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Academic year: 2021

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O papel protagonista dos movimentos sociais na consolidação das ações afirmativas brasileiras

Aluna: Flavia B. Conti

Orientadora: Andréia Clapp Salvador

Introdução

A pesquisa intitulada: “O papel protagonista dos movimentos sociais na consolidação das ações afirmativas brasileiras” que teve início em julho de 2009, busca identificar a participação dos ativistas políticos de movimentos sociais, que com suas iniciativas, foram centrais no processo de constituição das ações afirmativas no Brasil e o impacto das políticas afirmativas na vida dos alunos beneficiários, especialmente no campo da educação superior.

Embora façam parte de um debate contemporâneo, as políticas afirmativas para grupos historicamente invisibilizados não são tão recentes no Brasil. Em 1930, já constava no país a possibilidade da aplicação de políticas de ações afirmativas. Entretanto, sua origem, na concepção de um direito coletivo, se deu na década de 90, através de leis que garantiam direitos específicos para mulheres e portadores de deficiência. Mas somente em 2001, com a lei de cotas para estudantes negros (as), que o referido tema começa a despontar na mídia e na sociedade de modo geral, em um debate que tem sido bastante conflituoso e que tem dividido opiniões, entre os que são a favor e os que são oponentes.

O fato de a política de ação afirmativa ter sido mais conhecida no Brasil somente a partir da política de cotas raciais, implantadas, em grande parte, graças à ação dos movimentos sociais, implica numa questão que pode estar sendo ocultada: a discriminação racial (embora não seja este o foco desta pesquisa).

A nível de curiosidade, cabe ressaltar que em outros países, ação afirmativa não é um tema novo, como no Brasil. Em cada país, reflete a conjuntura deste, com as variações na aplicação das políticas de ações afirmativas.

No caso brasileiro, a política de ação afirmativa surge como resposta às exigências de grupos “excluídos”; como mulheres, negros, homossexuais, portadores de deficiência. A organização destes grupos se deu a partir das décadas de 80 e 90, através de movimentos sociais, lutando pelos seus direitos e especificidades enquanto grupo

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social. As mulheres lutavam por participação na vida política, os negros por inclusão em espaço público, como escola e trabalho, os homossexuais por sua identidade; dentre outros. Portanto, é notório que os movimentos sociais garantiram uma mudança no campo das reivindicações sociais.

Em sua fase inicial, este estudo buscou trabalhar com o movimento social Pré-Vestibular para Negros e Carentes - PVNC. Este firmou parceria com a PUC- Rio em 1994 e, se tornou a principal referência no campo das políticas de ações afirmativas direcionadas à educação superior.

O PVNC surgiu de uma articulação política entre movimentos sociais, lideranças religiosas e partidos políticos. Além de bens materiais, exigia reconhecimento de seus direitos relativos à exclusão e invisibilidade social. Esse movimento social fortaleceu a defesa dos direitos coletivos e culturais.

Em seu início, a pesquisa estudou a gênese do pré-vestibular para negros e carentes-PVNC, seus pioneiros e principais ativistas políticos. E já num momento posterior, o presente projeto buscou analisar as políticas afirmativas nas universidades públicas e privadas, como o Programa Universidade Para Todos – ProUni, do Governo Federal, voltado para o ingresso de estudantes carentes em universidades privadas, com bolsas de até 100% , a política de reserva de vagas nas universidades públicas e ainda o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais– REUNI, que busca ampliar o acesso e permanência de estudantes na educação superior. Segundo o site do MEC, as ações do REUNI, preveem, além do aumento de vagas, medidas como a ampliação ou abertura de cursos noturnos, o aumento do número de alunos por professor, a redução do custo por aluno, a flexibilização de currículos e o combate à evasão.

A presente pesquisa vem sendo desenvolvida ao longo dos últimos três anos e em sua fase inicial, teve seus objetivos voltados para a identificação dos atores- protagonistas do processo de elaboração e implementação das ações afirmativas no campo da educação superior e o impacto desta política na vida dos beneficiários. Atualmente estamos numa segunda fase da pesquisa, onde se prioriza a observação e o estudo alusivo ao processo de implementação das politicas publicas de ação afirmativa, nas universidades públicas e privadas do Brasil. Tais objetivos podem ser mais bem considerados a seguir:

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Objetivo Geral

1ª- fase da pesquisa- Identificar a participação e o papel pioneiro dos

movimentos sociais na constituição das políticas de ações afirmativas brasileiras.

