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Agrotóxicos no Brasil: apontamentos sobre a legislação regulatória e a prática

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PAULA CAROLINE BENETTI

AGROTÓXICOS NO BRASIL: APONTAMENTOS SOBRE A LEGISLAÇÃO REGULATÓRIA E A PRÁTICA

IJUÍ (RS) 2016

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PAULA CAROLINE BENETTI

AGROTÓXICOS NO BRASIL: APONTAMENTOS SOBRE A LEGISLAÇÃO REGULATÓRIA E A PRÁTICA

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientador: Msc. Carlos Guilherme Probst

IJUÍ (RS) 2016

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Dedico este trabalho aos meus pais, pelas dádivas da educação e aos meus irmãos pelo apoio e afeto incondicionais. Ao meu companheiro Jones por toda compreensão e carinho a mim dedicados.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela saúde, fé e perseverança que tem me dado, para tornar possível a conclusão desta monografia.

À minha família, pelo apoio ao longo do trabalho.

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“A obrigação de tolerar, de suportar, dá-nos o direito de saber” Rachel Carson

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise sobre a legislação que trata do agrotóxico, buscando demonstrar as suas peculiaridades quando a forma de legislar e fiscalizar, de uma forma que proteja do dano ao ambiente que pode ser ocasionado por produtos agrotóxicos. Traça a noção dos direitos fundamentais a saúde e ao meio ambiente e a partir disso é abordado o conceito de agrotóxico e tudo que a legislação aborda sobre o mesmo. Investiga a forma como é regulado o uso do agrotóxico e os erros mais frequentes quanto ao uso. Aborda a forma correta do manejo demonstrado pela legislação, mostrando todas as práticas de manejo que se tem que ter quando é feito o uso do agrotóxico. Estuda as peculiaridades da fiscalização e as formas de responsabilidade civil ambiental quando o dano é ocasionado por produtos agrotóxicos. Finaliza concluindo responsabilidade administrativa, civil e penal pelo dano ambiental causado pelo uso agrotóxico e as infrações que são aplicadas aos infratores dos danos ambientais.

Palavras-Chave: Direito a saúde. Meio ambiente. Agrotóxicos. Legislação. Fiscalização. Responsabilidade.

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ABSTRACT

This course conclusion work is an analysis of the legislation dealing with pesticides, seeking to demonstrate their peculiarities as how to legislate and supervise, in a manner that protects from the damage to the environment that can be caused by pesticide products. It traces the concept of fundamental rights to health and environment and, from it, approaches the concept of pesticide and all the legislation that addresses on it. It investigates how the use of pesticides is regulated and the most frequent errors in the use. It addresses the proper form of management demonstrated by the legislation, showing all management practices that have to be made when pesticides are used. It studies the peculiarities of the supervision and the forms of environmental liability when damage is caused by pesticide products. It terminates concluding administrative, civil and criminal liability for environmental damage caused by pesticide use and infringements that are applied to offenders of environmental damage.

Keywords: Right to health. Environment. Pesticides. Legislation. Supervision. Responsibility.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1 AS LEIS DOS AGROTÓXICOS E O DIREITO À SAÚDE ... 11

1.1 Direito à saúde e ao meio ambiente ... 12

1.2 Lei nº 7.802, de 11 de Julho de 1989 - Lei dos Agrotóxicos ... 13

1.3 Definições do agrotóxico, prescrição e competência para o seu registro .. 16

2 O MANEJO DOS AGROTÓXICOS NA PRÁTICA ... 22

2.1 Competência da fiscalização ... 25

2.2 Problemas encontrados no uso e na fiscalização ... 26

2.2.1Fiscalização da emissão de receituário agronômico e monitoramento nas lavouras... 27

2.2.2Destinação final das embalagens vazias de agrotóxicos ... 29

2.3 Responsabilidade administrativa, civil e penal pelo dano ambiental causado pelo uso de agrotóxicos ... 30

CONCLUSÃO ... 37

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo sobre um panorama geral da disciplina legal dos agrotóxicos, desde o seu conceito até a responsabilidade civil, penal e administrativa pelos danos ambientais gerados a partir do uso de produtos agrotóxicos, a fim de demonstrar o trato jurídico da matéria. O meio ambiente equilibrado e consequentemente o direito à saúde são fundamentais para a existência humana, e de outra banda é necessário à utilização dos agrotóxicos na agricultura, pois além do forte impacto socioeconômico o agrotóxico se torna um insumo necessário para suprir a necessidade mundial dos alimentos. Esses dois pontos de vista, tanto a necessidade de uso do agrotóxico, tanto o inegável risco que esse produto apresenta, faz com que exista uma gama considerável de abordagens sobre o assunto.

Dessa forma, o estudo sobre a legislação do agrotóxico, traz desde a forma conceitual que a lei apresenta, até a forma como ela penaliza as infrações causadas pelo uso dos agrotóxicos. E para a concretização do trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico, analisando também a legislação em vigor, a fim de demonstrar o trato eminentemente jurídico da matéria, buscando o afastamento da mera repetição de ideias e a provocação de uma reflexão sobre o assunto.

De início, no primeiro capítulo foram traçados os direitos fundamentais à saúde e ao meio ambiente, bem como os primeiros apontamentos da Lei dos Agrotóxicos, como as noções gerais e conceituais indispensáveis ao

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desenvolvimento da temática. Analisando de forma geral a disciplina legal dos agrotóxicos e afins. Em seguida a delimitação de prescrição e competência para o seu registro, bem como as categorias que são apresentados os agrotóxicos.

Já no segundo capítulo é analisado o manejo do agrotóxico na prática, demonstrando também que não somente utilizados nas atividades dos meios rurais e assim analisando as principais recomendações quanto ao uso, para ser evitado os acidentes, gerando prejuízos desnecessários além de danos à saúde e ao meio ambiente. Após, peculiaridades da temática quando a competência para a fiscalização, verificando todos os órgãos que a legislação demonstra ser responsável e cada área que cada um atua. E por derradeiro, os problemas mais frequentes na fiscalização que são: na emissão do receituário agronômico e os monitoramentos nas lavouras, bem como a destinação das embalagens vazias.

Por fim, a responsabilidade administrativa, civil e penal pelos danos ambientais causados, partindo do conceito de dano ambiental no meio jurídico, até todas as penalidades existentes nesse meio.

A partir deste estudo se verifica que o uso dos Agrotóxicos não pode ser banido de uma hora para a outra, pois ele é fundamental para uma maior produtividade, e assim os alimentos ficam sem defeitos por ação de insetos, visto também que para a alimentação da população mundial ele é importante. No entanto, existe uma legislação complexa que deve ser observada em todos os momentos, desde o momento dos agrotóxicos ser permitido o uso ou não, até a aplicação do mesmo.

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1 AS LEIS DOS AGROTÓXICOS E O DIREITO À SAÚDE

O mundo se cria e se recria a partir das relações que o homem mantém com a natureza e da maneira como ele se constrói enquanto indivíduo, e ao produzir sua existência os homens produzem não só sua história, conhecimento, processo de humanização, mas também espaço. E esse espaço é um produto social em ininterrupto processo de reprodução.

Essa relação entre homem e natureza faz analisar a sobrevivência humana, pois o meio ambiente onde está o homem que determina a sua própria sobrevivência, assim a proteção a esse bem, que é de todos, vem sendo discutida há muito tempo, pois a degradação do meio ambiente se confunde com a existência humana.

