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Musicalização na educação infantil: do barulhar ao musicar

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL

PÂMELA THAÍS DE SOUZA

MUSICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DO BARULHAR AO

MUSICAR

IJUÍ – RS.

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PÂMELA THAÍS DE SOUZA

MUSICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DO BARULHAR AO

MUSICAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, como requisito para aprovação do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Orientadora: Profª Drª Noeli Valentina Weschenfelder

IJUÍ – RS

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Dedicatória

Dedico este Trabalho de Conclusão de Curso a todas as

crianças, para que tenham possibilidades de brincar,

barulhar e musicar na diversidade das culturas.

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Agradecimentos

A Deus por ser bom todo o tempo estando sempre no

controle de minha vida, guiando-me á conclusão desta

etapa, gozando de saúde, paz, amor, alegria e sabedoria.

A minha família, em especial, aos meus pais Roberto e

Ana, a minha irmã Roberta e ao meu noivo Bruno que

sempre estiveram firmes ao meu lado me auxiliando e

incentivando a buscar a realização de meus sonhos.

A minha orientadora Noeli a as professoras do Curso de

Pedagogia pelo desvelamento de significados que ajudaram

na construção deste trabalho.

As professoras e crianças do Sesquinho que contribuíram

para a minha formação, possibilitando que eu chegasse até

aqui.

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 – Grupo de alunos explorando diferentes sons e instrumentos...14

Fotografia 2 – Espaço possibilitando o barulhar...15

Fotografia 3 – Momento Cultural...31

Fotografia 4 – Mateando na escola...31

Fotografia 5 – Acompanhando a música batendo palmas...32

Fotografia 6 – Como é bom um chimarrão...32

Fotografia 7 – Nossa banda...33

Fotografia 8 – O show não para...33

Fotografia 9: Alunos da Turma C na fachada da fábrica de acordeons...35

Fotografia 10 – Apreciando um funcionário da fábrica Minuano que estava tocando acordeom...35

Fotografia 11 – Descobrindo como são feitos os botões do acordeom...36

Fotografia 12 – Atentos para aprenderem como se cola esta peça do acordeom...36

Fotografia 13 – Alunos escutando o dono da fábrica explicar como esta peça funciona no acordeom...37

Fotografia 14 – Alunos da Turma D prestando atenção na explicação da funcionária...37

Fotografia 15 – Agora é minha vez de tocar...38

Fotografia 16 – Exploração espontânea dos alunos da Turma D com latas e tacos de madeira...40

Fotografia 17 - Exploração dirigida, tambores de madeira e couro...40

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LISTA DE VÍDEOS

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...8

1. MINHA HISTORIA DE VIDA COM A MÚSICA...10

2. A IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO ESCOLAR E DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL...13

3. BARULHAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL...20

4. MUSICAR É POSSÍVEL...23

5. VIVÊNCIAS NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL SESQUINHO...30

CONSIDERAÇÕES FINAIS...44

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso surgiu a partir de dúvidas sobre a musicalização na Educação Infantil, no decorrer do curso de Pedagogia na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e nas vivencias realizadas na Escola de Educação Infantil Sesquinho. As dúvidas foram sanadas e compreendeu-se o quanto a musicalização é significativa na Educação Infantil.

No estudo das representações através da música, costuma-se agregar e exaltar seu vínculo espacial, isto é, no limite de um espaço em que se manifestam, as crianças interagem espontaneamente expressando-se livremente, sendo que as emoções, a sensibilidade e a criatividade fluem, assim surgem várias ações nas dimensões do brincar, pois brincando se faz música. Pensando nesse fenômeno da representatividade musical é que se desenvolve o referente estudo, o qual é importante destacar que na Educação Infantil o ensino da musicalidade traz uma grande contribuição para a formação dos sujeitos.

A influência da música é real em nossas vidas ao ponto de marcar momentos históricos, sendo assim, esses fatos levam a pensar sobre como é necessário trabalhar a música desde os primeiros dias de vida, principalmente na educação. Há que se levar em conta que a música, se dá não somente no ambiente escolar, mas em todos os ambientes em que a criança esteja inserida. Partindo desse momento em que a criança entra em contato com a música, seus conhecimentos tornam-se mais amplos e este contato envolve suas emoções e sensibilidades fazendo com que descubra a si, ao outro e ao mundo de forma prazerosa.

Proporcionar momentos em que a criança conheça os vários ritmos e gêneros musicais, trará a esta criança a possibilidade de descobrir e significar culturas, tornando-se um ser crítico, produtor de cultura e capaz de expressar-se por meio da diversidade musical.

A cultura popular e, especialmente, a música da cultura infantil é rica em produtos musicais que podemos e devemos trazer para o ambiente de trabalho de creches e pré-escolas. A música da cultura popular brasileira e , por vezes, de outros países deve estar presente. [...] Mediante a pesquisa em livros, meios audiovisuais e , principalmente, pelo contato direto com grupos, sempre que possível, pelo canto, pela dança, pela representação, estaremos ampliando o universo cultural e musical e estabelecendo, desde a primeira infância, uma consciência efetiva com relação aos valores próprios da nossa formação e identidade cultural (BRITO, 2003, P. 94).

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9 Portanto, pode-se afirmar que, a linguagem musical é uma das riquezas da humanidade, é um bem cultural e necessita estar presente no cotidiano escolar da Educação Infantil, fator determinante para o desenvolvimento dos sujeitos.

Este trabalho está assim organizado, primeiramente uma retomada de minha história de vida relacionada com a música, seguido de apontamentos sobre o significado do brincar na infância, e concepções de barulhar e musicar as culturas infantis no cotidiano escolar e para finalizar relato minhas vivencias de musicalização escolar realizadas na Escola de Educação Infantil Sesquinho, onde durante o período de dois anos tive a possibilidade de realmente ouvir, ver, sentir e participar do brincar, do barulhar, do musicar e do dançar das crianças.

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1. MINHA HISTÓRIA DE VIDA COM A MÚSICA

Nasci no dia 15 de agosto de 1993 na cidade de Santo Ângelo, no estado do Rio Grande do Sul, o parto foi realizado no Hospital Militar da cidade, pois meu pai nessa época era cabo do Exército Brasileiro, minha mãe era dona de casa, eles já estavam casados há dois anos quando eu nasci à alegria foi imensa, do lado materno nascia a quarta neta e do lado paterno a vigésima terceira.

Desde anteriormente ao meu nascimento meu pai Roberto, sempre se mostrou um grande apreciador de música, principalmente sertaneja e gaúcha, sabia tocar violão e adorava se reunir com os amigos para uma adorável tertúlia. Os anos foram passando e eu fui crescendo sempre escutando meu pai tocar seu violão, eu sempre sentada ao lado dele e muito participativa nas canções, Menino da Porteira, Chico Mineiro, Boca a Boca,cantava sem errar a letra. Cantava essas músicas até para meus colegas da pré-escola que até hoje quando nos encontramos relembram desses momentos. Nas aulas de violão em que meu pai e meu tio materno Tito frequentavam, eu estava presente em todas, era sempre aquela “guerra” em casa para que eu pudesse ir, não abria mão de ir junto, pois na casa do professor havia uma sala onde ele ficava com os alunos, as paredes eram repletas de violões pendurados e aquilo me fascinava. O professor costumava gravar seus alunos tocando e cantando para que eles pudessem depois escutar e perceber onde tinham que melhorar, porém em muitas das gravações o meu assovio atrapalhava as gravações e os alunos muitas vezes irritavam-se comigo.

