do recurso. Sendo como tal insuscetível de suprimento e logo vedado estando ao tribunal o convite ao aperfeiçoamento, sob pena de violação “da tipicidade processual” e de “ilegal validação de um ato praticado depois de extinto o respetivo prazo perentório”. (sublinhado nosso)

F. Mesmo quando o tribunal a quo não indefira a admissão do recurso nos termos do artigo 641.º, n.º 2 alínea b) do CPC, sempre está facultado ao tribunal ad quem apreciar e decidir em conformidade pela rejeição do recurso, como estipula o artigo 652º, n.º 1, alínea b) do CPC.

G. O Tribunal Constitucional tem-se debruçada acerca desta matéria e decidido de forma absolutamente clara e objectiva, rejeitando qualquer violação do princípio do acesso à justiça ou da proporcionalidade.

H. E sufragando integralmente este entendimento constitucional, o STJ decidiu no mesmo sentido, evidenciando as alterações operadas no direito adjectivo civil em 2007, bem como o entendimento do “dever de gestão processual” consignado no artigo 6º, nº 2, do CPC no que respeita ao não convite para formular conclusões e ainda que “a apresentação de conclusões em falta, na sequência de convite a “aperfeiçoamento” das alegações, consubstanciaria, não apenas a violação da tipicidade processual e dos demais salientados princípios, mas também a ilegal validação de um acto praticado depois de extinto o respectivo prazo peremptório”.

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I. Pelo exposto, uma vez que o recurso em apreço não tem conclusões e não existe a possibilidade legal de convidar o Recorrente a apresentá-las, deverá o mesmo ser rejeitado, nos termos do disposto nos artigos 641.º, n.º 2, alínea b) e 652.º, n.º 1 alínea b), ambos do CPC, ex vi artigos 140.º, n.º 3 e 1.º, ambos do CPTA.

Caso assim não se entenda,

J. Estando a decisão de perda de mandato atreita ao regime sancionatório administrativo, será desde logo difícil (sem ganhar contornos de desafio…) uniformizar algo que está necessariamente dependente de uma análise casuística.

K. O que parece pretender este recurso - para além de impedir a consolidação desta decisão judicial na ordem jurídica (depois de várias outras tentativas terem claudicado) - é construir uma tese objectivista, através de uma interpretação literal da lei, da qual resultaria que a participação dos Recorridos num procedimento administrativo nos termos do disposto no artigo 8.º, n.º 2 da Lei da Tutela Administrativa conduziria inelutavelmente, e sem mais, à perda de mandato de um membro de um órgão autárquico.

L. E temos vários exemplos na jurisprudência dos tribunais superiores da jurisdição administrativa - alguns deles citados até no Acórdão de 29 de Outubro de 2020 que está na mira do presente recurso – que explanam com substância o juízo que tem que ser percorrido até à decisão judicial de perda de mandato. E facilmente se alcança que tal não se logra com raciocínios ou operações automáticas.

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extraordinários para uniformização de jurisprudência têm em vista a obtenção de uma orientação jurisprudencial em casos nos quais se verifiquem, cumulativamente, a i) existência de decisões contraditórias entre Acórdãos do STA, ou deste e do TCA, ou entre Acórdãos do TCA; ii) que a contraditoriedade decisória se verifique sobre a mesma questão fundamental de direito; iii) que os Acórdãos em causa — Acórdão recorrido e Acórdão fundamento — tenham transitado em julgado, e o respectivo recurso tenha sido interposto, no prazo de trinta dias, após o trânsito do Acórdão recorrido; e iv) que a orientação perfilhada no acórdão recorrido não esteja de acordo com a jurisprudência mais recentemente consolidada no STA.

DA PRIMEIRA OPOSIÇÃO DE JULGADOS

N. Com vista a uniformizar a interpretação atinente à aplicação do artigo 8.º, n.º 2 da Lei da Tutela Administrativa, nomeadamente quando à “inocuidade” da intervenção do eleito local em procedimento administrativo (quando está demonstrada a intervenção com o intuito de obter vantagem patrimonial pessoal), o Recorrente convoca o Acórdão Fundamento do STA, proferido no âmbito do processo n.º 0869/16, de 13 de Outubro de 2016.

