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Os caminhos do “lixo” em Ijuí – RS

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO CURSO DE GEOGRAFIA – LICENCIATURA PLENA

OS CAMINHOS DO “LIXO” EM IJUÍ – RS

LUCAS ANDRÉ RODRIGUES FITZ

Ijuí – RS 2014

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LUCAS ANDRÉ RODRIGUES FITZ

OS CAMINHOS DO “LIXO” EM IJUÍ – RS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Geografia – Licenciatura Plena da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial para a obtenção do certificado de conclusão do curso.

Orientadora: Dóris Ketzer Montardo

Ijuí – RS 2014

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OS CAMINHOS DO “LIXO” EM IJUÍ – RS

Lucas André Rodrigues Fitz1 Dóris Ketzer Montardo2

RESUMO

“Os caminhos do „lixo‟ em Ijuí – RS” se caracteriza em um registro de informações sobre o lixo no município de Ijuí, desde a sua origem até a destinação final, acompanhando o material reciclável pelas associações de catadores, sendo que é neste contexto que o trabalho enfatiza, visando a conscientização e visão da população quanto ao importante trabalho que os catadores realizam para o meio ambiente que é a destinação correta dos resíduos. Essa visão da reciclagem é o que me motivou a elaborar este trabalho, pois o que tenho vivenciado neste trabalho é a falta de visão da população e órgãos públicos sobre a importância da correta destinação do lixo em que produzimos e o seu maléfico resultado ambiental e social quando não é reaproveitado ou não possui destinação correta. Durante a pesquisa foram observados vários momentos a serem detalhados como registros fotográficos e entrevistas, o dia a dia dos catadores de resíduos recicláveis nas cooperativas, o olhar do poder público para a realidade e todo o envolvimento das pessoas neste processo.

Palavras-chave: Resíduos Sólidos. Saúde e Meio Ambiente. Associação de Catadores.

INTRODUÇÃO

Sabemos que o mundo e a sociedade sofrem constantes processos de transformação. O homem está cada vez mais interligado com o meio ambiente e através desta relação surge uma maior preocupação em torno de unir nosso constante crescimento industrial e populacional com a preservação da natureza, a uma necessidade então de criar novos hábitos para que haja uma nação sustentável e de produção consciente.

Um dos maiores problemas vivenciados hoje em dia pela população mundial é o lixo, seu crescente aumento e a destinação inadequada a qual é submetido

1Acadêmico do Curso de Geografia – Licenciatura Plena pela Universidade Regional do Noroeste do

Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ).

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reflete consequentemente a impactos graves ao meio ambiente e, principalmente, à saúde humana, diminuindo a qualidade de vida vivida por ela.

Estudar, vivenciar e compreender as relações estabelecidas entre a natureza e o homem é um dos objetivos da Geografia. É preciso lembrar que a relação entre homem e natureza tem que ser harmônica, o homem que constrói respeitando os limites da natureza colhe bons frutos. É necessário para o ser humano em um contexto global sentir-se um sujeito da história e um agente de transformação social, deixando de se omitir e colaborando para melhorar o meio em que vive.

O lixo produzido pelo cidadão passa por uma grande viagem até chegar ao seu destino final. Poucas pessoas se preocupam com a destinação correta desses resíduos, muita gente quer apenas se livrar do que não serve mais e jogar fora. A grande preocupação é de que seja feita a separação e a destinação exata desses resíduos para que não soframos com impactos ambientais e doenças posteriormente.

Este trabalho tem como objetivo verificar como funciona o recolhimento e a destinação do lixo no município de Ijuí que se localiza no Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, o que diz a legislação vigente, os impactos ambientais, riscos à saúde e, principalmente, como funciona a organização das associações de reciclagem, seus desafios e dificuldades visando a importância da reciclagem tanto no fator social como ambiental.

Nesse processo, a pesquisa foi realizada no período de junho a outubro de 2014, onde foram feitas pesquisas bibliográficas sobre estes temas, registros fotográficos, entrevistas e visitas às associações e órgãos públicos para saber como é feita a reciclagem de resíduos em Ijuí e qual a visão dos trabalhadores deste ramo sobre o assunto.

Após o levantamento de dados sobre o lixo em Ijuí e a investigação da realidade das associações de catadores de matérias recicláveis foi feita então uma análise dos dados coletados.

1 REFERENCIAL TEÓRICO

O Planeta Terra comporta hoje em dia aproximadamente 7 bilhões de habitantes segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), tendo nesse

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processo em menos de um século dobrado seu tamanho. É evidente também que produziríamos muito mais lixo, tendo esse processo de crescimento começado desde a Revolução Industrial no século XVII, onde vários produtos começaram a ser produzidos em massa até chegarmos à nossa era conhecida também como “a era dos descartáveis”.

Nos dias atuais, os objetos têm menos durabilidade, quebram-se facilmente e necessitam de reposição em curto prazo. Estamos vivendo, então, a era dos descartáveis, isto é, dos produtos que são utilizados uma única vez ou por pouco tempo e em seguida são jogados fora (RODRIGUES; CAVINATTO, 1997, p. 10).

O lixo vem sendo um dos principais problemas vivenciados pelo crescimento da urbanização em todo o mundo. Para Rodrigues e Cavinatto (1997) a palavra lixo, derivada do latim lix, significa “cinza”. No dicionário ela é definida como sujeira, imundície, coisa ou coisas inúteis, velhas e sem valor.

Lixo, na linguagem técnica, é sinônimo de resíduos sólidos e é representado por materiais descartados pelas atividades humanas.

