Imigrantes internacionais na região sul do Brasil: uma análise comparativa da inserção ocupacional.
Elaine Meire Vilela * Este estudo tem como objetivo central a análise comparativa da inserção ocupacional dos imigrantes internacionais na região sul do Brasil, buscando compreender as diferenças, entre as diversas nacionalidades, quanto à empregabilidade e à posição ocupacional no mercado de trabalho. Como ponto de partida, analiso a distribuição espacial dos imigrantes por estado de concentração nessa região e verifico as características sociodemográficas dos imigrantes por nacionalidade, no sentido de identificar diferenças e semalhanças entre os mesmos. Por fim, analiso os determinantes da inserção ocupacional dos imigrantes e da segregação ocupacional.
Para a produção desta pesquisa, utilizo os dados da subamostra do censo brasileiro de 2000, selecionando a região sul e os imigrantes que representam 5% ou mais do total de imigrantes residentes nesta região, os quais são: os uruguaios, os paraguaios, os argentinos, os japoneses, os portuguêses, os alemães e os italianos.
Introdução
O presente trabalho tem dois objetivos centrais: a) identificar o perfil sociodemográfico dos principais fluxos de imigrantes internacionais no sul do Brasil; e b) investigar, comparativamente, os determinantes da empregabilidade e das segregações ocupacionais dos imigrantes internacionais no sul do Brasil.
Vários estudiosos (Becker, 1964; Schultz,1973; Parsons, 1940 e 1974; Davis e Moore, 1945; Young, 1958; Blau e Duncan, 1994; Golgher, Rosa e Araújo Júnior, 2005) afirmam que capital humano especialmente educação, experiência e migração é o fator determinante para explicar alcance ocupacional, status e riqueza na sociedade moderna. Outros pesquisadores (Boudon, 1977; Halsey, 1977; Collins, 1977; Bourdieu e Passeron, 1975; Portes e Bach, 1985; Granovetter, 1973 e 1985; Bourdieu e Passeron, 1975; Grusky, 1994; Valle Silva, 1980 e 1981; Hasenbalg e Valle Silva, 1991 e 1999; Helal, 2005) criticam esta visão e argumentam que, também, variáveis de capital cultural, isto é, de origem social (classe social, background da família, etc) e de significado social (tais como raça, estado civil, posição na hierarquia do domicílio, entre outras) e variáveis de
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capital social (relações: dentro da família, da família com a comunidade e do indivíduo com a comunidade externa) determinam não apenas alcance educacional, mas também alcance ocupacional, riqueza e prestígio.
Este estudo é relevante porque procura contribuir para este debate ao avaliar o efeito de variáveis de capital humano, de capital cultural e social sobre empregabilidade e inserção ocupacional dos imigrantes internacionais, no sul do Brasil. Para isto, este estudo propõe analisar as seguintes variáveis: educação, idade (proxy de experiência), local de estudo (se estudou ou não no Brasil), cor, religião, naturalização, posição no domicílio e tempo de residência no país. Assim, poderseá verificar e comparar os efeitos das variáveis de capital humano (educação e idade) e de capital cultural e social (local de estudo, tempo de residência no país, naturalização, religião, posição no domicílio, entre outras). Duas questões principais de pesquisas são levantadas para análise: 1) há grandes diferenças no perfil dos imigrantes internacionais residentes no sul do país? 2) quais são as forças geradoras de diferenciais de segregação ocupacional e de empregabilidade para os grupos de imigrantes internacionais? Considerações teóricas
Algumas teorias sobre estratificação social, em específico a teoria do capital humano, enfatizada pelos economistas, e a teoria da modernização, focada pelos sociólogos, assumem que, na sociedade moderna, capital humano, em especial educação e experiência, é o principal mecanismo para promover a igualdade social, reduzir as desigualdades de renda e aumentar a mobilidade social (seus principais pensadores são Becker, 1964; Schultz, 1973; Parsons, 1940, 1974; Davis e Moore, 1945; Young, 1958; Blau e Duncan, 1994).
Alguns teóricos (Parsons, 1940, 1974; Davis e Moore, 1945; Young, 1958) afirmam que a sociedade moderna é meritocrática, ou seja, as pessoas alcançam as posições de prestígio por méritos individuais, através de credenciais educacionais, e não mais através do status educacional e ocupacional dos pais e da renda deles e nem através de outras variáveis de significado social tais como raça e gênero. Assim, filhos de
pobres e de ricos, de pretos e de brancos, de diferentes etnias teriam iguais oportunidades sociais na sociedade contemporânea.
A teoria do capital humano afirma que, quanto maior o estoque de capital humano do indivíduo (educação, experiência e migração, por exemplo), maior é a produtividade marginal e mais elevado será seu valor econômico no mercado de trabalho (Becker, 1964; Golgher, Rosa e Araújo Júnior, 2005).
A partir da década de 70, vários estudiosos (Boudon, 1977; Halsey, 1977; Collins, 1977; Bourdieu e Passeron, 1975; Portes e Bach, 1985; Portes e Rumbaut, 1990; Granovetter, 1973 e 1985; Grusky, 1994; Coleman, 1988; Valle Silva, 1980 e 1981; Fernandes, 2004 e Helal,2005) criticaram tal hipótese. Collins (1977) e Boudon (1977) argumentam que a teoria do capital humano não leva em consideração os interesses grupais em jogo, isto é, os conflitos de grupos de status, poder, prestígio e riqueza, ou seja, as questões de poder e dominação na determinação da distribuição de riqueza e prestígio e da mobilidade social.
Grusky (1994) também argumenta que aquelas teorias, de capital humano e da modernização, negligenciam o elemento “poder” no sistema de estratificação, ou seja, não consideram que pessoas em posições importantes têm o poder de influenciar a distribuição de recursos e podem preservar ou estender os próprios privilégios
Além disto, Bourdieu e Passeron (1975) e Collins (1977) criticam aquelas teorias dizendo que estas desconsideram que as escolas sejam instituições que perpetuam e até mesmo promovem a desigualdade existente na sociedade capitalista, uma vez que a classe dominante as utilizam para convencer as classes sociais mais baixas de sua inferioridade e da necessidade de aceitação da sua posição social.
Bourdieu e Passeron (1975), fundamentadores da teoria do capital cultural, e Portes e Bach (1985), Granovetter (1973) e Colleman (1988), pensadores da teoria do capital social, afirmam que a teoria da modernização e a teoria do capital humano não dão a devida atenção às variáveis relacionadas ao capital cultural ou capital social – tais como a origem social, a educação e a ocupação dos pais, a raça ou cor, a religião, a etnia e as redes sociais – que são fatores importantes na obtenção de riqueza, prestígio e poder na sociedade moderna.
