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Chaui - Marx e a Democracia b

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tivos”” numanuma maquinamaquina auto-reguladaauto-regulada dada  produgao produgao ee aa taxataxa dede juros juros no

no Deus-ex-machina Deus-ex-machina dodo movimentomovimento dada  produgao produgao capitalistacapitalista Um

Um ““deusdeusmenor menor ”” concebidoconcebido para para regular regular umauma VmaquinaVmaquina desre- desre-gulada*'

gulada*' ee queque sese revelarevela impotenteimpotente anteante aa forgaforga destruidoradestruidora dede umum sistema

sistema emem expansaoexpansao esquizofrSnica.esquizofrSnica. OO lucrolucro comcom origemorigem nana mais- mais-valia

valia queque requer requer  aa ““unidadeunidade dasdas orbitasorbitas”” torna-setorna-se umauma ficgaoficgao porque porque o

o movimentomovimento realreal dodo capitalcapital asas separa.separa. OO jure jure comocomo prego do prego do capicapi- -tal

tal e-ae-a manifestagaomanifestagao dodo “fetiche“fetiche”” queque naonao pode pode medir-semedir-se nemnem regu- regu-lar-se

lar-se aa sisi mesmo.mesmo. OO realreal (do(do capitalismocapitalismo contemporSneo)contemporSneo) naonao ee racional,

racional, ee apenasapenas inteligivel,inteligivel, negandonegando aa suasua ““razaorazao”” teoricateorica ee his- his-torica.

torica. OO irracionalirracional emergeemerge ee fazfaz valer valer  outrooutro  poder. poder. OO  poder  poder dodo Estado.

Estado.  Nao Nao oo Estado-RazaoEstado-Razao dede Hegel,Hegel, masmas oo seuseu contrario:contrario: aa Razao

Razao dedeEstado.Estado.

23.

23. EmEm materiamateria dede modelosmodelos  formats formats prefiro prefiro osos queque tomamtomam aa ‘‘taxataxa dede

 juros

 juros”” comocomo  Deus-e Deus-ex-machx-machina,ina, ja ja queque  pelo pelo menosmenos saosao  passiveis passiveis dede umauma inter- inter- pretagao

 pretagao ironicaironica comocomo aa queque RicardoRicardo TolipanTolipan acabaacaba dede fazer fazer emem seuseu ensaioensaio

‘‘‘CapitalCapital C'TaxaC'Taxa dede JurosJuros emem SraffaSraffa””,, aa ser ser  publicado publicado emem PesquisaPesquisa ee Plane-

Plane- jamento

 jamento  Econdmico, Econdmico, margomargo dede 1979.1979.  Naturalmente Naturalmente queque emem mat6riamat6ria dede ‘‘‘‘eco-

eco-nomia

nomia poli'tica poli'tica””  prefiro prefiro Schumpeter,Schumpeter, KeynesKeynes ee KaleckiKalecki queque nuncanunca tomaramtomaram aa taxataxa dede  juros juros comocomo centracentra dede andlise mas,andlise mas, pelo pelo contrario,contrario, aa submeteramsubmeteram && determinagao

determinagao dede movimentomovimento dodo capitalcapital nana concorrSneiaconcorrSneia intercapitalista.intercapitalista.

MARX

MARX

 E

 E

 A

 A

 DEMOCRACIA

 DEMOCRACIA

(O

(O

 JOVEM 

 JOVEM 

 MARX  MARX   LEIT LEITOROR

 DE 

 DE 

 ESPINOSA)

 ESPINOSA)

M

Ma r i l e n aa r i l e n a CCh a u ih a u i**

11

    f\

    f\ RELAgAORELAgAO DODO PENSAMENTOPENSAMENTO dede MarxMarx comcom aa democraciademocracia 66 con-

con-tro^rtido,

tro^rtido, comocomo atestamatestam asas divergencias entredivergencias entreosos interpretesinterpretesdada obraobra marxiana

marxiana nessenesse assunto.assunto. ParaPara alguns,alguns, MarxMarx abandonaabandona aa perspectiva perspectiva democratica

democratica aa partir  partir dodo momentomomento emem queque abandonaabandona asas questSesquestSes  po-  po-li'ticas

li'ticas pelas pelas sociais,sociais, dede sortesorte queque aa democracia,democracia, nana qualidadequalidadedede abs- abs-tragao

tragao  poHtica, poHtica, cedecede lugar lugar aoao tematema ee aa pratica pratica dodo comunismocomunismo revo- revo-luciondrio;

luciondrio; para para outros,outros, oo mesmomesmo abandon©abandon© devedeve ocorrer ocorrer  aa  partir  partir  do

do momentomomento emem queque MarxMarx  passa passa dada filosofiafilosofia  para para aa crfticacrftica dada eco- eco-nomia

nomia  politjca politjca ee  particularmente particularmente quandoquando descobredescobre oo segredosegredo dada so- so-ciedade

ciedade civilcivil (burguesa),(burguesa), istoisto e,e, oo modomodo dede  produgao produgao capitalista.capitalista. Alguns

Alguns consideramconsideram naonaohaver haver  propriamente propriamente abandonoabandono dasdas  preocupa-  preocupa-goes

goes democrdticas,democrdticas, masmas transigaotransigao delas,delas, enquantoenquanto exclusivamenteexclusivamente  politicas,

 politicas, para para asas comunistas,comunistas, enquantoenquanto concregaoconcregao socialsocial queque subor- subor-dina

dina aa esferaesfera politica politica comocomo umum dede seusseus momentos'momentos' particulare particulares.s. En- En-fim,

fim,  para para outros,outros, haha continuidadecontinuidade entreentre asas tesesteses democr^ticasdemocr^ticas dodo

** ProfessoraProfessora dede HistoriaHistoria dada FilosofiaFilosofia ee FilosofiaFilosofia PoliticaPolitica dada FaculdadeFaculdade de

(2)

 jpvem,Mai* e as comunistas do velho Marx, pa inedida em que  b ,

inetrca decisivadas primeiras, pelo metios desde aCritica da  Filoso- jia do Dirfdfo de  Hegel, e a critioa de duas abstra^oes gdmeas — o estado 'soci^ade civil — em nome da socializag&o da pblltica. Mudari^m os sujeitos da democracia —  no  joyeiri Marx da Cntida, o “ povd  rbal”, no Marx do  Manifesto, o  profetariado como classe i^iversal revolu^on^a — ) nao mudaria a finalidade —  ultra-*  passw o formafismo.juridico da democracia  burp;pesa  pelo

materia-|i^o

social da'democracia comunista^.

A -hipdtese 'de continuidade 6  tentadora pelb mcnos por  dois Piotivos. Em  primeiro lugar,  porque se considerarmos comosintese ■'das pieodupa^des do  jovemMarxna Critica da Filosofia do Direito  de Hegel e na QuestSo  Judaica, a concepgao apresentada na Tese  nP10 Contra Feuerbach — “O ponto de vistadomaterialismoantigo

'•e asociedadecivil, pdo materidismo modemo, a sociedade humana

ou humanidade social” — , entao,a id6ia desenvolvida na maturidade sobre o tcino da liberdade e da igualdade concretas como advento da  histdria  humana, isto

6,

depois que o sujeito “o capital” e seus  predicados ‘*ocapitalista” e “o oper^io” tiverem 'desenvoMdo todos os seus pressupostos para que em seu lugar suija o yerdadeiro su;  jeitb, o homem social, por  mais que iniplique uma reviravblta coippleta face ao comunismb tiumanista da  juveii tude guarda urn  jjonto que ]ieranuclear neste Tiltimo, qual seja, o do homemcomo

1. Cf. Maximilien Rubel —  Marx critique du  Marxisme, Paris, Payot, 1974; Michel Lowy —  La Tkiorie de la  Rivoluthn chet.le  feune  Marx,Paris, M^spero, 1970; Shlomo Avineri, — The Social and  Political Thought of  Karl Mari, Cambridge, The University Press, 1968; Jean Hyppolite —  Etudes^sur   Marx et  Hegel, Paris, MarcelRiviSrc et Cie., 1965;'G. Mende — Karl Marx  Erifwicklung von  Revolutionaren .Demokraten  zum Komuniste, Berlim, Dietz yeriag, 1960; piaude Lefort  —  As Formas da  Histdria, SSo Paulo,. Editora Brasiliense, 1981; Claude Lefort — ^Invention  Dimocratique, Paris, Fayard, .^1980; Herbeit Marcuse —  Reason arid   Revolution-Hegel and  the  Rise df 

Social-Theory,  Boston, BeaconPress, 1960; Bert Andreas  —  Marx,  Engles et  .la gauche hegelienne, Milao, Giaccomo'Feltrinelli, 1964.

2. Stobre as,abstrafSes  —  o homem a liberdade, a igualdade, a.prpprie- — do modo de  produ$ao capitalista, suareflexSo, nega$ao da negagSo e  passagemao reino da liberdade — o comunismo como histdria e como. humanismo real, vcja-se Rny Faiisto -r  Dialitica marxista, antropologismo e antiantropologismo, in Revista- Discurso, n.° 8, SSo Paulo, 1978.

258

agente-padente de^sua  prbpria histdria e,  portantp, da exjstfincia social e da pr^tica politi ca. Em outras  palavras, a afinnagao da CHtica da  Filosofia do  Direito  de  Hegel, segundo a qual “6 o povo quern cria a.-lejc nao a lei que cria-o povo”, a,do Terceiro Manus^

 crito  Ec,ondrrdco-Filosdfico de 1844, segundo a qual *umscr  s6 se considera autbnomo quando d ^nhor  si mesmoe  s6  6 senhor  d^ siquando deve a->imesmo -seumodo de existincia**®, e aafirma^So do fragmento (Ja se^ao VII do livro III de O Capital, segundo.a qual “naverdade, o reino da liberdade comegasomente a  partir do mometito em que cessa b trabalho ditado pela necessi,dade e  ps fins exteraos; situa-s.e, portanto,,  por  sua'prbpria natureza, para al6m da esfera material  propriamente dita (-..)■  Nesse dommio, a liber-daite s6 pode consistir  no seguinte; os produ tor'es as^ciados o homem socializado.regulam de maneira racional suas trocas or-g&nicas com a-natureza e as submet^ ao seu contrple comum, em lug^ de serem dominados  pela  pot^cia'‘cega dessas -trocas

(...).

