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A oferta de crédito e a inadimplência no Brasil

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DACEC – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS, CONTÁBEIS, ECONÔMICAS E DA COMUNICAÇÃO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM FINANÇAS E MERCADO DE CAPITAIS – MBA, 2ª edição 2013/2014

VINÍCIUS ZANCANARO

A OFERTA DE CRÉDITO E A INADIMPLÊNCIA NO BRASIL

Ano/semestre letivo: 2015 / 2o Semestre Campus: Ijuí, RS

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VINÍCIUS ZANCANARO

A OFERTA DE CRÉDITO E A INADIMPLÊNCIA NO BRASIL

Artigo apresentado ao curso de Pós-Graduação lato sensu em Finanças e Mercado de Capitais, do Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis, Econômicas e da Comunicação (Dacec), da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Finanças e Mercado de Capitais.

Orientadora: mestre Marlene Köhler Dal Ri

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A OFERTA DE CRÉDITO E A INADIMPLÊNCIA NO BRASIL1

Vinícius Zancanaro2 Marlene Koehler Dal Ri3 Resumo: O presente estudo trata do crédito ofertado no mercado brasileiro no período de 2004 a 2015. Seu objetivo é analisar o perfil do consumidor brasileiro e as dificuldades com as quais se defronta para pagar as suas dívidas, além de questões relativas aos empréstimos, taxa de juros e inadimplência nas diferentes regiões do país. O fácil acesso ao crédito tem levado muitas pessoas ao endividamento e à inadimplência e, nesse cenário, encontram empresas que lhes emprestam dinheiro a juros elevados, fazendo com que se endividem ainda mais. Ressalta-se o importante papel do economista neste mercado de trabalho, visando auxiliar as pessoas a conquistarem a educação financeira. O estudo constitui-se numa pesquisa quali-quantitativa, de cunho bibliográfico, cujo tema se destaca pela sua relevância, principalmente pelo fato de se estar vivenciando um período de crise financeira no país, em que 46,3% da população (Banco Central) estão endividados, e 73% da população (Banco Central) consideram que a situação econômica tem piorado muito nos últimos anos. Ademais, a taxa de juros é a mais alta (14,25%) (Banco Central) dos últimos 10 anos, e a inadimplência aumentou consideravelmente ao longo desse período, havendo hoje cerca de 56,4 milhões de consumidores inadimplentes (Banco Central), cujas dívidas somam cerca de 243 bilhões de reais (Banco Central). A contratação de um consultor financeiro é recomendada para quem pretende evitar ou já possui problemas financeiros. A grande maioria das pessoas não possui autodisciplina para controlar e planejar suas próprias finanças, especialmente porque o mercado financeiro tornou-se bastante dinâmico e complexo nas últimas décadas. É nesse cenário que o consultor financeiro contribui, ajudando na organização pessoal e na tomada de decisões.

Palavras-chave: Crédito. Empréstimos. Juros. Inadimplência. Educação financeira.

Abstract: This study deals with the credit offered in the Brazilian market from 2004 to 2015. Its objective is to analyze the profile of Brazilian consumers and the difficulties that it faces to pay their debts, as well as issues relating to loans rate interest and default in the different regions of the country. Easy access to credit has led many people to debt and bad debt and, in this scenario, are companies that lend them money to abusive interest, making them even more debt. It emphasizes the important role of the economist in the labor market, aiming to help people to earn their financial education. The study constitutes a qualitative and quantitative research, bibliographic nature, the theme stands out for its importance, mainly because to be experiencing a period of financial crisis in the country, where 46.3% of the population (Central Bank) they are in debt, and 73% of the population (Central Bank) believe that the economic situation is much worse in recent years. Moreover, the interest rate is the highest (14.25%) of the last 10

1 Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de pós-graduação lato sensu em Finanças e Mercado de

Capitais, do Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis, Econômicas e da Comunicação (Dacec), da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Finanças e Mercado de Capitais. Ijuí, RS, mar./2016.

2 Pós-graduando do curso de Finanças e Mercado de Capitais da Unijuí; graduado em Economia pela Unijuí.

E-mail: economista.zancanaro@yahoo.com.br.

3 Orientadora, mestre, docente do curso de Economia, Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis,

Econômicas e da Comunicação (Dacec), da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí). E-mail: mkdalri@unijui.edu.br.

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years, the default rate has increased considerably over this period, with now about 56.4 million of delinquent consumers, whose debts amount to about 243 billion real. Hiring a financial advisor is recommended for those who want to avoid or already have financial problems. The vast majority of people do not have self-discipline to control and plan their own finances, especially because the financial market has become very dynamic and complex in recent decades. It is in this scenario that the financial advisor helps, helping in personal organization and decision-making.

Key words: Credit. Loans. Interest. Delinquency. Financial education. INTRODUÇÃO

O apelo ao consumo é a marca da contemporaneidade. A facilidade de acesso aos bens de consumo traz consigo ainda outra face bastante comum entre a maioria dos indivíduos: o endividamento. São contas atrasadas, cartões de crédito estourados, dívidas com amigos e parentes, uso constante do cheque especial, inúmeros empréstimos consignados, nome sujo na praça e cobradores ligando ou batendo à porta.

Para evitar todo esse cenário é importante compreender e evitar os fatos que levam ao endividamento, seguindo uma orientação financeira adequada que esclareça e permita o indivíduo a viver de acordo com os seus rendimentos. A orientação de consultores em finanças pessoais e especialistas em orçamento doméstico recomenda que, inicialmente, o indivíduo busque o apoio da família a fim de rever os padrões de consumo. A meta de adequação dos gastos familiares ao seu rendimento deve ser de todos os integrantes da casa.

Em seguida, a família deve identificar as pequenas despesas supérfluas do dia a dia, como a ida diária à cafeteria perto do local de trabalho, ou a rotineira compra de guloseimas para as crianças. A conta de itens que parecem inofensivos no dia a dia gera um valor expressivo ao final de um mês, e influi sobremaneira no orçamento familiar.

Finalmente, é preciso planejar todas as despesas e gastos extras. Isso exige resistir aos apelos de consumo, o que ao final vai proporcionar uma vida mais tranquila, sem sobressaltos e tampouco endividamentos. Nessa fase de controle do orçamento doméstico é fundamental anotar todas as despesas, inclusive os pequenos gastos do dia a dia.

