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Fotografia de Casamento
O
ano de 2011 começou agitado para o fotógrafo Márcio Sheeny, sediado em Niterói (RJ) e especializado em fine arte fashion wedding, atual tendência da fotografia de casa-mento. Em janeiro, ele viajou para registrar uma cerimônia em BoaVista (RO), depois de ter ido até a Venezuela para fotografar um
trash the dress. Contudo, a
con-versa com Fotografe, logo após estas viagens, aconteceu por conta de um trabalho que ele fez para um casal do Rio de Janeiro mes-mo, que o contratou para registrar
as fotos da cerimônia, do trash
the dress e... até da lua de mel,
to-dos no início de janeiro. O des-taque fica por conta do estilo deste último ensaio, bastante ousado, a pedido da própria noiva, Gisele.
Ela conheceu Adriano, o noi-vo, durante uma viagem a
traba-POR DIEGO MENEGHETTI
Veja como o profissional Márcio Sheeny realizou o
pedido de uma noiva para registrar, de forma bem
sensual, ela e o marido durante a viagem de núpcias
lua de mel
O fotógrafo que clicou até a
Sensual, sem ser vulgar, o ensaio do casal Gisele e Adriano foi feito em Angra dos Reis (RJ), com eles em plena lua de mel
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lho no Canadá. Tempos depois, ele a pediu em casamento em um restaurante em Toronto, com di-reito a palmas dos fregueses que por lá estavam. Decidida como é, Gisele aceitou e disse o sim de-finitivo no dia 9 de janeiro 2011, em um espaço de festas no Rio. Tudo muito intenso: a cobertura da cerimônia foi feita pelo fotó-grafo, contratado somente a dois meses da festa.
“Ela pediu vários pacotes de serviços: fotografia e filmagem do casamento, trash the dress e um ensaio sensual deles em plena lua de mel. Eu já vi noivas que gostam de fotos, mas ela me sur-preendeu. Para as fotos das núp-cias, ela foi bem clara, queria que mostrassem como ela é, regis-trando o perfil do casal. Posso di-zer que ela é uma noiva ‘quente’... O ensaio, claro, devia ser sensual sem ser vulgar”, diz Márcio.
A cerimônia religiosa foi rea-lizada durante um domingo. O registro do making of, que ini-cialmente seria em um hotel re-quintado da capital, foi trans-ferido para uma pousada, a pe-dido do fotógrafo.
“Eu ofereço uma consultoria para o evento como um todo. Não gosto de fazer fotos da noiva se arrumando em hotéis, pois as imagens ficam muito deslocadas, prefiro um local mais intimista, como pousadas ou mesmo a casa da pessoa. Mesmo quando foto-grafo em ambientes comerciais, escondo televisões e telefones do quarto, por exemplo, e peço uma lista de coisas, como flores e ob-jetos pessoais dos noivos, para decorar o ambiente”, comenta. Após a festa, o casal descansou na segunda-feira e voltou a ser fo-tografado na terça, com o trash
the dress. Em um barco,
navega-ram pelas praias de Angra dos Reis (RJ) e, no dia seguinte, foi a vez do ensaio de lua de mel. A partir dos trabalhos anteriores, o casal já estava à vontade e o fotógrafo pôde registrar toda a sensualidade que Gisele havia pedido.
Para o ensaio sensual,
Már-Para driblar a timidez que ainda restava no casal, o ensaio começou no quarto, inicialmente com os dois na cama
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fotos da noiva na cama. A in-tenção foi mostrar o desejo, com as atitudes e os olhares. Durante o ensaio, preferi imagens mais fechadas, para destacar o rosto deles e os gestos insinuantes”, explica Márcio.
O fotógrafo conta que teve facilidade em registrar o ensaio, de caráter inédito para ele, pois se sente bem em fazer esse tipo de foto. “Já havia produzido quase 300 ensaios sensuais e nus, nunca de noivos. Neste tipo de trabalho, quando o fotógrafo está à vontade, ele não cons-trange quem é fotografado. O problema ocorre se o fotógrafo fica com vergonha, que é trans-mitida à pessoa. Se você fica tranquilo, passa confiança ao fotografado”, ensina.
