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DIVERSIDADE E ENVELHECIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES: A INCLUSÃO DE IDOSOS NO MERCADO DE TRABALHO

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DIVERSIDADE E ENVELHECIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES: A

INCLUSÃO DE IDOSOS NO MERCADO DE TRABALHO

DIVERSITY AND AGING IN ORGANIZATIONS: THE INCLUSION OF

ELDERLY PEOPLE IN THE LABOUR MARKET

ÁREA TEMÁTICA: GESTÃO DE PESSOAS

Eduarda Remor Bastos, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Brasil, eduardaremorbastos@yahoo.com.br Cecília Oderich, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Brasil, cecilia.oderich@unioeste.br

Resumo

A expectativa de vida no Brasil tem aumentado gradativamente, e as organizações já perceberam a necessidade de adequar as políticas de gestão de pessoas considerando esta realidade. Idosos tem buscado oportunidades no mercado de trabalho. Mas, afinal, qual a motivação principal destas pessoas ao se reinserirem no trabalho? E quais os objetivos das organizações que oportunizam esta inclusão? Este artigo busca apresentar este contexto que pode se configurar tanto pela possível carência financeira dos idosos, quanto pela busca do sentido do trabalho, da realização de atividades significativas e/ou pelas oportunidades de socialização que o trabalho traz. Ao mesmo tempo, é preciso considerar os objetivos e políticas organizacionais, além de discutir sobre o preconceito, os aspectos favoráveis e as dificuldades inerentes à adaptação de idosos a alguns tipos de trabalho, no contexto das políticas organizacionais voltadas à diversidade. O artigo, que se constitui como um ensaio teórico, contribui para futuras pesquisas de campo ao apresentar um panorama sobre a questão da diversidade e do envelhecimento nas organizações, considerando as relações intergeracionais, as vantagens e desafios na inclusão de idosos e a alternativa do trabalho voluntário no terceiro setor como forma de o idoso se manter socialmente ativo, realizando algo valoroso. A partir de pesquisa bibliográfica, esta pesquisa almeja analisar e traçar um panorama sobre esta questão apresentando a discussão sobre a diversidade e o envelhecimento nas organizações.

Palavras-chave: Diversidade; Envelhecimento; Gestão de Pessoas; Mercado de Trabalho.

Abstract

Life expectancy in Brazil has gradually increasing, and organizations have already realized the requirement to adjust human resources considering this reality. Elderly people have sought a job opportunity in the labor market. But, after all, what is the main motivation of these people when they get back to work? And what are the objectives of the organizations that promote this inclusion? This article introduces this context that can be configured both as the possible financial need of the elderly, as the search for the sense of human labour, the realization of meaningful activities and/or the opportunities for socialization that work brings. At the same time, it is necessary to consider the objectives and organizational policies, besides discussing about prejudice, favorable aspects and difficulties inherent to the adaptation of the elderly to some types of work, in the context of organizational policies aimed at diversity. The article, which is constituted as a theoretical essay, contributes to future field research by presenting a panorama on the issue of diversity and aging in organizations, considering the intergenerational relations, the advantages and challenges in the inclusion of the elderly and the alternative of voluntary work in the third sector as a way for the elderly to remain socially active, performing something valuable. Based on bibliographical research, this survey aims to analyze and outline a panorama on this issue presenting the discussion on diversity and aging in organizations.

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1. INTRODUÇÃO

Atualmente, a diversidade tem sido um tema de recorrente discussão na área de gestão de pessoas, em especial no sentido de pensar e analisar políticas e estratégias que permitam a inclusão e manutenção de pessoas com diferenças físicas e culturais das mais diversas e que, portanto, podem trazer diferentes contribuições às organizações.

Segundo Dessler (2003, p. 48), várias mudanças vêm ocorrendo no cenário das organizações, onde “os homens brancos já não dominam mais a força de trabalho, e as mulheres e as minorias representarão a maior parte do crescimento da força de trabalho em um futuro previsível”. Embora o tema tenha ganho maior destaque nas últimas décadas, a gestão da diversidade carece de pesquisas e aprofundamento na administração.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2019a), a tábua de mortalidade projetada para o ano de 2017 forneceu uma expectativa de vida de 76 anos para o total da população brasileira, um acréscimo de 3 meses e 11 dias em relação ao valor estimado para o ano de 2016 (75,8 anos). Ainda segundo o IBGE (2019b), a população residente no Brasil no ano de 2018 foi estimada em 207,8 milhões de pessoas, 5,1% a mais do que em 2012. Desse total, as pessoas com 65 anos ou mais de idade representavam 10,5%, o correspondente a 21.872 milhões de pessoas.