2ª- fase da pesquisa- Estudar o processo de implementação das políticas

públicas afirmativas no campo da educação superior.

Objetivos específicos: 1ª- fase da pesquisa

 Reconhecer algumas das lideranças e/ou ex-lideranças destes movimentos sociais, seus principais argumentos e motivações;

 Compreender os movimentos sociais em suas especificidades;  Identificar o papel dos movimentos sociais, na atuação das lideranças políticas e no processo de consolidação da nova política;

 Identificar os movimentos sociais que defenderam a política de ação afirmativa brasileira enquanto instrumento de garantia de direitos sociais;

 Conhecer como nasceu a proposta de políticas de ação afirmativa nos movimentos sociais;

 Identificar o impacto das ações afirmativas na vida dos sujeitos beneficiários, bem como na sociedade em geral.

Objetivos específicos: 2ª- fase da pesquisa

 Identificar as universidades que adotam as políticas de ação afirmativa, enquanto instrumento de reserva de vagas para grupos específicos;

 Conhecer as formas de acesso e permanência, oriundos das ações afirmativas nas universidades brasileiras.

Metodologia da pesquisa

A metodologia utilizada é a pesquisa qualitativa que segundo Minayo é uma metodologia que trabalha “com o universo de significações, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis” (1994, p. 22).

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A pesquisa é, portanto, do tipo qualitativa, que busca responder questões que não podem ser quantificadas. A ideia é fazer um levantamento, que envolve uma interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer.

A abordagem técnica utilizada tem sido feita por entrevistas semi-estruturadas, com o escopo de obter o maior número de informações contidas na fala dos atores sociais.

Na 1ª- fase da pesquisa foram realizadas entrevistas com ativistas do PVNC, que participaram do processo de elaboração/implementação das ações afirmativas que atingissem o grupo social que este movimento busca atender. Primeiramente, houve uma identificação dos principais protagonistas (revisão bibliográfica/visita de campo). Posteriormente, realizaram-se as entrevistas.

As entrevistas realizadas foram gravadas e em seguida, ouvidas em reuniões semanais, além de transcritas conjuntamente. Foi feito o recorte para absorver e extrair somente o necessário para esta pesquisa, mas respeitando, sobretudo, a fala de cada entrevistado, para que não fosse mudado o seu sentido original.

Ainda a respeito da metodologia, duas questões, em especial, ganharam relevância neste estudo, que foram a influência sócio-político-econômica, que possibilitou, a partir da década de 90, o surgimento das políticas de ação afirmativa e, também as razões políticas, ideológicas e culturais que levaram estes ativistas a participarem do processo de elaboração e implementação das políticas de ação afirmativa em seu grupo social específico.

Na fase atual, 2ª- fase da pesquisa, o foco principal está na observação e acompanhamento do processo de implementação das Politicas Públicas afirmativas, o Programa Universidade para Todos (PROUNI - Universidades privadas), o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI-Universidades Publicas Federais) e, especificamente, o Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) que apoia a permanência de estudantes de baixa renda matriculados em cursos de graduação presencial das instituições federais de ensino superior (Ifes).

Metodologia de trabalho

Na primeira fase da minha participação na pesquisa, foi feito o levantamento bibliográfico, que buscou identificar uma literatura específica da questão analisada. Logo após a leitura, fez-se o fichamento das obras, principalmente com relação ao

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conceito de movimento social e o seu papel no processo de construção da democracia brasileira. A seguir, ampliaram-se as leituras e discussões para questões como: políticas de ação afirmativa, relações raciais, desigualdade social e ações afirmativas no Brasil. Neste último ponto, foi feita uma reconstrução histórica da trajetória das políticas de ação afirmativa no Brasil, bem como um levantamento de dados constituído especialmente por notícias retiradas de sites na internet sobre este tema. Em um segundo momento, foi organizado um seminário sobre política de ação afirmativa, onde se trabalhou na divulgação e coordenação da equipe do evento, que também tinha por escopo o lançamento da revista “O Social em Questão nº23”. Desta forma, o seminário foi um desdobramento do projeto de pesquisa ao qual estou vinculada.

