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CONSIDERAÇÕES SOBRE A BANCADA EVANGÉLICA E A CRISE DO LULO-PETISMO. Palavras-chaves: neopentecostalismo; crise do lulo-petismo; golpe parlamentar;

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CONSIDERAÇÕES SOBRE A BANCADA EVANGÉLICA E A CRISE DO LULO-PETISMO

Yuri Rodrigues da Cunha1

GT – III: Crítica da economia política

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar algumas considerações a

respeito da imbricação entre neopentecostais e a crise do lulo-petismo, sendo essa representada pelo golpe ou ruptura institucional que depôs a presidenta Dilma Rousseff. As bases teórico-metodológicas de nosso trabalho assentasse na perspectiva marxiana, ao passo que, como recurso metodológico para coleta e análise de dados, lançamos mão da observação documental, levando em consideração a documentação de primeira mão, isto é, imprensa em suas diferentes formas e publicações oficiais. Desta maneira, concluímos que os parlamentares que representam os neopentecostais, durante a crise econômica e política que resultaram no golpe e deposição da presidenta, fizeram com as frações das classes burguesas dirigentes do Estado brasileiro, uma conciliação ainda mais conservadora, aprovando de maneira quase unânime as ‘reformas temerárias’, cuja contrapartida não ultrapassa suas pautas moralizantes.

Palavras-chaves: neopentecostalismo; crise do lulo-petismo; golpe parlamentar; Abstract: This paper aims to present some considerations about the imbrication

between neopentecostais and the crisis of the lulo-petismo, being this represented by the blow or institutional rupture that deposed the president Dilma Rousseff. The theoretical-methodological bases of our work were based on the Marxian perspective, whereas, as a methodological resource for data collection and analysis, we used documentary observation, taking into account first-hand documentation, that is, the press in its different forms And official publications. In this way, we conclude that the parliamentarians representing the Neo-Pentecostals, during the economic and political crisis that resulted in the coup and deposition of the president, made the fractions of the ruling bourgeois classes of the Brazilian State an even more conservative compromise, approving almost unanimously The 'reckless reforms', whose counterpart does not exceed its moralizing standards.

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Keywords: neopentecostalism; lulo-petismo crisis; parliamentary coup. 1. Introdução

Desde as eleições presidenciais de 2014 quando por uma diferença de 3,28%2 a

candidata Dilma Rousseff fora reeleita no segundo turno, as intensas críticas que se faziam ao governo lulo-petista, converteram-se em ferrenhas campanhas pró-impeachment, culminaram num primeiro momento, na longa seção de 53 horas, onde nas últimas seis, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou o relatório pró-impeachment, autorizando o Senado Federal a transcorrer com o processo de deposição da presidenta3, e, num segundo momento, no dia 31 de agosto de 2016, o Senado Federal decidiu depor a presidenta, por 61 votos a 20.

O primeiro registro dos atos pró-impeachment se deu seis dias após o resultado do pleito eleitoral na cidade de São Paulo, quando naquele protesto, além do impeachment os manifestantes pediam intervenção militar4. Desde então, os atos multiplicaram-se, seja no número de cidades onde passou a ocorrer, quanto na quantidade de pessoas envolvidas, tendo como um marco os atos de 15 de Março e 13 de Dezembro de 2015. Para não alongarmos de maneira demasiada, abordaremos nesse momento apenas o ato do dia 15 de março.

O ato de 15 de março foi convocado principalmente por meio das redes sociais, como o Facebook e em sua organização articulavam-se principalmente os seguintes grupos: Movimento Brasil Livre (MBL); Vem Pra Rua; Revoltados On-Line5. Além

desses grupos ajudaram ainda na mobilização, quadros do PSDB6, sendo que, ainda na

cidade de São Paulo o metrô, que é de responsabilidade do Governo estadual (PSDB), liberou as catracas para o ato, coisa que não faz nem quando há grandes eventos e manifestações populares na Avenida Paulista7. Ainda a respeito das mobilizações, a Central Globo de Jornalismo, a nosso ver, também foi um agente importante nesse ato, uma vez que fizeram ao longo do dia, coberturas e chamadas ao vivo, dos movimentos, como um claro estímulo à participação da população8. Segundo o Datafolha, o ato em

2 Em números a diferença foi de 3.445.963 de eleitores para a candidata a reeleição Dilma Rousseff frente

à candidatura de Aécio Neves. Foi 51,64% (votos válidos) contra, 48,36%, segundo dados tabulados pelo TSE.

