• Nenhum resultado encontrado

DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRECTIVO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRECTIVO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)"

Copied!
31
0
0

Texto

(1)

DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRECTIVO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio;

Considerando os objectivos da actividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 42.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/066/10;

I. DO PROCESSO I.1. Origem do processo

1. A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) recebeu, em 6 de Maio de 2010, uma exposição de T., respeitante ao procedimento adoptado para cobrança das facturas/recibos emitidos pelo HPP Hospital dos Lusíadas (doravante Hospital dos

(2)

Lusíadas), detido pela Entidade HPP Lusíadas, S.A., com o NIPC n.º 505962403, sede na Avenida da República, n.º 35, 8.º andar em 1050-186 Lisboa, e registado

no SRER da ERS sob o n.º 138331.

2. A referida reclamação foi inicialmente tratada no âmbito do processo de reclamação com o n.º de identificação REC(…), sendo que após análise preliminar da mesma, o Conselho Directivo da ERS, por despacho de 17 de Junho de 2010, ordenou a abertura de processo de inquérito registado sob o n.º ERS/066/10.

I.2. A exposição do utente T.

3. Sumariamente, o utente T., alega que cerca de dez meses após a prestação cuidados de saúde pelo Hospital dos Lusíadas, e após haver liquidado a factura que corresponderia a tal prestação, recepcionou uma nova factura referente ao mesmos cuidados de saúde.

I.3. Da exposição subsequente da utente H.

4. Em momento subsequente, a ERS recebeu a reclamação apresentada pela utente H.;

5. E pela qual, sumariamente, trazia de novo ao conhecimento da ERS que na sequência da prestação de cuidados de saúde, no dia 29 de Março de 2010, junto do prestador denunciado, lhe terá sido apresentada, no dia da alta, uma factura para pagamento tendo a mesma sido liquidada imediatamente;

6. Ocorre que, cerca de cinco meses mais tarde, a utente recebeu uma nova factura relativa ao cuidado de saúde prestado em 29 de Março de 2010.

7. Considerando que o objecto e prestador visado em tal reclamação coincidiam com aquela já em análise no âmbito do presente processo, foi a reclamação em questão incorporada nos autos de forma a aqui ser analisada.

I.4. Diligências

(3)

8. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as diligências consubstanciadas:

(i) no pedido de elementos ao Hospital dos Lusíadas de 13 de Julho de 2010;

(ii) no pedido de elementos ao exponente T. de 13 de Julho de 2010;

(iii) na diligência telefónica com a utente H. de 21 de Outubro de 2010;

(iv) na análise das respostas a tais pedidos de elementos;

(v) em pesquisa no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados

(SRER) da ERS.

II. DOS FACTOS II.1 Factos relativos à exposição do utente T.

9. O utente deu entrada na “Unidade de Atendimento Urgente” do Hospital dos Lusíadas, em 28 de Junho de 2009, “apresentando um traumatismo nos dedos do pé direito, conforme constatado pelo médico de serviço” – cfr. reclamação do utente, carta do Hospital dos Lusíadas à ERS, em 30 de Julho de 2010, bem como os documentos contabilísticos emitidos pelo Hospital dos Lusíadas relativos a tal episódio e juntos aos autos.

10. No momento da alta, em 28 de Junho de 2009, foi apresentado ao utente uma factura/recibo n.º (…), no valor de (…)€, que o mesmo liquidou de imediato - cfr. factura/recibo n.º(…), de 28 de Junho de 2009, junta aos autos.

11. Sendo que, no entanto e cerca de dez meses mais tarde, em 9 de Abril de 2010, o utente recebeu em sua casa uma carta do Hospital dos Lusíadas onde se refere, e no que importa realçar, que:

“Junto remetemos n/ documento n.º FD(…) referente aos serviços de saúde prestados na nossa Unidade Hospitalar:

O pagamento da dívida deve ser feito num prazo de 15 dias após a recepção desta carta, […].

(4)

[…] agradecemos desde já a V. Exa., a brevidade na liquidação total do valor em dívida.” – cfr. carta do Hospital dos Lusíadas enviada ao utente, em 9 de Abril de 2010 e factura n.º FD(…) em anexo a tal carta, juntas aos autos.

12. Subsequentemente, o utente apresentou, em 15 de Abril de 2010, a sua reclamação relativa à recepção de tal factura para pagamento.

13. Após a reclamação do utente, o Hospital dos Lusíadas enviou uma carta ao mesmo informando que “[a]pós averiguação dos factos alegados, concluí[ram] que efectivamente [o utente] recorreu a 28 de Junho de 2009, à […] Unidade de Atendimento Urgente, tendo sido assistido pelo médico de serviço, que prescreveu Exames Auxiliares de Diagnóstico, tendo, posteriormente, solicitado a presença do médico ortopedista em regime de chamada.”;

14. Mais referindo que “[e]fectivamente, no momento do pagamento, na Unidade de Atendimento Urgente, não [...] foi facturada a consulta de Ortopedia.”;

15. E que “[…] a colaboradora que emitiu a factura/recibo (…) encontrava-se há pouco tempo em funções […] não tendo facturado a consulta em questão.”;

16. Apresentando ainda “desculpas pelo lapso temporal decorrente entre a realização do acto médico e a sua facturação.” - cfr. carta do Hospital dos Lusíadas ao utente de 27 de Abril de 2010 e junta aos autos.

17. Com o intuito de melhor esclarecer os factos relatados na exposição do utente, por pedido de elementos de 13 de Julho de 2010, foi solicitado ao Hospital dos Lusíadas que prestasse um conjunto de esclarecimentos e, concretamente, “[…] a prestação das informações infra indicadas:

“1. Justificação sobre o envio ao exponente da factura/recibo n.º F(…) tendo em atenção

(i) que os cuidados de saúde foram prestados ao utente no dia 28 de Junho de 2009;

(ii) que nessa mesma data, o exponente solicitou a

factura/recibo dos serviços prestados tendo a mesma sido emitida e liquidada pelo exponente.

(5)

2. […] envi[o de] cópia de todas as facturas e / ou recibos emitidos […] ao utente T. pelos serviços de saúde prestados.” - cfr. o referido pedido de elementos junto aos autos.

18. Na sua resposta à ERS, em 30 de Julho de 2010, veio o Hospital dos Lusíadas esclarecer que

i) Após ter sido “[s]olicitada e realizada, [no dia 28 de Junho de 2009], uma radiografia ao pé direito, foi constatada a fractura de dedos do pé e pedida a observação por Médico Especialista de Ortopedia […].”;

ii) “[d]a consulta de ortopedia, resultou a confirmação do diagnóstico da fractura de dedos do pé, tendo sido realizada a sindactilização dos dedos e prescrita a medicação sintomática e carga parcial”;

iii) “[o] atendimento na UAU [Unidade de Atendimento Urgente], o exame de radiologia e a consulta de Ortopedia foram registados no processo do Reclamante no próprio dia 28.06.2009, respectivamente, às 13H59M, 14H07 e 14H19M, tendo sido nesta data emitida (às 15H08M) e paga a Factura/Recibo n.º (…), que incluía além dos valores correspondentes a Fármacos e Consumíveis Clínicos, apenas os montantes correspondentes ao atendimento urgente e ao RX efectuado”;

iv) acontece que “provavelmente por erro da colaboradora que emitiu a

Factura/Recibo no dia do atendimento urgente, dessa Factura/Recibo não constava a consulta de ortopedia realizada porque no sistema informático esse acto médico não foi dado como realizado, ficando pendente, e só veio a ser facturada em Abril de 2010, na sequência da auditoria aos actos pendentes de facturação”;

v) “[c]onsequentemente, foi emitida a Factura n.º FD(…), de

09.04.2010, remetida ao Reclamante por carta da mesma data.”.