O. A factualidade do Acórdão Fundamento é completamente distinta dos factos constantes do Acórdão Recorrido.

P. O que está em discussão no Acórdão Recorrido é saber se os Recorridos, por terem subscrito uma proposta que contemplava o pagamento de uma dívida fiscal da empresa municipal C... (resultante de uma inspecção tributária ulterior à deliberação de dissolução, no qual se aplica o artigo 147º.º, n.º 2 do Código das Sociedades Comerciais e os artigos 22.º e 24.º da Lei Geral Tributária) pelo Município da ... (após reversão fiscal), e tomando em

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consideração todo o circunstancialismo descrito nos autos, devem ser condenados à perda do seu mandato como Presidente e Vereador da Câmara Municipal da ...

Q. O Acórdão Recorrido entendeu que os Recorridos intervieram no procedimento administrativo, mas que “não há motivo para perda de mandato quando a intervenção ilícita dos impedidos no procedimento, face ao circunstancialismo em causa, não revela uma conduta gravemente ofensiva das suas obrigações e deveres funcionais”.

R. O que se verificou é que o Acórdão Recorrido, independentemente de ter assumido que intervieram no procedimento administrativo, fez um juízo atinente à culpa dos Recorridos, por referência aos factos que constroem o circunstancialismo referido e a sua fundamentação é muito clara”.

S. O Acórdão Fundamento conta outra “história”, relacionada com uma doação de imóveis de uma Junta de Freguesia para uma associação privada, na qual o Presidente da Junta de Freguesia era dirigente, com vista a impedir que identificados imóveis passassem a integrar o património da nova União de Freguesias.

T. Como se extrai desta singela, mas esclarecedora descrição, os factos julgados nos dois Acórdãos em apreço não são sequer comparáveis, pelo que não estão reunidas as condições para o Acórdão Fundamento servir de base à Oposição de Julgados.

U. Assim sendo, e ainda que se pudesse concluir que a interpretação do referido artigo 8.º, n.º 2 é semelhante – o que se aceita -, a verdade é que a sua aplicação é diferente, uma vez que a matéria de facto é igualmente distinta.

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V. As cinco questões a solucionar, enunciadas pelo Recorrente, para além de descabidas, nada têm que ver com o Acórdão Fundamento.

W. O Acórdão Recorrido está conforme com a jurisprudência mais recentemente consolidada no STA, nomeadamente quanto a este ponto.

X. A partir do ponto 3.2 do Acórdão Recorrido, e antes de partir para a fundamentação propriamente dita, houve a preocupação de “rechear” o aresto com jurisprudência que musculou a decisão judicial em crise e deu o necessário conforto a quem tem a missão de julgar.

Y. Ora, para aferir do preenchimento do pressuposto da “jurisprudência mais recentemente consolidada no STA”, note-se que o Acórdão Fundamento é datado de 13 de Outubro de 2016 e que o Acórdão Recorrido se muniu do apoio do Acórdão do STA de 21 de Maio de 2020, proferido no processo n.º 69/19.4BEMDL 44 e que é citado nas pp. 44 e 45 do Acórdão Recorrido.

Z. Assim se conclui que a questão que o Recorrente pretende abordar neste recurso está perfeitamente consolidada na jurisprudência do STA, como denota o recente Acórdão do STA - de 21 de Maio de 2020 - citado no Acórdão Recorrido.

AA. O Recorrente pretendeu “enxertar” neste recurso matéria e argumentação que não têm conexão com a oposição de julgados e, nomeadamente, com o Acórdão Fundamento.

BB. Para além de discorrer com referências desenquadradas ao Acórdão do TCAN proferido nestes autos e que foi revogado pelo Acórdão Recorrido, o

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Recorrente invoca ainda relatórios do Tribunais de Contas em processos de que, com bem sabe, não se conhece decisão final.

CC. Mas o Recorrente coloca, ainda, questões a debater do domínio tributário, que bem sabe serem de natureza tributária e que não tem o mínimo de enquadramento neste tipo de recursos e que, aliás, não constam sequer do pedido.

