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ECOTURISMO EM BONITO

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Academic year: 2021

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EM BONITO

INTRODUÇÃO

município de Bonito tornou-se conhecido nacional e internacio-nalmente por suas belezas naturais, como grutas, rios de águas cristalinas, cachoeiras, flora e fauna, sendo eleito em 2002, como o melhor destino para o ecoturismo no país pela revista de publicação nacional Viagem. A profissionalização da atividade turística começou há 10 anos por uma ação conjunta do Sebrae/MS, EMBRATUR, SENAC/MS e Prefeitura Municipal que capacitaram cerca de 1.700 pessoas entre empresários, guias e outros profissionais. O resultado desse trabalho ocasionou um aumento de até 1.000% na oferta de serviços ao turista, incluindo novos hotéis e restaurantes, exploração profissional dos atrativos e agências especializadas em ecoturismo.

O sucesso de suas belezas naturais vinha atraindo, ao longo dos anos, um grande número de turistas. O êxito estava causando inúmeros problemas para a infra-estrutura do município, tais como: sistema inadequado de coleta, tratamento e distribuição das águas potáveis, esgoto e lixo, infra-estrutura viária inadequada para atender aos locais turísticos, ao escoamento da produção agropecuária e ao baixo índice de ocupação dos atrativos turísticos na baixa temporada.

O

Jorge Tadeu de Barros Veneza, Consultor do Sebrae Mato Grosso do Sul, elaborou o estudo de caso sob a orientação de Helene Kleinberger Salim e César Simões Salim, baseado no curso Desenvolvendo Casos de Sucesso, realizado pelo Sebrae, Ibmec-RJ e PUC-Rio, integrando as atividades da Prioridade Potencializar e Difundir as Experiências de Sucesso no Sistema Sebrae.

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HISTÓRIA DE BONITO

onito1teve suas origens na história da formação do município de Miranda, ligado à expansão espanhola do século XVI no vale do Paraguai, como ponto de apoio às expedições que pretendiam alcançar as minas do Peru. Em 1580, Ruy Dias Melgarejo fundava a primeira cidade de Santiago de Xerez às margens do rio Miranda. Após vários conflitos com os índios que habitavam a região, o povoado mudou-se para as margens do rio Mondego (Aquidauana), permanecendo apenas algumas famílias que conviviam pacificamente com os indígenas. Esse relacionamento amistoso facilitou a implantação da Missão Itatim, que foi alvo constante de ataques de bandeirantes paulistas e colonos espanhóis que pretendiam aprisionar os índios e mestiços aldeados para escravizá-los.

A Coroa Portuguesa expulsou os espanhóis da região do vale do rio Paraguai, após a descoberta de ouro em Cuiabá. A mando do capitão-general da Capitania de Mato Grosso, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, em 1778, foi construído o Presídio de Nossa Senhora do Carmo do Rio Miranda. Um pequeno povoado começou a desenvolver-se em volta do presídio, que, em 1857, seria elevado à categoria de vila e passaria a denominar-se Miranda e, em 7 de outubro de 1871, foi elevada à categoria de município.

Durante a Guerra do Paraguai (1865 – 1870), vários colonos e fazendeiros ajudaram no abrigo e condução das tropas até a região de fronteira. Os índios Guaicurus também participaram dos combates. Após o final da guerra, muitas pessoas que haviam fugido retornaram junto com novos colonos vindos de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e outras regiões. Em função dos constantes ataques indígenas, muitas famílias foram dizimadas, dificultando a criação de um povoado.

O núcleo habitacional que se transformaria na sede do município se iniciou em terras da fazenda Bonito, adquirida do Sr. Euzébio pelo capitão Luiz da Costa Leite Falcão, em 1869, e considerado o desbra-vador de Bonito, tendo sido também seu primeiro escrivão e tabelião.

