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Lacan

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 Lacan. T

 Lacan. Teoria do Sujeito. Entre o eoria do Sujeito. Entre o outro e o outro e o grande Outro.grande Outro.  Apresentação

 Apresentação

LIVRO - "A Psicanálise depois de Freud" LIVRO - "A Psicanálise depois de Freud"

AUTOR: Bleichmar &

AUTOR: Bleichmar & Bleichmar Bleichmar  1. Aspectos gerais

1. Aspectos gerais

Jacques Lacan (1901-1981) formulou uma teoria profunda e complexa que, sob a égide do Jacques Lacan (1901-1981) formulou uma teoria profunda e complexa que, sob a égide do retorno a Freud,

retorno a Freud, redefiniu, sob a perspectiva do estruturalismo e da redefiniu, sob a perspectiva do estruturalismo e da lingüístilingüística, todas asca, todas as categorias psicanalíticas conhecidas, ao mesmo tempo que criou muitas outras.

categorias psicanalíticas conhecidas, ao mesmo tempo que criou muitas outras.

Discutido e ao mesmo tempo admirado, para alguns o maior depois de Freud, ou até mesmo Discutido e ao mesmo tempo admirado, para alguns o maior depois de Freud, ou até mesmo de seu tamanho; desviacionista, fator de retrocesso da psicanálise, para outros, é necessário que de seu tamanho; desviacionista, fator de retrocesso da psicanálise, para outros, é necessário que se passe mais tempo para que esta figura, tão controvertida, adquira seu exato lugar na história se passe mais tempo para que esta figura, tão controvertida, adquira seu exato lugar na história da evolução da psicanálise.

da evolução da psicanálise.

Lacan é um dos grandes pós-freudianos. Procedeu a uma reformulação das próprias bases da Lacan é um dos grandes pós-freudianos. Procedeu a uma reformulação das próprias bases da teoria, da metapsicologia e da clínica. A outra figura equiparável a ele, em grandeza, certamente teoria, da metapsicologia e da clínica. A outra figura equiparável a ele, em grandeza, certamente é Melanie Klein.

é Melanie Klein.

Em princípio, a modificação conceptual proposta por Jacques Lacan deve ser entendida no Em princípio, a modificação conceptual proposta por Jacques Lacan deve ser entendida no contexto criado pela influência estruturalista na França, principalmente com a lingüística de contexto criado pela influência estruturalista na França, principalmente com a lingüística de Saussure e com a

Saussure e com a antropologiantropologia de a de Lévi-StraussLévi-Strauss..

Obra erudita, difícil de compreender, obscura em suas formulações, com linguagem alusiva, Obra erudita, difícil de compreender, obscura em suas formulações, com linguagem alusiva, cheia de jogos de palavras, gongorismo estilístico, pedantismo intelectual, desprezo a toda

cheia de jogos de palavras, gongorismo estilístico, pedantismo intelectual, desprezo a toda formulação próxima da sua, exceto algumas exceções momentâneas; é tudo isto ao mesmo formulação próxima da sua, exceto algumas exceções momentâneas; é tudo isto ao mesmo tempo e em graus diferentes, segundo o texto que considerarmos. O leitor se encontra diante de tempo e em graus diferentes, segundo o texto que considerarmos. O leitor se encontra diante de um verdadeiro desafio para compreender e

um verdadeiro desafio para compreender e assimilar os enfoques lacanianosassimilar os enfoques lacanianos..

 Nas páginas que se seguem, não procuraremos dar uma visão completa das idéias de Lacan,  Nas páginas que se seguem, não procuraremos dar uma visão completa das idéias de Lacan, mas descrever os vetores principais em que sua teoria se desenvolve. Pretendemos fazer uma mas descrever os vetores principais em que sua teoria se desenvolve. Pretendemos fazer uma ordenação conceptual que ilustre, panoramicamente, aquilo que, em nossa opinião, Lacan ordenação conceptual que ilustre, panoramicamente, aquilo que, em nossa opinião, Lacan fornece.

fornece.

Comecemos por destacar que estamos em presença de um discurso, para usar uma palavra Comecemos por destacar que estamos em presença de um discurso, para usar uma palavra grata a Lacan, resultante de uma interação entre dois enfoques diferentes: o filosófico e o grata a Lacan, resultante de uma interação entre dois enfoques diferentes: o filosófico e o  psicanalí

 psicanalítico. Neste sentido, Lacan tico. Neste sentido, Lacan é completamente original. Devemos recordar é completamente original. Devemos recordar que, na que, na França,França, diferentemente do resto do mundo, é comum que os psicanalistas também tenham formação diferentemente do resto do mundo, é comum que os psicanalistas também tenham formação filosófica e médica. Lacan escreve em termos psicanalíticos, filosóficos, antropológicos e filosófica e médica. Lacan escreve em termos psicanalíticos, filosóficos, antropológicos e

lingüísticos; sua reflexão sobre o sujeito, quiçá uma das temáticas principais, orienta-se em todas lingüísticos; sua reflexão sobre o sujeito, quiçá uma das temáticas principais, orienta-se em todas estas direções. É oportuno recordar que

estas direções. É oportuno recordar que Freud contribuiu em problemas vinculados à cultura, deFreud contribuiu em problemas vinculados à cultura, de uma forma

uma forma um tanto um tanto colateral. Acolateral. Apesar disso, esses estudos pesar disso, esses estudos tiveram grandes implicações.tiveram grandes implicações. Mesmo que a discussão de problemas filosóficos e antropológicos interesse a um grande Mesmo que a discussão de problemas filosóficos e antropológicos interesse a um grande número de

número de psicanalpsicanalistas, não constituem temas que istas, não constituem temas que tenham preocupado, centralmente, atenham preocupado, centralmente, a totalidade do movimento psicanalítico. O psicanalista de formação tradicional, que em geral totalidade do movimento psicanalítico. O psicanalista de formação tradicional, que em geral

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 provém da medicina e

 provém da medicina e da psiquiatria, tem, portanto, uma dificuldade inicial para se confrontar da psiquiatria, tem, portanto, uma dificuldade inicial para se confrontar  com a obra de

com a obra de Lacan. O tipo de linguagem que emprega o surpreende, propõe-lhe obstáculos eLacan. O tipo de linguagem que emprega o surpreende, propõe-lhe obstáculos e até pode lhe causar

até pode lhe causar desagrado.desagrado.