3 SIQUEIRA, Carol, 2016.

4 URIBE, Gustavo; LIMA, Daniela, 2014. 5 BEDINELLI, Talita, 2015.

6 VENCESLAU, Pedro, 2015. 7 AGOSTINE, Cristiane, 2015.

8 Um fato curioso e que reforça essa ideia da participação tucana nos atos, foi o então secretário de

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São Paulo contou com aproximadamente 210 mil pessoas, ao passo que em todas as 160 cidades onde foram realizados atos conjuntos, reuniram segundo contagem das Polícias Militares, 2,3 milhões de pessoas9. Neste ato era uníssono o pedido de impeachment,

sobretudo em virtude da “institucionalização da corrupção” (sic) resultada das práticas e governos lulo-petista10. Por fim, cabe destacar ainda que outras importantes instituições como a FIESP também contribuíram com o ato.

Os desdobramentos desse e dos demais atos, foi o acolhimento, pelo então presidente da Câmara dos Deputados Federais, Eduardo Cunha (PMDB), em 02 de Dezembro de 2015, de um dos pedidos de impeachment protocolados na casa.

Diante deste cenário, é importante levar em consideração que o golpe parlamentar não deve ser compreendido apenas a partir de seus determinantes como as recorrentes manifestações, mas a nosso ver, o sentido pelo qual o golpe se efetivou encontra-se nas reformas neoliberais propostas e levadas a cabo pelo governo Temer, reformas essas que chamaremos aqui de ‘temerárias’11.

No bojo das reformas temerárias, listamos três que evidenciam, a nosso ver, o caráter neliberal destas: 1) Teto para gastos públicos (congelamento de investimentos pelo Estado); 2) Reforma trabalhista e terceirização irrestrita 3) Reforma da Previdência.

Como as reformas temerárias são de grande impacto à classe trabalhadora de maneira geral, seria necessário construir um relativo consenso para os trabalhadores desorganizados politicamente, de maneira que estes aceitariam e compreenderiam a importância e a necessidade das reformas, para que estes não endossem o coro dos trabalhadores organizados politicamente e que se mantém de pé contra os retrocessos às suas conquistas, representados pelas reformas temerárias.

É justamente nesse ponto, a nosso ver, que os representantes neopentecostais (bancada evangélica) possuem um papel importante e decisivo, pois, a busca da construção de um consenso para as reformas passa pelo apoio irrestrito destes parlamentares, que por sua vez, representam milhões de trabalhadores. Contanto com um total de 78 representantes na câmara dos deputados eleitos em 2014, a chamada bancada evangélica recebeu 8.218.093 votos (DIAP, 2014).

Paulista de Futebol o adiantamento da partida entre Palmeiras x XV de Piracicaba, das 16h00min para às 11h00min de 15 de março.

9 Manifestantes protestam contra Dilma em todos os estados, DF e exterior, 2015. 10 PONTES, Jorge, 2014; THEME, Antônio Carlos Mendes, 2014;

11 O nome reformas temerárias, faz um trocadilho com o sobrenome do atual presidente, Temer, bem

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Os dados por nós utilizados foram produzidos pelo DIAP, sendo agrupados na chamada bancada evangélica aqueles que professam a fé segundo a doutrina evangélica ou que se alinham ao grupo em votação de temas específicos. A bancada evangélica ainda atua de maneira organizada na câmara e no senado, além de desde 2003 ser registrada como Frente Parlamentar Evangélica.

