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A Deposição de Lixo na Alemanha: alternativas para um programa brasileiro de administração do lixo

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A Deposição de Lixo na

Alemanha: alternativas

para um programa brasileiro

de administração do lixo

WASTE DISPOSAL IN GERMANY:

ALTERNATIVES FOR A BRAZILIAN

PROGRAM OF WASTE MANAGEMENT

Resumo Este artigo trata do problema do lixo como um dos principais responsáveis pela poluição da natureza e tem por objetivo mostrar como a Alemanha lida com ele, as dificuldades encontradas nesse processo e o êxito verificado na forma alemã de tra-tar o lixo sólido. Descreve o sistema de reciclagem e aponta alguns exemplos de como a sociedade civil pode ser motivada a participar desse processo.

Palavras-chave LIXO – RECICLAGEM – ALEMANHA – EMBALAGENS – SOCIEDADE DESCARTÁVEL – PONTO VERDE.

Abstract This article deals with the problem of waste as one of the main reasons for environmental pollution of nature, and aims at showing how Germany deals with this problem, the difficulties found in this process and the success of the German model of solid wast disposal. It describes the German recycling system and points at some examples on how civil society can be motivated to participate in this process. Keywords WASTE – RECYCLING – GERMANY – PACKAGING – THROWAWAY SOCIETY – GREEN DOT.

JULIA SASSE Fraunhofer Institul (Alemanha) e UNIMEP (projeto DAAD/FAPESP) sasse@iepmail.unimep.br

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I

NTRODUÇÃO

m países industrializados, cada pessoa produz uma grande quantidade de lixo todos os dias. Esse lixo destrói o ambiente de várias maneiras, matando plantas e animais diretamente, pela infiltração dos aterros sanitários para as águas subter-râneas, rios e lagos, e pela emissão de substâncias tóxicas na incineração. Este artigo apresenta algumas alternativas de-senvolvidas na Alemanha para lidar com o lixo e discute suas dificuldades e êxitos. Descreve a instalação de um sis-tema de reciclagem que tem funcionado na Alemanha há 10 anos e mostra que um sistema de reciclagem pode funcionar, se houver infra-estrutura e o povo for motivado a participar. As razões para a participação variam e podem ser baseadas num senso instilado de responsabilidade para com o ambiente ou em um programa de multas para aqueles que não participarem.

Problemas brasileiros de descarte de lixo

Existem inúmeras razões para o governo brasileiro desenvolver um programa de descarte de lixo. Por exemplo, os aterros em sua maioria estão cheios e a construção de novos é cara e exige espaço. Antigos aterros foram construídos sem medidas de proteção, o que levou à contaminação do solo ao redor com metais pesados e outras substâncias tóxicas por décadas. Essas infiltrações contaminam as águas subterrâneas, destruindo, assim, os recursos hídricos para as próximas gerações. O lixo perigoso das águas se acumula nas plantas e atinge a cadeia alimentar de animais e, finalmente, dos seres huma-nos; portanto, antes de se construir novos aterros, devem ser tomadas me-didas de proteção às reservas hídricas e de impedimento à infiltração. Assim, são necessárias leis rígidas para a construção e operação de aterros.

As leis também devem ser adequadas ao rígido controle da remoção e purificação de substâncias tóxicas, como dioxinas, furanos e cloro dos gases das usinas de incineração, responsáveis por câncer, asma e outras enfermida-des. As usinas de incineração também podem causar corrosão por causa do vapor ácido. Tendo em vista os problemas envolvidos nos aterros sanitários e na incineração, parece que a melhor maneira de proteger o ambiente é pro-duzir menos lixo e reciclar o restante o máximo possível.

O Brasil já tem tomado diversas iniciativas nesse sentido. Atualmente, Campinas (SP) está coletando uma média de mil toneladas de lixo doméstico

por dia. Isso significa que cada pessoa produz aproximadamente um quilo por dia, ou 365 kg por ano. Em Porto Alegre (RS), um programa cooperativo de lixo já está funcionando. Em Piracicaba (SP), foi fundado o Sistema Co-operativo de Coleta Seletiva de Materiais Recicláveis (SICOOP). Pelo interesse

que está surgindo no Brasil, uma análise do sistema de tratamento de lixo da Alemanha poderia ser útil ao desenvolvimento de alternativas para a situação brasileira.