19. Relativamente à justificação sobre o envio ao exponente da factura/recibo n.º F(…), o Hospital veio esclarecer que “efectivamente, no dia da prestação dos

(6)

cuidados de saúde (atendimento urgente), ao Reclamante, foram facturados e pagos os actos respeitantes a esse atendimento urgente”;

20. E que “[…] não foi, na altura facturada (nem paga) a consulta de Ortopedia, realizada na mesma data e no decurso dos procedimentos decorrentes deste episódio de atendimento urgente.” - cfr. resposta do Hospital dos Lusíadas à ERS, de 30 de Julho de 2010 e junta aos autos.

21. Mais junta em anexo:

i) a factura/recibo n.º (…) de 28 de Junho de 2010;

ii) a factura n.º FD(…), de 9 de Abril de 2010;

iii) cópia da carta de envio da factura FD(…) de 9 de Abril de 2010; e

iv) “cópia do registo informático respeitante ao Reclamante, de onde consta a totalidade dos actos médios facturados no episódio de atendimento urgente ocorrido a 28.06.2009”.

II.2 Factos relativos à exposição da utente H.

22. A utente H. deu entrada na Unidade de Atendimento Urgente do Hospital dos Lusíadas, em 29 de Março de 2010 – cfr. resposta do Hospital dos Lusíadas à utente, de 12 de Janeiro 2010 e junta aos autos.

23. Posteriormente, e no momento da alta, foi apresentada à utente uma factura/recibo n.º (…), no valor de (…)€, que a mesma liquidou de imediato - cfr. factura/recibo, de 29 de Março de 2010, junta aos autos;

24. Ocorre que, cinco meses mais tarde, recebeu em sua casa uma carta do Hospital dos Lusíadas com a factura n.º FD(…), de 4 de Agosto de 2010, no valor de (…)€ - cfr. por exemplo, a referida factura n.º FD(…), de 4 de Agosto de 2010, e exposição da utente, juntas aos autos.

25. Subsequentemente, a utente apresentou, em 11 de Agosto de 2010, a sua reclamação relativa à recepção de tal factura.

26. Na resposta do Hospital dos Lusíadas à reclamação da utente, datada de 18 de Agosto de 2010, o prestador informou que a mesma “recorreu à […] Unidade de

(7)

Atendimento Urgente, em 29 de Março de 2010, tendo sido observada pela médica de serviço na referida Unidade, que prescreveu a realização de RX à coluna e ao ombro direito, tendo encaminhado [a utente] para a especialidade de Ortopedia.”;

27. E que “[…] em 29/03/2010, no momento da facturação de actos médicos

realizados, apenas […] foram facturadas as consultas de urgência e o RX à coluna cervical, de acordo com a factura/recibo 2010/50921 […]”;

28. Mais referindo que “[o]s Rx ao ombro não foram facturados no momento, dado que o acto Rx de ombro (2 incidências), tal como foi prescrito e inserido em sistema informático, não consta da tabela da Ordem dos Médicos, logo das tabelas da AdvanceCare. Esta questão não foi detectada no momento da […] saída da UAU.”. 29. Assim sendo “[…] só mais tarde esta questão foi detectada. Por este motivo,

tiveram que ser corrigidos os actos no sistema informático, tendo-se facturado dois Rx ao ombro de uma incidência cada, de acordo com a factura FD(…) […]” – cfr. resposta do Hospital dos Lusíadas à exponente, de 18 de Agosto de 2010, junta aos autos.

III. DO DIREITO III. 1. Das atribuições e competências da ERS

30. De acordo com o n.º 1 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, a ERS tem por missão a regulação da actividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde.

31. As atribuições da ERS, de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, compreendem “[…] a supervisão da actividade e funcionamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde no que respeita:

[…]

b) À garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde e dos demais direitos dos utentes;

c) À legalidade e transparência das relações económicas entre os diversos operadores, entidades financiadoras e utentes.”.

(8)

32. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 1 do artigo 8.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, “[...] todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, do sector público, privado e social, independentemente da sua natureza jurídica, nomeadamente hospitais, clínicas, centros de saúde, laboratórios de análises clínicas, termas e consultórios

”.

33. Consequentemente, o Hospital dos Lusíadas é um estabelecimento prestador de cuidados de saúde, para efeitos do referido art. 8.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio.

34. No que se refere ao objectivo regulatório previsto na alínea b) do artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, de assegurar o cumprimento dos critérios de acesso aos cuidados de saúde, a alínea d) do artigo 35.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, estabelece ser incumbência da ERS “zelar pelo respeito da liberdade de escolha nos estabelecimentos de saúde privados”; e

35. No que concerne ao objectivo regulatório previsto na alínea d) do mesmo artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, de velar pela legalidade e transparência das relações económicas entre todos os agentes do sistema, a alínea a) do artigo 37.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, estabelece que incumbe ainda à ERS analisar as relações económicas nos vários segmentos da economia da saúde, tendo em vista o fomento da transparência, da eficiência e da equidade do sector, bem como a defesa do interesse público e dos interesses dos utentes;

36. Podendo fazê-lo mediante o exercício dos seus poderes de supervisão consubstanciado ”no dever de velar pela aplicação das leis e regulamentos e demais normas aplicáveis às actividades sujeitas à sua regulação”, bem como na emissão de ordens e instruções, bem como recomendações ou advertências individuais, sempre que tal seja necessário – cfr. al. b) do artigo 42.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio.

37. Ora, do comportamento do Hospital dos Lusíadas, ao emitir facturas posteriores, uma das quais dez meses após a prestação dos serviços de saúde atinentes aos episódios de cuidados de saúde a que respeita, e sem que tenha aparentemente sido prestada qualquer informação prévia sobre a possibilidade de tanto vir a ocorrer;

(9)

38. Resulta a necessidade da análise de tal situação sob o prisma de uma eventual violação dos interesses legítimos dos utentes, e in extemis, de todo e qualquer utente que se encontre em situação similar;

39. Designadamente por lesão do interesse fundamental da transparência nas relações com os utentes;

40. Bem como por lesão dos interesses financeiros dos utentes, que desde logo estabelecem não somente o direito à informação relativamente aos aspectos económicos da prestação de cuidados de saúde, tal como estabelecem o direito dos utentes à quitação relativamente aos cuidados de saúde que lhe foram prestados.

41. Pelo que o comportamento em causa exige a intervenção regulatória da ERS ao abrigo e no âmbito das competências que lhe foram legalmente atribuídas, de forma a proceder à sua análise e, caso necessário, obstar à sua repetição em situações análogas futuras.

III.2. Do enquadramento legal da prestação de cuidados de saúde

III.2.1. Dos direitos e interesses legítimos dos utentes – Lei de Bases da Saúde

42. A relação que se estabelece entre prestadores de cuidados de saúde e os seus utentes deve pautar-se pela verdade, completude e transparência em todos os aspectos da mesma;

43. Sendo que tais características devem revelar-se em todos os momentos da relação, e incluindo nos momentos que antecedem a própria prestação de cuidados de saúde.