Com isso entendemos que os posicionamentos desses parlamentares nas reformas temerárias dão indícios de como esses possuem uma capacidade de criar um relativo consenso nos trabalhadores que eles representam, sobretudo, em virtude de muitos dos eleitos são lideranças expressivas das instituições religiosas. É importante ainda destacar que eles não representam um bloco que pensa e age de maneira única, pois em razão de serem vinculados a diferentes igrejas que formam um universo, plural e cheio de tensões, porém, há consenso entre esses quando dizem respeito às pautas relativas aos costumes e à moral.

Portanto, a aproximação que fazemos da crise do lulo-petismo e a ascensão neopentecostal dizem respeito à maneira como esses últimos se colocaram durante o curso do golpe parlamentar, e também, como se colocaram ao lado das reformas

temerárias.

1.1. Aspectos Teórico-Metodológicos

As premissas teórico-metodológicas de nosso trabalho estão alicerçadas sobre as bases do pensamento marxiano, sobretudo no que tange as disputas políticas das classes sociais que compõem o quadro do qual intentamos analisar, além ainda, de lançarmos mão de elementos referenciais do pensamento de Weber complementando o problema por nós investigado. Reconhecemos que do ponto de vista teórico-metodológico Marx e de Weber sejam distintos – para não dizer diametralmente opostos, todavia, compreendemos que para nosso objeto de pesquisa as contribuições de ambos os autores são decisivas, sobretudo em razão da articulação necessária entre estrutura social e as formas de consciência específicas.

Nesse sentido, a estrutura social efetivamente dada, constitui o quadro e o horizonte geral nas quais os pensadores e sujeitos particulares estão situados e nesse cenário definem sua concepção de mundo (MÉSZÁROS, 2009). Isto significa que ao analisarmos a crise do lulo-petismo a partir do crescimento da representatividade neopentecostal, deve ser levado em consideração duas dimensões distintas: os aspectos políticos e seus campos de disputa, o que a literatura marxiana nos oferece de maneira

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consistente e farta, bem como os aspectos morais e religiosos e sua imbricação histórica e social, na qual as análises de Weber nos dão contribuições decisivas.

Quanto mais abrangente e mediado for o assunto escolhido, mais óbvio deverá ser seu vínculo com as determinações estruturais ‘totalizadoras’ da época histórica relevante. Isso deve ser verdade, diante do fato de que uma concepção apropriada da mediação em qualquer campo de análise é impensável sem uma apreensão abrangente do campo de estudo em questão, quer pensamos na ‘metaética’ ou na metodologia em geral. A análise legítima dos diversos discursos – por exemplo, os discursos moral, político e estético –, é inconcebível sem que esteja dialeticamente inserida no quadro estrutural apropriado no que se refere às determinações gerais. Pois os discursos particulares não são inteligíveis sem que sejam apreendidos como formas específicas de consciência histórica. Ou seja, como formas de consciência que são historicamente construídas e, de mesma maneira, historicamente transformadas em estreita conjunção com as determinações gerais da estrutura social da qual não podem ser especulativamente abstraídos. (MÉSZÁROS, 2009, p. 17).

Apesar de Mészáros na obra citada apresentar uma crítica metodológoica a diversas correntes das Ciências Sociais e Filosofia e não realizar a aproximação que intentamos aqui, o utilizamos por compreendemos que por meio de suas críticas, podemos estabelecer um quadro teórico-metodológico mais alargado e que nos ofereça condições de fazer maiores e melhores mediações da particularidade político-religiosa, sem perder de vista as estruturas totalizantes. Portanto, o aspecto da religiosidade aqui é visto a partir de seus aspectos particulares, isto é, os discursos religiosos e a possibilidade de obtenção da ‘salvação’ em conexão com as relações políticas e econômicas.