Segundo Bourdieu (1998), o capital cultural é constituído dos conhecimentos, códigos, competências e símbolos transmitidos pelos pais para os filhos, de forma mais indireta do que direta. Este capital é profundamenete interiorizado pelos filhos e ele contribui para o alcance educacional e ocupacional dos mesmos.
Os pensadores da teoria do capital social (Portes e Bach, 1985; Granovetter, 1973 e Colleman 1988) afirmam que o capital social também é extremamente importante para explicar as localizações na hierarquia ocupacional e de classes nas sociedades. De acordo com eles, os indivíduos utilizam das redes sociais de amigos e parentes (redes fortes) ou de conhecidos (redes fracas) como instrumento para alcançar um emprego, ou uma melhor posição ocupacional, ou, até mesmo, um aumento no rendimento.
A partir deste debate, podese dizer que o número de anos de escolaridade e idade, ou seja, capital humano, são fortes determinantes para explicar alcance ocupacional e de riqueza na sociedade moderna. Mas, este fator não é suficiente para explicar o fenômeno, ou seja, variáveis de capital cultural, isto é, de origem social e de significado social, e variáveis de capital social são importantes, tanto quanto ou até mais do que capital humano, para explicar alcance ocupacional, de riqueza e de prestígio.
Fundamentado neste debate, este projeto busca avaliar os efeitos das variáveis de capital humano – escolaridade e idade capital humano e cultural – o tempo de residência no país, o fato do imigrante ter estudo no Brasil, a experiência de trabalho no Brasil– e de capital cultural e social – religião, naturalização, e posição no domicílio – além de outras, sobre a empregabilidade e localização ocupacional dos imigrantes internacionais. A questão colocada aqui é: como e o quanto estas variáveis são importantes para explicar a inserção e a adaptação dos imigrantes internacionais no mercado de trabalho no sul do Brasil?
Hipóteses
Fundamentado nas teorias dos capitais humano, cultural e social, este trabalho propõe as seguintes hipóteses:
1 educação e idade (proxy de experiência) estão positivamente relacionados com uma maior probabilidade de estar empregado e de estar no setor formal.
2 Há uma relação positiva e significativa entre: ter religião, ser naturalizado, ter maior tempo de residência no país, ter estudado no país, ter maior tempo de experiência no Brasil (variáveis referentes a um maior socialização no país) e ser chefe de domicílio (variável de significado social) com maior probabilidade de estar empregado e de estar no setor formal.
Metodologia
Os dados referentes a este trabalho são oriundos da subamostra do censo demográfico brasileiro de 2000.
Os objetos centrais de estudo são os imigrantes internacionais residentes no sul do Brasil, isto é, aqueles indivíduos que afirmaram ter nascido em outro país que não o Brasil (país de residência destes imigrantes em 2000). Entretanto, não analisarei todos os imigrantes inseridos naquela região. Proponho abordar apenas alguns grupos de imigrantes, isto é, somente imigrantes de nacionalidades que têm um número que represente 5% ou mais do total de imigrantes inseridos naquela região.
Além disto, proponho trabalhar, nesta pesquisa, com indivíduos entre 25 a 60 anos de idade, que estão ou não ocupados. A idade mínima de 25 está relacionada à idéia de que pessoas com esta idade já concluíram os estudos e, provavelmente, encontramse inseridos no mercado de trabalho 1 , e a idade máxima de 60 é devido ao fato de ser esta a idade de aposentadoria dos homens em 2000, data do censo demográfico brasileiro.
Para analisar as características sociodemográficas dos imigrantes, buscase trabalhar com tabelas simples de contingências, com frequências e percentuais.
Já para a verificação dos determinantes de empregabilidade e de inserção ocupacional, propõese utilizar as técnicas estatísticas de regressão logística binominal e multinominal. A regressão logística é um modelo utilizado para medir o efeito das variáveis independentes sobre um número de opções (ou categorias). Neste modelo, assumese que as categorias não são ordinais e que estas têm uma natureza nominal (Hoffmann, 2004).
Os modelos de análise têm a seguinte forma:
1
Esta idéia não descarta aqueles que estudam e trabalham ao mesmo tempo, mas tenta evitar que se classifique como desocupados os indivíduos que estejam estudando e não trabalhando.
Ln [P(Y=K/P(Y=J) ]= β0 + β1 escolaridade + β2 escolaridade 2 + β3 idade + β4 Idade 2 + β5 estudou no Brasil (variável dummy) + β6 experiência no Brasil + β7 estado (variáveis
dummy para estado) + β8 (variável dummy para tempo de residência no Brasil) + β9 (variável dummy para raça) + β10 (variável dummy para estado civil) + β11 (variável
dummy para posição no domicílio) + β12 (variável dummy para naturalização) + β13 (variável dummy para religião) + ε
As variáveis dependentes dos modelos foram formuladas da seguinte maneira:
1 empregabilidade: esta variável foi criada a partir do quesito do censo sobre ter ou não um trabalho remunerado, na data de 23 a 29 de julho de 2000. É uma variável dummy onde 0= não tem trabalho remunerado e 1= tem trabalho remunerado.
2 inserção ocupacional: criouse uma variável composta por três categorias – estar fora do mercado de trabalho = 0; estar no setor informal = 1; e estar no setor formal = 2. Para classificar as pessoas de acordo com estas categorias, utilizouse as seguintes definições: estar fora do mercado são os não ocupados; os informalmente ocupados são aqueles trabalhadores sem carteira assinada e os empregadores e os autônomos que não contribuem para a previdência; os formalmente ocupados são os trabalhadores com carteira assinada e os empregadores e os autônomos que contribuem para a previdência. Esta última é a nossa categoria de referência. As variáveis independentes. As variáveis independentes são formadas por dois grupos: aquelas que se quer testar e as de controle. As variáveis de teste: 1 Escolaridade: número de anos de escolaridade;
2 – Idade ( proxy de experiência): anos completos de idade.
3 estudou no Brasil: variável dummy que indica se o imigrante internacional estudou no Brasil ou não. Esta variável foi produzida da seguinte forma: ano de idade ao imigrar – (anos de estudos + 6 que são aqueles anos que se referem aos seis primeiros anos da vida da pessoa, quando ela ainda não entrou para a escola ). Para aqueles que o valor foi 0 ou
menos, definimos que eles estudaram no Brasil e, ao contrário, para aqueles que o valor foi 1 ou mais, definimos que estes não estudaram no Brasil.