Segundo o Jornal da USP (2018), a perspectiva para o ano de 2030 é que a população brasileira seja a quinta mais idosa no mundo. Dentro desse cenário enfatiza-se que a população brasileira está vivendo mais e a expectativa de idade superior a 60 anos seja de aproximadamente 2 bilhões de pessoas em 2050. Diante disso, o governo já tem pela frente a pauta polêmica da previdência social.

Nesta conjuntura, pessoas idosas buscam reinserção no mercado de trabalho, o que incita o debate sobre as suas motivações e necessidades. Pode-se deparar com uma incapacidade do atual sistema socioeconômico em prover aposentadoria e condições de vida digna na velhice, levando idosos a buscarem reinserção por carência financeira. Entretanto, também podemos encontrar idosos que percebem o trabalho como fonte de satisfação, e desejam seguir trabalhando por prazer e realização e/ou, ainda, percebem o ambiente de trabalho como fonte de amizades, convívio e socialização.

Assim, idosos tem buscado oportunidades de permanecer por mais tempo ou de se reinserir no mercado de trabalho. Mas, é preciso discutir sobre a motivação destas pessoas e sobre os objetivos das organizações que oportunizam esta inclusão. É preciso considerar as políticas organizacionais, as questões de sustentabilidade financeira dos idosos, o significado do trabalho em consonância com o propósito de vida, bem como a socialização que o ambiente de trabalho permite. Este artigo busca apresentar este contexto, considerando as políticas organizacionais de gestão de pessoas voltadas à diversidade.

A diversidade se apresenta de diversas formas em uma empresa, podendo incluir as relações intergeracionais. O fator intergeracionalidade pode levar a conflitos porque as diferenças comportamentais e os perfis psicológicos entre as pessoas das gerações Baby Boomer, Geração X, Geração Y e Geração Z são significativas. Por esse motivo, esses profissionais precisam de apoio e atualização constante para melhor adaptação e produtividade organizacional (Missel, 2012 apud. Oderich e Michuel, 2019).

A partir de pesquisa bibliográfica, objetiva-se apresentar um panorama sobre a questão da diversidade e do envelhecimento nas organizações. O trabalho se constitui como um ensaio teórico, tem natureza qualitativa, contribuindo para propostas de futuras pesquisas de campo.

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O estudo se desenvolve a partir de pesquisa bibliográfica em artigos, livros, notícias e sites, observando a credibilidade das fontes. Segundo Roesch (2007) a revisão de literatura permite dimensionar e qualificar uma problemática em estudo, entre outros propósitos, como construir quadros de referência teórica. “Implica seleção, leitura e análise de textos relevantes ao tema” (Roesch, 2007, p. 106).

2. DIVERSIDADE E ENVELHECIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES

Considerando a ampla diversificação da sociedade, as legislações decorrentes de mobilizações sociais, a globalização das empresas, políticas de responsabilidade social e corporativas e outros fatores, podemos dizer que o tema diversidade é de grande importância para os estudos organizacionais (Mendes, 2005). As políticas em prol da diversidade também tem grande impacto tendo em vista seus resultados: as diferenças de identidade individual, ou seja, as diferenças físicas ou culturais, interagem com fatores individuais, grupais e organizacionais, formando um clima que interfere diretamente nos resultados individuais e organizacionais, influenciando em questões como satisfação, identificação organizacional, envolvimento no trabalho e performance (Cox, 1994 apud. Fleury 2000).

O conceito de diversidade necessita de atenção dos pesquisadores e gestores quando se trata de levar o termo para o campo das organizações. Robbins et al. (2010) dividem a diversidade em dois níveis: nível superficial e nível profundo. Para eles, a diversidade em nível superficial refere-se aos elementos biográficos, como idade, raça, gênero e etnia; não refletem pensamentos e sentimentos e podem induzir à criação de estereótipos. Este nível tem pouca relação com o desempenho profissional, está relacionado a todas as características imediatamente observáveis de um indivíduo (Horwitz, Horwitz, 2007). Já a diversidade em nível profundo apresenta elementos subjetivos, como personalidade, habilidade e valores (Robbins et al., 2010). Horwitz e Horwitz (2007) entendem o nível profundo como a junção de todos os aspectos relacionados à realização de tarefas, e os atributos pessoais (educação, cultura, cargo e especialização) têm um peso maior na maneira de realizar tarefas em comparação às características biodemográficas.