B

Coordenação Técnica do Projeto: Arnaldo Leite e Márcia Gonzaga Rocha. 1www.bonito-ms.com.br

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A fundação oficial da cidade de Bonito se deu, em 24/02/1927, pelo capitão Manoel Ignácio de Faria, genro do capitão Luiz da Costa Leite Falcão. Foi elevada a distrito pela Lei n.° 693, de 11/06/1915, e o município foi criado pela Lei n.° 145, de 02/10/1948. No dia 3 de outubro, passou-se a comemorar sua emancipação política.

A 330 km da capital de Mato Grosso do Sul, Bonito possuía cerca de 17 mil habitantes2 (2002) e era nacional e internacionalmente conhecido por suas belezas naturais, distribuídas entre grutas, rios de águas cristalinas, cachoeiras, flora e fauna abundante. O município pertence a MRH – Microrregião Homogênea de Bodoquena, possuindo uma extensão territorial de 4.947,90 km2, equivalendo a 1,38% do total do Estado de Mato Grosso do Sul. Possuía um clima tropical úmido, topografia predominante ondulada e vegetação de cerrado.

6350 7913 11014 15553 16827 1563 5110 10332 12796 5904 5221 4031 GRÁFICO 1 1970 1980 1991 2000

RURAL URBANA TOTAL

População do município de Bonito

A ESTRUTURA TURÍSTICA DE BONITO

té a década de 70, os únicos atrativos de Bonito eram a Gruta do Lago Azul e a Ilha do Padre, visitados principalmente pelos moradores do município, além de seus amigos e parentes que moravam em outras regiões.

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No final da década de 80, houve um discreto aumento de visitantes, que procuravam também o Aquário Natural, as Cachoeiras do Mimoso e o Rio Sucuri, além do passeio de Bote, então os proprietários despertaram para a exploração econômica de seus atrativos. O Decreto n.° 076/85 foi aprovado em 14/04/86, autorizando a desapropriação da área que seria transformada no Balneário Municipal, visando atender à comunidade local. A infra-estrutura e a organização dos passeios eram ainda precárias, tendo apenas duas agências e alguns hotéis de acomodações simples na cidade.

Em 1993, o fluxo de turistas teve seu início após a transmissão em rede nacional de diversos documentários sobre a região. Foram desse período as primeiras experiências de limitar o número de visitantes em alguns passeios. Esse dilema foi fundamental para que o município buscasse o desenvolvimento profissional das atividades turísticas.

Em virtude da sua natureza calcária, os atrativos turísticos de Bonito eram muito frágeis, correndo o risco de degradação diante de uma exploração turística desordenada. Para manter a sustentabilidade dessa atividade econômica, diversas medidas foram tomadas, a fim de coordenar a exploração turística sem comprometer o meio ambiente.

A realização do primeiro Curso de Formação de Guias de Turismo, em 1993, com o apoio do Sebrae/MS, Governo do Estado, EMBRATUR e Prefeitura Municipal de Bonito, e coordenado pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, constituiu o marco inicial para a profissionalização do turismo em Bonito. Desde essa época, realizaram-se outros cursos de formação de guias, suprindo a crescente demanda turística.

Nesse período, existiam em Bonito três atrativos turísticos com pouca infra-estrutura para recebimento de turistas, seis agências de turismo, seis meios de hospedagem (hotéis e pousadas) que ofereciam 300 leitos e trinta guias de turismo em processo inicial de atuação na área turística, gerando, na época, 180 empregos diretos.

A comunidade também se mostrava preocupada com o início do processo de desenvolvimento do turismo no município, fato este que foi registrado nos trabalhos iniciais realizados, em que se destacavam alguns comentários dos participantes desses eventos:

“Os atrativos naturais são frágeis!”, “Ecoturismo não é um simples produto! É um conceito de viagem, com respeito ao meio

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ambiente!”, “Precisamos convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum!” e “O uso racional depende da elevação do nível de consciência, de posturas ambientalmente corretas!”