DD. Mas, por dever de patrocínio, sempre se dirá que a actuação dos Recorridos está relacionada com a aplicação do artigo 147.º, n.º 2 do Código das Sociedades Comerciais ao caso em apreço.

EE. Se atentarmos aos factos dados como provados (nomeadamente a matérias constante dos pontos D a M), observamos que foi deliberada a dissolução da C... em data anterior às inspecções tributárias que originaram os actos de liquidação de IRC e de IVA, o que significa que, à data da dissolução da C..., as dívidas fiscais em apreço ainda não existiam.

FF. Daí que o disposto no n.º 2 do artigo 147º do CSC seja aplicável aos autos e conduza à única solução possível: o Município da ..., na qualidade de sócio, era e é responsável subsidiário pelo pagamento destas dívidas fiscais (sublinhe-se a este propósito, e conforme consta dos autos, que todas as liquidações foram objecto de reclamação ou impugnação judicial, podendo – como se espera – ser, a final, anuladas).

GG. A dissolução das empresas locais obedece ao regime jurídico dos procedimentos administrativos de dissolução e de liquidação de entidades comerciais, tal como é imposto pelo n.º 4 do artigo 62.º da Lei n.º 50/2012, de 31 de Agosto.

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HH. Ademais, a responsabilidade subsidiária das entidades públicas participantes pelas dívidas das empresas locais - subsidiária por se efectivar apenas depois de esgotado o património da empresa local revela-se uma solução totalmente harmonizada com outras indicações da Lei das Empresas Locais, nomeadamente com os regimes de transferências financeiras obrigatórias (artigo 40.º) e as que regulam a consolidação do endividamento das empresas locais nas dívidas das entidades públicas participantes (artigo 41.º, n.º 1).

II. Em face da retórica argumentativa antecedente é possível concluir que não se verificam os requisitos de admissibilidade do recurso quanto à primeira oposição de Acórdãos, pelo que não poderá o recurso ser conhecido de mérito.

DA SEGUNDA OPOSIÇÃO DE JULGADOS

JJ.O Recorrente entendeu ainda, através do presente recurso, suscitar a uniformização de jurisprudência em relação à alegada obrigatoriedade de reenvio para o Tribunal de Justiça da União Europeia, por referência ao disposto no artigo 267.º, § 3, do TFUE.

KK. A questão em apreço não é “uma questão fundamental de direito”, não tendo deste modo a dignidade exigida para poder ser o centro de um recurso para uniformização de jurisprudência. Por outro lado, não se trata de matéria de direito controversa, que tenha conhecido decisões diversas e que imponha uma uniformização.

LL. Como bem evidenciou o tribunal a quo no Acórdão de 3 de Dezembro de 2020, o Recorrente suscitou a questão da “adequação ao TJUE de normas do

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direito processual civil português cuja aplicabilidade não suscita nem até agora tem suscitado qualquer dúvida de interpretação aos tribunais portugueses”.

MM. Nos termos do disposto no artigo 267.º, § 3º, do TFUE, o reenvio para o TJUE é obrigatório se a decisão do órgão jurisdicional não for susceptível de recurso jurisdicional, salvo se existir jurisprudência bem assente na matéria ou quando a forma correcta de interpretar a regra de direito em causa não origine nenhuma dúvida razoável.

NN. Conforme vem assumido pelo tribunal a quo, as normas processuais em causa não suscitam qualquer dúvida de interpretação, sendo aplicadas sempre da mesma forma nos tribunais portugueses.

OO. Acresce ainda que não existe qualquer conexão entre a matéria factual do Acórdão Recorrido e do Acórdão Fundamento, pelo que nunca poderá este servir de base à necessária oposição de julgados.

PP. No Acórdão Recorrido, a recusa de reenvio para o TJUE prende-se com a interpretação objectiva e incontroversa que o tribunal a quo faz dos artigos 685º, 666º e 615º, n.º 1, alíneas b) e c) e 616º, n.º 2, alínea a), todos do CPC, na sequência de decisão relativa aos pedidos de nulidade e de reforma deduzidos e da sua formação que os deve julgar.

