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Academic year: 2021

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2.1 - C

ONHECIMENTO DA REALIDADE LOCAL

O levantamento de informações gerais sobre o município e a região é importante instrumento na avaliação prévia das possibilidades de implantação de um projeto. Essa primeira aproximação com a realidade local e regional deverá permitir:

•avaliar se a cidade apresenta condições favorá-veis para o desenvolvimento desse tipo de em-preendimento;

•o planejamento das atividades com base na realidade e não em suposições;

•a previsão de dificuldades e a discussão e defi-nição de ações para evitá-las ou enfrentá-las. Para tanto, é necessária a obtenção e sistematiza-ção das informações apresentadas a seguir.

A População da cidade e a renda média por habitante

Quanto maior o número de habitantes, maior será a geração de lixo e materiais recicláveis, assim como a quantidade de recicláveis no lixo é direta-mente proporcional ao nível socioeconômico da co-munidade geradora. Famílias com menor poder aquisitivo, de modo geral, consomem menos e

com-pram mais alimentos in natura, em feiras e sacolões. Seu lixo, portanto, terá muito mais resíduos orgâ-nicos que recicláveis. Já as famílias de renda mais alta consomem mais e adquirem mais produtos in-dustrializados, gerando um lixo com maior quantida-de quantida-de embalagens.

Informações sobre população e renda média po-dem ser obtidas na própria Prefeitura ou nos orga-nismos de produção de estatísticas municipais e es-taduais, além das associações locais, comerciais e de serviços.

As atividades econômicas

A presença de indústrias e de um setor comer-cial e de serviços dinâmicos e bem desenvolvidos indicam vigor econômico. Esses dados ajudam a avaliar as possibilidades de apoio ao projeto. As em-presas poderão participar não somente através de patrocínio (caminhão, cartazes, panfletos, cestas básicas, passes, equipamentos, móveis, etc.), como também poderão contribuir doando seus resíduos para a cooperativa - o lixo seletivo proveniente das indústrias e do comércio é economicamente mais interessante que o das residências. Municípios ou regiões menos dinâmicos tendem a apresentar

me-C

APÍTULO

2

Avaliação da Realidade

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!

nores chances de apoio ao projeto. Além do fato de que a falta de indústrias processadoras na re-gião implicará em custos de frete, o que reduz a competitividade da cooperativa ante outras mais bem localizadas.

Uma atenção especial deve ser dada a cidades ou regiões com apelo turístico. Essas localidades têm interesse por projetos que melhorem a sua imagem e a destinação correta do lixo, incorporando a cole-ta seletiva. Este é um ponto bascole-tante sensível para a obtenção de recursos financeiros públicos.

Informações sobre a atividade econômica do mu-nicípio e da região podem ser obtidas nas associa-ções locais, Prefeitura, sindicatos, etc.

Os catadores

Um simples passeio pelas ruas do município será suficiente para que se verifique a existência ou não de catadores. Se houver um lixão na cidade, há gran-des chances de que haja um grupo de pessoas reali-zando a catação. Para obter mais informações, é a-conselhável entrar em contato com as entidades que atuam junto à população carente, assim como se diri-gir à Prefeitura, pois é possível que os órgãos munici-pais de promoção social e de saúde já tenham desen-volvido ações anteriores com os catadores, principal-mente se a destinação do lixo da cidade for um lixão. É importante verificar se esses trabalhadores estão organizados ou não e qual a entidade apoiadora. De-pendendo da situação, o grupo poderá ou não ser aproveitado no projeto.

Conversando com os catadores...

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Capítulo 2 - Avaliação da Realidade - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO

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O mercado de materiais recicláveis

A estrutura de comercialização de materiais recicláveis é extensa e complexa. Normalmente, os recicláveis passam por diversos intermediáros an-tes de chegar à empresa que irá transformá-los em um novo produto. Dela fazem parte os sucateiros, donos de ferros-velhos e aparistas e, no fim da ca-deia, as indústrias. É importante verificar a presen-ça, no município e na região, dos vários tipos de compradores e, principalmente, de empresas reci-cladoras, dada a possibilidade de venda direta, su-primindo etapas de intermediação.