O CONTEÚDO CENTRAL

m 1993, o município estava despertando para o turismo, que seria um dos setores que causariam impactos diretos na geração de ocupações produtivas e renda. Na época, as lideranças da comunidade já manifestavam sua preocupação com a fragilidade dos atrativos naturais e com o delicado equilíbrio do meio ambiente da região, pois o ecoturismo não era um simples produto, mas um conceito especial de viagem, com forte apelo de respeito ao meio ambiente.

Nesse mesmo ano, o Sebrae/MS, atuando em parceria com a

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Prefeitura Municipal, a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Governo do Estado e EMBRATUR, implantou em Bonito o primeiro Curso de Formação de Guias de Turismo, com aulas teóricas e práticas, especializando os participantes em atrativos naturais, e capacitando 30 profissionais da região.

Dentre eles, citamos o caso do Sr. Valdemir Martins, que ocuparia o cargo de Secretário Municipal de Turismo.

“Cheguei a Bonito há 10 anos. A idéia era abrir uma mercearia, mas acabei fazendo um curso de guia de turismo, promovido pelo Sebrae/MS, e não parei mais.”

Martins era um dos inúmeros exemplos de empresários e profissionais que iniciaram o trabalho de desenvolvimento turístico de Bonito, reconhecido como um dos destinos de ecoturismo mais procurados do Brasil.

Nessa época (1993), não se faziam o levantamento e a consoli-dação de dados referentes ao número de turistas que visitavam o município, a receita gerada e seu tempo de permanência na cidade. Esses levanta-mentos tornaram-se indispensáveis em função da necessidade de o exe-cutivo municipal, as entidades e os empresários do setor controlarem o fluxo de visitantes e para planejamento de ações de divulgação e investimentos na infra-estrutura municipal e nos atrativos turísticos.

Análise de Dados 2002

Média de turistas (por ano) 100.000

Gasto médio (por turista – por dia) R$ 120,00 Estada em Bonito (número de dias por turista) 4

Receita gerada no turismo R$ 48 milhões

Fonte: Conselho Municipal de Turismo de Bonito – COMTUR

A utilização racional dos recursos naturais disponíveis à visita turística dependia da elevação do nível de consciência do turista, que deveria conter seus impulsos de tocar ou interferir no ambiente que via e que o deslumbrava. Essa foi uma das preocupações demonstradas pelas lideranças e comunidade local, que posteriormente mobilizaram outras iniciativas, que proporcionassem o desenvolvimento do turismo e, ao mesmo tempo, conservasse o meio ambiente.

Entre as iniciativas adotadas, teve grande importância o Seminário Estratégico de Turismo realizado em maio de 1994. Guias, empresários,

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técnicos e secretários municipais, em um total de 32 participantes, identificaram problemas e soluções para o desenvolvimento desse novo potencial encontrado.

Diversas ações foram, então, desencadeadas para o ordenamento e o desenvolvimento do turismo local. Dentre elas, em 1995, a Lei Municipal nº 689/95 tornou obrigatório o acompanhamento de guias aos passeios turísticos locais. Seu credenciamento pela EMBRATUR garantia segurança ao visitante, aliada a uma variedade de informações sobre o local visitado, ao mesmo tempo que se tornava um fiscal da preservação ambiental.

Ainda em 1995, a estruturação da atividade turística foi comple-mentada pela aprovação da Lei Municipal nº 695/95 que instituiu o Conselho Municipal de Turismo - COMTUR, integrado por quatro representantes escolhidos pelo chefe do executivo municipal e por seis representantes dos segmentos ligados ao trade turístico local, posteriormente alterado para sete representantes.

O COMTUR tinha como principal objetivo fomentar o turismo de maneira organizada e sustentável no município, apoiando ações que visassem divulgar o Município de Bonito em outras regiões, dando apoio ao trade e à comunidade, seja na implantação de alguma atividade ou na parceria de projetos de cunho social.