QQ. No Acórdão Fundamento, como vem expressamente mencionado na p. 7, “entre os fundamentos de ilegalidade que se mostram invocados pelos AA., como conducentes à invalidação do acto impugnado, suscitam-se, nomeadamente, questões que se prendem com a interpretação de quadro normativo do Direito da União (nomeadamente, interpretação dos arts. 49.ºº, 54.º, 56.º e 57.º, do TFUE, 16.º e 17.º, da Directiva n.º 2006/123/CE), questões

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essas que se revelam, assim, necessárias ao julgamento em causa)”.

RR. Mais, o Recorrente, só depois de proferido o Acórdão de 3 de Dezembro de 2020 é que deduziu o pedido de reenvio para o TJUE, encontrando (alegado) fundamento no artigo 267.º, § 3º, do TFUE, isto é, porque a decisão do STA não era susceptível de recurso jurisdicional.

SS. Ora, no Acórdão Fundamento, os Autores suscitaram várias questões de Direito da União Europeia logo na petição inicial, pelo que o reenvio prejudicial para o TJUE foi determinado pelo artigo 267.º, § 2º, do TFUE e não pelo artigo 267.º, § 3º, do TFUE. Na verdade, e como bem refere o Acórdão Fundamento, “as decisões deste Tribunal, proferidas no quadro da presente ação administrativa especial são suscetíveis de recurso jurisdicional ordinário para o Pleno deste Tribunal e, como tal, o reenvio prejudicial não se apresenta, no caso, como obrigatório”. Mas note-se que, neste caso, a referência à obrigatoriedade de reenvio para o TJUE está atreita ao facto de estarmos perante dúvidas interpretativas de normas de Direito da União Europeia, o que não sucede de todo com a matéria tratada no Acórdão Recorrido.

TT. Pelo exposto, não se verificam, igualmente, os requisitos de admissibilidade quanto à segunda oposição de Acórdãos, pelo que não poderá o recurso ser conhecido de mérito.

UU. Por mera cautela e como nota final, e para o caso inesperado de ser conhecido o recurso extraordinário para uniformização de jurisprudência, dão-se por reproduzidos os argumentos esgrimidos nos Acórdãos de 30 de Outubro de 2020 e de 3 de Dezembro de 2020 em relação às respectivas matérias.»

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que o recurso deverá ser rejeitado por falta de conclusões, pronunciou-se no sentido de «ser julgado como não admissível o presente recurso para uniformização de jurisprudência, por absoluta falta de identidade da questão de direito decidida, quanto ao acórdão de 3/12/2020 ; e por falta de identidade da questão de direito, em consequência de ser substancialmente diferente a situação de facto subjacente, no que toca ao acórdão proferido em 29/10/2020.»

4. O Recorrente pronunciou-se sobre as questões prévias suscitadas nas contra-alegações e no parecer do Ministério Público, defendendo, por um lado, que a formulação de conclusões não é legalmente exigível, nem necessária e, por outro, que a questão de direito que se discute nos acórdãos recorridos e nos acórdãos fundamento é idêntica, devendo, em consequência, ser admitido o recurso interposto.

5. Sem vistos, dada a simplicidade da questão a decidir – artigo 92.º/1 do CPTA.

II. Matéria de facto

6. Dão-se por inteiramente reproduzidos os factos dados como provados nos acórdãos recorridos e nos acórdãos fundamentos – artigo 663.º/6 do CPC, aplicável ex-vi do disposto nos artigos 1.º e 140.º/ 3 do CPTA.

III. Matéria de Direito

7. A questão prévia com que este Supremo Tribunal Administrativo é confrontado é a de saber se o facto de o Recorrente não ter formulado conclusões nas suas alegações determina, por si só, a imediata rejeição do recurso.

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administrativa nesse sentido, defendendo, além do mais, que a natureza extraordinária do recurso para uniformização de jurisprudência não acarreta qualquer especialidade nesta matéria, tanto mais que o número 4 do artigo 146.º do CPTA apenas exceciona a situação nele expressamente prevista, relativa a recursos de decisões proferidas em processos impugnatórios.