Nesse contexto, Pereira Neto (1999) enfatiza que gerar resíduos é de natureza humana, mas que é possível controlar este processo.

O ser humano, no desenvolvimento de suas várias atividades do seu dia a dia (sociais, residenciais, comerciais, industriais, etc.), gera e descarta uma grande quantidade de resíduos. É verdade que ele pode diminuir e controlar essa produção, porém, sempre irá gerar resíduos. Isto constitui um, entre outros fatos característicos de sua natureza (PEREIRA NETO, 1999, p. 9).

Pereira Neto (1999) ainda dá um novo significado ao lixo: com a intenção de mudar a visão das pessoas sobre o que elas pensam do lixo, com a mesma facilidade com que gera lixo, o ser humano estabeleceu (há muitos anos) que “lixo é todo e qualquer tipo de resíduo sólido resultante de sua atividade”. Em suma, “é toda matéria sólida que não lhe é mais útil, funcional ou estética”. Os anos se passaram, e nesse período houve grande avanço tecnológico e industrial, gerando novos produtos, bens de consumo sofisticados (e de baixa vida útil) e, principalmente, a consolidação da enorme capacidade do homem para explorar os recursos naturais.

Para Pereira Neto (1999) torna-se, portanto, evidente, nos dias atuais, que a definição de lixo proposta anteriormente e ainda amplamente utilizada é ultrapassada e não condiz mais com a urgente necessidade de proteção do meio

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ambiente e controle do desperdício, principalmente por ir de encontro à visão moderna de gerenciamento do lixo. Diante desses fatos e tendo-se em vista as inter-relações da área de resíduos sólidos com tantas áreas do conhecimento, propõe uma nova definição compatível com a realidade atual do problema.

O autor então propõe que o lixo tenha um novo significado mudando a visão de quem a interprete:

Sabendo que o lixo é formado por resíduos sólidos (sobras) das atividades do homem: papéis, plásticos, metais, vidros, couro, borracha, tecidos, madeira, terra, cerâmica, restos de alimentos, etc., propõe-se a seguinte definição: Lixo é uma massa heterogênea de resíduos sólidos, resultante das atividades humanas, os quais podem ser reciclados e parcialmente utilizados, gerando, entre outros benefícios, proteção à saúde pública e economia de energia e de recursos naturais (PEREIRA NETO, 1999, p. 9).

1.1 A PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL

O homem sempre teve que aprender a conviver com a natureza, desde os primórdios da espécie humana teve que garantir sua sobrevivência e explorar novos locais para construir abrigos. Essa exploração do meio ambiente não trazia preocupação, pois como havia poucos habitantes, a natureza se reorganizava em pequenas transformações naturais.

Porém, com o passar dos anos, o homem foi explorando cada vez mais os recursos naturais o que aliado ao excessivo crescimento populacional faz com que a natureza não consiga mais acompanhar estas transformações, transformando em agressões ao meio ambiente e o começo da escassez de recursos naturais.

O aumento populacional é sinônimo de aumento da exploração de recursos naturais. É inevitável que o meio ambiente sofrerá cada vez mais se aliado à exploração dos recursos também não nos preocuparmos com a fiscalização e destinação correta de materiais poluentes.

Para Pereira Neto (1999) pode se concluir que o simples aumento populacional (dentro de seu processo natural) constitui um grande problema por aumentar a demanda de todos os fatores básicos que podem garantir a subsistência do homem e de suas atividades. Com isto surge, inevitavelmente, uma maior pressão no meio ambiente em razão do aumento da demanda de recursos naturais.

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A exploração dos recursos naturais gera, entre tantas outras coisas, a fabricação de bens de consumo de curta vida útil.

Além de explorar intensivamente os recursos naturais, o que já cria sérios problemas ambientais, o homem ainda devolve para o meio ambiente (sem tratamento) todos os resíduos oriundos dessa exploração, do transporte, do beneficiamento e da fabricação de produtos para o consumo. Esses produtos, após uso, são descartados e denominados lixo (PEREIRA NETO, 1999, p. 16).

De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011) sobre resíduos no Brasil, o destino final do nosso lixo é feito da seguinte forma: - aterros sanitários (53%); - aterros controlados (23%); - lixões (20%); - compostagem e reciclagem (2%); - outros destinos (2%).

Também temos que nos preocupar com o descarte irregular de resíduos no meio ambiente, pois o acúmulo e sua má distribuição são danosos ao meio ambiente e à saúde pública. Vejamos a seguir quanto tempo a natureza leva para decompor alguns materiais de nosso uso.

Tabela 1: Tempo de decomposição de alguns materiais na natureza

Resíduo Tempo

Plástico 100 anos

Copo plástico 50 anos

Nylon 30 anos

Tampa de garrafa 150 anos

Fralda descartável 450 anos

Embalagens longa vida 100 anos

Pneus 600 anos

Vidro Tempo indeterminado

Papel 3 a 6 meses

Lata de aço 10 anos

Isopor 8 anos

Fralda biodegradável 1 ano

Fonte: Instituto Akatu (Disponível em: <http://www.akatu.org.br>. Acesso em: 17/08/2014).

Com essa exploração de recursos cria-se também, através das novas tecnologias usadas pela indústria, produtos cuja mistura de ácidos encontrados nos lixões, substâncias muito prejudiciais para os seres vivos e para a natureza. O lixo tem sua tipologia definida geralmente de acordo com o seu local de geração.

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Sabemos que não existe somente o lixo doméstico, é necessário saber classificar e destinar corretamente cada tipo de lixo – seja ele domiciliar, comercial, público e, principalmente, os mais prejudiciais como os lixos de fontes especiais (hospitais, indústrias, aeroportos e agrícolas).

