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Síndrome Holandesa e o Brasil

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Síndrome Holandesa e o Brasil

Breno Sant’Ana Beraldo[1] Erick Pribessan Simões[2] Gabriel do Nascimento Pereira[3]

John William Nunes de Souza[4] Paulo Chen Zu Da[5]

RESUMO

Em 1959, na cidade de Groningen, na Holanda, uma grande reserva de gás foi descoberta. Nesse período, havia uma grande demanda desse produto, o que fez com esse país exportasse o gás em larga escala. Isso causou a valorização da moeda local. Porém, essa valorização acabou prejudicando a indústria interna da Holanda, pois ficou mais difícil se exportar manufaturas para outros países. O resultado foi uma queda no crescimento do país devido ao encolhimento do PIB, chegando a um patamar de desindustrialização. O nome dado a esse fenômeno, “Síndrome Holandesa” ou “Doença Holandesa”, foi inspirado nesse caso. Um dos indicadores principais de identificação da doença holandesa é a taxa de câmbio e se ela está valorizada em virtude da doença ou não. Este trabalho tem como objetivo analisar se há ocorrência da doença holandesa no Brasil, diante da descoberta do Pré-Sal e da valorização da moeda nos últimos anos.

Palavras-chave: ​Doença Holandesa. Brasil. Taxa de Câmbio. [1] UFABC, RA 11008011 [2] UFABC, RA 11013011 [3] UFABC, RA 21029015 [4] UFABC, RA 11006713 [5] UFABC, RA 11010612

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ABSTRACT

In 1959, in Groningen city, in the Netherlands, a large gas reserve was discovered. In that period, there was a great demand for this product, which caused in that country to export gas on a large scale. This has caused the appreciation of the local currency. However, this valuation ended up harming the Dutch domestic industry, as it became more difficult to export manufactures to other countries. The result was a drop in the country's growth due to the shrinkage of GDP, reaching a level of deindustrialization. The name given to this phenomenon, "Dutch Syndrome" or "Dutch Disease", was inspired in this case. One of the main indicators of identification of the Dutch disease is the exchange rate and whether it is valued because of the disease or not. This study aims to analyze the occurrence of the Dutch disease in Brazil, faced the discovery of the Pre-Salt and the appreciation of the currency in recent years.

Key-Words: ​Dutch Disease. Brazil. Exchange rate.

1. INTRODUÇÃO

A revista ​The economist publicou em 1977 uma matéria sobre os males que a indústria de gás causou à economia holandesa, surgindo, então, o termo “ ​Dutch

disease”​, ou “Doença Holandesa”.

Uma grande descoberta de reserva de gás trouxe enorme euforia para a indústria holandesa, que rapidamente começou a receber divisas estrangeiras, pois havia uma estimativa de um total de 2700 milhões de metros cúbicos de gás em terra e no mar.

O comércio do gás, porém, trouxe ao país um problema: a valorização da moeda local, que, naquela época, era o florim. Durante a valorização, o poder competitivo das indústrias holandesas foi caindo, pois era mais viável um país estrangeiro comprar um produto de outro país em vez de comprar da Holanda. Tal fenômeno desestabilizou a

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economia local, freando a geração de empregos no setor e a sua participação no PIB, chegando ao patamar da desindustrialização.

Um dos principais fatores que podem determinar um processo de desindustrialização em um país é a taxa de câmbio, que é “o preço de uma moeda estrangeira medido em unidades ou frações (centavos) da moeda nacional” (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2014). Assim, um taxa de câmbio muito valorizada dificulta a exportação de produtos, pois os países importadores comprarão de países cuja taxa esteja em um patamar viável. Além disso, o próprio país exportador de ​commodities prefere importar produtos de fora do que consumir os próprios produtos, desequilibrando a balança comercial, desestimulando os investimentos e inovações na indústria e prejudicando a produção nacional.

Bresser Pereira (2008) define a doença holandesa como uma “falha de mercado”, pois o setor produtor de recursos naturais interfere negativamente nos demais setores, desequilibrando o mercado. Este não consegue neutralizar a falha, reduzindo o crescimento econômico.