4 – Religião: variável dividida em 4 variáveis dummy: não tem religião (categoria de referência); católica, evangélica; religiões orientais e outras religiões.
5 Tempo de residência: variável indicadora de um conjunto de variáveis dummy. De 0 a 10 anos de residência no Brasil é a nossa categoria de referência; de 11 a 20 anos ; de 21 a 30; de 31 a 40 ; 41 ou mais anos são as categorias de comparação.
6 Naturalização: variáveldummy, sendo não naturalizado = 0 e naturalizado = 1.
7 – Experiência no Brasil: esta variável é quantitativa. Esta foi calculada a partir do tempo de residência do indivíduo no Brasil menos o tempo de seu estudo no Brasil. 8 – Posição na hierarquia do domicílio: variável formada por 4 variáveis dummy: responsável pelo domicílio (nossa categoria de referência); cônjuge do responsável pelo domicílio; filho ou enteado do responsável pelo domicíli e outras posições no domicílio. Esta última categoria é formada por todos os outros residentes no domicílio, isto é, avós, pai e mãe, neto, bisnetos, empregado doméstico, entre outros).
Variáveis de controle
1 Raça: variável dividida em 4 variáveis dummy: branca (categoria de referência), amarela, parda e outras.
2 – Estado civil: variável dividida em 3 variáveis dummy: casado, separado (incluindo os divorciados e os desquitados); os viúvos e os solteiros (nossa categoria de referência). 3 – Estado: variável dividida em 3 variáveis dummy para: Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catariana; sendo Paraná a nossa categoria de referência.
O perfil socioeconômico e demográfico dos imigrantes internacionais.
Nesta parte do trabalho, buscase comparar imigrantes internacionais entre si, com o intuito de identificar as diferenças e semelhanças entre os diversos grupos de nacionalidades, em aspectos como: sexo, localização espacial, idade, escolaridade, raça, religião, estado civil e relações no domicílio. Esta comparação pretende servir de base para as análises mais detalhadas que virão a seguir.
Podese verificar, na tabela 1 a seguir, que o número de homens é superior ao de mulheres para todos os grupos de imigrantes, mas a diferença não é muito grande. Os argentinos são os que apresetam uma diferença maior, com 59.7% de homens e 40.3% de mulheres.
Tabela 1: Distribuição dos imigrantes por gênero
Feminino Masculino
Frequência % Frequência % Total %
Argentinos 2386 40.27 3539 59.73 5925 100 Paraguaios 1862 47.36 2070 52.64 3932 100 Uruguaios 5492 47.34 6110 52.66 11602 100 Alemães 1030 44.45 1287 55.55 2317 100 Italianos 653 41.75 911 58.25 1564 100 Portuguêses 1830 43.41 2386 56.59 4216 100 Japonêses 948 43.91 1211 56.09 2159 100 Total 14201 44.78 17514 55.22 31715 100 Fonte: dados básicos do censo demográfico de 2000 IBGE. Tabela produzida pela autora. Na tabela 2 a seguir, verificase que, em geral, o estado do Paraná é o que detém o maior número de imigrantes, com exceção dos uruguaios e argentinos que têm o Estado do Rio Grande do Sul como espaço de maior concentração espacial. Os paraguaios, os alemães, os italianos, os portuguêses e os japonêses concentramse no estado do Paraná. Os argentinos, primeiro, e os alemães, em segundo, são os grupos de imigrantes de maior dispersão espacial, com um número melhor distribuído entre os três estados. Tabela 2: Distribuição dos imigrantes por Estado Paraná % Santa Catarina % Rio Grande do Sul % Total % Argentinos 1791 30.23 1732 29.23 2402 40.54 5925 100 Paraguaios 3415 86.85 279 7.10 238 6.05 3932 100 Uruguaios 520 4.48 679 5.85 10403 89.67 11602 100 Alemães 947 40.85 682 29.42 689 29.72 2318 100 Italianos 695 44.44 250 15.98 619 39.58 1564 100 Portuguêses 2751 65.27 458 10.87 1006 23.87 4215 100 Japonêses 1382 64.01 224 10.38 553 25.61 2159 100 Total 11501 36.26 4304 13.57 15910 50.17 31715 100 Fonte: dados básicos do censo demográfico de 2000 IBGE. Tabela produzida pela autora.
Quanto à idade, verificase que os argentinos, paraguaios e uruguaios são os que têm o maior número de imigrantes no segmento adulto da População em Idade Ativa (PIA). Já os alemães, italianos, portuguêses e japonêses pertencem, em maior número, ao segmento maduro da PIA. Tabela 3: Distribuiçãodos imigrantes por faixa etária 25 a 44 anos % 45 a 60 anos % Total % Argentinos 3881 65.49 2045 34.51 5926 100 Paraguaios 2347 59.69 1585 40.31 3932 100 Uruguaios 7220 62.23 4382 37.77 11602 100 Alemães 604 26.07 1713 73.93 2317 100 Italianos 327 20.89 1238 79.11 1565 100 Portugues 950 22.53 3266 77.47 4216 100 Japones 567 26.26 1592 73.74 2159 100 Total 15896 50.12 15821 49.88 31717 100 Fonte: dados básicos do Censo demográfico de 2000 IBGE. Tabela produzida pela autora.
Considerando que os imigrantes, independentes da nacionalidade, em geral, migram em idades jovem, o resultado, apresentado na tabela acima, pode ser explicado pelas datas dos fluxos imigratórios destes imigrantes. Ou seja, os alemães, italianos, portuguêses e japonêses fixaram residência no Brasil, em maior número, antes de 1960. Já os argentinos, paraguaios e uruguaios entraram no país, em maior número, a partir da década de 70. Por isto, este resultado era esperado. O resultado acima pode ser confirmado a partir da observação da tabela 4, onde apresentase o tempo de residência daqueles imigrantes no Brasil. Tabela 4: Distribuição dos imigrantes por tempo de residência no Brasil 10 anos ou menos % 11 a 20 anos % 21 a 30 anos % 31 a 40 anos % 40 anos ou mais % Total % Argentinos 2014 33.99 1646 27.78 1370 23.12 485 8.18 411 6.94 5926 100 Paraguaios 1071 27.24 872 22.18 1087 27.64 672 17.09 230 5.85 3932 100 Uruguaios 2986 25.73 3917 33.76 3170 27.32 1058 9.12 472 4.07 11603 100 Alemães 495 21.35 154 6.64 338 14.58 196 8.46 1135 48.96 2318 100 Italianos 274 17.51 97 6.20 117 7.48 221 14.12 856 54.70 1565 100 Portugues 220 5.22 248 5.88 750 17.79 1081 25.63 1918 45.48 4217 100 Japones 186 8.62 107 4.96 219 10.14 823 38.12 824 38.17 2159 100
Total 7246 22.84 7041 22.20 7051 22.23 4536 14.30 5846 18.43 31720 100 Fonte: dados básicos do censo demográfico de 2000 IBGE. Tabela produzida pela autora.