No que se refere ao trabalho de campo, fez-se inicialmente o mapeamento das áreas a serem estudadas e posteriormente, elaborou-se as entrevistas. Optou-se pela entrevista semi-estruturada por considerarmos que este seria o instrumento mais adequado para obter melhores informações contidas nas falas dos atores sociais.

No semestre atual foram lidos artigos e livros de autores que analisam determinadas categorias teóricas que são centrais para o tema da pesquisa, como: raça, ação afirmativa, educação, políticas de permanência, assistência estudantil, racismo; a fim de elaborar um artigo para futura publicação. Houve um levantamento bibliográfico a partir dos estudiosos dos temas relatados, resenhas e fichamentos dos textos lidos e confecção de um artigo, que atualmente está em fase de construção. Criou-se também um arquivo digital contendo todo o material da pesquisa.

Neste estudo, todo o recorte de jornais, busca em sites da internet, leitura de textos, são submetidos a um processo de filtragem, buscando separar o que é interessante para a pesquisa e o que não faz parte do objetivo do nosso estudo. Tal processo é feito em grupo, ou individualmente, dependendo da complexidade do trabalho a ser desenvolvido e/ou da disponibilidade de horário do grupo de estudo.

Continuamente, é realizada uma seleção em todo o material pesquisado, que é levado para as reuniões semanais. Todo o material selecionado está arquivado, visando a continuidade futura da pesquisa. São realizados, semanalmente, debates sobre a temática que vem sendo abordada.

Com a leitura e resenha de diversos artigos, pude conhecer os temas aliados a questão da ação afirmativa e, dentre eles, escolher um tema mais específico para posteriormente elaborar um artigo científico, colaborando com o trabalho de conclusão de curso.

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A leitura de dois artigos que apontarei a seguir contribuiu para minha aproximação com duas temáticas distintas, embora intrínsecas, que me inspiraram na escolha do tema “raça” para elaboração de meu futuro artigo científico, atualmente em fase de construção.

Os artigos que escolhi são “trajetória de jovens de periferia rumo à carreira universitária: mobilidade social, identidades e conflitos”, cujos autores são Wellington da Silva Conceição e Neiva Vieira da Cunha, presente na revista “O social em questão, política de ação afirmativa, nº 23” e “Ações afirmativas da perspectiva dos direitos humanos”, da jurista Flavia Piovesan.

No artigo de Wellington da Silva Conceição e Neiva Vieira da Cunha, é discutida a questão de jovens de periferia dar prosseguimento à vida acadêmica, após a conclusão da graduação. O grupo social de que tais jovens fazem parte, desconhece qualquer tipo de pós-graduação e, normalmente passam a conhecer os termos “mestrado e doutorado”, após algum membro da família ingressar na graduação e a partir daí ambicionar tais títulos; ainda assim, a percepção do que é de fato cada um desses cursos de pós-graduação é embaçado. Como é citado em um momento do artigo, os pais, ao serem perguntados sobre o que é o curso de mestrado e doutorado, muitas vezes afirmam: “é um curso pra virar professor de faculdade (...) Um curso pra poder ganhar

melhor”. (Página 104).

Também é enfatizada a dificuldade que alunos de baixa renda enfrentam para cursar uma pós-graduação, no sentido que, ainda que possa haver bolsa-auxílio, é complicado deixar um emprego certo por uma bolsa finita em algum tempo, sem nenhuma garantia de futura inserção no mercado de trabalho. Em muitos casos, a renda desses jovens é complementar a renda da família, quando não única. Portanto, trocar o trabalho pelos estudos, acaba por ser uma decisão com um nível de dificuldade que as classes de maior poder aquisitivo, não enfrentam, seja por terem apoio dos familiares, de cunho financeiro ou intelectual, ou porque não é necessário que se insiram tão imediatamente no mercado de trabalho, podendo se dedicar aos estudos e garantir uma posição melhor no futuro sem esforços estafantes.

Ainda há para esses jovens de classes populares um outro problema: como em seu grupo social a graduação é o patamar escolar máximo a ser atingido, muitas vezes os pais não vêem necessidade da continuação dos estudos, o que acaba por dificultar o acesso a pós-graduação, embora em muitos casos esses mesmos pais sintam orgulho da

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conquista de seus filhos, ainda que não consigam entender exatamente do que se trata um curso de pós-graduação Stricto Sensu ou Latu Sensu.