Aprender a tocar violão sempre foi um sonho para mim, porém, eu sou canhota e isso tornava tudo mais complicado. Então, esse desejo foi ficando de lado e minha satisfação musical voltou-se para “o cantar,” a maioria das minhas brincadeiras de infância estava relacionada com a música e com interpretações. Ao fechar os olhos lembro-me como se fosse hoje, eu sentada na frente do ventilador, com aquele vento forte batendo em meu rosto fazendo com que a minha voz ficasse toda “tremida”, além de obstruir a passagem do vento, eu ainda quase enlouquecia a família com minhas cantorias, eles aceitavam por um tempo e depois pediam para que eu parasse, pois não conseguiam nem conversar.

Na casa de meus avós existia um parreiral enorme, embaixo dele meu avô Luiz havia colocado uma balança, na qual eu passava quase o dia todo brincando, balançando, montando casinha, fazendo comida com barro e cantando, muitas de minhas músicas eram em inglês,

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11 claro que uma língua criada por mim e cantada com muita empolgação, agradecia a plateia e até dialogava com meus fãs.

O tempo foi passando e eu sempre cantando, nas tardes depois que eu ajudava minha mãe nos afazeres domésticos, eu pegava uma pasta na qual meu pai tinha organizado diversas letras de músicas e, com a escova de cabelo como microfone, ficava trancada em meu quarto somente a cantar.

Quando eu tinha uns onze/doze anos meu pai começou a frequentar aulas para aprender a tocar acordeom, sempre que ensaiava em casa eu prestava muita atenção e tinha uma enorme vontade de tomar aquele instrumento nas mãos e sair tocando, porém todas as vezes que meu pai questionava-me se eu queria fazer aulas eu respondia que não queria, pois acreditava que usar a mão esquerda para tudo era o maior empecilho que poderia existir. Realmente, quem é canhoto sente dificuldades para aprender a tocar instrumentos, pois para um sujeito direito ensinar fica tudo ao contrário. Porém, eu não me conformava e a vontade de “fazer” músicas me corroia, então, em um dia qualquer depois de ter observado várias vezes meu pai tocando alguns solos, peguei o acordeom no colo e comecei a tocar, as músicas que eu toquei foram uma valsinha bem simples e a Rosa, mas detalhe eu não virei a “gaita” para tocar eu a dedilhei com a mão direita fato esse que deixou todos em minha casa muito surpreendidos, principalmente meu pai.

A partir do momento em que comecei a ter mais intimidade com o acordeom passei a ir duas vezes por semana nas aulas particulares, onde fui desenvolvendo-me dia após dia, aprendendo mais e mais musicas. Nessa época eu já estava quase me formando no Ensino Médio, comecei a trabalhar em uma loja perto de minha residência, passei no ENEM e consegui uma bolsa através do programa PROUNI, então, as aulas de acordeom acabaram sendo deixadas de lado. Em função de o tempo ser corrido e dos gastos terem aumentado, as aulas de acordeom pararam de acontecer, porém o desejo de fazer música não está morto dentro de mim, pelo contrário, continua vivíssimo e com novas concepções. Atualmente, sou formanda do Curso de Pedagogia da Unijuí e anseio retornar as aulas de acordeom para que eu aprender mais sobre esse mundo musical, que não é nada fácil e simples, esse mundo que tanto me fascina requer dedicação, esforço e comprometimento.

Busco chegar a um nível que eu possa usar o que eu sei musicalmente no ambiente escolar, criando juntamente com os alunos melodias, letras, solos, formarem uma banda de

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12 alunos, de professores, de alunos com professores, são tantas ideias e desejos elencados que com esforço podem ser realizados. O desejo por música dentro de mim fala, arrepia e emociona, é sentido de várias maneiras, creio que esse desejo não esta só em mim, mas todos têm alguma relação com a música, que deixou marcas em nosso ser, relações que deixam respingos em nossa alma, momentos que estão eternizados em nossa memória.

A música tem uma magia que encanta não e talvez não exista explicação, porém o mundo da música nos permite ultrapassar barreiras, imaginar, brincar, sonhar, libertar-se, rir, chorar, pensar, refletir e tudo mais o que nos permitirmos fazer. É um universo do qual desejo sempre fazer parte, não imagino o meu “ser” sem a música e anseio que esse meu desejo de música, possibilite muitas outras vidas a entrar nesse mundo mágico. Busco ser uma pessoa capaz de mostrar esse mundo para os meus pares, principalmente, focando-me na infância, pois é desde cedo que se deve descobrir esse mundo encantado do qual se pode fazer parte.

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2. A IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO ESCOLAR E DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Os homens ao longo de sua história tiveram que criar sistemas, signos e formas para que fosse possível viverem coletivamente, criaram a possibilidade de reflexão, compreensão e elaboração da experiência, organizaram ideias e consciência sobre si mesmo. Assim a capacidade humana de expressar, dar sentido, conscientizar e possibilitar estruturou a linguagem, a mesma é formada por linguagem verbal (oral e escrita), gestual, plástica, visual, o brincar, linguagem musical e virtual.

A escola, atualmente, é um local onde diversidades de encontram, essa diversidade é contemplada e desejada por todos, portanto, é função do professor organizar espaços que possibilitem alunos, professores e famílias realizarem trocas sociais e culturais.

[...] implica assumir a responsabilidade de torná-las espaços privilegiados de convivência, de construção de identidades coletivas e de ampliação de saberes e conhecimentos de diferentes naturezas, por meio de práticas que atuam como recursos de promoção da equidade de oportunidades educacionais entre crianças de diferentes classes sociais no que se refere ao acesso de bens culturais e possibilidades de vivência da infância. (Parecer CNE/CEB n° 20/2009, A função sociopolítica e pedagógica da Educação Infantil).

As crianças desde o nascimento percorrem um caminho de descobertas, o adulto é um sujeito significativo para a infância, pois são os adultos que apresentam o mundo para as crianças, possibilitando que elas sejam autoras, redescobrindo e transformando esse mundo, instigadas pelas suas curiosidades a ter o desejo de explorar e aprender.

De acordo com Faria e Salles (2012, p. 109), as crianças precisam se apropriar de elementos básicos dos sistemas simbólicos criados pela humanidade e as linguagens necessitam estar presentes no cotidiano da Educação Infantil, mediando as relações entre e com as crianças.

Nesse sentido, numa Instituição de Educação Infantil, é necessário que as crianças se apropriem de alguns elementos básicos dos vários sistemas simbólicos criados pelos homens e que tenham acesso ao acervo artístico-cultural produzido por meio desses sistemas. Ao mesmo tempo, as diversas linguagens precisam estar presentes na IEI como práticas sociais reais, de forma significativa e criativa, mediando às múltiplas relações que são estabelecidas com e entre as crianças. É fundamental que essas linguagens possibilitem o compartilhamento de significados entre todos os

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envolvidos e que a autoria das crianças seja garantida pela fala, pelo gesto, pelo desenho, pela escrita ou por alguma outra forma de registro.

As Escolas de Educação Infantil não são somente um local onde as crianças ficam enquanto seus pais trabalham, com isso tem-se o desafio de direcionar o foco das observações nas crianças e na maneira como elas ocupam o espaço e como se relacionam com ele. Esta instituição deve garantir que toda criança tenha contato com a música em seu cotidiano escolar, buscando o crescimento pessoal de cada sujeito. O espaço escolar em que a criança esta inserida é de significativa importância para o seu desenvolvimento, pois o espaço também ensina, deixa marcas e é marcado por cada sujeito que o constitui.

Portanto, pensando no espaço escolar como um lugar que educa as crianças e professoras da Escola de Educação Infantil Sesquinho organizaram um espaço musical no corredor principal da escola, local que proporciona a exploração de diversificados sons e instrumentos, possibilitando a descoberta e a expressão dos alunos. As fotografias a seguir registram o momento em que alunos da Turma D, com idade entre 5 e 6 anos exploram, descobrem e barulham com os instrumentos disponíveis no corredor da escola.