O Recorrente opõe-se a esse entendimento, alegando que, sendo onerado com a obrigação «de juntar com o seu requerimento de recurso a invocação e demonstração do conflito jurisprudencial entre o acórdão recorrido e o acórdão fundamento que o justifica, conforme resulta do artigo 690º do CPC», não se justifica sujeitar a admissibilidade do seu recurso a «entraves» adicionais, aplicáveis exclusivamente aos recursos ordinários.

8. Não há dúvida de que o Recorrente não formulou conclusões ou, pelo menos, que não formulou conclusões «denominadas “taxativamente” naqueles termos», como aliás o próprio expressamente reconheceu.

A Exma. Procuradora-Geral Adjunta junto deste Tribunal emitiu parecer no sentido de que se deve entender como equivalentes àquelas conclusões a enumeração das «questões a solucionar» que constam dos artigos 38.º, 45.º e 100.º das suas alegações. Entende a Ilustre Magistrada que «ainda que formuladas de modo interrogativo, o certo é que as mesmas espelham com clareza as questões que o recorrente pretende ver apreciadas pelo tribunal, reproduzindo, aliás, o conteúdo dos artºs 38º e 100º das alegações – sendo certo que, manifestamente, os recorridos entenderam perfeitamente o conteúdo dessas questões/conclusões e a elas responderam».

Salvo o devido respeito, porém, a função das conclusões não é, apenas, a de identificar as questões a decidir, e muito menos a de o fazer por meio de interrogações, que não permitem, com clareza, fixar de forma abreviada os fundamentos ou as razões jurídicas que, desenvolvidamente, o Recorrente alega.

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É que, como se afirmou no Acórdão da Secção do Contencioso Administrativo deste Supremo Tribunal Administrativo, de 23 de novembro de 2017, proferido no Processo n.º 0958/17, «sendo elas a delimitar o objecto do recurso, a sua precisão tem essencialmente por finalidade tornar mais fácil, mais pronta e segura a tarefa da administração da justiça, numa perspectiva dinâmica de estreita «cooperação» entre os vários agentes judiciários, e permitir um eficaz «contraditório» ao recorrido». E a forma interrogativa adotada manifestamente não torna mais fácil, mais pronta e mais segura a tarefa da administração da justifica, dado que a mesma se limita a condensar as questões jurídicas suscitadas pelo acórdão recorrido, mas não as respostas que, na opinião do Recorrente, o mesmo deveria ter dado a essas questões.

E não se diga que «os recorridos entenderam perfeitamente o conteúdo dessas questões/conclusões e a elas responderam», porque, a ser assim, as conclusões nunca seriam necessárias, dado que as mesmas não dispensam o Recorrente de desenvolver a sua argumentação, ou o Recorrido de as contraditar, ponto por ponto. Do mesmo modo que, a existência daquelas conclusões, também não dispensa o Tribunal de ler e ponderar as razões alegadas pelo Recorrente, e de se pronunciar sobre todas as questões de direito que devam ser decididas.

9. A questão controvertida tem, hoje, uma resposta legal taxativa, que não deixa margem a este Tribunal para relevar a inexistência de conclusões.

Nos termos da alínea b) do número 2 do artigo 145.º do CPTA, o requerimento de recurso é indeferido quando «não contenha ou junte a alegação do recorrente ou quando esta não tenha conclusões, sem prejuízo do disposto no n.º 4 do artigo 146.º».

Esta disposição, introduzida no CPTA pelo Decreto-Lei n.º 214-G/2015, de 2 de outubro, está sistematicamente inserida no seu Capítulo I do Título VI, que contém as disposições gerais relativas aos recursos jurisdicionais de decisões proferidas pelos tribunais administrativos, pelo que, além de não ser necessário

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o recurso subsidiário ao disposto na lei de processo civil, não há qualquer dúvida de que a mesma disposição se aplica a todos os recursos jurisdicionais no contencioso administrativo, sem distinção da sua natureza ou forma processual.