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RIMÓRDIOSDA

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EGAL

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LEMÃ PARAO

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ERENCIAMENTODO

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IXO

Em 1990, cada alemão produzia uma média de 350 kg de lixo doméstico para um total de 28 mi-lhões de toneladas, dos quais apenas 5% eram recu-perados ou reciclados.1 Além disso, 30% do lixo

municipal sólido eram incinerados e 65% iam para aterros. Nenhum dos dois sistemas era bem recebi-do pela população: apenas 2% da população consi-deravam a incineração a melhor solução, e somente 2% eram a favor dos aterros sanitários.2

A consciência ambiental da década de 60 le-vou à fundação do Partido Verde (1980), do Green Peace da Alemanha (1980) e outras organizações de proteção ambiental, como o BUND (1975). Em

1983, o Partido Verde chegou ao Parlamento. Para a surpresa de outros partidos, a proteção ambiental ti-nha se tornado uma das maiores preocupações dos eleitores, juntamente com o desemprego, o crime e o desenvolvimento econômico.

Fig. 1. Composição do lixo na Alemanha.3

Nessa época, cerca de 30% do lixo sólido mu-nicipal em peso e quase 50% em volume eram com-postos por embalagens. Por isso, o ministro do meio ambiente, Töpfer, apresentou uma lei, em 1989, para reduzir o material de embalagem, cuja responsabilidade recaía sobre o produtor.4 A

Porta-ria de Embalagens, em vigor desde 12 de junho de 1991, determina que os fabricantes são responsáveis por receber de volta o material e reciclá-lo. De re-pente, as indústrias foram obrigadas a administrar e pagar pelo lixo, quando, antes dessa Portaria, eram responsáveis apenas pela sua produção.

A portaria desenvolveu um plano baseado em estágios sucessivos. No primeiro estágio (1.o de

de-zembro de 1991), os fabricantes foram obrigados a receber de volta toda embalagem que protegia os produtos durante o transporte, como tambores, la-tas, sacos e paletas. No segundo estágio (1.o de abril

de 1992), os distribuidores foram obrigados a rece-ber de volta as embalagens secundárias, que é um material adicional, não essencial à acomodação dos produtos. No terceiro estágio (1.o de janeiro de

1993), os distribuidores foram obrigados a receber de volta todas as embalagens de venda.

Em 1994, a Comunidade Européia (CE) aprovou uma Normativa de Despejos, com o obje-tivo de reduzir a quantidade de embalagens produ-zidas em toda a Europa. Similarmente à lei alemã, a normativa enfatiza fortemente a responsabilidade do produtor de pagar pelas embalagens domésticas, comerciais e industriais. Determina, ainda, que um mínimo de 50-65% de todo o lixo formado por em-balagens seja recuperado até o ano de 2001. Os pro-gramas de ação variam de país para país.

As opiniões diferem quanto ao melhor siste-ma de redução de lixo e recuperação de siste-materiais dos consumidores. Palmer et al.5 defendem que um

sistema de depósito tem mais êxito na recuperação de embalagens. Em contraste, Kinnaman e Fuller-ton6 são favoráveis a um sistema de taxas; eles

esti-mam que uma taxa de um dólar por saco de lixo pode reduzi-lo em até 44% por pessoa. Choe e Fra-ser7 sustentam que o melhor método é uma

com-binação de taxação ambiental sobre as firmas e taxa de coleta de lixo sobre residências. Entretanto, eles também percebem o risco de deposição ilegal de li-xo. Eichner e Pethig8 afirmam que um modelo de

1 UMWELTBUNDESAMT, 1993. 2 ALLENSBACH, 2000. 3 UMWELTBUNDESAMT, 1997. vidro 21% outros 4% lata errada 3% tecido 3% plástico 3% metal 8% papel 38% compostos 21% 4 SCHOENEBERG, 1994. 5 PALMER et al., 1997.