Fotografia 1 – Grupo de alunos explorando diferentes sons e instrumentos

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15 Fotografia 2 – Espaço possibilitando o barulhar

Fonte: Arquivo fotográfico Sesquinho (2013).

Como nos diz Teca Alencar de Brito (2003, p.41) “O modo como as crianças percebem, apreendem e se relacionam com os sons, no tempo-espaço, revela o modo como percebem, apreendem e se relacionam com o mundo que vêm explorando e descobrindo cada dia”.

É preciso dar oportunidade para que as crianças tenham efetiva participação, considerando suas contribuições e enriquecendo os espaços destinados a elas, com a imaginação, inventividade, ludicidade delas mesmas, dar liberdade para que elas possam deixar suas marcas naquele espaço onde passam tanto tempo. As crianças nos indicam caminhos para seguir, nos convidam a construir e a sonhar com elas o lugar da escola como um lugar de gente. É importante que a sala de aula seja um lugar motivador, em que se acolham as diferentes formas de ser e agir, nos quais as crianças vivenciam suas experiências e descobertas, também é importante lembrar que a sala é um lugar de jogos, do faz de conta, de música, da liberdade e do desenvolvimento da imaginação.

Quando eu estava na pré-escola, lembro-me que cantava para meus colegas, barulhava com alguns instrumentos que estavam na sala, porém nunca existiu uma instigação da

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16 professora, nem um espaço que nos possibilitasse barulhar, tínhamos muitos momentos de brincadeira de faz de conta, mas nunca esses momentos foram realmente vistos pelo educador, os mesmos passavam despercebidos, sendo assim percebe-se que a quinze anos atrás a formação de professores tinha outros olhares, com isso perdia-se todo o lúdico das crianças.

Sendo a Educação Infantil a primeira etapa da educação básica, as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (2010), afirma em seu artigo:

Primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNEI, 2010).

Sendo a criança um sujeito de direitos, segundo a DCNEI/2010 a Educação Infantil deve garantir a disponibilidade de espaços em que as crianças tenham seus direitos culturais, sociais e pedagógicos assegurados. A criança é capaz de produzir cultura e sentidos, narrando a sua própria maneira de viver a vida.

Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (DCNEI/2010).

As escolas de Educação Infantil têm a obrigação de disponibilizar de um espaço que possibilite a exploração musical, pois na Lei 11.769/08 cita que é necessário se pensar nas adequações para que este ensino seja realizado, tornando á música acessível aos alunos, logo para esse trabalho necessitasse de um lugar amplo, pois música e movimento estão sempre se relacionando. As crianças precisam de um local onde possam barulhar, musicar, expressar seus sentimentos, demostrar suas emoções e transformar a si, aos outros e o espaço, as mesmas merecem estar em um ambiente onde as musicas respeitem-nas como sujeitos.

Também nas DCNEI/2010 há uma preocupação com o brincar, é considerado essencial para a infância, é a brincadeira um local de grandes potencialidades, pois a alegria com que as crianças vivem seus momentos de brincadeiras na escola, ensinam, comove e convence, pois temos que viver o agora, sem precisar ficar traçando planos para o futuro. Pela brincadeira é possível conhecer as crianças, pois elas identificam-se no brincar e vivenciam inúmeras experiências de vida em seus momentos de brincadeiras.

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17 As crianças brincam com tudo e brincando vão descobrindo e experimentando o mundo, é necessário que a ideia de que as crianças são totalmente dependentes dos adultos seja deixada no passado, pois elas não são taças vazias que temos que encher, as crianças são sujeitos que produzem cultura, possuem conhecimentos e constroem o mundo.

O lúdico, o brincar, são traços fundamentais e compõem as culturas infantis que possibilitam aprendizagens, como também formas de recriar e transformar o mundo. Independentemente da época, da etnia, do gênero e da classe social, o lúdico faz parte da vida da criança, da descoberta de si mesmo, da possibilidade de experimentar. No brincar nos conhecemos melhor e conhecemos o outro, por meio da brincadeira deciframos a forma de cada um, seu modo de viver, reelaboramos nossas experiências. No brincar construímos regras e conceitos para a constituição da sociabilidade, aprende-se a brincar nas relações com os outros, a significar e compartilhar experiências.

Para que isso aconteça, temos que ter uma Proposta Pedagógica, no mínimo que contemple as diferentes linguagens e os direitos da criança em suas múltiplas dimensões, não esquecendo as brincadeiras e as interações. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010):

Objetivos da Proposta Pedagógica

A proposta pedagógica das instituições de Educação Infantil deve ter como objetivo garantir à criança acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças (DCNEI/2010).

As crianças aprendem a constituir sua cultura lúdica brincando. Segundo as autoras Farias e Salles (2012), cultura é processo vivo de relações, interações e transformações. Isso significa que a experiência lúdica não é transferível, não tem como ser simplesmente adquirida, fornecida através de modelos prévios. Tem que ser vivida, interpretada, co-constituida, por cada criança e cada grupo de criança em seu contexto cultural dado por suas tradições e sistemas de significados que tem de ser interpretados, ressignificados, rearranjados, recriados, incorporado pelas crianças que chegam nesse contexto. Para elas o educador lúdico é aquele que cria situações-problemas visando desencadear a atividade espontânea do sujeito, através das quais as estruturas cognitivas se desenvolvem. Esse precisa ter compromisso com o desenvolvimento e a aprendizagem, pois à iniciativa lúdica da criança deve corresponder, em outros momentos, a iniciativa educativa do adulto.

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18 De acordo com Faria e Salles (2012):

O brincar é uma das formas privilegiadas de as crianças se expressarem, relacionarem-se, descobrirem, explorarem e conhecerem sua realidade física e social. Brincando, constroem sua subjetividade, construindo-se como sujeitos humanos em determinada cultura. É, portanto, uma das linguagens da criança e, com as demais, aprendida social e culturalmente. É uma atividade permeada por valores, atitudes e expressão de sentimentos que possibilita a significação e a ressignificação do mundo pelas crianças (FARIA e SALLES, 2012, P. 118).

A infância possui muitas marcas e uma delas é fazer música brincando, ou brincar de fazer música. Enfim, brincar e fazer música, brincar é uma ferramenta para aprender a viver. Nas brincadeiras com música as crianças encontram alegria e conseguem sentir a vida. As crianças demonstram que fazer música é brincar e lançam o corpo no movimento sensível, a música pertence ao corpo das crianças e ensina o ouvido a pensar.

Para Lino, brincar é fazer música, nessa ação lúdica à música, produzida pelas crianças, acontece na diversão e na improvisação, nas mais diversas relações do brincar com a música existe o desejo sensorial de tocar o outro, a si mesmo e ao mundo. Nessas vivências lúdicas da música são consideradas as entonações, os cantos, as interpretações, as composições, as improvisações, as danças, os ritmos percutidos e a escuta. Portanto, a música adere ao som, ao ruído, a mistura dos dois e ao silêncio, fazer música para as crianças é uma experiência socializadora.

Ouvir uma música aprender a cantar uma canção, brincar com jogos de mão e brincadeiras de roda são atividades que não existem sem expressões e afetividades, de uma maneira prazerosa, estimulam e despertam o interesse das crianças pela musicalidade. Com isso, a música e a brincadeira fazem parte da educação e da socialização do sujeito, surgindo como uma forma de refletir sobre si e sobre a sociedade.