Nas organizações, o ambiente de trabalho tem se tornado cada vez mais heterogêneo, sendo um espaço onde pessoas de diferentes idades, raças, sexos, etnias, religiões e orientações sexuais se relacionam (Nkomo, Cox, 1999; Fleury, 2000). Saber lidar e gerenciar esta grande diversidade acaba se tornando um desafio para as organizações hoje em dia.

A estimativa de vida da população brasileira tem crescido, e os desafios da inclusão de idosos e da previdência social tendem a aumentar gradativamente. As motivações e necessidades dos idosos para buscar reinserção ou permanência no trabalho podem ter origem na incapacidade do atual sistema socioeconômico em prover aposentadoria e condições de vida digna na velhice mas, não se pode deixar de considerar que, em muitos casos, há motivação pela realização através do trabalho e/o u, ainda, pela percepção do trabalho como ambiente que oportuniza socialização e convívio intergeracional.

Do ponto de vista organizacional, buscar a inclusão de idosos, dependendo das condições e motivações, pode representar um investimento em políticas de diversidade, o que propicia às empresas poderem contar com um conjunto de trabalhadores que aportam experiências, perfis, características, conhecimentos, habilidades e atitudes diferentes. A gestão da diversidade foi uma reação das organizações frente à diversificação crescente da força de trabalho e às necessidades de competitividade; a administração correta desse recurso organizacional significa adicionar valor à empresa (Fleury, 2000; Medeiros et al. 2014).

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A diversidade abrange diversos aspectos que destacam grupos distintos de pessoas, por conseguinte as transformações demográficas dos últimos anos têm como consequência um panorama de acelerado envelhecimento das pessoas no Brasil, gerando oportunidades e desafios para as organizações em relação à disponibilidade e inclusão destes profissionais. Há argumentos de que a permanência ou reinserção desses profissionais idosos no mercado de trabalho ajuda no equilíbrio das contas da previdência, é uma alternativa para a falta de pessoal especializado, ajuda a completar vagas com determinado perfil e, portanto, apoia o crescimento econômico. Em torno de discussões sobre a contratação de idosos no mercado de trabalho, Moreira (2018) afirma que economistas como Hélio Zylberstajn e José Pastore apontam a desproporcionalidade entre a disponibilidade de mão de obra juvenil e o envelhecimento dos profissionais, utilizando do argumento da provável dificuldade de preenchimento das vagas deixadas pelos aposentados. Em um cenário de mais longevidade e menos natividade profissional, as organizações terão cada vez mais a obrigatoriedade de ofertar programas de inserção e até mesmo requalificação para a terceira idade, visto que a tecnologia vem avançando aceleradamente nas últimas décadas.

Por outro lado, devido à grande estratificação populacional brasileira, o fortemente nomeado preconceito etário é um revés dentro das organizações. Dado por expressões de discriminação, esse preconceito é o que detém muitos idosos de se incorporar, ou reinserir dentro do antigo ou do novo trabalho. Muitas das justificativas neste sentido são: o conflito de gerações, a dificuldade na interação com novas tecnologias, a baixa performance e a resistência às mudanças (Goldani, 2010).

Sobre a longevidade e modos de inclusão de idosos, Litvak (2019) diz que é preciso mudar a forma de pensar o envelhecimento de maneira a tornar possível reconhecer as contribuições dessa parte da população para a economia e em questões sociais.

É preciso melhorar a resposta social e organizacional às tendências demográficas. O desafio é transformar essa nova demografia em possibilidades produtivas para empregadores e funcionários. As empresas que entenderem rapidamente a importância social e estratégica dessa questão estarão mais preparadas para um futuro próximo. A combinação de pessoas de diferentes gerações nas organizações pode proporcionar aprendizagem significativa, se houver respeito às respectivas habilidades e limitações. Neste sentido, as organizações precisam conjuminar esforços em projetos e otimizar os processos a fim de obter a melhor versão de cada indivíduo (Missel, 2012 apud Oderich e Michuel, 2019).