Casos em que a dívida já esteja instalada e que a situação parece ter fugido do controle doméstico requerem maior atenção. Inicialmente é preciso admitir que a dívida existe para, em seguida, calcular o nível de endividamento.

O presente estudo trata do crédito ofertado no mercado brasileiro no período de 2004 a 2015, e visa responder à seguinte questão-problema: a facilidade de acesso ao crédito no Brasil, no período de 2004 a 2015, colaborou para o elevado percentual de inadimplência que atualmente existe no país?

Trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa pois reúne tanto aspectos qualitativos como quantitativos. A pesquisa qualitativa é descritiva, enquanto que a pesquisa quantitativa traduz em números as opiniões e informações a fim de serem classificadas e analisadas (RODRIGUES, 2007). Quanto aos procedimentos técnicos, o estudo constitui-se numa pesquisa bibliográfica, elaborada a partir de material publicado em periódicos e sites eletrônicos (KELM, 2004, p. 43). A pesquisa bibliográfica “é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas. Fornece instrumental analítico para

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qualquer outro tipo de pesquisa, mas também pode esgotar-se em si mesma”. (VERGARA, 2000, p. 112)

O objetivo do estudo, portanto, é analisar o perfil do consumidor brasileiro, e as dificuldades com as quais se defronta para pagar as suas dívidas, além de analisar questões relativas aos empréstimos, taxa de juros e inadimplência nas diferentes regiões do país. Ressalta-se o importante papel do economista neste mercado de trabalho, visando auxiliar as pessoas a atingirem a educação financeira.

O tema é relevante principalmente pelo fato de se estar vivenciando um período de crise financeira no país, em que 46,3% da população estão endividados, a taxa de juros é a mais alta (14,25%) dos últimos 10 anos, e a inadimplência aumentou consideravelmente ao longo desse período. O tema foi escolhido por estar relacionado ao trabalho desenvolvido pela EduQI – Orientação Financeira, empresa em que atua o acadêmico, autor deste estudo.

O estudo também visa a atender às exigências do curso de pós-graduação em Finanças e Mercado de Capitais da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí).

1 O ACESSO AO CRÉDITO – OFERTA x ENDIVIDAMENTO

A origem da palavra “crédito” vem do latim – coisa confiável – e está diretamente ligada à confiança depositada em alguém ou alguma coisa. Assim, todo o crédito está baseado na confiança, na esperança de que o devedor pague pelo que lhe é fornecido (SECURATO; FAMÁ, 1997).

Conforme Schrickel (1995, p. 25) o conceito de crédito é um pouco mais abrangente:

Crédito é todo ato de vontade, ou disposição de alguém de destacar ou ceder, temporariamente, parte de seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa de que essa parcela volte a sua posse integralmente, após decorrido o tempo estipulado.

Na atualidade, o crédito representa os recursos financeiros obtidos de bancos ou financeiras que antecipam o consumo para aquisição de bens ou contratação de serviços. São várias as modalidades de crédito: empréstimos financeiros, limite do cheque especial, cartão de crédito, financiamentos imobiliários ou de veículos, compra a prazo, etc. (BCB, 2013).

Ao adquirir um empréstimo, muitas pessoas apenas avaliam se o valor da prestação cabe no seu orçamento. É importante, entretanto, avaliar a real necessidade desse crédito e estar atento a algumas desvantagens, como: pagamento de juros, risco de endividamento, e limite de consumo futuro.

Nos períodos de 2009, 2010, 2012 e 2013 houve uma significativa redução na taxa de juros no Brasil (ficando entre 8,00 e 8,75% ao mês), o que gerou um maior acesso ao crédito, ampliando o poder de consumo de grande parte da população.

Se por um lado essa redução de juros proporcionou maior poder de compra, por outro facilitou o endividamento daquelas pessoas que não possuem uma educação financeira, fazendo com que expressiva parte de sua renda ficasse comprometida com o pagamento de prestações, empréstimos e juros.

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Em abril de 2015, quando a taxa de juros já estava num patamar superior a 14% ao mês, o Banco Central aprovou um aumento na margem disponível para empréstimos consignados4, passando de 30 a 40%. Em razão dessa facilidade na liberação de crédito, muitas pessoas perderam o controle e acabaram se endividando, pois a pessoa que tem a metade da sua renda comprometida com pagamentos de empréstimos bancários está fadada ao endividamento. Os indivíduos mais pobres, segundo Suplicy (2000), poupam pouco e são frequentes devedores, obrigados a pagar as altas taxas de juros que o sistema financeiro lhes cobra, fazendo com que permaneçam nessa faixa econômica, constantemente preocupados e negativados.

É comum ouvir na TV ou em outras mídias que o negativado possui crédito pré-aprovado ou que os limites do cheque especial e do cartão de crédito podem ser aumentados e estão à disposição dos interessados. Cabe, nesses casos, ficar atento, pois tais propostas costumam ter as maiores taxas de juros, e levam facilmente ao endividamento e à inadimplência.

Um exemplo desse tipo de empréstimo é o da Crefisa, que cobra juros altos e por isso é uma opção apenas para emergências. No empréstimo pessoal dessa financeira a média de juros cobrada é de 19,73% ao mês contra uma taxa média de 7,91% ao mês cobrada pelos bancos que trabalham com empréstimo pessoal, segundo dados do Banco Central do Brasil de 05 de outubro de 2015 (CREFISA, 2016).

Pode-se exemplificar este tipo de empréstimo da seguinte forma: se o indivíduo pegar R$ 5 mil para pagar em seis parcelas a juros de 19,73% ao mês, ele terá de pagar seis parcelas de R$ 1.493,46, totalizando R$ 8.960,78.

A Crefisa é uma das poucas financeiras que empresta dinheiro para quem está negativado. Mas isso não quer dizer que ela não faça uma análise de crédito antes de liberar o empréstimo. Dependendo da renda ou da quantidade de débitos da pessoa a Crefisa pode não liberar o empréstimo. Recentemente, o slogan de divulgação da financeira passou a ser “Aqui você tem dinheiro para limpar o seu nome”.

Outro ponto importante é que a Crefisa só faz empréstimo para servidores públicos, aposentados e pensionistas, sendo esta uma forma de garantir o recebimento dos valores emprestados.