Fazer música brincando é uma ação lúdica, algo que as crianças fazem sem ao menos perceber, porém brincar não é apenas um passatempo, recreação ou descarga de energia e emoções, pois brincar é uma maneira de aprender a viver, uma atividade que não pode ser prevista e não é linear, o brincar é livre e possui regras separando assim tempo e espaço na ação lúdica.

As leituras de Dulcimarta Lino (2010) ajudaram a compreender melhor o brincar e fazer música, portanto, barulhar, é ser um corpo que brinca, é um corpo sonoro.

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Compreendo que ao fazer música brincando, as crianças participam da experiência sonora num tempo de conexões significativas entre os acontecimentos, suspendendo o automatismo das ações para entrar em relação com o som, , matéria prima que provoca movimento aprendido pelo ouvido. Tal experiência sonora requer interrupção, cultiva a escuta, mobiliza o corpo (LINO, 2010, P. 83).

Portanto, na infância tempo de brincar também é tempo de barulhar e musicar, pois são nos momentos de brincadeiras divertidas e alegres que surge a necessidade de expressar-se, fazendo com que o corpo que brinca seja um corpo sonoro.

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3. BARULHAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

No decorrer do Curso de Pedagogia da UNIJUI sempre a questão de música nas escolas

chamou-me muito a atenção, pois estamos em um tempo em que se fala muito sobre esse assunto, lemos publicações, reportagens e a LEI nº 11.769 de 18 de agosto de 2008 determina a obrigatoriedade da música nas escolas. Porém diante de toda essa “audiência” comecei e questionar-me, “Tá, mas que música é essa? Como à música deve se fazer presente no ambiente escolar? Qual o papel do professor?”.

Durante os estágios de Educação Infantil do Curso de Pedagogia, percebia que existiam nas escolas DVDs de personagens bastante estereotipados passando na televisão o dia todo, músicas repetitivas que não faziam sentido, estarem naquele aparelho eletrônico rodando e rodando sem cessar e as crianças ali sentas em cadeiras de balanço olhando para a televisão, como se fossem bonecos, como se estivessem hipnotizados, sem reações somente ali assistindo, então, me perguntei também “qual o significado disso?”.

As leituras de Ciszevski (2010) contribuíram para a busca de respostas:

A música está presente nos mais diversos povos e culturas e manifesta-se fortemente na vida das crianças. As crianças desde o ventre materno têm contato com os sons em seu cotidiano. Elas interagem com o som de maneira espontânea e criativa, expressando-se muitas vezes por meio de músicas infantis e improvisando desenhos sonoros enquanto brincam. [...] Podemos perceber que ainda existem fortes resquícios de um ensino que utiliza a música para aquisições de conhecimentos gerais, para a formação de hábitos e atitudes, disciplina, condicionamento de rotina e comemorações de datas diversas. [...] Esses são alguns dos problemas frequentes em relação à música nas escolas de educação infantil. Não podemos generalizar as dificuldades aqui apresentadas, mas muitas pesquisas indicam o mau uso da música nas escolas. [...] Primeiramente, temos que ter clareza a respeito de que a música é uma expressão artística fundamental no desenvolvimento das crianças. [...] espera-se que a música na educação infantil possa desenvolvera criatividade, a expressividade, o senso estético e crítico dos alunos. Assim o professor precisa ser capaz de observar e conservar as respostas naturais das crianças (CISZEVSKI, 2010, p. 24-25).

As dúvidas e questões existentes em mim foram seguindo caminho comigo, no diálogo com professores da universidade muitas foram esclarecendo-se, porém foi a partir do momento em que comecei a fazer parte da equipe Sesquinho de Santo Ângelo que as minhas questões foram, realmente compreendidas e vividas por mim. O componente curricular Linguagens Expressivas II, com a professora MS Leticia Buchmann, foi algo de um significado inexplicável, pois tudo o que foi dialogado, pesquisado, discutido e realizado em

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21 aula era tudo o que eu sempre quis saber, lamentei muito o fato desse componente ser apenas de dois créditos, por mim, ficaria os nove semestres estudando sobre música.

Para Lino, a música nas culturas infantis é definida como barulhar, ação esta que sente a música antes de pensar nela como sentido, barulhar é uma ação que nos toca, que nos acontece e que nos expõe, música é a expressão da organização sonora impressa por diferentes culturas e sociedades ela esta presente na cultura e como cultura. Para a autora, as crianças aproximam-se da música através da curiosidade que possuem em descobrir, não se faz música somente pensando, mas sim, experimentando os sons. Quando as crianças estão em interação com materiais sonoros, dão destaque para aquilo que a música lhe oferece na relação com a sua vida social. Barulhar ocupa todo e qualquer espaço onde se possa viver a infância, pois o corpo e o mundo são território do barulhar, por isso barulhar não é um conserto musical.

Sendo assim, este estudo foi baseado na pesquisa realizado por Dulcimarta Lemos Lino (2010), para ela:

Na escuta da música das culturas infantis, as crianças deram estado de existência às sonoridades do mundo, expressando poeticamente a sua música, isto é, barulhando. [...[ Nesse ato relacional as crianças tomavam contato consigo mesmas, com os pares e com os adultos, experimentando a interdependência existente entre a música, a escuta, o corpo e as paisagens sonoras ao seu entorno; aprendendo e ensinando com prazer a significação do diálogo entre todas as músicas da música. [...] Logo, a música das culturas da infância é o BARULHAR.[...] Nesse sentido as crianças barulhavam porque tinham no seu corpo a sonoridade, essa necessidade humana sensível. Ao buscar oferecer sentido, contagiavam e eram contagiadas pelas culturas de pares, incorporando coerências musicais constituídas nas culturas legitimas e inventando autonomamente formas singulares de perpetuá-las, compreende-las, significa-las, afrontá-las ou transforma-las (LINO, 2010, P. 84).

Barulhar é o ato de fazer barulho, sem ter notas musicais, ritmos compassados e afinação, barulhar é se entregar a esse mundo de sons sem determinação que cada indivíduo cria. Para barulhar é necessário que se tenha um corpo em movimento que esteja expressando sua sensibilidade.

Segundo Lino (2010):

Corpo que estabelece uma relação de presença com e doação ao se movimentar, se fazer ressoar num tempo e num espaço, emergindo o sensível como característica da infância. Sensibilidade que, sendo social e histórica é condição de pôr-se no mundo soando. [...] Assim, o barulhar é o atrito do corpo com o real que brota da criança que experimenta o mundo; não como música, som, ruído ou silêncio, mas como espaço de espirito ou do pensamento tornado ação na pluralidade das

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discursividades que a criança decide manipular, e/ou nas singularidades que lúdica e poeticamente expressa em performance (LINO, 2010, P. 85).

Quando barulha, a criança está experimentando e conhecendo o mundo, expressando-se e dando sentido ao seu corpo e sua voz, barulhar é estar de frente com o

desconhecido, medo, emoções, sentimentos e movimentos. Barulhar não se ensina, pois o ato de fazer barulho pertence a todos os seres humanos, cada um barulhando do seu jeito, portanto a Educação Infantil tem a responsabilidade de proporcionar aos sujeitos momentos que incentivem o barulhar no cotidiano escolar.

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4. MUSICAR É POSSÍVEL

Música é um movimento dinâmico porque é um fenômeno humano, uma forma artística que em meio às diversidades das culturas, faz sentido para as pessoas, relacionando-se tanto com a expressividade, quanto com a significação do social.