Impossível imaginar essa relação sem um efetivo direito, para a proteção de ambas as partes, o homem e o meio ambiente, pois o processo de capitalismo, voltado para o coletivo, faz com que algumas das coisas mais importantes sejam deixadas de lado.

Com a evolução do homem, também houve a evolução no manuseio do meio ambiente e após a Revolução Verde, a partir das décadas de 60 e 70, surgiu uma nova tecnologia, com o discurso de modernização do campo, esse processo incentivou a mecanização do campo e conseqüentemente o uso de agroquímicos.

Toda a tecnologia que surgiu na Revolução Verde, desde as máquinas aos agrotóxicos, mudou todo o cenário da relação homem e meio ambiente, fazendo com que os direitos fundamentais fossem revistos e criando novas leis para o abuso do uso desses produtos não acontecesse.

Feitas essas primeiras colocações, esclarece-se que o presente capítulo tem por objetivo analisar a relação de um dos direitos fundamentais que é a saúde, e fazer uma análise dos benefícios que a Lei dos Agrotóxicos traz ao meio ambiente e ao homem, a fim de demonstrar o papel da legislação brasileira, que regula e protege a prescrição, venda e aplicação dos agrotóxicos, pois sem fiscalização não

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há efetividade no controle e a utilização excede em muito o necessário, e com isso provoca vários problemas, inclusive de saúde e muito graves, como o câncer.

1.1 Direito à saúde e ao meio ambiente

Dentre os direitos do homem, é necessário frisar um dos principais direitos fundamentais que é a saúde, pois é um estado de bem-estar inerente a todo ser humano essencial para a execução de outros direitos, como por exemplo, no que diz respeito à efetivação de uma vida digna. Que está previsto e assegurado na Constituição Federal:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução dos riscos de doença e de outros agravos e o acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Sobre o assunto ressalta Hewerstton Humenhuk :

A saúde também é uma construção através de procedimentos. (...) A definição de saúde está vinculada diretamente a sua promoção e qualidade de vida. (...) O conceito de saúde é, também, uma questão de o cidadão ter direito a uma vida saudável, levando a construção de uma qualidade de vida, que deve objetivar a democracia, igualdade, respeito ecológico e o desenvolvimento tecnológico, tudo isso procurando livrar o homem de seus males e proporcionando-lhe benefícios. ( HUMENHUK, 2002-p2)

Vale ressaltar que o direito a saúde não se resume na falta de doença, ou ao acesso aos medicamentos necessários, e sim a uma boa alimentação em qualidade e quantidade suficiente.

Depreende-se que a saúde para Engels, filósofo alemão do século XIX, pensando as condições de vida de trabalhadores na Inglaterra, nos limiares da Revolução Industrial, concluiu que na cidade, o tipo de vida de seus habitantes e seus ambientes de trabalho são responsáveis pelo estado de saúde das populações.

Por outro lado, outra corrente evoluiu no sentido de conceituar a saúde como sendo a ausência de doenças. Hoje a Organização Mundial de Saúde – OMS (2016)

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conceitua “Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”.

Importante aqui observar que, diante da conceituação de saúde, verifica-se que o ambiente aonde o ser humano vive, contribui muito para a saúde de todos, e esse meio ambiente deve ser protegido da forma correta, pois é um bem jurídico coletivo.

A Constituição Federal, em seu artigo 225, dispõe que o meio ambiente é um bem de uso comum do povo e um direito de todos os cidadãos, das gerações presentes e futuras, estando o Poder Público e a coletividade obrigada a preservá-lo e a defendê-lo.

O conceito de meio ambiente supera a denominação de que é um bem público, tendo em vista que não é só do Estado, mas também da coletividade, o dever de defendê-lo e preservá-lo.

A expressão meio ambiente está prescrita no artigo 3º, inciso I, da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente.

Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. (Fonte)

Diante disso, se verifica que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direto fundamental de todos e dever da União.

1.2 Lei nº 7.802, de 11 de Julho de 1989 - Lei dos Agrotóxicos

A relação pretendida entre um dos direitos fundamentais que é a saúde, assegurado pela Constituição Federal e a Lei dos Agrotóxicos se faz no momento em que a exposição a certas substâncias químicas presentes no ar, no solo, na água ou nos alimentos, é um elemento de grande relevância para a saúde ambiental, pois implica na possibilidade de que algum efeito à saúde venha ocorrer.

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E nesse sentido, convém demonstrar a grande importância da Lei do Agrotóxico, na proteção da vida coletiva, pois com a devida fiscalização nenhum direito será abalado, e a Lei acaba demonstrando os deveres necessários.

Se essa fiscalização que é também assegurada pela Lei do Agrotóxico (Lei 7.802/89) não é efetiva, acaba ocasionando um exagero no uso do agrotóxico nas lavouras brasileiras, e com isso os atingidos por essa nocividade são aos trabalhadores rurais, consumidores e, consequentemente, ao meio ambiente.

Além de outros assuntos importantes a lei apresentou novas regras para o uso e a concessão de registros aos agrotóxicos, apresentando maneiras mais rigorosas. A nova legislação previu, desde a proibição do registro de novos agrotóxicos, até a possibilidade de impugnação ou cancelamento do registro por solicitação de entidades representativas da sociedade civil.

A lei estabelece que todos os agentes diretamente envolvidos no manuseio de agrotóxicos, desde os produtores até os aplicadores dos produtos, devem ser cadastrados pelos órgãos competentes (Idem: art. 4°). Foi normatizada a obrigatoriedade do receituário agronômico para a venda de agrotóxicos (Idem: art. 13) e estabelecidas às normas e padrões das embalagens e instruções dos rótulos dos produtos.

Em que pese à fiscalização aconteça, a sua realização está deixando falhas graves, pois as pesquisas demonstram que o consumo médio de agrotóxicos vem aumentando em relação à área plantada. Tal aumento está relacionado com vários fatores, mas o maior fator que causa o uso exacerbado do agrotóxico é a venda sem a devido receituário agronômico e sem o acompanhamento do agrônomo na lavoura.

Na safra de 2011 no Brasil, foram plantados 71 milhões de hectares de lavouras temporárias (soja, milho, cana, algodão) e permanente (café, cítricos, frutas, eucaliptos), o que corresponde a cerca de 853 milhões de litros (produtos formulados) de agrotóxicos pulverizados nessas lavouras, principalmente de herbicidas, fungicidas e inseticidas, representando média de uso de 12 litros/ hectare e exposição média ambiental/ocupacional/alimentar de 4,5 litros de agrotóxicos por habitante (IBGE/SIDRA, 1998-2011; SINDAG, 2011). ( CARNEIRO,. et al, 2015, p.50.)

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Diante disso um terço dos alimentos consumidos pelo povo brasileiro está contaminado pelos agrotóxicos, e essa utilização tem trazido sérias consequências, tanto para o meio ambiente como para a saúde da população.

As pesquisas demonstram que em dez anos a venda dos agrotóxicos no Brasil cresceu 190%, isso é mais que o dobro da média mundial e dos 50 agrotóxicos mais utilizados no Brasil, 15 deles são proibidos na Europa.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) demonstra a grande proporção que o agrotóxico está atingindo

Anualmente são usados no mundo aproximadamente 2,5 milhões de toneladas de agrotóxicos. O consumo anual de agrotóxicos no Brasil tem sido superior a 300 mil toneladas de produtos comerciais. Expresso em quantidade de ingrediente-ativo (i.a.), são consumidas anualmente cerca de 130 mil toneladas no país; representando um aumento no consumo de agrotóxicos de 700% nos últimos quarenta anos, enquanto a área agrícola aumentou 78% nesse período.