A preocupação com o meio ambiente fica nítida quando Pereira Neto (1999) diz que nessas lixeiras e nos lixões do país não são depositados somente lixo urbano; há também o despejo de lixo industrial tóxico, lixo hospitalar e qualquer outro que o município venha a gerar. Com o teor de resíduo orgânico bastante elevado (média de 65%), este material, em condições anaeróbicas, fermenta liberando gases tóxicos (que carreiam dioxinas e furanos) e um líquido altamente poluente, denominado chorume.

Este líquido (que carreia várias formas de ácidos orgânicos) dissolve tintas, resinas e outras substâncias químicas de alta toxidade e contamina o solo, impedindo o crescimento de plantas. No período chuvoso, em que a massa de lixo é levada pela água da chuva, o chorume encontra maior facilidade de infiltração no solo, contaminando os mananciais subterrâneos e também os mananciais de superfície (rios, lagos, córregos, etc.).

Assim, devem ser evitados os despejos a céu aberto (lixões), pois, em qualquer quantidade, eles poluem o ar, o solo e as águas, comprometendo seriamente o meio ambiente. Pode-se considerar que a poluição das águas provocada pelos lixões é de caráter irreversível (PEREIRA NETO, 1999, p. 9).

A maior fiscalização da destinação dos resíduos sólidos é urgente, sabendo que além de prejudicar diretamente o meio ambiente o lixo também é uma questão de saúde pública.

1.2 O LIXO E A SAÚDE PÚBLICA

O risco de doenças provenientes do mau controle do lixo é um dos fatores mais preocupantes. A junção de resíduos a céu aberto é extremamente favorável à proliferação de insetos e animais como moscas, mosquitos, baratas e ratos que contaminados entram em contato com o ser humano.

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As pessoas que abrigam micróbios patogênicos, denominadas hospedeiras, constantemente os eliminam no ambiente através de suas excretas (fezes, urina) e secreções (catarro). Outras vezes, esses seres patogênicos circulam pelo sangue do hospedeiro e contaminam agulhas, curativos e absorventes femininos por ele usados. Assim, papéis higiênicos, fraldas descartáveis e todo material contaminado que é descartado nas lixeiras das casas, farmácias, hospitais, etc. chegam aos depósitos de lixo da cidade, transportando germes que provocam doenças (RODRIGUES; CAVINATTO, 1997, p. 32).

O lixo, quando despejado de modo inapropriado, a exemplo dos lixões cria condições favoráveis (“habitats”) a proliferação de vários vetores biológicos: moscas, mosquitos, baratas, ratos etc., além de facilitar a contaminação de animais domésticos. Esses vetores proliferam de forma assustadora em razão da grande quantidade de alimento, facilidade de abrigo, umidade e temperatura adequada. Eles chegam às residências e entram em contato com alimentos, utensílios, roupas, etc. Como carreiam em seus corpos microrganismos perigosos (do lixo domiciliar, de animais mortos, do lixo hospitalar, etc.), esses vetores têm sido responsáveis pela disseminação de várias doenças, acarretando sérios problemas de saúde pública (PEREIRA NETO, 1999).

1.3 O LIXO NO ÂMBITO NACIONAL

Segundo dados do IBGE são produzidos diariamente no Brasil cerca de 250 mil toneladas de lixo, porém são poucos municípios brasileiros que possuem aterros sanitários e locais corretos para destinar todo esse volume de resíduos, a solução é conscientizar a população de efetuar uma correta separação do lixo domiciliar e também aos governantes incentivar ações de reciclagem no Brasil, felizmente essa medida já está sendo realizada em alguns municípios brasileiros.

Segundo Grippi (2001) das cidades mais populosas até as comunidades mais carentes, um número crescente de pessoas e administrações municipais está se esforçando para encontrar as melhores soluções para as questões do lixo urbano. Esses problemas são realmente novos se comparados com quatro décadas atrás e, infelizmente, não se resolvem sozinhos. As situações são bem diferentes de município para município, porém pode-se garantir que, diante dos recursos humanos e materiais atualmente existentes e disponibilizados em cada administração pública, as suas dificuldades serão sempre grandes.

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De maneira diferente, os problemas do lixo vêm incomodando hoje, da mesma forma que no passado, diversas cidades brasileiras e, dessa forma, afligindo mais fortemente as prefeituras a quem cabe gerenciar adequadamente o lixo urbano. Isso, porém, não significa que os problemas sejam menores ou mais fáceis nos locais onde parece que incomodam menos. Problemas atualmente invisíveis podem, em pouco tempo, causar grandes dificuldades para a população. Não há qualquer vantagem no Brasil de hoje deixar a solução para mais tarde (GRIPPI, 2001, p. 3).

Dessa forma, pode-se perceber que ainda há muito por se fazer no Brasil para que os bons exemplos sustentáveis possam ser mostrados. Alguns municípios brasileiros apresentam verdadeiras mazelas ambientais com relação ao gerenciamento do seu lixo urbano (GRIPPI, 2001, p. 3).

1.4 O LIXO E A LEGISLAÇÃO

O Brasil possui, após vários anos de debates no Congresso Nacional, uma Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) onde regula a distinção dos resíduos sólidos e responsabiliza seus geradores.