INFORME-SETAMBÉMNOSMUNICÍPIOSVIZINHOS

A existência de catadores organizados nas cida-des vizinhas é um dado a ser investigado, pois poderá permitir a realização de programas con-juntos com benefícios econômicos significativos, como compartilhar equipamentos, otimizar re-cursos e reduzir despesas de implantação, pro-porcionar maior rapidez na formação e venda de cargas, aumentar o poder de barganha junto aos compradores, etc.

DICA

Esses dados podem ser obtidos na Prefeitura, as-sociações e sindicatos locais ou regionais, através dos catadores e dos próprios compradores.

O panorama do lixo na cidade

As informações principais referem-se à quantida-de quantida-de lixo gerada na cidaquantida-de, à forma quantida-de coleta, à destinação, às experiências anteriores de coleta sele-tiva e à existência de legislação municipal a respeito.

Quantidade de lixo e forma de coleta A quantidade de lixo é a base para os cálculos de geração de renda (ver item 2.2). Este dado é obtido normalmente com os responsáveis pela coleta. Em alguns locais, esse serviço é realizado por fun-cionários municipais, em outros por empresas ter-ceirizadas. Neste caso, podem ocorrer duas situa-ções:

1) Resistência à implantação do projeto, por par-te da empreipar-teira contratada que par-teme perder renda com a redução da quantidade de lixo co-letada. Poderá haver dificuldade na obtenção de informações; portanto, caberá aos respon-sáveis pelo projeto detectar resistências e pla-nejar ações para reduzi-las ou superá-las. 2) Apoio da empresa ao projeto - essa situação

ocorre quando a empreiteira percebe os be-nefícios em termos de imagem junto à opinião pública ou quando verifica que a retirada dos materiais recicláveis do lixo (parcela mais leve e volumosa) pode ajudar o rendimento da co-leta na medida em que eleva a densidade do lixo coletado, apesar disso não alterar signifi-cativamente a quilometragem percorrida pe-los caminhões coletores.

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Destinação do lixo

Outro aspecto a ser observado é a destinação do lixo: aterro ou lixão. Se a cidade tiver um lixão, esse fato pode ser um estímulo para o investimento da prefeitura no projeto. As pressões para o fecha-mento de lixões por parte dos órgãos ambientais e do Ministério Público têm aumentado devido aos

im-pactos causados ao meio ambiente e à saúde da po-pulação. Se for um aterro, convém investigar as ques-tões relativas às condições de operação, problemas de localização, vida útil, etc. Às vezes, os aterros são bem operacionalizados, mas têm problemas de vida útil; outros estão sendo ameaçados de fecha-mento pelo avanço da ocupação urbana. Esses da-dos são úteis nas discussões com o poder público, com vistas ao estabelecimento de parcerias.

Experiências anteriores

Deve-se também procurar conhecer as experiên-cias anteriores de implantação de coleta seletiva na cidade: se já ocorreram, quais foram seus resulta-dos e quais os motivos de sua suspensão. Analisar as dificuldades encontradas em projetos precedentes

INFORME-SESOBREACOLETADELIXO

É importante procurar saber sobre os dias de coleta, os trajetos realizados, o transporte e os equipamentos utilizados. Estes dados auxiliam, fu-turamente, no planejamento da coleta seletiva e nas negociações sobre possíveis parcerias.

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Capítulo 2 - Avaliação da Realidade - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO

auxiliará a evitar os mesmos erros e a buscar solu-ções alternativas. Além disso, populasolu-ções que já fo-ram envolvidas em progfo-ramas de coleta seletiva fra-cassados tendem a ser mais resistentes a iniciativas semelhantes. Nesse caso, será preciso prever traba-lho mais intenso de sensibilização da população.

Legislação sobre resíduos

A legislação municipal referente aos resíduos sóli-dos é um dado que revela os esforços já realizasóli-dos ou em andamento por parte da administração pública. Per-mite verificar em que medida as leis já existentes ou em tramitação podem interferir no projeto. É bom procurar indagar se foram encaminhados projetos re-lacionados à gestão de resíduos sólidos na cidade, com a perspectiva de obtenção de recursos federais, esta-duais e outros. Caso positivo, deve-se verificar a pos-sibilidade de inserir o projeto nas negociações.