Assim, com o passar dos anos e com o aumento significativo da população idosa, muitas pesquisas têm abarcado o tema do envelhecimento mas, ainda, há pouco referencial técnico-científico sobre o tema no campo da Administração. Segundo Kooji et al. (2014), as organizações possuem poucas políticas de recursos humanos formalizadas, além de pouco se esforçarem para a retenção dos seus empregados mais velhos ou então para atrair os aposentados que procuram novas oportunidades de emprego. Faltam políticas institucionais de estímulo à permanência de profissionais maduros (Nascimento et al., 2016) e torna-se essencial a implantação de uma política de inclusão pelas empresas do setor privado para evitar a exclusão dos trabalhadores mais velhos (Midtsundstad, 2011).

Uyehara e Corte (2006) partem da premissa de que se o mercado de trabalho for excludente às pessoas da terceira idade, aumentarão as demandas sociais, o que exige reflexão por parte do governo, das empresas e da sociedade. Há dificuldades na implementação de políticas focalizadas no idoso, essas dificuldades se iniciam pela a falta de captação de recursos e vão até a capacitação inadequada para recursos humanos (Fernandes & Soares, 2012). O desenvolvimento de políticas públicas também se faz importante pois viabiliza a ressignificação

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dos idosos como “cidadãos com direitos protegidos por lei, ativos e com funcionalidade”. Esse novo olhar sobre esses indivíduos faz com que esse período de suas vidas seja mais gratificante (Paolini 2015, p. 181).

O comprometimento e o valor afetivo que o idoso tem pelo trabalho lhe concede uma característica apreciada pelas organizações. Toda a instituição necessita de pessoas comprometidas o que, segundo Uyehara & Côrte (2006), ocorre com as pessoas mais velhas, que alimentam a capacidade de concentração, o sentimento de orgulho, de gratidão e a filosofia de “não deixar para amanhã o que pode fazer hoje”, beneficiando as organizações que as contratam.

Peter Drucker (1999), no livro intitulado Desafios gerenciais para o século XXI, afirma que as organizações empregadoras deveriam acrescentar novas relações de trabalho com as pessoas mais idosas e com “trabalhadores do conhecimento mais velhos”, pois efetivar a atração e retenção desses conhecimentos, tornando-os produtivos, traria vantagem competitiva. Enfim, infere-se a importância de discutir, em 2020, o panorama da inclusão de idosos nas organizações brasileiras.

2.1TRABALHO PÓS APOSENTADORIA

A aposentadoria se configura como um sistema de proteção aos trabalhadores, visto que muitas vezes é associada à incapacidade produtiva de pessoas idosas e, atrelada a isso, tem-se a questão da responsabilidade quanto à subsistência das pessoas após a chamada “fase ativa” da vida. Em alguns casos a aposentadoria pode significar queda de renda, já que muitas vezes o funcionário perde gratificações, desse modo as chances de permanência de idosos mais bem qualificados se manterem ativos é mais alta. Na pesquisa de Ribeiro et al. (2018) 45,9% dos idosos que continuaram as atividades laborais após a aposentadoria possuíam 13 ou mais anos de escolaridade, disso pode-se inferir que os idosos com maior escolaridade provavelmente tiveram acesso a cargos mais qualificados e permaneceram neles por motivos como satisfação e rendimento.

O momento da aposentadoria gera mudanças na perspectiva da representatividade do trabalho no processo de construção da identidade dos sujeitos, principalmente quando abordados a valorização da produtividade, o lucro e o capital. Isso também é algo que afeta a imagem que os indivíduos tem de si mesmos porque está ligado ao papel social que desempenham na organização (Santos, 2017). A aposentadoria, então, apresentaria controvérsias porque enquanto na fase ativa o trabalho remete às ideias de liberdade, prazer e realização, na fase da aposentadoria teria uma visualização de tédio, melancolia, saudade e nostalgia (Rodrigues, 2000).

Como a ressignificação da aposentadoria vem acontecendo nos últimos anos, há outras visões nas quais o momento de se aposentar pode representar uma fase de relaxamento, descanso e de aproveitar o tempo livre com hobbies, tornando-se algo muito prazeroso. Além de mudanças no conceito da aposentadoria, as concepções sobre o envelhecimento também são modificadas, e tomam a abrangência de não só resolverem problemas econômicos como, também, de proporcionarem outros cuidados culturais, psicológicos e de integração a esse público (Rio, 2001).