Os aposentados estão sendo seduzidos por publicidades veiculadas amplamente nos meios de comunicação e assediados por agenciadores e correspondentes dos bancos. O motivo é que se tornaram o novo ‘filão’ dos empréstimos bancários através do crédito consignado, operação com risco zero para os bancos, pois permite que o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) desconte a prestação diretamente do valor do benefício pago ao aposentado ou pensionista. (LIMA; BERTONCELLO, 2010, p. 54-55).

Com a facilidade na liberação de crédito, portanto, o brasileiro aumentou o seu consumo e boa parte da população passou a gastar mais do que ganhava. Infelizmente, o hábito de controlar as finanças pessoais é uma prática pouco difundida entre a população brasileira, o que favorece o endividamento familiar e pessoal. A falta de controle dos gastos pessoais permite

4 Empréstimo consignado: o empréstimo consignado é um tipo de empréstimo onde as parcelas são descontadas diretamente do salário da pessoa que fez o empréstimo. Essa regra é prevista na lei e também é um dos motivos de as taxas de juros serem bem menores. A modalidade de empréstimo foi autorizada pela Lei n° 10.820/2003, cuja característica central é a concessão de financiamentos a consumidores mediante o desconto das prestações diretamente em sua folha de pagamento ou benefício (WIKIPÉDIA, 2016).

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afirmar que o grau de endividamento das pessoas é resultado do consumismo que caracteriza a sociedade, tema dos itens que seguem.

1.1 Empréstimos

São inúmeras as linhas de crédito e de empréstimo existentes no Brasil, e todas elas apresentam vantagens e desvantagens. Como qualquer operação financeira, toda a tomada de recursos financeiros gera uma taxa de juros e, por essa razão, requer prudência e atenção.

Existem diversos tipos de empréstimo, os quais se adéquam aos diferentes perfis de clientes, sendo necessário escolher entre aqueles que melhor se encaixam nas necessidades do indivíduo. Passa-se, então, a relacionar os principais tipos de empréstimo (BACEN, 2016): ― Empréstimo consignado: dirigido a funcionários de órgãos públicos, aposentados,

pensionistas e empresas privadas. As parcelas são descontadas diretamente na folha de pagamento do tomador do empréstimo, constituindo-se por essa razão numa excelente forma de crédito para pessoas pouco organizadas financeiramente. A taxa de juros é baixa em relação às demais modalidades de crédito existentes no mercado.

― Cheque Especial: trata-se de um crédito pré-aprovado com um limite de recurso em dinheiro, disponibilizado pela instituição financeira diretamente na conta corrente do indivíduo que o utiliza da forma que melhor lhe aprouver. A vantagem é que o recurso está disponível para ser utilizado quando for preciso, não necessitando recorrer à agência bancária para sua liberação. O ponto negativo, contudo, são os altos juros que incidem sobre essa modalidade de empréstimo, sendo necessário muita prudência para sua utilização. ― Empréstimo Rotativo: é uma modalidade de empréstimo que está disponível no cartão de

crédito, e que permite o pagamento parcial de um valor utilizado. A taxa de juros dessa espécie de empréstimo é uma das mais altas que existe no mercado e, por essa razão, só deve ser usado em casos de extrema necessidade. Sua frequente utilização leva o tomador a ser escravo do empréstimo rotativo, ficando refém da fatura do cartão de crédito.

― Empréstimo com Penhor: trata-se de uma forma de acesso rápido e desburocratizado ao crédito, em que o indivíduo não precisa passar pela análise de cadastro de crédito, tampouco precisa apresentar avalista. E, mesmo estando com restrições de crédito no SPC, Serasa ou CCF, ele pode penhorar um bem e dispor do empréstimo. Entretanto, é preciso atentar para os custos desse tipo de empréstimo, os quais também podem ser altos, variando entre 5 e 10%. Ademais, o resgate do bem penhorado é fundamental, caso contrário o prejuízo acaba extrapolando, pois o valor total avaliado é sempre superior ao valor do bem.

― Crédito Pessoal: constitui-se num empréstimo concedido pelas instituições bancárias e adquirido por uma entidade financeira autorizada com vistas à compra de bens de consumo ou outros produtos. O valor é depositado na conta corrente do cliente que não é obrigado a esclarecer o destino do valor. As taxas de juros podem variar entre 3 a 7% ao mês, dependendo do banco.

― Aquisição de Veículo: para esse fim existem três modalidades de empréstimo: Crédito Direto ao Consumidor (CDC), leasing e consórcio.

 Crédito Direto ao Consumidor (CDC): ao realizar o empréstimo em um banco para comprar um carro, o comprador fica de posse do veículo, mas o bem fica alienado à instituição financeira até que sejam pagas todas as suas prestações. Existe a possibilidade de o comprador fazer o contato diretamente com o banco, sem haver

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intermediação da loja em que foi adquirido o veículo (concessionária). Assim, ele pode negociar as taxas de juros, as quais são fixadas no início do contrato e não podem ser alteradas durante o pagamento das prestações.

 Leasing: neste caso o carro é comprado pela empresa de leasing que o aluga ao consumidor. O carro fica no nome da empresa de leasing até o término do pagamento das prestações, quando ele passa a ser o verdadeiro dono do carro. O contato com esses bancos também pode ser feito sem intermediação da concessionária de veículos, facilitando uma negociação direta da taxa de juros.

 Consórcio: é formado um grupo de compradores que são organizados por uma empresa de consórcio. Neste caso, o cliente paga as prestações, mas só recebe o carro quando for sorteado. Cabe esclarecer que mensalmente uma pessoa é sorteada, até que todos tenham sido contemplados. Diferente do CDC e do leasing, no consórcio as prestações sofrem alterações, seguindo a valorização do automóvel a ser adquirido. Os contratos podem ser de dois, três ou cinco anos. É cobrada, também, uma taxa de administração que cobre as despesas dos serviços oferecidos pela empresa, a qual também varia de uma empresa para outra.

Após discorrer sobre os principais tipos de empréstimo passa-se agora a analisar os juros, a sua formação e implicação nos diferentes tipos de empréstimo.

2 JUROS

Juros são o rendimento que se obtém ou se paga ao se emprestar ou utilizar dinheiro de outro por um determinado período. Para o credor os juros são uma compensação pelo tempo que ficará sem utilizar o dinheiro emprestado (SIGNIFICADOS, 2016).

Ao contrair um empréstimo pessoal de longo prazo é importante saber a diferença entre juros pré e pós-fixados, bem como as vantagens e desvantagens de cada modalidade.

