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Teoria e Prática na Educação

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Academic year: 2021

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(1)

TEORIA E PRÁTICA NA EDUCAÇÃO

Ozir Tesser

o

Curso de Pedagogia da UFC está em processo de reformulação de seu currículo. Professores e alunos têm se questionaào acerca do papel da Uni -versidade em nossa sociedade e do tipo de

educa-dor que está sendo formado na FACED. Com o propósito de oterecer subsídios ao debae em torno do novo currículo do Curso de Pedagogia, foram encaminhados à Coordenação os textos abaixo re,

produzidos.

REFLEXõES SOBRE TEORIA E PRÁTICA (1)

1. A questão da articulação teoria e prática na formação uni-versitária, não pode abstrair da questão mais ampla da divisão social do trabalho na formação social capitalista, na qual se encontra a raiz das dificuldades maiores a este respeito.

A divisão do trabalho intelectual e manual na formação social impõe condicionamentos que tornam árdua e difí -cil a busca de uma articulação mais criadora entre o ser e o pensar (entre a prática e a teoria).

2. Deixando como pano de fundo esta

questão

maior e com -plexa, acima evocada, podemos levantar algumas pistas sobre esta articulação, que, embora precárias, fazem avançar a questão no terreno acadêmico e no terreno prático-social.

1) Este texto foi inicialmen'e apresentado ao Departamento de Estudos Especiailzados da Faculdade de Educação da UFC como subsídio às reflexões e discussões sobre a reformulação do Curso de Pedagogia. O texto inicial sofreu pequenos acréscimos e correções a fim de

ser submetido à publicação.

(2)

A primeira reflexão se refere ao lugar da teoria e da

prática no conhecimento científico. A mesma questão pode

ser colocada tomando-se o problema da relação entre a teoria

e os dados empíricos na produção do conhecimento ci

entí-fico. A quem cabe a prioridade e a quem cabe o primado?

Este problema toca a questão fundamental da

irredutibili-dade do ser ao pensar, da primazia do dado objetivo sobre

a capacidade de abstraí-Io no terreno do conhecimento, enfim, da prioridade e do primado da existência sobre a consciência.

Isto, evidentemente, colocado ao nível da cntolcqra.

Diferente se coloca a questão sob o aspecto da

qnoslolo-gia ou da produção do conhecimento. Na produção ào

conhe-cimento, o movimento é inverso, ele vai da teoria ao fato, da abstração

à

sua comprovação; a prioridade é dada

à

teoria, embora o primado seja confiado

à

sua comprovação pela prá-tica. O critério da verdade é a prática, e não os atributos da teoria, clareza, evidência ou outro aspecto ...

3. Estas reflexões sobre a articulação da teoria e da práti-ca, opõem-se assim, a duas outras concepções que estão mais freqüentes na vida universitária, a

etticuteçêo

idea-lista, pela qual o fundamento do conhecimento científico se encontra na capacidade criativa da ccnsciência, como

fonte ontológica da verdade, como cap:cidade

ordena-dora do caos da realidade concreta. A concepção

idea-lista acentua, mesmo que unllateratmente, a capacidade ativa do espírito humano, e sobre este aspecto, tem seus

méritos. Ela representa uma reação

à

concepção

mate-rialista tradic'onal, que por sua vez, ressalta, também unilateralmente, a objetividade do real, menosprezando o papel da inteligência humana na elaboração do conheci-mento.

4. Opõem-se também a esta concepção emp'riste ou

mate-rialista tradicional. que atribui ao dado, ou

à

compi

la-ção dos dados, a capacidade de sua compreensão, como

se o real desse de si, sem a teoria, a interpretação de si. Esta concepção é a base da concepção positivista que

em grande parte domina a formação científica na

uni-vers.dade.

5. A visão dialética opõe-se a este tipo de articulação, e,

mais ainda, opõe-se a que o real (concreto) possa ser

atingido, apenas por um esforço da atividade teórica,

mesmo que presidida por uma visão crítica.

112

Educação em Debate, Fort. (11) Ianeiro/Iunho: 1986

Este ponto nos leva mais adiante na reflexão sobre a articulação teoria e prática. ~ o ponto mais difícil, porque é

onde a divisão social do trabalho mais interfere.

