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O sofrimento psíquico dos idosos

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DHE - DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO

LIZIANE SOMMAVILLA

O SOFRIMENTO PSIQUICO DOS IDOSOS

IJUÍ, 18 DE DEZEMBRO DE 2015 LIZIANE SOMMAVILLA

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O SOFRIMENTO PSIQUICO DOS IDOSOS

Monografia de conclusão de curso, apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia, na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

ORIENTADORA: Prof.ª Ms. ELISIANE FELZKESCHONARDIE

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Dedico esta vitória aos meus amados pais José e Janete, ao meu irmão Emerson, vocês são muito importantes e especiais para mim. De maneira

especial, ao Amadeu, meu

companheiro de todas as horas, por

suportar minhas angústias e

compartilhar comigo, além deste percurso acadêmico, a própria vivencia, tornando cada caminho e cada momento inconfundíveis, pela riqueza da sua presença. E também a minha filha Valentina, em seu olhar

encontrava forças e amor,

compartilhando alegrias e sofrimentos e amenizando os momentos difíceis dessa caminhada.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que contribuíram para que este sonho pudesse ser concretizado.

De uma maneira especial agradeço a DEUS por ter se feito presente em todo esse

percurso acadêmico.

Agradeço a meus amados pais José e Janete por serem tão especiais e por acreditarem

no meu potencial.

Ao meu irmão Emerson, que sempre confiou e acreditou em mim.

Agradeço a você, Amadeu, meu companheiro inseparável, pelo amor, carinho,

companheirismo, pela sensibilidade, compreensão, garra e dedicação durante esse percurso

realizado junto. Esta vitória e nossa!

Agradeço a minha filha, Valentina, pela paciência, compreensão e pelos inúmeros

momentos de ausência.

Agradeço em especial minha orientadora Elisiane por ter me apoiado e acreditado em

mim, por suas sugestões, contribuições e atenção.

Agradeço também as pessoas que fizeram parte da minha vida, me ajudando de uma

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo tratar a cerca da história do envelhecimento e compreender quais os impactos sofridos pelo aparecimento do sofrimento psíquico dos idosos e quais os motivos que levam os idosos ao sofrimento.

O envelhecimento é uma etapa no curso de vida do ser humano, caracterizada por modificações que limitam ou impedem o indivíduo de desempenhar papéis e obrigações sociais e familiares, acarretando na perda de autonomia e dependência, o que prejudica a sociabilidade, a identidade social e o bem-estar do idoso.

Nessa perspectiva, onde inserimos o sofrimento psíquico, como um processo subjetivo, social, além de cultural, suas dimensões atingem não somente o idoso, mas suas famílias e cuidadores.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 07

1 O Envelhecimento ... 08

1.1O Envelhecimento na perspectiva histórica... 08

2 O EFEITO PSIQUICO NO ENVELHECIMENTO ... 17

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 28

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INTRODUÇÃO

Este trabalho monográfico tem como tema o sofrimento psíquico dos idosos. A escolha desse tema está ligada a necessidade de melhor compreender a condição de vida física e mental que os idosos se encontram.

Este estudo procurará trazer um novo olhar sobre a “velhice”, muitos autores vêm contribuir para pensar o lugar que o sujeito encontra-se na sociedade e na família. Para tratar deste assunto, há necessidade de discorrer um pouco a cerca das representações que a velhice vai adquirindo ao longo do tempo até chegar aos dias atuais.

A compreensão desta temática está relacionada com a historicidade, por isso, no primeiro capítulo propõe-se um percorrido acerca da história do envelhecimento e suas representações. Tais representações são referidas as limitações que o corpo impõe: os diferentes olhares e lugares suscitados a partir do que a própria insígnia de idoso representa para si e para os outros e as ressignificações que lhe são possíveis elaborar, a partir dessas percepções.

No segundo capitulo, faze-se considerações sobre o sofrimento psíquico dos idosos, para contextualizar esta questão, parte-se da ideia que no envelhecimento verifica-se modificações nas relações emocionais, perdas e separações, solidão, isolamento e marginalização social. Como os idosos são vistos pela sociedade, quais as mudanças, e qual o efeito que elas provocam, são algumas das questões que procurou-se desenvolver com esta pesquisa.

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1 O ENVELHECIMENTO

1.1 O envelhecimento na perspectiva histórica

A partir de uma retrospectiva histórica, nota-se diferenças em relação ao tema do envelhecimento. Há cerca de dois séculos atrás, quando uma pessoa chegava aos trinta anos, era considerada velha, e não vivia muito além dessa idade, seja por falta de recursos ou abandono da família ou mesmo da sociedade.

Poucos são os estudos que se referem aos idosos nos tempos antigos, mas os que dizem algo mostram uma grande desvalorização do idoso, na maioria das culturas. Quando o sujeito perdia suas habilidades, pela idade ou por doença, ou, mais frequente, por falta de recurso que não existiam naquele tempo, este era desvalorizado, abandonado, tornando-se uma espécie de “lixo social”.

Cada cultura difere da outra a partir de seus costumes, poucas eram as que valorizavam seus velhos quando incapazes. Isso ainda ocorre, onde a perspectiva de vida aumenta, pois o que antes se fazia em até trinta anos hoje se faz em sessenta. Com isso a sociedade se reorganiza. A globalização inova e no mercado não há espaço para o que é “velho”. Os idosos, com uma expectativa maior de vida, tornam-se um incomodo para a família, que não consegue dar conta dos cuidados necessários para essa fase da vida, o que, por vezes, leva a colocá-los em instituição de longa permanência, ou asilos.

A velhice foi denegrida no decorrer da historia, como podemos ver no trecho a seguir, descrito por Márcia Taborda de Souza Sotilli, citando Alfredo Jerusalinsky:

Sabemos que o termo “velho” aplica-se tanto para sujeitos, como para Objetos. Velho, é considerado todo sujeito que ultrapassava65 anos pela OMS. Sabemos também que o termo velho aplica-se a objetos cuja antiguidade será dada em termos diferentes: alguns objetos ditos como sendo “de valor”, quanto mais tempo somarem. Serão elevados a categoria de antiguidade: objetos de necessidade de uso, quanto mais antigos, terão menor valor, sendo considerados velhos, descartados, lixo. (...)