Pelo contrário, muitos dos seguidores de Lacan são filósofos ou provêm das ciências Pelo contrário, muitos dos seguidores de Lacan são filósofos ou provêm das ciências humanísticas, não médicas, motivo pelo qual a linguagem lacaniana lhes é mais acessível. humanísticas, não médicas, motivo pelo qual a linguagem lacaniana lhes é mais acessível.

Freud usou, para suas teorias, modelos biológicos como o do neurônio e o da evolução de Freud usou, para suas teorias, modelos biológicos como o do neurônio e o da evolução de Darwin. Lacan, por seu turno, valeu-se da lingüística de Saussure, da antropologia de Darwin. Lacan, por seu turno, valeu-se da lingüística de Saussure, da antropologia de Lévi-Strauss e da dialética de Hegel (relação com o semelhante, dialética do desejo e do olhar). Strauss e da dialética de Hegel (relação com o semelhante, dialética do desejo e do olhar).

Todavia, a lingüística, em Lacan, é muito mais do que um modelo aplicado à resolução de Todavia, a lingüística, em Lacan, é muito mais do que um modelo aplicado à resolução de certos problemas ou à exemplificação de uma idéia. Está incorporada de maneira constitutiva à certos problemas ou à exemplificação de uma idéia. Está incorporada de maneira constitutiva à teoria lacaniana. O inconsciente se estrutura como linguagem e existe porque há linguagem ou teoria lacaniana. O inconsciente se estrutura como linguagem e existe porque há linguagem ou convenção significante, como Lacan gosta de chamá-la, em um sentido muito amplo. O desejo convenção significante, como Lacan gosta de chamá-la, em um sentido muito amplo. O desejo do ser humano desliza, incessanteme

do ser humano desliza, incessantemente, de um objeto para outro, seguindo o nte, de um objeto para outro, seguindo o caminho que acaminho que a linguagem lhe indica, com sua organização de deslocamento sintagmático ou metonímico. A linguagem lhe indica, com sua organização de deslocamento sintagmático ou metonímico. A reformulação que Lacan obtém, ao introduzir a lingüística na psicanálise como elemento reformulação que Lacan obtém, ao introduzir a lingüística na psicanálise como elemento fundamental, é muito radical; a linguagem determina o sentido, engendrando as estruturas da fundamental, é muito radical; a linguagem determina o sentido, engendrando as estruturas da mente.

mente.

Toda a metapsicologia se modifica, assim como a clínica. Os termos utilizados por Lacan: Toda a metapsicologia se modifica, assim como a clínica. Os termos utilizados por Lacan:  pulsão, desejo, libido, pulsão de morte, para citar somente alguns, adquirem outro significado no  pulsão, desejo, libido, pulsão de morte, para citar somente alguns, adquirem outro significado no

conjunto de sua teoria. Isto nos Faz pensar (problema que examinaremos com mais vagar na conjunto de sua teoria. Isto nos Faz pensar (problema que examinaremos com mais vagar na  parte de comentários) que se trata de um desenvolvimento psicanalítico original e não de um  parte de comentários) que se trata de um desenvolvimento psicanalítico original e não de um retorno a Freud, pelo menos não à estrutura da teoria psicanalítica tal como Freud a pensava. retorno a Freud, pelo menos não à estrutura da teoria psicanalítica tal como Freud a pensava. Concordamos que se sustenta no espírito freudiano, mas não nas concepções clássicas da Concordamos que se sustenta no espírito freudiano, mas não nas concepções clássicas da  psicanálise. Não pensamos que a teoria de Lacan, nem a de Melanie Klein, possam ser   psicanálise. Não pensamos que a teoria de Lacan, nem a de Melanie Klein, possam ser 

considerada

consideradas como s como simples desenvolvimesimples desenvolvimentos do ntos do legado de Freud.legado de Freud.

A discussão das hipóteses de Lacan, como as dos demais autores estudados neste livro, A discussão das hipóteses de Lacan, como as dos demais autores estudados neste livro, interessa-no

interessa-nos no s no plano das idéias e plano das idéias e das concepções teóricas. Os problemas do movimento,das concepções teóricas. Os problemas do movimento,  políticos ou de ambições pessoais, não serão levados em consideração.

 políticos ou de ambições pessoais, não serão levados em consideração. 2. Definição de alguns termos lingüísticos

2. Definição de alguns termos lingüísticos

Como a lingüística na obra de Lacan tem o papel decisivo que mencionamos, antes de entrar  Como a lingüística na obra de Lacan tem o papel decisivo que mencionamos, antes de entrar  no assunto, impõe-se uma breve revisão dos conceitos lingüísticos fundamentais. Deste modo no assunto, impõe-se uma breve revisão dos conceitos lingüísticos fundamentais. Deste modo será mais fácil, depois, acompanhar os desenvolvimentos lacanianos. Começaremos,

será mais fácil, depois, acompanhar os desenvolvimentos lacanianos. Começaremos, necessariamente, por uma menção de Saussure.

necessariamente, por uma menção de Saussure.