No Brasil, em 2006, foram descobertas grandes reservas de petróleo na camada do pré-sal, na Bacia de Campos, litoral brasileiro. Esse fato trouxe enorme expectativa no desenvolvimento do país, pois, confirmadas essas reservas, haveria um grande quantidade de moeda estrangeira vindo para o Brasil que, somadas às políticas sociais, trariam benefícios devido investimentos em áreas como educação, saúde e pesquisas e desenvolvimento. Há, porém, um grande preocupação de economistas, como os citados anteriormente, que consideram que a doença holandesa está atingindo o Brasil, podendo piorar devido essa descoberta de ​commodities​.

Um dos principais sintomas da síndrome holandesa é a baixa competitividade de

commodities ​em questão no mercado global. Devido à especialização econômica

nacional de um determinado recurso (óleo, gás natural, entre outros) e o desbalanceamento de mercado causado por ela, os preços de outros produtos de importação nacional caem significativamente, prejudicando todas as áreas da economia do país afetado, salvo a da ​commodity ​em foco, assim causando

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desemprego, o que pode desencadear problemas de infraestrutura e em serviços públicos, causando recessão econômica no país (EBRAHIM-ZADEH, 2003).

Portanto, é necessário investigar se há ocorrência da doença holandesa no Brasil. É necessário considerar, porém, que não é só a exportação de ​commodities que causa a desindustrialização. Fatores como alta carga de impostos, frágil política de desenvolvimento tecnológico, conservação de infra-estrutura em más condições também influenciam negativamente na indústria.

2. OBJETIVO GERAL

Contextualizar a doença holandesa e suas nuances, verificando a ocorrência do fenômeno no Brasil.

2.1 Objetivos específicos

2.1.1 – Apresentação de casos já existentes da crise, assim como uma análise

de uma eventual síndrome no Brasil, causada pela confirmação das reservas não-provadas de petróleo do Pré-sal brasileiro.

2.1.2 – Discutir a relação entre a síndrome holandesa e a supervalorização da

moeda dos países onde a síndrome é presente

2.1.3 – Discutir a relação entre a presença de políticas regulatórias econômicas

e a presença da síndrome holandesa, sendo gradual ou não, e sua relação com a

liberdade do mercado

2.1.4 – Projeção de uma possível síndrome holandesa no Brasil, levando em

conta o cenário político-econômico atual, levantando possíveis soluções para evitar a

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A doença holandesa começou a ser minuciosamente estudada por diversos autores que procuraram confirmar ou refutar a existência da doença no Brasil.

Bresser Pereira (2008) ressalta que “quanto mais grave for a doença em um país, mas difícil será sua neutralização e menor será a probabilidade de que esse país se industrialize e cresça.”.

Celso Furtado fez dois estudos sobre a economia da Venezuela. Um deles, nos anos 1950, verificou o fenômeno da indústria do petróleo que prejudicava os demais setores da economia, novamente devido à sobrevalorização do câmbio local e a perda de competitividade das indústrias manufatureiras. Assim, nota-se que a doença holandesa já ocorria antes de ser denominada dessa forma.

Gomes Batista (2009), afirma que “o Brasil não sofre dos mesmos efeitos negativos que a Holanda sofreu há quarenta anos”, pois “nem mesmo um boom econômico de certa commodity (...) seria capaz de afetar sensivelmente o câmbio nacional de maneira a provocar os efeitos negativos (..) na economia do Brasil”.

Palma (2005) diz que a doença holandesa atinge não só a Holanda, vista a ocorrência em outros países, normalmente em desenvolvimento, que descobriram a presença de reservas naturais em seus territórios.

4. ASPECTOS HISTÓRICOS, TÉCNICOS E ANÁLISE CRÍTICA

4.1 O ocorrido na Holanda

No final dos anos 1950, a Holanda descobriu vastas reservas de gás natural no Mar do Norte e, após alguns anos, iniciou-se a exportação deste recurso natural. A grande descoberta e grande fonte de renda para o governo acabou gerando um inconveniente processo de desindustrialização, trazendo prejuízos econômicos ao país. Para descrever este problema, em 1977, a revista ​The Economist acabou criando o

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termo “dutch disease”, ou doença holandesa. Com tradução literal de doença holandesa, esta remete a decadência da indústria holandesa após a descoberta de grandes reservas de gás natural no Mar do Norte (GOMES BATISTA, 2009).

A excessiva entrada de divisas, ocasionada pela comercialização internacional do gás natural, provocou uma valorização do florim (moeda nacional holandesa na época). O setor industrial teve sua competitividade afetada, dado que, com o florim sobrevalorizado, seus preços internacionais não eram competitivos, que além de favorecer as importações, ocasionou um movimento de desindustrialização no país (GOMES BATISTA, 2009).