ção da proposta enquanto um projeto próprio. Aos administradores municipais pode parecer, à primeira vista, que o projeto é simples. Na prática, entretanto, será preciso envolver diversas Secretarias, mobilizar recursos humanos de diferentes áreas do governo mu-nicipal, disponibilizar verbas, empenhar-se na busca do apoio da comunidade, dar visibilidade ao projeto, disponibilizar área, equipamentos e transportes, entre outros. Essas demandas devem ficar muito claras no contato com as administrações locais. Por outro lado, o projeto trará benefícios concretos ao município com a criação de emprego e renda, além de permitir uma solução contemporânea para os problemas relaciona-dos à geração e disposição do lixo.

A parceria com a Prefeitura é interessante, pois permite a utilização da estrutura de serviços públi-cos como suporte ao projeto. Para citar alguns bene-fícios, é possível ter acesso a recursos orçamentári

DICA

Esses dados podem ser obtidos na Secretaria de Obras da Prefeitura ou outro departamen-to que seja responsável pela limpeza pública, Câmara de Vereadores, Promotoria Pública, Secretaria de Meio Ambiente e de Turismo.

O Apoio da Prefeitura

No contato com a Prefeitura, o importante é iden-tificar as possibilidades reais de apoio ou de

assimila-PREPARE-SE

Relacione as vantagens que o projeto poderá zer ao município como geração de postos de tra-balho, aumento da vida útil do aterro, diminuição dos gastos com a limpeza pública. Organize uma lista com os itens prioritários a serem solicitados, acompanhados de uma previsão de desembolso. Isso é importante para que os administradores municipais possam avaliar as possibilidades de aporte de recursos públicos.

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os públicos, à estrutura de saúde e educação munici-pais para atender aos catadores, por exemplo, com programas alternativos de alfabetização, inserção em programas de assistência social, como cestas bási-cas e passe; possibilidade de utilização de espaços públicos, como áreas cobertas e ociosas de aterros sanitários ou outros galpões desativados, e acesso a cadastros de secretarias.

É importante estar ciente de que o vínculo com a administração local implicará na inserção do projeto na burocracia pública, com seus prazos de licitações e procedimentos legais, o que pode reduzir a flexibili-dade na tomada de decisões e emprestar certa morosidade ao processo de implantação. Há ainda que se levar em conta a questão da continuidade

ad-ministrativa: um projeto muito atrelado à Prefeitura pode correr o risco de ser suspenso, se novas elei-ções mudarem os rumos da política local.

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Apresentando o projeto na Prefeitura

PENSEEMALTERNATIVASDEAPOIO

Se os recursos a serem disponibilizados pela Prefeitura forem insuficientes ou o interesse pelo projeto for pequeno, o melhor é iniciar a busca de suporte junto a outras instituições. Obter patrocínio leva tempo e quanto mais cedo for iniciado o processo, maiores serão as chances de sucesso.

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O potencial de mobilização da comunidade local

O envolvimento da população da cidade terá pa-pel importante para o projeto, não só porque caberá aos moradores separar seus resíduos para destiná-los à cooperativa, mas também porque as entidades organizadas da sociedade civil poderão contribuir para sua implantação, pressionando as autoridades, pres-tando auxílio voluntário e ajudando na divulgação.

O número de entidades existentes em uma locali-dade é, por si só, um indicativo do seu grau de organização. Portanto, é interessante saber quais e

quantas são e que tipo de atividades desenvolvem, destacando as mais atuantes. A Prefeitura, geralmen-te, possui uma lista dessas organizações.