44. Nesse sentido, o direito à informação – e o concomitante dever de informar – surge aqui com especial relevância e é dotado de uma importância estrutural e estruturante da própria relação.

45. Na verdade, o direito do utente à informação não se limita ao que prevê a alínea e) do n.º 1 da Base XIV da Lei n.º 48/90, de 24 de Agosto, para efeitos de consentimento informado e esclarecimento quanto a alternativas de tratamento e evolução do estado clínico;

(10)

46. Trata-se, antes, de um princípio que deve modelar todo o quadro de relações actuais e potenciais entre utentes e prestadores de cuidados de saúde.

47. A informação não pode, por isso, deixar de ser completa, verdadeira e inteligível;

48. Só assim se logrando obter a referida transparência na relação entre prestadores de cuidados de saúde e utentes.

49. Por outro lado, a informação errónea do utente, a falta de informação ou a omissão de um dever de informar são suficientes para distorcer o exercício da própria liberdade de escolha dos utentes;

50. Para além de facilitarem – ou mesmo criarem – situações de lesões de direitos e interesses financeiros dos utentes.

51. Ora, nas situações aqui em apreço coloca-se a questão de analisar a prestação de informação de maneira correcta sobre a totalidade dos aspectos financeiros decorrentes dos cuidados de saúde prestados no Hospital dos Lusíadas;

52. E concretamente analisar se foi, ou não, lesado o direito à informação dos utentes pelo facto de o Hospital dos Lusíadas ter:

i) no caso do utente T., comunicado a existência de valores por liquidar de

cerca de dez meses após a emissão da primeira factura; e

ii) no caso da utente H., comunicado, cinco meses após a prestação de cuidados pelo prestador e do pagamento de uma primeira factura, a existência de valores por liquidar relativos a “dois Rx ao ombro de uma incidência cada, de acordo com a factura FD(…) […]”.

53. Sublinhe-se que só com base na absoluta completude, veracidade e transparência de informação é que poderá ser salvaguardado o direito do utente de escolher livremente o agente prestador de cuidados de saúde (alínea a), do n.º 1, da Base XIV da Lei de Bases da Saúde).

54. É óbvio que esta livre escolha ocorrerá em momento anterior à efectiva prestação de cuidados de saúde pelo que, se ao utente for dado a conhecer os serviços e os preços correspondentes em momento anterior à sua realização e se o mesmo souber que será obrigado ao seu pagamento num acto único, o exercício da sua liberdade de escolha toma contornos de efectiva realidade e não de mera orientação sem conteúdo.

(11)

55. Note-se ainda que os documentos de quitação devem pautar-se por princípios de verdade e transparência, designadamente devendo ser possível determinar quem é a entidade prestadora do serviço, bem como a discriminação de todos os serviços prestados, contendo a descrição inteligível e completa do(s) acto(s) praticado(s) e o respectivo preço.

56. Caso tal não ocorra, os alegados recibos não poderão como tal ser considerados; 57. Pois só assim será fornecida a correcta informação quanto à concreta posição na

relação gerada.

III.2.2. Da qualidade do utente-consumidor na prestação de serviços de saúde – Lei do Consumidor

58. O utente assume a qualidade de consumidor na relação originada com o prestador de cuidados de saúde, por a Lei n.º 24/96, de 31 de Julho, que aprovou o regime legal aplicável à defesa do consumidor (Lei do Consumidor), definir como consumidor

“aquele a quem sejam fornecidos bens, prestados serviços ou transmitidos quaisquer direitos, destinados a uso não profissional, por pessoa que exerça com carácter profissional uma actividade económica que vise a obtenção de benefícios.” – cfr. n.º 1 do artigo 2.º do referido diploma legal.

59. E nesse seguimento, deve ter-se presente que

“O consumidor tem direito:

[…]

d) À informação para o consumo;

e) À protecção dos interesses económicos;

f) À prevenção e à reparação dos danos patrimoniais ou não patrimoniais que resultem da ofensa de interesses ou direitos individuais homogéneos, colectivos ou difusos […]” – cfr. artigo 3.º da Lei do Consumidor.

(12)

60. Ora, concretiza a Lei do Consumidor, no que respeita ao “Direito à informação em particular”, que “O fornecedor de bens ou prestador de serviços deve, tanto nas negociações como na celebração de um contrato, informar de forma clara,

objectiva e adequada o consumidor, nomeadamente, sobre características,

composição e preço do bem ou serviço […]” – cfr. n.º 1 do artigo 8.º da referida Lei do Consumidor, destaque nosso;

61. Sendo certo que “O fornecedor de bens ou o prestador de serviços que viole o dever de informar responde pelos danos que causar ao consumidor […]” – cfr. n.º 5 do artigo 8.º da Lei do Consumidor.

62. Por outro lado, e no tocante ao “Direito à protecção dos interesses económicos”, o n.º 1 do artigo 9.º da Lei do Consumidor estatui que

“O consumidor tem direito à protecção dos seus interesses económicos, impondo-se nas relações jurídicas de consumo a igualdade material dos intervenientes, a lealdade e a boa fé, nos preliminares, na formação e ainda na vigência dos contratos”;

63. Sendo expressamente determinado que

“O consumidor não fica obrigado ao pagamento de bens ou serviços que não tenha prévia e expressamente encomendado ou solicitado, ou que não constitua cumprimento de contrato válido, não lhe cabendo, do mesmo modo, o encargo da sua devolução ou compensação, nem a responsabilidade pelo risco de perecimento ou deterioração da coisa.” – cfr. n.º 4 do artigo 9.º da Lei do Consumidor, destaque nosso.

64. Assim, também por força dos aludidos dispositivos, o prestador de cuidados de saúde deve assegurar o direito do utente-consumidor a ser correctamente informado da sua posição contratual.

III.2.3. Da situação dos utentes

65. Recorde-se que o utente T., no momento da alta, em 28 de Junho de 2009, pagou a totalidade da conta que lhe foi apresentada, no valor de (…) €;

(13)

66. Não tendo o mesmo sido informado que ainda estaria por facturar uma consulta de ortopedia e da sua necessidade de pagamento em momento posterior.

67. O próprio Hospital alegou que “no dia da prestação dos cuidados de saúde (atendimento urgente), ao [utente], foram facturados e pagos os actos respeitantes a esse atendimento urgente.”;

68. Tendo ademais acrescentado que “[…] no momento do pagamento, na Unidade de Atendimento Urgente, não [...] foi facturada a consulta de Ortopedia.”;

69. E que “[…] não foi, […] paga […] a consulta de Ortopedia, realizada na mesma data […]” – cfr. resposta à ERS do Hospital dos Lusíadas, em 30 de Julho de 2010 e junta aos autos.

70. Relembre-se ainda que a utente H., deu entrada na Unidade de Atendimento Urgente do Hospital dos Lusíadas e, no momento da alta, foi-lhe apresentada uma factura, que a mesma liquidou de imediato;

71. Não tendo a mesma sido, igualmente, informada que ainda estaria por facturar os Rx ao ombro, e da sua necessidade de pagamento em momento posterior.

72. O que foi confirmado pelo próprio prestador, que na sua resposta à reclamação da utente, referiu que “[o]s Rx ao ombro não foram facturados no momento”;

73. E que “[e]sta questão não foi detectada no momento da […] saída da UAU.”.

74. Do alegado pelos utentes e pelo próprio Hospital, resulta assim, e desde logo, que a informação prestada não foi, completa, verdadeira e transparente, designadamente quanto ao valor de alguns actos a pagar e relativos aos episódios de urgência realizados.