O consumo desses produtos difere nas várias regiões do país, nas quais se misturam atividades agrícolas intensivas e tradicionais, e nestas últimas não incorporaram o uso intensivo de produtos químicos. Os agrotóxicos têm sido mais usados nas regiões Sudeste (cerca de 38%), Sul (31%) e Centro-Oeste (23%). Na região Norte o consumo de agrotóxicos é, comparativamente, muito pequeno (pouco mais de 1%), enquanto na região Nordeste (aproximadamente 6%) uma grande quantidade concentra-se, principalmente, nas áreas de agricultura irrigada. O consumo de agrotóxicos na região Centro-Oeste aumentou nas décadas de 70 e 80 devido à ocupação dos Cerrados e continua crescendo pelo aumento da área plantada de soja e algodão naquela região. Os estados que mais se destacam quanto à utilização de agrotóxicos são: São Paulo (25%), Paraná (16%), Minas Gerais (12%), Rio Grande do Sul (12%), Mato Grosso (9%), Goiás (8%) e Mato Grosso do Sul (5%). (EMBRAPA, 2016).

E umas das consequências disso é que vários alimentos são contaminados, no último levantamento da ANVISA, foi encontrado Agrotóxico em 67% dos alimentos testados.

Para melhor compreender os dados das pesquisas e as regras da aplicação da Lei dos Agrotóxicos, e também diante da análise da vulnerabilidade e a nocividade do uso dos agrotóxicos para o meio ambiente e para saúde humana, mas que são necessários para o desenvolvimento do país.

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1.3 Definições do agrotóxico, prescrição e competência para o seu

registro

Para melhor compreender é necessário apresentar como a norma brasileira apresenta esse assunto, pois é de acordo com a Lei 7.802/89 que os agrotóxicos são definidos como: os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos.” (Art. 2; § 1, item a).

Outro aspecto importante para demonstrar o referido objetivo do agrotóxico é que ele busca alterar a fauna e a flora, a fim de abster da ação danosa de seres vivos e considerados nocivos e também é considerado agrotóxico os produtos que tem como objetivo desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2016), o agrotóxico se apresenta em duas categorias:

1. Agrícolas: destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens e nas florestas plantadas - cujos registros são concedidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, atendidas as diretrizes e exigências dos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente.

2. Não-agrícolas: destinados ao uso na proteção de florestas nativas, outros ecossistemas ou de ambientes hídricos – cujos registros são concedidos pelo Ministério do Meio Ambiente/Ibama, atendidas as diretrizes e exigências dos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Saúde, e também destinados ao uso em ambientes urbanos e industriais, domiciliares, públicos ou coletivos, ao tratamento de água e ao uso em campanhas de saúde pública - cujos registros são concedidos pelo Ministério da Saúde/Anvisa, atendidas as diretrizes e exigências dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente.

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De outra banda, para a venda do agrotóxico no Brasil existe uma regulamentação rígida que não é observada, pois segundo a Portaria nº 007, de 13 de janeiro de 1981, do Ministério da Agricultura os produtos fitossanitários que são considerados altamente tóxicos e medianamente tóxicos, a sua venda é obrigatoriamente controlada e a venda é restrita, somente poderão ser comercializados mediante receita agronômica, da qual devem constar os seguintes elementos:

a) nome completo do técnico responsável que prescreveu a receita, seguido do seu registro no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA);

b) nome do consulente, propriedade e localização; c) diagnóstico; e

d) recomendação técnica, incluindo: nome dos produtos comerciais que deverão ser utilizados; culturas em que os produtos serão aplicados; doses de aplicação e quantidades totais a serem adquiridas; modalidade de aplicação - no caso de aplicação por via aérea devem ser registradas as instruções específicas; época de aplicação; intervalos de segurança ou períodos de carência; precauções de uso; primeiros socorros, em caso de acidente; e advertências relacionadas com a proteção do meio ambiente.

Além disso, a legislação brasileira obriga o agricultor a devolver todas as embalagens vazias de produtos fitossanitários na unidade de recebimento de embalagens indicada pelo revendedor. Antes de devolver, o agricultor deverá preparar as embalagens, ou seja, separar as embalagens lavadas das embalagens contaminadas. Aquele que não devolver as embalagens ou não prepará-las adequadamente poderá ser multado, além de ser enquadrado na Lei de Crimes Ambientais.

No entanto as pesquisas de campo mais recentes demonstram que a utilização dos agrotóxicos no Brasil acaba por não observar as determinações legais, ou seja, acabam sendo utilizadas quantidades que colocam em risco a salubridade pública.

[..] há mais de 25 anos, Aloísio Barbosa Araújo, em trabalho pioneiro sobre o meio ambiente na perspectiva do desenvolvimento econômico, apresentava as seguintes conclusões: “o Brasil vem utilizando maciçamente produtos químicos na agricultura. Esta tendência à substituição dos recursos “naturais” por outros industrializados vem sendo combatida em diversas instancias. De um lado, décadas de pesticidas, fungicidas e inseticidas têm feito

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elevar-se a preelevar-sença de substâncias tóxicas nos organismos animais a níveis geralmente considerados perigosos, muitas vezes superiores aos estabelecidos como aceitáveis pela Organização Mundial de Saúde. Esta utilização, assim, pode ser responsável pelo surgimento de diversas doenças ambientais. De outro lado, alguns especialistas são céticos quanto à eficácia destes produtos, face às demais consequências do seu uso: redução do componente orgânico dos solos, excessiva salinidade, extinção da microflora e da microfauna natural, etc. Em outras palavras, chega-se a temer pela própria produtividade dos solos, depois de décadas de uso destes produtos químicos”. . (VAZ, 2006, p. 37, grifos do autor).

As quantidades que são utilizadas, de forma negligente, acabam deixando diversas vítimas fatais, além de abortos, fetos com malformação, suicídios, câncer, dermatoses e outras doenças. Segundo a Organização Mundial da Saúde, há 20.000 óbitos por ano em consequência da manipulação, inalação e consumo indireto de pesticidas nos países em desenvolvimento, como o Brasil.

Diante de tudo isso, e com o objetivo de proteção ao consumidor a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) criou o pragrama de Análise de Resíduos de Agrótoxicos em Alimentos (PARA), para monitorar o comprimento da legislação sobre o nível permitido de resíduos agrotóxicos nos alimentos, e garantir que produtos como frutas, verduras e legumes cheguem à mesa do consumidor brasileiro com qualidade e segurança.

Em casos de uso de agrotóxicos acima do permitido pela ANVISA, os órgãos responsáveis pelas áreas da agricultura e meio ambiente, são acionados para rastrear e solucionar o problema. As medidas tomadas em relação aos produtores são de orientação para utilização de boas práticas agrícolas.

Buscando cada vez a proteção, é determinado que o registro dos agrotóxicos conforme mencionado na lei, no seu artigo 3º, menciona que os agrotóxicos e seus componentes e afins deverão ser registrados de acordo com as diretrizes e exigências dos órgãos federais responsáveis pelos setores de saúde, do meio ambiente e da agricultura sendo assim passou a ser realizada pelos Ministérios da Agricultura, da Saúde e do Meio Ambiente e a responsabilidade administrativa pelos danos causados pelo uso indevido do agrotóxico foram normatizadas com os valores das infrações.