Nas leituras realizadas Faria e Salles (2012) acreditam que:

Nesse sentido, a linguagem corporal se manifesta por meio do gesto, da expressão facial, da mímica, dos diversos deslocamentos no espaço, da exploração de objetos, das brincadeiras, dos costumes e práticas sociais, permitindo aos sujeitos que ingressam no mundo, conhecerem e agirem sobre ele, mobilizando as pessoas, construindo e partilhando significados (FARIA e SALLES, 2012, P. 110).

Para estas autoras escutar a música das crianças na Educação Infantil não é querer escutar cientificamente seus mundos sonoros, não é unificar, nem fixar paradigmas, mas sim escutar essa música como cultura em movimento e flexibilidade constante, pois para as crianças música é um processo de constante movimento. Música é uma prática social e cultural que as crianças experimentam nos múltiplos e variados contextos de suas vivências, quando as crianças experimentam sonoridades estão colocando os seus corpos no som, necessitando de capacidades mentais e físicas para organizar perceptivamente os sons que recebem e logicamente os sons que produzem; no acontecer desta ação as crianças criam significados plurais na diversidade da cultura.

Através do nosso corpo conhecemos e nos apropriamos do mundo sempre o

transformando, nossos movimentos modificam os espaços, os objetos, a natureza e nós mesmos. Os sujeitos exploram, tocam, mexem, mordem, balançam, jogam, correm, saltam, constroem, brincam, e assim modificam e são modificados. Os movimentos manifestam pensamentos, sentimentos, desejos, emoções, medos, inseguranças e seguranças. Relacionam-se corporalmente com os outros na cultura em que estão inRelacionam-seridos, o corpo comunica e expressa significados os quais são partilhados com outros em uma cultura.

Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010), encontramos subsídios para pensar a música num contexto maior:

11. Práticas Pedagógicas da Educação Infantil

*Promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança;

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*Favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical;

*Possibilitem ás crianças experiências de narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos;

*Ampliem a confiança e a participação das crianças nas atividades individuais e coletivas;

*Possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de referência e de identidades no diálogo e conhecimento da diversidade;

*Promovam o relacionamento e a interação das crianças com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura;

*Propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças das manifestações e tradições culturais brasileiras;

*Possibilitem a utilização de gravadores, projetores, computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos tecnológicos e midiáticos (DCNEI/2010).

Música é uma forma de comunicação bastante poderosa, a mesma tem um lugar importante na vida de cada indivíduo, pois desde antes do nascimento, já é possível ouvir e produzir sons, a partir do nascimento durante o crescimento e desenvolvimento os sujeitos utilizam os sons como uma ferramenta que possibilita compreender e comunicar-se com o mundo.

Música é uma das varias linguagens que promovem a expressão de sentimentos, sensações, pensamentos e compartilhamento de significados entre os indivíduos. É uma prática humana que através relação entre o som o silêncio vai sendo estabelecida, a música é resultado da combinação entre o silêncio que são as pausas e as qualidades do som, estes são: altura, intensidade, duração e timbre, a partir das diversas combinações surgem melodias, ritmos e harmonias possibilitando assim que cada um se expresse. Música é a expressão sonorizada que expõe diferentes culturas e sociedades.

Brito afirma em seu livro “Música na Educação Infantil” (2003):

O sentido da audição foi, desde o princípio, responsável por significativa leitura das coisas deste mundo, já que sons e silêncios são portadores de informações e significados. [...] O universo vibra em diferentes frequências, amplitudes, durações, timbres e densidades, que o ser humano percebe e identifica, conferindo-lhes sentidos e significados. Perceber, produzir e relacionar-se com e por meio de sons faz parte da história de vida de todos nós: ouvimos o toque da campainha e corremos abrir a porta, obedecemos ao apito do guarda, enfim reconhecemos inúmeras

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formações sonoras que, vale lembrar, mudam com o tempo e de uma cultura para outra (BRITO, 2003, P.19).

A sensibilidade humana pode ser “tocada” pela música, pois música é uma arte que está presente em todas as culturas, afirmando a identidade de um povo. Existem diferentes estilos e linguagens musicais que são construídos em diferentes tempos e espaços, com isso reúnem uma riqueza cultural, artística e estética, que compõem o patrimônio cultural da humanidade.

A música é composta por diversos estilos como: medieval, renascentista, barroco, clássico, romântico, contemporâneo, samba, bossa-nova, roque, choro, baião, rap, sertanejo e muitos outros. Ao longo da história para a produção sonora destes estilos foram sendo criados diversos instrumentos de percussão, de sopro e mais atualmente eletrônicos (Faria e Salles, 2012).

O desenvolvimento da linguagem musical na criança começa desde o momento em que ela esta no útero da mãe, no momento em que nasce passa a escutar tudo o que esta a seu redor, começa a ser inserido na cultura, apropria-se de sons, ritmos e melodias que estão presentes em suas vivências, sendo assim sua primeira seleção musical é feita na família, pois a família é o grupo que apresenta as insere as preferências musicais. Não se pode dizer que existe uma música das crianças, mas sim, inúmeras músicas, pois crianças são plurais e coletivos, com isso nos processos de trocas e interações constituem-se como sujeitos e transformam a sociedade.

A criança explora a música de maneira intuitiva, manipulando espontaneamente os objetos que produzem sons, porém tendo contato com a música e explorando instrumentos frequentemente vai desenvolvendo seu controle motor e realiza uma manipulação com intencionalidade, têm a possibilidade de identificar vários sons e definir sua preferência musical, criando com isso suas memórias musicais.

Como dizem as autoras Faria e Salles (2012), a sensibilidade estética deverá ser ampliada, aumentando sua capacidade de escuta, portanto, diferentes ritmos devem ser oferecidos para as crianças.

A IEI tem o importante papel de, valorizando as experiências culturais das crianças, ampliar sua formação musical. É nesse espaço que elas terão a oportunidade de acesso a um leque de novas possibilidades. Dessa maneira, a criança poderá ampliar sua capacidade de escuta e sua sensibilidade estética, tendo mais condições de

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construir seu gosto musical e de fazer suas escolhas (FARIA e SALLES, 2012, P. 155).

O corpo é o mediador da experiência sonora, com isso a música como prática social e cultural é fruto das diversas relações vividas pelos sujeitos na sociedade mediante os sons, sendo uma forma de expressão individual e coletiva. A música na infância é o encontro dos corpos com os sons, uma experiência sonora ligada às práticas sociais e culturais nas quais os sujeitos criam significados plurais nas diversidades de contextos culturais, os mesmos organizam o discurso sonoro, pois são ouvidos que escutam ouvidos e criam e organizam, mas dependem do corpo para fazer, portanto, é um corpo que escuta e busca o inesperado.

Escutar de maneira sensível a música na infância exige enxergar as crianças em seu encontro com o mundo, mundo esse que não está pronto, não é dado, não vem com manual de instruções, mas um mundo que sempre esta tornando-se, encontro que movimenta e instiga a experimentar com o corpo lúdico, permitindo assim perceber que as crianças são música, a partir da escuta sensível, afetiva e criativa as crianças organizam as sonoridades do mundo.

Dulcimarta (2010) defende a ideia de que as músicas das culturas infantis necessitam ser escutadas de maneiras sensíveis e que realmente contemplem as crianças em um mundo que se transforma a todo instante:

Portanto, escutar as músicas das culturas da infância exigiu a contemplação do ponto de escuta das crianças em seu encontro com o mundo, buscando uma aproximação com a complexidade desse encontro. Mundo que nunca está dado, sempre a tornar-se, porque o significado musical é construído culturalmente, em dadas condições contextuais, e ignora-las implica a projeção de preconceitos e distorções. Encontro que movimenta a experimentação de todo o corpo lúdico para sublinhar que infância é sinônimo de musicalidade. Na infância as crianças são cativadas interruptamente a perceber, expressar e organizar as sonoridades do mundo, a partir de sua escuta sensível, afetiva e singularmente criativa que, brincando com sons produz sentidos (LINO, 2010, P. 82).

