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DIVERSIDADE DE REPRESENTAÇÕES SEMIÓTICAS NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS POR ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

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DIVERSIDADE DE REPRESENTAÇÕES SEMIÓTICAS NA

RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS POR ALUNOS DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Rayanne Maciel Cruz Sousa1 Ana Cláudia Gouveia de Sousa2 Resumo

Compreender as representações construídas pelos alunos para a elaboração do seu raciocínio durante a resolução de problemas e suas estratégias de resolução se faz importante para reconhecer como eles aprendem, e, assim, repensar as formas de se ensinar matemática. Por isso, neste trabalho tomamos a Teoria dos Registros de Representação Semiótica (TRRS) de Raymond Duval como fundamento teórico-metodológico, para cumprir o objetivo de analisar como alunos do 8º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública municipal de Canindé/CE representam suas resoluções para problemas matemáticos propostos. Dez alunos do 8º ano do Ensino Fundamental, escolhidos aleatoriamente, participaram da parte empírica de uma pesquisa para compor um trabalho de conclusão de curso de graduação, respondendo de forma escrita e individualmente um instrumento que continha 5 situações-problema. Os resultados encontrados indicam que os alunos apresentam dificuldades na compreensão dos enunciados em língua materna, consequentemente na formação de uma representação pertinente à resolução do problema, na conversão entre representações em diferentes registros semióticos, sobretudo pela não coordenação entre diferentes representações, mostrando-se com o raciocínio ainda muito preso ao representante sem dar significado, ou seja, sem acessar o representado, o objeto matemático.

Palavras-chave: Aprendizagem matemática; Resolução de problemas; Representação semiótica.

1 INTRODUÇÃO

A Matemática é uma área de conhecimento que surgiu e tem se desenvolvido a partir de problemas que o homem encontra no seu cotidiano, quer sejam problemas de

1 Professora da Rede Municipal de Fortaleza, Ceará, Brasil, rayannesousa74@hotmail.com.

2 Professora do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE/Campus Canindé,

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ordem prática ou teórica. Nesse contexto podemos inferir que a essência da Matemática é a resolução de problemas, numa concepção ampla do significado dessa palavra.

Em relação ao ensino, uma das formas de uso de problemas tem sido como exercício de aplicação do conhecimento matemático trabalhado. Ou seja, o momento final da aula, de um determinado conteúdo ou unidade didática, como forma de fixar o conteúdo estudado. Essa prática tem sido criticada, inclusive por Dante (1991), que alerta para a dificuldade de se trabalhar com problemas pela redução destes à resolução de algoritmos como fixação de conteúdo.

Outra perspectiva relativa ao ensino com a resolução de problemas diz respeito exatamente ao seu uso não como fim do processo ou fixação do aprendizado de um conhecimento específico, mas como meio para aprendê-lo, ou seja, como percurso metodológico e didático.

A Resolução de Problemas, nessa perspectiva, é um método eficiente para desenvolver o raciocínio e motivar os alunos para o estudo da Matemática. Os processos de ensino e aprendizagem, assim, podem ser trabalhados nas aulas de matemática, através de desafios, situações problemas instigantes que possam ser descobertas, problematizadas e não apenas resolvidas (BOTIN e LUPINACCI, 2004, apud SOUSA, 2005).

Ou seja, a resolução de problemas como estratégia didática pode contribuir com o desenvolvimento da compreensão dos alunos, que ao tornar-se mais profunda e abrangente implica diretamente nas habilidades deles para resolver problemas usando a matemática (ONUCHIC, 1999).

É importante que o aluno ao realizar a leitura de um determinado problema, possa compreendê-lo inteiramente, pois sem compreensão não há resolução coerente, tendo em vista que o problema não foi entendido (SMOLE e DINIZ, 2001).