Com a Lei Nacional dos Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010) o Brasil criou um grande avanço para a sociedade, pois institui a cadeia produtiva do lixo a investir em ideias e tecnologias para diminuir impactos ambientais causados pela produção industrial. A lei é válida para todo tipo de resíduo, sendo ele industrial, eletroeletrônico, doméstico, da área de saúde, perigosos (exceto radioativos, já regulamentado por legislação específica), da construção civil, agrosilvopastoril, etc.

A Política Nacional dos Resíduos Sólidos reúne princípios para a gestão de resíduos sólidos aplicando a logística reversa onde as empresas são responsabilizadas pelo recolhimento de produtos descartáveis, também estabelece a integração dos municípios na gestão do lixo fazendo também que a sociedade se responsabilize pela geração de resíduos.

Apesar de ser aprovada no ano de 2010 a Política Nacional dos Resíduos Sólidos ainda passa por uma série de dificuldades burocráticas para ser cumprida, várias cidades ainda não possuem aterros adequados e a coleta seletiva, em base depende da organização e atitude por parte dos governos, empresários e a população.

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O Rio Grande do Sul também possui uma lei a qual trata dos resíduos sólidos, na Lei Estadual nº 9.921, de 27 de julho de 1993, dispõe sobre a gestão dos resíduos sólidos, nos termos do artigo 247, parágrafo 3º da Constituição do Estado e dá outras providências.

Mesmo antiga esta lei já obtém a preocupação com a destinação dos resíduos sólidos perigosos e a destinação correta dos demais resíduos. Como retratam os artigos: Art. 8º – A coleta, o transporte, o tratamento, o processamento e a destinação final dos resíduos sólidos de estabelecimentos industriais, comerciais e de prestação de serviços, inclusive de saúde, são de responsabilidade da fonte geradora, independentemente da contratação de terceiros, de direito público ou privado, para execução de uma ou mais dessas atividades. Art. 9º – Os recipientes, embalagens, contêineres, invólucros e assemelhados, quando destinados ao acondicionamento dos produtos perigosos, definidos no regulamento, deverão ser obrigatoriamente devolvidos ao fornecedor desses produtos. Parágrafo único – É vedada a reutilização desses recipientes para qualquer fim, exceto para o armazenamento dos produtos, definidos no “caput” deste artigo. Art. 10 – As indústrias de embalagens localizadas no Rio Grande do Sul, na medida das possibilidades e limitações tecnológicas atuais, obrigar-se-ão a incluir em seus produtos indicações que possam facilitar a reciclagem dos mesmos, segundo critérios e prazos estabelecidos no regulamento desta Lei.

Com a Lei nº 3.443, de 27 de maio de 1998, Ijuí institui o código do meio ambiente do município, com destaque para os artigos: Art. 22 – A coleta, transporte, tratamento e disposição final do lixo urbano de qualquer espécie ou natureza, processar-se-á em condições que não tragam malefícios ou inconvenientes à saúde, ao bem-estar público ou ao meio ambiente. Art. 23 – Fica proibido: I – A disposição indiscriminada do lixo em locais inapropriados, em áreas urbanas ou rurais; II – A localização e a disposição final de lixo a céu aberto; III – A utilização de lixo “in natura” para alimentação de animais e adubação orgânica; IV – O lançamento de lixo em água de superfície, sistemas de drenagens de águas pluviais, poços, cacimba e áreas erodidas; V – O assoreamento de fundo de vale através da colocação de lixo, entulhos e outros materiais.

Mesmo com a legislação sendo clara com a destinação e o cuidado com os resíduos ainda dá para perceber a falta de comprometimento em fiscalizar o

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cumprimento das leis, o que faz com que ainda haja falta de conhecimento e irresponsabilidade ambiental com o lixo no Brasil.

1.5 RECICLAGEM

O aumento gradativo do lixo no Brasil em conjunto com a produção excessiva de embalagens descartáveis leva a ideia do reaproveitamento de materiais para desafogar a situação caótica que vivemos nada melhor para isto que o processo de reciclagem, conforme Pereira Neto (1999):

A reciclagem é uma necessidade imposta pela própria dinâmica das sociedades nos dias atuais, não havendo outra saída para equacionar o problema da quantidade, sempre crescente, de lixo gerado senão através das medidas que visem à minimização de resíduos, o qual pode ser conseguido pela maximização da reciclagem.

A reciclagem do lixo assume um papel fundamental na preservação do meio ambiente. Além de diminuir a extração de recursos naturais, ela devolve para a terra uma parte de seus produtos e reduz o acúmulo de resíduos nas áreas urbanas. Os benefícios obtidos nesse processo são enormes para a sociedade, para a economia do país e para a natureza (RODRIGUES; CAVINATTO, 1997, p. 59).

A reciclagem além de aproveitar materiais e transformá-los em matéria-prima para outros produtos, também envolve aspectos sanitários, ambientais, econômicos, educacionais e sociais, pois gera emprego e renda, melhora o meio ambiente, retirando materiais que propiciam a proliferação de vetores e ainda incentiva a educação ambiental a mudar a visão dos jovens e crianças em mudança do comportamento consumista.

É fundamental, porém, que a reciclagem seja percebida em toda sua complexidade, e não apenas como única e inquestionável alternativa. O principal enfoque da reciclagem como instrumento para o combate a crise ambiental deve se dar muito menos do ponto de vista da mitigação do esgotamento de recursos, da economia de energia ou redução de impactos; seu grande valor está no potencial de sensibilização e mobilização dos indivíduos e coletividades em relação à necessidade de desenvolver uma visão crítica dos processos de produção e consumo (GRIPPI, 2001).