75. De tudo o exposto resultaria que os direitos e interesses legítimos dos utentes se encontrariam claramente prejudicados, por se afigurar extremamente difícil, passados vários meses depois do episódio de “Atendimento Urgente” no Hospital dos Lusíadas, determinar qualquer desconformidade entre a facturação e os serviços efectivamente prestados;

76. Como evidência, por exemplo, o caso do utente T., que apenas dez meses depois do episódio de “Atendimento Urgente”, terá sido informado do valor que faltava liquidar.

(14)

77. Ainda assim, o comportamento do Hospital dos Lusíadas contraria claramente o dever imposto a todos os prestadores de informar de forma completa, verdadeira e inteligível todos os seus utentes e potenciais utentes sobre todos os aspectos relevantes, e designadamente de carácter financeiro, resultantes da prestação dos serviços médicos contratados; e

78. Essa falta de transparência na informação é tão mais evidente quando se conclui que os utentes não são conhecedores se, afinal, se mantém ou não na posição de devedores por muito mais tempo;

79. Pelo menos, pelo tempo que a lei determina até à obrigatoriedade da emissão de factura e, in extremis, até à prescrição do direito do prestador de cuidados de saúde em reclamar o seu crédito.

80. Ou seja, resulta dos elementos coligidos no processo que o procedimento adoptado pelo Hospital dos Lusíadas pode não ser apto a garantir, com rigor e transparência, aos utentes que ali se dirigem, e aos quais seja emitida uma factura/recibo pelos serviços prestados, qual a sua posição na relação gerada entre ambos.

81. E tal resulta na violação dos direitos dos utentes à informação tal como plasmados na Lei de Bases da Saúde e no ordenamento que rege as relações entre aquela e o prestador de cuidados.

82. Reitera-se, assim, que a relação dos prestadores com os utentes deve ser pautada por princípios de completude, verdade e transparência e, em todo o momento, conformada pelo direito dos utentes à informação, enquanto concretização do dever de respeito dos direitos e interesses legítimos dos utentes tal como enquadrado.

83. Por outro lado, por força do disposto nos supra aludidos dispositivos da Lei n.º 24/96, de 31 de Julho, também daí resulta que a aceitabilidade do procedimento seguido pelo prestador – e que, note-se, não distingue as situações que pela sua excepcionalidade justificariam uma efectiva facturação posterior ao momento da cessação da relação contratual com o utente – resultaria na violação do direito do utente a ser correctamente informado da sua posição contratual, bem como no seu interesse de se considerar exonerado de qualquer obrigação, mesmo após o seu cabal cumprimento.

84. Note-se que, a aceitar-se tal procedimento, ter-se-ia que igualmente aceitar que os utentes poderiam ser sempre interpelados pelo prestador e quando este assim o entendesse;

(15)

85. Eventualmente, quando os serviços competentes do prestador decidissem (novamente) analisar o processo em causa e contabilizar (ou recontabilizar) os valores resultantes da prestação;

86. Resultando esta possibilidade num verdadeiro desequilíbrio entre as partes e na desigualdade material dos intervenientes.

III.3. Da obrigação da emissão do documento de quitação por parte do prestador III.3.1. Do seu enquadramento legal

III.3.1.1. No âmbito da Lei Civil

87. Em primeiro lugar, esclareça-se que a prestação de cuidados de saúde em unidades privadas implica a celebração de um contrato de prestação de serviços médicos, que pacificamente se considera como genericamente enquadrado no disposto no artigo 1154.º do Código Civil.

88. Consequentemente, entre um estabelecimento prestador de cuidados de saúde e um utente estabelece-se uma relação jurídica, de natureza contratual, que origina a subjacente relação creditícia.

89. Ou seja, e sendo o contrato de prestação de serviço aquele em que uma das partes se obriga a proporcionar à outra certo resultado do seu trabalho intelectual ou manual, com ou sem retribuição, será o estabelecimento prestador de cuidados de saúde credor do utente do valor correspondente a tal retribuição pelo que tenha sido o seu trabalho prestado e relativo aos serviços de saúde objecto de tal contrato.

90. Ora, determina o artigo 787.º do Código Civil sob a epígrafe “Direito à quitação” que “Quem cumpre a obrigação tem o direito de exigir quitação daquele a quem a prestação é feita, devendo a quitação constar de documento autêntico ou autenticado ou ser provida de reconhecimento notarial, se aquele que cumpriu tiver nisso interesse legítimo.” – cfr. n.º 1 do artigo 787.º do Código Civil;

91. Sendo que nos termos do n.º 2 de tal norma, “O autor do cumprimento pode recusar a prestação enquanto a quitação não for dada, assim como pode exigir a quitação depois do cumprimento.”.

92. Além do mais, dispõe o n.º 1 do artigo 786.º do mesmo diploma legal que

Se o credor der quitação do capital sem reserva dos juros ou de outras prestações acessórias, presume-se que estão pagos os juros ou prestações.”;

(16)

93. E o n.º 3 que

A entrega voluntária, feita pelo credor ao devedor, do título original do crédito faz presumir a liberação do devedor e dos seus condevedores, solidários ou conjuntos, bem como do fiador e do devedor principal, se o título é entregue a algum destes.”.

94. Consequentemente, e desde logo ao abrigo do direito civil, o utente (devedor) que cumpra a sua obrigação do pagamento da retribuição do estabelecimento prestador dos serviços objecto do contrato tem direito à quitação.

III.3.1.2. No âmbito da Lei Fiscal e Tributária

95. No que respeita à obrigação do prestador de emitir a competente factura pelos serviços prestados, constata-se que o Código do IVA determina no n.º 1 do artigo 35.º que a factura deve ser emitida o mais tardar no 5.º dia útil seguinte ao do momento em que o imposto é devido;

96. Sendo que, nos termos da al. b) do n.º 1 desta última disposição legal o imposto pela prestação de serviços é devido no momento da sua realização e no caso de a prestação ser de carácter continuado, resultante de contratos que dêem lugar a pagamentos sucessivos, considera-se que os bens são postos à disposição e as prestações de serviços são realizadas no termo do período a que se refere cada pagamento, sendo o imposto devido e exigível pelo respectivo montante – cfr. n.º 3 do artigo 7.º do referido Código do IVA;

97. Devendo o prestador, nos termos da al. b) do n.º 1 do artigo 29.º do mesmo diploma legal “Emitir uma factura ou documento equivalente por cada transmissão de bens ou prestação de serviços, tal como vêm definidas nos artigos 3.º e 4.º do presente diploma, bem como pelos pagamentos que lhes sejam efectuados antes da data da transmissão de bens ou da prestação de serviços”.

98. Reforça ainda a lei comercial no seu artigo 476.º que “O vendedor não pode recusar ao comprador a factura das coisas vendidas e entregues, com o recibo do preço que houver embolsado.”.

99. Por outro lado, nos termos da alínea a) do n.º 3 do artigo 115.º do Código do IRC “Todos os lançamentos devem estar apoiados em documentos justificativos, datados e susceptíveis de serem apresentados sempre que necessário.”;

100. Resultando numa infracção fiscal a não emissão de facturas ou recibos nos termos do Regime Geral das Infracções Tributárias.