Nesse sentido, algumas dificuldades dos alunos em resolver problemas, estão fortemente ligadas à leitura e compreensão, como apontam pesquisas como as de LIMA e NORONHA (2014), LIMA (2012), dentre outras. Podemos ainda atribuir a dificuldade em resolver problemas devido a fatores como: compreensão do raciocínio, identificação dos dados necessários para solucioná-los e formação de uma representação matemática para resolvê-los, quer seja ela aritmética, algébrica, pictórica, gráfica etc.

Assim, apesar dessas dificuldades relativas à leitura e compreensão do problema envolverem diversos aspectos, o foco deste trabalho será as representações semióticas utilizadas pelos alunos ao resolverem situações problemas, ou seja, “as produções

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constituídas pelo emprego de regras de sinais (enunciado em língua natural, fórmula algébrica, gráfico, figura geométrica, ...)” (DUVAL, 2009, p.15).

Pesquisas como a de BARRETO, MOTA e SOUSA (2009), SOUSA e LIMA (2012), CARDOSO, SANTANA, FERREIRA e SILVA (2013), dentre outras, todas elas baseadas na Teoria dos Registros de Representações Semióticas (TRRS) de Raymond Duval, analisam respostas de alunos a partir dessa teoria, e apontam caminhos para o ensino e aprendizagem da matemática através da resolução de problemas.

Diante dessa problemática da não compreensão dos problemas pelos estudantes, e com foco nas representações semióticas presentes neles, questionamos na pesquisa relatada neste artigo: como o aluno compreende os objetos matemáticos presentes nos enunciados dos problemas? Como ele compreende a própria língua materna? E como ele forma uma representação matemática para operar?

Este artigo, portanto, objetiva relatar um recorte de uma pesquisa maior que originou um Trabalho de Conclusão de Curso – TCC. A referida pesquisa teve como objetivo analisar as representações escritas de alunos do 8º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública municipal de Canindé para suas resoluções de problemas matemáticos propostos.

Nesse recorte da pesquisa são apresentadas as análises de respostas dadas pelos alunos a duas questões de um instrumento aplicado, elaborado com base na teoria dos Registros de Representação Semiótica. Esses alunos de uma turma de 8º ano do Ensino Fundamental foram convidados a resolver problemas envolvendo conteúdos por eles estudados.

Portanto, a referida investigação teve, como pergunta central: Como alunos do 8º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública municipal de Canindé representam suas resoluções para problemas matemáticos propostos?

2 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E REPRESENTAÇÕES SEMIÓTICA

Seguiremos agora, apresentando as subseções que compõe a fundamentação teórica deste trabalho com revisão das bibliografias referentes ao tema da pesquisa, tratando brevemente da resolução de problemas e do ensino de matemática ao longo dos tempos e dos registros de representação semióticas de Raymond Duval.

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2.1 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS, ENSINO E APRENDIZAGEMD E MATEMÁTICA

No início da década de 1990, a UNESCO, através da sua declaração mundial sobre Educação para todos, afirma que a resolução de problemas deve ser um instrumento essencial da aprendizagem, do mesmo modo que a leitura, a escrita e o cálculo (HUAMAN, 2006, p. 20). Podemos, assim, dizer que nesse período se iniciou a fase em que a Resolução de Problemas entraria de fato como metodologia para ajudar na construção de um conhecimento com significado por parte dos educandos.

Essa perspectiva da Resolução de Problemas como metodologia de ensino permite aos alunos mobilizar conhecimentos e desenvolver competências para gerenciar as informações que estão ao seu alcance (BRASIL, 1998). Desse modo, eles têm oportunidade de ampliar seus conhecimentos acerca de conceitos e métodos matemáticos bem como de ampliar a visão que têm dos problemas, da matemática e do mundo em geral, ao mesmo tempo em que desenvolvem estratégias próprias de resolução e consequentemente sua autoconfiança.