A Holanda experimentava um período de prosperidade, com crescimento econômico sustentado pela exportação de gás que se manteve até quatro anos após a descoberta de reservas de gás natural, na Bacia do Mar do Norte, na região de Groningen, em 1959. O campo de Groningen abrigava estimados 2.700 milhões de metros cúbicos de gás natural, tanto onshore (em terra), quanto offshore (no mar) (GOMES BATISTA, 2009).

A Holanda esperava que o crescimento econômico se mantivesse no mesmo nível ou até mesmo aumentasse, mas durante a explosão das exportações dos recursos naturais encontrados, a economia inesperadamente começou a diminuir seu ritmo de crescimento. Durante os anos de 1961 e 1969, a média anual de crescimento do PIB foi de 5,4% e na década de 1970, o crescimento anual médio declinou para 3,3%, quando se esperava um crescimento maior, nesta época o gás vinha sendo o substituto do petróleo devido a crise dos anos 1973 e 1979. Durante a década de 1980, a economia se encontrou em situação ainda mais delicada, com crescimento anual médio do PIB de apenas 2,2%, experimentando nos anos de 1981 e 1982, retração do PIB de 0,51% e 1,28%, respectivamente (STRACK E AZEVEDO, 2012).

As exportações de combustíveis, após apresentar uma queda acentuada no início dos anos 1960, passaram a crescer de forma significativa, a partir do final dos anos 1960. A participação das exportações de combustíveis que girava em torno de 10% do total exportado pela Holanda nos anos 1960, chegou a quase dobrar nos anos

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1970, atingindo a 18,2%, em 1977. Isto indica a commoditização da pauta de exportações, que é um dos principais sintomas da doença holandesa.

A média de valor do câmbio holandês em relação ao dólar se comportou de forma inversamente proporcional ao crescimento anual do PIB, à medida que as exportações de gás aumentaram, a taxa média de crescimento diminuiu, onde o gás foi a principal fonte de receita das exportações, sendo responsável pela entrada de divisas e provocando uma valorização do Florim. As Figuras 1 e 2 mostram esse comportamento.

Figura 1 – Variação do PIB Holandês (GOMES BATISTA, 2009)

Figura 2 – Cotação do Florim em relação ao Dólar (GOMES BATISTA, 2009)

Durante os anos 1960, a taxa de câmbio se manteve estável e desvalorizada, devido ao efeito do acordo de Bretton Woods, mas assim que este foi abandonado, ocorreu uma valorização da taxa de câmbio, também ocasionada pela elevação dos

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preços internacionais das commodities exportadas pela Holanda. A forte elevação das exportações de um produto básico (combustíveis) teria levado a uma apreciação cambial que, por sua vez, resultou na queda da participação da produção industrial no PIB do país. A robustez da economia holandesa foi enfraquecida, em face da redução do setor manufatureiro na participação das exportações, ocasionada pelo aumento da exportação de recursos naturais e valorização do câmbio, provocando um processo de desindustrialização (GOMES BATISTA, 2009).

4.2 O conceito de Doença Holandesa

A doença holandesa se manifesta com o aparecimento de alguns sintomas relacionados entre si, como a comoditização da pauta de exportações, apreciação da taxa de câmbio, decréscimo da participação da indústria de bens comercializáveis no produto total do país e aumento dos salários nos setores de serviços e no setor do “boom” (BRESSER PEREIRA, 2008). Países como China e Índia teriam a doença e se desenvolveram apenas com a sua neutralização, através da administração da taxa de câmbio, como vêm fazendo estes países e também todos os países asiáticos dinâmicos. (BRESSER PEREIRA, 2008).

As rendas ricardianas são rendas provenientes do comércio de produtos no mercado internacional, produtos os quais os países se especializaram em produzir devido à sua disponibilidade de recursos, que representam uma vantagem comparativa (custo relativo menor por unidade produzida) em relação a outros países que não possuem tais recursos (BRESSER PEREIRA, 2008). As indústrias que utilizam intensivamente mão de obra barata têm um custo marginal mais baixo em relação ao mesmo custo das indústrias intensivas em tecnologia. Devido a isto, a taxa de câmbio tende a convergir para o nível que torna a exportação de bens que utilizam mão de obra barata mais rentável.