(17)

101. Daqui resulta a obrigação do prestador em emitir um documento – factura/recibo – que comprove o pagamento de determinado preço resultante da prestação de determinado serviço, in casu, de cuidados de saúde que servirá

(i) quer os interesses do utente que, desta forma, recebe quitação do valor que liquidou pelos cuidados de que foi alvo;

(ii) quer do próprio prestador que, só assim, cumpre as obrigações

fiscais e tributárias que assumiu perante o Estado e que lhe advêm do facto de ser credor do preço de um serviço por si prestado.

102. E independentemente de os serviços médicos fazerem parte do conjunto de serviços que podem encontrar-se isentos de IVA, nos termos no n.º 2 do artigo 9.º do CIVA, tanto não obsta, como visto, à obrigatoriedade de emissão e entrega de facturas ou recibos no referido prazo legal;

103. Uma vez que as obrigações estabelecidas no referido artigo 29.º do CIVA são

aplicáveis às “pessoas singulares ou colectivas que, de um modo independente e com carácter de habitualidade, exerçam actividades de produção, comércio ou prestação de serviços, incluindo as actividades extractivas, agrícolas e as das profissões livres, e, bem assim, as que do mesmo modo independente pratiquem uma só operação tributável, desde que essa operação seja conexa com o exercício das referidas actividades, onde quer que este ocorra, ou quando, independentemente dessa conexão, tal operação preencha os pressupostos da incidência real de IRS e de IRC.” – cfr. al. a) do n.º 1 do artigo 2.º do CIVA.

III.3.2. Da relação originada entre os utentes e o Hospital dos Lusíadas

104. Na sequência do episódio de atendimento urgente do utente T. no Hospital dos

Lusíadas, foi emitida uma primeira factura relativa aos cuidados de saúde prestados no valor de (…)€, tendo a mesma sido liquidada de imediato – cfr. factura n.º 2009/58340, de 28 de Junho de 2009, junta aos autos;

105. E não terá sido, nessa data, cobrado a consulta de ortopedia ao utente;

106. O que aliás é confirmado pelo próprio Hospital quando veio lamentar o

sucedido perante o utente e confirmar que “[e]fectivamente, no momento do pagamento, na Unidade de Atendimento Urgente, não [...] foi facturada a consulta

(18)

de Ortopedia.” - cfr. cópia da resposta à reclamação de 27 de Abril de 2010, junta aos autos.

107. Posteriormente, em 9 de Abril de 2010, ou seja, em momento posterior ao da

emissão e liquidação da primeira factura/recibo e cerca de dez meses mais tarde, o Hospital dos Lusíadas emitiu a factura n.º FD(…), de 9 de Abril de 2010, relativa a uma consulta de ortopedia, com data de realização de 28 de Junho de 2009, e no valor de(…)€ – cfr. cópia da factura, junta aos autos.

108. Já relativamente à utente H., no momento da alta, em 29 de Março de 2010, foi

apresentada à utente a factura/recibo n.º (…), emitida pelo Hospital dos Lusíadas, no valor de (…)€;

109. Tendo a mesma sido, naquela data, paga;

110. O que, também neste caso, confirma a legitimidade da utente ter considerado

como cumprida a sua obrigação de pagamento integral dos cuidados de saúde que foram prestados.

111. Posteriormente, cerca de cinco meses após a alta e o pagamento da factura correspondente ao episódio, a utente recebeu do prestador uma outra factura, n.º FD(…), com data de emissão de 4 de Agosto de 2010, no valor de (…)€, referente ao episódio na Unidade de Atendimento Urgente, em 29 de Março de 2010 – cfr. cópias das facturas, juntas aos autos;

112. O Hospital dos Lusíadas, na sua resposta à exposição apresentada, justificou

tal factura adicional com o facto de “[o]s Rx ao ombro não [terem sido] facturados no momento, dado que o acto Rx de ombro (2 incidências), tal como foi prescrito e inserido em sistema informático, não consta da tabela da Ordem dos Médicos, logo das tabelas da AdvanceCare. Esta questão não foi detectada no momento da […] saída da UAU.” – cfr. cópia da correspondência trocada entre o exponente e o prestador.

113. Assim sendo “[…] só mais tarde esta questão foi detectada. Por este motivo, tiveram que ser corrigidos os actos no sistema informático, tendo-se facturado dois Rx ao ombro de uma incidência cada, de acordo com a factura FD(…) […]” – cfr. resposta do Hospital dos Lusíadas à exponente, de 18 de Agosto de 2010, junta aos autos.

(19)

114. Acontece que tal comportamento não é consentâneo com a praxis que deve ser respeitada: no momento da alta, ou seja, no momento do terminus da prestação de serviços, deve ser feito o cálculo dos valores a pagar e apresentados a pagamento pelo prestador/credor ao utente/devedor.

115. Na verdade, o utente de cuidados de saúde tem, como visto, o direito à quitação;

116. O qual não pode, em prol da clareza, ser adulterado, dando-se alta com informação (explicita ou implícita) de que nada deve;

117. E que, consequentemente, sobre si já não subsiste um qualquer direito de crédito;

118. Para, posteriormente, ser esse mesmo utente intimado a proceder ao

pagamento de montante em dívida que, afinal, ainda deveria ao abrigo da prestação de cuidados de saúde realizada.

119. Efectivamente, deve-se garantir que o utente, quando obtenha alta hospitalar (ou, por um outro qualquer motivo, deixe de permanecer nas instalações do prestador), saia com a certeza de que cumpriu a obrigação legal de pagar o preço total a que se obrigou por força do contrato de prestação de serviços de saúde que assumiu;

120. Sem a expectativa de se manter como devedor de uma situação que ele

próprio desconhece.

121. Reitera-se, assim, que a relação dos prestadores com os utentes deve ser pautada por princípios de completude, verdade e transparência e, em todo o momento, conformada pelo direito do utente à informação, enquanto concretização do dever de respeito dos direitos e interesses legítimos dos utentes tal como enquadrado;

122. E que devem estar presentes na relação entre o prestador de cuidados de saúde e o utente desses mesmos cuidados;

123. In extremis, entre o fornecedor e o consumidor de um determinado serviço.

III.4. Conclusão

124. Como já referido, a ERS tem por missão, nos termos do n.º 2 do art. 3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, “a supervisão da actividade e

(20)

funcionamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, no que respeita

[…] b) à garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde e dos demais direitos dos utentes;

c) à legalidade e transparência das relações económicas entre os diversos operadores, entidades financiadoras e utentes”.

125. E daqui resulta, desde logo, que todos os direitos dos utentes que lhes são reconhecidos enquanto devedores no âmbito da relação contratual de prestação de serviços;

126. Ou enquanto consumidores, no âmbito da Lei do Consumidor;

127. Ou como contribuinte que procede ao pagamento de uma factura ou recibo, no

âmbito da Lei Fiscal;

128. Ou como utente, no âmbito da Lei de Bases da Saúde;

129. São direitos dos utentes que devem ser defendidos no âmbito da intervenção regulatória da ERS a esse título;

130. Tal como todos os direitos à informação dos utentes dos cuidados de saúde são concomitantemente objectivos de transparência das relações económicas entre os diversos operadores, entidades financiadoras e utentes que a ERS deve prosseguir e impor.

131. E por tudo isto, não podem os utentes ser colocados na posição de “espera” de

ser notificado pelo seu credor de que é (ainda) devedor, mesmo depois de lhe ter sido dada quitação de todos os valores que, alegadamente, seriam os devidos.