A taxa de juros pré-fixada permite ao consumidor conhecer, na data da contratação do empréstimo, o valor exato de todas as parcelas vincendas, as quais permanecem fixas durante todo o período de vigência do contrato. Já a taxa de juros pós-fixada é vinculada aos índices de inflação, ou às taxas de juros de curto prazo, podendo variar conforme a economia do país.

Quanto ao financiamento imobiliário, por exemplo, é comum que a taxa de juros pós-fixada esteja relacionada à Taxa Referencial (TR) de juros, que serve de base para a remuneração das cadernetas de poupança. Outras modalidades de empréstimo, contudo, também podem estar relacionadas a distintos índices de inflação, como o Índice de Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), que é a medida oficial da inflação, calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ou Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), calculado pela Fundação Getúlio Vargas.

Isso significa que o consumidor que fizer sua opção pelos juros pós-fixados terá o valor de sua prestação alterado mensalmente, normalmente para cima, sem nenhuma previsão de cálculo. Muitas agências financeiras que trabalham com taxas de juros pós-fixadas costumam cobrar prestações iniciais mais baixas, o que oferece uma momentânea ilusão de que tais taxas sejam mais baixas em relação às pré-fixadas.

É praticamente impossível determinar a melhor opção de taxa de juros no momento da contratação, pois não é possível prever o futuro. O que se pode fazer nesse sentido é observar

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o valor da taxa de juros nominal oferecida em cada caso e, com relação à taxa pós-fixada, avaliar a perspectiva da evolução futura da taxa referencial ou do índice de inflação associado.

A instabilidade econômica agrava essa situação, já que a taxa de juros pós-fixada poderá representar um potencial problema no futuro, pois a TR ou o índice de inflação poderiam subir substancialmente, incrementando de forma indesejável as parcelas do empréstimo ou financiamento. Por outro lado, numa situação de segurança econômica, isto é, com a inflação estável ou declinante, a taxa de juros pós-fixada pode ser a opção mais vantajosa.

Cabe lembrar ainda que a melhor opção entre a taxa de juros pré e pós-fixada pode variar de acordo com o perfil do consumidor. Se o contratante prioriza a segurança e se sente mais confortável sabendo o valor de todas as parcelas do seu empréstimo, mesmo que esteja pagando mais juros nominais, então a taxa de juros pré-fixada é a sua melhor opção.

2.1 Histórico das taxas de juros fixadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) A taxa de juros Selic é conhecida como a taxa básica de juros da economia brasileira, utilizada no mercado bancário para remunerar as operações que têm a duração de um dia (overnight). Tais operações têm base em títulos públicos federais listados e negociados no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) do Banco Central do Brasil (BCB).

Outra utilização da taxa Selic de juros são as transações de empréstimo de curto prazo entre bancos, os quais usam títulos públicos federais como garantia a fim de reduzir o risco e, também, a remuneração da transação. A taxa Selic de juros considera um período anual de 252 dias úteis. Na sequência, o quadro 1 apresenta evolução anual da taxa Selic de juros no período de 2004 a 2015.

Quadro 1. Taxas de juros Selic fixadas pelo Copom

Ano Taxa (%) 2004 16,50 2005 19,75 2006 14,75 2007 12,50 2008 11,25 2009 8,75 2010 8,75 2011 11,75 2012 8,00 2013 8,50 2014 11,00 2015 14,25 Fonte: Bacen (2015).

O quadro 1, supra, demonstra as diferentes oscilações da taxa básica de juros no Brasil, o que interfere na oferta de crédito do sistema financeiro, na demanda pelo crédito e nos juros praticados pelas instituições financeiras.

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Dados divulgados no site eletrônico do Bacen (2015) revelam que no período compreendido entre 01/07/1996 e 04/03/1999 o Comitê de Política Monetária (Copom) fixava a taxa básica de juros. A partir daquela data passou a vigorar a taxa Selic de juros e, em 02/01/1998 as taxas de juros passaram a ser fixadas na expressão anual. Em geral, a taxa Selic é ajustada para controlar a inflação de produtos e serviços e a taxa cambial, controlando a oferta de dólar no mercado interno, fazendo com que o dólar baixa ou suba.

2.2 Juros do Cartão de Crédito

O aumento da taxa básica de juros, a Selic, para 14,25%, em 2015, assustou quem costuma usar cartão de crédito e contrair empréstimos. Com a elevação da taxa Selic, os juros ao consumidor chegaram a 124,63% ao ano, em comparação aos 120,43% do ano anterior. Quem utiliza o rotativo do cartão de crédito, por exemplo, teve os juros aumentados para 12,54% ao mês, ou seja, 312,75% anuais. Na figura 1, a seguir, pode-se visualizar a arrancada que teve a taxa Selix de juros cobrada nos empréstimos do cartão de crédito.

Figura 1. Evolução da taxa Selic de juros do cartão de crédito (2013 a 2015)

Fonte: Belloni (2015).

O dinheiro que é utilizado no pagamento dos juros poderia, enfim, servir para outros fins, como para o bem-estar da família, explica Reinaldo Domingos, educador e terapeuta financeiro (BELLONI, 2015).

Mediante a constatação e entendimento dos juros caros cabe sempre refletir bem antes de contrair uma dívida. O cartão de crédito e o cheque especial podem trazer vantagens, se bem utilizados, mas se forem mal usados podem causar sérios danos à saúde financeira do indivíduo.

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Compreende-se, então, que o problema do endividamento com o cartão de crédito está em certos hábitos errados mantidos pelos consumidores. Para auxiliar na correta utilização dessa modalidade de empréstimo, Domingos (apud BELLONI, 2015) enumera algumas recomendações baseadas em hábitos errados com relação à utilização do cartão de crédito:

1) Gastar mais do que recebe: o recomendado é não deixar o limite do cartão ultrapassar 50% do salário ou da renda mensal.

2) Comprometer o orçamento dos próximos meses: ter a consciência de que tais parcelas fixas irão comprometer a renda nos próximos meses.

3) Pagar a parcela mínima: em função das altas taxas de juros há um grande risco de inadimplência. Se não for possível pagar a parcela total é recomendado que se procure outra linha de crédito cujas taxas de juros não ultrapassem 2,5% ao mês. 4) Pagar anuidade do cartão: é possível encontrar cartões que não cobram taxa de

manutenção.