Na medida em que nas indústrias mais sofisticadas os salários são maiores, os produtos que utilizam tal tecnologia (e mão de obra mais cara devido à sua maior

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qualificação) ficariam economicamente inviabilizados. Caso a diferença salarial, de um trabalhador pouco qualificado comparado a um engenheiro seja cerca de 3 a 4 vezes, como é nos países ricos, este país teria condições de produzir qualquer tipo de bem com mão de obra barata, sem o surgimento de outras dificuldades a não ser as técnicas e administrativas. Porém, se a diferença no leque de salários for maior no país que possui mão de obra barata, o problema da doença holandesa ampliada ocorreria. Considerando que é comum a diferença de leque salarial de 10 a 12 vezes em países em desenvolvimento, e de 3 a 4 vezes em países ricos, então a doença existirá, pois as indústrias intensivas em tecnologia necessitarão de uma taxa de câmbio corrente maior do que a de equilíbrio determinada pelo mercado (STRACK E AZEVEDO, 2012).

4.3 Sintomas da Doença Holandesa

4.3.1 Aumento das Exportações de Produtos Primários

A doença holandesa se manifesta através de um primeiro sintoma, que é o boom das exportações de recursos naturais, seja esta através da descoberta de novas reservas ou da ampliação da extração dos recursos já existentes. Este boom é necessário para desencadear os outros sintomas, dado que o aumento das exportações de commodities provoca alterações na estrutura e no desempenho econômico do país (STRACK E AZEVEDO, 2012).

O nível de dependência econômica das commodities que o país possui está relacionado com a dimensão do impacto da doença na economia de modo geral. Essa dependência pode ser identificada através da quantidade de commodities comercializadas e sua participação nas exportações. Os preços internacionais das commodities exportadas pelo país também são um fator importante, pois além da quantidade exportada, estes também determinam a obtenção de uma maior ou menor renda proveniente do comércio internacional (GOMES BATISTA, 2009).

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O aumento repentino das exportações de commodities tem relação com a apreciação da taxa de câmbio. A ampliação das exportações gera uma entrada de divisas maior que o fluxo anterior ao boom, isto provoca uma apreciação da moeda nacional frente à moeda internacional, pois em um regime de câmbio flexível, o excesso de oferta de moeda estrangeira faz o câmbio apreciar-se (CORDEN e NEARY, 1982).

O setor primário não é tão afetado com uma taxa de câmbio maior, pois utiliza recursos naturais abundantes e de baixo custo, enquanto o setor de bens comercializáveis necessita de uma taxa mais baixa, pois é tecnologicamente mais avançado e os insumos utilizados têm preço maior, em relação ao setor primário. Mesmo com uma tecnologia em “estado de arte” e alta produtividade, o setor de bens comercializáveis sofre com o câmbio sobrevalorizado (BRESSER PEREIRA, 2008).

4.3.3 Redução da Participação da Indústria no PIB e do Emprego Industrial Total

A apreciação real da taxa de câmbio, provocada pelo aumento das exportações de commodities, é o fator que causa a perda de competitividade da indústria manufatureira. Isto se dá, porque a taxa de câmbio de equilíbrio, que permitem a competitividade ao setor de manufaturados, é maior que a taxa de câmbio que proporciona competitividade ao setor primário. Como o boom provoca uma valorização da taxa de câmbio, o setor manufatureiro é prejudicado, pois perde competitividade, em benefício do setor primário. O desalinhamento entre as duas taxas é prejudicial ao país como um todo, principalmente para o setor industrial, pois com o câmbio elevado, este perde a competitividade de seus produtos em nível internacional. A valorização do câmbio torna os produtos importados mais baratos, aumentando o consumo destes em detrimento dos produtos nacionais, prejudicando a produção nacional a ponto de desestimular o investimento e a inovação. A redução da participação industrial é uma consequência destes eventos, e sua ocorrência, no longo prazo, acarreta a desindustrialização do país que sofre a doença (BRESSER PEREIRA, 2008)

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Existe uma movimentação de trabalho na economia durante o boom das exportações de produtos primários. Dado que o setor primário utiliza uma série de recursos, que podem ser realocados de outros setores, sendo o trabalho um destes fatores realocados. Quando ocorre o boom, a demanda por profissionais aumenta por parte do setor primário, e este dispõe de recursos para atrair profissionais de outras áreas, isto é, pode remunerar melhor a mão de obra. Ocorre então um movimento de trabalhadores para o setor, que saem do setor secundário, que devido à perda de competitividade, oferecem remunerações inferiores (CORDEN e NEARY, 1982).