Verficase que os imigrantes europeus, ou seja, alemães, italianos e portuguêses, mais os japonêses – denominados aqui como os imigrantes “antigos” têm um maior percentual (acima de 60%) de imigrantes com 31 anos ou mais de residência no Brasil. Diferentemente, os argentinos, paraguaios e uruguaios – denominados imigrantes “recentes” têm um número maior de pessoas com 30 anos ou menos de tempo de residência no país.
Quando analisase o nível educacional dos grupos de imigrantes, estes, com exceção dos paraguaios, têm um percentual acima de 50% de imigrantes com médio ou alto grau educacional. Apenas os paraguaios têm um percentual acima de 50% com baixo nível educacional.
Quando verificase cada categoria educacional, observase que os alemães (47.17%) são aqueles com maior número de alta educação; com média educação são os uruguaios (39.49%) com o maior percentual; com o maior percentual de baixa (26.08%) e nenhuma educação (7.7) encontramse os paraguaios; e o maior percentual com muito baixa educação encontrase entre os portugueses (24.69%).
Tabela 5: Distribuição dos imigrantes por educação Não
tem %
Muito
baixa % Baixa % Média % Alta % Total % Argentinos 208 3.53 798 13.53 846 14.34 1951 33.08 2095 35.52 5898 100 Paraguaios 300 7.70 885 22.72 1016 26.08 882 22.64 813 20.87 3896 100 Uruguaios 207 1.79 1505 13.01 2663 23.02 4567 39.49 2624 22.69 11566 100 Alemães 12 0.52 332 14.33 301 12.99 579 24.99 1093 47.17 2317 100 Italianos 26 1.67 240 15.39 262 16.81 488 31.30 543 34.83 1559 100 Portugues 61 1.45 1038 24.69 556 13.23 1203 28.62 1346 32.02 4204 100 Japones 73 3.41 459 21.43 377 17.60 712 33.24 521 24.32 2142 100 Total 887 2.81 5257 16.65 6021 19.06 10382 32.87 9035 28.61 31582 100 Fonte: dados básicos do censo demográfico de 2000 IBGE. Tabela produzida pela autora. A distribuição dos imigrantes por raça, ou cor, não apresenta grandes diferenças entre os imigrantes. Todos os imigrantes, exceto os japonêses, têm um percentual acima de 70% de pessoas que se identificam como da cor branca. No caso dos alemães, todos (100%) consideramse brancos e, entre os italianos, o percentual foi de 99.36%. Depois dos japonêses, com 7.5%, são os paraguaios que apresentam o menor percentual de
brancos. Este último grupo também apresenta o maior percentual de pardos (20.6%) e outras cores ou raças (6.33%). Os japonêses apresentam um número grande daqueles que se consideram da cor amarela (91.38%).
Tabela 6: Distribuição dos imigrantes por raça/cor
Branca % Amarela % Parda % Outras % Total % Argentinos 5254 88.69 7 0.12 482 8.14 181 3.06 5924 100 Paraguaios 2826 71.85 48 1.22 810 20.59 249 6.33 3933 100 Uruguaios 10597 91.34 0 0.00 720 6.21 285 2.46 11602 100 Alemães 2317 100.00 0 0.00 0 0.00 0 0.00 2317 100 Italianos 1555 99.36 0 0.00 10 0.64 0 0.00 1565 100 Portuguêses 4051 96.11 41 0.97 70 1.66 53 1.26 4215 100 Japonêses 162 7.50 1973 91.38 0 0.00 24 1.11 2159 100 Total 26762 84.38 2069 6.52 2092 6.60 792 2.50 31715 100 Fonte: dados básicos do censo demográfico de 2000 IBGE. Tabela produzida pela autora.
A tabela 7, abaixo, apresenta o resultado da análise exploratória da comparação entre os imigrantes quanto à religião. A maioria dos grupos de imigrantes são católicos, com um percentual acima de 57% para os argentinos, paraguaios, uruguaios, italianos e portugueses. Entre estes, o percentual maior (91.7%) de católicos encontrase entre os italianos. Já o grupo que apresenta o maior percentual (40.24%) de pessoas evangélicas é o de nacionalidade alemã. Entre os que se definem como esperitualistas e de outras religiões, o percentual maior está entre os uruguaios. Quanto à religião oriental, a proporção maior é de japonêses, com 36.13% de imigrantes.
Tabela 7: Percentual de distribuição dos imigrantes por religião Sem
religião Católico Evangélico Espiritualista
Religião oriental Outra religião Total % % % % % % % % % Argentinos 12.98 66.32 15.52 1.99 1.23 1.96 5926 100 Paraguaios 6.05 75.81 15.84 0.51 1.14 0.64 3932 100 Uruguaios 20.65 57.92 12.64 4.17 1.28 3.34 11602 100 Alemães 6.65 49.18 40.24 1.08 0.30 2.55 2316 100 Italianos 3.26 91.68 2.11 1.86 1.09 0 1563 100 Portuguêses 4.41 84.54 7.73 1.80 0.09 1.42 4216 100 Japonêses 17.92 38.86 5.93 0.00 36.13 1.16 2159 100 Total 13.18 64.97 13.96 2.37 3.39 2.12 31714 100
Fonte: dados básicos do censo demográfico de 2000 IBGE. Tabela produzida pela autora.
A seguir, apresentase a distribuição dos imigrantes quanto ao estado civil. Os imigrantes que apresentam o percentual maior de casados são os japonêses, portuguêses e alemães. O maior número de solteiros encontrase entre os argentinos, os paraguaios e os uruguaios, respectivamente. Já entre os separados, o maior percentual é dos italianos, com 15.8%.