Existe a necessidade de compreender e assumir as crianças como atores sociais, detentores de saberes, que dão permissão e fixam regras, atores plurais que são resultado da experiência. Pensar nas crianças como sujeitos plurais, significa estar aberto à escuta da infância no mundo que não separa, mas sim, partilha e ressalta as singularidades.

Som é tudo aquilo que soa, é todo movimento vibratório que o ouvido percebe, vivemos cercados por sons: da natureza, dos animais, das máquinas e dos seres humanos. O

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27 silêncio é a ausência de som, porém, o silêncio corresponde aos sons que nós seres humanos já não podemos mais escutar, pois nossos ouvidos não percebem determinados movimentos e vibrações (BRITO, 2003).

Música não é somente melodia, ritmo e harmonia, o que importa é estarmos sempre próximos da ideia essencial à linguagem musical, ou seja, criar formas sonoras baseando-se em sons e silêncio, fazendo isso das mais diversificadas maneiras.

Conforme afirma Cage (1985):

A música não é só uma técnica de compor sons (e silêncios), mas um meio de refletir e de abrir a cabeça do ouvinte para o mundo.[...] Com sua recusa de qualquer predeterminação em música, propõe o imprevisível como lema, um exercício de liberdade que ele gostaria de ver estendido à própria vida, pois tudo o que fazemos (todos os sons, ruídos e não-sons incluídos) é música (CAGE, 1985, P. 5).

Ouvimos músicas em vários lugares, no mercado, na sala de recepção de um dentista, na oficina, no restaurante, na escola, no carro, em casa, nas festas e muitos outros lugares, diversas vezes nos pegamos cantando aquela música que parece ter “cola” e não sai da cabeça. Todos nos relacionamos com a música de alguma maneira em diversos momentos, seja escutando, dançando, cantando ou tocando algum instrumento, cada sujeito possui o seu repertório musical especial, que relaciona-se com a sua história de vida, tem significado para o indivíduo, toca em seus sentimentos e mexe com as lembranças tanto as boas quanto as não tão boas.

Muitas vezes o repertório musical que os alunos possuem surge a partir do contato deles com rádio, televisão e internet, sendo que na maioria das vezes são músicas que estão fazendo sucesso no momento, porém é responsabilidade do professor, orientar o aluno, fazer com que esse reportório seja de diversificado e de qualidade, possibilitando que as crianças tenham contato com vários estilos musicais, escutando, cantando, tocando, dançando e interpretando.

A problemática das escolhas, conforme aponta Fonterrada (2005):

[...] O que existe, hoje, é a apresentação de estereótipos, nas imagens divulgadas por vídeos e internet, bem como nos festivais pseudopopulares promovidos pela indústria cultural, que tentam passar as ideias de prazer e liberdade, fortemente impregnadas de conteúdos sensuais que, por sua vez, atendem a interesses mercadológicos – estamos em plena era do consumo e isso transparece em muitas das imagens e sonoridades divulgadas pela mídia. Nesse processo massivo, o indivíduo desconectado de qualquer possibilidade de expressão individual, atendo-se

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a manifestações de caráter tribal, induzidas pelo comportamento divulgado nos meios de comunicação [...] (Fonterrada, 2005, p.121).

Os vários tipos de música são expressões sonoras que refletem o modo de perceber, pensar e sentir de sujeitos, de comunidades, culturas e regiões em seu processo sócio histórico. Portanto, é de significativa importância conhecer e preservar nossas tradições e conhecer a produção musical de outros povos e culturas, explorando, criando e ampliando os caminhos e recursos para “o fazer musical,” a música em sua diversidade e grande riqueza permite-nos conhecer melhor a nós e ao outro. No momento em que se conhece a expressão musical de outras culturas é possível perceber que a organização daquela cultura também, é diferente, percebe-se que somos todos seres humanos, porém com formas próprias de criar, organizar, fazer e pensar.

O professor é uma das peças fundamentais para que o brincar, o barulhar e o musicar estejam presentes no cotidiano escolar da educação infantil, pois o professor é o sujeito que instiga, possibilita e incentiva o aluno a estar realmente existir e ser visto como um sujeito que porta e produz cultura nesse “mundo encantado” que é a música.

Nesse sentido Queiroz e Marinho (2009):

Entendemos que a partir das práticas de criação, interpretação, descoberta e vivência musical, bem como de propostas lúdicas, diversificadas e eficazes de ensino, o educador musical concretizará caminhos relevantes para a sua atuação docente, podendo, dessa forma, propiciar uma formação ampla e plena do individuo. Formação essa que ofereça as condições necessárias para que os diferentes sujeitos presentes no processo educativo possam lidar com códigos, valores e significados intrínsecos da linguagem musical. [...] Vamos assumir a nossa responsabilidade e encarar o compromisso de contribuir para um ensino de música consciente, que atende as necessidades e os anseios do mundo contemporâneo e da escola na atualidade, contemplando os diferentes sujeitos que caracterizam nosso universo cultural e a diversidade de expressões musicais que circundam nossa vida. (Queiroz, 2009, p. 73)

O professor tem a responsabilidade de desenvolver nos alunos a sensibilidade e a expressão sempre respeitando a subjetividade de cada individuo, é necessário que o mesmo busque recursos para fazer a música acontecer na escola. Pesquisar é um bom começo, pois o professor precisa conhecer um pouco sobre timbres, ritmos e estruturas, a reutilização de materiais recicláveis para a construção de instrumentos é um trabalho bastante criativo, pois assim incentiva-se os alunos a enxergarem no que seria lixo novas possibilidades, com isso o professor promove o desenvolvimento do pensamento crítico das crianças.

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29 No momento em que cria-se juntamente com os alunos estratégias e alternativas para buscar novas formas de construir conhecimentos os mesmos estão formando-se sujeitos com autonomia. Estimular os alunos a criarem músicas é bastante significativo, nomearem suas criações musicais, gravá-las, ouvi-las e dialogar sobre como cada um se expressou é muito interessante. Também é importante que o professor busque desenvolver nas crianças atitudes de cuidado e respeito com os instrumentos, tanto sendo instrumentos comprados, quanto sendo instrumentos construídos por eles, uma boa alternativa é dialogar com as crianças em uma roda sobre como se manuseia e toca cada instrumento.

A literatura é uma grande aliada da música nas escolas, pois possibilitar aos alunos compor músicas, sonorizar histórias, interpretar teatros musicados, recitar ou até musicar um poema intensificam á prática musical no cotidiano escolar.

O jogo também esta presente no meio musical e é um ótimo recurso pedagógico, pois jogar é uma ação lúdica e natural dos seres humanos, jogando a criança reproduz relações e se expressa, com isso os sujeitos aumentam suas capacidades de enxergar o mundo real.

Musicar e barulhar na Educação Infantil é possível. Ter uma relação bem estabelecida com as várias músicas da infância quando se é criança é importantíssimo para a formação de cada indivíduo, a partir disso relato nas páginas seguintes minhas vivências musicais junto com as crianças e demais professoras da Escola de Educação Infantil Sesquinho, localizada na cidade de Santo Ângelo – RS. Acredito que essa instituição realmente possibilita e busca fazer um trabalho musical com as crianças, apresentando a elas a diversidade cultural e não prendendo-se a datas comemorativas.