 No momento em que a figura de Saussure emerge, na lingüística européia, as correntes em  No momento em que a figura de Saussure emerge, na lingüística européia, as correntes em voga realizavam estudos de tipo comparativo e histórico. A língua era comparada a um

voga realizavam estudos de tipo comparativo e histórico. A língua era comparada a um

organismo vivo, cujas origens e evolução deviam ser elucidadas. Este era o tipo de tarefa que os organismo vivo, cujas origens e evolução deviam ser elucidadas. Este era o tipo de tarefa que os gramáticos comparativistas e os neo-gramáticos realizavam. Apesar de ter feito parte do

gramáticos comparativistas e os neo-gramáticos realizavam. Apesar de ter feito parte do movimento neo-gramático

movimento neo-gramático, Saussure , Saussure decidiu separar-se desse grupo, propondo que decidiu separar-se desse grupo, propondo que sese

suspendesse toda investigação lingüÍstica até que fossem revisa= das as premissas gerais desta suspendesse toda investigação lingüÍstica até que fossem revisa= das as premissas gerais desta ciência. A isso dedicou os cursos que ministrou em Genebra, entre 1906 e 1911.

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Assim surgiu uma nova corrente na lingüística, claramente estruturalista; esta é uma Assim surgiu uma nova corrente na lingüística, claramente estruturalista; esta é uma  perspectiva teórica que, segundo veremos mais adiante, também abriu novos rumos

 perspectiva teórica que, segundo veremos mais adiante, também abriu novos rumos em outrasem outras disciplinas, como é o caso da antropologia.

disciplinas, como é o caso da antropologia.

A primeira pergunta a que Saussure procurou responder foi a relativa ao objeto de estudo da A primeira pergunta a que Saussure procurou responder foi a relativa ao objeto de estudo da lingüística, que ficou definido como "o conjunto de manifestações da linguagem humana, sem lingüística, que ficou definido como "o conjunto de manifestações da linguagem humana, sem nenhuma restrição; isto implica todas as línguas, todos os períodos da história, todas as formas nenhuma restrição; isto implica todas as línguas, todos os períodos da história, todas as formas de expressão" (Fuchs e Le Goffic, 1975, p. 15). Portanto, o objeto de estudo do lingüista é a de expressão" (Fuchs e Le Goffic, 1975, p. 15). Portanto, o objeto de estudo do lingüista é a língua em sua estrutura mais geral.

língua em sua estrutura mais geral.

A perspectiva saussuriana é eminentemente dualista. A linguagem é, ao mesmo tempo, um A perspectiva saussuriana é eminentemente dualista. A linguagem é, ao mesmo tempo, um fato individual e social; é um sistema estabelecido e em evolução, é uma associação de sons e fato individual e social; é um sistema estabelecido e em evolução, é uma associação de sons e idéias.

idéias.

A primeira das oposições que acabamos de mencionar, correspondem, respectivamente, os A primeira das oposições que acabamos de mencionar, correspondem, respectivamente, os conceitos de fala e língua. A fala é um fenômeno individual. A língua o é, em nível social. Fuchs conceitos de fala e língua. A fala é um fenômeno individual. A língua o é, em nível social. Fuchs e Le Goffic pensam que a oposição entre língua e fala pode ser interpretada pelo menos em três e Le Goffic pensam que a oposição entre língua e fala pode ser interpretada pelo menos em três sentidos:

sentidos:

- como a correspondente aos códigos universais, em contraposição aos códigos particulares; - como a correspondente aos códigos universais, em contraposição aos códigos particulares; - como oposição entre o aspecto virtual da linguagem (conjunto de elementos e suas possíveis - como oposição entre o aspecto virtual da linguagem (conjunto de elementos e suas possíveis combinações) e sua atualização (combinações que efetivamente têm lugar);

combinações) e sua atualização (combinações que efetivamente têm lugar);

- como a resultante do contraste entre o código universal, dentro de uma comunidade - como a resultante do contraste entre o código universal, dentro de uma comunidade lingüística, e o ato livre de utilização deste código pelos sujeitos.

lingüística, e o ato livre de utilização deste código pelos sujeitos.

Se, agora, considerarmos a relação da linguagem com o eixo temporal, podemos ver que Se, agora, considerarmos a relação da linguagem com o eixo temporal, podemos ver que surge outra dualidade: sincronia versus diacronia. A língua é, em um sentido sincrônico, um surge outra dualidade: sincronia versus diacronia. A língua é, em um sentido sincrônico, um sistema de relações entre signos lingüísticos. Estes permanecem unidos através de certas leis de sistema de relações entre signos lingüísticos. Estes permanecem unidos através de certas leis de associação e cada um ocupa um lugar na estrutura, que o define e o distingue, simultaneamente, associação e cada um ocupa um lugar na estrutura, que o define e o distingue, simultaneamente, dos demais signos. Porém, Saussure adverte que este sistema não permanece estático. O enfoque dos demais signos. Porém, Saussure adverte que este sistema não permanece estático. O enfoque diacrônico se interessa pela

diacrônico se interessa pelas mudanças que a estrutura sofre com o s mudanças que a estrutura sofre com o transcorrer do tempo.transcorrer do tempo.

 No último parágrafo, introduzimos um conceito ao qual é necessário dedicar algumas linhas:  No último parágrafo, introduzimos um conceito ao qual é necessário dedicar algumas linhas: o signo lingüístico. Saussure propõe que a língua seja composta de unidades discretas,

o signo lingüístico. Saussure propõe que a língua seja composta de unidades discretas,

descontínuas, que estabelecem uma combinação. As unidades também se definem a partir de descontínuas, que estabelecem uma combinação. As unidades também se definem a partir de uma dualidade: som/idéia. Em seu

uma dualidade: som/idéia. Em seu Cours de Línguístique GénéraleCours de Línguístique Générale, diz: "O papel característico, diz: "O papel característico da língua, diante do pensamento, não é o de criar um meio fônico material para a expressão das da língua, diante do pensamento, não é o de criar um meio fônico material para a expressão das idéias, mas o de servir de intermediário entre o pensamento e o som, em condições tais que sua idéias, mas o de servir de intermediário entre o pensamento e o som, em condições tais que sua união leve, necessariamente, a delineamentos recíprocos de unidades" (Saussure, 1915 p. 192). união leve, necessariamente, a delineamentos recíprocos de unidades" (Saussure, 1915 p. 192). A unidade fundamental da linguagem é o signo, que é composto de uma imagem acústica ou A unidade fundamental da linguagem é o signo, que é composto de uma imagem acústica ou  significante

 significante, e um, e um significado significado ou conceito. Notemos, no entanto, que o ou conceito. Notemos, no entanto, que o significsignificante é incorpóreo.ante é incorpóreo. Embora seja suscetível de se tornar sensível, não é requerida sua presença física para que entre Embora seja suscetível de se tornar sensível, não é requerida sua presença física para que entre na categoria de significante. O que o caracteriza é a diferença que há entre sua imagem acústica na categoria de significante. O que o caracteriza é a diferença que há entre sua imagem acústica (que pode potencialmente se tornar sensível) e todas as demais imagens acústicas do sistema. (que pode potencialmente se tornar sensível) e todas as demais imagens acústicas do sistema.