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Segundo Hannah Arendt:

(“...) o termo “valor” deve sua origem à tendência sociológica e Marx ainda cônscio do fato, esquecido desde então pelas Ciências Sociais, deque ninguém “ visto em isolamento produz valores”, de que os produtos “tornam-se valores somente em seu relacionamento social” (SOTILLI,2000p.213)

Na antiguidade, o velho tinha mais condições de vida nas sociedades ricas do que nas pobres, e nas sedentárias do que nas nômades. Porém nas duas últimas encontravam-se problemas relacionados ao sustento e ainda a sociedade nômade possuía o problema de transporte, pois o idoso que não conseguia se locomover era abandonado. Contudo, a situação econômica não era determinante para o destino dos velhos, pois as sociedades agrícolas deixavam seus velhos morrerem de fome, por indiferença.

Nas comunidades mais pobres os idosos mal conseguiam sustentar-se. Como ali os indivíduos possuíam apenas os frutos do trabalho que executavam, ou aquilo que suas mulheres conseguiam, o problema era que quando estes não possuíam mais forças para executar esse trabalho, seus herdeiros lhes tomavam às propriedades e livravam-se deles.

No século IV, conforme Simone de Beauvoir (1990) a Igreja contribuiu positivamente com os velhos, criando asilos e hospitais, garantindo o sustento dos mesmos e o amparo aos doentes e órfãos. Paralelo a isso, incentivava muito a doação de esmola, considerando-a um dever. Na alta Idade Média, encontramos os jovens à frente, conduzindo o mundo na sociedade feudal. Assim, de certa forma os velhos eram excluídos da vida pública e os homens experientes tinham pouco espaço, em relação ao reconhecimento e a valorização destacados na época.

A colonização de um novo mundo se dá no século XVII, trazendo uma grande revolução econômica. O comércio, a indústria e o dinheiro começam a ser as novas fontes de riqueza da sociedade e as classes mais pobres, incluindo os artesões e trabalhadores em geral, enriquecem. A velhice, nesse tempo, passa a ser uma qualificação.

Durante a Idade Média, excluem-se os idosos da vida pública, e com isso os mais jovens passam a conduzir o mundo. A experiência do homem velho tinha muito pouco espaço, não sendo valorizada. Nesse tempo nem a literatura se interessava pelos velhos.

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A velhice hoje retrata a condição dos velhos de antigamente, mostrando nas diferentes sociedades que a imagem da velhice é incerta, confusa, contraditória e está totalmente dependente da cultura na qual o sujeito está inserido.

Na velhice a vontade de viver quase desaparece, voltando aquela atitude contemplativa que se tem na infância, pois com o passar dos anos e com a senilidade, o homem mesmo antes de morrer vai se extinguindo naturalmente. Essa é uma visão pessimista da velhice, pois a privilegia a partir de uma visão melancólica.

A velhice é particularmente difícil de assumir, porque sempre a consideramos uma espécie estranha: será que me tornei, então uma outra pessoa, enquanto permaneço eu mesma? (...) está é uma relação dialética entre o meu ser para outrem - tal como ele se define objetivamente e a consciência que tomo de mim mesma através dele. Em mim, é o outro que é idoso, isto é, aquele que sou para os outros: e esse outro sou eu (...). (BEAUVOIR, 1990 p.348)

Hoje sabemos que o idoso precisa estar na posição de sujeito desejante para que sua velhice tenha e faça sentido, para que sua subjetividade encontre possibilidades de inscrições ainda que a partir de um passado remoto. Segundo Mucida (2006 p.82) não se pode desvencilhar do passado, da própria história, como nos desvencilhamos dos objetos que não tem mais valia. Nossa história deveria conter, como contém alguns objetos, o valor de troca, valor adquirido por sua inserção no campo social.

Analisando como o envelhecimento se dava antigamente e nos dias atuais, percebe-se que a forma com que os idosos eram tratados não é muito diferente. Ou seja, a exclusão da sociedade quando improdutivos, o abandono pela família, ainda acontece, mas de outras formas.

Podemos dizer que hoje o envelhecimento é uma conquista da modernidade, com seus artifícios para prolongá-la. Entendemos que o sujeito, esse que permanece atemporal no inconsciente, não envelhece, e por isso esse sujeito deve saber investir o seu desejo em alguma coisa que o faça continuar vivendo: “O mundo vai se tornando estranho, á medida que envelhecemos”. (ELIOT Apud Bosi, 1998 p.11)

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Envelhecer é transformação. Envelhecer é processo dinâmico na travessia da existência. Por outro lado, a velhice é construção do humano, como o mito de

Kairós.A velhice é etapa, não é fim. Ela é meramente um momento como a infância

e a adolescência, que também são etapas. (MONTEIRO, 2005 p.73)

Na sociedade feudal, os velhos eram afastados da vida ativa. O homem que declinava fisicamente era obrigado a se aposentar. Nessa época o pai era destituído de seus bens e muitas vezes, sofria maus tratos dos seus próprios herdeiros. Quando o auxílio era insuficiente e também por falta de mais recursos, os idosos passavam a mendicância.

No século XX, o envelhecimento começou a ganhar espaço e a ser percebido pela sociedade e principalmente pelas políticas sociais. Surge a ideia da terceira idade e abrem-se diversos centros de convivência para idosos. É nesse espaço de tempo que o envelhecimento começou a ser melhor vivido. As idosas de classes populares puderam expressar sua identidade feminina, participando de bailes e outras atividades realizadas em grupos de convivência. Entretanto nessa época o envelhecimento é apresentado como uma conquista, pois o envelhecer aparece como prolongamento de vida.