Mas o imp6rio da hecessidade nao deixa-de subsistir. fi  para alem que comega o des^brochar da  potfinc ia humana que e seu. prbprib fim, o verdadeiro reino da liberdade ^ Isao afiimagoes cuio’g  pressupostos sao diferentes e cuio d^envolvimento conceitu^ e tam- b^m diferente, mas que possuem Ta mesma finalidade: a autonomia oq  auto-emancipagao pela critica e supressao  prdtica da .heterono-niia (teglogia, alienagao, propriedade  privada e dinheiro, nq  jovem Mar^; modo de prbdugao capitalista, fetichismo da mercadoria, luta de classes, no velhoMarx)..

Em segundo lugar,, a continuidade 6  tentadora porque, em 1869, o Programa de  Eisenach (dos marxistas no  partido sOcial-deniocrata alemao)' e, em 1875, B.CrUicaido.PTograma de Gotha recolocam a democracia em discussao e neles 6  possive l perceber .a presenga dos temas da Questdo  Judaica. particulannente  .Critica'do Programa

 deGotha.

O item 4 do  Programa de  Eisenach declara: “A liberdade  po-litica e a condigao mais indispensAvel da.emancifiagao econbimca

3 Murx __  Manuscritos  Economicos-Filos'dficos, Terceiro  Manuscrito —  saoPaulo, Abril Cultural, 1974, p. 20. Tradu^ao Ios6 CarlosBruni.

4. Marx  —  Le Capital, in Oeuvres de Karl  Marx. Economxe, vol. 11, fragmcnto “Enmani^re de conclusiori",Paris. Pldiade, 1968,  p. 1486.

(3)

das classes trabalhadoras. A questao social i, pois, insepar^vel da questao politica, a solu9ao da  primeira esti ligada a da segunda e nao e  possivel senao num Estado democritico” Comparado a Critica  da  Filosofia  do  Direito  de  Hegel e a Questao  Judaica, evi-dentemente o  Programa de Eisenach apresenta duas grandes

dife-ren?as:  por um lado, seu sujeito riao e o povo da CFDH nem o homem generico da QJ,mas os trabalhadores, c estes nao aparecem, como na  Introdugdo a CFDH, recebendo passivamente a teoria libe-radora, mas como autores de sua  prdpria emancipafao; por outro lado, e, sobretudo, no PE a emancipa9ao  politicanao 6 a finalidade, como na CFDH, neme descartada como ilusoria, como na QJ, mas e  posta como condigao  para a emancipa9ao economica. Sem du-vida, numa  perspectiva marxista, o que e  posto como condigao ope ra como pressuposto e o desenvolvimento histdrico e supressao do  pressupostb, gramas h. sua reflexSo.  Nesse sentido, o lugar  ocupado  pela democracia na CFDH e no PE e semelhante,  pois o segundo, tendo comohorizonte um alem do Estado democratico,  posto apenas como condigao  politica da emancipa^ao economica e social, reen-contra a tese da primeira, isto e, a supressao do Estado politico  pela democracia.

£, todavia, na Critica do  Programa de Gotha que a situa^ao da democracia melhor  se oferece. Em  primeiro lugar, alem da cri tica ao lassallismo do PG, Marx o critica de tal modo que a critica alcanna tambdm o PE, pois o considera a expressao “questao social” umeufemisnio burgu^s paraa luta de classes e analisa os itensdo

 PG

considerando-os “ladainhas democraticas” no melhor estilo dos  par-tidos  populates burgueses Csufrdgio universal, direito do povo, mill-cias  populates, legislagao direta, instrugao dada pelo Estado), e que eram exatamente as reivindicagoes de 1869 (cablveis apenas num  pals como a Alemanha, em atraso face aos demais  palses capitalis-tas). Porem, os  pontosmais altos daCritica do Programa deGotha

sao as discussoes sobre a natureza do direito (I, 3) e do democra-tismo (III e IV).

A critica  k concepgao  burguesa do direito, mantida  pelo  PG, ultrapassa a que fora feita na QJ.  Nesta, a divisao entre o

“ho-5. Programe des marxistes,  Eisenach 1869i in Marx, Engels  — Critique des Programes de Gotha et   Erfurt, Paris, Editions Sociales, 1972,  p. 145.

mem” e o “cidadao”sob a figura do burguis (isto6, da  pessoa como  proprietdrio egolsta e da sociedade como  civil,  aglomerado  mond-dico), comandava a analise, marcando, como na CFDH, o vinculo necess^io entre direito e  propriedade  privada. Em contrapartida, na Critica do PG, e ovinculo entre direito e trabalho quee discutido,

Marx afirmando que tomar  o direito do  ponto de vista determinado do trabalhador e uma abstra§ao que recai no direito burguis. Em outras  palavras, uma emancipagao social e politica'que tome o tra  balhador enquanto trabalhador  (do modo de  produgao capitalista,  proletdrio) conserva a  divisao  burguesa constitutiva da sociedade  civil: “o  direito igual e, pois, aqui, em seu  princlpio, o direito  bur  guis'' e, pior ainda, nasua forma anacronica,  pois 6 tornado a partir 

do trabalho como medida, quando o modo de  produgao capitalista fez da mercadoria o criterio da medida. Os aspqctos mais inte-ressantes da critica de Marx estao na retomada da questao politica cldssica da igualdade como devendo ser  posta por  um metron social ou  pela medida  dos equivalentes, sendo o direito a igualizagao dos desiguais  por meio de uma nova desigualdade,  por6m justa, mas que para se-lo exige aquilo que o Programa d^ Gotha nao  percebe, isto 6, que o trabalho tenha mudado inteiramente de forma, de conteudo e de sentido para conv ter-se em medida de justiga numa  palavra, o que propoe o fragmento da segao VII do livro lH de O Capital. Assim, um elemento decisive das discussoes demoerd-ticas, desde a antiguidade, — a liberdade  politica como medida da igualdade dos cidadaos — e retomado por Marx sob a perspectiva social do comunismp, isto 6, a emancipagao do trabalho €  condigao e nao finalidade do reino da liberdade (o que toma radical sua cri tica a Lasalle, como na juventude fora radical a critica ao

comunis-mo grosseiro).

A critica ao democratismo do  PG nao se limita a mostrar  que as reivindicagoes estacionam nos limites burgueses do “estado demo cratico” e do que “6 permitido  pela  pollcia e  proibido  pela Idgica” mas atinge o cerne do problema porque critica a concepgao de “li  berdade”  presente no  Programa. Com efeito, este invoca o “livre

6. Marx, Engels —  Critique du Programe du Gotha, in Marx Engels — Critique des Programes de Gotha et  Erfurt, op. cit.,  p. 45.

(4)

fundamento do Estado”-e Marx cpmenta essa expressao mostrando

que ela reafirma a ideologia burguesa-do Estado como organismo separado da- spcied^de civil e a ideologia alema do Estado tutelar e demitirgico,  pois o Programa reivindica o que J»iarx considera-uma atrocidade extremamente prejudicial  prdxis proletdri^: a educa^ao •pelo Estado e as cooperativas de trabalhadores sustentadas pelo Es tado. *0 PG 6  incapaz de  perceber  que a liberdade consiste em tfansformar o Estado,'organismo-posto acima da sociedade, em Um organismo inteiramente subordinado a ela (...), emlugar de.^atar  a sociedade presente (e isto vale para toda sociedade futura) como  jundaniehto do Estado presente (ou futuro  para a sociedadefutura), tf ’Programa tlaia o Estado como redidade independente possuindo seus pfdpribs  fundamento^ iht'electuais,  morais e livre^

A

con-clusap d^Criticti do PGserd  a afirma§ao-da necessidadede umafase de  trarisigdo ha qual sd instala a ditadura revoluciondria do  proleta-■riado, encarregada de subordinar  o' Estado as necessidades socials, no‘momentd  em que o novo ainda est^ emergindp dos escpinbros dov'Velhp. Essa cbnclusao, que marca a distincia definitiva enti^ o  jovem e, o yelhb Marx, no entanto,  prpvdm de uma andlise'que‘

fo'fa efetuada com todos os detalhes na CFDH, isto 6, a dndlise da inversao Wistica-mistificadora Ppferada. por Hegel, que atribuira ao Estado “fun^mehtos intelectUais, morais e livres”' (restando saber  o queMarx'pensaria dds'atuais regimes socialistas,...)  Na CFDH_,, a fesposta de MarX  k-transcenddiicia ou univers^idade abstrata do ^Estado era adeinocracia.  Na Critica

 do

 PG, a crftica do democra-tisqio reencontra, por  outras vias, o  problema anterior que^ demo-cracia'enfrentava no texto de  juventude, isto €, tendo demonstrado a.ficcao da uniyersalidade  poUtica tentada por Hegel, mostrando os  particplarismos que defini^ cada um dos “m.ediadores” hegelianos (mona^a,  burocracia, aristocrada fundiaria, coipora9oes), o jovem^

Mani wnbima qiie o “o Estado constitucional €  o Estado^da  pro-'

 priedade  privada’, mas sua definipao da democracia como verdade

da relagao entre sociedade e.polftica retomava apenas  pelo angulo da autocqnsciencia a questao  posta  pelo Estado constitucional, cri-tkado agora no democratismo de Gotha,  k luz da luta de classes.

7. Idem, ibidem,  p. 43. 262

Em resumo, a tenta^ao de estabelecer uma continuidade entre o humanismo democrdtico e comunismo humanista  juvenis

eoco-munismo revoluciondno da matimdade ^dv6m das duas descobertas  principals,do'jovem Mar^ no-campo da, polftica: a da determinapao;

spcial do  poder (que,o levava a declarar  a democracia’ “o enijhia..

resolvido de todas as constituipoes) e a da polftica .como .esfera  particular  da vida social genbrica (que o levava.a declarar o co

munismo “o enigma resolvido da histdria que se .conhece como. essa solupSp”).