Outro aspecto importante quando admitimos que a Resolução de Problemas está fortemente relacionada à aprendizagem de conteúdo, é o recurso à comunicação nas aulas. Recurso essencial, pois é o aluno, falando, escrevendo ou desenhando, que apresenta ou demonstra indícios de que habilidades ou atitudes ele está desenvolvendo e que conceitos ou fatos ele domina, demonstra dificuldades ou incompreensões. Portanto, no ensino e aprendizagem da matemática, “a comunicação tem um papel fundamental para ajudar os alunos a construírem um vínculo entre suas noções informais e intuitivas e a linguagem abstrata e simbólica da matemática” (CÂNDIDO 2001, p. 15).

E sobre isso, Raymond Duval, um dos teóricos que embasam este trabalho, vai um pouco além, pois para a teoria dos Registros de Representação Semiótica - RRS, para além de comunicar, as diversas representações semióticas são necessárias para o aprendizado da matemática, para o reconhecimento de seus objetos e a compreensão de seus conceitos.

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Semiótica é a ciência que estuda os signos e seus significados, é a ciência das linguagens. A teoria dos registros de representação semiótica de Raymond Duval contribui com a compreensão da aprendizagem matemática, do ponto de vista cognitivo, na busca por entender dificuldades apresentadas por muitos alunos na compreensão de conceitos matemáticos.

Duval defende a importância das representações semióticas não apenas para expressar o que foi aprendido, mas para aprender o que ainda não se sabe. E defende que o ensino da matemática na formação inicial dos alunos tem o objetivo de “contribuir para o desenvolvimento geral de suas capacidades de raciocínio, de análise e de visualização” (DUVAL, 2003, p. 11).

Assim, a escolha pela teoria dos Registros de Representação Semiótica de Raymond Duval como embasamento teórico para este artigo, se deu pela contribuição que a origem da abordagem cognitiva pode trazer à pesquisa realizada.

De acordo com Duval (2003), a importância fundamental das representações semióticas para a Matemática se justifica por duas razões: a primeira é que qualquer tratamento sobre os objetos matemáticos se estabelece por meio de um sistema de representação utilizado. A segunda razão se deve ao fato de que os objetos matemáticos não são diretamente perceptíveis aos nossos olhos, nem mesmo com a ajuda de instrumentos.

Portanto, os objetos matemáticos requerem a utilização de alguns sistemas de representações que permitem designá-los, tais como: língua materna, representação numérica, algébrica, gráfica, pictórica, figuras geométricas etc. Para Duval (2003), a aprendizagem matemática, do ponto de vista cognitivo, requer a diversificação de registros de representação. Então, “a originalidade da atividade matemática está na mobilização simultânea de ao menos dois registros de representação ao mesmo tempo, ou na possibilidade de trocar a todo momento de registro de representação” (DUVAL, 2003, p.14).

Dessa forma, ao estudar matemática o aluno deve ter acesso a, pelo menos, duas formas diferentes de registros de representação para que seja possível gerar compreensão. Por exemplo, ele deve ser capaz de compreender e extrair os dados necessários, em uma dada representação, para solucionar uma situação problema, em uma representação no mesmo registro ou em outro; e a partir desses dados realizar as operações matemáticas necessárias para chegar à solução. Só assim o aluno estará

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compreendendo conceitos e construindo um conhecimento requerido na matemática (DUVAL, 2003).

Para Duval, não existe noésis sem semiósis, onde noésis é a aquisição do conhecimento do objeto matemático e semiósis a representação simbólica do objeto matemático. E ainda, “é a semiósis que determina as condições de possibilidade e de exercício da noésis” (DUVAL. 2009, p 17), assim, a efetiva apreensão conceitual de um objeto matemático necessita da produção e coordenação de diferentes representações semióticas.

Então, se faz necessária a diferenciação entre representante e representado, já que um mesmo objeto matemático pode ser representado de formas muito diferentes. O representante é a forma como se apresenta o conteúdo matemático (números, figuras geométricas, gráficos, tabelas, representação algébrica, língua materna etc.) e o representado diz respeito ao conteúdo do conhecimento matemático (conceitos, propriedades, estruturas, relação).