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1.6 COLETA SELETIVA

A grande aliada no processo da reciclagem é a coleta seletiva, onde consiste basicamente em separar os materiais recicláveis que irão para o descarte. Segundo a pesquisa dos perfis dos municípios brasileiros realizada pelo IBGE (2011) no Brasil apenas 32,3% dos municípios brasileiros têm coleta seletiva de lixo, a pesquisa aponta também que 42,7% das cidades do Brasil não possuem qualquer atividade de coleta seletiva de lixo. A coleta seletiva beneficia o município em questões econômicas, sociais e ambientais, conforme Rodrigues e Cavinatto (1997). Para tanto as pessoas devem ser bem orientadas, separando corretamente os materiais usados na reciclagem como papel, papelão, vidros, plásticos e latas.

Atualmente há duas maneiras comuns de realizar a coleta seletiva. A primeira é um caminhão especial de coleta que passa pelas ruas e através do descarte separado e consciente da população coleta esse material e leva para usinas de reciclagem. Outra maneira é instalar grandes recipientes de coletas em locais públicos como parques, clubes, escolas, praças ou outros pontos de acesso fácil aos moradores, esses locais escolhidos são chamados de Ponto de Entrega Voluntária (PEV), onde para realizar a separação possuem quatro locais distintos para separar vidro, metal, papéis e plásticos.

É necessário sempre o apoio dos poderes públicos e conscientização da população para que a coleta seletiva avance em todo o país. Embora o programa de coleta seletiva seja divulgado e implantado em um número ainda muito pequeno de comunidades, a tendência é sua expansão numa escala cada vez maior. As principais dificuldades encontradas atualmente devem-se a falta de conhecimento por parte da população, a distância das indústrias consumidoras de matérias-primas e a inexistência de uma política para esse setor (RODRIGUES; CAVINATTO, 1997).

2 O “LIXO” EM IJUÍ

O município de Ijuí está localizado na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, possuindo uma população de 78.915 habitantes (IBGE, 2010). A população ijuiense se divide entre 71.550 pessoas que residem na zona urbana e 7.365 que residem na zona rural do município.

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Figura 1: Localização do município de Ijuí no Rio Grande do Sul

Fonte: IPD – Geoprocessamento e Análises Territoriais.

A população de Ijuí produz em média de 52 a 53 toneladas de lixo por dia conforme o Departamento Municipal de Águas e Saneamento de Ijuí (DEMASI), sem contar os resíduos hospitalares, eletrônicos e catadores de materiais recicláveis que fazem o serviço de coleta paralelamente. Os resíduos produzidos pela população são bastante variados, por isso, possuem destinações alternadas. Com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos em vigor Ijuí inseriu a coleta seletiva, fazendo com que a coleta de resíduos se dividisse entre cargas recicláveis (resíduos secos) e cargas orgânicas (resíduos úmidos).

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A coleta do lixo doméstico em Ijuí é realizada pela empresa Ansus Serviços Ltda, que possui sede no município de Santa Maria – RS, sua frota é constituída por dois caminhões tipo baú que trabalham na coleta seletiva e dois caminhões tipo compactador que realizam a coleta dos resíduos orgânicos e rejeitos. Ao total são 36 funcionários atuando diretamente na coleta, divididos em equipes de quatro componentes, sendo três coletores e um motorista do caminhão. A coleta no município é realizada seguindo um cronograma divulgado para a população, percorrendo todos os 36 bairros da cidade, dividida em coleta seletiva e coleta do lixo orgânico e rejeitos.

Os resíduos recicláveis (secos) como: papel, papelão, alumínio, metais e embalagens longa vida (caixa de leite) após serem descartados pela população são coletados pela coleta seletiva e são destinadas às associações de catadores de materiais recicláveis.

Já os resíduos orgânicos como: restos de frutas, erva-mate, cascas de ovos, cinzas de fogão, pó de café entre outros e rejeitos que não possui reutilização como: fralda descartável, papel higiênico, absorvente íntimo e tocos de cigarros, são coletados com o caminhão compactador e têm como destino o “lixão” municipal. Lá o lixo passa por uma central de transbordo e, posteriormente, é coletado pela empresa Companhia Rio-grandense de Valorização de Resíduos (CRVR) a qual encaminha para o município de Giruá que possui um aterro sanitário adequado para a destinação destes resíduos.

Existem outros tipos de resíduos os quais possuem destinação diferenciada como pneus, pilhas e vidros que possuem ecopontos3 no município. Já resíduos como baterias de celulares e lâmpadas fluorescentes conforme a Lei Federal nº 12.305/2010 devem ser devolvidos ao local de compra.

Mesmo adotando medidas importantes como a coleta seletiva e ecopontos de resíduos, o município ainda sofre com o constante descarte irregular do lixo – o que gera notícia e polêmica na imprensa local –, locais de pouco acesso como terrenos na zona rural ou periferias constantemente recebem lixo depositado irregularmente. Isso gera sérios problemas à população, como o mau cheiro, proliferação de vetores que causam doenças e para a natureza como contaminação

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do solo e mananciais, ficando nítida a falta de interesse por parte da população em dar o destino correto para o lixo.

Figura 2: Descarte irregular de lixo em Área de Preservação Permanente (APP) próximo a um manancial, Bairro Elizabeth

Fonte: Arquivo pessoal (out. 2014).

2.1 INICIATIVAS DO PODER PÚBLICO MUNICIPAL

A administração pública do município de Ijuí vem trabalhando para haver melhorias nas questões ambientais e na destinação correta do lixo como, por exemplo, a criação da Lei Municipal nº 5.513, de 29 de setembro de 2011, que institui o serviço público de coleta seletiva solidária dos resíduos recicláveis secos domiciliares, onde estimula a redução, reutilização e reciclagem do lixo produzido no município.