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Vale destacar, que a Constituição Federal dispõe que incumbe ao poder público controlar a produção, a circulação, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substância que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente (artigo 22, §1º, V).

Considerando que a constituição menciona o agrotóxico como uma substância que acarreta riscos para a vida, como já mencionado, impõe ao Poder Público a adoção de um sistema eficaz de registro e de controle de respectiva produção, como mencionado no artigo 1º, inciso XLII, do Decreto nº 4.074/02.

Paulo Afonso Brum Vaz realça a importância e a complexidade da forma correta do registro dos agrotóxicos

O registro de agrotóxicos é ato complexo. Somente depois de autorização por todos os órgãos encarregados do registro é que o produto agrotóxico poderá ser produzido, comercializado e consumido. É de ser afastado, pois, a possibilidade de exercício de qualquer destas condutas quando ausente a chancela das três esferas administrativas, seja porque pendente de apreciação o requerimento em uma delas ou mesmo porque recusado o registro. Essa a intenção inequívoca do legislador, conforme se pode observar da leitura do art.3º da Lei nº 7.802/89, que subordina a produção, exportação, comercialização e utilização dos agrotóxicos ao prévio registro em órgão federal, obedecidas as “diretrizes e exigências dos órgãos federais responsáveis pelos setores da saúde, meio ambiente e da agricultura”. O regulamento, portanto, ao prever a intervenção necessária dos órgãos vinculados aos Ministérios da Saúde, da Agricultura e do Meio Ambiente, não fez mais do que dar cumprimento fiel ao comando legal. (VAZ, 2006, p. 62, grifos do autor).

A agricultura brasileira tornou-se cada vez mais dependente do uso de agrotóxicos, e com isso o Brasil tornou-se o maior consumidor de agrotóxico do mundo e é o maior importador de agrotóxicos no mundo e com a maior taxa de crescimento das importações.

Cabe destacar que a lei nº 7.802 estabelece hipóteses em que será vedada a concessão do registro aos agrotóxicos:

a) Para os quais o Brasil não disponha de métodos para desativação de seus componentes, de modo a impedir que os seus resíduos

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remanescentes provoquem riscos ao meio ambiente e à saúde pública;

b) para os quais não haja antídoto ou tratamento eficaz no Brasil; c) que revelem características teratogênicas, carcinogênicas ou mutagênicas, de acordo como os resultados atualizados de experiências

da comunidade científica;

d) que provoquem distúrbios hormonais, danos ao aparelho reprodutor, de acordo com procedimentos e experiências atualizadas na comunidade científica;

e) que se revelem mais perigosos para o homem do que os testes de laboratório, com animais, tenham podido demonstrar, segundo critérios científicos atualizados;

f) cujas características causem danos ao meio ambiente. (BRASIL, 2014, grifo nosso).

Os agrotóxicos são considerados extremamente importantes no modelo de desenvolvimento da agricultura no País, porém o seu uso tem que respeitar as normas de segurança e com orientação técnica, pois o seu uso indiscriminado acarreta muitos problemas de saúde.

Contudo, há que se ponderar que as normas brasileiras que regulam e protegem a prescrição, venda e aplicação dos agrotóxicos está muito defasada, pois o conhecimento técnico nessa área foi avançando nesses últimos tempos, deixando a norma existente precisando de atualização.

Vale destacar as normas brasileiras que regulam e protegem a prescrição venda e aplicação dos agrotóxicos, são elas:

 Constituição Federal - art. 225 e art. 196  Lei 7.802/89  Lei 8.080/90  Lei 9.294/96  Lei 9.974/00  Decreto 4.074/02  Lei 10.603/02

 Regulamentos Técnicos da SDA/MAPA  Regulamentos Técnicos do IBAMA  Regulamentos Técnicos do ANVISA/MS

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O referencial legal mais importante é a Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989, que rege o processo de registro de um produto agrotóxico, regulamentada pelo Decreto nº 4074/02.

A Lei dos agrotóxicos é um avanço na proteção da saúde pública e do meio ambiente. Em 1989 foi aprovada no Congresso Nacional a Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989, conhecida como a Lei dos Agrotóxicos, que substituiu o Decreto nº 24.114, de 12 de abril de 1934, posteriormente regulamentada pelo decreto nº 98.816, de 11 de janeiro de 1990 e substituído no ano de 2002, pelo Decreto nº 4074, de 04 de janeiro de 2002. O grande avanço dessa lei deu-se com o estabelecimento de regras mais rigorosas para a concessão de registro aos agrotóxicos.

Essa nova lei prevê, desde a proibição de novos registros de novos agrotóxicos, até a possibilidade de cancelamento do registro.

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2 O MANEJO DOS AGROTÓXICOS NA PRÁTICA

A utilização dos agrotóxicos na agricultura tem um forte impacto socioeconômico, além disso, ele se torna um insumo necessário para suprir a necessidade dos alimentos. Pois no modelo da agricultura brasileira, baseia-se na utilização de agrotóxicos para compensar os problemas no processo produtivo, buscando aumentar a produtividade.

Assim, é reconhecível que o uso do agrotóxico, apesar de não ser o ideal, no momento é a melhor técnica disponível para se possibilitar uma produção agrícola que atenda à demanda da sociedade, visto que atualmente “a agricultura sem produtos químicos é apenas uma esperança. Não se logrou, até aqui, uma produção agrícola isenta de produtos químicos que seja grande o suficiente para suprir as necessidades básicas da humanidade” (ANTUNES, 2010, p. 645).

Assim sendo, não basta somente analisar as críticas com relação ao produto, como se houvesse solução e fosse possível banir o uso dos agrotóxicos, e sim devem ser feitas pesquisas para melhorar as condições entre o uso do agrotóxico e a saúde do homem, e antes de qualquer coisa, devem ser observadas os padrões legais recomendados.

[...]infelizmente não há tecnicamente, “à luz da ciência atual”, possibilidade da agricultura prescindir do uso dos agrotóxicos, soluções radicais de exclusão total e imediata da aplicação desses produtos, consideramos ser apenas uma retórica de abnegados preservacionistas. Nossa consideração é que apenas através do entendimento dos atores envolvidos é que poderemos encontrar soluções definitivas a curto, médio e longo prazo. O próprio homem do mesmo modo que desestruturou os ecossistemas agrícolas pela implantação de monoculturas, poderá encontrar os caminhos para restabelecer o equilíbrio. (LUNA, 2008, p. 17-18).

No entanto, além de ser um elemento de suma importância, na maioria das vezes a sua utilização é feita de forma inadequada, sem o conhecimento das reais necessidades do solo e das plantas.

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Por derradeiro, ainda que de forma menos comum, os agrotóxicos não são somente utilizados nas atividades rurais.

O uso de agrotóxicos, como bem indica o conceito legal (ut retro), não é privativo de atividades rurais. Aliás, o emprego de agrotóxicos se encontra incrementado nos ambientes urbanos pelo uso recorrente de produtos tóxicos extremamente nocivos e perigosos, rotulados de “herbicida urbano”, “capina química”, “desfolhante agroindustrial” etc. Nos ambientes domésticos, não menos preocupante se revela o uso indiscriminado dos chamados “inseticidas domésticos”, “mata-mosca”, “mata-barata”, “mata mosquito” etc., indicativo de sérios riscos à saúde humana. Da mesma forma, os produtos tóxicos usados para “desinsetização” em ambientes de trabalho, como indústrias, escolas, hospitais, depósitos etc., alguns deles do grupo químico “organofosforados”, sabidamente nocivos à saúde humana. (VAZ, 2006, p. 23, grifos do autor).