6 KINNAMAN & FULLERTON, 2000. 7 CHOE & FRASER, 1999.

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taxação sobre o consumo juntamente com o subsí-dio sobre a demanda de consumo de material é o instrumento necessário para uma política “verde”.

O objetivo das leis tem sido o de iniciar a transformação de uma sociedade “descartável” em uma que produza menos lixo e recicle tanto quanto possível. Assim, os produtos – nesse caso, embala-gens – devem ser reaproveitáveis. Porque a respon-sabilidade pelo lixo recai sobre as empresas, os cus-tos de deposição estão inclusos no preço dos pro-dutos. Conseqüentemente, os bens com grande vo-lume de embalagens e materiais complexos são mais caros do que os produtos com embalagem mais fa-cilmente reciclável.

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RANSFORMANDO

L

EIS EM

P

RÁTICA

Como o sistema funciona

A política de reciclagem necessitava do apoio da população, de modo a funcionar adequadamente. Por exemplo, cada residência tem de separar seu lixo dentro de recipientes, latas ou sacos corretos, o que é mais fácil, barato e limpo do que separá-lo após a co-leta. Já existem pontos de coleta separados para vidro, papel, metal, lixo orgânico, plástico e embalagem, e para qualquer tipo de “lixo especial”, como óleo, pi-lhas, tintas, materiais químicos, aparelhos de TV, ge-ladeiras e assim por diante. Um “calendário de coleta” impresso pela comunidade mostra o tipo de lixo que será coletado e a data em que a coleta será feita.

Vidro – Foi instalado um sistema de depósito

para garrafas de vidro. Água mineral, sucos de frutas, cervejas e leite são distribuídos em garrafas de vidro com um depósito. Se as garrafas forem devolvidas, o consumidor recebe de volta o depósito, geralmente entre 15 e 70 centavos de marco. As garrafas são lim-pas e reutilizadas até 20 vezes. Nos últimos anos, esse sistema também passou a funcionar para as gar-rafas de PET (polietileno). Geralmente esse sistema funciona bem e tem se mostrado economicamente eficaz.

Para os recipientes que não têm um sistema de depósito existem latas especiais nas ruas com divisões separadas para vidro branco, verde e mar-rom. Se todos os vidros fossem coletados numa mesma lata, dele só poderia ser feito vidro marrom.

Esse sistema deixará de existir a partir da implemen-tação de uma nova lei, em vigor a partir de janeiro de 2002, que estende o sistema de depósito a todos os outros tipos de vidros, PET e latas de alumínio. A idéia tem o apoio de Palmer et al.,9 que compararam

uma política de três preços para a redução de lixo sólido, demonstrando que o sistema de reembolso de depósito é menos caro e resulta em maior redu-ção de lixo do que as taxas sobre despejos e a reci-clagem.

Papel – A maioria das residências recebe

gra-tuitamente latas especiais para papéis, recolhidas a cada duas semanas. O papel reciclado, feito a partir dessa coleta, pode ser comprado em papelarias e seu uso tem sido cada vez mais difundido na Alemanha. Também é usado, freqüentemente, para embalagens de papel.

Lixo orgânico – Lixo orgânico é qualquer

tipo de fruta, vegetal, carnes, lixo do jardim, plantas, folhas e madeira. Se possível, ele pode ser usado no jardim, como composto, ou, se a residência não ti-ver jardim, latas para lixo orgânico podem ser adqui-ridas para a sua deposição. O custo dessas latas é apenas 1/4 do valor dos demais tipos de lixo.

“Lixo especial” – É coletado em postos

espe-cíficos. As pilhas são recebidas de volta na maioria das repartições públicas e em muitas lojas. O óleo velho é recebido nos postos de gasolina. A lavagem de car-ros só é permitida nos postos de gasolina, porque eles têm um sistema de coleta da água de lavagem, de modo a impedir a contaminação dos lençóis de água. A maioria das pessoas, no entanto, não respeita essa lei. Tintas, produtos químicos, vernizes e materiais se-melhantes podem ser levados a pontos de coleta es-peciais, como, por exemplo, o Gabinete para Assun-tos Ambientais ou posAssun-tos de coleta de lixo especial.