Explique-mo-nos. O conhecimento verdadeiro decorre não do objeto,

mas da atividade prática transformadora, presidida por uma

teoria crítica onde os termos sujeito-objeto não se opõem

mas se interagem. O conhecimento é concebido nesta

rala-ção, nesta atividade, "como conhecimento de objetos produ-zidos por uma atividade prática, da qual a atividade pensante, da consciência (... ) não pode ser separada".

(2)

6. Este debate, que tem mais de cem anos, tem contra S~1a

solução as condições históricas da divisão social do tr a-balho, da relação ser e saber, e, sobretudo, da relação saber e poder.

"A superação do idealismo e do materialismo tradicional havia de consistir, portanto, na neqsção da atitude contem-plativa do segundo e na negação da atividade em sentido

idea-lista, especulativo, do primeiro. A verdadeira atividade é revo-lucionária, crítico-prática; o que vale dizer, transformadora e, portanto, revolucionária, mas ao mesmo tempo sem ser mera contemplação, já que é teoria que guia a ação, e prática, ou ação guiada pela teoria. A crítica - a teoria, ou a verdade que contém - não existe

à

margem da praxis".

(3)

A radicalidade das questões levantadas por Marx nas teses sobre Feverbach não nos deve fazer perder de vista os passos a serem dados:

a) Na formação universitária há teorias e teorias. Há teo

-, rias que em nada contribuem para discernir as trans -formações do real, são teorias acríticas. Quanto menos

aptas a discernir o movimento das transformações do

real, menos interesse há em estudá-Ias, menos incidem sobre o real. A teoria deve ser crítica, isto é, deve pe r-mitir discernir o movimer.to contrad.tório das tra nsfor-mações do real, em sua global idade.

b) Esta teoria crítica, não basta ser formulada ou compre -endida, é necessário, que ela permita uma leitura cria

-2) VASQUEZ, A. Sanchez. Filosafia da Praxis. 2~ ed., Rio de Janeiro, Ed. Paz e ferra, p. 153.

3) Vasquez comen.a com bastante clareza as teses de Marx sobre Fe:verbach nas páginas 148 a 164 da obra citada.

(3)

A primeira reflexão se refere ao lugar da teoria e da prática no conhecimento científico. A mesma questão pode ser colocada tomando-se o problema da relação entre a teoria e os dados empíricos na produção do conhecimento ci entí-fico. A quem cabe a prioridade e a quem cabe o primado?

Este problema toca a questão fundamental da irredutibili-dade do ser ao pensar, da primazia do dado objetivo sobre a capacidade de abstraí-Io no terreno do conhecimento, enfim, da prioridade e do primado da existência sobre a consciência.

Isto, evidentemente, colocado ao nível da ontologia.

Diferente se coloca a questão sob o aspecto da gnosiolo-gia ou da produção do conhecimento. Na produção cio conhe-cimento, o movimento é inverso, ele vai da teoria ao fato, da abstração

à

sua comprovação; a prioridade é dada

à

teoria, embora o primado seja confiado

à

sua comprovação pela prá-tica. O critério da verdade é a prática, e não os atributos da teoria, clareza, evidência ou outro aspecto ...

Este ponto nos leva mais adiante na reflexão sobre a articulação teoria e prática. ~ o ponto mais difícil, porque é onde a divisão social do trabalho mais interfere. Explique-mo-nos. O conhecimento verdadeiro decorre não do objeto, mas da atividade prática transformadora, presidida por uma teoria crítica onde os termos sujeito-objeto não se opõem mas se interagem. O conhecimento é concebido nesta reta -ção, nesta atividade, "como conhecimento de objetos produ-zidos por uma atividade prática, da qual a atividade pensante, da consciência (... ) não pode ser separada".

(

2

)

6. Este debate, que tem mais de cem anos, tem contra S~1a solução as condições históricas da divisão social do tra-balho, da relação ser e saber, e, sobretudo, da

relação

saber e poder.

liA superação do idealismo e do materialismo tradicional havia de consistir, portanto, na

neq

s

ção

da atitude contem-plativa do segundo e na negação da atividade em sentido idea-lista, especulativo, do primeiro. A verdadeira atividade é revo-lucionária, crítico-prática; o que vale dizer, transformadora e, portanto, revolucionária, mas ao mesmo tempo sem ser mera contemplação, já que é teoria que guia a ação, e prática, ou ação guiada pela teoria. A crítica - a teoria, ou a verdade que contém - não existe

à

margem da praxis".