Os asilos que tiveram origem na Idade Média são ainda hoje uma realidade e, ao contrario do que muitos pensam, recebem cada vez mais pessoas, pois as famílias se ocupam cada vez menos de seus velhos. Os motivos de asilamento são os mais variados, entre eles, a necessidades de cuidados médicos e as limitações próprias da idade que exigem atenção especial, assim como a mudança da estrutura familiar que, outrora, abrigava o velho em seus espaços, via de regra, sob os cuidados diretos das mulheres na sua condição de entes domésticos (Hobsbawn, Eric, 1995).

Podemos entender em dois pontos de vista os idosos que são encaminhados ao asilo. O primeiro como resultado da ausência de descendentes diretos, em virtude da impossibilidade dos filhos de conciliar trabalho e cuidar dos pais que são idosos, principalmente quando estes se encontram doentes e dependentes, e o segundo ponto, como o motivo para residir em uma instituição por desejo do próprio idoso.

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Muitas vezes as pessoas que estão institucionalizadas a família que é responsável por levá-los para a Instituição, enquanto algumas residem no asilo por vontade própria, devido às circunstâncias da vida anterior que levava. A maior causa do asilamento, seja por várias situações envolvidas, está na atitude da própria família.

O asilamento é um fenômeno social, que causa consequências na instituição. Quando se fala em asilo vem logo o sentido negativo. É Importante olhar os idosos com outros olhos, e valorizar sua história de vida. Assim enxergar nele um ser dotado de muitas experiências, valores, princípios e bagagem social.

Para a psicanálise, deve-se ser pensada a velhice não apenas como produto do desgaste do corpo, mas sim os aspectos psicológicos desta etapa da vida. As mudanças que ocorrem durante o processo de envelhecimento, são sentidas de forma particular por cada um. As adaptações podem acontecer de forma adequada, saudável ou patológica. Tudo depende da história anterior, da saúde física, do bem estar socioeconômico e da vivência atual das modificações, perdas e medos. O sujeito enfrenta no seu dia a dia os fantasmas do envelhecer, como preconceitos, ideias já ultrapassadas que atrapalha a realidade do idoso.

Ao analisar seu histórico de vida, se vê abandonado, desligado, pois existem os problemas de saúde, psicológicos, econômicos que influenciam na sua forma de envelhecer. Vem o sentimento de culpa de não ter feito o que gostaria quando jovem. E ao se deparar com um futuro que não planejou, mostra-se desconcertante, angustiado, isolado.

A população mundial de idosos vem crescendo cada vez mais, devido a melhoras na qualidade e expectativa de vida da população A vida é um constante processo de modificações ocorrendo transformações. Além das diferenças individuais, culturais e outras depende da situação a ser levada em conta. Por exemplo, uma pessoa pode ser considerada velha aos 35 anos, e outros aos 60 ou 70 anos. Depende da cada sujeito, de como vive, pensa e enfrenta essa fase da vida.

Em nossa sociedade, o medo da velhice é justamente o de ficar abandonado, inútil e dependente. Tem-se em mente que toda pessoa idosa vai ter doenças crônicas, físicas ou mentais. Mas isso não acontece com todos os idosos. Entretanto se torna uma preocupação para a população.

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Com o passar dos anos vem aumentando a expectativa de vida. Assim proporcionada pela melhoria das condições sanitárias, mudanças de hábitos alimentares de higiene e principalmente pelos inúmeros avanços tecnológicos como na medicina e também na farmacologia.

Mesmo que haja paradigmas a respeito do envelhecimento, é importante compreendermos que não somos iguais, possuímos singularidades, particularidades. Segundo Cora Carolina“(...) se me perguntarem quantos anos tenho, direi que tenho todas as idades”. Pois as idades, contam a história de sua vida, suas vivências e seus anseios.

(http://www.nowmaste.com.br/).

Entendemos que, o nosso desejo não tem idade, que o envelhecimento bem sucedido refere-se à permanência da atividade funcional da pessoa que envelhece, nos aspectos físicos, psicológicos e sociais, relacionando-se com as perdas e anos trazidos pelo envelhecimento.

Sabemos que para a psicanálise o sujeito não envelhece (Mucida, 2006). Trata-se do sujeito do inconsciente, sujeito do desejo, que é atemporal, não tem idade. Quando o idoso é institucionalizado, deixa para traz a sua casa, seus filhos, netos, uma vida de trabalho, objetos pessoais, uma história de vida. E isso para muitos é o fim de uma vida, é uma fase que antecede a morte, não conseguindo enxergar que pode ser o começo de uma nova fase, que implica momentos ruins, mas também momentos de alegria, de compartilhar histórias de vida e a sabedoria adquirida através dos anos. Mesmo diante do envelhecimento do corpo, é essencial que o sujeito encontre formas de inscrever e investir seu desejo, para isso ele precisa de recursos do outro.

Criado como decreto-lei, o estatuto do idoso é fundamental na maneira como a velhice é vista e tratada na sociedade brasileira, diferenciar os idosos como cidadãos de direitos, marcados por características próprias que demandam proteções, serviços e benefícios especiais. No entanto o estatuto mostra as preocupações, amparos e proteções estatutárias. Assim nos permite entender que o idoso acaba sendo construído como um ser frágil, limitado, impotente e incapaz de assumir a gestão da própria vida.

Podemos dizer que hoje ser “velho” se torna para muitos um problema, já antigamente ser “velho” era ser experiente e alguém que tem muito a ensinar. No mundo moderno, onde

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se dá um grande valor a imagem do corpo perfeito, e as pessoas valem pelo que são capazes de produzir, os idosos podem ser vistos como incômodos. Por isso, a sociedade mostra medo de chegar à velhice e ter que depender dos outros. Os sentimentos de desamparo e abandono que acompanham o envelhecimento podem ocasionar doenças como a depressão que pode se tornar devastadora na vida de uma pessoa.