Tabela 8: Distribuição dos imigrantes por estado civil
Casado % Separado % Viúvo % Solteiro % Total % Argentinos 3351 56.56 607 10.24 150 2.53 1817 30.67 5925 100 Paraguaios 2381 60.54 322 8.19 82 2.08 1148 29.19 3933 100 Uruguaios 6675 57.53 1274 10.98 323 2.78 3331 28.71 11603 100 Alemães 1649 71.14 273 11.78 100 4.31 296 12.77 2318 100 Italianos 991 63.36 247 15.79 64 4.09 262 16.75 1564 100 Portuguêses 3263 77.40 329 7.80 176 4.17 448 10.63 4216 100 Japonêses 1683 77.95 87 4.03 55 2.55 334 15.47 2159 100 Total 19993 63.03 3139 9.90 950 3.00 7636 24.07 31718 100 Fonte: dados básicos do censo demográfico de 2000 IBGE. Tabela produzida pela autora. Por fim, verificase a distribuição dos imigrantes quanto a relação com o “chefe” do domicílio. A maioria dos imigrantes, independente de nacionalidade, identificase como responsável pelo domicílio, sendo que o percentual maior encontrase entre os italianos (63.43%) e alemães (61.16%). A categoria cônjuge é a que apresenta o segundo percentual mais alto, para os imigrantes, em geral. O número de imigrantes que se identifica como filho ou outra posição no domicílio é bem menor, para todos os imigrantes.
Tabela 9: Distribuição dos imigrantes por posição no domicilio Responsável % cônjuge % Filho %
Outra posição % Total % Argentinos 3437 58.00 2008 33.88 178 3.00 303 5.11 5926 100 Paraguaios 2036 51.78 1482 37.69 180 4.58 234 5.95 3932 100 Uruguaios 6098 52.56 4440 38.27 498 4.29 566 4.88 11602 100 Alemães 1417 61.16 728 31.42 61 2.63 111 4.79 2317 100 Italianos 992 63.43 387 24.74 88 5.63 97 6.20 1564 100 Portuguêses 2499 59.27 1414 33.54 123 2.92 180 4.27 4216 100 Japonêses 1187 54.98 757 35.06 88 4.08 127 5.88 2159 100 Total 17666 55.70 11216 35.36 1216 3.83 1618 5.10 31716 100
Fonte: dados básicos do censo demográfico de 2000 IBGE. Tabela produzida pela autora.
Em suma, podese dizer que o perfil dos imigrantes internacionais resumese em: Os argentinos são, em maioria, homens, de cor branca, com alta ou média educação, católicos, casados ou solteiros, responsáveis pelo domicílio, residentes no Rio Grande do Sul, com 30 anos ou menos de residência no país e pertencentes ao segmento adulto da PIA, isto é, entre 25 a 44 anos de idade. Já os paraguaios são, em maior número, também homens, mas de cores branca e parda, com educação baixa ou muito baixa, católicos, casados ou solteiros, responsáveis pelo domicílio, residentes no Paraná, com 30 anos ou menos de moradia no Brasil, com idade entre 25 a 44 anos de idade.
Os uruguaios são, majoritariamente, homens, brancos, entre 25 a 44 anos de idade, com educação média ou alta, casados ou solteiros, responsáveis pelo domicílio, católicos ou sem religião, imigrantes inseridos no Rio Grande do Sul, com 30 anos ou menos de residência no Brasil.
Os alemães, em sua maioria, são homens, brancos, entre 45 a 60 anos de idade, com educação alta ou média, católicos e evangélicos, casados, responsáveis pelo domicílio, residentes no Paraná, com 31 anos ou mais de residência no país.
Os Italianos têm um percentual maior de homens, brancos, entre 45 a 60 anos de idade, com educação alta e média, católicos, casados, responsáveis pelo domicílio, residentes no Paraná e Rio Grande do Sul, com 31 anos ou mais de residência no Brasil.
Os portuguêses são, em maioria, homens, casados, responsáveis pelo domicílio, entre 45 a 60 anos de idade, de cor branca, católicos, com educação alta, média ou muito baixa, residentes no Paraná, com 31 anos ou mais de residência no país.
Os japonêses têm um percentual maior de homens, de cor amarela, entre 45 a 60 anos de idade, com educação média ou alta, casados, de religião católica e religião oriental, com 31 anos ou mais de residência no Brasil e concentração no estado do Paraná.
Nesta parte do trabalho, busco identificar quais as variáveis são determinantes da empregabilidade e da localização ocupacional dos imigrantes internacionais, no sul do Brasil. Ressalto que as variáveis que serão focadas nesta análise estão relacionadas com os capitais humano, cultural e social, sendo as seguintes: a) escolaridade; b) idade ( proxy de experiência); c) estudo no Brasil; d) religião; e) tempo de residência no país; f) naturalização; g) experiência no Brasil; h) posição na hierarquia do domicílio; sendo que outras variáveis são apenas de controle.
Os deter minantes de empregabilidade.
Na tabela 10 abaixo, podese identificar que são muitas as variáveis que afetam na probabilidade do indivíduo ter ou não um trabalho remunerado. Verificase que há diferenças de variáveis determinantes entre os grupos de imigrantes. Isto é, quanto as variáveis de interesse deste trabalho, podese verificar que apenas a variável referente à posição de cônjuge no domicílio que é estatisticamente significante para todos os grupos de imigrantes, com um pvalue abaixo de 0.01. As outras variáveis são significantes para alguns grupos e não o são para outros.
Como exemplo temse que, quando analisase os argentinos, verificase que escolaridade é um determinante de empregabilidade, ou seja, a cada um ano de escolaridade que aumenta para o indivíduo de nacionalidade argentina, aumenta em 13 + 2(0.01) as chances dele ter um trabalho remunerado. A variável idade também é positiva e estatisticamente significante para a empregabilidade dos argentinos, ou seja, para cada um ano a mais na idade do argentino, aumenta em 11 + 2(0.01) na probabilidade dele ter um trabalho remunerado. No caso dos argentinos, as variáveis referentes a tempo de residência no Brasil, naturalização e religiões evangélica e espiritualista não são determinantes significativos de empregabilidade. Um fator altamente determinante da empregabilidade do argentino, no Brasil, é o fato dele ter estudado no país hospedeiro, ou seja, o fato do argentino ter estudado no Brasil aumenta em 70% a probabilidade dele ter um trabalho remunerado. Outros determinantes altamente significativos de empregabilidade dos argentinos são as posiçôes de cônjuge, filho e outra posição no domicílio, quando comparado com a posição de responsável pelo domicílio. Isto é, se o indíviduo é cônjuge, comparado com o responsável, ele tem 37% menos chances de estar
empregado, se é filho as chances diminuem em 44%; mas, se o indivíduo ocupar outra posição no domicílio, as chances aumentam em 85% deles terem um emprego remunerado.