Nenhuma ética econômica foi, jamais, determinada exclusivamente pela

religião. Frente à atitude do homem para com o mundo determinada pelos

fatores religiosos ou outros fatores ‘íntimos’ – a ética econômica tem, decerto, uma grande margem de autonomia. A determinação religiosa da

conduta de vida, porém, é também um dos elementos determinantes da ética econômica. É claro que o modo de vida determinado religiosamente é, em si,

profundamente influenciado pelos fatores econômicos e políticos que operam dentro de determinados limites geográficos, políticos, sociais e nacionais. (WEBER, 1967, p. 310, grifos nossos).

Nota-se que na perspectiva de Weber existem ligações entre aquilo que ele chama de ética econômica e de uma ética religiosa, sendo que a segunda é um dos elementos determinantes da primeira, na medida em que é determinada por ela. Com

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isso, se investigamos os aspectos políticos imbricados com os religiosos, a determinação religiosa e sua lógica ou racionalidade própria, se torna também fundamental. Em outra passagem, agora na Ética Protestante, Weber aponta outro aspecto importante que deve ser levado em consideração:

[...] o fato dos protestantes, tanto como classe dirigente, quanto como classe dirigida, seja como maioria, seja como minoria, terem demonstrado tendências específicas para o racionalismo econômico, que não pôde ser observada entre os católicos [...]. A razão dessas diferentes atitudes deve, portanto, ser procurada no caráter intrínseco permanente de suas crenças religiosas, e não apenas em suas temporárias situações externas na história e na política. (WEBER, 2001, p. 31).

Assim sendo, embora os aspectos religiosos estejam ligados aos fatores históricos, econômicos, políticos e sociais, eles possuem uma autonomia relativa frente aos demais, o que se evidencia de acordo com Weber, quando comparado a diferentes religiões.

As diferentes categorias, religiosas, econômicas e políticas, aparecem na consciência dos sujeitos efetivos como resultados da conceituação do mundo efetivo. Isso significa que as representações sociais dadas pelas perspectivas religiosas neopentecostais, devem ser compreendidas não como algo fora da própria realidade objetiva, mas como um todo de pensamentos, fruto da cabeça pensante que se apropria do mundo real. Portanto, os aspectos político, econômico e religioso – neopentecostal devem ser considerados como parte da mesma totalidade.

Por essa razão, para a consciência para a qual o pensamento conceitualizante é o ser humano efetivo, e somente o mundo conceituado enquanto tal é o mundo efetivo – e a consciência filosófica é assim determinada –, o movimento das categorias aparece, por conseguinte, como o ato de produção efetivo – que, infelizmente, recebe apenas um estímulo exterior –, cujo resultado é o mundo efetivo; e isso – que, no entanto, é uma tautologia – é correto na medida em que a totalidade concreta como totalidade do

pensamento, como um concreto do pensamento, é de fato produto do pensar, do conceituar; mas de forma alguma é produto do conceito que pensa fora e acima da intuição e da representação em conceitos. O todo como um todo de

pensamentos, tal como aparece na cabeça, é um produto da cabeça pensante que se apropria do mundo do único modo que lhe é possível, um modo que é diferente de sua apropriação artística, religiosa e prático-mental. O sujeito real, como antes, continua a existir em sua autonomia fora da cabeça; isso, claro, enquanto a cabeça se comportar apenas de forma especulativa, apenas teoricamente. Por isso, também no método teórico o sujeito, a sociedade, tem de estar continuamente presente como pressuposto da representação. (MARX, 2011, p. 54 – 55 grifos nossos).

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Na passagem de Marx embora a preocupação seja a crítica à economia política clássica, bem como, do método hegeliano, ela nos oferece ainda alguns elementos importantes para nosso trabalho, uma vez que fica evidente que o produto do pensar e do conceituar não é resultado de conceito puro existente na cabeça do sujeito pensante sem conexão com a realidade objetiva. Isto é, os sujeitos subjetivam a realidade objetiva na qual estão inseridos, interpretando e objetivando conforme seus interesses historicamente construídos, portanto, os aspectos religiosos neopentecostais, em nosso caso, não deve ser compreendido fora das determinações históricas e sociais.