As fotos começaram no quar-to, sem ninguém beber nada al-coólico. “Prefiro assim, pois se exagerassem com a bebida não ficaria algo tão legal. O ideal é você ‘tirar a vergonha’ dos noivos apenas na conversa”, aponta. O registro, com muita sensualidade, seguiu até o entardecer, com mais de mil fotos feitas.
Trabalho
Para Márcio, o sucesso da fo-tografia de casamento parte do
feelling do fotógrafo, que precisa
sentir se as pessoas estão à vontade e como elas realmente querem que o evento seja registrado. “Quando percebo que o trabalho não está legal, preciso logo con-tornar a situação. No entanto, isso acontece pouco, pois sempre converso muito com o casal antes, para entender exatamente qual o tom que eles querem para as fotos”, comenta.
Com um estilo visualmente agressivo e imagens bem satura-das, o fotógrafo fluminense tam-bém arrisca tecnicamente. Como usa apenas luz natural nas fotos, trabalha com sensibilidades ISO altas, como 1.600 e 3.200. “Já fiz fotos em igreja em até ISO 12.800, sem problemas”, afirma. Márcio diz que fotografa so-prazer de se mostrar, eu a dirigia
para que ela se soltasse cada vez mais. Eu a chamava de ‘a exibida do Grajaú’. Já o Adriano estava mais tímido no início, mas de-pois também se soltou. Ela tinha dito o que queria e começamos a juntar as ideias. Iniciei com as cio começou a fazer as fotos
lo-go cedo e seguiu até o entarde-cer, pois uma das características do fotógrafo é usar apenas ilu-minação natural para as fotos. Flash, apenas para criar efeitos ou em fotos em estúdio.
“Como senti que ela tinha
Gisele posa: a intenção do ensaio foi mostrar o desejo dos recém-casados de forma ousada, mas também intimista
zinho, mas conta com a ajuda da mulher dele, que atua como produtora, e de um assistente de equipamentos. Já trabalhou com outros fotógrafos que tam-bém registravam casamentos, mas, para controlar o estilo, pre-feriu optar por fazer as fotos so-zinho. Ele também centraliza a edição, o tratamento e a pós-produção das imagens.
“Para o registro de casamen-tos, nem o fotógrafo nem o ci-negrafista devem entrar na área do altar. Eles não podem apare-cer nas fotos ou nos filmes. Aqui no Brasil, há muita bagunça nes-sa área, muitos profissionais an-dando durante a cerimônia. Co-mo fotógrafo, fico circulando, escolhendo os ângulos. Às vezes, enquanto eu não fico perto do altar, o cinegrafista posiciona-se lá, atrapalhando a foto. Por conta disso, comecei a filmar o casamento também, para ter um maior controle das imagens. Po-siciono quatro DSLRs na igreja, com lentes variadas, como a 70-200 mm, e comando os
filmma-kers”, explica Márcio.
Para o registro, ele usa uma Nikon D3s e uma D700. Uma ter-ceira câmera, uma D300, Márcio utiliza em uma bolsa estanque para fotos subaquáticas, nos ensaios com noivos. “Durante um registro de casamento, fico com a D3s com uma objetiva 70-200 mm e uma 15 mm na D700. Este é meu kit básico. Meu assistente, que traba-lha como se fosse minha sombra, carrega uma 24-70 mm e a 85 mm. Estas quatro lentes são as funda-mentais para meu trabalho”, diz. Com objetivas bastante claras, com aberturas máximas de pelo menos f/2.8, Márcio mantém um set que ainda inclui uma zoom 14-24 mm f/2.8 e as fixas 50 mm f/1.4, 35 mm f/2, 60 mm f/2.8 e a 105 mm f/2.8. “Como não uso flash, consigo ficar em cantos ou mesmo deitar no chão da igreja, sem que as pessoas percebam que estou por lá. Assim, as fotos ficam bem originais, com ângulos dife-renciados”, conta. Fo to s: M ár ci o S he en y
A solução que Márcio encontrou para o ensaio fotográfico focar a sensualidade foi fazer imagens fechadas, para capturar olhares, gestos e detalhes insinuantes, acompanhando um dia do casal
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Com o uso de câmeras de quadro cheio e muitas opções de objetivas fixas, ele explica que não trabalha com cortes na ima-gem, já que prefere estudar as po-sições para conseguir os enqua-dramentos com o máximo de qualidade. Em cada casamento, ele faz cerca de 5 mil fotos. “Já cheguei a fazer 8 mil fotos. É um número alto, pretendo manter uma média de 3 mil disparos, mas esse é meu estilo de fotografar. Quando percebo que um ângulo rende belas imagens, não econo-mizo no dedo”, afirma.