5) Emprestar o cartão de crédito para outros: trata-se de grave erro financeiro e jurídico, pois se a pessoa não pagar suas contas, o titular será responsabilizado pela dívida.

6) Possuir vários cartões: caso houver apenas um ganho mensal recomenda-se um único cartão; se o ganho for semanal a pessoa pode ter até três cartões, com vencimentos para os dias 10, 20 e 30 de cada mês.

7) Você nunca aproveita qualquer benefício do cartão: é preciso ficar atento a esses benefícios e cobrá-los do banco.

8) Seus problemas financeiros viram uma bola de neve: para não perder o controle sobre o cartão de crédito é preciso fazer um diagnóstico e descobrir os problemas e evitar repeti-los.

9) Você nunca pede desconto: sempre que uma compra for paga à vista o consumidor tem direito a pedir desconto. No cartão de crédito os juros já estão embutidos. 10) Você compra por impulso: ao ser utilizado sem consciência, o cartão de crédito

colabora nas compras por impulso. É preciso se perguntar constantemente se realmente aquela compra é necessária, ou seja, se tem dinheiro para pagar o total da fatura no mês seguinte.

2.3 Juros do Cheque Especial

O cheque especial é uma margem financeira que fica à disposição do correntista quando este excede o seu limite da conta corrente. É importante, contudo, que o correntista não confuda este valor com o saldo disponível em sua conta, o que ocorre facilmente, uma vez que os bancos costumam somar o limite do cheque especial com o valor do saldo em conta, confundindo os clientes.

Os juros cobrados por este tipo de empréstimo costumam ser elevados, entretanto, algumas instituições financeiras não cobram juros num prazo de até 10 dias de sua utilização.

Num empréstimo comum o agente financeiro costuma analisar o comportamento do consumidor, seu potencial de pagamento da dívida e decide se lhe empresta ou não o dinheiro. No caso do cheque especial a dinâmica assume outra proporção, pois o banco não sabe quando

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terá o seu dinheiro de volta, tampouco se o cliente vai conseguir pagar a dívida. Neste caso, ele espera que algum dinheiro seja depositado na conta para imediatamente descontar o valor da dívida. Os altos juros cobrados pelo empréstimo são uma forma de garantir o retorno do capital.

A figura 2, a seguir, mostra a evolução dos juros cobrados pelo empréstimo do cheque especial, no período de 2013 a 2015.

Figura 2. Evolução dos juros cobrados pelo empréstimo do cheque especial (2013 a 2015)

Fonte: Belloni (2015).

É importante que o consumidor saiba que o cheque especial somente deve ser utilizado em caso de emergência, como por exemplo, quando está com pouco dinheiro na conta e necessita comprar algum medicamento ou pagar uma conta, mas sabe que receberá o salário nos próximos dias, cujo valor irá pagar o empréstimo. Nesse caso, o dinheiro do cheque especial atenderá à necessidade do consumidor, que poderá repô-lo dentro de alguns dias.

Após descrever conceitos e aplicações dos juros e do cheque especial, o item que segue traz as consequências de endividamentos que levaram à inadimplência.

3 INADIMPLÊNCIA

Os empréstimos são a causa mais comum de endividamento dos consumidores, principalmente em razão de não manterem um comportamento adequado para poupar dinheiro, administrar as finanças e pagar as dívidas.

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3.1 O mapa da inadimplência no Brasil

Estudos realizados em 2014 pelo Serasa Experian fizeram o traçado do mapa da inadimplência no Brasil, e revelaram que ela ocorre de maneira distinta nas várias regiões do país. O estudo foi realizado de forma abrangente pela primeira vez, e tomou como base todos os municípios brasileiros com população acima de 1.000.000 de habitantes, revelando que existem diferentes índices de inadimplência de acordo com a maneira como o tema é avaliado – por cidades e regiões brasileiras.

A figura 3, a seguir, apresenta o mapa da inadimplência no país, resultado da pesquisa realizada pelo Serasa Experian, no ano de 2014.

Figura 3. Mapa da Inadimplência no Brasil (2014)

Fonte: Serasa Experian (2014).

Os dados mostram que entre as capitais estaduais, Manaus, no Amazonas, é a mais inadimplente: 38,1%, seguida por Porto Velho (RO), com 37,2%, e Macapá (AP), com 36,4%, todas na região Norte do país. A causa dessa alta inadimplência nas capitais das regiões Norte e Nordeste deve-se à menor renda per capita em relação às capitais do Centro-Sul do país. Considerando as capitais menos inadimplentes, a liderança fica para Florianópolis, em Santa Catarina, com 22,3% de taxa de inadimplência. Em segundo lugar está São Paulo (SP), com 23,9% de inadimplência, e Campo Grande (MS) em terceiro, com 24,4%.

O estudo revelou ainda que quando são avaliadas as dívidas atrasadas há mais de 90 dias e com valores acima de R$ 200,00, os inadimplentes totalizam 35 milhões de pessoas, o equivalente a 24,5% da população.

Tal mapeamento também avaliou a inadimplência por idade, e revelou que a faixa etária mais representativa é entre 26-30 anos, chegando a 29,9%. Em seguida, estão inadimplentes os consumidores entre 31-35 anos, representando 29,3%, seguidos por pessoas com idades entre 36 e 40 anos, com 28,2% de inadimplência, e o grupo entre 18 e 25 anos, com pouquíssima diferença, isto é, 28,1%. A inadimplência diminui, segundo o estudo, à medida que a idade aumenta, ou seja, acima de 70 anos a taxa de inadimplência é de apenas 10,3%.

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A figura 4, na sequência, mostra a taxa de inadimplência no país segundo a faixa etária dos devedores.

Figura 4. Taxa de Inadimplência por faixa etária (2014)

Fonte: Serasa Experian (2014).

O estudo também avaliou a taxa de inadimplência dos diferentes grupos da população brasileira, de acordo com a classificação do Mosaic Brasil – metodologia de segmentação da sociedade que leva em conta não só a renda, mas também outros critérios, como educação, geografia, demografia, padrões comportamentais e estilo de vida com o objetivo de entender melhor o mercado e a sociedade.

De acordo com o estudo da Serasa Experian e a classificação Mosaic Brasil, o grupo Jovens Adultos da Periferia lidera o ranking, com 23% dos inadimplentes no Brasil. O estudo também mostra que 34% do total de pessoas que compõem esse grupo ficaram inadimplentes em 2014. Esse grupo representa 16,8% da população brasileira.