Sabe-se que o acesso à graduação, embora ainda precise avançar muito no sentido de inserir indivíduos de baixa renda nos bancos das universidades, vem sendo facilitado graças à pressão de movimentos sociais e com a conquista de políticas de ações afirmativas que acabaram por se tornar políticas públicas, como a política de cotas com corte social e/ou racial; com o ProUni e o REUNI, que indiscutivelmente tem contribuído para o aumento da diversidade dentro dos campus universitários Brasil afora.

O que vale ressaltar, no entanto, é uma infeliz constatação: a desigualdade permanece enorme. Isto é, mesmo que o acesso à graduação esteja mais facilitado, existem enormes dificuldades para os cursos de pós-graduação, que ainda são largamente dominados pela elite brasileira. Ora, é sabido que os pós-graduados conseguem melhores posições no mercado de trabalho, tem pontuações maiores em concursos públicos e são mais bem remunerados. Achou-se, portanto, uma nova forma de manter a desigualdade, inerente ao sistema vigente (capitalismo), é verdade, mas cabe a nós, profissionais qualificados de Serviço Social, auxiliar na formulação de propostas de políticas públicas que possam facilitar e/ou auxiliar o ingresso de jovens de periferia, em cursos de mestrado e doutorado; que esta seja mais uma barreira, mas que não seja intransponível, lutemos para que as desigualdades absurdas deste país, senão superadas, sejam ao menos, amenizadas.

Além dos aspectos teóricos este foi um artigo que me influenciou subjetivamente, principalmente para a questão da continuidade da vida acadêmica, após a conclusão da graduação, incentivando que eu prossiga com meus estudos, sendo uma personalidade emblemática1, visto que sou aluna oriunda de política de ação afirmativa.

No artigo da jurista Flavia Piovesan, que discute as ações afirmativas da perspectiva dos direitos humanos, o texto é iniciado de forma a destacar a Declaração Universal, promulgada em 1948, que concede a um campo então novo ao Direito, o dos “Direitos humanos”, uma valorização em todo cenário internacional. Assim, havia agora a obrigatoriedade à universalização dos direitos e, para tanto, criou-se um sistema protetivo, onde se buscou primeiramente um caráter de proteção geral, expressando um temor à diferença, de forma positiva; que uniu dezenas e centenas de nações em torno

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Conceito de Joaquim Barbosa, que se refere a pessoa que entra para a graduação e volta a sua origem, incentivando e auxiliando para que os demais indivíduos também ingressem na universidade.

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de objetivos maiores, que seriam a garantia da igualdade no acesso aos direitos assegurados a partir desta recente declaração de Direitos Humanos. Vale ressaltar alguns desses tratados, que tiveram grande adesão dos países de modo geral, como a Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial (ocorrida alguns anos depois, em 1965) e a Convenção sobre os Direitos da Criança (possuidora da maior adesão internacional). Em princípio, a Declaração Universal de 1948, buscava o acesso aos Direitos Humanos, através da igualdade formal, onde todos seriam iguais perante a lei. Ora, sabemos que não são todos iguais perante a lei e que o “homem de Direito” (ao menos a título de Brasil), tem gênero, cor e classe social, independente do que é garantido na Constituição Federal de 1988 (não se nega aqui o avanço democrático desta Constituição).

A nível internacional, o campo dos Direitos Humanos percebe que esta “igualdade formal” é insuficiente, porque, assim como no Brasil, em diversos outros países do mundo, há “o sujeito de Direito”; ou seja, embora a igualdade seja formalmente garantida a todos os cidadãos, sabe-se que há um segmento da população (especialmente o homem branco pertencente a elite), que é detentor deste direito garantido constitucionalmente e, que outros grupos, não pertencentes a tal segmento (mulheres, negros, idosos, homossexuais, deficientes físicos), não tem acesso a esta “igualdade formal”. Portanto, esta forma de igualdade, ao revés de ser abrangente, como buscou aferir, era pífia. Fez-se necessário, pois, uma especificação, um reconhecimento das particularidades dos sujeitos para garantir seus direitos, que lhe eram negados, embora lhe fosse garantido que todos eram iguais, independente de cor, raça, etnia, gênero, dentre outros aspectos. Portanto, começaram a surgir respostas diferenciadas para grupos específicos (não cabe aqui dizer grupos minoritários, visto que, os negros por exemplo, historicamente excluídos de lugares públicos, como escola e trabalho, são praticamente a metade da população brasileira e estão em enorme contingente mundo a fora). Sendo assim, começam a surgir as primeiras políticas para garantir um acesso igualitário a direitos para grupos com vulnerabilidade de ordem econômica, racial, de gênero, dentre outras. Desta forma, a diferença não seria apenas um instrumento de negação de direitos (como utilizar o gênero para excluir da política ou a raça para excluir do mercado de trabalho), seria utilizada a partir de então para a promoção de Direitos dos grupos específicos que não conseguiam alcançá-los por uma questão social, econômica e até mesma histórica (como é caso dos negros, devido a longos períodos de