O fotógrafo diz que não co-nhece por quanto outros fotó-grafos de casamento trabalham no Rio de Janeiro. Ele explica
que calcula o orçamento a partir dos custos fixos, dos investimen-tos que fez e que não gosta de ne-gociar preços. Em geral, cobra pelo trabalho dele R$ 5,5 mil para casamentos e R$ 1,5 mil para os ensaios. Os álbuns são negociados à parte: para os noivos, ele entrega um case de couro personalizado, com um DVD com todas as ima-gens que fez, editadas e tratadas, em alta resolução. “É um direito dos noivos. Eles pagaram pelo meu trabalho, então entrego tudo para eles”, afirma.
Carreira recente
Antes de fotografar profis-sionalmente, Márcio trabalhava com design gráfico. Morando em Miami, nos Estados Unidos, ele conta que decidiu dedicar-se à fotografia por impulso, qua-se por um acaso.
“Certa vez, recebi uma cor-respondência sobre um curso de fotografia em Nova York, que, na
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Márcio focou a direção das fotos nas atitudes e olhares de Gisele, que estava bem mais desinibida que o marido
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verdade, estava endereçada para um vizinho. Como sempre gostei de fotografia, pensei que aquilo poderia ser um sinal para me de-dicar à área. Mas como eu estava com quase 40 anos, achei que seria tarde para mudar de profissão. Po-rém, este sinal ficou mais evidente quando, logo após esse fato, lendo uma revista, vi uma reportagem sobre uma cineasta que havia mor-rido aos 99 anos e tinha deixado uma vasta obra, sendo que come-çara a estudar cinema aos 75 anos. Foi o suficiente para eu decidir mudar de cidade com minha
mu-lher e começar a investir em foto-grafia”, recorda.
Durante os três anos que mo-rou em Nova York, Márcio es-tudou em dois centros norte-americanos importantes, o New York Institute of Photography e o International Center of Pho-tography (ICP). Paralelamente, ele manteve um estúdio em que fazia books para modelos de lá. O dinheiro que recebia, investia em equipamentos e aperfeiçoa-mento profissional.
Durante um dos cursos, um curador norte-americano viu as
fotos feitas por Márcio e o con-vidou para uma exposição em Nova York. Foi o impulso que precisava para o crescimento da carreira dele. “A partir dessa mos-tra, meu trabalho tornou-se mui-to valorizado. Em três anos, tive um faturamento de quase 400 mil dólares. Com um book pelo qual eu cobrava cerca de 100 dó-lares, conseguia faturar oito vezes mais depois da exposição. Quan-do voltei ao Brasil, há quatro anos, percebi que a fotografia de casamento era uma área que po-deria me trazer uma rentabilida-de semelhante àquela que eu ti-nha no exterior”, aponta.
Atualmente, Márcio trabalha centralizado em fotos de casa-mento. Ele tem um estúdio mon-tado e divulga o trabalho por meio de redes sociais. Sem anun-ciar em revistas, Márcio vende o trabalho dele apenas com o perfil que mantém no Orkut e no Fa-cebook. Para o fotógrafo, as in-dicações de noivas que foram clientes e dos comentários que recebe nas fotos publicadas são o meio mais eficaz de publicidade. No perfil do Orkut, ele publicou mais de 6,5 mil fotos.
FASHION WEDDING
Leitor de Fotografe, Márcio Sheeny atua profissionalmente há oito anos. Sua carreira começou meio que por acaso e ele se aperfeiçoou em cursos no New York Institute of Photography e no ICP, em Nova York, nos Estados Unidos. Mantém uma clientela satisfeita, que promove o trabalho dele por meio de redes sociais como o Orkut e o Facebook. Os links para os perfis e para as fotos fine art e de fashion
wedding que Márcio faz podem ser
aces-sados a partir do site marciosheeny.com.
Márcio Sheeny
Arquivo Pessoal Gisele sozinha:
feitas apenas com luz natural, as fotos recebem tratamento digital para ressaltar as nuances cromáticas