Tabela 10: Regressão logística binominal: determinantes de empregabilidade, ou seja, ter ou não um trabalho remunerado na data de 23 a 29 de julho de
2000.
Argentino Paraguaio Uruguaio Alemão Italiano Português Japonês Exp(B) Exp(B) Exp(B) Exp(B) Exp(B) Exp(B) Exp(B) sexo 3.42* 6.13* 4.78* 2.45* 2.97* 4.63* 7.08* escolaridade 1.13* 1.03 0.99 0.89*** 1.05 1.01 1.11*** escolaridade2 0.99* 0.99*** 1.00* 1.01* 0.99 1.01* 0.99 idade 1.11* 1.29* 1.13* 0.97 0.80** 0.80* 1.35* idade2 0.99* 0.99* 0.99* 1.00 1.00 1.00 0.99* reside 11a 20 anos 1.24 1.03 0.98 1.61 5.42* 4.59* 1.81 reside 21a 30 anos 1.28 0.47* 0.63* 1.32 10.89* 2.20 1.15 reside 31a 40 anos 0.68 0.46** 0.30* 5.52* 33.98* 1.66 0.75 reside 41ou mais anos 0.94 0.60 0.22* 1.03 16.71* 1.37 1.40 estudou no Brail 1.70* 0.84 1.47* 1.10 1.75** 0.99 1.64* parda 1.55* 0.73* 0.66* 1.00 amarela 0.59 0.58** outracor 0.49* 0.93 1.31*** 5.27* casado 1.22* 0.37* 1.29* 2.92* 2.45* 0.94 0.37* separado 1.35** 1.04 1.16*** 1.81* 1.32 2.16* 0.68 viúvo 0.77 0.07* 1.58* 12.48* 0.56 1.22 0.54*** naturalizado 1.09 2.02* 1.42* 0.88 2.51* 1.35* 0.71* conjuge 0.37* 0.58* 0.53* 0.30* 0.49* 0.65* 0.31* filho 0.44* 0.27* 0.67* 0.25* 5.40* 0.67 0.32* outra posição no domicílio 1.85* 0.36* 0.46* 0.96 0.43* 0.26* 0.03* experiência no BR 1.12* 1.06* 1.02*** 1.07** 0.95 1.14* 1.09 experiência no BR2 0.99* 0.99 0.99 0.99* 0.99 0.99*** 0.99* SC 0.48* 0.59* 1.58* 0.65* 1.70* 1.38** 2.52* RGS 0.62* 0.26* 1.72* 0.72* 0.96 1.56* 4.43* Católica 1.39* 0.61* 1.02 1.16 0.25* 1.05 0.83 Evangélica 0.98 0.81 0.89 1.07 0.26** 0.32* 1.18 espiritualistas 0.80 0.32** 1.31** 0.18* 0.69 Religião oriental 0.55** 0.04* 1.52*** 0.36 0.67** Outras religiões 0.30* 0.76** 0.09* 1.91 0.15* N. Amostra 5898 3895 11567 2317 1559 4203 2142 Nagelkerke 0.32 0.40 0.27 0.37 0.43 0.37 0.53 ChiSquare 1488.661 1347.971 2470.673 772.589 605.65 1350.612 1075.505 *Pvalue <= 0.01 ** pvalue <= 0.05 *** pvalue <=0.10
Fonte: análise produzida pela autora, a partir dos dados do censo 2000 do Brasil do IBGE.
Diferentemente, no caso dos paraguaios, os anos de escolaridade e o fato de ter estudado no Brasil não são variáveis importantes para determinar a empregabilidade dos mesmos. Entretanto, assim como para os argentinos, idade e experiência no Brasil apresentamse estatisticamente significante. Isto é, para cada um ano que aumenta na idade dos paraguaios, aumenta em 29 + 2(0.01) na probabilidade do paraguaio ter um trabalho remunerado. Além disto, para cada um ano que aumenta em experiência no Brasil, aumenta em 12 * 2(0.01) as chances dos paraguaios estarem empregados.
Outros fatores que são importantes determinantes de empregabilidade dos paraguaios são: religião, posição no domicílio, tempo de residência no domicílio e naturalização. Verificase que a probabilidade de ter um trabalho remunerado diminui para os paraguaios católicos, em 39%, para os espiritualistas, em 68%, e para os de religião oriental, em 96%, quando comparados com aqueles que não têm religião. Este resultado refuta nossa hipótese de que ter uma religião é positivamente relacionado com a probabilidade de empregabilidade. Além disto, podese observar, na tabela acima, que, comparado com o responsável pelo domicílio, o fato de ser cônjuge diminui em 42% a probabilidade da pessoa ter um trabalho remunerado; ser filho diminui em 73% e estar em outra posição no domicílio diminui em 64%. O fato de serem naturalizados aumenta, em 102%, as chances dos paraguaios terem um trabalho remunerado. No caso de tempo de residência no Brasil, quando comparado com o tempo de 0 a 10 anos, os períodos de 11 a 20 anos e de 41 anos ou mais não apresentaramse estatisticamente significativos, ou seja, não há diferença entre esses três períodos em explicar empregabilidade. Entretanto, quando comparamos o período de 0 a 10 anos com os períodos de 21 a 30 e 31 a 40 anos de residência no Brasil, observase que as chances dos indivíduos residentes de 21 a 40 terem um trabalho remunerado diminuem, quando comparados com aqueles que têm de 0 a 10 anos. Este resultado,também, não era esperado. A hipótese, de quanto maior o tempo de residência no Brasil maior a probabilidade de estarem empregados, foi refutada, no caso dos paraguaios.
Já os resultados para os uruguaios, quanto a probabilidade de ter um trabalho remunerado, foram os seguintes: a) anos de escolaridade não apresentaramse como determinantes significativos; b) para cada um ano que aumenta na idade do uruguaio,
aumenta em 13 + 2(0.01) as chances de ter um trabalho remunerado; c) o fato de ter estudado no Brasil aumenta em 47% a probabilidade; d) ser naturalizado aumenta em 42% as chances; e) o fato de ter 11 a 20 anos de residência no Brasil, comparado com o período de 0 a 10 anos, não foi significativo, mas, para todos os outros períodos as chances de ter um trabalho remunerado diminuem – um resultado, também não esperado; e) quanto a religião, ser católico ou evangélico não é estatisticamente significante, quando comparado com os sem religião. Entretanto, ser espiritualista aumenta em 31% e ser de religião oriental aumenta em 52% a probabilidade de empregabilidade do uruguaio. Já se o uruguaio for de outra religião, as suas chances de empregabilidade dimunuem em 24%; e) se o uruguaio for cônjuge, filho ou ter outra posição no domicílio, as suas chances de ter um trabalho remunerado diminuem, comparado ao responsável, em 47%, em 33%, em 54%, respectivamente.