Sem"^dlavida; sao  ponderdveis os argumentos sobre a r-yptura na obra de Marx —  seja a ruptura polftica-no contato com os movi-mentos  proletdrios, a partir de,1844, seja a ruptura tedrica.com a descoberta do modo de  produoao capitalista, seja a  passagem do  papel iiberador ’ da iilosofia  para o da  praxis revoluciondria --r- e

seria ingenuo considerar  que 6 simples fato Critica  da. Filosofia

 do

 Direito

 de

 Hegel 

discutir a necessidade da democraciacomo po-‘ Iftica transformada em atividade social e da.Questdo  Judaica di^ cutir  a auto-emancipa^ao do homem gendrico^pela passagem da sociedade civil k condigao.de sociedade.seria suficiente para desfa-zer a enorme disttocia que separa as primeirasidbfas de,Marx das liltimas. Essa discussao, que nao € nosso-intentd  reali^ar  aqui,  po-deria, entretanto, coriduzir  a certos temas inesperadoS) freqiiente-mente negligenciados  pelbs exegetas do marxismo. A.'tftulo de exeniplo, mencionaremos apenas um texto que ainda nao vimos su-ficientemente comentado  pelos intbrpretes.

Sabemos queMarx_ criticard, a partiV do 1844,'as vdrias moda-lidades de comunismo existentes nos movimentos pperdrios: o' co munismo grosseiro (baseado na inveja e no desejo de le^essao ap “homem  pobre”, ampliando a categoria de opefdno  para todos', em lugar de suprimi-la, uma “forma fenom6nica. da infdmia da  pfoprie-dade  privada, que se quer  instaurar  como'coletividade posidva”, diz 6 Terceirb  Manifesto  Ecofidniicd-Filosdfico) , o comunismo de natu-reza'^polftica, democrd^ca ou despdtica (que  pretende superar  o Es-' tado,. mas ainda  preso  k aliena^ao da  propriedade privada, nao ten do ainda compreendido a natureza humhna do carOcimehto, apreen-dendo seu conceito, mas nao sua essSncia), o comunismo filosdfico (suficiente para abolir a idSiq da  propriedade  privada, mds nap sua realidade) e o comunismo utdpico (que b nostilgico-e nao procura

(5)

a superagao da  propriedade  privada a partir  de suas contradi^oes  presentes). Essas criticas operam a  partir  das analises sobre a alie-na?ao, a essSncia da  propriedade  privada, do dinheiro e de seus re-sultados, a sociedade civil ou  burguesa, assim como sobre a  passa-gem da abstragao alienadora  —  “a sociedade” —  para a ess6ncia humana concreta — o homem como ser e vida socials  — , de sorte que o comunismo e “superagao  positiva da  propriedade^ privada en-quanto auto-alienagao do homem, e  por isso apropriagao efetiva da

essencia humana atraves do homeme para ele;retomo acabado, cons-cientee que veio a ser  no interior  de toda a riqueza do desenvolvi-mento at6 o presente. Este comunismo 6, como acabado, natura-lismo= humanismo, como acabado humanismo = naturalismo; 6  a verdadeira sOlugao do antagonismo entre o homem e a natureza, entre o homem e o homem, a resolugao definitiva do conflito entre essdncia e exist^ncia, entre objetivagao e auto-afirmagao, entre ne-cessidade e liberdade, entre individuo e gSnero”  Numa  palavra, enquanto acabado, isto e,  desenvolvido, o comunismo 6 reconcilia-gao entre o ind;viduo e o ser  generico (Gattungswesen) e entre os  proprios individuos como seres comunitarios (Gemeinwesen), gra-gas a realizagao da essencia social do homem que, agora, se sabe  produtor e produzido  pela Vida social.

Ora, o surpreendente e raramente analisado  pelos comentado-res e que o comunismo assim apresentado  pelo  jovem Marx nao e ainda o reino da liberdade. fi uma etapa ate ele. “O comunismo e a  posigao como negagao da negagao e,  pois, o momento da eman-cipagao e recuperagao humanas, momento ejetivo e necessdrio  para o movimento histdrico seguinte. O  comunismo 6  a configuragao necess^ria e o principio energetico do futuro  prdximo, mas o comu nismo nao d, como tal, o objetivo do desenvolvimento humano, a configuragao da sociedade humana”®.

Sem duvida,  pode-se argumentar  que esse texto  pertence ainda a fase ,do humanismo filosdfico, que Marx ainda nao elaborou o ^conceito de  praxis revolucionaria e nem, muito menos, o de modo de  produgao capitalista. Que sua analise estando ainda  presa & da

8. Marx  —  Manuscritos.. op. cit.,  p. 14.

9. Idem, ibidem, p. 22.

alienagao, .a da  propriedade  privada edo dinheiro, ^ id6ia de eman-cipagao do genero humano  pela parte “sofredora” desse genero (o  proletariado como  base material  passiva que recebe a consciSncia vinda de fora, trazida  pela atividade espiritual ou  pela teoria), o conceito de comunismo ainda nao poderia ser claramente compreen-dido como resultado do desenvolvimento e da supressao do capita-lismo, permanecendo apenas como negagao da negagao e ainda nao sendo  plena afirmagao de uma nova ordem.

 No entanto, quando levamos em conta a critica do economi-cismo  presente na concepgao do direito no  Programa  de Gotha e sobretudo o-fragmento da secgao VII do livro III de O

Capital  po-demos indagar se essestextos, al6m de serem aresposta  para os  pro- blemas da superagao do homem abstrato como  zoon  politikon {CFDH, QJ) e como  animal  laborans (Manuscritos de 44), nao

reafirmariam o texto  paradoxal do Terceiro  Manuscrito. Afinal, a segao VII declara que o reino da liberdade comega  depots que os produtores associados regularam as trocas sem fetichismo e sem alienagao, isto e, sem heteronomia.

Ou, se se quiser, depois que se cumpre a  reflexdo  capitalista, fazendo o homem atravessar a negagao de si (na existSncia parti cular  contr^ria a si; burgues, operdrio)  porque ele 6  apenas  pres-suposto  pelo modo de  produgao capitalista que o faz  passar  nos seus contrdrios determinados (nao homem, nao cidadao, nao livre, nao igual, nao pensante ), a revolugao comunista o faria negar essa negagao e o comunismo seria, agora, o pressuposto para que o ho

mem, como essincia humana, seja  posto com determinagoes  positi-vas, e  portanto, como livre, igual, pensante, cidadao etc.  Neste caso, ainda que nao fosse possfvel retomar  a tese juvenil do comu nismo como etapa para o reino da liberdade e da igualdade,  por-quanto, agora, ele seria o  pressuposto delas, no entanto, o que se  poderia retomar 6 uma outra tese da  juventude, qual seja: assim como no modo de  produgao capitalista a sociedade 6 sociedade civil  (portanto,  burguesa ou nao sociedade) e a democracia4 estado de-mocrdtico (portanto,  juridico-formal, nao democracia), no comu-nisnio a sociedade seria social e a democracia, democrdtica, os  pre-dicados e os sujeitos finalmente identificados numa realizagao his-tdrica concreta da liberdade e da igualdade humanas que o  jovem

(6)

Marx  buscarae que o fizera considerar  o comiinismo a mediagao e nao o'fim.

Por6]ji, mais sigi^cativas. para essa discus'sSo  politica seriaim as andlises da revotu9ao’'de 1-848'e Sbbfetudo da Conmna de Paris. A primeifa, como limiteda rfepdbUca  biurguesa ou como verdade do Estado doristitucional^enquajltd  “maquifia de guerr^ do capital con tra'd.trabalho”,-levando ks ultimas conseqiiSricias, na pi^ica, aquilo que, na teoria, a CFDH  expusera. A segunda, c6mo “^assalto ao c^u” que, no entanto,-trouxe .uma altera^ao profunda ,ap

isto 6, a certeza de que nao  basta tomar o Estado burguSs consti-tjifdd, mas 6. preciso destrui-lo como “condigao  primeira de toda revoluglo gopidar real”.

A .Comuria, criagao de uma republica que nao visava apenas a abolir'^ a fonna m'ondrquica da dominagao de classe, mas a  pf6- pria dominagao de classe, comegahdo  pela aboligao desse imenso drgao  parasita e^ repressive — o Estado centtalizado,  burocratico e militarizado — se realiza como revolugao  politica e ibstauragao demoerdtjea. As’^crfticas de Marx ao fomaUsmo do estado demo-cratico. enconltam-se efetixadas  pela  prdtica^ dos..“communards”: su- pres^p do ;ex4rcitb  permanente, supressao do  parlamentarisipo  pelo estabelecimento da elegibilidade, do mandate imperative e revog^vel dos repfesentantes e, Sbbretudo, desti^gao da “republique  pr^tre”,

istp a, da .burocracia, pela ^eigao"dos administi’adores e por seu saiarjo,no nlwl do “salarip operario”. A Comima, na interpreta-gao deMara, des.trdi a democracia burg u^a pela instauragao da de-mobrgeia tout  court,isto a, tal como a definita a CFDH,  poder real :do,povo red que faz e executa a lei.

Mais do que isso. Se nos lembrarmosde quena CFDH  Mara criticava a jmpossibilidade de Hegel para resolver ’o  probleina da

representagao  politica (representagao inexistente na CImara Alta, “medieval”, encamagao de si'niesma;-representagao invi^vel.^para a Gamara Baixa, ‘’modema, porque a mobilidade, a  particularidade

dos’interesses e o nlimero impossibilitam k “classe formal” represen

tor tpdo o  povo e a simesma), a Comima 6 a respostademocrdtica (prol^tOija popular) a, essa impossibilidade  burguesa, na medida em que “nao era um orgaijismo  parlamentar, mas o corpo ativo, executivo.e legislative ao mesmb tempo”. Govemo dos homens e

266

administragao das coisas; a Comuna^ e a “forma  politica enfim en-contrada”  pela revolugao  pfoletOria. Se a democracia €  o “enigma resolvido de todas as constituigoes”, a.Comuna e o enigma resolvido da  prbpria democracia’ o Gemeinwesen'que revolugao  burguesa

al-guma f*oderia realizar. Como supressao do Estado, a Comuna efe-tiva uma-forma social da  politicana qual esta illtima ociipa o lugar que Mara Ihe atribuira: esfera  particular  da atividade social ge-n^rica.