O significado é aquilo a que o significante se refere. Ducrot e Todorov (1972, p. 122) O significado é aquilo a que o significante se refere. Ducrot e Todorov (1972, p. 122) explicam que o significado é o que está ausente na parte sensível do signo.

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Entre significado e significante existe um equilíbrio impossível de romper: um não existe Entre significado e significante existe um equilíbrio impossível de romper: um não existe sem o outro. O significante não existe sem o significado, é apenas um objeto. O significado, por  sem o outro. O significante não existe sem o significado, é apenas um objeto. O significado, por  sua vez, sem o auxílio do significante, é impensável, indizível é o inexistente.

sua vez, sem o auxílio do significante, é impensável, indizível é o inexistente.

A aliança entre significado e significante, como acabamos de ver, é indissolúvel. Mas é A aliança entre significado e significante, como acabamos de ver, é indissolúvel. Mas é arbitrária. Não há nada em um

arbitrária. Não há nada em um que remeta, de maneira específica, ao outro. Prova disso é o que remeta, de maneira específica, ao outro. Prova disso é o fatõfatõ de que significados iguais se associam em línguas diferentes, com diferentes significantes

de que significados iguais se associam em línguas diferentes, com diferentes significantes (exemplo: mãe,

(exemplo: mãe, mother mother etc.). Portanto, a única forma de explicar um signo é em relação com osetc.). Portanto, a única forma de explicar um signo é em relação com os demais signos do sistema e não com a relação recíproca de significante-significado. Esta idéia demais signos do sistema e não com a relação recíproca de significante-significado. Esta idéia foi formulada por Saussure (1915, pp. 130-133) com sua teoria da

foi formulada por Saussure (1915, pp. 130-133) com sua teoria da arbitrariedadarbitrariedade do signoe do signo lingüístico.

lingüístico.

Saussure outorga ao signo lingüístico outra característica especial: seu valor. Assim como Saussure outorga ao signo lingüístico outra característica especial: seu valor. Assim como uma moeda, cada signo vale em relação aos demais signos da estrutura (

uma moeda, cada signo vale em relação aos demais signos da estrutura ( ibid ibid . pp. 192-202). Tem,. pp. 192-202). Tem, com eles, uma relação fixa e, além disso, é intercambiável. O signo cumpre, assim, duas

com eles, uma relação fixa e, além disso, é intercambiável. O signo cumpre, assim, duas  premissas básica

 premissas básicas: a) como s: a) como designa algo que Ihe é alheio, tem poder de designa algo que Ihe é alheio, tem poder de mudança e b) seu poder mudança e b) seu poder  significativo depende das relações estabelecidas com os outros elementos do sistema.

significativo depende das relações estabelecidas com os outros elementos do sistema.

Saussure destacou o fato de que há dois tipos de ordenamentos dos signos: a concatenação e Saussure destacou o fato de que há dois tipos de ordenamentos dos signos: a concatenação e a substituição de um signo por outro. A partir destes conceitos, Jakobson (1963) distinguiu, a substituição de um signo por outro. A partir destes conceitos, Jakobson (1963) distinguiu, dentro da linguagem, os termos

dentro da linguagem, os termos relacionarelacionados, por semelhança, com os dos, por semelhança, com os associadassociados por os por  contigüida

contigüidade. Um de. Um exemplo dos primeiros seria "fogo" e exemplo dos primeiros seria "fogo" e "paixão"; em troca, um "paixão"; em troca, um conceitoconceito

contíguo a fogo poderia ser "calor". A substituição de um significante por outro, na base de uma contíguo a fogo poderia ser "calor". A substituição de um significante por outro, na base de uma relação de similitude, constitui a

relação de similitude, constitui a metáforametáfora. Se, em compensação, um significante for substituído. Se, em compensação, um significante for substituído  por outro que

 por outro que tenha, com o tenha, com o primeiro. uma relação de primeiro. uma relação de contigüidcontigüidade, estar-se-á efetuando umaade, estar-se-á efetuando uma metonímia

metonímia..

O processo metafórico é criador de sentido. Se dissermos, referindo-nos a um homem: O processo metafórico é criador de sentido. Se dissermos, referindo-nos a um homem: "atirou-se sobre seu inimigo como um

"atirou-se sobre seu inimigo como um lobo", estamos ampliando o sentido da frase, lobo", estamos ampliando o sentido da frase, criando,criando, assim, um novo significado para o conceito de "homem", que o associa, neste exemplo, à assim, um novo significado para o conceito de "homem", que o associa, neste exemplo, à ferocidade e à brutalidade.

ferocidade e à brutalidade.