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3

)

A radicalidade das questões levantadas por Marx nas teses sobre Feverbach não nos deve fazer perder de vista os passos a serem dados:

a) Na formação universitária há teorias e teorias. Há teo -rias que em nada contribuem para discernir as trans -formações do- real, são teorias acríticas. Quanto menos aptas a discernir o movimento das transformações do real, menos interesse há em estudá-Ias, menos incidem sobre o real. A teoria deve ser crítica, isto é, deve pe r-mitir discernir o movimer.to contrad.tório das tra nsfor-mações do real, em sua global idade.

b) Esta teoria crítica, não basta ser formulada ou compre-endida, é necessário, que ela permita uma leitura cria-3. Estas reflexões sobre a articulação da teoria e da

práti-ca, opõem-se assim, a duas outras concepções que estão - mais freqüentes na vida universitária, a articulação

idea-lista, pela qU9.1 o fundamento do conhecimento científico

se encontra na capacidade criativa da consciência, como fonte ontológica da verdade, como cap:cidade ordena-dora do caos da realidade concreta. A concepção idea-lista acentua, mesmo que unilateralmente, a capacidade ativa do espírito humano, e sobre este aspecto, tem seus méritos. Ela representa uma reação

à

concepção mate-rialista tradlc'onal, que por sua vez, ressalta, também unilateralmente, a objetividade do real, menosprezando o papel da inteligência humana na elaboração do ccnhecí-mento.

4. Opõem-se também a esta concepção emo'rtste ou

mate-rialista tradicional. que atribui ao dado, ou

à

cornpi

la-ção dos dados, a capacidade de sua compreensão, como se o real desse de si, sem a teoria, a interpretação de si. Esta concepção é a base da concepção positivista que em grande parte domina a formação científica na uni-vers.dade.

5. A visão dialética opõe-se a este tipo de articulação, e, mais ainda, opõe-se a que o real (concreto) possa ser atingido, apenas por um esforço da atividade teórica, mesmo que presidida por uma visão crítica.

2) VASQUEZ, A. Sanchez. FUosafia da Praxis. 2~ ed., Rio de Janeiro,

Ed. Paz e ferra, p. 153.

3) Vasquez comen.a com bastante clareza as teses de Marx sobre

Feverbach nas páginas 148 a 164 da obra citada.

(4)

tiva das real

i

dades objetivas.

Este, talvez,

é

o ponto

crucial na formação universi

t

ária. As teorias estudadas

o mais das vezes não permitem uma leitura crítica do

real

.

As teorias críticas de

J

em permitir uma le

i

tura do

concre-to-real

.

Esta questão, a

i

nda não nos transfere do campo

teó-r

i

co, mas n

o

s permite articular at

e

orta

com a prática, no

cam-po teór

i

co, o qual com a divisão soci

a

l do trabalho lrnperante,

parece ser a tarefa principal da universidade

.

Resumo. A arti

culação

teoria-prática

deve ter como pano de

fundo as reflexões acima

evocadz,s

(que se situam ainda

no campo teór

i

co)

:

-

primado e prioridade

da existênc

i

a sobre a

consciên-cia, do ser sobre o pensar.

na produção

do conhec'mento

:

prioridade

da teoria

(do abstrato ao concreto) e primado da

prát'ca

(cri-tério e fundamento

da verdade do conhecimento).

a não separação sujeito-objet

o

,

ou seja, a relação

pro-funda ativa e obj

e

tiva do sujeito em relação ao objeto

de conhecimento,

no sentido de que: de um lado, o

conhec

i

mento

não se dá meramente como

contempla-ção do objeto, como a

t

ividade

passiva,

mas

como

ação humana

,

crítico-transformadora

(crítica ao

mate-rialismo tradicional

(4)

de outro lado, o conhecimento

não é mera esp

e

culação, cujo objeto seria meramente

fruto da atividade subjetiva do homem, como se o

su-[e.to não capt

a

sse objetos em si, mas apenas

produ-tos de sua atividade (crít

i

ca ao idealismo)

,

-

A articulação

teoria-prática

deve permitir:

discernir

entre as teorias, as que são

crítico-trans-formadoras (e que portanto são mais objetivas

por-que a realidade é móvel e histórica);

ler através da teoria, o histórico

existente, de tal

forma que a ação concreta (prática), quando se

co-locar, permita uma ação transformadora.