 Nao 6 nosso intuito discutir  a diferenga entire as id6ias da  ju-ventude e da maturidade de Marx.  Nossa  preocupagao,  bastante limitada, estarO voltada apenas para alguns aspectos do 'conceito de democracia na Critica  da  Filosofia do Direito de Hegel e, mesmo aqui, nossa an^ise tamb6m seri limitada,  buscando apenas acompa-nhar a presenga de algumas iddias de Espinosa nessa elaborqgao. do  jbvem Mara.

n

Entire os marxistas, costuma-se invocar  Espinosa contra Hegel quando se  pretende encontrar  um  predecessor  ilustre para o  pensa-mento de Mara, seja  porque o espinosismo funcionaria como um antidotb contra  b misticismo dialetico, seja  porque a defesa da de mocracia por Espinosa iluminaria, a critica de Mmit kfilosofia politica he^liana^^. Embora essa segunda hipbtese nao seja descabida,

10. Essa hipdtese 6  levantada por .Maximilien Rubel, op. cit. “Marx

encontrou em Espinosa o que havia verdadeiramente. pedido a Hegel, ou ao Rousseau do Contrat Social:.a possibilidade para o individuo de reconciliar' a existencia social e o direito natural, possibilidade que-a carta dos direitos do homem e do cidadao nao concedia senao em virtude de uma fic^ao  juridica. O Traiado de Espinosa 6, a esse respeito, inequivoco: “A democracia nasce da uniao de homens gozando, enquanto sociedade organizada, deum direito soberano sobre tudo o que estd  em seu-poder”.”  p. 173. Quanto ao‘espino sismo de 'Marx, Althusser  foi, depois de *Plekhanbv, quern levoU mais ,longe a identificagao (cf. Pour   Marx e Lire le ^Capital), embora acabasse numa  Autocritica a esse respeito. Althusser  interessou-se  particularmente  pela con-cepgao espinosanada verdade como index sui et   falsi (o que, na realidade, nao 6 anti-hegeliano,  pois Hegel desenvolve- essa concepgSo espinosana),  pe)a

(7)

cremos que a  busca de uma tradi^ao de  pensamento nao-hegeliana  para a obra de Marx  pode ter  como conseqU^ncia a anulaqao do  papel decisive da dial6tica de e em^arx podendo levar, por 

cxem- plo, a abandonar a contradigao  pela oposi?ao real ^antiana (como em Colletti) ou  pela “causalidade estrutural’' supostamente espino-sana (como em Althusser). A16m disso, tal procedimento arri^a-se a neutralizar o trabalho do pensamentode Marx conquistandoseu campo  proprio de expressao, substituindo-o por  um mosaico mec^-nico de “influfincias” variadas.

 pelo menos duas objepoes de vulto ^ tentativa de encontrar  iddias espinosanasna obra de Marx  — ainda que do  jovem Marx, na dpoca em querealizava a critica filosdfica da religiao e da  politi-ca e em que passava gradativamente, no conlato com os movimen-tos oper^rios, do humanismo democrStico para um comunismo filo-sdfico e deste para o comunismo propriamente dito.

A primeira objegao, mais imediata, 6 a de que o espinosismo 6 

uma filosofia da afirma^ao absoluta, recusando qualquer  estatuto ontoldgicoe epistemologico k negagao —  coisa que Marx nao igno-rava,  pois era o leitmotiv da critica hegeliana a Espinosa e porque conhecia acarta 21 de Espinosa aBlyenbergh, dedicada k critica da

causalidade eficiente imanente, por ele chamada de “causalidade estrutural” e que teria a vantagem de eliminar  o expressionismo da totalidade hegeliana (embora o termo “estrutural" nSo seja muito adequado para a imanfencia espinosana)> e  pelo fato de a filosofia de Espinosa nao scr  uma filosofia da subjetividade ou do sujeito (o que 6 verdade, mas Althusser  nao considerou as peculiaridades da antropologiaespinosana, o queIhe teria  permitido,se n§o estivesse tao empenhado em negar  o humanismo de Marx, perceber  que a essSneia humana, em Espinosa, encontra seu  ponto real de concresao apenas no final da £iica, depois da dedugao das paixdes eda razSocomo abstragoes, 0 homem estando localizado, exatamente como em Marx, ap6s a  passagem  pela servidSo). De qualquer modo, 6 grande a tentagao de comparar Espi

-nosa e Marx: os  prefScios do TTP e do livro IV da £tica, bem como o ApSndice do livrolea Ideologia  Alemd; as cartas a Albert Burgh e a Luis Meijer  assim como os capitulos XTV, XV, XVI do TTP e a Introdugao d  Critica da Filosofia do  Direito de  Hegel;os livrosI eV da Fiicae os textos esparsos de Marx sobre a liberdade e a necessidade; o capitulo X do Tratado Politico t as andlises sobre o 18   Brumdrio e a Comuna de Paris etc. Mas uma comparagao, como diz Espinosa, i um conhecimento inadequado,

imagi-nativo e abstrato que apanha semelhangas e diferengas imediatas, sem alcan-gar a essSneiada coisa.

negagao como realidade em si ou para o  pensamento  Nao ha-vendo negagao, nao dial6tica emEspinosa — nele, como dissera Hegel, o positivo€ intrinsecamente indestrutlvel, a contradi^ao i

con-siderada imposslvel e a substEncia ainda nao 6 s\ijeito, desconhe-cendo a reflexao e o desenvolvimento.  No limiar entre a Idgica do ser  e a da essencia,  prisioneiro do entendimento abstrato, o espinosismoi inerte.

 Nao cabe aqui examinarmos a corregao ou incorregSo das inter- pretagoes hegelianas,, embora  possamos,  brevemente,. lembrar  que Espinosa nao recusa a negagao e a contradigao, mas^as pensa como agao reclproca de contr^rios' cuja forga 6 desigual> acarretando a destruigao de um dos termos, al6m de considerd-las um aconteci-mento vindo do exterior  e nao prOduzido pela  prdpria essSneia sin -gular, ou. melhor, como aquilo que adv6m a,essencia e que ela nao

 pode tolerar  Queremos, por6m, observar  que nao sendo nossa intengaotransformar Marx num espinosano, a objegao nao.impede a -presengade algumasid6ias espinosanas na elaboragaoda critica poll-tica feita pelo  jovem Marx. Pelo contrdrio, num pensador que esta-va, na ocasiao, interessadoem apanhar  o lastro teoldgico do  poder 

11. Essa carta foi transcrita  por  Marx num caderno de notas de 1841, sobre o qual falaremos adiante. O trecho sobre a negagao€  o seguinte: "A

 privagao nao consiste no ato de  privar, mas pura e simplesmente numa ca-rSneia (simpUcem et meram carentiam), que nada 6  em si mesma; nao se trata senao de um ser de razao (ensrationis), de um modode  pensar (modus edgitandi) que formamos quando comparamos as coisas umas com as outras. Dizemos, por 'exemplo, que um cego €  um homem  privado da visa© porque

o imaginamos sem esforgo vidente por  comparagao com outros homens que v8em ou como tempo passado,quando via (...),Mas, se em troca, tomamos sua essSneia atual, a visao nao Ihe pertence como nao  pertence &.pedra e

seria contraditdrio que Ihe  pertencesse como h. pedra (...) neste caso nao hi a nSo-visao deste homem, como hao hd a nSo-visSo da  pedra e 6  precise

falar. aqui em negagao pura e simples (mera est negatio) (...) Em suma, hd  privagao quando o que cremos pertencer  k  natureza de uma coisa & ne-gado dessa coisa e negagao quando 6 negado deuma coisa o que nSo  per tence k  sua natureza”. B. de S. Opera quotquot  reperta sunt, Haia, Van

Vloten e Land, Martinus Nijhoff, 1923, T. Ill,  pp. 87, 88.

12. A esse respeito tomoa liberdadedeenviar  o leitor  a MarilenaChaui  —   Maumdtica,  Experiincia e Politica, in Almanaque, revista de literatdra e ensaios, n.° 9, Sao Paulo; e  A -Nervura do ReaUEspinosa e a questdo da  Liberdade, tese de livre-docencia, mimeo., USP 1976, cap. Ill, T. II.

(8)

 politico e em defender uma  perspectiva democratica, a companhia dasid6ias espinosanasnao $ impossivel.

A segunda objegao, mais especifica, 6 a de que a filosofia.poU-ticaespinosana 4 jusnaturaliSta e, pdrtantp, alvo das criticas deHegel e Maix ao jusnafuralismo. Alem disso, Espinosa concebe o direito de marieira  bastante djferente da de Hobbes,  pois julga nao haver  ruptura entre direito natural e direito ,civil, aquele considerado uma

abstragad tedrica enquanto pensado ^m a sociedade e a politica, e o dltimo  pensado ‘como-forma sdcio-politica do  primeiro. Assim,

tanto face a 'Hegel e Marx como face a Ifdbbes, Espinosa^parece  pennanecer  aqu4m da moderhidade, .uma vez que-tiao trabalha com aseparagao sociedadecivil-Estado,.comoos dois primeiros,nem cpm a Qposigao direito natural — .-;4iieito civil, cdmo o segunda.