No caso dos alemães, os resultados foram ainda mais diferentes, isto é, as variáveis idade, naturalização, o fato de ter estudado no Brasil, não apresentaramse estatisticamente significativas. Resultado que refuta algumas hipóteses expostas neste trabalho. Outro resultado não esperado foi que escolaridade apresentouse negativa e estatisticamente significante, ou seja, para cada um ano que aumenta em escolaridade do alemão, diminui em 11 + 2(0.01) na probabilidade dele ter um trabalho remunerado. Outro fator interessante foi que apenas a categoria de 31 a 40 anos de residência no país, comparado com o período de 0 a 10 anos de residência, apresentouse como determinante de empregabilidade e com uma alta significação, isto é, um aumento de 452% a mais nas chances de ter um trabalho remunerado para os alemães que têm de 31 a 40 anos de residência no Brasil, comparado com aqueles que têm de 0 a 10 anos de fixação no território brasileiro.
Assim, sucessivamente, verificase, na tabela 10, alterações nas variáveis determinantes de empregabilidade para cada grupo de imigrantes. Ou seja, as variáveis de capital humano, idade e educação (em anos de escolaridade) não são variáveis explicativas positivas e estatisticamente significantes de empregabilidade para todos os grupos de imigrantes. Também, determinadas variáveis relacionadas à capital cultural e à capital social não são positivas e estatisticamente significantes na empregabilidade de todos os imigrantes. Podese dizer que, no caso da empregabilidade dos imigrantes, as
hipóteses apresentadas neste trabalho não foram confirmadas e nem refutadas totalmente, uma vez que depende estabelecer que grupo de imigrantes estão sendo analisados
Deter minantes de inserção (localização) ocupacional.
A medida de inserção ocupacional, aqui estabelecida, é o fato de estar no mercado formal, informal ou não estar no mercado de trabalho, isto é, estar desocupado. A categoria de referência é o trabalho formal. Como já foi apresentado, acima, o fato do imigrante ter ou não um trabalho remunerado 2 , a proposta aqui é analisar apenas os resultados referentes aos determinantes da probabilidade dos imigrantes estarem no setor informal, comparado com estarem no setor formal.
Vale ressaltar, mais uma vez, que as variáveis de foco são aquelas expostas acima, ou seja, anos de escolaridade, idade, o fato de ter estudo no Brasil, a experiência no Brasil, o tempo de residência no país, a religião, a naturalização e a posição na hierarquia do domicílio.
Semelhante aos resultados encontrados sobre os determinantes da probabilidade de empregabilidade, a tabela 11 apresenta uma não refutação ou confirmação das hipóteses apresentadas no trabalho. Por exemplo, verificase que a variável anos de escolaridade é positiva e estatisticamente significante para os alemães, apenas, e é negativa e estatisticamente significativa para os portuguêses, uruguaios e paraguaios e, por fim, não é estatisticamente significante para os argentinos e italianos. Outro exemplo é a variável idade. Esta é um determinante de uma maior probabilidade de estar no setor informal, comparado com o setor formal, no caso dos argentinos, paraguaios e alemães. Já no caso dos japonêses a idade é um determinante de menor probabilidade de estar no setor informal, comparado com o setor formal. Para os outros grupos de imigrantes, esta variável não foi estatisticamente significativa. Em suma, verificase que, no caso dos imigrantes internacionais no sul do Brasil, as variáveis de capital humano, capital cultural e capital social afetam (ou não) de formas 2 Caso queira ver os resultados para a categoria desocupado, ou seja, não estar no setor formal ou informal, há a tabela com os resultados no anexo 1.
diferentes as probabilidades dos imigrantes terem um trabalho remunerado e de estarem no setor informal, comparado com o setor formal.
Tabela 11: Regressão logística multinominal: determinantes de inserção no mercado de trabalho. Análise dos determinantes de inserção no setor
informal (categoria de referência: estar no mercado formal)
Argentino Paraguaio Uruguaio Alemão Italiano Português Japonês Exp(B) Exp(B) Exp(B) Exp(B) Exp(B) Exp(B) Exp(B) sexo 0.87 1.51* 1.14** 1.09 1.05 0.83 2.70* escolaridade 0.97 0.91* 0.89* 3.03* 1.04 0.92*** 0.90 escolaridade2 0.99*** 0.99 1.00 0.95* 0.99 0.99 1.00 idade 1.23* 1.45* 1.03 1.45* 1.17 0.94 0.48* idade2 0.99* 0.99* 1.00 0.99* 0.99*** 1.00*** 1.01* estudou no Brasil 1.22*** 1.51* 0.89 1.55 2.11* 0.84 0.91 Experiência no Brasil 1.02 0.85* 1.03** 0.82* 0.92 0.77* 0.83* Experiência n Brasil2 1.00*** 1.00* 1.00 1.00* 1.00* 1.00* 1.00 SC 1.67* 0.67** 1.64* 0.49* 2.17* 0.59* 0.95 RGS 0.64* 0.87 1.16 0.75*** 1.68* 0.76* 0.52* reside 11 a 20 anos 0.45* 0.53* 0.51* 1.29 1.26 9.54* reside 21 a 30 anos 0.33* 0.57*** 0.32* 1.52 0.10* 40.63* 23.94* reside 31 a 40 anos 0.18* 0.81 0.43* 3.14 0.29 144.66* 19.58* reside 41 ou mais anos 0.06* 0.04* 0.62 2.01 0.10** 248.57* 47.61* parda 1.11 0.19* 1.05 . 0.72 0.43** . amarela . . . 17.08* 4.58* outracor 1.09 0.50* 0.70** . . . casado 0.78* 0.34* 0.64* 0.33* 1.97* 0.70* 0.48* separado 0.70* 0.56* 0.72* 0.44* 0.09* 0.33* 0.92 viuvo 1.02 1.74* 0.49*** 1.93 0.94 0.91 conjuge 0.77* 1.97* 1.99* 1.84* 1.34 1.55* 3.74* filho 1.43*** 1.59*** 1.67* 0.45** 0.76 0.44*** outra posição no domicílio 1.16 1.54*** 3.17* 38.56* 7.19* naturalizado 0.72* 0.90 0.98 0.73*** 2.54* 1.04 0.28* Católica 0.56* 0.30* 0.70* 1.83** 0.50 0.41* 1.17 Evangélica 0.73* 0.20* 1.34* 2.05* 0.83 1.75*** espiritualistas 1.74** 1.20 8.72* 2.35** . religião oriental 1.97** 0.50* 2.91 0.33 0.77 outras religiões 1.15 1.05 1.61 N. Amostra 5898 3895 11567 2317 1559 4203 2142 Nagelkerke 0.35 0.48 0.31 0.45 0.53 0.41 0.54 ChiSquare 2185.687 2183.9 3789.08 1173.3 1010.2 1895.856 1414 *Pvalue <= 0.01 ** pvalue <= 0.05 *** pvalue <=0.10 Fonte: análise produzida pela autora, a partir dos dados do censo 2000 do Brasil do IBGE.