No outro extremo, o grupo “Experientes Urbanos de Vida Confortável” apresentou o menor percentual de endividados, representando apenas 2% dos inadimplentes do Brasil. O segundo grupo com maior representatividade entre o total de inadimplentes do Brasil é o “Massa Trabalhadora Urbana”, que responde por 17% dos devedores. Segundo o estudo, 30% do total de pessoas que compõem esse grupo ficaram inadimplentes em 2014. A Massa Trabalhadora Urbana representa 14,32% da população do país.

O grupo com o terceiro maior percentual de inadimplentes do país é o de “Adultos Urbanos Estabelecidos”, que representa 14% do total de devedores do Brasil. Do total de indivíduos que compõem este grupo, 33% estão inadimplentes.

Ao se considerar apenas os percentuais de endividamento dentro dos grupos, os “Donos de Negócio” se destacam entre os demais com o maior número, isto é, 41% dos indivíduos estão inadimplentes.

Analisando os dados apresentados anteriormente, pode-se fazer algumas considerações a respeito do endividamento e da inadimplência que permeia grande parte da população brasileira em todos os grupos e setores.

3.2 Causas e consequências do endividamento

Dados do Banco Central do Brasil informam que 46,3% das famílias brasileiras estão comprometidas com dívidas, o maior percentual desde 2005. O financiamento da casa própria está

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entre as principais causas de endividamento, aliado à queda do orçamento doméstico em função do desemprego, da inflação e do descontrole financeiro.

Ao deixar de pagar uma conta e ter o seu nome inserido na lista de maus pagadores, como do Sistema de Proteção ao Crédito (SPC) ou Serasa, o indivíduo passa a ter dificuldades em contrair novos empréstimos, sendo cobrado periodicamente por empresas, e ficará com restrição no nome durante cinco anos.

Segundo os economistas (Corecon-RS), quando ocorre o endividamento, a solução é trocar as dívidas caras por outras mais baratas, com menores taxas de juros, a exemplo do empréstimo com veículo em garantia e empréstimo com imóvel em garantia.

Se a garantia de pagamento de um empréstimo for um carro ou uma casa, ao deixar de pagar a dívida o consumidor perde o bem dado em garantia e ainda fica com restrição no nome durante cinco anos. E, ao findar este prazo, mesmo que o nome do cliente volte a estar liberado, ainda assim ele sofrerá restrições para adquirir empréstimos, talão de cheques, cartão de crédito, etc. A dívida, portanto, não some, como alegam alguns indivíduos. O que ocorre é que o CPF do devedor volta a ser regularizado, mas a empresa credora costuma não desistir de cobrar o valor devido.

As instituições financeiras costumam utilizar um mecanismo de análise de crédito denominado score, com o qual conseguem analisar o perfil do consumo dos clientes e verificar o seu comportamento nas últimas dívidas. Caso o cliente tenha atrasado parcelas ou deixado de pagar alguma delas, certamente não terá seu pedido atendido pelo banco.

Outra sistemática utilizada pelos bancos com relação à cobrança de dívidas em atraso é a venda dessa dívida para outras empresas que assumem a sua cobrança, o que deve se prolongar ao longo de todo o período em que a dívida estiver ativa. Ademais, quanto mais tempo passar para a dívida ser paga, maior será a dificuldade em ser bem avaliado pelas instituições ao solicitar algum produto. E, dependendo da quantidade de parcelas que estiver devendo, é possível negociar e até mesmo renegociar a dívida com o banco (BANKFACIL, 2014).

O site eletrônico “SOS Consumidor” traz recomendações importantes para quem está ou já esteve endividado e procura se livrar de situações desagradáveis decorrentes do consumo inconsequente e impulsivo.

1. Não acredite em anúncios que prometem tirar você do SPC e Serasa de forma rápida e fácil e sem pagar as dívidas: isso simplesmente não existe.

2. Nunca faça dívidas em seu nome para outras pessoas: caso a pessoa não pague a dívida ela será cobrada do titular.

3. Se você está endividado tenha muita calma e paciência: a dívida foi originada ao longo de meses e com boa dose de calma e organização os problemas serão resolvidos. 4. Às vezes, a melhor solução é simplesmente cortar o mal pela raiz: isso significa, naquele momento mais crítico, pagar apenas as contas básicas de sobrevivência (moradia, alimentação, luz, etc) e renegociar as demais.

5. Não se intimide com as ameaças dos seus credores: cobranças vexatórias e abusivas podem ser causa de pedido de indenização pelo devedor.

6. Não tenha vergonha de procurar ajuda: importante procurar orientação do Procon, ou de um advogado antes de assumir um novo compromisso, como a renegociação da dívida.

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7. Você ganha pouco ou gasta muito? O recomendado é nunca gastar mais do que se ganha, fazer um regime orçamentário, cortar os supérfluos e guardar uma parte na poupança.

8. Estar no SPC e Serasa pode ser bom: neste momento as dificuldades vão servir para o endividado parar de gastar, pois já não tem mais crédito no mercado.

9. Aguarde os finais de ano para negociar suas dívidas: nessas épocas os credores fazem promoções com descontos que chegam a 80% do valor da dívida.

10. Nunca venda seus bens para pagar dívidas: o recomendado é não entregar os bens para saldar dívidas.

11. Viva dentro da sua realidade: não se deve fazer acordos com todos os credores de uma só vez.

12. Somente aceite renegociar a dívida se for vantajoso para você e a parcela couber “com folga” no seu orçamento familiar: a tendência é conseguir renegociar a dívida uma única vez, por isso precisa ser bem planejada.

13. Troque uma dívida mais casa por uma mais barata: isso significa usar um empréstimo pessoal em torno de 4% ao mês para cobrir as dívidas do cartão de crédito que fica em torno de 14,90% ao mês.

14. Cuidado com os golpes por e-mails: é preciso atentar para o fato de que SPC e Serasa não enviam avisos de débitos pendentes.

15. Nunca confie em quem diz e anuncia que vai resolver seus problemas em pouco tempo e com “custo baixo”: quanto menor for o tempo e custo, maior a possibilidade de ser uma enganação.

16. Não acredite na promessa do “dinheiro fácil”: não se deve acreditar em dinheiro fácil oferecido pelas ruas. Esta é uma forma de aumentar ainda mais as dívidas.