Embalagens – Um saco amarelo é fornecido

para deposição de todos os outros pacotes que não sejam vidro ou papel (os sacos amarelos são expli-cados mais adiante no texto). O preço para a reci-clagem já está embutido no preço normal dos pro-dutos na loja. Os sacos amarelos são distribuídos para as residências uma vez por ano e são coletados cada duas semanas, sem custo.

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Fig. 2: Diferentes latas de lixo localizadas na frente de residências alemãs (foto: DSD).

O lixo restante vai para a lata de lixo normal. No entanto, não sobra quase nenhum despejo. Por esse sistema, o custo do lixo residencial cai para 70% a 80% – apenas alguns marcos alemães por mês. Por essa razão, muitas pessoas participam. Para os consu-midores alemães, a mudança mais óbvia nos últimos anos foi que tiveram de organizar seis caixas diferen-tes em casa para coletar os diversos materiais. No co-meço, houve dificuldade de mudar o comportamen-to diário, porque as pessoas precisavam aprender a pensar no lixo, a decidir em que caixa deveriam colo-car cada tipo de material. No início, foram feitos mui-tos erros. Mas, hoje em dia, a separação de lixo tor-nou-se quase automática, e até crianças de três anos de idade já aprendem os procedimentos corretos.

Isso também é confirmado por uma pesquisa de opinião pública feita pelo Instituto Allensbach, na Alemanha, que tentou determinar as caracterís-ticas dos participantes do programa de reciclagem. Os resultados mostram que as famílias (93%) par-ticipam com maior envolvimento que os solteiros (84%). Uma possível razão seria que os membros da família, por viverem em grupo, influenciam o comportamento uns dos outros. Por exemplo, os pais talvez queiram ser bons modelos para seus fi-lhos, e as crianças, por sua vez, que nunca aprende-ram nenhum outro sistema, possivelmente corrijam seus pais. Há evidências desse tipo de

comporta-mento em Hormuth,10 que descobriu que os

am-bientes físicos e as estruturas sociais facilitadoras da troca social e do estabelecimento de normas sociais têm melhores prognósticos de condescendência com as regras de reciclagem do que atitudes indivi-duais relacionadas à proteção ambiental. Os custos também podem ser um outro fator, já que as famí-lias geralmente têm mais despesas que os solteiros e talvez tendam a procurar meios de reduzi-las.

Dez anos após a instalação desse sistema, mais de 90% da população alemã participam, de-monstrando que ele foi bem aceito (fig. 3).

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ECICLAGEMDE

P

LÁSTICO

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PONTOVERDEE SACOAMARELO

Pelo fato de muitas indústrias acharem com-plicado recolher seu lixo, elas pagam empresas ter-ceirizadas para coletar e reciclar as embalagens. A maior dessas organizações é a Duales System Deutschland (DSD – Sistema Dual Alemão), criada em 1990 (dual refere-se à dupla tarefa de coletar e reciclar). A DSD é uma fusão sem fins lucrativos de várias empresas de reciclagem e tem sido responsá-vel pela coleta e reciclagem independentes de emba-lagens de quase 100% das residências alemãs, com exceção da cidade de Munique.

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Fig. 3. “Sim, eu separo o lixo.”

Um ponto verde na embalagem de um pro-duto mostra que o fabricante paga uma taxa à DSD

para financiar o sistema de coleta e reciclagem. Se uma empresa não pagar à DSD, não lhe é permitido imprimir o ponto verde na embalagem e ela deve mostrar que emprega um sistema alternativo de re-ciclagem de lixo. Isso causou alguma confusão, por-que, às vezes, o ponto verde era interpretado pela população como um indicativo de que a empresa era “amiga da natureza” em outros aspectos da pro-dução.

Em 1990/91, quando a DSD iniciou suas ope-rações, a maior parte da separação do lixo era ma-nual. Quando isso veio a público, as pessoas ficaram chocadas e a DSD teve de lutar contra a criação de uma má imagem. Muitas pessoas começaram a lavar o lixo antes de jogá-lo fora, de modo que não esti-vesse tão sujo para aqueles que fariam a separação. No entanto, isso resultou em altos níveis de polui-ção e consumo de água. Nos últimos dez anos, a técnica de separação deixou de ser manual e tornou-se de alta tecnologia.