4.4 Doença Holandesa no Brasil

Atualmente, há um grande debate no Brasil a respeito da existência ou não da doença holandesa no país. O desenvolvimento dos biocombustíveis, o aumento da demanda mundial do etanol e a possibilidade de extração de petróleo na camada pré-sal vêm trazendo crescentes preocupações com o fenômeno da doença holandesa no país. A expectativa do aumento das exportações de commodities e a constante valorização do real perante o dólar já estaria trazendo problemas de competitividade em nível internacional para a indústria brasileira (STRACK E AZEVEDO, 2012).

Medidas evitaram a valorização do câmbio e deixaram o Brasil a salvo dos efeitos nocivos da doença holandesa até os anos 1990, porém o país teria sofrido grande desindustrialização após a liberalização comercial e financeira, ocorrida a partir dos anos 1990. Assim, o país teria retornado a sua posição ricardiana de exportador de recursos naturais, devido a não adoção de políticas industriais e comerciais ativas e o uso da valorização cambial como combate à inflação (SOUZA ,2009).

No entanto, afirmar que a exportação de commodities é a causa da desindustrialização é fazer uma demasiada simplificação, pois outros fatores, como a falta de política tecnológica e científica, má conservação da infraestrutura e altos impostos e juros, também são causadores de desindustrialização. Nesse sentido, é

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possível refutar a hipótese de existência da doença holandesa no Brasil (STRACK E AZEVEDO, 2012).

Nota-se, por exemplo, na Figura 3, que o câmbio brasileiro teve forte flutuação entre 2000 e 2007. O pico foi em 2003, seguida da valorização da moeda, explicada pelas eleições presidenciais no ano anterior. Assim, a estabilidade política valorizou a moeda - e não o excesso de exportação de commodities.

Figura 3 – Cotação do Real em relação ao Dólar (GOMES BATISTA, 2009)

De fato, como se observa na Figura 4, os chamados produtos “básicos”, que são aqueles que não envolvem processos industriais, são mais exportados dos que os manufaturados, representando, o primeiro, em torno de 46% do total de exportações.

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Figura 4 – Exportações do Brasil em 2017

Fonte: Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços

Ainda assim, não se pode afirmar que o país passa por um processo de desindustrialização por dois motivos. O primeiro é que quando se observa o período entre 2000 e 2007 (Figura 5), nota-se que os produtos manufaturados superam os básicos em exportação, no mesmo período em que o câmbio valorizou.

Figura 3 – Exportação Brasileira entre 2000 e 2007 (GOMES BATISTA, 2009)

O outro motivo é que, segundo Lazzarini (2012), “a geração de valor em uma atividade produtiva não tem necessariamente a ver com o preço por tonelada do

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produto vendido”. O autor compara o preço da tonelada de um ​Ipad​® de 600 gramas,

cada um custando em torno de 600 dólares, com o preço de uma tonelada de minério de ferro: 565 mil dólares contra 150 dólares. Exportar produtos com menor valor agregado - nesse caso, o minério - seria ruim. Porém, a produtividade por trabalhador para os produtos eletrônicos tem o valor de 173 mil reais, contra 487 mil reais do minério. Conforme complementa o autor:

“O computador e o aço valem muito mais por tonelada que o minério de ferro, mas adicionam muito menos valor por trabalhador do que esse último produto tido como básico. Assim, obrigar empresas como a Vale a “agregar valor” ao seu minério investindo em siderurgia no Brasil ou dar subsídios para empresas montarem iPads no Brasil são ações que podem, paradoxalmente, destruir valor.”

Atualmente, no país, ressurge a preocupação com a doença holandesa uma vez descoberta a presença de grande quantidade de petróleo no pré-sal. A criação do Fundo Social, que é um fundo controlado pelo governo que irá receber parte da renda destinada à União proveniente da exploração do petróleo, é uma medida que visa a prevenir o país dos riscos da doença holandesa.

O fundo atua primeiramente impedindo a entrada de vastas quantidades de capital em curto espaço de tempo na economia nacional, o que causaria rápida valorização do real, prejudicando assim outros setores da economia, como indústria e agropecuária.