A inadimplência, portanto, é uma situação em que o consumidor se sente pressionado pelas empresas credoras que anseiam por receber seus valores pendentes. Neste momento, cabe ao devedor muita prudência e calma para reorganizar suas finanças e, acima de tudo, aprender que necessita seguir um planejamento financeiro para evitar novos e futuros endividamentos. Nesse sentido, o item que segue traz as orientações financeiras que certamente auxiliam o indivíduo a compreender o contexto econômico e financeiro do país, e a necessidade de se adequar a um planejamento de acordo com o seu rendimento mensal.

4 ORIENTAÇÃO FINANCEIRA 4.1 O cenário econômico atual

Pesquisa realizada pelo Serasa Consumidor em 2015 mostra que o Brasil possui 56,4 milhões de consumidores inadimplentes em comparação aos 54,1 milhões negativados em junho de 2014, e que 73% da população consideram que a situação econômica tem piorado muito nos últimos anos. As dívidas em atraso somam cerca de 243 bilhões de reais. Ademais, o desemprego e a alta no custo de vida têm agravado muito as finanças do país.

As principais causas apontadas pelos entrevistados para a sua piora financeira são: a perda do emprego (31,87%) e o aumento do custo de vida/inflação (31,28%). Assim, a queda

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na renda e no orçamento doméstico é mencionada por 17,82% das pessoas, enquanto que o descontrole nos gastos domésticos é citado por 12,56% dos entrevistados. Já 5,57% dos entrevistados apontam as despesas com financiamentos e reformas como os grandes responsáveis pela elevação desse quadro de piora orçamentária.

O cenário brasileiro anteriormente descrito pode ser visualizado na figura 5, a seguir, que representa a percepção dos consumidores quanto à piora de sua situação financeira.

Figura 5. Percepção dos consumidores quanto à piora da sua situação financeira

Fonte: Serasa Consumidor (2015).

A figura 6, a seguir, representa graficamente os resultados obtidos com a pesquisa, ou seja, a perda de emprego, o aumento do custo de vida, o descontrole dos gastos domésticos, a redução da renda, e as despesas com financiamentos.

Figura 6. Percepção dos entrevistados quanto à principal razão da piora da sua situação financeira

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A mesma pesquisa realizada pelo Serasa Consumidor aponta que 69,62% dos entrevistados afirmam que não estão com as contas em dia (figura 7).

Figura 7. Situação dos entrevistados com relação à pontualidade das suas contas

Fonte: Serasa Consumidor (2015).

Questionados quanto às contas que deixaram de pagar no último mês, 60,36% dos entrevistados afirmaram não terem arcado com uma ou duas contas; 22,21% deixaram de pagar três ou quatro contas; e 17,43% acumularam cinco ou mais pagamentos nos últimos 30 dias (figura 8).

Figura 8. Contas que foram deixadas de pagar no último mês

Fonte: Serasa Consumidor (2015).

A questão final buscou compreender as soluções encontradas pelos entrevistados para enfrentar a falta de recursos financeiros. Mais da metade dos entrevistados (55,34%) responderam que cortam gastos ou economizam em algumas despesas; 16,33% pedem ajuda

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aos familiares e amigos; 13,66% deixam de pagar o total da fatura do cartão de crédito; 7,69% afirmam usar o crédito disponível no cartão de crédito; e 6,99% afirmam que continuam a consumir, deixando de pagar algumas contas (figura 9).

Figura 9. Soluções encontradas pelos entrevistados para driblar a crise

Fonte: Serasa Consumidor (2015).

4.2 Educação Financeira

Segundo dados do Banco Central do Brasil (2013), a Educação Financeira é um instrumento que promove o desenvolvimento econômico, pois a qualidade das decisões financeiras dos indivíduos influencia toda a economia.

A educação financeira pode trazer diversos benefícios, entre os quais, possibilitar o equilíbrio das finanças pessoais, preparar para o enfrentamento de imprevistos financeiros e para a aposentadoria, qualificar para o bom uso do sistema financeiro, reduzir a possibilidade de o indivíduo cair em fraudes, preparar o caminho para a realização de sonhos, enfim, tornar a vida melhor. (BCB, 2013, p. 11).

Entre as suas ferramentas destaca-se o orçamento, que possibilita avaliar e controlar a vida financeira, definindo prioridades. Ele auxilia a conhecer a realidade financeira; a escolher projetos; a fazer planejamento financeiro; a definir prioridades; a identificar e entender hábitos de consumo; a organizar a vida financeira e patrimonial; a administrar imprevistos; a consumir de forma contínua e segura (BCB, 2013).

É importante que as receitas sejam sempre superiores às despesas. Dessa forma, será possível fazer uma poupança, investindo as sobras financeiras para ter recursos suficientes para eventuais emergências, realizar sonhos, preparar a aposentadoria, etc. A fórmula, portanto, é a seguinte:

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Os valores poupados no presente e investidos durante alguns anos podem fazer uma diferença significativa na qualidade de vida do poupador no futuro. São vários os motivos para poupar, dentre os quais pode-se citar: precaver-se diante de situações inesperadas, preparar para se aposentar, realizar sonhos, etc.

Por essa razão é importante elaborar um orçamento a fim de se tornar um consumidor consciente, que utiliza o crédito de forma responsável, tendo os juros a seu favor, bem como estabelecer prioridades, a fim de que seja possível mensalmente compor uma poupança.

Ao poupar, o indivíduo garante recursos para investir, que lhe permitirá a obtenção do pagamento de juros. Assim, a poupança, que é a sobra financeira, deve ser direcionada a algum tipo de investimento.

São três as características dos investimentos que devem ser conhecidos pelo poupador/investidor: a liquidez, o risco e a rentabilidade. A liquidez refere-se à facilidade de se transformar qualquer bem em moeda líquida. Encontram-se aí as cadernetas de poupança e os fundos de aplicação em renda fixa, que podem ser resgatados a qualquer momento. Já os imóveis são considerados investimentos de baixa liquidez.

Com relação ao risco pode-se afirmar que este se refere à probabilidade de perdas. Exemplos de investimentos de menor risco são a caderneta de poupança, enquanto as ações são consideradas investimentos de maior risco.