Daí que não proceda a argumentação do Recorrente, de que a natureza excecional do recurso para uniformização de jurisprudência justificaria um tratamento especial a esta questão.

Como resulta muito claro da ressalva final da norma em apreço, a estatuição nela estabelecida só não se aplica no caso previsto no número 4 do artigo 146.º do CPTA, ou seja, «quando o recorrente, na alegação de recurso contra sentença proferida em processo impugnatório, se tenha limitado a reafirmar os vícios imputados ao ato impugnado».

Ora, o presente recurso foi interposto no âmbito de uma ação de perda de mandato autárquico, que não tem natureza impugnatória, pelo que, indiscutivelmente, não cabe naquela exceção.

10. Não há também, em face da redação da alínea b) do número 2 do artigo 145.º, qualquer dúvida de que apenas naquele caso previsto no número 4 do artigo 146.º, todos do CPTA, se pode relevar a falta de conclusões, e formular um convite ao aperfeiçoamento das alegações deficientemente apresentadas. Neste sentido já se pronunciou este Supremo Tribunal Administrativo, em Acórdão da Secção do Contencioso Administrativo, de 7 de fevereiro de 2019, proferido no Processo n.º 0989/17.0BESNT-R1, onde afirmou, nomeadamente, que:

«27. Com efeito, fora do âmbito da situação prevista no n.º 4 do art. 146.º do CPTA a regra passou a ser a de que com o requerimento de interposição de recurso devem ser juntas as alegações e de que estas devem conter logo as respetivas conclusões, sendo que essas faltas ou ausências produzem o imediato indeferimento daquele requerimento [cfr. al. b) do n.º 2 do art. 145.º

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do CPTA].

28. A consequência fixada no preceito para os casos em que o requerimento de interposição de recurso não contenha ou não junte a alegação, ou a alegação não contenha conclusões, radica no incumprimento pelo recorrente do especifico ónus processual que lhe é imposto pelo n.º 2 do art. 144.º do CPTA, onde se determina que o «recurso é interposto mediante requerimento dirigido ao tribunal que proferiu a decisão, que inclui ou junta a respetiva alegação e no qual são enunciados os vícios imputados à decisão e formuladas conclusões» [sublinhados nossos].

29. A regra geral que ora se mostra consagrada comporta como única exceção a situação inserta no n.º 4 do art. 146.º do CPTA e relativa ao regime dos recursos deduzidos em processos impugnatórios, regime esse onde se admite a possibilidade de suprimento pelo recorrente da falta de conclusões nas alegações apresentadas pelo mesmo após convite que lhe seja dirigido pelo tribunal para esse efeito.

30. Num contexto, como é o presente, de falta de apresentação de conclusões com as alegações temos que a pretensão dos recorrentes, quanto à imposição de despacho convite ao suprimento da falta, só poderá obter acolhimento se a situação sub specie se enquadrar na previsão do n.º 4 do art. 146.º do CPTA.»

11. Em face do exposto, não restam dúvidas de que, não tendo o Recorrente formulado conclusões nas suas alegações, deve o respetivo requerimento de recurso ser liminarmente indeferido.

IV. Decisão

Em face do exposto, acordam os juízes da Secção do Contencioso Administrativo do Supremo Tribunal Administrativo, reunidos em Pleno, em indeferir o presente recurso para uniformização de jurisprudência.

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Custas pelo recorrente. Notifique-se

O relator consigna e atesta que, nos termos do disposto no artigo 15.º-A do DL n.º 10-A/2020, de 13 de março, aditado pelo artigo 3.º do DL n.º 20/2020, de 1 de maio, tem voto de conformidade com o presente Acórdão de todos os restantes juízes que integram a presente formação julgamento, nomeadamente os Conselheiros, Teresa Maria Sena Ferreira de Sousa - Carlos Luís Medeiros de Carvalho - José Augusto Araújo Veloso - José Francisco Fonseca da Paz - Maria Benedita Malaquias Pires Urbano - Maria do Céu Dias Rosa das Neves - Suzana Maria Calvo Loureiro Tavares da Silva.

Lisboa, 27 de maio de 2021 Cláudio Ramos Monteiro.

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