Embora o estatuto do COMTUR instituísse reuniões quinzenais, essas aconteciam semanalmente. Aos conselheiros, eram apresentadas propostas e solicitações de apoio às atividades ligadas ao turismo, que eram discutidas em sessões abertas ao público, votadas e registradas em ata. Os Conselheiros representavam as associações de classe, eram eleitos por voto direto e cumpriam mandato de dois anos. As seguintes associações estavam representadas no COMTUR: Associação Comercial, Associação de Bares e Restaurantes, Associação dos Transportes, Associação Bonitense de Hotelaria, Associação de Agências de Turismo, Associação de Guias de Turismo e Associação dos Atrativos Turísticos. Os representantes do Executivo Municipal eram: Vice-prefeito, Assessor Jurídico, Secretário de Turismo, Indústria e Comércio e Secretário de Meio Ambiente, Agricultura e Pecuária.

Um dos diferenciais de Bonito, que também se refletia no desen-volvimento da atividade turística do município, era o critério de escolha do secretário de turismo. O processo era feito por eleição e o secretário era escolhido pelo trade turístico, a partir de uma lista tríplice. Essa

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iniciativa procurava garantir a seriedade e o comprometimento de todos com os planos estabelecidos pela Secretaria de Turismo.

A Resolução Normativa nº 09/95, do COMTUR, regulamentou a instituição do voucher único, principal instrumento para viabilizar o ordenamento da atividade turística em Bonito. Emitido e controlado pela Secretaria de Turismo, Indústria e Comércio de Bonito, o voucher era comercializado pelas agências de turismo do município.

Voucher, que significa "recibo" em inglês, era o elo entre o poder

público, os empresários, os guias e os turistas que visitavam Bonito. Funcionava como um passaporte que dava direito de visitação a locais escolhidos e foi a forma encontrada de controlar o acesso dos turistas, sempre com a presença de um guia especializado. Além dessa organização e controle, o voucher único centralizava os pagamentos da visitação aos atrativos turísticos e o serviço dos guias nas próprias agências de turismo e, ainda, possibilitava o controle estatístico de visitação turística aos atrativos.

A Prefeitura Municipal imprimia e distribuía entre as 25 agências de turismo do município talões numerados do voucher. Neles, eram preen-chidas informações a respeito da agência organizadora do passeio, identificação do guia e do atrativo, horário de visita e valor total do passeio. Nesse valor, estavam inclusos os valores referentes ao guia, agência, atrativo e ISS – Imposto Sobre Serviço, destinado à Prefeitura. A fragilidade ambiental da região motivou o controle do número de visitantes diários por atrativo. O acompanhamento de guia de turismo era obrigatório para todos os sítios turísticos, combinado com um número máximo de turistas que ele poderia levar no grupo.

Além de centralizar os pagamentos e organizar o fluxo turístico, que era uma preocupação constante em ecossistemas frágeis como os de Bonito, o voucher ajudava a mapear a atividade turística local, o que permitia a tomada de decisões e a aplicação de planos de ação, de acordo com as deficiências percebidas. A partir desses estudos, soube-se que o turista gastava, em média, R$ 100,00 por dia, com quatro dias de permanência e realizava quatro passeios.

Assim, quando o turista chegava a Bonito, devia obrigatoriamente passar por uma agência local para agendar seus passeios, pegar os respectivos vouchers e seguir para o atrativo acompanhado de um guia de turismo.

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Simultaneamente à criação do COMTUR, foi instituído o Fundo Municipal de Turismo, o FUTUR. O fundo era administrado pelo COMTUR e mantido com quarenta por cento da arrecadação obtida com os ingressos da Gruta do Lago Azul, principal atrativo da localidade. Prioritariamente, os recursos foram destinados ao marketing promocional – folders, vídeos, cartazes – e ao acesso a feiras e workshops no Brasil e no exterior.

