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AstosMestrando em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor da Faculdade Cesusc. Defensor Público do Estado de Santa Catarina. danielbastos@defensoria.sc.gov.br
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ilvADoutor em Direito Civil pela Universidade de São Paulo – USP. Mestre em Direito pela Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Sul. Professor da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Editor da Revista de Direito Civil Contemporâneo. Membro da Rede de Direito Civil Contemporâneo. rpeteffi@terra.com.br
Recebido em 12.01.2016 Pareceres em 06.04.2016 e 13.04.2016 áreAdo direito: Consumidor
resumo: O artigo objetiva o estudo do direito de arrependimento do consumidor nas compras realizadas à distância, com análise de seus fun-damentos (razões axiológicas e políticas) e trata-mento do tema nos tempos atuais, notadamen-te no âmbito do comércio eletrônico. Busca-se desvelar o alcance jurídico do art. 49 do CDC a partir das interpretações doutrinárias e jurispru-denciais e de sua aplicabilidade em função da natureza do produto ou serviço contratado.
PAlAvrAs-ChAve: Código de Proteção e Defesa do Consumidor – Compras à distância – Direito de arrependimento – Prazo de reflexão – Comér-cio eletrônico.
AbstrACt: This article aims to analyze the cancellation rights on distance purchases, analyzing its fundamentals (axiological and political reasons) and the treatment of the theme nowadays, specifically in e-commerce. It seeks to uncover the legal content of the art. 49 of the Brazilian Consumers Protection Code according to the current doctrinal and case-law interpretations and its applicability depending on the nature of the product or the service purchased.
Keywords: Consumer Protection Code – Distance purchases – Cancellation rights – Cooling off period – Electronic commerce.
Sumário: 1. Introdução – 2. Estrutura dogmática do direito de arrependimento – 2.1 Natu-reza jurídica – 2.2 Elementos constitutivos do suporte fático da norma e sua
aplicabilida-proteção do direito do consumidor e, sim, evitar o paradoxo inerente à ilusória extrapolação de seus objetivos.87
Em suma, e agora retornamos ao cerne de nossos questionamentos, ficou evidenciada a insuficiência da mera exegese gramatical do art. 49 do CDC, in-capaz de resolver, por si só, os inúmeros problemas que surgem no cotidiano. Daí que sempre houve e haverá, por detrás de tudo, o recurso a técnicas her-menêuticas – embora divergentes – com fumos de legitimidade democrática. Convém, pois, que se aprofunde a reflexão sobre os fundamentos axiológicos, teleológicos e sistemáticos da norma, em função dos casos concretos suscita-dos pela própria dinâmica da vida em sociedade.
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87. KLEE, após elencar determinadas hipóteses em que defende a inaplicabilidade do instituto, alerta: “Ao contrário do que poderia parecer, as situações em que não se-ria permitido o exercício do direito de arrependimento não representam um decrés-cimo no nível de proteção do consumidor. Isto porque, na prática – principalmente nos tribunais –, seria difícil aplicar o direito de arrependimento nessas situações, e o retorno das partes ao status quo ante” e p. 340: “Evitar-se-á, em um primeiro momento, o abuso por parte de consumidores de má-fé, mormente quando se con-sidera que o exercício do direito de arrependimento não se subordina a qualquer justificativa ou motivo. Em um segundo momento, fortalecerá, no meio social, a segurança de contratar a distância e por meios eletrônicos, reafirmando-se, assim, o princípio da confiança.” KLEE, Antonia Espíndola Longoni. Comércio eletrônico cit., p. 333.
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