Tambem aqui nao* cabe. nos alongarmos sobre as concepgoes espiriosafa&s do direito e da sociedade civil (para'ele, socie4ade poli tica), xonsiderada o momento no qual os hdinens  passam’a ter'uiha vida vefdadeiramente humana, “nao d6finida apbnas pela digestao e  pela circutagao do sangue”. Entretanto, seria conveniente lembiar 

q'iie'Espinosa define o direito (naturale civil) como podQt-(potentia individual e potestas coletiva), o estado de natureza como impotSn-cia ou abstragao (a potentia individual temerosae vitima de todas as outrasque a rodeiam),,o^tS3o civilcomo racionalidade operante' no seio das paixoes ou car^ncias naturals e nao como^roduto de um  pacto social racional entre homens livres porque os homens nao nascem liVres, mas se toimam livres, e porque em estado de natureza nao  hA libe^dade, uma vez que esta (exatamente como a definira o  jovem Marx no  Xerceiro  Manuscrito  Econdtnico-Filosofi- co) e ser autdnomo, senhor  de si, autodeterminado e apto  para o multiple simult^eo, impossiveis em estado natural.  Nao distingue os regimes politicos pelo numero de govemantes nem pelo cardter eletivo ou nao dos dirigentes, mas  pela  proporcionalidade interna estabelecida entre a potentia dos cidadaos e a potestas politica, de talmodo queatirania€  ausencia de proporgao, a monarquia, despro- porgao, e a democracia, plena  proporcionalidade, nela ningu6m  po-dendo identificar-se com o prdprio  poder, que e incomensur^vel a  potentia de cada Tim e de todos somados, cada um “'penhan^cendo livre e, igual, tal como era antes da constituigao da soberania”.

Enfim, seja qual for  o regiihe politico, o momento de sua fundagao

270

tern como sujeito o  povo, que pode alienar  seu  prdprio  poder  para um ou para alguns, ou conservd-lo como  poder  social coletivo ou democratico, asvariagoes dependendo das condigoes,historicas deter-minadas nas quais a fuftdagao. polidca tem lugar, a Cidade  podendo nascer  do desejo da'vida (fazendo-se livre) ou do temor  da morte

(fazendo-seescrava de um oude alguns).

Dado, osentido muito peculiar  que possui a Natureza np  pensa-mento espinosano ‘(forga infinita imanente autoprodutora e  produ-tora dcdiferengas fisicas eanimicas ou- de individualidades e singula-ridades finitas corporal^ e psiquica^ que agem  por causalidade eficien-te- im^ente e  padecem por  fraqueza  para realizar  essa agao) e a

 peciiliaridade de seu  jusnaturalismo” (a realidade do direito natural

dependendo da constituigao da sociedade politica na qual opera si-multaneamentg como medidado direitocivibe, paradoxalmente, como guardiao da liberdade politica e como ameaga para ela), seria difi-cil enquadrar  Espinosa iniediatamente nas criticas de Marx ao jusna; turalismo.

Enfim, um dltimo aspecto que conviria lembrar  diz respeito a, duas caracteristicas da democracia espinosana. Espinosa a define como 0 “mais natural dos regimes  politicos” (e  ]k vimos-como 6  peculiar o “natural” em sua filosofia),  pois aldm de' conservar os homens livres e iguais, atendendo os motivos  pelos quais’instituem a vida  politica, sobretudo e o linico regime que atende ao  principal desejo do direito'natural ou da essencia humana enquanto  potentia  agendi: o desejo de governar  e nao ser governado. Em se^ndo lugar, a democracia 4 o unico regime politico dO qual a natureza especifica da  politica se realiza, isto e, ela evidencra que a  politica e realizagao humana sem qualquer  fundamento transcendente (este sendo sempre uma superstigao ou uma mistificagad  de origem teolo-gica), de sorte que nela a-liberdade se realiza nao so como algo garantido pelo-regime politico, mas sobretudo como causa da funda

gao  politica.  Na democracia, contrariamente aos outros regimes  politicos, os cidadaos nao-  sdo  parte da sociedade  politica, mas  tomam  parte nela. Por  isso Espinosa a define -como  dbsolutum imperium,  poder absoluto. Esses dpis aspeetos da democracia —  ipstituigaohumana sem fundamento imaginario transcendente e  abso-lutum imperium —  reaparecem na analise feita por  Marx.na Critica  da  Filosofia do Direito  de  Hegel: a lei como criagao real do  povo

(9)

real e o  poder como poder real; a “constituigao do  povo” e nao o “ povo da constituigao,'’.

Tamb6m vale a  pena recordar duas teses que perpassamtoda a filosofia  politica de Espinosa. A  primeira delas, e a de que. os homens frequentemente nao sabem a quern cabe a soberania, nao  por  falha intelectual, mas  porque a teia das relagoes sociais e  poli-ticas sendo tecida com os fios da paixao e daimaginagao,os homens tendem a identificar os ocupantes do  poder com a prdpriasoberania.  Na CFDH, Marx indaga: “soberania do monarca ou soberania do  povo?”, e na  Ideologia  Alema o tema da dissimulagao da origemdo  poder €  uma constante. A segunda tese e a deque um regime poli

tico nao deScamba  para a tirania, nao se torna,  por acidente ou  por  desvio, tiranico, mas  jd  nasce dessa maneira. A filosofia espi-nosana recusa a causalidade eficiente transitiva ou mec&nica (para a qual causa e efeito sao termos  positives independentes e auto-subsistentes),  pois opera com a causalidade eficiente imanente (a causa se modifica num efeito  particula» ou se exprime num efeito determinado que a manifesta como seu desdobramento interne neces-s^rio, a causa  persiste e existe no efeito). Sendo a causa instituinte de uma forma  politica uma causa imanente, cada uma das institui-goes e cada um dos acontecimentos a exprimem de modo deter -minado. Por  isso um re^me politico nao se toma tir^ico ou auto-ritario, mas e assim instituido, ainda que no inicio os efeitos da tirania nao sejam visiveis. Donde a critica espinosana ao reformis-mo politico, uma vez que nao  basta agir sobre os efeitos  para modi-ficar  a natureza da forma  politica e social, sendo necessario, para muda-la, destruir sua causaoriginaria. Porque os homens costumam

•ignorar  a quern cabe o poder  e  porque a tirania fica dissimulada

apenas em seus efeitos, diz Espinosa, sempre se considera mais f^cil trocar um tirano por outro do que eliminar  a causa da tirania. A economia  politica burguesa, diria Marx, nao vaialem da substituigao de um tirano por outro. A revolugao proletdria, dird ele analisando aComunadeParis, nao pode apenas tomar  o Estado burgues consti-tuido: ternquedestrui-lo.

 Nao sendo nosso intuito fazer  de Marx um espinosano, esses  poucos indicios  justificam que busquemos algumas ideias deEspinosa em sua obra, mormente quando nos lembramos do lugar  central ocupado  pelo pensamento espinosano na filosofia alema, sobretudo a

 partir da ^lustragao Goethe assinando vdriosde seus textos como “um espinosista nao-kantiano” e Hegel escrevendo: “ou Espinosa ou nenhuma filosofia”, propondo-se a transforraar  a substincia espino -sana em sujeito e faze-la desenvolver-se. Heine chegard  mesmo a escrever que “todos os nossos fildsofoscontemporineos olham,talvez sem o saber, atrav6s das lentes que um dia Espinosa  poliu” e, mais significativamente,Feuerbach: “Mas o carater, a verdade e a religiao so existem sob■a condigao de que a teoria nao negue a  pratica, nem a pratica aiiteoria. Espinosa e o Moists dos livres- pensadores e dos materiaiistas. O panteismo e a negagao da teolo-gia teorica, o empirismo, a negagao da teologia pratica; o panteismo nega o  principio, o empirismo, as  conseqiiincias dateologia”

13. A discussao que atravessa todo o idealismo alemao sobrea liberdade como autonomia e autodetermina^ao. levando & separaflo entre homem e natureza, consciencia e mundo, sujeito e objeto para garantir a independSneia do  primeiro termo face ao segundo, colOcouEspinosa no centre das querelas entre ilustrados e entusiastas e rominticos, os primeiros afirmando o dogma-tismo pre-critico do espinosismo, ateu e filosdficoda necessidade natural abso-luta, incompativel com a liberdade, e os segundos enfatizando o “mergulho” mistico do homem em Deus e na Natureza, o  panteismo como integragSo totalizadora cuja expressao mais alta seria o espinosismo. De todo modo, a  polemica do  Atheismus e o Pantheismusstreit, os combates entre  Aufklarung e Schwdrmerei nao sao filosoficos apenas, mas  politicos, desde que nao-nos esquejamos de que a Alemanha e um pais teologico-politico. Os combates Jacobi-Mendelsohn, Jacobi-Lessing, Kant-Jacobi, Kant-Svhelling, Hegel-kantia-nos transcorrem num clima semelhante ao que a obra espinosana conhecera na Holanda do s6culo XVII e na Franga do s6cuIo XVIII, suscitando era todos esses casos “uma oposigao passional, comparavel ^uela que  pode sus-citar  o comunismo'em certas nagoes ocidentais modernas” —  Jean-Louis Bruch —  introdugao a Kant-Lettres sur  la  Moraleet la  Religion, Paris, Aubier-Montaigne, 1969.  No swulo XVII', Leibniz dissera ser  Espinosa “Sata encar-nado”, merecendo ser  posto a ferros e vergastado at6 Ji morte.  No s6culo XVIII, Mendelsohn chamard  Espinosa “cao morto”. Ser considerado “espi nosista” era crime e foi  para livrar-se dessa acusagao que Kant escreveu O que i orientar-se  pelo  pensamento? Seria interessante observar  que'a obra

espinosana  passa por  tres.representagoes sucessivas: ateia (s^ulo XVII e

Ilustragao), mistico-panteista (Romantismo  — Espinosa, “o homem 6brio de Deus”), racionalista absoluta (Hegel,s6culo XX).

14. Citado por Maximilien Rubel',in  Marx d  la  Rencontre de Spinoza, CahiersSpinoza, n.° I, Paris, Editions' Replique, 1977.