Iniciativas de destinação correta dos resíduos como ecopontos espalhados pelo município e programas como o “Lâmpada Legal” buscam conscientizar a população para devolução dos produtos após sua utilização, para que haja um descarte correto destes materiais, ajudando a combater a poluição, acúmulo de lixo e melhor qualidade de vida das pessoas.

A coleta seletiva também é estimulada pela prefeitura através do projeto de educação ambiental “Caminhos da reciclagem”, onde busca o melhor gerenciamento

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de resíduos domésticos gerados pela comunidade, realizando campanhas educativas para a separação correta do lixo e o destino adequado, também orientando a população a criarem composteiras4 para o destino adequado dos resíduos orgânicos. O município também vem buscando o apoio de lideranças municipais e dos empresários para melhorar o trabalho e a qualidade de vida dos catadores de materiais recicláveis, organizados em associações, através do projeto “REVIVA”.

2.2 AS ASSOCIAÇÕES DE CATADORES EM IJUÍ E SUA IMPORTÂNCIA

Para muitas pessoas o lixo não passa de algo sem significância, importância e valor, para outras o lixo pode significar dignidade, trabalho e renda.

Trabalhar diretamente com o lixo não é o desejo de muitas pessoas, porém a descoberta da reciclagem como forma de trabalho e renda é uma alternativa de tentar buscar a dignidade e esperança para muitas pessoas de baixa renda e desempregadas que realizam a coleta de materiais recicláveis em Ijuí. Seja com carrinhos de mão ou carroças tracionadas por animais é comum ver no município catadores trabalhando muitas horas do dia atrás do sustento que vem do lixo.

Mesmo sendo uma fonte de renda ainda precária devido ao baixo valor pago pelos materiais recicláveis, o trabalho com a reciclagem também é visto pela importância que a separação e reutilização de materiais têm para a qualidade de vida humana e do meio ambiente. Sabendo dessa situação, o apoio do poder público é essencial para estimular e melhorar as condições das pessoas que sobrevivem do lixo. Diante destes fatos o poder público municipal estimula o trabalho dos catadores. Através da Lei Municipal nº 5.096, de 07 de outubro de 2009, busca apoio para a estruturação de associações de catadores e apoio em fatores sociais e também destina as cargas de materiais recicláveis para três associações de catadores no município sendo elas, ARL6, ACATA e Galera da Reciclagem, o que facilita os trabalhadores no processo da separação dos materiais.

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Composteiras: estruturas próprias para o depósito e processamento do material orgânico para a compostagem. Geralmente feitas em locais pequenos possui proteção feita com tijolos. Compostagem: processo biológico em que os microrganismos transformam a matéria orgânica, como estrume, folhas, papel e restos de comida, num material semelhante ao solo podendo ser utilizado como adubo.

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O reconhecimento da sociedade e a valorização do trabalho do catador são os objetivos de todos que trabalham com o lixo, muitos excluídos socialmente, sem trabalho e sem moradia digna, encontram como sua única forma de sustento a reciclagem, levando consigo na bagagem um sonho de uma vida melhor.

2.2.1 Associação de Catadores de Material Reciclável de Ijuí (ACATA)

A ACATA é a associação de catadores de material reciclável mais antiga existente em Ijuí. Teve início no ano de 2005, com a união de catadores residentes nos bairros Getúlio Vargas, Alvorada, Boa Vista e Luiz Fogliatto.

No início os catadores trabalhavam com carrinhos de mão e carroças, onde buscavam por toda a cidade materiais recicláveis para garantir o sustento da família, sendo que após coletados os materiais e realizada a separação, parte da renda era cedida para manter a associação.

Inicialmente o trabalho dos catadores da ACATA era mais cansativo, pois sem a coleta seletiva implantada no município a separação correta de resíduos por moradores era ainda mais difícil de encontrar, sendo que os trabalhadores corriam sérios riscos ao coletar os resíduos recicláveis das moradias.

A partir do ano de 2007 a coleta seletiva foi implantada em Ijuí, bem como projetos socioambientais de apoio do município com o governo federal, melhorias foram atribuídas ao processo da reciclagem, beneficiando os trabalhadores da ACATA. Foi cedido então um novo local para realizarem a separação dos resíduos, localizado no Bairro Luiz Fogliatto, no Noroeste do município de Ijuí.

A partir disso os trabalhadores não precisavam mais sair em busca dos resíduos recicláveis, pois no ano de 2010 foi construído um galpão para realizar a separação e classificação do lixo e os resíduos entregues por caminhões da coleta seletiva que descarregam materiais semanalmente na associação.

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Figura 3: Sede atual (galpão) da ACATA

Fonte: Arquivo próprio (set. 2014).

Com melhor infraestrutura, mais associados se integraram na ACATA, atualmente são doze associados que trabalham no processo de separação de resíduos, com uma carga horária de nove horas ao dia, a associação também conta com apoio de empresas pela doação de materiais e também com a total assessoria da Incubadora de Economia Solidária da UNIJUÍ. O processo de separação do lixo inicia com a chegada do caminhão da coleta seletiva que descarrega resíduos teoricamente recicláveis três vezes por semana, sendo terça-feira, quinta-feira e sábado. Depois de descarregados os resíduos é iniciado o processo de separação de materiais, os materiais são classificados e separados cada tipo em recipientes grandes chamados de “bags”5, todo o material reciclável como latinhas, metais, papéis, papelão etc. Após preencherem os “bags” vão para uma prensa também cedida pelo poder público, onde condiciona os materiais em um espaço menor ficando prontos para serem enviados para as indústrias.