Nesse sentido a instituição pública de pesquisa vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), vem corroborar que existe o manejo seguro dos agrotóxicos, seja qual for a sua classificação toxicológica, e demonstra as principais recomendações quanto ao uso dos agrotóxicos para evitar acidentes, gerando prejuízos desnecessários além de danos à saúde e ao ambiente:

Escolha o agrotóxicos adequado. Leia o rótulo com atenção e siga rigorosamente as instruções do fabricante. Em caso de dúvida, procure esclarecer-se sobre o rótulo com pessoas que possam ajudá-lo.

Inspecione sempre a lavoura. Não deixe que as pragas, doenças e ervas daninhas tomem conta do pomar, mas não aplique o produto sem necessidade.

Verifique se os equipamentos de aplicação estão em boas condições de uso, sem vazamentos e bem calibrados. No caso dos pulverizadores, estes devem estar com os bicos desentupidos e filtros limpos. Nunca use a boca, nem arames, alfinetes e outros objetos perfurantes, para desentupir os bicos dos pulverizadores. Siga as instruções dos técnicos e dos fabricantes.

Abra as embalagens com cuidado, para evitar respingos, derramamento do produto, ou levantamento do pó. Mantenha o rosto afastado e evite respirar o defensivo.

Ao preparar e aplicar defensivos use macacão completo ou camisa de mangas compridas, chapéu de aba larga e botas impermeáveis. Proteja-se com luvas, máscara e óculos adequados, de acordo com a recomendação contidas no rótulo. Não fume, não beba e nem se alimente durante o preparo e aplicação.

Não faça misturas sem orientação de um técnico. Produtos misturados nem sempre são necessários, podem tornar-se mais tóxicos, ou mesmo perder o efeito como agrotóxico.

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Os agrotóxicos não utilizados devem ficar nas embalagens com seus rótulos originais, bem fechadas e guardadas em depósitos apropriados.

Guarde sempre os agrotóxicos em depósito fechado e que não tenham acesso a crianças, pessoas desavisadas, ou animais domésticos e onde não estejam guardados alimentos, rações e medicamentos.

Não permita que crianças e outras pessoas desnecessárias ao trabalho e animais domésticos permaneçam nos lugares de preparo e aplicação dos agrotóxicos.

Não permita que menores de idade trabalhem na aplicação de agrotóxicos.

Não aplique agrotóxicos quando houver vento forte. Aproveite as horas mais frescas do dia. Não aplique contra o vento.

Nas aplicações por via aérea (avião) use somente produtos e formulações permitidas e registradas para essa finalidade.

Cuidado para não contaminar os rios, lagoas e fontes, casas e depósitos, nem as propriedades dos vizinhos.

Observe rigorosamente o intervalo recomendado entre a última aplicação e a colheita, conforme vem indicado no rótulo, para evitar resíduos além dos permitidos nos produtos agrícolas.

Nunca utilize as embalagens vazias dos agrotóxicos para outros fins. Elas devem ser enxaguadas três vezes e a calda acrescentada à preparação a ser pulverizada (tríplice lavagem). Mantenha a embalagem usada na propriedade para futura reciclagem controlada pelos órgãos ambientais responsáveis.

Não queimar ou enterrar as embalagens, pois geram graves problemas ambientais.

Ao terminar o trabalho, tome banho com bastante água e sabão. A roupa de serviço deve ser trocada e lavada diariamente.

Nunca transporte os agrotóxicos juntamente com alimentos, medicamentos e rações e nem permita pessoas ou animais sobre a carga dos mesmos. Na eventualidade de acidentes no transporte de agrotóxicos, solicite instruções mais detalhadas aos órgãos de assistência técnica de sua região(EMBRAPA, 2016)

E em caso de acidentes no uso dos agrotóxicos a Embrapa também orienta as atitudes necessárias que se tem que ter:

Em caso de ingestão: Se a pessoa estiver consciente, dê imediatamente grande quantidade de água e induza o vômito. Procure imediatamente um médico, levando a embalagem, bula ou folheto, rótulo ou receita agronômica do produto. Nunca induzir o vômito ou dar algo, por via oral, a uma pessoa inconsciente.

Em caso de contato com a pele: Remova as roupas contaminadas, lave as partes atingidas com grande quantidade de água e sabão. Se houver irritação, procure logo um médico, levando a embalagem, bula ou folheto, rótulo ou receita agronômica do produto.

Em caso de contato com os olhos: Lave-os imediatamente com grande quantidade de água por vários minutos, se houver irritação,

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procure logo o médico levando embalagem, bula ou folheto, rótulo ou receita agronômica do produto.

Em caso de inalação: Procure local arejado. Havendo sinais de intoxicação procure um médico, levando a embalagem, bula ou folheto, rótulo ou receita agronômica do produto (EMBRAPA, 2016)

2.1 Competência da fiscalização

Quanto à competência para a fiscalização, cabe demostrar de quem é a função de controle do agrotóxico, pois os agrotóxicos por ser um produto com alto risco para saúde e meio ambientesofrem restrito controle de três órgãos de governo: Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis (IBAMA) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Essa fiscalização realizada por esses órgãos pretende garantir a qualidade do insumo ao produtor rural e a toda coletividade que acaba sendo atingida.

Nesse sentido, a Lei dos agrotóxicos também demonstra a competência dividida em três órgãos:

Competência Federal: Controlar e fiscalizar os estabelecimentos de produção, importação e exportação de agrotóxicos bem como os produtos a estes relacionados.

Competência Estadual: fiscalizar o uso, o consumo, o comércio, o armazenamento e o transporte.

Competência Municipal: legislar supletivamente sobre o uso e o armazenamento de agrotóxicos.

Além disto, o artigo 71 do Decreto nº 4.074, de 04 de janeiro de 2002, dispõe também sobre a competência da fiscalização dos agrotóxicos dos órgãos federais, seus componentes e afins:

I - dos órgãos federais responsáveis pelos setores da agricultura, saúde e meio ambiente, dentro de suas respectivas áreas de competência, quando se tratar de:

a) estabelecimentos de produção, importação e exportação; b) produção, importação e exportação;

c) coleta de amostras para análise de controle ou de fiscalização; d) resíduos de agrotóxicos e afins em produtos agrícolas e de seus subprodutos; e

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e) quando se tratar do uso de agrotóxicos e afins em tratamentos quarentenários e fitossanitários realizados no trânsito internacional de vegetais e suas partes;

II - dos órgãos estaduais e do Distrito Federal responsáveis pelos setores de agricultura, saúde e meio ambiente, dentro de sua área de competência, ressalvadas competências específicas dos órgãos federais desses mesmos setores, quando se tratar de:

a) uso e consumo dos produtos agrotóxicos, seus componentes e afins na sua jurisdição;

b) estabelecimentos de comercialização, de armazenamento e de prestação de serviços;

c) devolução e destinação adequada de embalagens de agrotóxicos, seus componentes e afins, de produtos apreendidos pela ação fiscalizadora e daqueles impróprios para utilização ou em desuso; d) transporte de agrotóxicos, seus componentes e afins, por qualquer via ou meio, em sua jurisdição;

e) coleta de amostras para análise de fiscalização;

f) armazenamento, transporte, reciclagem, reutilização e inutilização de embalagens vazias e dos produtos apreendidos pela ação fiscalizadora e daqueles impróprios para utilização ou em desuso; e g) resíduos de agrotóxicos e afins em produtos agrícolas e seus subprodutos.

