A visibilidade de mulheres
prostitutas em espaços
comunicacionais
Prostituição
• Representações vinculadas às ideias de submundo, impureza e devassidão
• Tentativas de explicação baseadas somente no critério econômico ideia cultural, espaço de experiências e sociabilidade de mulheres marginais (OLIVAR, 2013)
• Estigma distinto (AGUSTÍN, 2013): controle das mulheres através da separação “boas” x “más”
• Construção da prostituição como o que estaria reservado às mulheres que não se submetessem às normas de conduta e sexualidade impostas (JULIANO, 2010)
Prostituição
• Possibilidade de que possam ser racionais, autônomas
desacreditada (AGUSTÍN, 2013):
– não entendem o que fazem porque não receberam educação; – não conseguem reconhecer que são alvo de opressão;
– são usuárias de drogas ou tem problemas psicológicos; – são manipuladas por suas famílias.
• Se migrantes:
– pertencem a culturas “atrasadas” que não lhes dão outra opção; – foram forçadas a viajar, suas experiências não contam;
– sofreram lavagem cerebral por parte de seus exploradores, então seus relatos não são confiáveis.
Visibilidade comunicacional
• Análise de 65 textos sobre PL 4.211/2012
– Distintas procedências autorais/organizacionais
• Poucas narrativas de prostitutas sobre suas experiências
• Uma matéria possui opinião das prostitutas como tema central
(R7, 2014: “Prostitutas defendem a legalização da prostituição: ‘Estaríamos mais seguras’”, de Carolina Martins )
• Fontes em 18 textos 27,7% • 31 falas de prostitutas
– 16 de mulheres com visibilidade midiática
• Gabriela Leite (7)
• Cida Vieira, da Aprosmig (4) • Lola Bemvenutti (3)
Outras fontes
16 intelectuais, pesquisadores ou professores universitários
11 parlamentares:
Jean Wyllys (PSOL-RJ) – 29 textos (45%) Pastor Eurico (PSB-PE)
Marco Feliciano (PSC-SP) Arolde de Oliveira (PSD-RJ) João Campos (PSDB-GO) Flávia Morais (PDT-GO) Rubens Bueno (PPS-PR) Anthony Garotinho (PP-RJ) Domingos Dutra (SDD-MA) Severino Ninho (PSB-PE)
Dep. Estadual de MG Carlos Henrique (PRB)
8 militantes feministas: 6 da Marcha Mundial de Mulheres
Mulheres da CUT, Mulheres em Luta (PSTU), organização francesa Scelles, organizações de prostitutas DaVida e Aprospb (Paraíba) e Observatório de Sexualidade e Política
• Ideias predominantes sobre o tema construídas por sujeitos que não compartilham dessa realidade ou sequer se aproximam dela • Prostitutas não são consideradas qualificadas para serem fontes? • Meios de comunicação: oportunidades para produção de
sentidos sobre si e os outros Fomentar debates, colocar lutas em pauta, modificar relações, subverter representações e
discursos hegemônicos (MAIA, 2008) • Potencialidade:
– Transformar estereótipos “vítima x devassa” – Expor heterogeneidade
– Ampliar reflexões sobre o tema
– Debater questões relacionadas a gênero e interseccionalidades, corpos e sexualidades
Visibilidade comunicacional
• Conhecer experiências e realidades que não acessamos
em nossas rotinas:
O desenvolvimento dos movimentos sociais, como o
movimento das mulheres e dos direitos civis, fornecem amplo testemunho de que as reivindicações de grupos até então
subordinados ou marginalizados só se conquistam através de lutas pela visibilidade midiática. A evolução de tais movimentos também comprova o fato de que, ao conquistar algum grau de visibilidade na mídia, as reivindicações e preocupações de
indivíduos particulares podem ter algum reconhecimento
público, e por isso podem servir como um apelo de mobilização para indivíduos que não compartilham o mesmo contexto
Visibilidade das narrativas prostitutas
• Ouvir prostitutas é fundamental para construções midiáticas sobre o tema: grupos e sujeitos marginalizados também são produtores de percepções e saberes (MENESES, SOUSA
SANTOS, 2009)
• Ausência de suas narrativas repercute nas informações postas em circulação e tem incidência em suas vidas
• Papel dos comunicadores criar espaço para essas falas, experiências e trajetórias, respeitando sensibilidades e particularidades de divulgar dados e imagens, para que
prostitutas possam ser vistas como cidadãs e protagonistas de suas vidas.
Referências
AGUSTÍN, Laura. Prostitution Law and the Death of Whores. The Naked Anthropologist. 26 de agosto de
2013a. Disponível em:
http://www.lauraagustin.com/prostitution-law-and-the-death-of-whores-in-jacobin-magazine. Acesso em 25 de setembro de 2015.
_______. Stigma and disqualification are not the same as heatred and fear. The Naked Anthropologist. 28 de
agosto de 2013b. Disponível em:
http://www.lauraagustin.com/stigma-and-disqualification-are-not-the-same-as-hatred-and-fear. Acesso em 22 de julho de 2015.
A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. FIGUEIREDO, Verônica; MOURA, Dione. Silenciamento e ausências: a saúde dos povos indígenas na mídia impressa brasileira. Comunicologia – Revista de Comunicação e Epistemologia da Universidade Católica de Brasília. Vol. 6, n. 2, pp-69-90, 2013.
JULIANO, Dolores. La prostitución: el espejo oscuro. Barcelona: Icaria Editorial, 2002.
_______. Excluidas y marginales: una aproximación antropológica. Madrid: Ediciones Cátedra, 2010. MAIA, Rousiley. 2008. Visibilidade midiática e deliberação pública. In: GOMES, Wilson; MAIA, Rousiley. Comunicação e democracia: problemas & perspectivas. São Paulo: Paulus, 2008.
MARTINS, Carolina. Prostitutas defendem legalização da profissão: “Estaríamos mais seguras”. R7, 23 de
março de 2014. Disponível em:
http://noticias.r7.com/brasil/prostitutas-defendem-legalizacao-da-profissao-estariamos-mais-seguras-23032014. Acesso em 03 de novembro de 2015.
OLIVAR, José Miguel. Devir Puta: Políticas de prostituição de rua na experiencia de quatro mulheres militantes. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013.
PHETERSON, Gail. El prisma de la prostitución. Madri: Talasa Ediciones, 1996.