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5. VIVÊNCIAS NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL SESQUINHO Projeto: “Nos Pontos da Gaita”

Levando em conta que estava sendo desenvolvido na escola um projeto de música sobre a cultura popular do Rio Grande do Sul com foco na gaita, buscou-se com essa tarde cultural “mateando na escola” levar as crianças para dentro desse tema, proporcionando um momento de vivência cultural, onde as crianças ouviram, cantaram e tocaram junto comigo na tarde do dia 19 de junho de 2013, chimarreando um “doce amargo” ao som da gaita.

No dia anterior a mateada, foram encaminhados bilhetes as famílias comunicando e pedindo para que enviassem cuias e bombas para matearmos na escola. Depois de todas as turmas terem feito seus chimarrões, EU que sou a “gaiteira”, sentei-me no palco junto com alguns alunos da turma D, estes formaram uma banda para me ajudar a tocar e cantar. Depois foram se “achegando” as crianças da turma C e B, foram “abancando-se” na frente do palco, em um primeiro momento observando e tomando mate, mas depois de algum tempo já estavam cantando e dançando ao som da gaita com as mais diversas expressões e sensações de estarem vivendo um momento diferente, que até então não tinha sido vivenciado na escola.

A tarde musical realizada na escola foi muito divertida, prazerosa e diferente, pois as crianças ainda não tinham tido a possibilidade de presenciar um músico com o seu instrumento cantando e tocando para eles na escola. As crianças ficaram maravilhadas e perguntavam-me “é a profe que toca gaita?” E eu respondia “sim, é a profe que toca gaita”. Momentos culturais e diferentes são de grande importância para uma escola de Educação Infantil, portanto, como sei tocar acordeom lancei a ideia que foi muito bem recebida e apoiada por todas as professoras da escola, porém o melhor foi o resultado grandiosamente significante que este momento proporcionou e possibilitou às crianças.

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31 Fotografia 3 – Momento Cultural

Fonte: Arquivo fotográfico Sesquinho (2013). Fotografia 4 – Mateando na escola

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32 Fotografia 5 – Acompanhando a música batendo palmas

Fonte: Arquivo fotográfico Sesquinho (2013). Fotografia 6 – Como é bom um chimarrão

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33 Fotografia 7 – Nossa banda

Fonte: Arquivo fotográfico Sesquinho (2013).

Fotografia 8 – O show não para

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34 Nas vivências proporcionadas pelo projeto “Nos Pontos da Gaita”, foi realizada um passeio a uma fábrica de acordeons chamada “Minuano”, localizada na cidade de Tuparendi – RS. Foi realmente muito interessante, pois ver bem de perto como é construído cada parte de um acordeom é encantador e as crianças ficaram maravilhadas. Os funcionários da fábrica foram bastante atenciosos, explicando pacientemente qual era a sua função e respondendo prazerosamente cada questionamento feito pelas crianças, possibilitaram que os alunos manipulassem as peças sempre contando o que será feito com as mesmas.

Pensando o ensino musical nas escolas Brito (2003) propõe:

Obviamente, respeitar o processo de desenvolvimento da expressão musical infantil não deve se confundir com a ausência de intervenções educativas. Nesse sentido, o professor deve atuar sempre como animador, estimulador, provedor de informações e vivências que irão enriquecer e ampliar a experiência e o conhecimento das crianças, não apenas do ponto de vista musical, mas integralmente, o que deve ser o objetivo prioritário de toda proposta pedagógica, especialmente na etapa da educação infantil (BRITO, 2003, P. 45).

O acontecimento de uma aula diferente na Educação Infantil é repleta de significados, pois viajar de ônibus com os colegas e com as professoras é divertido, apreciar paisagens e conversar sobre o que se estava vendo também é uma rica experiência escolar. Estar em uma cidade diferente, ser recepcionados em uma fábrica por pessoas que até então não conhecíamos, se acomodar em um espaço que não é a sala de aula, lanchar sentados no banco do ônibus, aprender com pessoas que não são professores é uma vivência que realmente deixa marcas importantes em cada sujeito, com isso compreende-se que a escola é um local que possibilita e incentiva aprendizagens, porém essas aprendizagens não ocorrem somente na escola, mas sim em todas as situações e momentos proporcionados pela mesma.

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35 Fotografia 9: Alunos da Turma C na fachada da fábrica de acordeons

Fonte: Arquivo fotográfico Sesquinho (2013).

Fotografia 10 – Apreciando um funcionário da fábrica Minuano que estava tocando acordeom

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36 Fotografia 11 – Descobrindo como são feitos os botões do acordeom

Fonte: Arquivo fotográfico Sesquinho (2013).

Fotografia 12 – Atentos para aprenderem como se cola esta peça do acordeom

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37 Fotografia 13 – Alunos escutando o dono da fábrica explicar como esta peça funciona no

acordeom

Fonte: Arquivo fotográfico Sesquinho (2013).

Fotografia 14 – Alunos da Turma D prestando atenção na explicação da funcionária

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38 Fotografia 15 – Agora é minha vez de tocar

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Projeto: “Nos Ritmos da Folia”

O primeiro movimento realizado dentro do projeto foi conhecer a história do carnaval, uma festa popular que iniciou aqui no Brasil no período colonial. Uma de suas primeiras manifestações foi o Entrudo, uma festa de origem portuguesa, caracterizada por uma série de brincadeiras que variavam de aldeia para aldeia. Em algumas aldeias ou “grupos”, como definiram as crianças, notava-se a presença de grandes bonecos, chamados genericamente de “entrudos”. Aqui no brasil o Entrudo era realizado, normalmente na colônia pelos escravos, em uma brincadeira chamada “umbigada”, durante essa brincadeira, uma pessoa é chamada para dançar no centro da roda e quando escolhia alguém para lhe substituir dava uma “umbigada” nessa pessoa.

Concomitante a essas descobertas também fomos explorando os instrumentos de percussão como o pandeiro, tambor, bongo e tambor de fendas, descobrindo os sons e como os mesmos poderiam acompanhar nossas rodas de músicas e brincadeiras. A partir das inquietações das crianças fomos pesquisar e explorar como eram feitas as fantasias, também os diferentes ritmos e formas de manifestações do carnaval no Brasil explorando o samba, o frevo, axé e o carimbó.

Entre uma proposta e outra realizamos uma festa a fantasia e um baile de máscaras, os quais envolveram todas as turmas da escola. Nesses dois eventos vivenciamos um pouquinho de como era e como são as festas, dançando, brincando com confetes, realizando desfiles, onde tanto as máscaras como as fantasias iam de super-heróis a princesas e fadas, os mesmos tinham nomes e características escolhidas pelas crianças. As danças, musicas e brincadeiras relacionadas a essa festa popular, vivenciadas no decorrer desse percurso, foram pontos marcantes no projeto que foi rico em descobertas e cheio de animação.

Oficina de tambores

Esta oficina surgiu durante o 1º semestre de 2014, a partir das brincadeiras e explorações que a turma D vinha fazendo dentro da sala de aula, utilizando latas e tacos de madeira, com isso buscou-se investigar os interesses e desejos do grupo, então, começamos a alimentar e incrementar estas brincadeiras trazendo os tambores musicais da escola para sala. Acabou com isto, surgindo a ideia das crianças confeccionarem seus tambores com as famílias em casa e trazerem os mesmos para ficarem na sala de aula.

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40 Fotografia 16 – Exploração espontânea dos alunos da Turma D com latas e tacos de

madeira

Fonte: Arquivo fotográfico Sesquinho (2014). Fotografia 17 - Exploração dirigida, tambores de madeira e couro

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41 Fotografia 18 - Barulhando com os tambores feitos em casa com as famílias

Fonte: Arquivo fotográfico Sesquinho (2014).