No processo cognitivo, os RRS desempenham três importantes funções: comunicação, objetivação e tratamento. A comunicação é a forma de externar o pensamento, permitindo ao sujeito maior possibilidade de demonstrar, de variadas formas, como pensou sobre algo, através do conhecimento e utilização de diferentes representações em diversos registros. A troca de conhecimentos se tornaria impossível sem a utilização da comunicação. Assim, a função da comunicação se cumpre quando o sujeito expressa suas representações mentais por meio de representações semióticas.

Quando o sujeito utiliza as representações semióticas também para construir seu próprio saber e tomar consciência de tal construção, ocorre a função de objetivação. Essa função propicia ao sujeito objetivar o conhecimento, ou seja, ele precisa representar para aprender, para saber que aprendeu. E essa ação tem grande importância do ponto de vista da aquisição do conhecimento matemático (DUVAL, 2003).

O tratamento de uma representação é a transformação de uma representação em outra representação dentro de um mesmo registro. Por exemplo: “efetuar um cálculo ficando estritamente no mesmo sistema de escrita ou de representação dos números” (DUVAL, 2003, p. 16).

Além das funções, os RRS desempenham três atividades cognitivas. Uma delas é o próprio tratamento, que apresenta regras operatórias específicas para cada registro. Por exemplo, operar uma expressão numérica guarda diferenças em relação a operar uma expressão algébrica.

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Uma segunda atividade cognitiva é a formação de uma representação, que “consiste na efetivação de uma representação coerente, capaz de conter todos os elementos indispensáveis para a sua compreensão” (SOUSA, 2009, p. 9). E obedece a regras de conformidade de cada registro. Como exemplo podemos citar um enunciado em uma determinada língua natural que sempre apresenta elementos relativos a sua gramática e ortografia, que permitem identificá-lo como uma expressão dessa mesma língua.

E a terceira atividade cognitiva é a conversão, que consiste em “transformar a representação de um objeto, de uma situação ou de uma informação dada num registro em uma representação deste mesmo objeto, dessa mesma situação ou da mesma situação num outro registro” (DUVAL, 2009, p.58). Por exemplo: passar de um enunciado de problema de matemática na língua natural à escrita algébrica, ou, do registro de representação tabela ao registro de representação gráfico etc.

Para a conversão não há regras, por isso é considerada a atividade cognitiva mais complexa. A conversão pode ser mais ou menos congruente, a depender da representação no registro de partida e qual o registro de chegada da conversão feita. Quando a representação terminal transparecer na representação de partida, teremos então uma conversão congruente, caso contrário, ou seja, quando não é possível visualizar essa transparência, dizemos ter uma não congruência.

Duval (2003), ainda sobre a conversão, destaca a importância da heterogeneidade dos sentidos. Saber converter em um sentido não implica saber converter no sentido contrário. E a conversão de um determinado tipo de registro a outro pode apresentar níveis de congruência diferentes. Assim, se faz necessário trabalhar as conversões em ambos os sentidos. Para Duval essa é a atividade cognitiva fundamental para a aprendizagem, e muitas vezes, esquecida pela escola.

3 PERCURSO METODOLÓGICO DO ESTUDO

Em consonância com Fiorentini e Lorenzato (2006), acreditamos que o problema, a questão de pesquisa e os objetivos propostos orientam o processo de investigação desenvolvido. Portanto realizamos essa pesquisa de caráter misto, com análise de dados qualitativos, complementados por dados quantitativos, constituindo-se em um estudo exploratório-descritivo, com a finalidade de compreender o fenômeno na maior abrangência possível (MARCONI; LAKATOS, 2010).

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Assim, para tentarmos atingir o objetivo geral de analisar as representações escritas de alunos do 8º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública municipal de Canindé para suas resoluções de problemas matemáticos propostos, foi realizada uma pesquisa de campo, com uma amostra de dez alunos de uma turma de 8º ano do Ensino Fundamental (EF) de uma Escola pública do município de Canindé-Ce.