Além disso, o fundo atua como uma poupança que poderá ser aplicada em diversas áreas econômicas de modo a garantir seu desenvolvimento concomitante à indústria do petróleo. Prevê-se que o fundo será aplicado sobretudo nas áreas de educação e saúde. Estes investimentos em educação devem capacitar mão de obra que manterá o país em processo de industrialização.

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CONCLUSÕES

Para Bresser, a doença holandesa já é presente no Brasil, ainda que não tão forte em comparação com países como a Venezuela, por exemplo, evidenciada pela baixa competitividade dos produtos brasileiros no mercado mundial, causada pelo desbalanceamento da taxa de câmbio do país. Apesar disso, outros autores como Gomes Batista e Sergio Lazzarini defendem o contrário, demonstrando que a taxa de exportação de produtos básicos e manufaturados brasileiros é equilibrada, portanto provando que o Brasil não é dependente das exportações do setor primário, portanto não sofre da comoditização de suas exportações, mostrando ter uma economia forte o suficiente para evitar a síndrome.

Portanto, não é possível afirmar ao certo se a Síndrome Holandesa é presente no país. Apesar da alta flutuação da taxa de câmbio do Real ocorrida nesta última década, o país não sofre de nenhum processo de desindustrialização, evidenciado por sua exportação balanceada de produtos ​in natura e manufaturados, como defendido por Batista e Lazzarini. Além disso já existem medidas vigentes implementadas pela União, como a criação de Fundo Social, que controla a entrada de capital no país vindas do petróleo com o intuito de retorná-la em outras áreas da economia, assim como para a saúde e educação, assim evitando uma possível Síndrome Holandesa brasileira. Além disso, apesar da recente redução do PIB brasileiro, um dos sintomas da síndrome, assim como a flutuação do câmbio na década passada, a redução se deve ao âmbito político recente e sua gestão política-econômica, em grande parte responsável pela instabilidade desse cenário atual, assim como foi com a taxa de câmbio e a gestão do governo nos anos 2000.

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REFERÊNCIAS

BANCO CENTRAL DO BRASIL. ​Taxa de Câmbio. ​2014. ​Disponível em <http://www.bcb.gov.br/pre/bc_atende/port/taxCam.asp>. Acesso em: 24 de mar. 2018 BRESSER PEREIRA, Luiz C. The Dutch Disease and its neutralization: a Ricardian approach. ​Revista de Economia Política​, São Paulo, v. 28, p. 48-71, Jan/Mar, 2008. CORDEN, Max W.; NEARY, Peter J. ​Booming Sector and De-Industrialization in a Small Open Economy​. The Economic Journal, v. 92, p. 825-848, 1982.

EBRAHIM-ZADEH, Christine. ​Back to Basics – Dutch Disease: Too much wealth managed unwisely​. Finance and Development, A quarterly magazine of the IMF, 2003. GOMES BATISTA, Biano G. ​O Boom do Minério de Ferro na Economia Brasileira: Houve Dutch Disease?​ 2009. 111f. Tese (Mestrado), Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais. Disponível em <http://www.repositorio.ufop.br/bitstream/123456789/2348/1/DISSERTA%c3%87%c3% 83O_BoomMin%c3%a9rioFerro.pdf>. Acesso em: 20 de mar. 2018.

LAZZARINI, S. ​Exportar produtos básicos não é ruim para o Brasil. 06/2012. Disponível em

<https://epocanegocios.globo.com/Informacao/Dilemas/noticia/2012/06/exportar-produt os-basicos-nao-e-ruim-para-o-brasil.html>. Acesso em 25 de mar. 2018

OOMES, Nienke; KALCHEVA, Katerina. ​Diagnosing Dutch Disease: Does Russia Have the Symptoms? IMF Working Papers 07/102, International Monetary Fund, 2007.

PALMA, G. ​Quatro fontes de desindustrialização e um novo conceito de doença holandesa. CONFERÊNCIA DE INDUSTRIALIZAÇÃO, DESINDUSTRIALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO. ORGANIZADA PELA FIESP e IEDI, Centro Cultural da FIESP, 28 ago. 2005. 46p.

SOUZA, Cristiano R. ​O Brasil Pegou a Doença Holandesa? 2009. 151f. Tese (Doutorado), Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, São Paulo.

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STRACK, D.; AZEVEDO, A. F. Z. ​A doença holandesa no Brasil: sintomas e efeitos. Revista Economia e Desenvolvimento, vol. 24, n. 2, 2012

Referências

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