Podemos dizer que o respeito com os velhos vem se perdendo, seus conhecimentos que poderiam ser passados de geração em geração acabam sendo perdidos no tempo. Pois hoje muitos filhos não têm paciência e tempo, de cuidar os pais, e os idosos acabam entrando em instituições. A visão da sociedade moderna é que os filhos têm obrigações de cuidarem dos seus pais, mas isso nem sempre acontece.

Na obra de B.F.SKINNER e M. E. Vaugham, (1985) em “Viva bem a Velhice”, nos traz que a principal hora de se pensar a velhice é certamente, ao ficarmos velhos. Pois a velhice sobrevém como uma surpresa. Chega sorrateiramente e pega as pessoas desprevenidas. Muita gente simplesmente aceita a velhice, com todas as suas desvantagens: deixam para lá suas dores e perdas, e se resinam a sofrer em silêncio. Outros sentem rancor, protestam e blasfemam conta ela.

Em todos os velhos percebe-se que, os sentidos já não são apurados como antes, se movimentam mais devagar e com menos habilidade. Artefatos como óculos, aparelhos de surdez e bengala por certo ajudam, mas nem sempre o suficiente, precisando muito mais do que isto, de um ambiente agradável e adequado as suas necessidades.

Os idosos gostam de contar suas histórias, experiências, a maior parte das coisas que aprendem, aos poucos vai se tornando menos prontamente possíveis. Vem o esquecimento, de fazer as coisas que gostavam, a menos que se lembrem delas. Vai se ficando embaraçado quando esquece nomes. Não há óculos e aparelho para surdez para uma memória deficiente, mas manter-se ativo pode tornar o esquecimento menos frequente e possivelmente menos custoso.

A aposentadoria acarreta várias mudanças. Com frequência a velhice significa mudanças para casa menor, outra cidade, e isso causam problemas. Envelhecer usualmente

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significa tornar-se fisicamente menos atraente. Por essa razão é que deve ser mais difícil que antes, fazer e conservar amizades.

O medo da morte é o sentimento que mais frequentemente arruína o sujeito, aceitar o fato que não se pode viver para sempre é difícil para todo mundo. Mas o que realmente deveria ser temido, pois antecipa o final da vida, reduzindo a possibilidade de vivê-la plenamente.

Por milhares de anos, os velhos têm sido chamados de egoístas, mesquinhos, excêntricos, cafonas, ignorantes, chatos e de vários outros epítetos desagradáveis. Por repetirem os mesmos assuntos, por darem conselhos, e, por muitas vezes terem pouco estudo. Enfim a sociedade não demonstra paciência com o idoso.

Para NETTO (2002) idoso é o resultado final do processo de envelhecimento durante a fase da vida conhecida como velhice. De acordo com os padrões estipulados pela Organização Mundial da Saúde, em nações desenvolvidas, o idoso é aquele com idade cronológica igual ou superior a 65 anos, e para países em desenvolvimento 60 anos de idade.

Na velhice, alguns papéis sociais são preservados e outros perdidos. Os principais papéis que costumam permanecer são os de pais, de amigos e de vizinho. Os perdidos é o do papel profissional, o seu afastamento dos relacionamentos ocupacionais. Várias pesquisas de diferentes meios culturais apontam a família e amigos como a principal rede social dos idosos.

Podemos dizer que a velhice se constitui em uma categoria social, a qual tem emergido na sociedade colocando em discussão as temáticas que girão em torno do processo de envelhecimento, levantando considerações e questionamentos. É um processo natural do ser humano colocando-se para a modernidade, como um dos maiores desafios.

Ao longo da história, tem-se percebido um aumento significativo da longevidade humana, o que, consequentemente, tem ocasionado um aumento, também significativo, da população que integra a etapa da vida, denominada velhice. Ainda na modernidade observa-se certa marginalização deste segmento social, uma vez a que sociedade civil está pouco estruturada para recebê-lo, sendo uma demanda recente. Assim, a marginalização social do

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idoso é um problema cultural, sendo deste modo como época da história vivenciada, refletindo numa maior ou menor valorização das pessoas nesta fase da vida.

O envelhecimento é oriundo de alterações, as quais acarretam nas perdas funcionais dos órgãos e do organismo. As alterações ocorrem de modo variado, dependendo da carga genética de cada individuo. Nota-se ainda que na terceira idade há uma diminuição de defesas do organismo, onde parece ser maior a probabilidade de tumores e infecções. Nessa fase muitos dos sujeitos sofrem distúrbios do sono, hipertensão arterial, diabetes, entre outros. Assim acarretando no uso de medicamentos, onde acabam se tornando dependentes dos mesmos.

A adaptação faz parte da velhice, com o intuito de superar as transformações impostas. E já a desadaptação é favorecida pela ausência de perspectiva para o futuro. Assim levando uma vida solitária.

Os grupos de terceira idade que antes não existia, hoje se fazem presentes em nosso meio. Segundo Maximino (2001) define:

“o grupo é um conjunto de indivíduos, ligados por constantes de espaço e tempo, articulados por mútuas representações, que se propõe, de forma implícita e explicita a uma tarefa que constitui sua finalidade, interatuando através de complexos mecanismos de assunção e adjudicação de papéis”.

O grupo vem para somar no social, é um espaço de criação de vínculos entre os participantes. Os que participam encontram compreensão, segurança, liberdade entre si, um sentido para a vida. Assim podem se expressar formando um espírito comunitário, gerando confiança entre os sujeitos, e o envolvimento, faz com que o idoso formule sua própria opinião.

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2 O EFEITO PSIQUICO NO ENVELHECIMENTO

Para Beauvoir (1990) os idosos apresentam para a sociedade, tanto nos aspectos da biologia como da etnologia contribuições favoráveis no que diz respeito a sua memória e experiências, multiplicando assim, suas capacidades de julgamento e execução no campo da repetição. Mas, por outro lado, apresentam dificuldades de inovar, de se posicionar com o novo em função da pouca saúde, levando a presumir que nas sociedades fortemente repetidoras e organizadas os adultos se apoiarão nos velhos e, nas sociedades divididas que passam por períodos conturbados e revolucionários, os jovens tomarão conta.