132. Ou seja, não pode o prestador emitir facturas posteriores e adicionais sempre

que entenda – e este “sempre” poderá estender-se, por exemplo e como no caso do utente T., até mais de dez meses após a prestação dos cuidados de saúde – que existem ainda valores a cobrar.

133. Conclui-se assim, pela inaceitabilidade do procedimento adoptado pelo

Hospital das Lusíadas, porquanto, é o mesmo lesivo dos direitos dos utentes, bem como da transparência das relações económicas entre o prestador e os seus utentes;

(21)

134. Pelo que, o comportamento em causa exige a intervenção regulatória da ERS ao abrigo e no âmbito das competências que lhe foram legalmente atribuídas.

IV. AUDIÊNCIA DE INTERESSADOS

135. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita de interessados, nos

termos e para os efeitos do disposto no artigo 101.º n.º 1 do Código do Procedimento Administrativo, aplicável ex vi do artigo n.º 41.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, tendo o HPP Lusíadas, S.A. e os exponentes T. e H. sido chamados a pronunciarem-se relativamente ao conteúdo do projecto de deliberação da ERS.

136. Nessa sequência, apenas o HPP Lusíadas, S.A. exerceu o seu direito de

pronúncia nos termos que seguidamente se apresentam e analisam.

IV.1. Da pronúncia do Hospital dos Lusíadas

137. O prestador HPP Lusíadas, S.A. exerceu o seu direito de pronúncia através do

ofício que deu entrada na ERS em 1 de Fevereiro de 2011, dando-se a mesma aqui por integralmente reproduzida para todos os efeitos legais (e doravante designada por pronúncia do Hospital dos Lusíadas).

138. Em suma, e sem pretensão de exaustão do aí explanado, o prestador veio alegar que:

i) “[…] apesar de concordar na generalidade com as considerações

jurídicas tecidas a propósito dos direitos dos doentes, como tal e como consumidores, dever[ia] pronunciar-se sobre alguns aspectos […] que não merecem a sua concordância, nem aceitação”;

ii) “Nos casos em apreço não foi questionada por qualquer Cliente a prestação dos cuidados ou serviços (extemporaneamente) facturados.”, os quais “[a]penas questionaram a tempestividade da facturação, sendo certo que “o credor tem do direito de exigir a todo o tempo o cumprimento da obrigação” […]”;

iii) Por outro lado, o Hospital dos Lusíadas discorda da “asserção contida no § 55., a propósito dos princípios aplicáveis aos recibos ou documentos de quitação, pois os recibos emitidos pelo Hospital dos

(22)

Lusíadas, são verdadeiros, claros e transparentes: discriminam os serviços prestados e os correspondentes preços.”, pelo que nesse

sentido também seria “despicienda a invocação, no § 60., do disposto

na Lei do Consumidor relativamente à informação a prestar pelo fornecedor de bens ou prestador de serviços, pois trata-se aqui de modelar o direito à informação na fase pré-contratual e de celebração do contrato, isto é, informação prévia ou “ in contractu”, não a informação a constar de qualquer documento de quitação.”, ou ainda a “invocação no §63. do disposto no n.º 4 do Artigo 9.º da Lei do consumidor: o pagamento (posteriormente) solicitado aos Clientes respeita a bens ou serviços prévia e expressamente acordados, o que, aliás, não foi sequer questionado pelos Clientes.”.

139. Mais veio o prestador referir que:

i) Discordam do “§ 66. do projecto de deliberação” alegando que “só meses mais tarde, no decurso da auditoria a actos pendentes de facturação, se detectou que a consulta realizada [do utente T.] se encontrava ainda pendente e não fora incluída na factura/recibo emitida no dia do atendimento urgente”;

ii) Mais alegando que “nunca foi contestado pelo [utente], porque sabe que

efectivamente teve uma consulta de Ortopedia e que a mesma não consta(va) da factura/recibo emitida e paga no dia do atendimento urgente e dessa mesma consulta.”;

iii) E que “situação semelhante ocorreu com a Sra. H., como aliás lhe foi informado, tendo a mesma aceite a explicação dada e as desculpas apresentadas, e procedido ao pagamento da correspondente factura.”; iv) O prestador declara “não concordar com o expresso no § 74.” do

projecto de deliberação então notificado, alegando que tal “asserção não tem a mínima correspondência com os factos apurados e com a realidade.”;

v) “Nem tampouco, como se pretende no § 75. se prejudicaram direitos ou

interesses dos [utentes], nem se verificaram quaisquer

desconformidades entre a facturação e os serviços prestados: o Sr. T. (no âmbito do atendimento urgente) teve uma consulta de Ortopedia que, contudo, não lhe foi facturada (e apenas isso) no dia desse

(23)

atendimento urgente; a Sra. H. efectuou radiografias ao ombro que, no dia do atendimento urgente, não foram facturadas – apenas se pretende facturar (tarde, é certo) o que efectivamente foi prestado aos [utentes].”; vi) Alegando que contrariamente ao mencionado nos § 77 e 78 do projecto

de deliberação, “o Hospital dos Lusíadas sempre informou os seus [utentes] de forma completa, verdadeira e inteligível, designadamente quanto aos aspectos económicos-financeiros dos serviços prestados.”; vii) Assim sendo “não é seguramente pela emissão tardia de facturas respeitantes a serviços efectivamente prestados que existe violação dos direitos dos [utentes] à informação como afirma[do] no § 81”,

viii) Discordando da “ilação constante do § 84” afirmando que “uma tal actuação merecia certamente a qualificação de má fé por parte do prestador, legitimaria outras atitudes por parte dos [utentes]”;

140. Quanto ao enquadramento Legal no âmbito da Lei Civil veio o prestador referir

que:

i) “o Hospital dos Lusíadas cumpriu escrupulosamente a Lei: nos dias dos atendimentos urgentes emitiu as correspondentes facturas/recibos e deu quitação integral dos serviços prestados e dos bens fornecidos descritos nos detalhes respectivos.”;

ii) “E não só deu quitação, como nos termos da lei, liberou os [utentes] de qualquer pagamento adicional respeitante aos serviços prestados e aos bens fornecidos constantes e discriminados nessas facturas/recibos, […] [m]as não deu quitação, nem liberou os [utentes] dos serviços (efectivamente prestados e dos bens (efectivamente) fornecidos que não constam dessas facturas/recibos, e que, consequentemente, facturou mais tarde.”;

iii) Não representando “tal procedimento qualquer violação do direito à quitação, nem se deu como paga qualquer prestação ou serviço que não constasse dessas factura/detalhe.”.

141. Sendo o procedimento corrente do prestador “[…] a facturação e recebimento

dos serviços prestados ou dos bens fornecidos no momento da prestação do serviço ou da disposição dos bens […], tal não impede, nem pode obviar a

(24)

situações de desvio de regra, em que os serviços ou bens tenham de (ou possam) ser parcialmente facturados ou facturados posteriormente.”, uma vez que “a complexidade e diversidade de modos e modelos de financiamento e de pagamento dos cuidados de saúde (privados) muitas vezes impõem ou implicam que não seja possível, sob pena de se penalizar desnecessariamente os [utentes], facturar e fazer pagar os cuidados prestados em simultâneo com a alta hospitalar.”.