Como instrumento para coleta dos dados, foi utilizado um teste diagnóstico elaborado segundo a TRRS de Raymond Duval, principal fundamentação teórica deste trabalho e da pesquisa realizada. O teste continha 5 (cinco) problemas matemáticos, que subdividiam-se em 7 (sete) resoluções e versavam sobre expressões e operações numéricas, equação algébrica do 1º grau e fração, conteúdos estes que compõem a matriz curricular de uma turma de 7º ano do EF, que se trata do ano anterior cursado pelos alunos amostra da pesquisa. Ou seja, esperávamos que os alunos já tivessem estudado e compreendido esses conhecimentos matemáticos, tendo em vista já estarem, no momento da realização da pesquisa, no 8º ano do EF.

O teste foi aplicado com dez alunos de uma turma do 8º ano do EF de ambos os sexos, com idades entre 13 a 14 anos, que tiveram o tempo disponível de uma hora para a resolução do teste. Cada aluno recebeu um único teste contendo 5 situações problemas que deveriam ser respondidos utilizando somente lápis e borracha.

Após a aplicação do teste com os alunos, demos início à análise dos dados recolhidos. Primeiramente realizamos uma leitura das respostas que nos levou a perceber acertos e erros nas resoluções. Numa releitura das respostas dadas pelos alunos para as questões do teste pudemos organizar melhor essas respostas e categorizá-las com base nas semelhanças encontradas entre as representações utilizadas por cada aluno, bem como na forma como converteram e/ou trataram (categorias da TRRS utilizadas).

Em seguida fizemos a descrição e análise mais minuciosa desses dados, buscando mais aproximações para uma visão do todo e ao mesmo tempo das partes que compunham as representações escritas dos alunos, promovendo a articulação da revisão de literatura feita, com os dados empíricos fornecidos pelos alunos. Neste artigo, para essa parte da análise optamos por fazer um recorte, trazendo as respostas às questões 1 e item a da questão 3, por apresentarem conversões diferentes, quais sejam: língua materna (LM) para a representação numérica (RN) e representação numérica (RN) para a língua materna (LM).

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Os dados são apresentados, então, a partir da análise mais específica e qualitativa das questões. Os alunos sujeitos da investigação são nomeados A1, A2, ..., A10.

4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Procedemos agora, a uma descrição e análise das resoluções, buscando atingir aos dois objetivos específicos definidos para a pesquisa, quais foram: verificar quais tipos de registro de representação semiótica são utilizados pelos alunos em suas resoluções de problemas; e analisar as diferentes formas de representações apresentadas pelos alunos em suas respostas aos problemas propostos, reconhecendo como convertem e tratam. Essa análise é feita por questão, para facilitar a compreensão do que pudemos depreender da leitura de suas respostas.

QUESTÃO 1: No comércio de seu Zé, Paulo comprou um saco com dez dúzias de balinhas de chocolate. Deu cinco para sua amiga Maria e sete para seu irmão. Depois, deu quatro para cada um dos seus vinte e cinco amigos da sua sala de aula. Quando olhou dentro do saco, só tinham sobrado oito balinhas para ele. Escreva a expressão numérica que representa esse problema.

A questão 1 solicita uma conversão da língua materna (LM) para a Representação Numérica (RN), e pede para formar a representação de uma expressão numérica. Trata-se de uma conversão de baixa congruência, porque há a necessidade de se conhecer bem as regras de conformidade de uma expressão numérica para reconhecer os elementos no registro de partida LM e sua estrutura no registro de chegada RN, podendo ainda serem realizados tratamentos intermediários ou não.

A6 e A8 fazem uma leitura seletiva, buscando apenas números como podemos ver nas figuras 1 e 2 abaixo.

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Fonte: Elaboração própria3

Eles (A6 e A8) não representam uma expressão numérica, ensaiam a representação algorítmica da adição e da subtração, com números que aparecem no enunciado do problema, sendo que A6 estabelece alguma relação do algoritmo formado com a situação, conforme figura 1, e A8 estabelece relação, mas compreendendo a relação inversa em que o total (soma) das quantidades subtraídas devem ser comparadas em relação a quantidade inicial de balas, apesar do aluno não ter operado corretamente com as quantidades dadas no enunciado, como observamos na figura 2.