De outra banda, essa fiscalização assegurada na referida Lei dos Agrotóxicos, será exercida por agentes credenciados pelos órgãos responsáveis e com formação profissional, e para a fiscalização ser efetiva, os agentes terão livre acesso aos locais onde se processem, em qualquer fase, a industrialização, o comércio, o armazenamento e a aplicação dos agrotóxicos, seus componentes e afins. E será realizado por meio de exames e vistorias.

2.2 Problemas encontrados no uso e na fiscalização

Sabe-se que vários são os problemas encontrados no uso e na fiscalização dos agrotóxico, cabe demonstrar aqui os que ocorrem com mais freqüência, diante da inobservância da norma, tanto como negligencia dos órgãos competentes.

Impõe-se que, em razão da matéria ambiental, prevenir os danos encontrados diante dos problemas no uso e na fiscalização é mais importante do que reconstruir e obter indenização futura por dano já ocorrido.

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2.2.1 Fiscalização da emissão de receituário agronômico e monitoramento

nas lavouras

Um dos problemas mais graves e que acarreta maior dano, tanto na saúde humana quanto ao meio ambiente, é a venda dos agrotóxicos sem o devido receituário agronômico, bem como a emissão do receituário sem uma visita à lavoura. Pois esse importante documento traz todas as informações essenciais e necessárias para se fazer o uso correto do agrotóxico.

Esse documento se torna indispensável por constituir a prescrição técnica formalizada para aquisição de agrotóxicos, nos termos do artigo 13 da Lei dos agrotóxicos. Bem como deve constar todas as informações necessárias descritas no artigo 6º do Decreto nº 4.074, de 04 de janeiro de 2002, tais como: nome do produto, dosagem, condições a serem observadas antes, durante e após a aplicação do agrotóxico, medidas de manejo integrado e cuidados e equipamentos de proteção individual que devem ser usados.

Diante de tais informações fica claro que o uso do receituário agronômico é de suma importância quanto ao uso do agrotóxico, pois o seu modelo é inspirado nas relações em que o médico tem com o paciente quando o receita algum tipo de medicamento, e também diante do não conhecimento que a maioria dos produtores tem ao utilizar o agrotóxico.

Como já mencionado, a exigência do receituário agronômico não acontece de forma correta, pois existem falhas na fiscalização, e com isso um dos quesitos mais relevantes que a aquisição do agrotóxico não acontece, que são as visitas prévias nas propriedades rurais.

A inobservância dos preceitos técnicos concebidos na Lei nº 7.802/89 e no Decreto nº 4.074/02 revela-se flagrante: é prática comum à emissão do receituário sem a visita prévia à propriedade rural, a receita assinada em branco, a emissão de um número excessivo de receitas por um único profissional. É de conhecimento geral que uma pessoa pode adquirir uma receita e comprar qualquer tipo de agrotóxico, mesmo os mais letais, sem a mínima dificuldade, em face do despreparo dos profissionais e da inoperância, tanto dos CREAs, como das autoridades sanitárias e ambientais. (VAZ, 2006, p. 82, grifos do autor).

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De outra banda, ainda referente ao receituário agronômico, encontra-se divergência ao ponto de quem tem competência para a emissão do mesmo, pois a questão tem sido discutida com frequência nos tribunais. A competência do técnico agrícola ou do agrônomo?

Vê-se, pois, que a Lei nº 5.524/68 que dispõe sobre o exercício da profissão de Técnico Industrial de nível médio, posta no artigo 2º, IV, que o Técnico Industrial está apto a atividade de “dar assistência na compra e venda e utilização de produtos e equipamentos especializados”.

Diante de tal dúvida, o STJ pacificou-se no sentido de admitir a emissão de receituário agronômico por técnicos agrícolas:

ADMINISTRATIVO. REEXAME NECESSÁRIO. CABIMENTO. ART. 14, § 1º, DA LEI N. 12.016 /09. ILEGITIMIDADE PASSIVA. PRELIMINAR REJEITADA.TÉCNICOS AGRÍCOLAS DE SEGUNDO GRAU. PRESCRIÇÃO DE RECEITUÁRIOAGRONÔMICO. VENDA DE AGROTÓXICOS. POSSIBILIDADE. DELIBERAÇÃO NORMATIVA DO CREAA N. 11-C E RESOLUÇÃO N. 344/90. ILEGALIDADE. PRECEDENTES DO E. STJ E DESTA TURMA. I - Sujeição da sentença ao reexame necessário, nos termos do art. 14, § 1º, da Lei n. 12.016 /09. II - O Chefe da Unidade de Gestão de Inspetoria em Barretos atua em delegação de atribuições do Presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de São Paulo, tendo prestado informações e defendido a validade do ato impugnado. Preliminar de ilegitimidade passiva rejeitada. III - Os técnicos agrícolas de segundo grau possuem habilitação legal pra expedir receitas de agrotóxicos, conforme exigido pelo art. 13, da Lei n. 7.802 /89, consoante reconhecido pelos art. 2º, inciso IV e 6º, da Lei n. 5.524 /68, art. 6º, inciso XIX, do Decreto n. 90.922 /85, com a redação dada pelo Decreto n. 4.560 /02, e art. 51, § 2º, do Decreto n. 98.816 /90. IV - Nos termos do art. 5º, inciso XIII, da Constituição Federal, somente lei em sentido formal pode estabelecer os critérios que habilitam uma pessoa ao desempenho da atividade escolhida, objetivando, com essas limitações do direito individual, a proteção da sociedade, garantindo formas para se aferir a capacitação profissional. V - Incabível, mediante ato administrativo infralegal (Deliberação Normativa do CREAA n. 11-C e Resolução n. 344/90), impor vedação não prevista na legislação aplicável à matéria. Ofensa ao princípio da legalidade. VI - Apelação improvida. Remessa Oficial, tida por ocorrida, improvida.

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2.2.2 Destinação final das embalagens vazias de agrotóxicos

Outro problema vindo do uso do agrotóxico é a destinação final das embalagens vazias, onde mesmo após o uso a embalagem fica com resíduos, que podem contaminar tanto o meio ambiente quanto o homem.

Diante de grandes focos de risco de contaminação, essa matéria recebeu atenção especial da Lei nº 9.997/00, do Decreto nº 4.074/02 e da Resolução do CONAMA nº 334, de abril de 2003, que disciplina sobre os procedimentos de licenciamento ambiental de estabelecimentos destinados ao recebimento de embalagens vazias de agrotóxico.

[...] depois de utilizado o agrotóxico, as embalagens rígidas normalmente retêm quantidades de produto em seu interior, variáveis de acordo com a sua superfície interna, formato e a formulação. A quantidade média estimada de resíduos no interior da embalagem é 0,3% do volume da mesma após o seu esvaziamento, consoante atestam pesquisas realizadas. Daí a importância fundamental para o meio ambiente e para a saúde humana da tríplice lavagem, que é uma prática simples cujo desiderato primordial é reduzir significativamente os níveis de resíduos internos nas embalagens vazias de agrotóxicos. Deve ser feita imediatamente após o seu esvaziamento, para evitar que venha a secar, dificultando assim a sua retirada. As embalagens devem ser lavadas e enxaguadas 3 (três) vezes do seguinte modo: encher com água até atingir o total do volume, tampar e agitar por 30 segundos; colocar essa água dentro do pulverizados junto com a calda que será aplicada na lavoura. Após a tríplice lavagem, a embalagem deve ser devolvida ao estabelecimento vendedor. (VAZ, 2006, p. 87, grifos do autor).