Em seus estudos sobre a permanência no mercado de trabalho e satisfação com a vida na velhice, Ribeiro et al. (2018) verificaram que as condições de saúde que aumentam as chances de perdas funcionais (depressão, AVC, artrite/artrose e outros) estão atreladas à saída de idosos do mercado de trabalho. Em relação à satisfação com a vida foi constatado que idosos que permanecem exercendo as suas atividades laborais remuneradas após a aposentadoria relatam

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estar mais satisfeitos em aspectos como relações sociais, aspectos cognitivos e funcionais se comparados aos idosos que pararam de trabalhar. Assim, podemos considerar que a continuidade do trabalho após a aposentadoria apresenta benefícios à saúde, podendo trazer maior satisfação durante a velhice.

Caso o idoso não tenha demanda financeira, ou seja, se o sistema político-social atende às necessidades financeiras desse grupo, o idoso pode se dedicar a um trabalho significativo, alinhado ao seu propósito de vida e valores, sem remuneração. Rio (2001, p. 1), em seu trabalho intitulado Trabalho Voluntário Como Promoção De Integração Social Do Idoso, afirma que as principais razões que mobilizaram o grupo estudado ao voluntariado foram “retribuição pelo que se recebeu, partilha da experiência acumulada durante a vida, retribuição pelo apoio recebido de entidade de ajuda mútua”. A autora também cita o sentimento de obrigação e de compromisso que os idosos sentem no sentido de preencher o tempo vago deixado pela aposentadoria.

3. VANTAGENS E DESAFIOS ORGANIZACIONAIS RELACIONADOS À INCLUSÃO DE IDOSOS No exercício de reter talentos, as empresas se deparam com uma diferença significativa entre comportamentos de pessoas mais jovens e mais velhas, o que pode ocasionar um conflito intergeracional. Oderich e Michuel (2019) caracterizam e agrupam as diferenças existentes entre gerações com o intuito de reconhecer as influências que estas apresentam sobre as relações de trabalho.

As autoras caracterizam a geração definida como Baby Boomer, de pessoas nascidas entre 1940 e 1950, como uma geração rígida, disciplinada, com forte lealdade e marcadas pelo compromisso com a empresa, valorização da ascensão profissional e da experiência. Essa geração teve por seus descendentes a Geração X, nascidos do início de 1960 e final de 1970, essa geração passou pelo surgimento das tecnologias (computador, impressora, celular e internet) e é caracterizada por ser uma geração de pessoas mais práticas, francas, com foco em resultados, abertas a mudanças e movimentações de carreira e em busca dos seus objetivos pessoais (Oderich e Michuel, 2019).

Em contrapartida, os descendentes da Geração X formam o conjunto denominado por Geração Y, que são os nascidos entre 1980 e 1990, que tem como principal característica a entrada no mercado de trabalho somente após a faculdade. As características dominantes dessa geração são: possuir elevada autoestima e coragem frente a posições de poder, alto comprometimento com seus valores, gostar de desafios e ideias inovadoras, capacidade de desempenhar várias tarefas e estarem conectados à internet a todo momento. A geração sucessora da Geração Y, é a Geração Z, aqueles nascidos após 1990. Essa geração apresenta uma visão organizacional diferente, na qual a hierarquia baseada no poder já não faz mais sentido, as principais características dessa geração relacionadas ao trabalho são: alta propensão para empreender, apreciar o trabalho remoto e o controle do próprio tempo, preferência por ambientes de trabalho dinâmicos e flexíveis, liberdade para falar de igual para igual em todos os níveis da empresa, busca por rápida resolução dos problemas, entre outras características. (Oderich e Michuel, 2019).

No caso de a organização comportar pessoas aposentadas, entre as gerações de Baby Boomers e X, as mesmas estarão inseridas no mesmo ambiente de trabalho que as gerações Y e Z, podendo ocasionar um conflito intergeracional entre esses funcionários nos aspectos: instrumentos tecnológicos (principalmente o modo de lidar com a internet); interação com os colegas de trabalho; liderança e seus apectos; controle do tempo e espaço.