Assim, nos deparamos aqui também com uma das necessidades mencionadas anteriormente, que é a da leitura com compreensão, na resolução de problemas, pois o aluno necessita compreender o problema como um todo para que possa solucioná-lo da melhor forma (SMOLE e DINIZ, 2001).

Na figura 3, abaixo, observamos que A9 consegue perceber operações envolvidas no enunciado do problema. Ele faz uso dos algoritmos de adição, subtração e multiplicação para representar e realizar seus cálculos, o que denota a função de objetivação da representação semiótica (DUVAL, 2003). Mas ele se confunde ao multiplicar 20 x 4, ao invés de multiplicar 25 x 4, como requeria o texto do problema, e ainda erra nesse tratamento, que resulta em “84” e não 80, como seria o correto. A9 não chega a representar a expressão numérica, como é solicitado na questão.

Figura 3 - Representação de A9 Figura 4 - Representação de A4

Fonte: Elaboração própria

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As figuras de 1 a 24 foram originadas das produções escritas dos sujeitos investigados na pesquisa ora relatada, quando das respostas dadas ao instrumental aplicado.

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Na figura 4, acima, percebemos que A4, para obter as quantidades dez “dúzias” e “quatro para cada um de seus vinte e cinco amigos”, explicitadas no problema, se utiliza de operações de adição ao invés da multiplicação. Isso mostra que o aluno reconhece sucessivas adições como multiplicação, mas que talvez não se sinta seguro em operar com a representação algorítmica da multiplicação. Apesar de acertar todos os cálculos feitos, e os números que compõem a expressão numérica requerida, o aluno acrescenta a letra X a cada um dos números expressos, na tentativa de formar uma expressão algébrica e não numérica como requeria o problema.

Podemos inferir aqui, que isso pode se dar pelo fato de ele estar, no momento, estudando conteúdos de álgebra, denotando uma compreensão da letra X significando as balinhas. Outra hipótese, é de associar o termo expressão com situações da álgebra, já que nos problemas aritméticos, majoritariamente se trabalha com o uso de algoritmo das operações de forma separada ao invés de expressões.

Aparecem aqui duas situações frequentes nas resoluções de problemas e/ou de outras questões matemáticas, a leitura sem compreensão e o aprisionamento da resolução matemática a procedimentos algorítmicos.

Figura 6 - Representação de A10

Fonte: Elaboração própria

A10 converte corretamente de LM para RN (ver figura 6); consegue realizar o tratamento dos dados contidos na representação em RN, apresentando estratégia própria de resolução, da forma que ele achou mais objetiva, demonstrando ter compreendido a situação matemática contida. Ele sistematiza seus cálculos de forma clara, conseguindo assim, obter uma representação numérica compreensível para o problema. Percebemos aqui a semiósis (representação) e a noésis (compreensão) em diálogo, como adverte Duval (2009), para compreender, comunicar e tratar.

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Na questão 3 do teste, havia itens a) e b), mas optamos, neste artigo, por trazer a análise apenas do item a), pelo fato de os dois itens se tratarem de conversões de RN para LM.

QUESTÃO 3: Crie e escreva uma situação ou história que poderia ter dado origem para a seguinte expressão numérica.

a) 18 ÷ 3 + 6 = 12

A questão 3 no item a) solicita uma conversão da representação numérica (RN) para a língua materna (LM), e pede para formar a representação através de um texto. Essa é uma conversão entre dois registros discursivos, mas que exige uma compreensão da situação no RN para reelaborar esta situação em LM. Há uma baixa congruência nessa conversão pela falta de correspondência semântica e unicidade terminal.