E, finalmente, a rentabilidade constitui-se na remuneração do investimento. Em geral, quanto maior a rentabilidade prometida, maior o risco de perder a quantia aplicada. Ou seja, o que se ganha em segurança, se perde em rentabilidade, e vice-versa.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ressalta que antes de investir o indivíduo deve conhecer o seu perfil de investidor, que pode ser conservador5, moderado6 e arrojado7. Com base nessas diferenças, o CVM (2016) conclui que investimentos como a caderneta de poupança, títulos públicos e fundos de curto prazo são mais compatíveis com investidor de perfil conservador.

Já os fundos de multimercado são mais compatíveis com investidores de perfil arrojado, pois oferecem mais liberdade na composição de suas carteiras e são mais expostos ao risco. Investimentos como fundos cambiais, fundos de renda fixa, ações e debêntures se adequam aos investidores de perfil moderado, e dependem de políticas de investimento e do risco da emissão do título.

Uma vez identificado o perfil do investidor e definidos os seus objetivos e prazos, é possível optar entre os investimentos disponíveis no mercado e verificar aqueles que lhe são mais adequados. Sempre lembrando que quanto maior o risco, maior a probabilidade de ocorrerem perdas.

Os investimentos podem ser de renda fixa e de renda variável. Os de renda fixa pagam a remuneração fixada na variação de um indexador previamente definido. Nessa modalidade existe o risco de crédito. Já na renda variável a remuneração não pode ser informada no momento da aplicação e, além do risco de crédito, há também o risco da rentabilidade incerta, como é o caso das ações.

5 Investidor Conservador: privilegia a segurança do seu dinheiro e faz o possível para diminuir o risco de perda

(CVM, 2016).

6 Investidor Moderado: equilibra segurança e rentabilidade, e está disposto e correr pequeno risco para obter um

melhor rendimento do seu dinheiro (CVM, 2016).

7 Investidor Arrojado: busca a rentabilidade e é capaz de correr grandes riscos para obter o melhor rendimento do

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O importante é o investidor lembrar sempre que os investimentos se destinam a financiar planos futuros, e podem ser modificados ao longo do tempo, especialmente se houver mudanças no contexto político-econômico do país.

A fim de orientar a educação financeira da população, muitas empresas se especializaram e atualmente prestam este tipo de serviço, a exemplo da EduQI – Orientação Financeira, tema do item que segue.

4.3 EduQI – Orientação Financeira

A empresa EduQI – Orientação Financeira é uma consultoria financeira personalizada, cujo objetivo é auxiliar o indivíduo a acumular bens e valores de maneira mais racional, levando em consideração o seu perfil de investidor, seus planos e metas.

O consultor financeiro é um profissional qualificado para auxiliar o investidor a preparar um programa que o auxilie a alcançar seus planos e metas financeiras, podendo ser tanto um economista como um profissional com especialização na área. Sua contratação é recomendada para quem pretende evitar ou já possui problemas financeiros. A grande maioria das pessoas não possui autodisciplina para controlar e planejar suas próprias finanças, especialmente porque o mercado financeiro tornou-se bastante dinâmico e complexo nas últimas décadas. É nesse cenário que o consultor financeiro contribui ajudando na organização pessoal e na tomada de decisões. Ele, porém, não deve ser procurado somente nos casos de emergência, tampouco sua procura significa admitir ignorância nessa área. Pelo contrário, esse profissional visa aumentar a confiança e as habilidades financeiras das pessoas.

Um cenário é positivo na economia financeira de um indivíduo quando ele percebe que o saldo de sua caderneta de poupança está alto, isto é, mais de três vezes o seu salário; quando ele recebe um aumento de salário; e quando recebe algumas ações ou títulos, mas não sabe se deve mantê-los ou não.

Na contramão desse cenário o indivíduo começa a perceber a chegada das dificuldades quando receia ser demitido; quando há possibilidade de separação/divórcio; quando não possui um fundo para as emergências; e quando a aposentadoria está se aproximando.

A maioria das pessoas, contudo, só recorre a um consultor quando percebe a proximidade de alguma crise financeira, como o descontrole nas contas, a ausência de poupança, e quando possui dúvidas quanto à aquisição de alguns produtos financeiros. O consultor financeiro, por sua vez, irá auxiliar o seu cliente a avaliar tudo em sua vida financeira, definindo objetivos e metas a serem buscados. Também, auxiliará a analisar e compreender o mercado financeiro, montando uma estratégia que deverá ser seguida e constantemente monitorada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Administrar os recursos financeiros requer do indivíduo muita perspicácia, especialmente com relação aos rumos da situação econômico-financeira do país. Convive-se hoje com a maior taxa de juros dos últimos 10 anos (14,25%), o que leva o consumidor a repensar a possibilidade de contratação de qualquer empréstimo.

Apesar disso, percebe-se que há uma campanha em prol do consumo exacerbado, a maioria das vezes inútil e desnecessário. Essa mesma oferta de consumo está aliada à oferta de crédito fácil, inclusive para negativados.

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O indivíduo aposentado tem sido alvo de financeiras que lhe oferecem crédito rápido. Cabe a cada um, porém, ter muita cautela com esse tipo de oferta de crédito, pois à medida que se amplia o comprometimento da renda mensal, maior será o endividamento futuro.

O presente estudo visou analisar o perfil do consumidor brasileiro, bem como as dificuldades com as quais se defronta para pagar as suas dívidas. O estudo revelou que em 2015 o Brasil possuía 56,4 milhões de consumidores endividados, e que 73% da população considerava que a situação piorou muito nos últimos anos. As dívidas em atraso já somam cerca de 243 bilhões de reais, e 69,62% dos entrevistados afirmam que não estão com as contas em dia.

A situação suprarrelatada é agravada pelo fácil acesso ao crédito, especialmente para aquelas pessoas que têm dificuldade em compreender o contexto econômico-financeiro em que vive o país. Ao consumir além das suas possibilidades o indivíduo acaba engrossando ainda mais a expressiva faixa dos endividados.

Nesse cenário destaca-se a importância do consultor financeiro, cuja função é orientar as pessoas no sentido de utilizarem o crédito de maneira cuidadosa e consciente. É preciso compreender que não é possível gastar mais do que se ganha. E, também, que reservar um valor todo mês numa poupança é a garantia de um futuro tranquilo. A poupança e o investimento geram tranquilidade ao indivíduo e riqueza e desenvolvimento ao país.

REFERÊNCIAS

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