Em 1993, foram instalados os primeiros ele-troímãs para embalagens de folha-de-flandres. Des-de 1994, separadores a ar têm sido usados para a re-moção de papéis e filmes e introduziu-se o primeiro separador de embalagens de alumínio por

turbilho-namento. Em 1996, empregou-se a primeira técnica infravermelha de separação de caixas de papelão para bebidas.11 O próximo passo é o

desenvolvi-mento de sistemas de identificação ótica para dife-rentes tipos de plástico. Em Trier, foi instalada uma nova usina com técnica quasi-infravermelha (NIT), capaz de separar quatro tipos diferentes de plástico: polietileno (PE), polietileno tereftalato (PET), poli-propileno (PP) e poliestireno (PS). Somente 40% desse lixo plástico permanecem sem separação.12

Esses sistemas aperfeiçoados reduziram o preço da reciclagem de plástico em 20%, em 2001, compara-do a 1996.13

A primeira usina totalmente automática foi implementada em 1997, perto de Aachen, como um sistema piloto, e a primeira usina industrial veio em seguida, em 1999, em Hanover. A DSD espera redu-zir o custo da separação de todas as embalagens le-ves em aproximadamente 30% com a implementa-ção nacional de técnicas totalmente automáticas.14

A profa. Elisabeth Noelle-Neumann, do Ins-tituto de Demoskopie Allensbach, resume suas investigações: “O ponto verde conseguiu oferecer e garantir proteção ambiental prática, a preços razoá-veis, sem nenhuma grande perda nos padrões de vida e prosperidade”. Faith Popcorn, uma especia-lista americana em tendências, é de opinião que “o sistema dual é um grande exemplo de um novo tipo de empresa no século XXI”.15

Desvantagens e problemas do DSD

Em muitos casos, o sistema DSD não funcionou

como o esperado. Por exemplo, ele teve tanto êxito no

11 DSD (2001): Pressestelle, 2001.

12 AA (2001): Sortieranlage neuen Typs in Trier eröffnet. Umwelt praxis,

2001, p. 11.

13 AA (2001): Kosten des Kuststoffrerecycling sinken weiter. Umwelt praxis,

2001, p. 6.

14 DSD (2001): Pressestelle, 2001. 15 Idem.

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início que foram recolhidas 400 toneladas de plástico no primeiro ano, ao invés das esperadas 100 toneladas. A DSD não tinha a capacidade de reciclagem para esse volume16 e teve de pagar a outras empresas pela

arma-zenagem e reciclagem, o que aumentou os custos. Muito lixo sem o “ponto verde” foi colocado nos sa-cos amarelos e cerca de 50% das empresas não paga-ram suas taxas de licença no prazo, ou mesmo não pa-garam. Os custos aumentaram, em 1993, de US$ 1,7 bilhões para US$ 2,1 bilhões,17 levando a DSD a uma

crise financeira e tornando necessária a intervenção governamental para salvar a empresa.

Pela falta inicial de espaço para armazenagem, uma boa quantidade de embalagens foi exportada para outros países, particularmente China, Paquistão e Indonésia. A especificação era de “reciclagem” e, quando isso foi publicado, a reputação da DSD e do governo alemão ficou bastante prejudicada. O

Spie-gel, importante revista semanal de notícias, sugeriu sarcasticamente que a DSD usasse o mote: “consumo local, reciclagem global”. Por causa de contratos lon-gos, 50% do lixo plástico ainda eram exportados em 1994, mas em 1995 foram reduzidos para 30%.

C

ONCLUSÃO

Em 1993, foram coletadas 34,8 mil toneladas de lixo de residências, empresas e escritórios, o que representou uma redução de cerca de 13%, se com-parado a 1990.