Nesse período, o grau de preocupação das lideranças, empresários e entidades ligadas ao turismo, com a conservação do meio ambiente e com a profissionalização do turismo, possibilitou a implantação do Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT, realizado pela parceria da Prefeitura Municipal e EMBRATUR, tendo como objetivo treinar monitores municipais do PNMT, sensibilizando-os quanto à impor-tância do turismo para o desenvolvimento sustentável dos municípios. Como resultado da Oficina de 1ª Fase do PNMT, foram capacitados 10 técnicos municipais.

Segundo levantamentos realizados em 1997, pelo COMTUR, a receita com o turismo em Bonito atingiu cerca de 12 milhões de reais.

Em 1998, o Sebrae/MS, em parceria com a Prefeitura Municipal, implantou o Programa de Emprego e Renda – PRODER, que contou com ampla participação da comunidade. Esse estudo visou apurar a realidade local, com vistas ao levantamento de potencialidades para a implementação de ações que tinham como fim o desenvolvimento econômico e social do município, tendo como vertente principal de sustentação o turismo.

O Plano de Ação Municipal contemplou, entre outros, o Programa de Desenvolvimento do Turismo e Meio Ambiente, no qual se destacavam divulgação das atividades turísticas, qualificação dos recursos humanos, promoção de educação ambiental, conservação dos recursos naturais e criação de um banco de dados estatísticos sobre o turismo.

Em outras áreas, o plano indicou ao Poder Executivo Municipal setores e ações a serem trabalhadas, tais como: recuperação de estradas vicinais, implantação de usina de reciclagem e compostagem de lixo, criação de viveiros de mudas, sinalização das vias de acesso aos pontos turísticos, etc.

Realizou-se, também, um estudo sobre o potencial de visitas e cálculo científico da capacidade de carga das grutas Nossa Senhora Aparecida e Gruta do Lago Azul. Essa iniciativa visava iniciar o processo

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de licenciamento ambiental e a implantação dos seguintes empreen-dimentos previstos: melhoria e ampliação do caminho da Gruta do Lago Azul, caminho interno da Gruta Nossa Senhora Aparecida, construção de centro de recepção aos turistas para as grutas e demais infra-estruturas de apoio externas às cavernas.

Em 1999, realizou-se uma Ação Global no KM 21 – Águas de Miranda, visando proporcionar uma conscientização ambiental aos moradores dessa colônia de pescadores, tratamento médico e odontológico, realização de vacinação dos moradores, emissão de documentos de identidade, certidão de nascimento e outros, além de melhorar as vias de acesso. A ação contou com diversos parceiros, sendo eles: Prefeitura Municipal, Sebrae/MS, SENAC, Governo do Estado, SESC, Comando Militar do Oeste e outros.

Por iniciativa da Prefeitura Municipal, realizou-se em 1999 o projeto Conheça Bonito, para 650 alunos de 5ª a 8ª séries e que incluía um city

tour acompanhado por guias locais especializados, destinado à

conscientização da importância do turismo e do meio ambiente. Em Bonito, o Plano de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável, iniciado em outubro de 2001, provocou a integração das atividades de turismo e da agricultura. O envolvimento começou com a implantação da Feira do Produtor na Praça da Liberdade, no centro da cidade. O projeto começou tímido, mas, com a Comunidade Ativa em parceria com o Programa Sebrae de Desenvolvimento Local – PSDL, estabeleceu-se a implantação de barracas padronizadas para os produtores dos assenta-mentos rurais. A proposta era para 25 barracas, mas já, na inauguração, o número subira para 50 e, até o final do ano, a prefeitura pretendia ampliar para 100, dando oportunidade a outras famílias de produtores e, também, a artesãos da cidade.