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Figura 4: Funcionárias realizando a separação do material reciclável

Fonte: Arquivo pessoal (set. 2014).

Depois de finalizada a separação e os materiais estarem prensados, os materiais são levados por compradores da região conhecidos como “atravessadores” para indústrias localizadas nas regiões da serra, metropolitana e Vale dos Sinos, onde lá é comercializado por um valor superior ao comprado em Ijuí.

2.2.2 Associação de Recicladores da Linha 6 (ARL6)

Possuindo dezoito associados a ARL6 começou suas atividades na localidade Linha 6 Leste em Ijuí, desde junho de 2012 adquiriu um novo local para trabalhar, local este situado no Bairro Novo Leste na zona urbana de Ijuí.

Diferente de outras associações a ARL6 é constituída apenas por familiares, onde desempenham funções diferentes no processo da catação e separação de materiais. Com o espaço cedido pelo poder público e uma carga horária de trabalho maior do que outras associações (dez horas), a ARL6 recebe uma maior quantidade de resíduos recicláveis oriundas da coleta seletiva, são três dias que a coleta seletiva descarrega materiais na associação sendo, segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira.

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Figura 5: Galpão de separação de materiais recicláveis da ARL6

Fonte: Arquivo pessoal (out. 2014).

Além de receber materiais da coleta seletiva a ARL6 também possui um caminhão de porte médio que vai até empresas e pontos de coleta buscar estes materiais para a reciclagem, sendo assim possui um maior fluxo de materiais e venda para a destinação final.

As atividades são divididas e na maioria das vezes as mulheres realizam a separação dos materiais e cuidam dos filhos que ficam juntos na associação e os homens trabalham na prensa e no elevador, bem como na coleta com o caminhão na cidade.

2.2.3 Galera da Reciclagem

Criada em outubro de 2013 a Associação GALERA DA RECICLAGEM além de ser a mais nova também é a menor das associações, possuindo cerca de dez associados, realizam uma carga horária de trabalho em torno de oito horas ao dia. Localizada aos fundos do Parque de Exposições Wanderley Burmann, na Linha 4 Leste, a associação realiza o processo de separação de materiais também em

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conjunto com a coleta seletiva, divide os dias com a ACATA e recebe os materiais terça-feira, quinta-feira e sábado.

Figura 6: Trabalhadores separando o material reciclável

Fonte: Arquivo pessoal (set. 2014).

Apesar de ser uma associação nova a Galera da Reciclagem também possui um caminhão de porte médio que vai até as empresas e às ruas realizar a coleta, porém mesmo o espaço sendo cedido pelo poder público, a associação é a que mais carece de investimentos em infraestrutura, sendo que não há prensa, elevador e um galpão apropriado para o desenvolvimento das atividades, tendo que a associação pagar aluguel para uma empresa prensar o material e levar para a associação novamente, gerando mais gastos e transtornos.

Direcionando mais uma forma de trabalho e renda para os associados, projetos sociais instalados no município incentivam a associação para transformar o lixo em arte, realizando oficinas de artesanato os participantes já começam a produzir peças de Natal e enfeites com materiais reciclados que serão vendidos posteriormente na Praça da República ou em feiras de artesanato.

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Figura 7: Enfeites de Natal produzidos com garrafas pet, papel e plásticos oriundos do lixo

Fonte: Arquivo pessoal (out. 2014).

2.3 OS DESAFIOS DAS ASSOCIAÇÕES E SUA SUSTENTABILIDADE

As associações de catadores de materiais recicláveis do município de Ijuí – ACATA, ARL6 e Galera da Reciclagem –, são constituídas por cidadãos de baixa renda e escolaridade, que encontraram na reciclagem um trabalho e uma nova esperança de vida, porém o papel que desempenham vai além, sendo que a reciclagem do lixo é uma iniciativa ambiental e social que ajuda a natureza e melhora a qualidade de vida das pessoas.

Mesmo com todas as campanhas realizadas pelo poder público e pela mídia ainda chega às associações muito lixo que não é reciclável, gerando transtornos na separação e prejuízo de tempo, sendo ele todo misturado no processo, podendo causar ferimentos com materiais cortantes e doenças aos associados, visto que ainda é encontrado material hospitalar misturado com os resíduos recicláveis.

Apesar de possuírem atualmente apoio do poder público, muita coisa ainda precisa ser melhorada em relação aos catadores diante de fatores sociais e qualidade de vida. O pouco valor pago aos materiais é um dos principais fatores que dificulta a sustentabilidade dos trabalhadores. As associações não possuem caminhões de grande porte para levar os materiais diretamente até as indústrias,

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ficando então reféns de transportadores conhecidos como “atravessadores” que compram o material das associações por um preço muito baixo para vender as cargas por um preço maior para as indústrias. Baseado no mês de agosto de 2014 os materiais pagos pelos atravessadores obtêm esse valor:

Tabela 2: Valor do material em kg

Material Valor (R$/kg)

Papelão 0,30

Papel jornal 0,15

Latinha 2,00

Garrafa PET verde 0,70

Embalagem longa vida 0,15

Papel branco 0,35

Fonte: ACATA, ARL6 e Galera da Reciclagem (ago. 2014).

O baixo valor pago aliado à dificuldade de juntar quantidades consideráveis de materiais faz com que os catadores não firmem seu trabalho na reciclagem buscando em outras atividades uma forma de renda melhor, como na construção civil, jardinagem ou trabalhos domésticos.