Tab. 1. Change of the recycling rates between 1993 and 1996. (3)

As embalagens de transporte foram drasti-camente reduzidas. Somente 13% dos 2,3 milhões de toneladas eram reutilizados antes de 1991, 65% dos quais eram principalmente caixas de papelão. Nos dias de hoje, a maioria dos fabricantes traba-lha com material reutilizável, com uma vida útil de cerca de dois anos. O ministro do meio ambiente, J. Trittin, publicou um relatório no qual afirmava que, em 2000, 200 mil toneladas de plástico foram recicladas, contra 30 mil toneladas em 1991. Em-bora seja do Partido Verde, ele concorda que a DSD

é melhor que sua reputação.

Como em toda nova tecnologia, o sistema de reciclagem de plástico na Alemanha teve problemas iniciais. No entanto, desde a introdução do sistema, muito foi aprendido e a DSD melhorou significati-vamente. Em muitos projetos de pesquisa, testou-se a possibilidade de separar diferentes materiais plás-ticos ou reciclar plásplás-ticos misturados. As empresas começaram a mudar a produção de embalagens, passando das embalagens complexas, com diversos materiais, para outras com materiais facilmente separáveis. O sistema de taxas também mudou. No início, era baseado no peso; agora, é firmado no tipo de material e na tecnologia de reciclagem existente para cada material. A taxa para os plásticos, por exemplo, tornou-se 15 vezes mais cara do que a do vidro, no final de 1993.

Os programas de reciclagem também afeta-ram negativamente o funcionamento das usinas de incineração, que foram construídas para o processa-mento de grandes quantidades de lixo. Numa ten-tativa de defender a prática da incineração, os em-presários argumentaram que ela também é um tipo de reciclagem, já que com a queima de lixo produz-se energia. Sustentam, também, que os filtros de ar são tão eficientes que a poluição do ar foi reduzida ao mínimo.

Como resultado dos vários programas de co-leta e reciclagem, 41% da população alemã é de opi-nião que o meio ambiente está “em boa forma, de modo geral”. Na Alemanha Oriental, antes um país socialista, 57% sustentam que ele está em boas con-dições. O povo da Polônia, um país vizinho, não é tão otimista: 83% consideram que o meio ambiente “vai mal”. No Japão, país muito industrializado,

16 MÜLLER & BRAUN, 1993. 17 Ibid. Recycling rates 1993 1994 1995 1996 Vidro 42 % 62 % 71 % 72 % Papel 18 % 55 % 71 % 86 % Alumínio 18 % 7 % 32 % 77 % Folha-de-flandres 26 % 35 % 56 % 66 % Plástico 9 % 29 % 52 % 54 % Compostos 6 % 26 % 39 % 66 %

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80% das pessoas sentem que ele está “em más con-dições”, comparado a 61% no Brasil e 53% nos Es-tados Unidos.18

A

LTERNATIVASPARAO

F

UTURO

B

RASILEIRO

A redução do lixo depende de dois princípios: evitar a produção de lixo e reciclar. No entanto, também é necessária uma mudança na motivação do consumidor e no consumo, de modo a reduzir o lixo. Se o consumidor comprar produtos com me-nos embalagens, as empresas as reduzirão. Se forem ao supermercado levando suas próprias sacolas, me-nos sacos de lixo serão usados, e se usarem seus pró-prios copos no escritório, menos copos de plástico serão gastos.

O sistema de reciclagem no Brasil já come-çou. Por exemplo, a reciclagem de alumínio no

Brasil tem a taxa mais elevada do mundo. Em al-gumas cidades, como Piracicaba, universidades e escolas começaram a separar o lixo, instalando la-tas para vidro, plástico, papel e metal. Sem êxito conclusivo no momento, as pessoas começaram a coletar seu lixo e depositá-lo nas latas. Com mais explicações e educação para o povo, mais pessoas compreenderiam a idéia e participariam do proces-so de separação. No entanto, são necessárias bases legais e infra-estrutura para que a população seja motivada a participar.

A era da “sociedade descartável” está chegan-do ao fim. A proteção da terra é tarefa global, que precisa da contribuição de cada país e cada pessoa. O exemplo da Alemanha indica que o método mais confiável para encorajar a participação é pelo bolso, isto é, o custo associado ao produto, e não à sua dis-posição.

Referências Bibliográficas

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Referências

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