Com isso, ao chamarmos a atenção tanto para a perspectiva de Weber quanto de Marx, não estamos fazendo uma síntese acrítica misturando dois autores que possuem premissas e conclusões distintas – ainda que ao longo desse trabalho não seja possível esmiuçar de maneira mais detalhada e criar as conexões e mediações seguras e necessárias, mas interpretamos a possibilidade de dialogar com ambos os autores como uma espécie de afinidade eletiva (LÖWY, 2014).

Com isso, após essa apresentação das premissas teóricas e metodológicas, é importante seguirmos para uma apresentação do lulo-petismo, apontando ao fim, algumas imbricações entre a crise do lulo-petismo e os neopentecostais.

2. O Partido dos Trabalhadores e a opção pela conciliação conservadora

O PT remete a fins dos anos de 1970 e início de 1980 cujo contexto apontava para o declínio da ditadura militar. Conforme o manifesto de lançamento, o partido foi construído por trabalhadores organizados com o objetivo de ser um partido de massas, que atuassem não só nas eleições como também no dia-a-dia dos trabalhadores. Em seu programa constava um plano de ação cujas pautas eram: liberdade de organização partidária; desmantelamento dos órgãos de repressão política e fim da legislação de exceção; combate à política salarial; por melhores condições de vida; reforma agrária; independência nacional e apoio aos movimentos de defesa dos direitos das mulheres, negros e índios.

Na perspectiva de Secco (2015), o PT passou por quatro fases que evidenciam as perspectivas do partido. A primeira é a de formação (1978 – 1983); a segunda de oposição social (1984 – 1989), a terceira a chamada oposição parlamentar (1990 – 2002) e a quarta, de partido de governo (iniciada em 2002).

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A formação do partido se deu de uma forma muito diversa, seja socialmente quanto regionalmente. Suas principais bases são operários metalúrgicos, sindicalistas do setor público e da Igreja Católica, embora contassem com militantes que participaram das lutas armadas do período ditatorial; de organizações trotskistas, leninistas e maoístas (SECCO, 2015). Ainda segundo Secco (2015), o PT desde o momento de sua formação esteve dependente economicamente do Fundo Partidário e de contribuições estatutárias de pessoas eleitas como contribuição partidária. Essa opção selaria uma dependência do PT ao Estado, ainda que sua base social fosse bastante diversa e buscasse ser um partido baseado em princípios da democracia participativa.

Para Meneghello (1989), a proposta de organização do PT baseava-se no princípio da democracia participativa, como uma forma maior envolvimento de seus filiados no processo decisório partidário. Isto significa que se tratava de uma proposta de democratização das bases partidárias visando diminuir a distância interna e, de alguma maneira, reduzir as clivagens entre as diferentes frações das classes trabalhadoras, e na avaliação da autora, isso se dá em razão, sobretudo, da singularidade do partido e pelo discurso classista que adotava, muito embora, ainda segundo a autora, esse discurso restringiu o acesso às camadas de trabalhadores de classe média, as quais compunham uma fatia significativa do eleitorado. Estes trabalhadores eram de alguma maneira não tinham experiências com os sindicatos e o período ditatorial os afastou destes. Em razão disso, que Meneghello aponta para o alcance limitado do PT nas eleições de 1982.

A partir deste período, é que inicia-se a segunda fase do partido, de acordo com a análise de Secco (2015), a chamada “oposição social”. Neste período, diferente da primeira fase, a novidade ficou por conta de um relativo grau de coesão interna, ocorrido em virtude do surgimento de uma corrente interna ao partido, a Articulação (1983) e pela majoritariedade na Comissão Executiva Nacional. Neste período a característica central era a oposição extra-parlamentar, a qual, conquistou algum lugar de peso na sociedade civil, em um quadro de semi-democracia.