Sabe-se que é um procedimento complexo a destinação das embalagens vazias de agrotóxico, e diante disso são de extrema importância que ocorra participação efetiva de todos os agentes envolvidos na fabricação, comercialização, utilização, licenciamento, fiscalização e monitoramento das atividades relacionadas com o manuseio, transporte, armazenamento e processamento dessas embalagens.

É de grande monta citar também, a jurisprudência do STJ que pacificou de quem tem a competência para a reciclagem:

ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. RECICLAGEM DE EMBALAGENS VAZIAS DE AGR OTÓXICOS. RESPONSABILIDADE DAS EMPRESAS

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PRODUTORAS E COMERCIALIZADORAS. 1. Hipótese em que a impetrante pretender atuar na atividade de reciclagem de embalagens vazias de agrotóxicos. Pugna pelo deferimento da licença ambiental independentemente da celebração de um termo de compromisso com o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias - INPEV. 2. De acordo com o § 5º do art. 6º da Lei 7.802 /89, incluído pela Lei 9.974 /2000, "as empresas produtoras e comercializadoras de agrotóxicos, seus componentes e afins, são responsáveis pela destinação das embalagens vazias dos produtos por elas fabricados e comercializados, após a devolução pelos usuários, e pela dos produtos apreendidos pela ação fiscalizatória e dos impróprios para utilização ou em desuso, com vistas à sua reutilização, reciclagem ou inutilização, obedecidas as normas e instruções dos órgãos registrantes e sanitário-ambientais competentes". 3. O responsável pelo destino final das embalagens vazias de agrotóxicos é o seu fabricante, ou, quando o produto não for fabricado no país, o importador. 4. No exercício dessa obrigação, as empresas produtoras e comercializadoras de agrotóxicos são representadas, atualmente, pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias - INPEV, que possui, em seu rol de associados, 99% das empresas fabricantes de defensivos agrícolas do Brasil e as sete principais entidades de classe do setor. 5. Diante desse contexto, é possível afirmar que o INPEV atua como verdadeiro mandatário das empresas produtoras e comercializadoras de agrotóxicos, que são as únicas responsáveis pela destinação final das embalagens vazias. 6. Assim, se essas empresas serão responsabilizadas por eventual dano ao meio ambiente decorrente da reciclagem de embalagens vazias de agrotóxicos, é justo que elas tenham a prerrogativa de firmar parcerias de acordo com suas conveniências. (STJ, RMS. 25399 MS 2007/0241609-7, Rel. Min. Denise Arruda, DJe 30/03/2009).

2.3 Responsabilidade administrativa, civil e penal pelo dano ambiental causado pelo uso de agrotóxicos

Vou partir do princípio do conceito de dano ambiental no meio jurídico, onde se pode dizer que o “dano” seria um mal causado por um terceiro e assim causando um prejuízo, e por conta disso o prejudicado busca ressarcimento no seu patrimônio.

Nesse sentido, Cáio Mário Silva Pereira afirma que “dano” consiste em

[...]erro de conduta do agente, no seu procedimento contrário à predeterminação da norma, que condiz com a própria noção de culpa ou dolo. Se o agente procede em termos contrários ao direito, desfere o primeiro impulso, no rumo do estabelecimento do dever de reparar, que poderá ser excepcional ilidido, mas que em princípio constitui o primeiro momento da satisfação de perdas interesses (1995, p.236).

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Desse modo, para esse referido autor, o dano nada mais é que a ofensa a um bem jurídico, decorrente de uma ação contrário ao direito.

De outra banda, o efetivo dano a ser estudado, seria o dano ambiental, que nada mais é que o dano ao meio ambiente. Assim, para a compreensão de dano ambiental e das situações em que ele se verifica, aparenta ser necessária, primeiramente, uma delimitação jurídica deste termo amplamente utilizado atualmente, cujo real significado restou demasiadamente aberto: meio ambiente.

Assim, para conceituar a expressão meio ambiente a Lei 6.938, de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, prescreve o conceito de meio ambiente em seu art. 3º: “Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I – Meio Ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

Outro ponto de vista importante com relação ao conceito de meio ambiente é a afirmação do autor Fiorillo (2001, p. 18), onde o mesmo afirma que o conceito de meio ambiente dado pela Lei de Política Nacional do Meio Ambiente foi recepcionado pela Constituição Federal e 1998: “Isso porque a Carta Magna de 1988 buscou tutelar não só o meio ambiente natural, mas também o artificial, o cultural e o trabalho.” E continua:

[...]aludida conclusão é alcançada pelo observação do art. 225 da Lei maior, que utiliza a expressão sadia qualidade de vida. De fato, o legislador constituinte optou por estabelecer dois objetos de tutela ambiental: “um imediato, que é a qualidade do meio ambiente, e outro mediato, que é a saúde, o bem-estar e a segurança da população, que vêm sintetizando na expressão da qualidade de vida.

Com isso conclui-se que a definição de meio ambiente é ampla, devendo-se observar que o legislador optou por trazer um conceito jurídico indeterminado, a fim de criar um espaço positivo de incidência da norma (FIORILLO, 2001, p. 18-19).

Não se tem dúvidas com relação à proteção ao meio ambiente que se tem que ter, pois os danos existentes não são dos dias de hoje, e sim ao longo da

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evolução humana se registra, isso porque o homem insiste em devastar, poluir e destruir o meio em que vive.

Outra justificativa pelos danos causados seria o aumento no consumo do agrotóxico, verifica-se no alerta de Antenor Ferrari, todavia, parece ser a mais consciente hipótese de ocorrência de dano ambiental causado pelo emprego, regulado ou não, de substâncias poluidoras:

O consumo de agrotóxicos gera um círculo vicioso: quanto mais se usa, maiores são os desequilíbrios provocados e maior a necessidade de usos recorrentes, em doses mais intensas de formulações cada vez mais tóxicas.

Um dos danos mais perigosos e recorrentes que o agrotóxico produz é a intoxicação, que pode ocorrer tanto com o homem, animais e o meio ambiente.

Processo: Resp 1164630 MG 2009/0132366-5 Relator(a): Ministro CASTRO MEIRA

Julgamento: 18/11/2010

Órgão Julgador: T2 - SEGUNDA TURMA Publicação: DJe 01/12/2010

ADMINISTRATIVO. DANO AMBIENTAL. MORTALIDADE DE PÁSSAROS.RAZOABILIDADE DO VALOR DA CONDENAÇÃO. 1. O Ministério Público do Estado de Minas Gerais ajuizou ação civil pública contra a Fazenda Guaicuhy Agropecuária Ltda.., alegando que a ré seria responsável por dano ambiental por uso de agrotóxico ilegal. Furadan. que teria causado grande mortandade de pássaros. 2. Inexistência de violação do artigo 535 do Código de Processo Civil, ante a abordagem específica de todas as questões suscitadas nos embargos de declaração opostos na origem.

3. O pedido de recomposição da fauna in loco constante da inicial expressa a necessidade de que a totalidade do dano ambiental seja sanada, não se admitindo interpretação outra que reduza a amplitude do conceito de meio ambiente.