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escravidão em diversos países, sobretudo no Brasil, onde segundo Flavia Piovesan, a extinção da escravatura se deu por último entre os países ocidentais).

Surgem, portanto, as ações afirmativas, baseadas no direito à diferença, à diversidade, o que garante aos grupos vulneráveis direito a um tratamento especial, uma “discriminação positiva”, para que a humanidade possa reduzir as exclusões as quais submeteu estes grupos específicos durante séculos.

Posterior a Declaração de 1948, houve, em 1965, formulada pela ONU, a convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial, onde abomina e condena a prática em questão, invalidando qualquer doutrina de superioridade baseada na raça, cor ou etnia.

Para erradicar todas as formas de discriminação, os Direitos Humanos adotam a postura punitiva, onde, como o nome sugere, pune e reprime qualquer prática que seja discriminatória. Porém, apenas punir, não se faz suficiente, visto que, é preciso divulgar o direito à diferença, garantindo assim, a promoção da igualdade, haja vista que só se chega próximo a igualdade quando as especificidades de grupos vulneráveis são reconhecidas e respeitas. Para tanto, os Direitos Humanos, também adotam a postura promocional, fomentando a importância da igualdade e do reconhecimento as particularidades de todos os sujeitos de Direito.

Para esta promoção da igualdade, percebeu-se a necessidade de criar políticas compensatórias, que tivessem a capacidade de suprir, de alguma forma, as necessidades de acesso aos direitos destes grupos específicos que não o tinham, ou o tinham pela metade. Surgem assim, as políticas de ação afirmativa, instrumentos capazes de acelerar a inclusão de grupos excluídos em espaços antes não permitidos, e de garantir o acesso a direitos que historicamente vem sido negados a estes grupos. Surgem então para remediar uma situação de séculos de discriminação, seja racial, de gênero ou outras. As ações afirmativas garantem uma maior pluralidade e diversidade em locais anteriormente dominados pelo “Homem de Direito”. Um exemplo recente de tal capacidade da política afirmativa, está na adesão do sistema de cotas pelas universidades públicas brasileiras; espaço amplamente dominado por brancos, que atualmente, conta com um percentual crescente de negros (embora ainda seja muito menor do que o percentual de brancos). Além disso, também foram as políticas de ação afirmativa que garantiram pelo menos 20% das vagas para mulheres em espaços na política, o que algumas décadas atrás era impensável.

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No Brasil, as ações afirmativas são medidas urgentes e necessárias para que seja possível decompor o ciclo vicioso de discriminação e exclusão em que está envolto o país. Raça, etnia, gênero, sempre foram fatores utilizados para excluir grupos, impossibilitar acessos. Então, que sejam hoje, estes mesmos fatores, através da discriminação positiva, as chamadas políticas afirmativas, a garantir a inclusão destes grupos em espaços públicos, políticos, e em qualquer outro espaço que outrora não poderiam estar.

Desta forma, fui instigada a escrever sobre uma temática a minha escolha, que perpassasse a questão das políticas de ação afirmativa, foco do projeto de pesquisa ao qual estou vinculada. As leituras foram a fonte para a escolha da categoria que gostaria de trabalhar. Os textos citados não configuram exatamente autores estudiosos da temática que escolhi trabalhar, mas trouxeram em seus artigos questões que comprovam a exclusão racial existente no Brasil. Além disso, a categoria que escolhi para o desenvolvimento de meu futuro artigo, reflete uma conjuntura pessoal, haja vista que sou uma aluna negra, oriunda de classe popular, estudante de um campus universitário elitizado, como é o caso da PUC. Tal oportunidade só foi concretizada graças a uma política de ação afirmativa implementada na PUC-Rio, desde 1994, que é a antiga bolsa de Ação Social, atual bolsa PUC.