Inaugurada oficialmente no dia 27 de abril de 2002, a Feira do Produtor de Bonito atraiu a atenção de toda a população e dos turistas. Na solenidade de inauguração, o Prefeito Geraldo Marques destacou que o desenvolvimento que todos esperavam para o município seria possível agora, com a implantação do Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável – DLIS/PSDL. Disse, ainda, que Bonito se preparava, com muito cuidado, para esse desenvolvimento, realizando obras de infra-estrutura como rede de esgoto e construindo um aeroporto internacional. Segundo afirmou, tudo o que fosse estabelecido pelo Fórum de DLIS

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DADOS TURÍSTICOS - 1993 E 2001

como meta, seria ouvido e cumprido na íntegra.

Na feira se vendiam desde frutas, verduras e legumes até farinha de mandioca, queijo, mel, pão e doces caseiros. Tudo diretamente da roça. Seu Adão Jara Ayvi estava trabalhando com toda a família. Ele fazia garapa de cana e a esposa e os filhos vendiam pães e doces caseiros, e dizia que quase não estava dando conta da procura.

Além dos produtos do campo, a feira do produtor contava com uma praça de alimentação. Toda semana aconteciam apresentações com grupos culturais de música regional, danças, capoeira e outras atrações. A feira era realizada sempre aos sábados, a partir da 16 horas. Com a participação do Sebrae/MS e Prefeitura Municipal de Bonito foram capacitados, em quase uma década, 1.627 pessoas dentre empresários, guias de turismo e demais profissionais envolvidos na atividade. O resultado desse trabalho de desenvolvimento do capital humano e do capital social, que incluiu treinamentos e discussões sobre métodos para um turismo profissional, ocasionou um aumento de até 1.000% na oferta de serviços ao turista, como foi o caso do número de leitos da hotelaria, conforme tabela.

Especificação 1993 2001

Número de leitos da hotelaria 300 3.200

Número de U.H. – aptos. (em construção) ---- 430

Número de emprego diretos 180 2.500

Número de agências de turismo 6 25

Número de atrativos turísticos 3 32

Número de guias de turismo 30 121

Meios de hospedagens 6 67

Fonte: Conselho Municipal de Turismo de Bonito – COMTUR

Em Bonito, existiam, nesse momento, 32 atrativos turísticos e 25 agências de turismo que praticavam o mesmo preço, sendo a qualidade no atendimento o diferencial entre elas. A rede hoteleira era composta por aproximadamente 80 hotéis e pousadas dos mais diferentes níveis. Possuía restaurantes que ofereciam desde refeições rápidas até pratos à base de peixe e carne, inseridos na culinária regional.

Bonito encontrava-se em uma fase de expansão da rede hoteleira, inclusive com a vinda de grandes grupos nacionais e internacionais. O

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empreendimento do Grupo Odebrecht, um resort com 192 aparta-mentos, já estava em fase de construção e mais duas outras grandes empresas do ramo já sinalizavam investimentos semelhantes.

As opiniões dos empresários locais ainda divergiam sobre as conseqüências da entrada desses grandes grupos, como se verificou na conversa com os empresários e pioneiros do turismo local, Cláudio Carneiro e Eduardo Coelho.

Para Cláudio Carneiro, proprietário do atrativo turístico Rio Sucuri, localizado na Fazenda São Geraldo, a vinda desses novos empreendedores sanaria parte do problema com fluxo turístico que, em certas épocas do ano, decrescia consideravelmente. Para Eduardo Coelho, proprietário da Estância Mimosa, era o momento de uma maior integração entre os representantes de classe dos profissionais do turismo, comunidade e poder público, para a criação de regras à preservação do meio ambiente e, também, dos profissionais já instalados, em função de uma competição desequilibrada.

O próprio Secretário Interino de Turismo do município, Ivan Batiston, alertava:

“Isso aqui não é praia! Devemos prezar por um turismo de quali-dade e conservação e, por isso, analisar com muita cautela, com os diversos segmentos do turismo, todas as propostas de instalação de novos empreendimentos na região.”