15.  Ludwig Feuerbach  —  Principes de la Philosophic de I ’ Avenir (1843),

Paris, Presses Universitaires de France, 1973,  p. 148. £ possivel avaliar o  peso dessa afirmagao quando a confrontamos com um texto de 1839, CrU 

(10)

Mapc menciona Espinosa  poucas vezes,. as referencias mais co-nheddas sendo “a ignorSncia nao^argumento” (inspirada no

ApSn-dice do Livro I da  jS’f/co que critica as causas finais imaginativas e o

fecursoi vontade divina  para explicar  o inexplicdvel  porque mal conhecido) er o c61ebre dmnis  determinatio  negatio est

(retirado.da

cart^ 35 da Espinosa a Hudde), embora interpretado  por  Marx num seritido muito mais hegeliano do que espinosano

-tica da Filosofia de  Hegel'. “A  Nature za se ergue apenas'contra a liberdade do imagin^rio, mas nao contradiz a liberdade racional. Todo copo de vinho que tomamos em demasia 6 uma  prova  pat^tica e mesmo “ peripatfitica” que a sujeifSo a  paixao revolta o sangue; prova que a sophrosyne gregavai intei-ramente no rumo da  Natureza. Sabe>se que mesmo os estdicos, os rigbrosos estdicos, esses espantalhos dos moralistas cristSos, tinham  por   princfpio: viver  conforme a natureza”. PUF, op. cit.,  p. 56. A iddia de que a libw-dade.so contraria a natureza  para a imagina$ao e  jamais  para a razao 6 a tesecentral de Espinosa. Para ele, a oposi$ao liberdade-natureza-desliza para

a  pposifSo liberdade-necessidade e esse deslizamento ocorre  porque a imagem da-liberdade,-a imagem da natureza e a imagemda. necessidade  possuem con-teddos 'precisos contrdrios ks suas essencias: liberdade, para a imagina^So, significa “ter   poder  sobre outrem” e “escolher  voluntariamente”; natureza!  para a imaginasao, significa “sucessacymecanica de causas e efeitos  por  seme-Ihanga e 'contiguidade*'; necessidade,  para a imagina?ao, significa “decreto riecessirib. de origem desconhecida”, “autoridade”. fi o deslizamento da

liber -dade para-adominasSo e d ’a necessidade  para a autoridade o-que as opoe.

Para Espinosa a  Natureza 6  forga infinita imanente que se autoproduz ap  produzir  todos os seres; a necessidade 6  o desdobramento interno de uma forpa ou causa imanente; a liberdade,, .forpa interna de autodeterminagSo  para realizar  o/desdobramento necess^io da essSncia de um ser  singular  e, sobre-tudo, ^ liberdade do corpo e da alma (e nao apenas desta), definindorse como aptidao  para o mdltiplp simultaneo ou  para o  plural.  Nesse sentido, ela-6  a definipao da  prbpria democracia como  pluralidade simultanea.

16. A?  principals citapoes de Espinosa- por  Marx encontram-se em: Ca-dernos soFre a  filosofia de  Epicuro, in Marx-Engels Werke, volume suple-mentqr, Berlim, 1968^, pp. 219, 225, 286; Notas sobre a recente ordem  prus-siana sobre a censura. publicada  , Anedokt a..., por  Ruge, in Karl Marx-•Friedrich Engels Werke Dietz Verlag, Berlim, 1969, Band 1,  pp. 7, 9.; O  Artigo de Fundo do nP 179 -da Gazetade Coldnia na Gazeta  Renana (Der 

leitende*Artikep, in Werke, op. cjt;,  p. 103; A Sagrada Pamilia. 'm Werke, Rand II, op. cit.,  pp. 131,135, 139, -141;  A. Ideologic  Alema, in Werke, Band 

nl op/ cit.,.p. 82, ,132 304; Carta de Marx a Adolf  Cluss de 30 de

 julho de 1852 e Carta de Marx a Lassalle de 31 de maio de 1858, ainbas citadas por  Maximilien Rubel, op. cit.,  pp. 24, 25. A expnsslo omnis de-terminaiio est  negatioencontra-se 'na-Criticad  Economic Politico,  Introdugao: A  produfa o, enquanto e•imediatamente idSntica ao consumo, o consume,

274

todavia, uma razao  ponderavel  pwa- acompanharmos a  presenga de-Espinosa no .pensamento-de Marx. Em novembro de 1,841, aparece a  primeira edigao de A Essincia 4o Cristianismo, de

Feuerbach. Em abril desse mesmo ano, Marx recebera o titulo de doutor  em filosofia pela universidade de

lena

com uma tese que infe-lizmente nao chegou at6 n6s  por  inteiro,

 A

 diferenga entre  as  jiloso- fias  dq  Natureza  de,

 Demdefito e

 Epicuro Ora, e ainda desse mesmo ano de 1841 um’ciirioso caderno de Marx eni cuja capa se

IS: Spinoza Thtologisch-PjoUtischer Tratakt von  Karl  Heinrich  Marx. O “von Karl Heinrich Marx” 6  bastante significativo,  pois de fato

enquanto coincide imediatamente com a  produgao, chamam de consumo  pro-dutivo. Esta identidade de  prodii$ao e coii^umo nos leva &'proposifao de

Espinosa: determinatio est  negatio”. Abril Cultural, op. cit., p.-115; 'Werke, Band Xin, op.-cit.,  p. 622. Eem 0Capital'. ”0economista vulgar  nunca fez essa simples reflexao; que toda- apao humana.pode ser  encarada como uma “abstengao” de seu contrdrio. Comer  e abster-se de  jejuar; andar  6 abster-se de ficar  no lugar; trabalhar, abster-se da ociosidade; ficar  bcioso 6 abster-se de trabalhar  etc. Estes senhores  bem poderiam raeditar  sobre esta proposigao de Espinosa: determinatio est- negatio”. Oeuvres, Plliade,  bp. cit., T. I,  p. 1103. Essa expressao e mencionada  por  Hegel nas Ligdes de  Histdria da Filosofia, no capitulo Espinosa como “a grande fra^se dfc ^pinosa”, mas para logo em seguida comentar: “O entendimento  possui determinafSes que nao se contradizem: A negagao da negacao 6 contradigao; ela nega a negaffao; assim ela e afirmagao e, no entanto, ek tamb6m 6 negajao em geral. Essa contradigao o entendimento nao  pode suportar, ela e o racional. Esse  ponto falta em Espinosa, e nisto estS sua cardneia”. Coment^io retomado na  E'd-gica: “Espinosa perman ece'na negapao como determina?ao ou qualidade;' nao vai at6 o conhecimento dessa mesma negagao como negajao absoluta, isto 6, negagao se negando; assim, sua subst^ncia nao cont^m ela  propria sua forga absoluta e o conhbeer  dessa mesma' subst&ncia nSo um conhecer  imanente”. E ainda: “A determinagao 6 a negagao considerada do  ponto de vista da afirmagao. £ a  prbposigao de Espinosa: omnis determinatio est negatio”. E tamb6m na Enciclopidia I, § 91. £ essa interpretagao hegeliana que encontramos nas citagSes de Marx. Sobre a interpretagao- hegeliana da negagao espinosana veja-se: G6rard  Lebrun —  La Patience du Concept,Paris, Gallimard, 1972; Kant et  la fin de la  Mitaphysique, Paris, Armand  Colin,

1970; Paulo 'Eduardo Arantes —  IJegel:'  a Ordem do Tempo, Sao Paulo, Pblis, 1981; Martial -Gu6roult  — Spinoza, Paris, Aubier  Montaigne, 1968, ■f. L; Pierre Machefay  —  Hegel ou Spinoza, Paris,'Masp6ro, 1979; Marilena

Chaui  —  A Nervurado Real..., op. cit.

17. Veja-se a  bela edigSo  brasileira organizada  por  Jos^ Am6rico Pes-sanha. Global Editora, Sao Paulo, 1979.

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Marx nao copia ou simplesrflente transcreve o Tratado -Teologico- Politico, mas o reescreve: muda a ordem dos capitulos, cortatrechos, encadeia outros com novos conectivos. A16m do TTP, o cademo traz uma sele5§io de cartas de Espinosa relativas a religiao, k polftica e ao infinito

Se considerarmos que, na Questao  Judaica, Marx leva as dlti-mas consegii^ncias ideias expostas na Critica d   Filosofia do  Direito  de  Hegel ena  Introdugdode 1844, entre as quais  predomina a criti

ca do carater  teoldgico-polltico da pr^tica e da teoria  pollticas na Alemanha (que sequer conseguira alcangar  a constituigao  plenamen-te polltica do Estado, mantendo-o fundado nos  pilares do cristia-nismo), a leitura do Tratado Teoldgico-PolUicoe sua reescrita passam a ter um significado importante para a elaboragao do  pensamento  politico de Marx, nessa epoca. Ousarlamos dizer  que, assim como Feuerbach oferece a Marx a  possibilidade da critica filosdfica a religiao, Espinosa Ihe oferece a  possibilidade da critica filosdfica ^  polltica.

18. O Tratado Teoldgico-PolUico e reescritona seguinteordem: cap. VI, sobre os milagres; XIV, sobre a fe; XV, sobre a razao e a teologia; XX sobre a liberdade de expressao; XIX, sobre o direito no dominio do sagrado; XVIII, sobre alguns ensinamentos politicos derivadosda organizagaodo estado dos hebreus; XVII, sobre o estado hebraico; XVI, sobre os fundamentos do Estado; VII, sobre a interpretagaoda Sagrada Escritura; VIII, sobre os auto-res do Penlateuco; IX, sobre o trabalho de Esdras e a ligao dasnotas mar  ginals; X, sobre os outros livros do A.T.; XI, sgbre o papel dos apdsfolos nas epistolas;.XII, sobre a Escritura Sagrada como palavra de Deus; XIII,

sobre a simplicidade dos ensinamentos da Escritura Sagrada; I, sobre a  pro-fecia; II, sobre os  profetas; II, sobre a vocagao  prof^tica dos hebreus; V, sobre as cerimonias religiosas e a f6 nos relatos. Um estudo dessa  prova ordem nos daria resultados extraordinarios,  pois toma o texto segundo um ,fio condutor  no qual historia e interpretagao da historia se cruzam como metodo logico e critico a partir  da politica. As cartas transcritas por Marx sao em ndmero de 15: 1 a Blyenbergh, 9 a Oldenburg, 2 a Simon de Vries,

1 a Pieter  Balling, 1 a Albert Burgh, 1 a Luis Meijer. Essa selegao mostra que Marx escolheu as cartas de critica a teologia  judaico-crista e a metafisica cartesiana, todas elas com implicagoes na sua teoria politica. Nao vamos comentar  essas cartas, mas um comentario revelaria que Marx selecionou aquelas nas quais Espinosa critica o cristianismo como suporte do  poder  teoldgico-politico, excegao  para a carta a Meijer, a celebre carta 12 sobre o infinito, uma das mais importantes da correspondencia espinosana.