A terceira fase, chamada por Secco de “oposição parlamentar”, caracterizou-se por uma intensificação de disputas internas e principalmente pelas disputas de cargos, resultado de uma mudança de uma agremiação predominantemente militante para uma predominantemente burocrática. Além disso, não pode ser ignorado os aspectos

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externos, ou seja, a crise e o fim do chamado “socialismo real”. De certa maneira, é durante este período que se pode observar uma profissionalização petista, isto porque a burocracia interna tornava-se um apêndice de mandatários de postos eletivos no governo e parlamento.

Outra questão importante sobre essa espécie de viragem era a conjuntura neoliberal e refluxo dos movimentos sociais fez com que o PT reduzisse o crescimento, levando algumas articulações internas, aviltar a necessidade do partido em ampliar o arco de alianças. O documento Brasil Futuro Presente é esclarecedor nesse sentido, ao afirmar que: “não é necessário conquistar a hegemonia, seja esta entendida como comando ou como infusão ideológica para implementar um projeto político. A sociedade não precisa ser dominada por alguém ou ganha por uma determinada ideologia” (apud SECCO, 2015).

O que se evidencia é um arco de alianças que começa a ser desenhado para que o PT pudesse alçar voos mais altos com relação à disputa eleitoral. Um fator importante que contribuiu para o PT ser mais consistente na oposição parlamentar eram as políticas antipopulares do então presidente da República Fernando Henrique Cardoso, que em nome da estabilização econômica adotou medidas que o distanciou das massas, como: privatizações exacerbadas e desvalorização da moeda no segundo mandato. Estas medidas permitiam, segundo Secco (2015), que Lula tivesse um alcance maior na população que se via atingida diretamente pelas práticas tucanas.

Na quarta e última fase apresentada por Secco “partido de governo”, o PT enfim conseguiu aquilo que vinha tentando desde 1989, eleger Lula como presidente da República. Era evidente que o Lula de 2002 não era o mesmo de 1989, tampouco o partido. Uma das principais demonstrações dessa mudança consistiu na famosa “Carta ao povo brasileiro”, onde o candidato Lula buscava “acalmar” o mercado12, garantido

que, caso eleito, iria manter os contratos, uma vez que as margens de manobra da política econômica no curto prazo eram pequenas, além disso, falavam em valorizar o agronegócio, manter o equilíbrio fiscal, superávit primário, e no frigir dos ovos, no controle dos gastos públicos.

Esta carta pode ser compreendida como um posicionamento mais próximo das frações burguesas do que das frações das classes trabalhadoras e populares. Esta carta

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foi muito bem aceita pelas frações industriais e financeiras da grande burguesia13,

permitindo uma espécie de conciliação de classes caso o PT fosse eleito. A conjuntura internacional (crise nas bolsas asiáticas e russas, reverberando nos países latino-americanos), bem como as limitações internas das práticas neoliberais, contribuíram para que a conciliação fosse efetivada.

Em certa medida as alianças e conciliações de fins da terceira fase e, de toda quarta, pode e deve ser entendida como uma forma de chegar a um equilíbrio entre capitalistas e trabalhadores nos meios políticos e produtivos na medida em que a classe trabalhadora se organiza politicamente. Este é um dos aspectos mais clássicos da social democracia, para qual o PT acabou tendendo, isto porque, a democracia política proporciona aos trabalhadores a oportunidade de defender parte de seus interesses (PRZEWORSKI, 1989), e é nisso que o PT apoiou-se.

Portanto, o que vimos de maneira breve (e possivelmente insuficiente), é que o PT paulatinamente definiu-se e cumpriu, segundo Secco (2015), todos os passos para uma social democracia, tal como apresentado por Przeworski (1989), ou seja, houve um primeiro momento de uma posição extra-parlamentar e socialistas, ditada pelas bases operárias e por intelectuais da extrema-esquerda, em seguida, como partido de oposição predominantemente parlamentar, e por fim, um partido de governo.