Além da discussão sobre os crescentes investimentos, alguns elos da cadeia do turismo bonitense não eram, ainda, explorados, como a questão do artesanato e culinária local. Existia, também, o potencial do turismo histórico na região em torno de Bonito, como nos municípios de Guia Lopes da Laguna, Nioaque, Jardim e Bela Vista que foram palco da Guerra do Paraguai e já abrigaram colonizações espanholas e indígenas de grande porte.

Como resultado dos investimentos ainda crescentes na região, a renda gerada com a atividade turística foi de R$ 21 milhões para um município de 17 mil habitantes, somente no ano de 1999, com elevada consciência de conservação ambiental.

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Atrativo 1997 1998 1999 2000 2001 Abismo Anhumas --- --- --- 1.540 1.235 Aquário Natural 19.527 20.289 26.381 21.829 23.632 Balneário do Sol --- --- --- 878 3.429 Balneário Municipal 12.410 6.343 9.320 8.130 5.909 Bote Descida Rio Formoso 30.504 31.409 34.487 29.229 30.791 Bóia Cross 1.540 1.965 3.282 2.770 2.187 Bonito Aventura --- --- --- 3.308 3.692 Cachoeiras Aquidaban 2.033 1.435 1.381 1.720 2.021 Cachoeiras do Mimoso 3.245 1.671 517 2.024 897 Fazenda Ceita Cor --- --- 2.295 4.024 4.369 Gruta do Lago Azul 34.109 36.212 43.827 43.852 46.056 Gruta São Miguel --- --- --- 7.121 2.772 Mimosa Turismo Rural --- --- 2.332 3.779 8.325 Parque das Cachoeiras --- 5.966 8.546 5.457 5.849 Parque Monte Cristo --- --- 3.430 2.169 1.742

Projeto Vivo 541 907 2.088 2.210 972

Rio da Prata 7.830 3.631 1.057 Jardim 145

Rio do Peixe 12.434 13.009 15.349 11.645 11.275 Rio Sucuri 14.971 16.643 26.342 22.192 21.146

Outros 4.711 5.831 5.458 2.076 2.588

Total Geral 143.855 145.311 186.092 175.952 179.032 Fonte: Conselho Municipal de Turismo de Bonito – COMTUR

Apesar do constante aumento no número de turistas que visitavam Bonito, existia o problema da sazonalidade com a redução de turistas que era mais acentuada no mês de julho, em virtude do período de inverno. Com o objetivo de amenizar o problema, criou-se, em 2001, o Festival de Inverno, realizado na segunda quinzena de julho, tendo como foco atrair turistas do Estado, principalmente localizados na capital, maior e mais próximo centro emissor de turistas. Em 2002, aconteceu a 2ª edição do Festival.

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CONCLUSÃO

s parcerias e a persistência foram os instrumentos essenciais para a superação dos obstáculos que, certamente, aconteceram e poderiam acontecer. Ultrapassar os limites impostos pela dura realidade de nossos dias era o que se esperava de todas as pessoas, entidades e instituições que aceitaram o desafio de participar do desenvolvimento do turismo em Bonito/MS.

Prova disso, destacaria o Prêmio Superinteressante de Ecologia 2002 – categoria fauna, que o Parque Ecológico Baía Bonita e a Universidade para o Desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal – UNIDERP, ganharam pelo desenvolvimento do projeto “Turismo sustentável e conser-vação de natureza no Aquário Natural de Bonito”. Para disputar o prêmio, foram enviados 500 projetos de todo o Brasil à Editora Abril. O res-ponsável pelo projeto, o biólogo José Sabino, afirmava que o resultado indicaria a sustentabilidade da operação turística no rio Baía Bonita.