4) "O objeto do conhecimento é produto da atividade humana, e como

tal não como mero objeto da con.ernplação - é conhecido pelo

homem". Vasquez, ibidem p, 152.

114

Educação em Debate, Fort. (11) Janeiro/Junho: 1986

-

A superação da separação teoria e prática tem pata

-mares, no terreno da concepção, no terreno da prática

pedagógica (portanto,

no ensino

uníversltárlo)

e no

ter-reno da prática-ação

(atividade profissional).

As dificuldades

,

no momento, para o objetivo acadêmico

a que nos propomos, se encontram

mais ao nível dos dois

pr

i

meiros terrenos, porque é neste campo que se situa a

ta-refa universitária

de formação,

uma vez que a un

l

vers.dade

se inscreve num contexto de divisão social do trabalho, onde

o trabalho

intelectual

é

separado do trabalho

manu

a

l -

a

formação

é

separada do exercício

da profissão.

(5)

tiva das real

i

dades objetivas.

Este, talvez, é o ponto

crucial na formação universi

t

ária. As teorias estudadas

o mais das vezes não permitem uma leitura crítica do

real

.

As teorias críticas de

~

em permitir uma le

i

tura do

concre-to-real

.

Esta questão, a

i

nda não nos transfere do campo

teó-r

i

co, mas n

o

s permite articular at

e

orta

com a prática, no

cam-po teór

i

co, o qual com a divisão soci

a

l do trabalho lrnperante,

parece ser a tarefa principal da universidade

.

Resumo.

A art

i

culação

teoria-prática

deve ter como pano de

fundo as reflexões acima

evocadz,s

(que se situam ainda

no campo teór

i

co)

:

-

p

r

imado e prioridade

da existênc

i

a sobre a

consciên-cia, do ser sobre o pensar.

na produção

do conhecimento

:

prioridade

da teoria

(do abstrato ao concreto) e primado da

prát'ca

(cri-tério e fundamento

da verdade do conhecimento).

-

a não separação sujeito-objet

o

,

ou seja, a relação

pro-funda ativa e objetiva do sujeito em relação ao objeto

de conhecimento,

no sentido de que: de um lado, o

conhec

i

mento

não se dá meramente como

contempla-ção do objeto, como a

t

ividade

passiva,

mas

como

ação humana

,

crítico-transformadora

(crítica ao

mate-rialismo tradicional

(4)

de outro lado

,

o conhecimento

não

é

mera esp

e

culação, cujo objeto seria meramente

fruto da atividade subjetiva do homem, como se o

su-[e

.

to não capt

a

sse objetos em si, mas apenas

produ-tos de sua atividade (crít

i

ca ao idealismo)

.

-

A articulação

teoria-prática

deve permitir:

discernir entre as teorias, as que são

crítico-trans-formadoras (e que portanto são mais objetivas

por-que a realidade é móvel e histórica);

ler através da teoria, o histórico

existente, de tal

forma que a ação concreta (prática), quando se

co-locar, permita uma ação transformadora.

4) "O objeto do conhecimento é produto da atividade humana, e como tal não como mero objeto da con.emplação - é conhecido pelo

homem". Vasquez, ibidem p, 152.

114

Educação em Debate, Fort. (11) Janeiro/Junho: 1986

-

A superação da separação teoria e prática tem

pata-mares, no

terreno da concepção,

no

terreno da prática

pedagógica

(portanto

,

no ensino un

i

versitár

i

o) e no

ter-reno da prática-ação

(atividade profissional)

.

As dificuldades

,

no momento, para o objetivo acadêmico

a que nos propomos, se encontram

mais ao nível dos dois

primeiros terrenos, porque é neste campo que se situa a

ta-refa universitária

de formação,

uma vez que a un

i

vers

.

dade

se inscreve num contexto de divisão social do trabalho, onde

o trabalho-

intelectual

é separado do trabalho

manu

a

l -

a

formação é separada do exercício

da profissão.

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