 Na metonímia, como já dissemos, um significante substitui outro, associado por   Na metonímia, como já dissemos, um significante substitui outro, associado por 

contigüidade. Este seria o exemplo da substituição do termo "psicanálise" pela palavra "divã". contigüidade. Este seria o exemplo da substituição do termo "psicanálise" pela palavra "divã".  Neste caso, não há criação de sentido. No processo, nem um nem outro significante sofre  Neste caso, não há criação de sentido. No processo, nem um nem outro significante sofre

modificações no que se refere à sua significação. Se, na frase, "aproximou-se do fogo", modificações no que se refere à sua significação. Se, na frase, "aproximou-se do fogo",

substituirmos o último termo por "calor", não mudamos o sentido geral do que quisemos dizer. substituirmos o último termo por "calor", não mudamos o sentido geral do que quisemos dizer. A obra de Lacan hierarquizou os conceitos lingüísticos que acabamos de expor, ao se servir  A obra de Lacan hierarquizou os conceitos lingüísticos que acabamos de expor, ao se servir  deles para a elaboração e formalização de sua teoria. Sobre os processos metafóricos e

deles para a elaboração e formalização de sua teoria. Sobre os processos metafóricos e metonímicos, Lacan constrói sua tese de que o inconsciente se estrutura como linguagem. metonímicos, Lacan constrói sua tese de que o inconsciente se estrutura como linguagem. Também o

Também o lapsuslapsus, os atos falhos, os sonhos e os sintomas, em suma, todas as formações do, os atos falhos, os sonhos e os sintomas, em suma, todas as formações do inconsciente, surgem como resultado das substituições metafóricas ou metonímicas de um ou inconsciente, surgem como resultado das substituições metafóricas ou metonímicas de um ou mais significantes por outros, vinculados aos originais por diferentes tipos de relações.

mais significantes por outros, vinculados aos originais por diferentes tipos de relações.

Esta tese fundamental leva Lacan a prestar especial atenção à organização da linguagem; Esta tese fundamental leva Lacan a prestar especial atenção à organização da linguagem; dela extrai numerosos conceitos que, depois, aplicará ao conhecimento do objeto psicanalítico dela extrai numerosos conceitos que, depois, aplicará ao conhecimento do objeto psicanalítico  por excelência: o inconsciente.

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3. Narcisismo. Papel do outro(a) na constituição do sujeito 3. Narcisismo. Papel do outro(a) na constituição do sujeito

 No Congresso Psicanalítico Internacional de 1936, Lacan abriu uma nova perspectiva, com o  No Congresso Psicanalítico Internacional de 1936, Lacan abriu uma nova perspectiva, com o trabalho que depois se converteria em um clássico e que, em 1949, assumiu sua versão

trabalho que depois se converteria em um clássico e que, em 1949, assumiu sua versão definitiva: posteriormente, foi incluído em seus

definitiva: posteriormente, foi incluído em seus Ecrits Ecrits de 1966. de 1966. Referimo-nos, evidentemeReferimo-nos, evidentemente, ante, a "Le stade du miroir comme formateur de

"Le stade du miroir comme formateur de la fonction du Je telle qu'elle nous est revélée dansla fonction du Je telle qu'elle nous est revélée dans l'expérienc

l'expérience e psychanalypsychanalytique".tique".

Lacan parte de um fato observado na psicologia comparada: o bebê, ao redor dos seis meses, Lacan parte de um fato observado na psicologia comparada: o bebê, ao redor dos seis meses, reage jubilosamente diante da percepção de sua própria imagem refletida no espelho. Esta

reage jubilosamente diante da percepção de sua própria imagem refletida no espelho. Esta reação contrasta com a

reação contrasta com a indiferençindiferença que a que outros mamíferos demonstram ante seu reflexooutros mamíferos demonstram ante seu reflexo especular.

especular.

A que se deve esta resposta? Que conseqüências tem no desenvolvimento psíquico do ser  A que se deve esta resposta? Que conseqüências tem no desenvolvimento psíquico do ser  humano? Em torno destas perguntas, o autor desenvolve uma teoria sobre o narcisismo e a humano? Em torno destas perguntas, o autor desenvolve uma teoria sobre o narcisismo e a identificação primordial.

identificação primordial.

Em nossa opinião, este tema constitui uma das contribuições mais destacadas da teoria Em nossa opinião, este tema constitui uma das contribuições mais destacadas da teoria lacaniana, pois encara o estudo do fenômeno narcisista de uma perspectiva original. Em sua lacaniana, pois encara o estudo do fenômeno narcisista de uma perspectiva original. Em sua formulação se conjugam, de maneira ajustada, fatos de observação clínica, conceptualizações de formulação se conjugam, de maneira ajustada, fatos de observação clínica, conceptualizações de nível teórico e um modo muito profundo de entender as relações do homem, não somente com a nível teórico e um modo muito profundo de entender as relações do homem, não somente com a mãe, mas também com o

mãe, mas também com o contexto cultucontexto cultural em que vive.ral em que vive.

Lacan pensa que o ser humano tem uma representação fantasmática do corpo, na qual este Lacan pensa que o ser humano tem uma representação fantasmática do corpo, na qual este aparece fragmentado. A imago de seu esquema corporal fragmentado continua a se expressar  aparece fragmentado. A imago de seu esquema corporal fragmentado continua a se expressar  durante a vida adulta nos sonhos, delírios e processos alucinatórios. Concebe seu corpo como durante a vida adulta nos sonhos, delírios e processos alucinatórios. Concebe seu corpo como quebrado ou sujeito a se partir em pedaços. Sinal de imaturidade? De prematuridade? Resultado quebrado ou sujeito a se partir em pedaços. Sinal de imaturidade? De prematuridade? Resultado das vivências relacionada

das vivências relacionadas à s à incoordenaçincoordenação motora, própria dos ão motora, própria dos primeiros meses de vida? Imagoprimeiros meses de vida? Imago arcaica compartilh

arcaica compartilhada por todos os homens, em ada por todos os homens, em todas as culturas? Mito? Lacan recorre a todastodas as culturas? Mito? Lacan recorre a todas estas explicações, em diferentes momentos, para explicar um fato de inquestionável verificação estas explicações, em diferentes momentos, para explicar um fato de inquestionável verificação clínica.

clínica.