Atualmente, meu foco na pesquisa, enquanto aluna de iniciação científica, está voltado para a confecção de um artigo sobre uma categoria específica, intrínseca ao projeto de pesquisa ao qual estou vinculada. A temática em questão é raça. Para elaborar o artigo, que se encontra em fase de construção, fui orientada a ler, resenhar e fichar diversos autores estudiosos do tema, como Antônio Guimarães, que em seu texto “preconceito de cor e racismo no Brasil” (2004), analisa a formação do campo temático dos estudos nas relações raciais no Brasil e, Carlos Hasenbalg, que em seu livro “Discriminação e desigualdades raciais no Brasil” (1979), analisa o racismo enquanto estrutura social e desmitifica o termo “democracia racial”, dando o embasamento teórico necessário ao movimento social negro, para que pudessem executar na prática o que Hasenbalg pesquisava no âmbito acadêmico.

Considerações gerais

Na primeira fase de minha participação na pesquisa, foram trabalhadas duas categorias teóricas, de grande importância para a compreensão da pesquisa e de seus objetivos, são elas: ação afirmativa e movimento social.

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Trabalhou-se ação afirmativa através, principalmente, dentre diversos autores, com o conceito teórico de Joaquim Barbosa, que define política de ação afirmativa como sendo

políticas públicas (e privadas) voltadas à concretização do princípio constitucional da igualdade material e à neutralização dos efeitos da discriminação racial, de gênero, de idade, de origem nacional e de compleição física (GOMES, J.B., 2001).

A categoria movimento social foi trabalhada a partir do conceito teórico de Andréia Clapp Salvador, descrito a seguir:

movimentos sociais, (...) lutavam pela inclusão de determinados segmentos da sociedade, aos quais foram historicamente negados seus direitos. Tais movimentos consideram que a proposta de uma democracia baseada na universalidade dos direitos civis, políticos e sociais, não vem se cumprindo. Para eles, os direitos, mais notadamente os direitos sociais, não atendem igualitariamente a todos. (SALVADOR, A. 2009).

Logo no início da pesquisa, percebeu-se que existem movimentos sociais de todos os gêneros, números e graus e, que a riqueza das diferenças é não só importante como necessária, para que se possam construir espaços públicos, como universidade e mercado de trabalho, mais plurais e diversificados.

Este enfoque inicial foi dado ao PVNC e ao consequente ingresso de estudantes negros e carentes nas universidades brasileiras, o que é um grande avanço, dadas pesquisas recentes de vinte ou até mesmo dez anos passados, quando se começou a pensar em política de cotas.

Os debates e discussões foram de grande valia, contribuindo para o avanço acadêmico.

Atualmente, este estudo encontra-se em outro momento, onde a partir do levantamento bibliográfico, leitura do material, discussão em grupo, participação em seminários, estudos para elaboração de um artigo, pode-se conhecer algumas formas de ação afirmativa adotadas nos países e suas particularidades. No caso brasileiro, percebeu-se que as ações afirmativas tem diversas configurações, que não se restringem as cotas universitárias; ultrapassa esta discussão e vai além, tornando-se presente em ações governamentais desde a década de 1990. Com base em estatísticas recentes, verificou-se que as políticas de ação afirmativa vem propiciando a inclusão de membros

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de grupos sociais que vivem em condição de subalternidade, nas universidades do país. Nos últimos anos, o número de universidades públicas que passou a adotar algum tipo de política de ação afirmativa, tem subido consideravelmente. Esta nova conjuntura vem confirmar a direção dada pelo Ministério da Educação que, ao adotar políticas de ação afirmativa, passa a garantir uma maior igualdade no acesso de diferentes grupos sociais. Desta forma, estas políticas vem se constituindo como um caminho viável de garantia dos direitos sociais, contribuindo para a redução da desigualdade social.A recente aprovação do Supremo Tribunal Federal, que julgou a constitucionalidade das cotas raciais nas universidades públicas brasileiras, vem coroar e ressaltar a importância da política de ação afirmativa no Brasil e, sobretudo, reconhecer o seu poder em potencial de garantir uma maior diversidade e pluralidade nos espaços que perpassam as relações de poder, como é o caso das universidades.

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