O PT ainda é fruto de uma fase de mudanças estruturais de um ciclo sistêmico de acumulação para outro e, agora, nesse momento de crise econômica que se estende desde 2008, seria necessário ao Bloco no Poder, a direção do PT? Isto porque, após a introdução dos modelos neoliberais dos anos 90, quando uma rede de seguridade social (precária) foi atacada e levou as classes dominantes a uma crise de hegemonia, a ponto de aceitarem, com reservas, a direção do PT, atualmente a conjuntura é outra e, para o Bloco no Poder existem outros atores estão dispostos a acatarem os interesses das frações burguesas a um “preço muito menor” do cobrado pelo PT, e falo aqui dos representantes das igrejas neopentecostais e da bancada evangélica, que para aprovarem os projetos de seus interesses não hesitarão em se colocar de maneira favorável às frações burguesas.

4. Os Neopentecostais, golpes e as “reformas temerárias”

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Os neopentecostais que compõem a “Bancada Evangélica”, durante o processo que depôs a presidenta Dilma Rousseff – o que a nosso ver, representou uma crise do

lulo-petismo, votaram de maneira massiva em prol da ruptura, sendo que do total de

deputadas e deputados que compõe a referida bancada, 93% votaram favoráveis. Apenas seis parlamentares votaram contra, sendo ainda três deles, membros do Partido dos Trabalhadores14.

Com relação às reformas temerárias, iniciando pela PEC 241 que limita e congela os gastos e investimentos do governo federal pelos próximos 20 anos, a bancada evangélica fechou em peso com o projeto de Temer. Dos 78 parlamentares, apenas nove votaram contrários à proposta do presidencial, sendo uma delas, Clarissa Garotinho do PP-RJ, expulsa do partido após ela ter votado contrário.

Outra importante reforma temerária foi a trabalhista, aprovada também pelo pleno da câmara dos deputados, tendo adesão da bancada evangélica, ainda que dessa vez, 25 parlamentares foram contrários à reforma, ao passo que 53 se colocaram de maneira favoráveis. É evidente que não teremos o tempo e espaço necessário para esmiuçar com detalhes esses meandros, sendo ainda nosso objetivo apenas apresentar as imbricações entre a bancada evangélica e a crise do lulo-petismo. Por fim, a terceira das

reformas temerárias, a da previdência ainda está em curso e não foi submetida a

votação.

Por fim, há ainda um aspecto importante que cabe salientar que foi a votação que decidiu pela não cassação do presidente Michel Temer, nessa votação a bancada evangélica votou em maioria pelo arquivamento da denúncia, sendo seis contrários ao arquivamento e o restante favorável. Com isso, nota-se que a bancada evangélica possui uma forte ligação com as reformas temerárias pós deposição de Dilma.

5. Conclusão: os limites da conciliação de classe lulo-petista

Levando em consideração o Estado como um campo relacional, de condensação e materialização da luta de classes, e que busca a construir um fator de coesão, partimos da hipótese na qual o PT já não seria mais necessário ao Bloco no Poder. A questão da conjuntura econômica leva às frações burguesas a adotarem

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medidas antipopulares e fazendo os trabalhadores pagarem pela crise a custas de seus postos de trabalhos. Evidentemente isso gera revoltas e mobilizações das classes trabalhadoras. Porém, conforme apresentado nas grandes mídias, a culpa da crise econômica parecia recair toda sobre o governo presidencial de Dilma Rousseff, e que com um pretenso impeachment as coisas poder-se-iam resolver15.

Se por um lado, as reformas temerárias são extremamente impopulares, por outro, os pregadores e legisladores neopentecostais assumem uma posição de dupla autoridade moral, criando leis que possam regular o cotidiano das pessoas baseando-se em uma prescrição ética destes grupos, querendo universalizar seus valores particulares (DANTAS, 2011), defendendo ainda as reformas que endurecem a vida cotidiana dos trabalhadores, e sem serem questionados pelos fieis, que acreditando na perspectiva messiânica dos seus representantes morais e políticos. Ancorados em uma suposta “revelação divina”, a “missão” de legislar a ordem, instaurar a harmonia e reprimir o caos, adotando como estratégias ideológicas a negação das divisões e das polarizações sociais (Idem).