A imagem de seu próprio corpo, refletida no espelho, surpreende o lactente, pois se vê A imagem de seu próprio corpo, refletida no espelho, surpreende o lactente, pois se vê esculpido em uma

esculpido em uma gestalt  gestalt que nada mais é do que uma imagem antecipatória da coordenação eque nada mais é do que uma imagem antecipatória da coordenação e integridade que não possui naquele momento. "O fato de que sua imagem especular seja

integridade que não possui naquele momento. "O fato de que sua imagem especular seja

assumida, jubilosamente, pelo ser ainda mergulhado na impotência motora e na dependência da assumida, jubilosamente, pelo ser ainda mergulhado na impotência motora e na dependência da lactância, em que está o homenzinho, nesse estágio

lactância, em que está o homenzinho, nesse estágio infansinfans, parecer-nos-á, portanto, que, parecer-nos-á, portanto, que manifesta, em sua situação exemplar, a matriz simbólica na qual o

manifesta, em sua situação exemplar, a matriz simbólica na qual o  Eu Eu(je) se precipita, em uma(je) se precipita, em uma forma primordial, antes de se objetivar na dialética da identificação com o outro e antes que a forma primordial, antes de se objetivar na dialética da identificação com o outro e antes que a linguagem lhe restitua

linguagem lhe restitua, no universal, sua função de sujeito" (1949, p. , no universal, sua função de sujeito" (1949, p. 87). "É que a 87). "É que a forma totalforma total do corpo, graças à qual o sujeito se adianta, em um espelhismo, à maturação de seu poder, não do corpo, graças à qual o sujeito se adianta, em um espelhismo, à maturação de seu poder, não lhe é dada senão como

lhe é dada senão como Gestalt Gestalt , isto é, em , isto é, em uma exterioridade onde, sem dúvida, esta forma éuma exterioridade onde, sem dúvida, esta forma é mais constituinte do que constituída, mas onde, principalmente, tudo lhe aparece em um relevo mais constituinte do que constituída, mas onde, principalmente, tudo lhe aparece em um relevo de estatura que a coagula e sob uma

de estatura que a coagula e sob uma simetria que a inverte, em oposição à turbulência desimetria que a inverte, em oposição à turbulência de movimentos com que se experimenta a si mesmo, animando-a" (

movimentos com que se experimenta a si mesmo, animando-a" ( Ibid., Ibid.,pp. 87-88) (1).pp. 87-88) (1).

 Nesta identificação com uma imago que não é mais do que a promessa daquilo que virá a  Nesta identificação com uma imago que não é mais do que a promessa daquilo que virá a ser, há uma falácia: o sujeito se identifica com algo que não é. Na verdade, acredita ser o que o ser, há uma falácia: o sujeito se identifica com algo que não é. Na verdade, acredita ser o que o

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espelho ou, digamo-lo logo, o olhar da mãe lhe reflete. Identifica-se com um fantasma; usando o espelho ou, digamo-lo logo, o olhar da mãe lhe reflete. Identifica-se com um fantasma; usando o termo lacaniano, com um

termo lacaniano, com um imaginárioimaginário. Desde muito cedo, o homem fica preso . Desde muito cedo, o homem fica preso a uma ilusão, daa uma ilusão, da qual procurará se aproximar pelo resto de sua vida. Ser

qual procurará se aproximar pelo resto de sua vida. Ser um herói, ser Superman ou o um herói, ser Superman ou o CavaleiroCavaleiro Solitário, ser um gênio, não são mais do

Solitário, ser um gênio, não são mais do que versões do processo imaginário. Portantoque versões do processo imaginário. Portanto, vemos, vemos que o estágio do espelho não é apenas um

que o estágio do espelho não é apenas um momento do desenvolvimmomento do desenvolvimento do ser humano. É ento do ser humano. É umauma estrutura, um modelo de vínculo que operará durante toda a vida. No seio da teoria lacaniana, é estrutura, um modelo de vínculo que operará durante toda a vida. No seio da teoria lacaniana, é conceptual

conceptualizado como um dos izado como um dos três registros que definem o três registros que definem o sujeito: o registro imaginário.sujeito: o registro imaginário. "Porém, o ponto importante é que esta forma situa a instância do eu, ainda antes de sua "Porém, o ponto importante é que esta forma situa a instância do eu, ainda antes de sua determinação socia

determinação social, em l, em uma linha de uma linha de ficção, irredutívelficção, irredutível, para , para sempre, pelo próprio indivíduo;sempre, pelo próprio indivíduo; ou então, que só assintoticamente tocará o devir do sujeito, seja qual for o êxito das sínteses ou então, que só assintoticamente tocará o devir do sujeito, seja qual for o êxito das sínteses dialéticas por meio das quais tem de resolver, enquanto

dialéticas por meio das quais tem de resolver, enquanto eu (je)eu (je), sua discordância a respeito de, sua discordância a respeito de sua própria realidade" (

sua própria realidade" (ibid ibid ., p. 87).., p. 87).

Somente pelo fato de viver com outros homens, os seres humanos ficam presos, Somente pelo fato de viver com outros homens, os seres humanos ficam presos,

irreversivelmente, em um jogo de identificações que os impelem a repetir aquela relação com a irreversivelmente, em um jogo de identificações que os impelem a repetir aquela relação com a imago antecipat

imago antecipatória. Quando uma mulher diz a ória. Quando uma mulher diz a seu filho: "és a criança mais linda do mundo", oseu filho: "és a criança mais linda do mundo", o está introduzindo nesta dialética, da qual a criança, futuro adulto, jamais poderá escapar. A está introduzindo nesta dialética, da qual a criança, futuro adulto, jamais poderá escapar. A introdução do registro simbólico, através da problemática edípica, atenuará ou modificará estas introdução do registro simbólico, através da problemática edípica, atenuará ou modificará estas imagos especulares, mas nunca conseguirá acabar com elas.

imagos especulares, mas nunca conseguirá acabar com elas. O Eu assim constituído é, para a teoria lacaniana, o