A velhice contribui para o sujeito por meio do olhar do outro, ou seja, o sujeito se relaciona com a própria velhice através do olhar que o outro lhe desenvolve. Beauvoir (1990) ressalta que embora a velhice racionalmente devesse ser esperada e previsível para todos, constitui um fenômeno muitas vezes constatado com espanto pelo sujeito que envelhece, chegando o adulto a comportar-se como se nunca pudesse envelhecer.

A percepção da velhice acontece de “fora para dentro”, ela vem de fora, por parte de outra pessoa, de um espelho ou de alguma situação presente no cotidiano. Estamos falando de que a velhice não é reconhecida pela própria pessoa de imediato, ela é algo do extremo, tanto que os psicanalistas falam do “ susto ao espelho”, como um momento de surpresa e não reconhecimento frente à própria imagem.(BARBIERI, 2003 p.21).

Estamos falando que é uma realidade, que ao envelhecer a própria pessoa não está notando, ela vai reconhecer a partir do olhar de outra pessoa. Ela é percebida muitas vezes com espanto ou surpresa, embora seja esperada e previsível.

O envelhecimento é um processo natural e universal, porém, as representações da velhice variam consoantes as épocas e sociedade. É preciso levar-se em conta que o envelhecimento é vivido de modo diferente de um indivíduo para outro, de uma geração para outra e de uma sociedade para outra. A sociedade ocidental contemporânea, marcada pelas ideias de mudança e de inovação, parece afastar-se dos valores, conhecimento e experiência do passado.

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Daniela de Lemos, Fernanda Palhares, João Paulo Pinheiro e Thaís Landenberger em seu trabalho intitulado “Velhice” afirmam que:

Os meios de comunicação, da forma como estão hoje inseridos em nossa vida, também têm um papel importante na construção desta terceira idade. A televisão e o cinema, particularmente, possuem um grande potencial para influenciar nos conceitos acerca da velhice. As parcelas da população mais influenciáveis são as crianças e jovens. Estes meios funcionam como um espelho da sociedade e contribuem para estabelecer ou validar modelos de comportamento. Porém o número de pessoas idosas que aparecem nos programas ou filmes não corresponde a realidade encontrada na sociedade. Neste caso a mensagem que pode estar sendo passada é de que o velho não é importante. Os estereótipos também são muito explorados. A velhice é o somatório da trajetória de vida do ser humano - somatório das experiências vividas, dos valores, da compreensão e das interpretações pessoais que cada um tem do mundo em que vive. A velhice - tal como as outras etapas da vida - é um período de mudanças, de transformações operadas em cada pessoa - e estas transformações se dão tanto no nível biológico, quanto no emocional e psicossocial. A forma como cada pessoa envelhece está determinada por suas condições subjetivas, incluindo-se a forma como foi vivida sua história pessoal em todos os períodos de sua existência. Sendo assim, a sexualidade na velhice geralmente só pode ser expressa se, durante a adolescência, a juventude e a vida adulta, tais sentimentos foram vivenciados de forma a dar prazer, alegria e satisfação às pessoas; nada mais é do que a continuação de toda uma vida sexual já existente, mas que porém, exerce-se com todas as limitações físicas e/ou emocionais que foram sendo adquiridas no processo de envelhecimento de cada um. Continuar exercendo a sexualidade aos 60 anos ou mais é um desejo pessoal de cada um e, se desejado, é um exercício que estimula o cotidiano das pessoas. ( http://www.ufrgs.br/e-psico/subjetivacao/tempo/velhice-texto.html)

Todos os sentimentos são sempre uma consequência de seus pensamentos, o que a pessoa sente é o produto de suas representações mentais. As coisas que se acredita, sejam elas falsas ou verdadeiras é que fazem ter os sentimentos que tem. Gostando assim, os idosos de dar conselhos, contar sua história do passado, relembrar momentos, enfim relatar sua experiência.

O sujeito na fase do envelhecimento se vê numa posição nova de limitações. Estas limitações colocam o idoso em uma relação de dependência, sempre necessitando da ajuda de alguém para auxiliá-lo. A pessoa idosa na maioria dos casos começa a formar de si mesma uma imagem negativa, resultante de um conjunto de ideias e de atividades vindas da sociedade.

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O envelhecimento caracteriza-se pelas transformações. O mesmo é marcado por mudanças que ocorrem de modo negativo, que manifestam-se na diminuição da capacidade fisiológica de todos os órgãos, na lentidão, nas dificuldades de memorização, na repetição de assuntos, etc.

Muitos idosos morrem no social. Ao romper laços sociais e ao chegar a asilos, entram no processo de isolamento. Pois no seu dia a dia, as horas parecem não passar, vivem solitários, porque nestes ambientes as pessoas não conversam, e assim não recebem atenção necessária. Seus familiares não os visitam frequentemente, e muitos nem visitas recebem. E isso acaba agravando ainda mais o psiquismo do idoso, devido ao isolamento social. Os idosos desenvolvem ansiedade, depressão considerada como patologia mais frequente, e insônia, que podem levar ao adoecimento.

Observamos entre outras patologias e transtornos, que a depressão é a doença psiquiátrica mais comum entre os idosos, Pois afeta a qualidade de vida dos mesmos, que se mostram insatisfeitos com o que lhes é oferecido, ocasionando a interrupção de algumas atividades diárias. Alguns sintomas visíveis são o isolamento e apresentam dificuldades de memória, e muitas vezes têm tendências suicidas, além da tristeza profunda e duradoura, a depressão também provoca desânimo, insônia e falta de apetite. Além disso, a mesma contribui com o aparecimento de outras doenças somáticas associadas a ela.

A depressão em idosos esta associada a fatores como a idade, luto e perdas ao longo da vida, preocupações com filhos e netos. À medida que nesta fase da vida se mostram mais dependentes, precisam também do apoio da família, que muitas vezes não tem tempo para acompanhá-los de perto.