Dantas (2011), em sua pesquisa de doutorado, argumenta que, os deputados evangélicos cumprem a função da ordem e da moral, salvaguardando proposições, controlando condutas e exigindo obediência, mais ainda, sob essa perspectiva, não existe moralidade sem lei, disciplina e submissão.

Assim sendo, em razão desse prisma ideológico, bem como pelo crescimento destes setores em números absolutos da população, para as frações burguesas este é um discurso ideológico de extrema importância, e que tem alcance sobre a classe trabalhadora desorganizada que se vê representada pelos pastores de suas igrejas e não em um partido de trabalhadores.

Ainda movimentado por uma acesse e uma ética protestante, tal como demonstrada por Weber (2001), a conjuntura de crise econômica, segundo os defensores do impeachment e a nova composição do governo, seria resolvida não pensando em crise, mas trabalhando16. Portanto, o PT já poderia ser uma carta fora do baralho,

15 Não é demais ressaltar que essas são primeiras observações, e carecem de maiores pesquisas e

aprofundamentos, porém, são essas as mensagens que foram veiculadas pelos jornais como O Globo, Folha de S. Paulo, Estadão, etc.

16 Em diversas cidades via-se logo após a adminissibildade do processo de impeachment e afastamento de

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pensando nos interesses das frações burgueses que em aceitaram em 2002 a condução do Estado por um partido que se colocava como defensor dos interesses das classes trabalhadoras, ainda que na prática, não se deu desta maneira.

6. Referências Bibliográficas

DANTAS, Bruna Surugay do Amaral. Religião e Política: ideologia e ação da

“Bancada Evangélica” na Câmara Federal. Tese de Doutorado, PUC. São Paulo:

2011.

LÖWY, Michael. A jaula de aço: Marx Weber e o marxismo weberiano. Trad. Mariana Echalar. São Paulo: Boitempo, 2014.

MARX, Karl. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857 – 1858: esboços da crítica da economia política. Trad. Mario Duayer, Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2011.

MENEGHELLO, Rachel. PT: a formação de um partido, 1979 – 1982. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1989.

MÉSZÁROS, István. Estrutura social e formas de consciência: a determinação social do método. Trad. Luciana Pudenzi, Francisco Cornejo, Paulo Castanheira. São Paulo: Boitempo, 2009.

PRZEWORSKI, Adam. Capitalismo e Social-Democracia. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

SECCO, Lincoln. História do PT. Cotia: Ateliê Editorial, 2015.

WEBER, Max. Ensaios de Sociologia. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar. 1967.

______. A ética protestante e o espírito do capitalistmo. Trad. Vinícius Eduardo Alves. São Paulo: Centauro, 2001.

7. Referências Documentais

DIAP, Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar. Radiografia do Novo

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8. Referências Jornalísticas

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http://www.valor.com.br/politica/3963126/metro-de-sp-liberou-catraca-para-manifestantes-em-ato-contra-dilma>. Acesso em: 07 de Julho de 2016.

BEDINELLI, Talita. Três grupos organizam os atos anti-Dilma, em meio a divergências. El País Brasil, 15 de março de 2015. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/03/13/politica/1426285527_427203.html>. Acesso em: 07 de Julho de 2016.

BARROS, Guilherme. Número um do FMI está otimista com Lula. Folha de São

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GALINDO, Rogério. 93% dos deputados da bancada evangélica votaram pelo impeachment. Gazeta do Povo, 17 de Abril de 2016. Disponível em: < http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/caixa-zero/93-dos-deputados-da-bancada-evangelica-votaram-pelo-impeachment/>. Acesso em: 07 de Julho de 2016.

MANIFESTANTES protestam contra Dilma em todos os estados, DF e exterior.

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