Conclusão
Este estudo teve como objetivos centrais a análise comparativa: a) do perfil dos imigrantes internacionais no sul do país; e b) dos determinantes de empregabilidade e de inserção ocupacional dos imigrantes internacionais naquela região.
A análise dos perfis dos imigrantes internacionais apresenta uma certa similaridade, entre os imigrantes latinos, quanto ao fato de serem homens, da cor branca, idade entre 25 a 44 anos, residentes no Rio Grande do Sul (exceto os paraguaios que, em maioria, residem no Paraná), com 30 anos ou menos de moradia no Brasil, casados, responsáveis pelo domicílio e católicos. As diferenças maiores, entre eles, encontramse na educação. Em geral, os argentinos têm alta ou média educação, os paraguaios têm baixa ou muito baixa educação e os urugaios têm média ou alta educação.
Já no caso dos alemães, italianos, portuguêses e japonêses, as semelhanças encontramse no fato de serem homens, de cor branca (exceto os japonêses que, em maioria, definemse como amarelos), entre as idades de 45 a 60 anos, casados, responsáveis pelo domicílio, com 31 anos ou mais de residência no país e com moradia no estado do Paraná. As diferenças encontramse na educação e na religião.
Quanto às variáveis determinantes da probabilidade de empregabilidade e de inserção ocupacional, verificouse que as variáveis de capital humano, capital cultural e capital social, analisadas neste estudo, não são positivas e estatisticamente significantes, para todos os imigrantes. Os resultados mostraram que as hipóteses não foram confirmadas para todos os grupos de imigrantes e que, para alguns grupos, elas foram refutadas. A partir destes resultados, percebese a necessidade de repensar aquelas teorias, quando se refere aos imigrantes internacionais no Brasil.
Contudo, não se pode deixar de afirmar que variáveis de capital humano, como educação, idade e experiência, mais as variáveis referentes ao capital cultural (de significado social) e ao capital social, como posição na hierarquia do domicílio, naturalização, religião, entre outras, são importantes para explicar a entrada e localização
dos imigrantes internacionais no mercado de trabalho brasileiro. Entretanto, sugerese fazer uma análise separadamente, por grupo étnico, para verificar quais variáveis são importantes para cada grupo, em específico.
Anexo 1
Regressão logística multinominal: determinantes de inserção no mercado de trabalho. Análise dos desocupados (categoria de referência: estar no
mercado formal
Argentino Paraguaio Uruguaio Alemão Italiano Português Japonês Exp(B) Exp(B) Exp(B) Exp(B) Exp(B) Exp(B) Exp(B) sexo 0.25* 0.17* 0.20* 0.27* 0.18* 0.18* 0.23* escolaridade 0.85* 0.93*** 0.95 1.57* 1.22** 0.99 0.79* escolaridade2 1.00** 0.99** 0.99* 0.97* 0.99* 0.99* 1.00 idade 0.96 0.98 0.90* 1.07 1.12 1.16** 0.45* idade2 1.00 1.00** 1.00* 1.00 1.00 1.00 1.01* estudou no Brasil 0.67* 1.43** 0.56* 1.14 0.66 0.96 0.75 Experiência no Brasil 0.91* 0.83* 0.99 0.94*** 1.13*** 0.83* 0.82* Experiência n Brasil2 1.00* 1.00* 1.00*** 1.00* 1.00 1.00*** 1.00*** SC 2.62* 1.52** 0.94 1.06 0.56** 0.28* 0.40* RGS 1.20*** 3.56* 0.58* 1.31*** 0.95 0.59* 0.17* reside 11 a 20 anos 0.45* 0.71 0.64* 0.42** 0.04* 0.56 0.53 reside 21 a 30 anos 0.43* 2.08** 0.87 0.45 0.00* 1.24 7.15 reside 31 a 40 anos 0.48** 4.01* 2.28* 0.06* 0.00* 2.28 12.23*** reside 41 ou mais anos 0.31* 0.90 3.82* 0.30 0.00* 3.92*** 15.34** parda 0.73** 0.49* 1.64* . 0.74 . amarela . . . 3.08* outracor 2.15* 0.85 0.52* . . 0.17* . casado 0.75* 1.50* 0.63* 0.35* 1.06 0.94 1.40 separado 0.67* 0.54* 0.70* 0.67 0.93 0.36* 1.12 viuvo 1.64*** 1.02 0.09* 1.76 1.09 2.57* conjuge 2.47* 2.40* 2.89* 3.01* 2.69* 2.35* 6.07* filho 3.06* 4.53* 2.57* 3.77* 0.29* 1.74** 1.75 outra posição no domicílio 0.65** 4.49* 4.90* 0.34* 22.11* 16.58* 20.87* naturalizado 0.64* 0.44* 0.60* 1.03 1.01 0.77* 0.74** Católica 0.50* 0.72 0.89 0.66*** 2.71** 0.53* 1.00 Evangélica 0.73** 0.40* 1.40* 0.81 3.00 2.88* 1.24 espiritualistas 2.03** 0.29** 0.84 0.99 1.77 . religião oriental 2.81* 0.54* 0.63 1.04 outras religiões 3.83* 1.77 1.55* . 1.03 1.70 N. Amostra 5898 3895 11567 2317 1559 4203 2142 Nagelkerke 0.35 0.48 0.31 0.45 0.53 0.41 0.54 ChiSquare 2185.687 2183.904 3789.083 1173.34 1010.2 1895.856 1413.97
*Pvalue <= 0.01 ** pvalue <= 0.05 *** pvalue <=0.10
Fonte: análise produzida pela autora, a partir dos dados do censo 2000 do Brasil do IBGE.
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