A depressão pode variar desde uma ligeira indisposição até o estupor; em suas formas mais leves o paciente está infeliz, tem um sentimento de incapacidade, de desanimo, inutilidade e perde o interesse por todas as atividades habituais. Na depressão um pouco mais intensa, existe um estado de tensão desagradável, tudo é difícil, pode estar temeroso, ansioso ou agitado, há dores corporais, como cefaleia, inapetência, entre outros.

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A maioria dos idosos sofre com as perdas durante o seu percurso de vida. Perda de entes queridos, da casa onde moravam, da saúde, situação financeira, da capacidade física.Os idosos que chegam a essa fase de limitações e perdas estão mais sujeitos a sofrer depressão. Também é necessário a estes idosos como a todos, espaços de inserção e convivência, sendo que estes momentos são importantes para a recuperação e preservação da saúde psíquica.

Jeruzalinsky (1996), no artigo Psicologia do Envelhecimento, enumera oito traumas que costumam atingir o idoso. São eles:

O primeiro trauma relaciona-se a perda a perda dos pais reais, independente da idade em que isso acontece. Ela lança o sujeito a um confronto antecipado com a sua própria morte que coloca então o mesmo em uma posição psíquica compatível com a velhice. Quando se depara com essa situação cai em uma posição de desânimo, achando que logo pode ser sua vez.

O segundo trauma entende-se a constatação do definitivo, pois o tempo de suas possíveis mudanças se esgota.

O terceiro Trauma define-se como a diminuição da potência, questões fisiológicas tomam conta do corpo, que perde sua possibilidade de representar a consistência fálica que ele simbolizava.

O quarto trauma entende-se que na velhice os protagonistas são outros. Não somente as mudanças na cultura colocam as pessoas que vão envelhecendo na posição de obsolescência imaginária, o próprio ciclo do real do corpo impõe restrição aos alcances de nossa simbolização da morte. Vários fatos começam a surgir, entre estes, a passagem dos filhos para o lugar antes ocupado por eles ao se tornarem pais da nova geração, sendo agora os responsáveis pela educação dos homens de amanhã.

O quinto trauma é ao futuro mínimo, ou seja, a relação com o tempo se modifica. Quando eram crianças se lamentavam pelo que não podiam fazer, depois de adultos se queixavam pelo que não fizeram, na velhice os idosos já não podem fazer grandes planos pois tomam consciência de que não lhes resta mais muito tempo de vida.

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O sexto trauma é a perda dos pares, daquela pessoa que seguiu durante a vida com o idoso, que testemunhou sua vida e que foi seu companheiro de bons e maus momentos.

O sétimo trauma, remete à degradação do corpo, onde o sujeito tende a se deparar com uma nova imagem. Sintomas surgem durante o processo, tanto físicos como psicológicos, tudo parece se tornar mais difícil.

No oitavo trauma começa de surgir o diálogo com a morte, quando o idoso percebe que isso vai lhe acontecer um dia e “negociações” com ela começam a ser feitas.

As descrições acima referem-se às articulações fundamentais da neurose do envelhecimento segundo Jeruzalinsky (1996). Essas séries traumáticas tendem a se evidenciar em todo o indivíduo neurótico normal. Mas é necessário cuidados, com algumas doenças que podem ocasionar a precipitação dessas séries traumáticas. Não é possível mudar o curso da vida em direção à morte, mas podemos intervir no caminho que o sujeito segue durante esse percurso.

Ao chegar nessa fase da vida, o que vem preocupando e demostrando os sinais, são os registros corporais como: rugas, cabelos brancos, calvície, andar lento, diminuição da audição e visão, dores em partes do corpo, dormir cedo, acordar cedo, pouca disposição, entre outras. Estes registros corporais têm seus efeitos na subjetividade, pois ao se deparar com esta realidade, o idoso precisa sustentar sua própria realidade psíquica e também sua posição desejante.

O abandono afetivo de idosos é percebido em todas as classes sociais, sendo mais frequente, porém, nas famílias de baixo poder aquisitivo, pois além da falta de recurso financeiro o mau relacionamento, a influência e a fragilidade das relações levam ao abandono efetivo dos idosos, o que é um sofrimento psíquico, pois o idoso que antes era visto como provedor da família passa a ser visto como um “estorvo”.

Algumas causas que levam o idoso ao asilo são: o abandono, solidão, carência, falta de poder aquisitivo. Vivendo assim uma realidade assustadora, essa experiência torna-se difícil para o idoso. Assim, as condições que levam ao abandono são provocadas pela condição de fragilidade do idoso. Compreende-se que, nessas condições, a entrada num asilo seja um

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drama para o velho. O choque psicológico é particularmente violento entre as mulheres, ainda mais enraizadas, que os homens em seu lugar. Elas manifestam ansiedade, são acometidas de tremores. Pouco a pouco, muitas se resignam.

A aposentadoria atrapalha psicologicamente, financeiramente e socialmente a estrutura do individuo. Pois muitos pensam que a velhice é sinônimo de doença e fraqueza. “Dizer que alguém é aposentado apenas busca igualar sob a mesma denominação os grupos de pessoas que viveram um período determinado de tempo cronológico em sua relação com o trabalho”. (MUCIDA, 2004, P.29).

A aposentadoria traz ao idoso uma nova condição, vantagens como: descanso, lazer, mas também desvantagens: empobrecimento, desqualificação. Devido à mudança do emprego de tempo e dos hábitos, o valor que ganham com a aposentadoria é menor do que se estivessem trabalhando isso repercute no sentimento de desvalorização do sujeito, porque muitos ao receberem esse valor, não conseguem, nem mesmo, atender as suas necessidades básicas. É através de sua ocupação e de seu salário que o ser humano define sua identidade, e ao se aposentar perde sua identidade.