No contato com essas entidades, é importante explicitar os objetivos do projeto e deixar espaço para a incorporação de sugestões que vierem a sur-gir, bem como citar exemplos de possibilidades de participação – formação de um grupo de apoio para a busca de recursos, alfabetização, colaboração nos diversos itens de capacitação dos catadores, confec-ção dos uniformes e divulgaconfec-ção do projeto. Outro ponto a considerar é a atuação das instituições

Capítulo 2 - Avaliação da Realidade - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO

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2.2. A

VALIAÇÃO DO POTENCIAL DO EMPREENDIMENTO

A estimativa preliminar das receitas e a avaliação do potencial de geração de postos de trabalho são informações valiosas quando se pretende iniciar um projeto de fôlego como é o caso de uma cooperati-va de catadores.

Um dos momentos em que essa informação é importante é o da formação do grupo inicial. Seria temerário criar expectativas sobre a possibilidade de incluir todos os catadores se não há certeza, por exemplo, sobre a disponibilidade de material sufici-ente para gerar a renda (ver item 3.2) ou mesmo sobre a capacidade de gerar alternativas de renda adicionais à coleta e comercialização de materiais.

VERIFIQUE

É aconselhável verificar a idéia que os morado-res fazem dos catadomorado-res que circulam pela ci-dade. Se houver um sentimento geral de rejei-ção, esse dado deverá ser levado em conta nas ações de mobilização. Se, por outro lado, já houver na cidade um certo hábito espontâneo de colaboração com os catadores de rua, esse fator será positivo na implantação do projeto, pois demonstra predisposição da comunidade em apoiar a cooperativa.

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FIQUEATENTO

Embora os levantamentos propostos possam dar indicações para o planejamento e permi-tam avaliar a viabilidade do projeto, algumas fra-gilidades e dificuldades só se manifestarão real-mente no desenrolar dos trabalhos, como as dificuldades de entrosamento entre os órgãos da Prefeitura, administração pública muito centralizadora, comunidade local pouco participativa, disputas entre os catadores, de-bilidade da rede de comercialização e dificul-dades de obtenção de patrocínio.

religiosas na cidade, seja qual for o credo. Em alguns locais, as igrejas, muitas vezes, são as fornecedoras da infra-estrutura e do suporte administrativo ne-cessário para o início do trabalho.

O Segmento educacional

O conhecimento sobre as escolas e universida-des do município será extremamente útil ao proje-to, em função da divulgação, do trabalho voluntário, pontos de coleta (PEVs - Postos de Entrega Volun-tária), participação na capacitação dos catadores, etc. O fato de que as escolas de Ensino Fundamental e Médio devem, por determinação do Ministério de Educação e Cultura, realizar atividades relacionadas ao meio ambiente pode ser um elemento facilitador para a inserção do projeto junto a esse público.

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A avaliação do potencial do empreendimento comporta três componentes principais: estimativa da receita, da despesa e definição de um rendimen-to médio por catador.

Estimativa da receita

A receita depende das quantidades comercializa-das e dos preços de venda que, por sua vez, depen-dem do tipo e da qualidade do material coletado, da oferta de recicláveis no mercado e do preço das matérias-primas virgens.

O conhecimento do lixo da cidade - volume e com-posição - propicia uma noção da máxima quantidade de recicláveis teoricamente passível de comercializa-ção. Para realizar uma estimativa conservadora, con-vém não cogitar a possibilidade de obtenção de re-ceitas alternativas como as de artesanato com mate-riais ou peças descartadas, de objetos para reuso ou mesmo de contratos de prestação de serviços. Estimativa da despesa

Para esse levantamento, são levados em conta, essencialmente, os custos operacionais relativos ao dia a dia da cooperativa, que envolvem a coleta sele-tiva, a triagem e a comercialização, além da adminis-tração. Esses custos correspondem a:

• eventual contratação de mão-de-obra especia-lizada – um contador, por exemplo;

• itens de consumo, como água, materiais, com-bustíveis, fitas para fardos, EPIs (equipamen-tos de proteção individual), alimen(equipamen-tos;

• manutenção de equipamentos, como esteiras, prensas, carrinhos;

• pagamento de impostos e taxas, como INSS, ISS, ICMS e outros;

Os custos de amortização de investimentos não são incluídos, partindo-se do pressuposto que são aportados através de parcerias com a iniciativa públi-ca ou privada.