142. Por outro lado, o prestador discorda e contesta a conclusão constante no § 131

e §132, uma vez que “salvo situações devidamente justificadas, é sempre dada quitação integral com o pagamento dos serviços prestados, […] e as facturas emitidas posteriormente ao Sr. T. e à Sra. H., […] resultaram de lapsos na facturação atempadamente emitida.”;

143. Assim sendo, vem o prestador alegar que “[p]retender que a correcção de lapsos de facturação é um procedimento lesivo dos direitos dos utentes e desconforme à transparência das relações económicas, é, salvo melhor opinião ou entendimento, uma conclusão infundada e que não corresponde à realidade dos autos do presente processo de inquérito.”.

144. Entende ainda o Hospital dos Lusíadas que:

i) “a persistência do não pagamento da consulta de Ortopedia que foi prestada ao Sr. T., no dia do seu atendimento urgente no Hospital dos Lusíadas, se configura como um incumprimento das suas obrigações;

ii) “incumprimento esse não suprível por qualquer deliberação

administrativa”.

145. Pelo exposto, considera o prestador cumprir “[…] TODOS os deveres

inerentes À prestação de cuidados de saúde, designadamente os que respeitam aos DIREITOS dos doentes, designadamente o direito À informação completa, verdadeira e integral relativa aos custos dos cuidados de prestados, dando sempre integral quitação de todos [os] pagamentos dos serviços prestados.”.

146. E conclui propondo o arquivamento do presente processo de inquérito.

(25)

147. Refira-se, ab initio, que os argumentos apresentados na pronúncia do Hospital dos Lusíadas foram considerados e ponderados pela ERS;

148. Embora se adiante, desde já, que os mesmos não são de molde a alterar o quadro factual e jurídico do projecto de deliberação notificado;

149. E, consequentemente, a alterar o sentido da decisão projectada.

150. Quanto à diferente interpretação que o Hospital dos Lusíadas efectua da matéria de facto, refira-se que a mesma não é consentânea com o quadro jurídico supra enunciado e regente dos direitos dos utentes;

Senão vejamos,

151. O Hospital dos Lusíadas, na sua Pronúncia, confirmou que ao utente T. “no momento do pagamento, na Unidade de Atendimento Urgente, não [...] foi facturada a consulta de Ortopedia.”;

152. E que “[…] por erro da colaboradora que emitiu a Factura/Recibo no dia do atendimento urgente, […] não constava a consulta de ortopedia realizada porque no sistema informático esse acto médico não foi dado como realizado, ficando pendente, e só veio a ser facturada em Abril de 2010, na sequência da auditoria aos actos pendentes de facturação”.

153. Ou ainda no caso da utente H. o prestador assumiu que “[o]s Rx ao ombro não

foram facturados no momento, […]” uma vez que “[…] não foi detectad[o] no momento da […] saída da UAU.”.

154. E “[…] só mais tarde esta questão foi detectada.”;

155. Sendo que ”[p]or es[s]e motivo, tiveram que ser corrigidos os actos no sistema

informático, tendo-se facturado dois Rx ao ombro […]”.

156. Ocorre que, cerca de cinco meses após a alta e o pagamento da factura correspondente ao episódio, a utente recebeu do prestador uma outra factura, com data de emissão de 4 de Agosto de 2010, referente ao episódio na Unidade de Atendimento Urgente, em 29 de Março de 2010.

157. E sem prejuízo da necessária consideração do expendido pelo Hospital dos Lusíadas, a verdade é que os seus argumentos são afastados pelo quadro legal que supra se apresentou.

(26)

158. Na verdade, a ERS não refere, nem referiu, que os recibos emitidos aos utentes após a alta dos mesmos não se encontrassem correctos, ou que os mesmos não corporizassem a descrição de actos que foram efectivamente prestados.

159. Pelo contrário, o que se sustenta é distinto: é no momento da alta, ou seja, no

momento do terminus da prestação de serviços, que deve ser feito o cálculo dos valores a pagar e apresentados a pagamento pelo prestador/credor ao utente/devedor;

160. Tendo o utente de cuidados de saúde direito, nesse momento – repete-se - à

quitação;

161. Não podendo o prestador, e dez meses após a alta do utente, e porque entretanto verificou na sequência de uma auditoria que “no sistema informático esse acto médico não foi dado como realizado, […]” só facturar “em Abril de 2010” um acto que foi praticado em Junho de 2009.

162. Ou seja, não podem os utentes ser colocados na posição de “espera” de ser notificado pelo seu credor de que é (ainda) devedor, mesmo depois de lhe ter sido dada quitação de todos os valores que, alegadamente, seriam os devidos;

163. O que impede, em prol da defesa dos direitos e interesses legítmos dos utentes

de cuidados de saúde, que o prestador se “reserve ao direito” de emitir facturas posteriores e adicionais sempre que entenda ou sempre que “na sequência d[e uma] auditoria” descubra, como in casu passados dez meses, “os actos pendentes de facturação”;

164. Consequentemente, considera-se o procedimento de emissão de facturas

posteriores e adicionais sempre que o prestador entenda, in casu cinco e dez meses após a prestação dos cuidados de saúde, incompatível com os quadros legais e contratuais supra apresentados;

165. Os quais foram extensamente apresentados supra e que aqui se dão aqui

como integralmente reproduzidos;

166. Por último, resta ainda considerar a alegação do Hospital dos Lusíadas de que

“a complexidade e diversidade de modos e modelos de financiamento e de pagamento dos cuidados de saúde (privados) muitas vezes impõem ou implicam

(27)

que não seja possível, sob pena de se penalizar desnecessariamente os [utentes], facturar e fazer pagar os cuidados prestados em simultâneo com a alta hospitalar.”

167. Sendo verdade que a actividade hospitalar é insitamente complexa, tal como o

podem ser os diferentes modos e modelos de financiamento, certo é que não deixa esta de ser uma questão inerente ao próprio funcionamento do Hospital prestador que, por isso, deve ser o único responsável pela sua resolução e se deve achar impedido de impor as suas limitações aos utentes.

168. E nessa sequência, remete-se para o problema fundamental em saúde – já supra abordado e que, note-se, não é considerado pelo Hospital – e que se prende com a “assimetria de informação” que existe em todas as relações prestador - utente. Vejamos,

169. É entendimento pacífico que os mercados de serviços de saúde são

caracterizados pela informação imperfeita que, regra geral, as pessoas possuem relativamente à saúde e à doença.

170. Com efeito, se por um lado é natural que um utente perceba a existência de um

sintoma, embora tipicamente não determine a origem e gravidade do mesmo;

171. Sendo que será, normalmente, um profissional de saúde que determinará a gravidade do problema e conduzirá o utente ao tratamento adequado.

172. Ora, é aqui que se verifica uma assimetria de informação que, concretamente,

resulta do facto de serem os prestadores de cuidados de saúde que possuem o conhecimento exacto dos cuidados mais adequados às necessidades dos utentes, bem como os que foram realizados.

173. Uma vez escolhido um prestador de cuidados de saúde pelo utente, é aquele

que informará o utente de todos os tratamentos, actos e bens ou serviços a utilizar para e na resolução dos problemas diagnosticados;

174. Sendo só depois de devidamente aconselhado pelo prestador que poderá o

utente conhecer, de forma aprofundada, não somente o seu problema de saúde, como e obter a noção do custo do tratamento a realizar e, consequentemente, do valor a pagar.