Ainda no  perlodo de  jornalismo da Gazeta  Renana, pelo menos ties artigos'sobrea liberdade de imprensa e contra a censura mencio-nam o nome' de Espinosa, que escrevera o TTP, como atestam p

sub-tltulo da obra e uma das cartas a Oldenburg (transcrita no caderno de Marx),  para demonstrar  que a liberdade de  pensamento e de expressao 6 essencial para a paz e seguranga  pollticas,  pois as leis

da censura, nasddas da “sanha dos tedlogos”, longe de garantirem esses dois valores, eilcaminham a repdblica para a violeneia e a irracionalidade e,  portanto, para a autodestruigao.  Nos artigos de Marx, al6m da' mengao expllcita de Espinosa, “ para quern, a moral repousa sobre aautonomia e a religiao sobre a heteronomia do espl-rito humano” e  para o qual, como para Marx, “filosofar  e agao da livre razao” encontramos uma id6ia do Tratado Teoldgico-PolUico que, em seu •caderno, Marxredige isoladamente, quase como se fora um aforisma: “Averdadeira finalidade da republica e, pois, a liber dade”. 6u, como ’lemos na Gazeta  Renana: “tereis que reconhe-cer  que o Estado deve ser  construldo nao segundo a religiao, mas segundo a livre razao”®®. E, no caderno de 1841, Espinosa-Marx: “Admitamos que seja  posslvel abafar a liberdade dos homens e Ihes impor  o  jugo a tal  ponto que nao ousem sequer murmurar algumas  palavras sem o consentimento da autoridade suprema, mesmo assim serd  imposslvel impedi-los de  pensar  o que qudram e como o queiram (...) conseqiientemente, as leis que concernem as opinioes sao dirigidas nao contra celerados (noutro trecho, escreve Espinosa: “os que querem ter a panga e o bau empanturrados”), mas contra homens livres e, em lugar de punir os malignos, irritam aos honestos, nao  podendo ser  defendidas senao com grande dano e  perigo para a republica”

Essa ideia, que servira a Espinosa  para argumentar  contra a violencia e irracionalidade da censura (pois a marca essencial da  polltica e a visibilidade do 'espago social, de sorte que os governados, cidadaos,  possam  julgar, aprovar, condenar  e opinar  sobre as agoes

19.  Nota sobre a recente.

.

op. cit., loc. cit.

20.  Der   Leitende Artikel... op. cit.,. loc. cit.

21. Caderno de 1841 —  Espinosa Tratado Teoldgico'  Politico  por  Karl  Heinrich Marx, in Cahiers Spinoza, nP 1, op. cit.,  p. 45. Marx reescreve em latira de onde fizemos a tradugao, porquanto a versao francesa “moderniza” o texto espinosano levando a vdrios contra-sensos.

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dos governantes, sendo a polftica incompativel com a invisibilidade do  poder ), tinha como alvo uma forma hibrida da  poHtica, ou melhor, aimpossibilidadeda  politica como ^fera aut6noma da prdti-ca,  pois subordinada ao poder  teol6gico, cujo suporte e for?a repou-sam,justameate, na invisibilidade sagrada da autoridade. A critica de. Marx aos censores,  k.tibieza dos libeirais,- k subservi&icia dos intelectuais, assim como a critica geral  k politica .alema e a filosofia  pol;ticahegeliana, retoma o  problema da heteronomia  politica, t&nto m^or quando nos lembramos do significadq que.os tedricos alemaes haviam dado k revolugao francesa, at6 mesmo quando, como Hegel, lamentavam que nao houvesse cumprido sua finalidade, isto 6, o advento da  politica como atividade racional humana sem suportes transoendentes.  No.jovemMarx, a critica a heteronomia tinhacomo  pressuposto- a confianja que depositava numa politica entendida como exercicio  prdtico da razao e, conseqiientemente, na aboli^ao de toda referencia externa e transcendente ao  poder. Em resumo, o ataque de Marx,como jomalista e como fildsofo,  k monarquia constitucional alema retoma a afirmagao que abre o Teoldgico-PolUico: nao hd 

meio maiseficaz para dominar a massa do que- a supemtigao ampa-rada  pelo aparelho da religiao e cuja expressao politica 6  a monar  quia, na qual os cidadaos, transformados em suditos, sao levados a “adorar  os reis como se fossem deuses’\  Na Critica d  Filosofia  do

 Direito  de  Hegel: “Outra conseqUSncia dessa especulagao mistica consiste no fato de uma unica existencia  particular, empirica, oposta ^s outras, ser conoebida como existencia da ideia. Uma vez mais se sente a  profunda impressao mistica que resulta de se ver  a id6ia dar  origem a uma existencia  particutar  e de encontrar  uma encama-gao de Deus (...) Hegel estd interessado em apresentar  o monarca como “Homem-Deus”, como verdadeira encamagao da id6ia”

 Nessa perspectiva critica, 6  possivel compreender  a

 peculiar mo-dificagao impressa  por  Marx na ordem dos capitulos do Teologico- Politico, fazendo-o comegar  pelo capitulo VI, sobre os milagres.  Na transcrigao de Marx lemos: ‘‘nada  prova melhor  aos olbos do vulgo

a ^istSncia de Deus do que, subitamente, a natureza nao seguir sua ordem  prdpria. Em outras  palavras, enquanto a natureza segue sua

22. Kritik  des  Hegelschen Staatsrechts, in WerkeBand I, op. cit.,  p. 225; Critique of   Hegel's Philosophy of   Right, Cambridge, University Press, 1977,  p. 24; Criticada Filosofia do  Direito de  Hegel, Editorial Presenga, s.p.,  p. 37.

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■ordem,supoem queDeus nSo age e, em contrapartida, quando Deus age, supoem que as  potSncias e causas naturals estao ociosas. Por  isso o vulgo chama de milagres os acontecimentos insdlitos danatu-reza. Pois o dnico meio de adorar a Deus e referir  todas as coisas  k sua vontade e ao seu poder  6 suprimir  as causas naturals, subyer-tendo imaginariamente a ordem natural; e a  potencia de Deusi pelo vulgo tantq  mais admirada quanto mais imagina a  potdncia da natu reza acorfentada por Deus”'^. O milagre, invergao imagindria da ordem natural dos eventos, nao 6 contranatureza  por  ser  um aconte-cimento extraordindrio; mas porque revela o  pressuposto da imagina-gao religiosa e teoldgica, isto 6, a admissao da passividade da natu reza submetida  k atividade de uma vontade externa, transcendente,

onipotente e sobretudo insonddyel. Tanto a iraagem est^ril da natu reza quanto a imagem volUntariosa da divindade desdenham o essen-cial,-ou seja, a necMsidade imanente da atividade natural e divina,

 pois Deus  sive  Nature. Se,  por  sua essSneia (os atributos  pensa-mento'e extensao inodificados), a natureza 6 imanente ^ ^ubstancia

infinitamente infinita, por  sua  potSneia ou causalidade eficiente, a substdneiainfinitamente infinita 6 imanente k natureza — como

de-mostram as proposigoesdo livro I*da  Ftica. Todavia, a crenga no

milagre  possui ainda outras dimensoes. Fundamentalmente antro- pomdrfica, a imaginagao, isto 6, o conhecimento pdr  meio de repre-sentagoes abstratas ou imagens, confunde atividade e arbitrarieda-de, passividade e necessidade, criando-obstdculos  poderosos  para a compreensao da autbnomia da natureza, da substdneia infinitamente infinita e do homem.  Numa  palavra, a imagjnagao, enquanto co

nhecimento inadequado ou abstrato, 6 o lugar   por  excelfincia d^ heteronomia, confundindo necessidade e decreto, liberdade fe acaso

ou capricho.  Nada surpreendente,  portanto, quando essas. ima^ns regressam ao  ponto de onde  partiram, isto 6, a imagem do  poder, que a vontade do monarca aparega como tendo forga de lei,  Na Critica  da  Filosofia  do  Direito  de  Hegel, denunciando as inversoes mistico-imagindrias do sujeito e dos  predicados nas ideias hegelianas, Marx dird que Hegel, apos ter acompanhado o processode separagao entre sociedade civil e Estado, os reunifica gragas  k vontade do ,monarca, sem contudo demonstrar. a necessidade deste ultimo senao

23. Caderno de 1^41, op. cit., loc, cit.,  p. 33.

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recorrendo a “natureza”, que, milagrosamente, faz algumas criatu-ras nascerem cavalose outras, reis.