Capítulo 2 - Avaliação da Realidade - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO

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PORQUEAPOIAROSINVESTIMENTOSDA

COOPERATIVA

Apesar de estudos realizados junto a algumas cooperativas apontarem sua viabilidade econô-mico-financeira a partir de determinadas escalas de produção, a maioria delas encontra dificul-dades para atingir esse patamar, especialmente no período de incubação, quando sequer ad-quiriram a experiência gerencial necessária. O aporte de investimentos público ou privado é fundamental para sua consolidação. Reforça essa idéia o papel econômico e ambiental que os ca-tadores desempenham. A título de ilustração, se uma cooperativa tivesse de ser remunerada por esse trabalho, teria um ganho significativo, apenas considerando-se os custos médios pra-ticados para esse serviço no mercado, de cer-ca de R$ 40,00/t para a coleta e R$ 30,00/t para a disposição final.

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Definição de rendimento

É justo e desejável elevar o padrão de vida dos catadores, mas é prudente não criar falsas expectati-vas. Para isso, a definição dos rendimentos espera-dos deve considerar a realidade socioeconômica lo-cal e regional, e referenciar-se na renda média auferida pelos catadores e empreendimentos simi-lares, em especial no início de operação, bem como no padrão de rendimentos de categorias que desen-volvam trabalhos semelhantes.

possíveis e será acompanhado de um exemplo para uma cidade de 61.540 habitantes, desenvolvido pas-so a paspas-so.

1 . Estimar a produção diária de lixo

A melhor forma de descobrir a produção média diária da cidade é através de informações sobre a pe-sagem do lixo coletado pela Prefeitura ou pela em-preiteira terceirizada, diariamente. Se esses dados não estiverem disponíveis e não houver possibilidade de realizar as pesagens regulares, a estimativa pode ser feita com base na pesagem de uma carga típica, como um caminhão. Multiplica-se esse valor pelo número de cargas transportadas num período, por exemplo, de 30 dias, e divide-se o resultado por 30.

Para que os valores sejam mais representativos, convém que o peso da carga típica resulte da média das pesagens de vários caminhões.

Outra forma é multiplicar o número de habitan-tes pela geração de lixo por habitante. Esta pode ser obtida de duas maneiras: a partir da literatura (ver Quadro 1 no ítem 1.1) ou com base na pesagem do lixo de uma amostra de residências, dividindo-se o resultado pelo número de pessoas que as habi-tam, conforme mostrado adiante em Procedimen-tos para Caracterização do Lixo, onde também se ensina como caracterizá-lo.

Exemplo:

Com base no Quadro 1 e em informações de cidades seme-lhantes, adota-se 0,650kg/dia por habitante. Consideran-do-se a população de 61.540 habitantes, tem-se:

FIQUEATENTO

Há uma solução de compromisso entre a quantidade de material coletada, o número de catadores, a receita e o rendimento individual. Maior rendimento exige maior receita e, por-tanto, maior quantidade de material. Mas, se para elevar a quantidade é necessário maior número de catadores, haverá maior número de pessoas para dividir a receita auferida. Como, então, o rendimento pode crescer? Aumentan-do a produtividade e o preço Aumentan-dos materiais pela agregação de valor em diferentes formas (ver capítulo 5).

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Roteiro de avaliação

Este roteiro orienta a avaliação preliminar dos rendimentos e do número de postos de trabalho

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61.540 x 0,650 = 40.000 kg/dia ou 40t/dia, ou ainda 1.200 t/mês de lixo

2 . Estimar a quantidade de materiais recicláveis presentes no lixo

Para isso é necessário caracterizá-lo e, não haven-do possibilidade de fazê-lo com uma amostra repre-sentativa, pode-se adotar dados de literatura, como os constantes na Figura 4 ou de alguma cidade seme-lhante. Os dados da Pesquisa Ciclosoft, disponibili-zados pelo CEMPRE - Compromisso Empresarial

para Reciclagem, no site http://www.cempre.org.br,

também são muito úteis.