Lacan (1999) afirma que “é no Outro e pelo Outro que aquilo que quero me é revelado. Meu desejo é o desejo do Outro. Não sei nada de meu desejo, a não ser que o Outro me revela. Assim sendo, o desejo uma sequela da constituição do eu”. Portanto, quando o idoso percebe a vida como um objeto perdido, este estado de perda recai sobre a própria pessoa.

O processo natural do envelhecimento conduz também o idoso a perda de seus entes queridos, que faziam parte de sua história de vida, neste sentido a velhice é uma categoria culturalmente construída. A percepção dessa idade está relacionada aos contextos socioculturais, as experiências e ás oportunidades de vida. A sociedade elabora suas representações do que é ser idoso, junto com os comportamentos e as funções sociais que lhe são atribuídas.

Na sociedade consumista, pessoas idosas são consideradas como “restos”, sendo desvalorizadas pelo fato de estarem próximo a morte, perdem o seu reconhecimento, sendo “enterradas” pela sociedade moderna.

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As preocupações com a aparência é fato na nossa cultura, destacando que as pessoas tem sua identidade ligada a sua imagem. O ser humano é visto pela sociedade, pela roupa de marca que veste, pelo carro, pelos bens, enfim pelo poder aquisitivo e sendo assim adquire vantagens. Agora se não está nesses padrões que a sociedade impõe, é excluído, desprezado. Assim tornando-se alo angustiante para o sujeito

No contexto familiar, os significados, crenças e valores são desenvolvidos em cada família. O cuidado familiar acontece de forma “Inter e Intrageracional”, sendo que, os pais cuidam dos filhos, os mais velhos cuidam dos mais novos em certos momentos e serão por estes assistidos em outros. O cuidado Intergeracional envolve pais, avós e netos, e o Intrageracional, esposos, irmãos, primos (ELSEN, 2002).

A violência também está presente na velhice, muitos a enfrentam, seja verbalmente ou fisicamente. Atualmente é comum vermos muitos idosos sendo agredidos nas ruas, hospitais ou até mesmo em seus lares. Poucas são as pessoas que denunciam, e na maioria dos casos não são atendidos. Talvez podemos pensar que este seja um, dentre outros, motivos que levam a sociedade ter que instituir um estatuto para o idoso.

Ao falarmos em envelhecimento, muitos falam em melhor idade outros em terceira idade. Toda faixa etária, tem a sua beleza, encantos, facilidades, e suas dificuldades. Cada ser humano é diferente. É um ser construído por uma vida inteira. O idoso encara a velhice como foi a construção de sua vida, como foi sua adolescência, sua vida adulta, sonhos, e os projetos.

O envelhecimento, em si traz um contexto, situações, novas demandas, novas possibilidades. As pessoas mais idosas lidam mais que os adolescentes e os jovens com perdas, como a perdas de entes queridos, de cônjuges, de relações sexuais, de colegas, limitações, profissionais, relacional, dificuldade de se locomover, de visitar, ou fazer o que faziam. Isso favorece o quadro depressivo, como já apontamos anteriormente. Mas tudo é muito influenciado pelo quadro de vida, pelas crenças que essa pessoa tem pelo que ela acredita ou não acredita. Pelas perspectivas que ela tem ainda na velhice, estas coisas estão interligadas.

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É importante assim como o jovem o idoso participar de exercícios físicos, ter uma boa relação, bons programas, investir em leituras, para garantir uma vida saudável. Tanto para a medicina com para a psicologia, no geral, a pessoa que se depara com uma nova situação, primeiramente deve ter consciência do que está vivendo, conhecimento de si, do contexto. Cabe ao idoso saber que ele chegou numa fase, um momento da vida, em que tudo é diferente.

A pessoa deve encarrar o momento que está vivendo, criar alternativas para enfrentar esse momento. Pensa-se não adiantar, perder a paciência, ou brigar, com o mundo e com a vida porque perdeu a audição. É natural. É preciso ter paciência com o processo, e aprender com esse momento da vida.

A família é importante nesse processo, cabe a ela reconhece-lo. Reconhecer o direito da pessoa em envelhecer e o direito de passar pelos processos do envelhecimento, que o sujeito já viveu muitas coisas e suportou muita coisa na sua história de vida, que tem suas características peculiares, particulares. É necessário amor não só por ser uma fase de fragilidade, mas porque a afetividade faz parte da condição humana.

Enquanto não se envelhece não se costuma pensar sobre a velhice. Por isso o envelhecimento é uma problemática. Os velhos hoje se encontram a margem de suas preocupações. A sociedade não está preparada para acolher os idosos, que ao chegar à idade avançada sentem-se indiferentes, afetando assim sua autoestima.

A desigualdade social produz fortes reflexões sobre a constituição da subjetividade tanto social quanto individual. A subjetividade pode ser configurada como unidades representativas das sínteses das histórias de cada indivíduo, associadas aos elementos das histórias coletivas. Dessa forma, a subjetividade representa o sujeito através da sua própria expressão, sendo ela manifestada na subjetividade individual, em que podem ocorrer mudanças que dependem do contexto da subjetividade social (SANTOS, 2013).

Os velhos que se encontram em situações de vulnerabilidades sociais, na grande maioria, apresentam sinais de condições precárias de moradia e saneamento, desnutrição, não possuem emprego e seus vínculos sociais são escassos. Esses fatores compõem o risco social, que os mesmos enfrentam. O sujeito que está nessa situação torna-se um excluído, são

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impossibilitados de partilhar dos bens e recursos oferecidos pela sociedade, sendo, consequentemente, abandonados e expulsos dos espaços sociais. Muitos deles que procuram a assistência social geralmente têm sua vida marcada por essa trajetória de exclusão, de rompimento dos vínculos familiares, comunitários e sociais. Como verificamos no estágio em processos sociais, realizado num CRAS, cujo trabalho centrou-se no acompanhamento de idosos.