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Por outro lado, com uma análise mais aprofundada, poderiam ser criados programas de integração incentivando o compartilhamento de experiências e conhecimentos, nos quais as gerações Baby Boomers e X poderiam explorar todo o potencial da sua experiência de trabalho e as gerações mais jovens poderiam contribuir em ensinamentos sobre novas tecnologias. O principal desafio relacionado à volta do idoso ao trabalho é a relação com colegas de trabalho e/ou concorrentes a uma vaga que sejam mais jovens, que estejam mais qualificados, atualizados tecnologicamente e, portanto, mais valorizados no mercado de trabalho. Os idosos podem se sentir distantes do mercado laboral. Segundo Paolini (2015), há menor possibilidade de que os idosos consigam se requalificar e modernizar, refreando a sua permanência no mercado de trabalho. A principal vantagem mencionada pela autora seria a capacidade de lidar com problemas cotidianos de trabalho, visto que os idosos têm uma longa expreiência de vida, nesse sentido a organização se beneficiaria com o aumento de produtividade e resolução de problemas.

Tendo em vista as de vantagens e desafios apresentados, é importante ressaltar que as condições de trabalho precisam ser ajustadas e os investimentos realizados conforme as demandas específicas de cada empresa e de seus funcionários, visando o bem estar coletivo, a diversidade e a evolução organizacional.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade e as organizações se deparam com o desafio da melhoria do bem estar social no contexto do aumento da expectativa de vida. O trabalho, com qualidade de vida, é tema relevante de discussão na área de gestão de pessoas. A motivação dos idosos que querem ou precisam permanecer ou se reinserir no mercado de trabalho é tema que requer pesquisa e aprofundamento, a fim de nortear o debate e o desenvolvimento de políticas públicas e políticas e estratégias organizacionais. É preciso discutir a dignidade das pessoas idosas em nossa sociedade, desde a questão da sustentabilidade financeira até as questões sociais de respeito e inclusão em diferentes esferas da vida, nas quais se encontra a possibilidade de trabalhar. Nesta discussão se insere o sentido do trabalho e a socialização que o ambiente oportuniza. Também, é preciso considerar e investir para minimizar o preconceito, o que pode ser feito através do estudo e da conscientização sobre aspectos favoráveis e dificuldades inerentes à adaptação de idosos no trabalho, no contexto das políticas organizacionais voltadas à diversidade.

O trabalho de idosos por carência financeira deixa evidente a deficiência do planejamento pessoal de vida dos indivíduos e/ou do sistema previdenciário do país. Já o trabalho voluntário se apresenta na desconstrução de preconceitos e rótulos ligados às condições de velhice e suposta incapacidade, ressignificando a forma de viver após a aposentadoria. Por mais que o processo de envelhecimento pareça complexo, a velhice digna, autônoma e independente precisa ser socialmente discutida, tendo em vista a qualidade de vida, o direito à cidadania e bem-estar social das pessoas.

A partir do contexto apresentado, infere-se o desafio de realizar pesquisa de campo sobre o tema, por exemplo, levantando informações detalhadas sobre o contexto dos idosos no mercado de trabalho brasileiro, ainda mais após o momento impactante de pandemia mundial que se estabeleceu. Em pesquisas futuras podem ser investigados temas como: tipos de trabalho mais propícios aos idosos; políticas organizacionais afirmativas para auxiliar e facilitar a inserção de idosos no mercado de trabalho; relações intergeracionais no ambiente de trabalho; trabalho voluntário na terceira idade. Salienta-se a importância de pesquisas que busquem informações sobre as motivações que levam os idosos a se reinserirem ou permanecerem no mercado de

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trabalho, visando uma abordagem que compreenda a dignidade humana em todas as esferas e fases da vida. Vale ressaltar a alternativa do trabalho voluntário no terceiro setor como forma de o idoso se manter socialmente ativo, realizando algo significativo, em consonância com os seus valores, o seu tempo, competência e disposição. O trabalho voluntário comprometido e atrelado ao sentido de vida do indivíduo traz oportunidade de contribuir com a sociedade e de nutrir o sentimento de realização pessoal.

Do ponto de vista da gestão, são oportunas investigações que estudem casos de organizações brasileiras que tenham implementado políticas para a inclusão de idosos. Portanto, longe de esgotar o tema, este artigo apresentou um panorama da questão, o qual incita a novas pesquisas.

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Referências

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