A contagem da produção varia de acordo com cada associação, sendo que a venda acontece geralmente a cada quinze dias, pois muitas vezes os materiais são vendidos para atravessadores de outros municípios.

Conforme as tabelas a seguir, observamos a contagem mensal do mês de agosto de 2014, variando a produção de acordo com cada associação, considerando que a Associação Galera da Reciclagem não divulga a produção mensal.

Tabela 3: Produção mensal da ACATA

Material Reciclável: ACATA

Período 01/08/2014 a 31/08/2014

Cargas 38

Comercializados 21.524 kg

Rejeito 7.839 kg

Total 29.363 kg

Fonte: Incubadora de Economia Solidária – UNIJUÍ (ago. 2014).

Tabela 4: Produção mensal da ARL6

Material Reciclável: ARL6

Período 01/08/2014 a 31/08/2014

Cargas 47

Comercializados 29.634 kg

Rejeito 11.896 kg

Total 41.530 kg

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O valor pago para cada associado é contado em turnos trabalhados e a produção mensal realizada, não possuindo então o associado um salário fixo mensal e muitas vezes a renda não alcança o salário mínimo atual.

Além da oscilação da renda de cada trabalhador também existem dificuldades sobre a forma de registro na previdência social, sendo que nas três associações pesquisadas apenas 3% dos trabalhadores possuem registro como autônomo no Instituto Nacional do Seguro Social, Previdência Social (INSS).

Há ainda planos do município e apoiadores em realizar uma cooperativa para unir todas as associações para que possam crescer e serem mais independentes, porém ao levantar esta questão com cada associação não há reposta positiva em nenhuma delas, justificando geralmente que cada associação tem o seu modo de trabalho e sua estrutura, considerando que não será benéfica a junção de todas elas.

Enfrentando todos esses problemas as associações ainda resistem, buscando apoio do poder público e reconhecimento da população, com esperança cada vez maior na valorização do material reciclado e melhora em suas infraestruturas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o avanço tecnológico e o crescimento populacional a sociedade avança cada vez mais para o mundo consumista, fazendo com que a produção bata recorde em todos os setores. Aliado ao crescimento global também é crescente a quantidade de resíduos produzidos que possuem pouca vida útil, sendo facilmente trocadas por outras mais novas.

Durante décadas foram criadas novas tecnologias para o desenvolvimento industrial e o processo de urbanização, pensando sempre no progresso capitalista e na visão de lucros, utilizando recursos naturais quase intermináveis, acontece que com o passar dos anos fomos percebendo que os recursos não são renováveis e que o homem precisa mais do que nunca aliar seu crescimento com respeito a natureza e a preservação do meio em que vive.

Nesse contexto, é impossível não falar sobre um dos maiores problemas do século que é o lixo, com sua destinação inadequada, em todos os tipos ele causa

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sérios riscos à saúde e ao meio ambiente, poluindo solos e mananciais e servindo de foco para doenças.

No município de Ijuí não é diferente, acompanhando o consumismo das sociedades atuais, o resultado é uma grande quantidade de resíduos produzidos, sendo eles de tipos e destinações diferentes, que infelizmente não são cuidados no seu descarte, sendo misturados e descartados irregularmente, trazendo problemas ambientais e de saúde para as pessoas.

Apesar desta preocupação nota-se que através de políticas públicas como o Plano Nacional de Saneamento Básico, incentivos à reciclagem e a coleta seletiva a realidade está tomando um rumo um pouco melhor do que décadas anteriores. É preciso ter consciência que não é possível termos resultados imediatos e que a mudança precisa ser constantemente praticada, cabendo à população separar o lixo em sua casa e saber destinar corretamente seus resíduos. Também é necessário o apoio total do poder público municipal para realizar campanhas de reciclagem e orientações de descarte apropriado e apoiar as associações de catadores no município.

É preciso continuar a trabalhar tanto a população como o poder público em prol da correta destinação do lixo, evitando assim problemas para gerações futuras; incentivar, orientar e investir em campanhas educativas sobre o lixo e mais do que nunca firmar parcerias com as associações que realizam o processo de reciclagem, buscando valorizar o catador socialmente e em condições dignas para que possa trabalhar e evoluir. Esse é o verdadeiro caminho que queremos para o nosso lixo em Ijuí.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FURASTÉ, P. A. Normas técnicas para o trabalho científico: explicitação das normas da ABNT. 17. ed. Porto Alegre: Dáctilo-Plus, 2014.

GRIPPI, S. Lixo, reciclagem e sua história: guia para as prefeituras brasileiras. Rio de Janeiro: Interciência, 2001.

http://pt.wikipedia.org. Acesso em: 09/09/2014. http://www.akatu.org.br. Acesso em: 17/08/2014.

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http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 23/08/2014. http://www.ijui.rs.gov.br. Acesso em: 11/08/2014.

http://www.leismunicipais.com.br. Acesso em: 11/08/2014. http://www.lixo.com.br. Acesso em: 04/08/2014.

JAMES, B. Lixo e reciclagem. Trad. Dirce Carvalho de Campos. São Paulo: Scipione, 2002.

PEREIRA NETO, J. T. Quanto vale o nosso lixo. Belo Horizonte: Ação e Promoção, 1999.

QUADROS, C. In: SEMINÁRIO REGIONAL SOBRE O LIXO E MEIO AMBIENTE, Ediupf, 1997. Anais. 1997.

RODRIGUES, F. L.; CAVINATTO, V. M. Lixo de onde vem? Para onde vai? São Paulo: Moderna, 1997.

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