Espinosa nao e iluminista —  para ele a religiao nao 6 absurda

 — nem e especulativo —  para ele a verdade e racionalidade da religiao nao se encontram nela mesma. A16m disso, diferindo  pro-fundamente de Feuerbach, nao considera, como este, a religiao forma da alienagao da essencia  humana exteriorizada e projetada na

essin- cia  fantdstica  de  Deus. Para ele, a religiao cristaliza os efeitos da su'perstigao, que  projeta uma imagem  do  homem numa imdgem

 fantdstica

 de

 Deus;  portanto, igualmente distante da essSncia de ambos. Por outro lado, a antropologia espinosana, pondo o homem como modificagao finita de atributos infinitos da subst^ncia, nao 6 um humanismo, como o 6 a filosofia feuerbachiana. A origem da superstigab nao e um erro do entendimento nem uma ampliagao desvairada da sensibilidade, mas a  paixao: o medo (de males que advenham ou de que  bens nao ocorram) e a esperanga (de bens que advenham e de que males nao ocorram),  paixoes produzidas  pela dispersao dos acontecimentos cujas causas  permanecem ignora-das e  pela fragmentagao temporal que os homens nao  podem domi-nar. Essa passividadediante de forgas que nao compreendem e nao controlam os leva a invocar  finalidades ocultas, a crer numa raciona lidade insondivel enuma atividade externa cujo suporte e a vontade transcendente de Deus, asylum ignorantiae.

Inversao abstrata das causas e dos efeitos, do condicionante e do condicionado, ampliagao antropomorfica da imagem humana na divina, o suporte da superstigao e o finalisino: imagina os homens agindo' tendo em vista fins (e nao  por agao de causas eficientes imanentes ao desejo),  projeta essa forma de atividade na natureza, “fazendo-a delirar  com os homens”, e, a seguir, langa essa dupla imagem  para -a. divindade, arquiteto,  juiz e monarca do universe.

“Tanto e o medo que ensandece os homens”, transcreve Marx em seu caderno. A religiao tern origem heterdnoma —  a paixao do medo e da esperanga — e tern uma finalidade heterdnoma — o  poderio sdcio-politico.

Eis  porque, reescrevendo o TTP, Marx  passa do capltulo VI ao capitulo XIV — a distingao entre fe e tazao — , ao capltulo XV — a diferenga entre filosofia e teologia — e dai ao capitulo XX  — sobre a liberdade de  pensamento e de expressao. A 16  ensina

uma unica coisa: a.obediencia a dogmas e verdades reveladas. Sendo obedidneia, e essencialmente heterdnoma, diferindo da razao, essencialmente autdnoma. A teologia, por seu turno, manipulando textos considerados revelados, ensina a manter  a fe, enquanto a filo sofia desenvolve livremente a razao, gragas k forga nativa do inte-lecto (modo do atributo infinite  pensamento). Portanto, toda ten-tativa para elaborar  uma teologia racional e uma contradigao nos termos, fazendo com que “o teologo enlouquega sem a razao e o fildsofo com ela” — contradigao que, mostrard  Marx,  perpassa a filosofia  politica hegeliana, a inversao do sujeito e dos  predicados redundando em misticismo e mistificagao filosoficos. A diferenga entre f6 e saber, teologia e filosofia (diferenga que Hegel nao s6 conhecia  perfeitamente, mas sobre a qual escrevera desde a  juventu-de), sendo diferenga entre autonomia e heteronomia, faz com que uma  politica fundada em  pilares religiosos seja tiranica, dird Espino sa, e anacfonica, dira Marx. “A constituigao  politica tern sido a esfera religiosa, a religiao, da vida popular eos cdus da sua universa-lidade tem-se oposto a existencia terrestre de sua realidade”, escreve Marx. Enfim, a diferenga entre teologia e politica mostra nao set casual que os regimes teoibgico-politicos pratiquema censura, temam acima de tudo a liberdade de  pensamento e de expressao e impegam a  paz e seguranga dos cidadaos.  Nao e impossivel compreender,  portanto, a enorme dificuldade da Filosofia do Direitoface k “opiniSo  pdblica” que, segund.o Hegel, deve ser  respeitada  porque manifesta algo-essencial da  politica, mas deve ser  desprezada como barb^rie ou incultura  politica daninha  para o Estado. Enfim, compreende-se  por que, na Questao  Judaica, Marx discute a  posigao de Bauer  e considera ilusoria a luta dos  judeus pela emancipagao religiosa num estado que e teolbgico-politico e,  portanto, no qual sequer  a  politica emancipou-se, ainda que tal emancipagao seja, ela tambbm,  proble-matica em decorrSneia da cisao “homem”-“cidadao”  produzida  pela sociedade burguesa.

Somente apbs aquele  percurso, Marx  passa aos capitulos XIX  — sobre o direito no campo do sagrado — , XVIII  — sobre alguns ensinamentos da  politica hebraica  — , XVII  —  sobre o Estado hebraico — e ao capitulo XVI, destinadoa demonstragao da origem e do significado da democracia. Percebe-se  por essa seqtiSncia e  pela seguinte queMarx coloca no centre de sua reescrita a

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democra-cia, fazendo-a anteceder  pelos capitulos gbrais sobre a relagao.entre teologia e polftica, que encontra-expressao-nateocracia hebraica, e suCeder  pelos capitulos histdricos sobre a constituis§o  politica dos hebreus. ^ interessante observar que, logo ap<^s o capitulo 5^VI,

Marx insere o capftulo VII, dedicado k exposi^ao^do ihdtodo

filold-gic0,‘histdrico e crftico de interpretagao da Biblia, ^dtodo oposto ■ao: preconizado  pela Escola de Direito Histdrico de“Savigny, contra 0 qual Marx dedicaria um artigo mastendoem comum um aspecto valorizado pelo jovemMarx: a Idgislagao  politica sd 6 eficaz quando

’O.legislador conhece a naturezado  povo a sj^'ie^slado, as ihstitui-goes  procurando ajustar-se hs necessi^ades sociais. Todavia,  ponto essencial, Espinosa cpnsideraeSse o casano qual seinstalamregimes  politicos nao democrdticos, uma vez que na democracia o  povo 6 

autOT das leis e das dnstituipoes. Essa id6ia ressurgir^ na Critica  da  Filosofia  do  Direito de Hegel.

 Nao vamos aqui nos alongar  sobre a leiturae reescrita do TTP  por Marx, mesmo porque desconhecemos os usos diretos que pbrven-tura delas houvesse feito, mas conhecemos apenas, como acabamos de sugerir, empregos indiretos nos artigos sobre a censura, a escola de Savigny e a filosofia politica de Hegel. Tentaremos simples-mente acompanhar a elaborapao da ideia de democracia na Critica  da  Filosofia do Direito  de  Hegel  k luz de alguns conceitos espino-sanos a eja subjacentes,. particularmente-'a-critica da politica teoldgica.

m

'

A principal critica deMarx a Hegel, ou h. inyersao mistica dos  predicados e do sujeito,se dirige a manqifa como a filosofia politica hegeliana, depois de tentar acopipanhar  a separapao,entre sociedade civil e. Estadoj procura suprinli-la por  meio da universalidade atribui-da ao segundo, posto como sujeito e como ideia, fazendo com que '

a “necessidade externa” que o  prende a familia e  k sociedade civil se'convertaem “finalidade imanente” do  prdprio Estado. Este. poe a familia e a sociedade civil como suas faces finitas, cinde-se nelas  para elevar-se kinfinitude desuaidbia, divide-se para reunir-se, sepa^

24.  Das.Philosophische Manifest  der historischen Rechtsschule,inWe^ke, Band-I,op clt., pp. 78 a 85.

.282

fa-se'para retomar a si e ser  exatametite o que realmeniei. Onde se' encontra o inisticismo? Onde a teologia 'dessa operagao? A relagao real, diz Marx, transfigurada  pela especulagapj converte-se em. manifestagao daIdeia, isto-e, em fenomeno — ^ a mediagao 'real

se transfigura em fendmdno da mediagao que a'id6ia (o Estado) '

executa sobre si mesma“nos -bastidoresj^de tal modo que a exist^ncia real (familia, sociedade civil) nao tem sifa racionMidade em si mgsma,-mas .Quin terceiro’termd estranho. E, no'‘entanto, coiiio Hegel tamb^m acbmpanha a  bistoria re&I, ‘a id6id “(o Estado) nao tem cdmo<exist6ncia suit existdncia desenvolvida, mas a dxist^ncia empirica ordin^ia’ (a-famflid  e a sdciedade civil e^istentes empiri-camente). Recebendo o estatuto de^’sujeito, a i<36ia, entretanto; na siia relagao real com as facesfinitas (familia e sociedade civil) jjassa  para 'o imagindrio.  Noutros termOs, familia e socieda’de civil sad os  pressupostos do'Estado-e, comd tais,*saoativas, pqrdm aespecula^o inverte a situagao  pondo familia e sociedade civil como obfetds ou momentos objptiyos do Estado.^ Essa inversao,<pelaqual o,real vira

fendmenp da.reali^ade, um “obscufo.fpndq natural” da i^dia, const!-, tui “todo o mistdrio (Ja filosofia do direito e da filosofia hegeliana em geral”

'Em-suma, Hegel, em lugar  de desenvolver^oEstado a partir da familia e da*sociedade-civil, tentavinutilmentedesenvolver  estaS'Ulti-mas a .partir. das finalidades imanCntes.^imputadas- ao primeiro. O resultado nao se faz esperar. Pretendendo-suprimir'Hodo conflito e separagao entre os termps — sem o que oEstado' nao s^ria’-sujeito, nem iddia,nem univbrsalidadeconcreta, nem'liberdade— , Hegel'nao fazsenS5 rnultiplicar emtoda partC “o*conflito entre a Sociedade- civil e o Estado (...).  Nao deseja a separagao entre soC'iedade civil e vida-politica. Eler  se‘>esquece'que esta lidando com uma'Relagao'dp reflexao e faz as classes civis (die bi&ge rlichen' St^de), como tais, classes'politicas (p'olitisClien Standen), ihas, ^novamente;“apends com

referSncia ab poder-'le^sfativo;'de tal modo que a efic^ia ddas se aprova como separagao”  Navefdade, nab'6 que fiegel'*^ esque^ ga” de que estd  bperando'coifaiima relagao d^ reilexao^-e sun,'‘como .ocorre’ria Filosofia do  Dire'ito no s6u todo, a operagao 6 hibrida.

KHS  p. 208; CHPR  p. 14; CFDH p. 9. KHS  p. 277;‘CHPK#74; CFDH p 8'3. 25.

26.

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