TENHA PRESENTE

Normalmente, os dados disponíveis e predo-minantes referem-se ao lixo residencial. Nes-sas condições, as quantidades calculadas não in-cluem os materiais oriundos dos serviços, do comércio e de algumas indústrias. Isso sinaliza a possibilidade de ampliar a coleta, não consi-derada neste roteiro. Quando se faz uma ca-racterização específica do lixo da cidade, deve-se avaliar a possibilidade de levar em conta tam-bém esses materiais.

Capítulo 2 Avaliação da Realidade COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS GUIA PARA IMPLANTAÇÃO

Fonte: CEMPRE 2000

Figura 4. Composição média da coleta seletiva em cidades brasileiras.

Papel/Papelão 41 % Plásticos 18 % Longa vida 1,5 % Metais 10,5 % Alumínio 1,5 % Diversos 8,5 % Rejeitos 6 % Vidro 13%

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As quantidades de materiais recicláveis descarta-das, assim calculadescarta-das, são também a máxima quantida-de potencialmente reciclável, corresponquantida-dendo, por-tanto, à maior renda potencialmente auferível com a venda dos materiais.

Exemplo

A partir da informação do Quadro 2 (ver ítem 1.1), que indica 35% de presença dos materiais recicláveis, em peso, no total do lixo brasileiro, calcula-se a máxima massa de materiais, teórica ou potencialmente, disponível no município: 35 x 40 t/dia/100 = 14 t/dia ou 420 t/mês

Utilizando-se os dados da Figura 4, pode-se calcular a dispo-nibilidade máxima mensal de cada material. Tomando-se

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como exemplo os dados para papel/papelão, tem-se: 420 x 41/100 = 172,2 t/mês

Calculando, de modo análogo, para os demais materiais, obtêm-se os seguintes resultados, em toneladas por mês:

Materiais t/mês Papel/papelão 172,2 Plástico 75,6 Vidro 54,6 Embalagem cartonada 6,3 Metais 44,1 Alumínio 6,3 Diversos 35,7 Rejeitos 25,2 Total 420,0

Quadro 4. Planejamento de metas para coleta seletiva

Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 5 Ano 10

Papel/papelão 14,76 24,59 49,20 73,80 147,60 172,2 Plástico 6,48 10,80 21,60 32,40 64,80 75,6 Vidro 4,68 7,80 15,60 23,40 46,80 54,6 Embalagem cartonada 0,54 0,90 1,80 2,70 5,31 6,3 Metais 3,78 6,30 12,60 18,90 37,80 44,1 Alumínio 0,54 0,90 1,80 2,70 5,31 6,3 Diversos 3,06 5,10 10,20 15,30 30,60 35,7 Rejeitos 2,16 7,20 7,20 10,80 21,60 25,2 Total 36,00 60,00 120,00 180,00 360,00 420,0 Metas anuais 3% 5% 10% 15% 30% 35% (% do lixo total)

Materiais Metas de coleta (t/mês) Potencialmáximo

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Capítulo 2 - Avaliação da Realidade - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO

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3. Estabelecer metas para a coleta seletiva É recomendável programar a implantação da cole-ta seletiva, num ritmo que leve em concole-ta, além da necessidade de renda, os recursos disponíveis e a experiência organizada de cada grupo. Isso é espe-cialmente relevante quando se trata de projetos de maior envergadura, como a coleta para o conjunto de um município.

No exemplo foi adotada a hipótese de que a cole-ta seletiva seria implancole-tada em 10 anos e que no Ano 10 seria possível coletar materiais recicláveis em quantidade equivalente a 30% do lixo, o que é dificil-mente factível.

Exemplo:

No Quadro 4, apresentam-se as metas para a coleta seletiva dos diversos materiais ao longo do período planejado. Tome-se como exemplo os dados relativos ao Ano 3. Para esse ano, a meta estabelecida é recolher materiais recicláveis em quantidade equivalente a 10% do lixo total da cidade, ou seja:

10 x 1.200/100 = 120 t/mês de recicláveis Se o material considerado for papel/papelão, que representa 41% dos recicláveis, tem-se para esse material a meta de:

41 x 120/100 = 49,20 t/mês de papel/papelão Analogamente, calculam-se as metas para os demais ma-teriais. As metas da última coluna correspondem ao poten-cial máximo ou teórico de 35%.