O Eu assim constituído é, para a teoria lacaniana, o ego ideal ego ideal , diferente do, diferente do ideal do egoideal do ego. O. O ego ideal é uma imago antecipatória prévia, o que não somos mas queremos ser. Imagem mítica, ego ideal é uma imago antecipatória prévia, o que não somos mas queremos ser. Imagem mítica, narcisista, cujo alcance persegue o homem incessantemente. A estátua, o uniforme, o herói são narcisista, cujo alcance persegue o homem incessantemente. A estátua, o uniforme, o herói são significantes com que o ser humano substitui aquela ilusória assimetria primitiva. O

significantes com que o ser humano substitui aquela ilusória assimetria primitiva. O ideal doideal do ego

ego, pelo contrário, surge da inclusão do sujeito no registro simbólico. Por ser impossível se, pelo contrário, surge da inclusão do sujeito no registro simbólico. Por ser impossível se tornar esse personagem lendário, poderoso, perfeito, o indivíduo aceita fazer parte

tornar esse personagem lendário, poderoso, perfeito, o indivíduo aceita fazer parte de umade uma estrutura, da qual é perpetuador. Seu papel é transmitir a lei. E apenas um elo da cadeia: o estrutura, da qual é perpetuador. Seu papel é transmitir a lei. E apenas um elo da cadeia: o homem entregará a seus_filhos o nome (e as normas) que,

homem entregará a seus_filhos o nome (e as normas) que, por seu turno, recebeu de seu por seu turno, recebeu de seu pai, quepai, que as recebeu de seu próprio genitor, e assim sucessivamente.

as recebeu de seu próprio genitor, e assim sucessivamente.

Portanto, o ingresso na conflitiva edípica constitui o grande desafio às ilusões narcisistas Portanto, o ingresso na conflitiva edípica constitui o grande desafio às ilusões narcisistas forjadas no estágio do espelho. Mas estas marcam, de maneira definitiva, o que sucederá no forjadas no estágio do espelho. Mas estas marcam, de maneira definitiva, o que sucederá no Édipo. Assim, o ego ideal e o ideal do ego estão em permanente luta e interação.

Édipo. Assim, o ego ideal e o ideal do ego estão em permanente luta e interação.

Para Lacan, o complexo de Édipo se desenvolve em três momentos, dos quais o estágio do Para Lacan, o complexo de Édipo se desenvolve em três momentos, dos quais o estágio do espelho constitui o primeiro. O devir psíquico transcorre desde a identificação narcisista, na espelho constitui o primeiro. O devir psíquico transcorre desde a identificação narcisista, na ordem imaginária, até a identificaç

ordem imaginária, até a identificação simbólica com a Lei do pai, ão simbólica com a Lei do pai, ao concluir o Édipo. Entreao concluir o Édipo. Entre estes dois pontos, situa-se o momento em que a relação diádica com a mãe marca a criança, estes dois pontos, situa-se o momento em que a relação diádica com a mãe marca a criança, definindo sua identificação com o outro, ou melhor, com o desejo do outro. No estágio do definindo sua identificação com o outro, ou melhor, com o desejo do outro. No estágio do espelho, a criança se identifica com uma imago antecipatória de si mesma. Em um segundo espelho, a criança se identifica com uma imago antecipatória de si mesma. Em um segundo momento, fá-lo com o desejo da mãe. Finalmente, ao assumir a castração e compreender que momento, fá-lo com o desejo da mãe. Finalmente, ao assumir a castração e compreender que nem seu pai nem ela mesma

nem seu pai nem ela mesma são são o falo, que somente podem transmiti-lo de geração em geração,o falo, que somente podem transmiti-lo de geração em geração, ingressará na ordem simbólica, aceitará a lei. Este último passo constituiria o que,

ingressará na ordem simbólica, aceitará a lei. Este último passo constituiria o que,

tradicionalmente é denominado de "dissolução do complexo de Édipo", embora, na realidade, os tradicionalmente é denominado de "dissolução do complexo de Édipo", embora, na realidade, os três estilos de identificação coexistam, misturando-se durante toda a vida.

três estilos de identificação coexistam, misturando-se durante toda a vida.

O tipo principal de identificação, com o qual funciona um sujeito, tem grande importância O tipo principal de identificação, com o qual funciona um sujeito, tem grande importância  psicopatológica. Lacan propôs que tanto as psicoses como as perversões se assentam mais em  psicopatológica. Lacan propôs que tanto as psicoses como as perversões se assentam mais em

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um estilo identificatório da ordem do imaginário, do que da ordem do simbólico. O não aceder à um estilo identificatório da ordem do imaginário, do que da ordem do simbólico. O não aceder à ordem do simbólico, à

ordem do simbólico, à lei, produzirá no psicótico, segundo Lacan, o lei, produzirá no psicótico, segundo Lacan, o uso peculiar da linguagemuso peculiar da linguagem que o caracteriza. O psicótico tem um vínculo com sua mãe no qual não há espaço para um que o caracteriza. O psicótico tem um vínculo com sua mãe no qual não há espaço para um terceiro, não há lugar para a triangulação edípica. A mãe ilude o filho com a crença de que ele é terceiro, não há lugar para a triangulação edípica. A mãe ilude o filho com a crença de que ele é seu falo, o filho vive a ilusão de sê-lo. A ausência do pai (não nos referimos aqui à ausência

seu falo, o filho vive a ilusão de sê-lo. A ausência do pai (não nos referimos aqui à ausência real real  do pai, mas à sua ausência no discurso da mãe) obstaculiza o ingresso do sujeito na ordem do do pai, mas à sua ausência no discurso da mãe) obstaculiza o ingresso do sujeito na ordem do simbólico. Mãe e filho compartilham uma ficção e, na verdade, esta ficção é a psicose.

simbólico. Mãe e filho compartilham uma ficção e, na verdade, esta ficção é a psicose.