Eleito o melhor destino para ecoturismo no País pela revista de publicação nacional Viagem, o município de Bonito passou a ser cada vez mais procurado para visitações que deveriam aumentar ainda mais, a partir de fevereiro do ano seguinte, quando seria inaugurado o aeroporto da cidade. O Secretário de Meio Ambiente, Cultura e Turismo, Márcio Portocarrero, dizia que o primeiro reflexo da classificação de Bonito fora sentido na Feira de Turismo de Aventura promovida em São Paulo, onde, segundo ele, o estande de Mato Grosso do Sul foi o mais visitado.

As missões técnicas de outros estados eram consideradas como outro fator relevante da organização e profissionalização do turismo de Bonito. Normalmente, organizadas pelo Sebrae/MS e lideranças do município, missões técnicas de várias cidades do país já visitaram Bonito para conhecer a administração local em turismo. Desde 2000, foram dez missões dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal, Bahia, Paraná e Mato Grosso, compostas de empresários, guias, professores e acadêmicos do curso de turismo, representantes do poder público, de organizações não governamentais e sindicatos rurais, que proporcionaram o intercâmbio empresarial e a disseminação da forma de desenvolvimento do turismo praticado no município. Ao todo

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foram realizadas dez missões técnicas, com previsão de mais cinco que seriam realizadas até o final do ano de 2002.

As lideranças e a comunidade mostravam animadas com os resultados do desenvolvimento do turismo em Bonito. O desafio agora era receber mais pessoas, sem perder a qualidade no atendimento ao turista, e buscar a preservação dos atrativos e do meio ambiente.

Mas nem tudo foram flores – como se pode observar a seguir, extraída da tabela de freqüência de visitantes por atração, o passeio ao Rio da Prata teve redução significativa para Bonito, pois sua conta-bilização passou a ser realizada pelo Município de Jardim/MS. Isso aconteceu em função de estar o atrativo localizado nesse município, que, a partir de 2000, passou a explorar o referido atrativo e a controlar o seu fluxo de visitantes.

Atrativo 1997 1998 1999 2000 2001

Rio da Prata 7.830 3.631 1.057 Jardim 145

Fonte: Conselho Municipal de Turismo de Bonito – COMTUR

A leitura do caso “Ecoturismo em Bonito/MS” permitiu que fossem levantadas algumas questões:

• Quais seriam as medidas que poderiam ser tomadas pelos interessados na manutenção da média de visitação de Bonito durante o ano?

• Como se manteria a renda do pessoal ocupado na atividade turística na baixa temporada?

PONTOS PARA DISCUSSÃO

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• O que o município poderia fazer para receber mais turistas na alta temporada, preservando os atrativos turísticos?

• Que critérios estariam sendo utilizados para a exploração de novos atrativos turísticos?

• O estabelecimento de parcerias para inclusão de atividades turísticas localizadas em outros municípios da região seria, realmente, viável e uma das formas de receber mais visitantes?

Diretoria Executiva do Sebrae Mato Grosso do Sul (2002): Luiz de Alvarenga Moreira, Maura Catharina Gabínio e Souza e Mauro de Freitas Infante Vieira.

Agradecimentos:

Associação Bonitense de Agências de Ecoturismo – ABAETUR, Associação Bonitense de Hotelaria – ABH, Associação Comercial e Industrial de Bonito – ACIB, Associação dos Operadores de Bote de Bonito, Associação de Proprietários de Atrativos Turísticos de Bonito e Região – ATRATUR, Associação de Restaurantes, Bares e Similares de Bonito, Associação de Transportes de Bonito – ATB, Associação dos Guias de Turismo de Bonito – AGTB, Banco do Brasil, Câmara de Dirigentes Lojistas – CDL, Centro Nacional de Estudo, Conselho Municipal de Turismo de Bonito – COMTUR, EMBRATUR, Faculdade Estácio de Sá, Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, Prefeitura Municipal de Bonito, Proteção e Manejo de Cavernas do IBAMA – CECAV, Sebrae/MS, SENAC, Sindicato Rural de Bonito, Universidade Católica Dom Bosco – UCDB, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS.

Referências

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