Quadro 5. Exemplo de estimativa de receita

Papel/papelão 14,76 110,00 1.623,60 Plástico 6,48 250,00 1.620,00 Vidro 4,68 140,00 655,20 Embalagem cartonada 0,54 100,00 54,00 Metais 3,78 100,00 378,00 Alumínio 0,54 2.700,00 1.458,00 Diversos 3,06 --- ---Rejeitos 2,16 --- ---Total 36,00 5.788,00 Materiais Receita (R$/mês) Preços* (R$/t) Quantidade (t/mês) (*) CEMPRE, dezembro de 2002. Ano 1

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4 . Estimar as receitas brutas

Uma vez definidas as metas, é possível fazer uma estimativa da receita potencial bruta, ou seja, de re-ceita obtida caso as metas de coleta e comercializa-ção sejam atingidas.

É importante, no entanto, atentar que: • nem todos aderem à coleta seletiva;

• nem todo o lixo reciclável é sempre separado nos domicílios;

• sempre há algum índice de rejeito no proces-so de triagem (sugere-se em torno de 10%, podendo chegar a 30%, a depender da quali-dade da coleta e da triagem).

Assim, o cálculo de receita bruta máxima seria mais

realista se fosse adotado um coeficiente redutor que

levasse esses aspectos em conta.

Para a estimativa também é necessário dispor dos preços praticados no mercado, preferencialmente no município ou na região. A consulta à tabela de cotação de preços do CEMPRE é também muito útil, pois ofe-rece uma visão nacional dos mesmos.

Exemplo: No Quadro 5, são apresentados os preços unitári-os extraídunitári-os do site do CEMPRE e as metas por material previs-tas para o Ano 1. Considerando-se o caso do papel/papelão, sua receita potencial mensal pode ser calculada como segue:

14,76 x 110 = R$ 1.623,60

Calculando de modo análogo para os outros materiais, ob-tém-se a receita potencial mensal de R$ 5.788,00, apresenta-da no Quadro 5.

Neste exemplo, será adotado um coeficiente redutor de 70%, ou seja, será considerado que apenas 70% das metas máximas

previstas, e, portanto, das receitas, sejão realmente alcançadas. Dessa forma, para o Ano 1, ter-se-á uma receita mensal de:

70 x 5.788,00/100 = R$ 4.051,60

5 . Estimar a receita líquida

Para estimar a receita líquida potencial é necessá-rio conhecer as despesas. No entanto, é muito difícil estimá-las no início, pois dependerão das caracterís-ticas específicas de cada experiência, como o apoio da sociedade, o envolvimento dos órgãos públicos, a prática gerencial adquirida, etc. Dessa forma, é ra-zoável admitir uma estimativa das despesas baseada em experiências vividas por outras cooperativas.

Para o caso de inexistência de informações confiá-veis de empreendimentos conhecidos, pode-se ado-tar as recomendações a seguir, obtidas em levanta-mentos realizados em algumas cooperativas do Esta-do de São Paulo:

• despesas com insumos, como eletricidade, te-lefone, água, combustível, manutenção, materi-ais de escritório, consomem cerca de 20% das receitas das vendas;

• pagamento do INSS eleva as despesas para cer-ca de 30%;

• contabilizando-se impostos, como ICMS, IPI, IPTU, essas despesas podem alcançar cerca de 60% do faturamento total com as vendas de materiais.

Exemplo:

Tomando o exemplo do Ano 1 (Quadro 5) e adotando um fator para a despesa de 30% da receita bruta, tem-se:

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Despesa = 30 x 4.051,60/100 = R$ 1.215,48 Receita Líquida = Receita Bruta – Despesa ou 4.051,60 – 1.215,48 = R$ 2.836,12/mês

6 . Definir o rendimento esperado e postos de trabalho

Considerando os critérios anteriormente apre-sentados, define-se um valor para o rendimento espe-rado e verificam-se quantos postos de trabalho a renda líquida é capaz de suportar. Convém fazê-lo

envolvendo vários agentes da localidade, em especi-al aqueles conhecedores da reespeci-alidade socioeconô-mica e experientes em programas sociais.