“A sociedade exclui para incluir e esta transmutação é condição da ordem social desigual, o que implica o caráter ilusório da inclusão. Todos estão inseridos de algum modo, nem sempre decente e digno, no circuito reprodutivo das atividades econômicas, sendo a grande maioria da humanidade inserida através da insuficiência e das privações que se desdobram para fora do econômico.” (SAWAIA, 2001, p.8).

Diante deste ponto de vista, de acordo com Sawaia (2004), no local polissêmico das discussões em torno da pobreza, dos direitos sociais e da cidadania, tem-se também que pôr em destaque as singularidades e as referências espaços-temporais das pessoas que vivenciam as expressões complexas da desigualdade social, sendo este o patamar para o desenvolvimento do trabalho da psicologia, bem como para desvendar a emergência da afetividade e do sofrimento ético-político como importantes categorias analíticas na compreensão da dialética exclusão-inclusão social que, ao mesmo tempo, resplende, singulariza-se e se constitui nas dinâmicas das comunidades.

A exclusão é tema da atualidade, é uma impossibilidade de poder partilhar o que leva a vivência da privação, da recusa, do abandono e da expulsão inclusive, com violência, de um conjunto significativo da população, especificadamente, dos idosos. No mundo das relações sociais a fragilização dos vínculos (família, vizinhança, comunidade, instituições) pode produzir rupturas que conduzem ao isolamento social e a solidão. O tema da exclusão social não é novo no Brasil, pessoas que sofrem depressão, ficam isoladas, os sujeitos de fora os veem com preconceito. O conceito de exclusão social é dinâmico, referindo-se tanto a processos quanto a situações consequentes. Para a sociedade, quem não cumpre, as normas estabelecidas são excluídas sendo vistos como inferior.

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Em relação aos idosos, as queixas mais comuns são: de viver sozinho e da falta de compreensão da família a cerca do seu sofrimento. O isolamento e a solidão parecem fazer parte da velhice. Segundo Mucida, (2006) a velhice pode ser entendida como uma fase do desenvolvimento humano em que a ideação da própria morte costuma se aproximar do sujeito que envelhece e ganhar nitidez. Uma vez que o sujeito vivencia as perdas relacionadas ao processo de envelhecimento e as mudanças igualmente vivenciadas no corpo, como o avançar da idade, o processo de luto é comumente experimentado. Assim o fantasma da finitude parece esvanecer e a morte se aproxima do sujeito que envelhece.

O envelhecimento da população é um fenômeno mundial, o que coloca necessidade de instituir políticas e programas que se ocupem da qualidade de vida desta população. Estudos mostram que além de doenças crônicas como a hipertensão, artrite, reumatismo, diabetes, problemas cardíacos, osteoporose, entre outros, quando se trata de aspectos psicológicos é significativa a ocorrência de depressão e de problemas cognitivos, como perda de memória, raciocínio, e outras funções mentais. Toda essa sintomatologia quando não tratada adequadamente, acaba por atingir a capacidade funcional do idoso, ou seja, sua autonomia para gerir sua vida tornando-o total ou parcialmente dependente de cuidados.

Entretanto Mucida (2004) esclarece que ao mesmo tempo em que envelhecer é, sobretudo, uma questão de posição psíquica, as possibilidades de resposta, não são as mesmas aos 20 e aos 90 anos. Se por um lado fatores como a idade cronológica, as marcas corporais, doenças ou possibilidades identificarias não definem como precisão a idade subjetiva do sujeito, por outro lado, não ha como desconsiderar os efeitos que o tempo impõe ao sujeito.

Sabemos que para a psicanálise o sujeito não envelhece (Mucida, 2006). Trata-se do sujeito do inconsciente, sujeito do desejo, que é atemporal, não tem idade. Quando o idoso é institucionalizado, deixa para traz a sua casa, seus filhos, netos, uma vida de trabalho, objetos pessoais, uma história de vida. E isso para muitos é o fim de uma vida, é uma fase que antecede a morte, não conseguindo enxergar que pode ser o começo de uma nova fase, que implica momentos ruins, mas também momentos de alegria, de compartilhar histórias de vida e a sabedoria adquirida através dos anos. Mesmo diante do envelhecimento do corpo, é essencial que o sujeito encontre formas de inscrever e investir seu desejo, para isso ele precisa

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de recursos do outro. Desta maneira vemos o quanto pode ser significativo o acompanhamento terapêutico realizado pelo psicólogo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A garantia aos idosos de seu retorno ao convívio e aos serviços sociais significa muito mais que ocupar uma mão de obra. Ou seja, é posicionar prazer e felicidade para todos, uma vez que sempre é motivo de felicidade perceber que os outros se servem com o prazer de seus serviços. Embora nos grupos sociais, com os grupos de terceira idade, onde os idosos são estimulados, as atividades representam um menor volume de exigências, elas são sempre significativas, pois o sentimento de inutilidade é deslocado.

Percebemos a importância que se tem em propiciar aos idosos um espaço para que eles possam expressar seus desejos e construir objetivos, em comum para a satisfação individual e coletiva.

O envelhecimento traz consigo muitas perdas como os amigos, familiares, posto social, e estas perdas geram sofrimento psíquico que, por sua vez, acarreta em depressão. O idoso necessita de atividades que o motivem, como por exemplo, realizar exercícios físicos, artesanato, caminhadas, participar de grupos. Assim poderão sentir-se estimulados estarão em constante aprendizado, aumentando a confiança em si mesmo, a produção, a saúde psíquica e sua satisfação.

Os grupos de idosos que se reúnem, seja semanalmente ou mensalmente, somam-se como ponto positivo na sociedade. Porque muitos desses grupos oportunizam aos participantes uma maior afinidade com os demais membros e também com familiares e amigos. Resgatando sua autoestima, a saúde, sua alegria de viver. Assim dividindo assuntos diversos e ao mesmo tempo semelhantes.

O olhar social deve ser um olhar que retorne ao sujeito a garantia de que tem um lugar social e, portanto que tem valor. Pois cada sujeito envelhece a sua maneira, sustentada por um entrelaçamento particular de uma história singular, e do contexto social no qual está inserido.

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