4. Não houve violação do artigo 6º, caput, da LICC, porquanto a Corte de origem apenas valeu-se dos parâmetros estabelecidos no Decreto Federal nº 3.179/99 para justificar a razoabilidade da sentença que condenou a recorrente a pagar a multa ambiental fixada em R$ 150.000,00.

5. O valor da condenação por dano ambiental não se exaure com a simples mensuração matemática do valor dos pássaros mortos, mas deve também considerar o grau de desequilíbrio ecológico causado. 6. Recurso especial não provido.

Diante de tal Acórdão, se verifica um dos danos mais recorrente e de difícil reparação, pois o uso incorreto do agrotóxico pode acarretar um desequilíbrio

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ambiental atingindo organismos vivos, no caso os pássaros, que não são prejudiciais às lavouras e também extinguir determinadas espécies fundamentais para o equilíbrio da região ambiental.

Vale lembrar que a Constituição Federal deixa claro que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental, e que os infratores podem sofrer sanções, tanto penal como administrativamente, como mencionado no seu artigo 225:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. [...]

§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.”

Dessarte, que além da Constituição Federal, a responsabilidade pelo dano ambiental tem grande amparo em outras leis mais especificas, como a Lei 7.802/89 (Lei dos Agrotóxicos), a Lei 9.605/98 (Lei dos Crimes ambientais) e o Decreto 4.074/2002 que regulamentou a Lei 7.802/89.

De outra banda, os danos causados pelos agrotóxicos podem ser responsabilizados, e essa responsabilidade pode ser administrativa, civil e penal.

Vale destacar que, as leis por ora mencionadas têm como objetivo maior proteger o meio ambiente, visando à proteção necessária de todos os danos ambientais possíveis, por muitas vezes imperceptíveis a olho nu a curto ou longo prazo.

Com relação à responsabilização aos danos causados a Lei dos Agrotóxicos deixa claro e é bem taxativa, com quem pode ser considerado infrator.

“Art. 14. As responsabilidades administrativa, civil e penal pelos danos causados à saúde das pessoas e ao meio ambiente, quando a produção, comercialização, utilização, transporte e destinação de embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins, não

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cumprirem o disposto na legislação pertinente, cabem: (Redação dada pela Lei nº 9.974, de 2000)

“a) o profissional, quando comprovada receita errada, displicente ou indevida;

b) o usuário ou ao prestador de serviços, quando proceder em desacordo com o receituário ou as recomendações do fabricante e órgãos registrantes e sanitário-ambientais;

c) o comerciante, quando efetuar venda sem o respectivo receituário ou em desacordo com a receita ou recomendações do fabricante e órgãos registrantes e sanitário-ambientais;

d) o registrante que, por dolo ou por culpa, omitir informações ou fornecer informações incorretas;

e) o produtor, quando produzir mercadorias em desacordo com as especificações constantes do registro do produto, do rótulo, da bula, do folheto e da propaganda, ou não der destinação às embalagens vazias em conformidade com a legislação pertinente;

f) o empregador, quando não fornecer e não fizer manutenção dos equipamentos adequados à proteção da saúde dos trabalhadores ou dos equipamentos na produção, distribuição e aplicação dos produtos.”

De outra banda, em seu artigo 17 apresenta matéria atinente às responsabilidades e sanções aos que cometem infrações:

“Art. 17. Sem prejuízo das responsabilidades civil e penal cabíveis, a infração de disposições desta Lei acarretará, isolada ou cumulativamente, nos termos previstos em regulamento, independente das medidas cautelares de estabelecimento e apreensão do produto ou alimentos contaminados, a aplicação das seguintes sanções:

I - advertência;

II - multa de até 1000 (mil) vezes o Maior Valor de Referência - MVR, aplicável em dobro em caso de reincidência;

III - condenação de produto; IV - inutilização de produto;

V - suspensão de autorização, registro ou licença; VI - cancelamento de autorização, registro ou licença; VII - interdição temporária ou definitiva de estabelecimento;

VIII - destruição de vegetais partes de vegetais e alimentos, com resíduos acima do permitido;

IX - destruição de vegetais partes de vegetais e alimentos, nos quais tenha havido aplicação de agrotóxicos de uso não autorizado, a critério do órgão competente.

Parágrafo único. A autoridade fiscalizadora fará a divulgação das sanções impostas aos infratores desta Lei.”

Os preceitos relativos às responsabilidades administrativa, civil e criminal relativos ao meio ambiente são os constantes das legislações supracitadas que, apresentaram como responsáveis, aos quais pelo não-cumprimento da Lei são imputáveis os crimes mencionados.

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Por sua vez, a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, na seção III são tratados os casos de Poluição e outros Crimes Ambientais, o artigo 54 menciona que:

“Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º. Se o crime é culposo:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. § 2º. Se o crime:

I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana;

II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população;

III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade;

IV - dificultar ou impedir o uso público das praias;

V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou

substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

§ 3º. Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.”

Fica evidente que a lei de agrotóxicos tentou delimitar tipos penais pensando na proteção dos bens jurídicos meio ambiente, saúde humana e vida. Assim, as condutas reprimidas penalmente na Lei dos Agrotóxicos acabam por ofender mais de um bem jurídico, pois atingem, ao mesmo tempo, os fatores ambientais e a saúde coletiva.

De fato que o dano ambiental causa pelos Agrotóxicos só acontece quando constatado que os níveis de poluição ultrapassam o limite aceitável e passa a prejudicar o meio ambiente. Diante disso, apenas as condutas que atinjam os bens jurídicos tutelados pela norma penal é que constituem crime ambiental.

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Por fim, para VAZ (2006, p.119), nem mesmo a cessação da atividade danosa é motivo suficiente para afastar a tese da imprescritibilidade. Isso porque a redução ou eliminação da ação degradadora não evita que seus efeitos perdurem, protraindo-se no tempo indefinidamente, o que torna difícil – senão impossível - a fixação de um marco inicial para fins de prescrição.

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CONCLUSÃO

O homem vem desde a sua existência na terra modificando e transformando o meio ambiente em que vive. A partir de certo momento essa modificação acaba por atingir um dos seus direitos mais fundamentais que é a saúde. E a Constituição Federal deixa claro em seu artigo 196, que "a saúde é um direito de todos e um dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação".

Diante disso, por ser competência do Estado garantir essa proteção à saúde, ela acaba por criar uma legislação, que se observada de modo adequado, protege a saúde e o meio ambiente.

Essa proteção tem que acontecer de forma rigorosa, pois a partir do momento que se usa produtos nocivos no meio ambiente, que não sendo uso da forma correta, acaba sendo nocivo para a saúde e pode provocar até a morte. Diante disso, a legislação tem como o objetivo maior proteger a saúde coletiva.

De outro ponto de vista, esses produtos que acabam agredindo a saúde, são um mal necessário, pois o modelo de produção depende desses produtos químicos para abastecer o mercado com produtos agrícolas em qualidade e quantidade suficiente para atender a demanda do consumo mundial.

Essa atenção necessária aos direitos fundamentais, propiciou a criação de normal específicas, ajudando a delimitar em todos os assuntos, como competência

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para fiscalizar, vender e legislar. Essa área acaba por dar ênfase ao interesse coletivo na preservação da saúde e do meio ambiente saudável.

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Na busca da efetivação desses direitos, a legislação que observa os agrotóxicos e afins, acaba por observar sobre as pesquisas, experimentação, produção, embalagem, transporte, entre outras providencias que fazem com que esse bem, que é a saúde seja protegido.

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