Exemplo:

Estabelecendo-se um rendimento por catador de R$ 200,00 e considerando a receita potencial média de R$ 2.836,12 mensais, para o Ano 1, tem-se:

2.836,12/200 = 14,2

ou seja, o empreendimento, potencialmente, seria capaz de manter no Ano 1 quatorze postos de trabalho.

Capítulo 2 - Avaliação da Realidade - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO

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Figura 5. Esquema de amostragem de um caminhão com cerca de seis toneladas.

1 6 7 12 13 18

2 5 8 11 14 17

3 4 9 10 15 16

CARACTERIZAÇÃODO LIXOCOM BASEEM AMOSTRAS

Antes de tudo deve-se ter presente a necessi-dade de obter uma amostra representativa para análise, ou seja, coletar uma quantidade de resíduo que apresente características e propriedades mais próximas possíveis do total de lixo gerado no município ou área de interesse. O procedimento recomendado é o quarteamento, que consiste em escolher-se alguns caminhões de áreas pobres, clas-se média e rica, em dias repreclas-sentativos, evitando fazê-lo depois de feriados prolongados.

O caminhão escolhido despeja o lixo em um local plano, de forma que a pilha formada tenha uma altura média em torno de um metro. Esse material é cubado e em seguida estabelecem-se células com base quadrada de 1m x 1m através da demarcação com ponteiras de ferro. Serão sorteadas três por caminhão, evitando-se mais de uma das bordas. Por exemplo, amostram-se as células 2, 8 e 15 (Figura 5). Todo objeto ou material que estiver mais de 50% dentro da li-nha da célula será incluído na mesma para a carac-terização. O lixo contido em cada uma será espa-lhado sobre uma lona plástica, procedendo-se à separação dos diversos tipos de materiais, como plásticos, papelão, etc. Após sua separação

se-rão pesados. Assim, é possível estimar tanto a participação em peso dos diversos materiais, co-mo o volume, já que se conhece a dimensão das células. Por exemplo, se a altura da célula é 0,80 m terá um volume de 0,80 m x 1,00 m x 1,00 m. Somando-se o peso de todos os materiais sepa-rados será possível saber a densidade da célula.

É desejável trabalhar-se com, pelo menos, um caminhão de lixo. Caso não seja possível, faça a-mostragem em, no mínimo, 50 residências. Uma vez obtido o material, siga os procedimentos in-dicados no roteiro apresentado no Quadro 6.

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1. Pese a quantidade de resíduo inicialmente obtida. Utilize este valor e faça os cálculos, aplicando a fórmula a seguir (valores em kg/habitante.dia):

Peso total da amostra (kg)

Geração per capita = x 100 Número de habitantes da área amostrada (kg)

2. Descarregue o material no local previamente escolhido (pátio pavimentado ou coberto por lona, à sombra). 3. Proceda ao rompimento dos sacos de lixo e misture todo o material. Considerar os materiais rolados (latas, vidros, etc.). 4. Colete quatro subamostras de 100 litros cada (utilize tambores), três na base e laterais e uma no topo da pilha

resultante da descarga. Considere todo o material, caso a quantidade inicial seja menor que 1,5 t.

5. Pese os quatro tambores de resíduos coletados ou o total utilizado, descontando o peso próprio dos tambores. 6. Despeje os tambores de resíduos coletados sobre uma lona. Proceda à separação nas várias frações de materiais de

interesse (borracha, madeira, ferro, alumínio, papel, papelão, plástico duro, plástico filme, vidro, etc.). Pese cada fração obtida e faça os cálculos utilizando a fórmula a seguir:

peso da fração de interesse (kg) Fração de interesse (%) = x 100

peso total da amostra (kg)

Quadro 6. Roteiro de procedimentos para caracterização do lixo.

Capítulo 2 - Avaliação da Realidade - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO

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Referências

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