A representação em LM apresentada por A4 (ver figura 21) nos coloca uma dúvida quanto ao que ele quis representar em língua materna, sobre a divisão dos bombons. Se ele a fez por 2 ou por 3, em seu raciocínio. Quando ele enuncia: “João tinha 18 bombons dividiu para 2 amigos...”, esse trecho deixa a entender que João não está incluso na divisão, e que ele converteu a divisão “18 ÷ 3” da expressão numérica em um divisão de 18 por 2 em LM. No entanto, ao continuar sua escrita o aluno nos diz que: (João) “ganhou mais 6 de seus pais e ficou com 12”, nos deixando a entender agora que João, ao ganhar mais seis bombons e ficar com doze bombons, está incluso na divisão dos bombons desde o início. Assim, podemos inferir que A4, em seu raciocínio, inclui João na divisão, mas encontra dificuldade em expressar seu pensamento durante a redação do enunciado.

Figura 21 - Representação de A4 Figura 22 - Representação de A5

Fonte: Elaboração própria

Essa mesma dificuldade pode também ser percebida no registro em LM de A5, pois ele consegue converter de RN para LM, e cria, para a expressão, uma situação relativa a cada amigo para quem João dividiu os bombons (ver figura 22).

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Fonte: Elaboração própria

Como podemos perceber nas figuras 23 e 24, respectivamente, A3 e A10 conseguiram realizar a conversão do RN para LM. A3 realizou a conversão formando uma representação, em LM, com todos os elementos que aparecem no RN, e, ao contrário de A4, deixa clara a inclusão de João entre a quantidade de pessoas pelas quais serão divididos os pirulitos. A10, em sua representação em LM, se utiliza da fração “ ” para representar a quantidade de bombons que ficou para cada um depois de João ter repartido os 18 bombons para ele e mais duas crianças (ver figura 24). Isso demonstra que A10 consegue estabelecer relação entre a operação de divisão e uma fração, além de representar claramente em LM que João se inclui na divisão de bombons.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da análise das questões podemos perceber as dificuldades, relativas às representações, apresentadas pelos alunos na resolução dos problemas propostos, principalmente quando a conversão se tratava do registro numérico (RN) para língua materna (LM), como na questão 3 item a). Pensamos que essa pode ser um tipo de conversão menos comum nas resoluções realizadas por esses alunos em seu cotidiano de estudantes de matemática.

Percebemos, ainda, os alunos muito presos ao procedimento algorítmico, como estratégia de resolução, mesmo quando ele não é pedido. Isso também denota a não compreensão da situação em língua materna, sobretudo o não entendimento ou atenção ao que deve ser respondido. Há também uma restrição da “compreensão” à manipulação com os representantes, os significantes simbólicos, mas sem acessar os representados, os significados.

Assim, entendemos que o ensino de matemática deve ir além da apresentação de conceitos e de procedimentos repetitivos, para que o aluno adquira e desenvolva o seu

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conhecimento matemático. É preciso, então, compreender como o aluno pensa e representa para ajudá-lo a desenvolver, pela formação e manipulação de diferentes representações semióticas, uma visualização, análise, raciocínio lógico para utilizar da melhor forma os recursos disponíveis para solucionar um determinado problema e/ou situação matemática (DANTE, 1994).

Portanto, esta pesquisa nos proporcionou valiosos aprendizados referentes a Teoria dos Registros de Representações Semióticas (TRRS) de Raymond Duval atrelado à resolução de problemas. Nos mostrou o quanto ainda se faz necessário um trabalho didático pedagógico voltado para as diversas formas de representações em coordenação, visando a melhor compreensão pelos alunos dos conteúdos estudados nas aulas de matemática. Intencionamos futuramente prosseguir esse estudo utilizando o método clinico, perguntando aos alunos sujeitos da pesquisa o que quiseram mostrar com cada uma das representações dadas por eles nas resoluções dos problemas propostos. Esperamos que este trabalho venha a contribuir com demais pesquisas e estudos que tratem principalmente da importância da TRRS de Raymond Duval na busca de avanços para o processo de ensino e aprendizagem da matemática nas suas diversas formas de representação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências

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