No momento em que estes tambores vieram para a escola aumentou ainda mais o interesse e as brincadeiras das crianças por querer tocar e manusear este instrumento. Então, seguimos com nossas brincadeiras, explorações e cantorias até as nossas férias, sendo que os nossos tambores continuaram na escola para quando retornássemos do nosso descanso.

E assim, quando retomamos nossas brincadeiras e explorações mudamos um pouco o foco da nossa oficina, pois como entramos nas pesquisas e aprendizagens dos ritmos do samba em diferentes regiões do Brasil, denominado “Nos Ritmos da Folia”, e pensando no interesse do grupo pelos tambores trouxemos alguns vídeos e músicas de grupos que tocam bateria utilizando latas de metal e tambores de plástico. A partir de vários diálogos, perguntas e explicações resolveram montar uma bateria com a turma D, utilizando latas de tinta de 18 litros, a turma C escolheu trabalhar com tema “Carnaval de Rua e Fantasias” e, a turma B com as “Marchinhas Carnavalescas e Máscaras”. Cada turma ficou com um tema diferente, porém em vários momentos estes temas foram socializados, trabalhados e vivenciados com todos os alunos e professoras da escola. No decorrer do projeto recebemos muitas visitas em nossa escola como: uma “Porta Standart”, um casal de “Mestre Sala e Porta Bandeira” e dois componentes da bateria da escola de samba Acadêmicos do Improviso.

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42 Então, na turma D as professoras começaram a pesquisar vídeos e músicas que nos auxiliassem a aprender a tocar diferentes ritmos com as latas, sendo que nossa música tema para iniciar esta proposta foi “Bate lata”, da Daniela Mercury. Também contamos com a ajuda de parcerias feitas com pessoas que trabalham neste meio e possuem um significativo conhecimento sobre ritmos do samba. Organizamos oficinas, na qual eles vêm até a escola e tocam para as crianças verem e ouvirem, há também outro momento em que as crianças e professoras tocam junto com eles. Esses parceiros da escola são sujeitos que fazem parte da bateria da Escola de Samba Acadêmicos do Improviso, localizada na cidade de Santo Ângelo, os mesmos foram bastante participativos no processo de ensinar para as crianças e professoras os diferentes toques/ritmos e maneiras de como manusear este material.

O projeto não envolvia somente o barulhar e musicar os ritmos da folia, mas também dançar os ritmos da folia, pois música e movimentos estão sempre interligados. A partir de uma votação foram eleitos três ritmos, o Axé, o Frevo e o Carimbó, então, a professora Claudia de Educação Física, foi uma importantíssima parceira nesse processo, a mesma organizou suas aulas para que esses três ritmos fossem trabalhados, suas aulas aconteciam em grandes e pequenos grupos.

A realização musical implica tanto gesto como movimento porque o som é também gesto e movimento vibratório, e o corpo traduz em movimentos os diferentes sons que percebe. Os movimentos de flexão, balanceio, torção, estiramento etc. e os movimentos de locomoção como andar, saltar, correr, saltitar, galopar etc. estabelecem relações diretas com os diferentes gestos sonoros (RCNEI, vol. 3, 1998, p. 61).

A partir, da realização do projeto “Nos Ritmos da Folia” foi possível proporcionar a todos que fazem parte da escola, principalmente as crianças, a descoberta de novas culturas musicais, pois a música e a dança/ movimento são recursos que cativam e atraem as crianças fazendo com que as mesmas aprendam a se expressar corporalmente e oralmente de forma lúdica e divertida, os momentos proporcionados com músicas e danças possibilitam as crianças demonstrarem seus sentimentos.

Brito (2003), considera que no momento em que se conhecem novas e diferentes culturas musicais ampliamos os recursos para musicar:

As muitas músicas da música – o samba ou o maracatu brasileiro, o blues e o jazz norte-americanos, a valsa, o rap, a sinfonia clássica europeia, o canto gregoriano medieval, o canto dos monges budistas, a música concreta, a música aleatória, a música da cultura infantil, entre muitas outras possibilidades – são expressões sonoras que refletem a consciência, o modo de perceber, pensar e sentir de indivíduos, comunidades, culturas, regiões, em seu processo sócio-histórico. Por isso, tão importante quanto conhecer e preservar nossas tradições musicais é conhecer a produção musical de outros povos e culturas e, de igual modo, explorar,

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criar e ampliar os caminhos para o fazer musical. Como uma das formas de representação simbólica e do mundo, a música em sua diversidade e riqueza, permite-nos conhecer melhor a nós esmos e ao outro – próximo ou distante.

Portanto, é significativo compreender que a música e a dança são linguagens que pertencem aos indivíduos, essas linguagens não estão dissociadas das outras, pelo contrário, a presença diária da música e da dança em sala de aula só acrescenta aprendizagens no cotidiano escolar.

As oficinas das danças de Axé, Frevo e Carimbó foram realizadas na escola, contando com o auxilio da professora Claudia, as crianças a cada aula de dança ficavam mais empolgadas, pois a descoberta de ritmos diferentes encanta por ser algo ainda desconhecido. Nossos momentos de encontros e festas com ritmos da folia foram de grandes significados, é possível ao assistir o vídeo que conta o decorrer do projeto, perceber o quanto são prazerosas as aprendizagens.

O encerramento do projeto “Nos Ritmos da Folia” aconteceu em novembro de 2014, o evento contou com a presença das famílias, fechando um total com cerca de 200 pessoas. Em um primeiro momento, realizamos um desfile na rua que fica em frete à escola, a turma D era a bateria e as turmas C e B eram os foliões. Desfilamos na rua e nos dirigimos até o pátio da escola, local onde aconteceu o “contando” do projeto para as famílias e logo depois uma festa com DJ, bolha de sabão, confetes, serpentinas, fitas e um lanche muito saboroso.

Vídeo 1 - Contando do projeto “Nos Ritmos da Folia”

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho objetivou contribuir para o desenvolvimento de uma visão escolar, sobre como a música, o barulhar e o musicar, quando utilizados de maneira adequada e com qualidade, tornam-se importantes aliados para o desenvolvimento infantil. Os professores devem trabalhar a exploração musical com seus alunos ultrapassando seus medos, ousando na maneira de trabalhar, pesquisando e descobrindo junto com as crianças. O educador é um pesquisador, incentivador, motivador e mediador de conhecimentos, no momento em que se permitir vivenciar experiências diversas estará contribuindo para a sua prática estendida aos educandos.

Levando-se em consideração que na musicalização há o resgate de sentimentos, emoções e expressões, pode-se afirmar que, consequentemente, isto se reflete na formação de sujeitos que possuem saberes, produzem cultura, são atores sociais e permitem-se descobrir a si a ao outro em um mundo que compartilha e nota as singularidades.

A partir das vivencias na Escola de Educação Infantil Sesquinho encontrei respostas para minhas dúvidas sobre a musicalização, descobri que realmente é possível brincar, barulhar, musicar e dançar no ambiente escolar, não separando essas ações, mas sim as usando como recurso para o aprendizado e formação dos sujeitos. A música necessita estar presente no cotidiano escolar, pois através dela expressamos sentimentos e emoções, conhecemos à si e ao outro, descobrimos e produzimos novas culturas. Os projetos realizados na escola não envolveram somente os professores e alunos, mas também as famílias e toda a comunidade, pois as aprendizagens não ocorrem somente no ambiente escolar e a mediação de conhecimentos não acontece somente entre professor X aluno, mas também por meio da interação com as famílias e sociedade.

Este trabalho não possui a pretensão de fechar, mas sim dar contribuição para um tema tão amplo e importante que é a musicalização nas escolas, sendo vivenciada por meio de momentos marcantes no brincar, barulhar, dançar e musicar através da música.

Referências

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