175. E se nem sempre será possível prever exactamente qual será o valor final do

(28)

não permite antever o seu custo total, desde logo porque, durante a intervenção, os profissionais de saúde envolvidos se depararam com a necessidade de utilizar mais recursos do que inicialmente previstos para o bem do utente e o sucesso da intervenção;

176. A verdade é que em nenhuma das situações aqui em análise será reconduzível

a uma tal situação excepcional: pelo contrário, e como o próprio Hospital admite, tratam-se de lapsos no funcionamento do Hospital;

177. E que, como tal, não podem ser repercutidos sobre os utentes;

178. Ou, pelo menos, não é legítimo que o façam dez meses após a alta do utente.

179. E a este propósito, deve sublinhar-se que é o prestador – e não o utente – que

sabe (ou tem a obrigação de saber) o que é que efectivamente foi consumido e/ou utilizado no âmbito de uma relação contratual de prestação de cuidados de saúde.

180. Ou seja, e conforme anotado e defendido pela ERS na presente deliberação, mesmo que se admitisse a integração de valores adicionais em facturas emitidas após a alta de um utente, em razão de esquecimento ou de erro por parte do prestador na definição do somatório integral de itens a cobrar;

181. A verdade é que, atento o enquadramento jurídico supra apresentado bem

como o problema da assimetria de informação aqui em análise, não poderá nunca ser transferido o ónus daí decorrente na determinação do valor para o utente.

182. Dito de outro modo, é o prestador que tem absoluto conhecimento dos bens e

serviços empregues e utilizados nas suas relações com os utentes;

183. Tal como é sobre o prestador que impende a obrigação ou o dever de saber ultrapassar as dificuldades que porventura decorram da eventual complexidade de funcionamento hospitalar;

184. Ora, um comportamento que, sequência de uma auditoria que verificou que “no

sistema informático esse acto médico não foi dado como realizado, […]”, se consubstancia em facturar “em Abril de 2010” um acto que foi praticado em Junho de 2009;

185. Enviando a respectiva factura para o utente, o qual havia pago, no momento da

alta, todos os valores e actos que o Hospital lhe apresentou como correspondendo ao seu episódio;

(29)

186. Não será uma forma aceitável, à luz da protecção dos direitos e interesses dos utentes, de lidar com tal complexidade;

187. Por se limitar a transferir para os seus utentes os riscos de tal eventual complexidade de funcionamento hospitalar no que respeita ao aspecto financeiro e de facturação do mesmo.

188. Consequentemente, o prestador tem a obrigação, pela superior informação de

que dispõe face ao utente, de se organizar de forma a que no momento da alta todos os serviços que tenham sido prestados ao utente sejam incluídos na factura que a este é entregue, não podendo transferir para o utente – que não tem o mesmo nível de conhecimento em saúde – as consequência das falhas na sua organização, através da previsão de cobranças complementares posteriores à prestação dos serviços médicos contratados e alta do utente.

189. Assim, e como visto, o procedimento adoptado pelo Hospital dos Lusíadas, é lesivo dos direitos dos utentes, bem como da transparência das relações económicas entre o prestador e os seus utentes.

190. Já quanto ao facto aduzido pelo Hospital dos Lusíadas que “a persistência do

não pagamento da consulta de Ortopedia que foi prestada ao Sr. T., no dia do seu atendimento urgente no Hospital dos Lusíadas, se configura como um incumprimento das suas obrigações […] incumprimento esse não suprível por qualquer deliberação administrativa”;

191. Não deve o prestador olvidar que tal persistência do utente em não pagar a factura, se deve ao facto de tal situação se achar em análise da ERS;

192. Devendo-se por outro lado recordar que o entendimento da ERS o qual foi extensamente apresentado supra e que aqui se dá como integralmente reproduzido foi no sentido de o comportamento do prestador ser lesivo dos direitos dos utentes, bem como da transparência das relações económicas entre o prestador e os seus utentes;

193. E assim o Hospital dos Lusíadas deverá proceder à anulação da factura n.º FD(…), de 9 de Abril de 2010, relativa ao utente T.;

194. E proceder igualmente à devolução à utente H. do valor recebido a título de pagamento da factura n.º FD(…) com data de emissão de 4 de Agosto de 2010;

(30)

195. De todo o exposto, concluir-se que não foi trazido ao conhecimento da ERS qualquer facto ou documento capazes de alterar o sentido do projecto de deliberação tal como notificado pela ERS;

196. Pelo que se mantém in totum o sentido do projecto de deliberação tal como emitido e regularmente notificado.

V. DECISÃO

197. Tudo visto e ponderado, o Conselho Directivo da ERS delibera, assim, nos termos e para os efeitos do preceituado no n.º 1 do artigo 41.º e na alínea b) do artigo 42.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, emitir uma instrução ao HPP Lusíadas, S.A. nos seguintes termos:

(i) O HPP Lusíadas, S.A. deve respeitar o direito à quitação integral e incondicional de todos os seus utentes que procedam à liquidação dos valores resultantes dos cuidados médicos recebidos, abstendo-se de proceder à emissão de facturas posteriores ao momento da alta dos utentes;

(ii) Apenas em situações excepcionais, objectivamente justificadas, devidamente identificadas e do conhecimento dos respectivos utentes, poderá o prestador adoptar procedimentos que afastem um tal direito à quitação integral e incondicional;

(iii) O Hospital deve proceder à anulação da factura n.º FD(…), de 9 de Abril de 2010, relativa ao utente T.;

(iv) O Hospital deve proceder à devolução à utente H. do valor recebido a título de pagamento da factura n.º FD(…) com data de emissão de 4 de Agosto de 2010;

(v) O HPP Lusíadas, S.A. deve dar cumprimento imediato à presente

instrução, bem como dar conhecimento à ERS, no prazo máximo de 30 dias após a notificação da presente deliberação, dos procedimentos adoptados para o efeito.

198. A instrução ora emitida constitui decisão da ERS, sendo que a alínea b) do n.º

1 do artigo 51.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, configura como contra-ordenação punível in casu com coima de € 1000,00 a € 44 891,81, “[….] o

(31)

desrespeito de norma ou de decisão da ERS que, no exercício dos seus poderes, determinem qualquer obrigação ou proibição”.

199. A versão não confidencial da presente decisão será publicitada no sítio oficial da ERS na Internet.

Porto, 6 de Abril de 2011 O Conselho Directivo

Referências

Documentos relacionados

Se a saturação de oxigênio estiver igual ou menor que 94%, você deve administrar oxigênio, ventilar manualmente, avaliar se o problema é no paciente ou no equipamento, verificar

O tempo para perda de peso foi de um mês, quando ocorreu redução significante da glicemia de jejum, do índice HOMA-IR, insulina, HbA1c, hemoglobina, AST, peptídeo C

Justificativa: A instalação desta linha objetiva reduzir o carregamento da única LT abastecedora na região para 60%, melhorando a qualidade do fornecimento de energia para

Para o caso de um dispositivo de canal p, ilustrado na Fig.36, quando o terminal porta fica submetido ao mesmo potencial do terminal fonte, a junção pn

O contexto de origem das atividades espaciais é a Guerra Fria, naquele momento o principal estímulo para que os programas espaciais, estadunidense e soviético,

Justificativa : Estabelecer e garantir estrutura mínima de funcionários para o suporte das secretarias, ofícios de justiça, cartórios e varas dos Juízos de 1º grau, com,

Concluímos que utilizando a produção intelectual da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial (SBDA) é possível traçar o desenvolvimento histórico

Notadamente, nas três cidades, as mulheres com idade ao início da atividade sexual abaixo da média apresentaram positividade maior para HPV do que as mulheres com a sexarca acima