A agressividade, fenômeno que sempre foi polêmico em psicanálise, produz-se quando é A agressividade, fenômeno que sempre foi polêmico em psicanálise, produz-se quando é questionada a imago especular que se construiu.

questionada a imago especular que se construiu.  Na conferência intitulada "L'agressivit

 Na conferência intitulada "L'agressivité en é en psychoanalyspsychoanalyse" (1948), e" (1948), Lacan enuncia váriasLacan enuncia várias teses que, em conjunto, procuram

teses que, em conjunto, procuram demonstrar que a agressividade como vivência essencialmendemonstrar que a agressividade como vivência essencialmentete subjetiva, surge do encontro entre a identificação narcisista, da qual o indivíduo é portador, e as subjetiva, surge do encontro entre a identificação narcisista, da qual o indivíduo é portador, e as fraturas, clivagens, rupturas, às quais esta imago está submetida. Esclarece que este efeito da fraturas, clivagens, rupturas, às quais esta imago está submetida. Esclarece que este efeito da ação do outro sobre o ego especular somente pode ser verificado porque, antes da identificação ação do outro sobre o ego especular somente pode ser verificado porque, antes da identificação antecipat

antecipatória, o sujeito tem ória, o sujeito tem uma imago fantasmática de si mesmo uma imago fantasmática de si mesmo correspondentcorrespondente à e à do corpodo corpo fragmentado.

fragmentado.

 No começo do trabalho mencionado, em sua tese II, explica: "A agressividade na  No começo do trabalho mencionado, em sua tese II, explica: "A agressividade na

experiência, nos é dada com intenção de agressão e como imagem de deslocamento corporal, e é experiência, nos é dada com intenção de agressão e como imagem de deslocamento corporal, e é deste modo que se demonstra eficiente" (p. 96). Basta recordar os jogos e

deste modo que se demonstra eficiente" (p. 96). Basta recordar os jogos e os desenhos dasos desenhos das crianças, nos quais arrancar a cabeça, abrir o ventre, estripar a boneca constituem eventos crianças, nos quais arrancar a cabeça, abrir o ventre, estripar a boneca constituem eventos completame

completamente naturais. Acrescnte naturais. Acrescenta: "Deve-se folhear um álbum enta: "Deve-se folhear um álbum que reproduza o que reproduza o conjunto e osconjunto e os detalhes da obra de Hyeronimus Bosch, para reconhecer neles o atlas de todas estas imagens detalhes da obra de Hyeronimus Bosch, para reconhecer neles o atlas de todas estas imagens agressivas que atormentam os

agressivas que atormentam os homens..."homens..."

"Voltamos a encontrar, constantemente, estas fantasmagorias nos sonhos, especialmente no "Voltamos a encontrar, constantemente, estas fantasmagorias nos sonhos, especialmente no momento em que a análise parece ir se refletir no fundo das fixações mais arcaicas... São todos momento em que a análise parece ir se refletir no fundo das fixações mais arcaicas... São todos dados primários de uma

dados primários de uma gestalt própria da agressão no gestalt própria da agressão no homem, ligada ao caráter simbólico..."homem, ligada ao caráter simbólico..." ((ibid ibid ., p. 98). Tomando como base estas evidências primitivas e a função integradora que o., p. 98). Tomando como base estas evidências primitivas e a função integradora que o estágio do espelho realiza, Lacan postula: "A agressividade é a tendência correlacinada, à estágio do espelho realiza, Lacan postula: "A agressividade é a tendência correlacinada, à maneira de identificação, que chamamos de narcisista, e que

maneira de identificação, que chamamos de narcisista, e que determina a estrutura formal do determina a estrutura formal do egoego do homem e do registro de entidades características de seu mundo" (

do homem e do registro de entidades características de seu mundo" (ibid ibid ., p. 102).., p. 102).

Com o imaginário, que instaura o estágio do espelho, começa, em Lacan, a reflexão sobre a Com o imaginário, que instaura o estágio do espelho, começa, em Lacan, a reflexão sobre a intersubjet

intersubjetividade humana. Relação entre o sujeito e ividade humana. Relação entre o sujeito e o semelhante, entre a criança e o semelhante, entre a criança e a mãe, doa mãe, do homem com o outro. Captação do desejo humano no desejo do outro, através do olhar. Lacan homem com o outro. Captação do desejo humano no desejo do outro, através do olhar. Lacan retoma a reflexão hegeliana da

retoma a reflexão hegeliana da Fenomenologia do Espírito Fenomenologia do Espírito, especialmente a "Dialética do, especialmente a "Dialética do

Senhor e do Escravo". É na relação interdependente, mútua, de imprescindível necessidade entre Senhor e do Escravo". É na relação interdependente, mútua, de imprescindível necessidade entre os dois membros do diálogo, que se constitui a identidade. É-se senhor porque existe o escravo, os dois membros do diálogo, que se constitui a identidade. É-se senhor porque existe o escravo, e vice-versa. Dialética da intersubjetivid

e vice-versa. Dialética da intersubjetividade em uma ade em uma organizaçorganização dos lugares, através ão dos lugares, através dada estrutura. O olhar do

estrutura. O olhar do outro produz em outro produz em mim minha identidade, por reflexo. Através dele, seimim minha identidade, por reflexo. Através dele, sei quem sou e, nesse jogo narcisista, me constituo a partir de fora.

quem sou e, nesse jogo narcisista, me constituo a partir de fora.

O olhar deve ser entendido como uma metáfora geral: é o que pensam de mim, o desejo do O olhar deve ser entendido como uma metáfora geral: é o que pensam de mim, o desejo do semelhante, o cartel e o espetáculo de propaganda, o posto na família, no trabalho e na

semelhante, o cartel e o espetáculo de propaganda, o posto na família, no trabalho e na sociedade. Identi

sociedade. Identificação no outro e através do outro, este é ficação no outro e através do outro, este é meu eu. Lacan diz, em uma meu eu. Lacan diz, em uma fórmula:fórmula: o lugar do

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também se inicia a temática da alienação. também se inicia a temática da alienação.

Com a ajuda samaritana, a vocação de curar, a "alma bela" e a chamada "lei do coração", Com a ajuda samaritana, a vocação de curar, a "alma bela" e a chamada "lei do coração", mantêm-se as imagos narcisistas. Tu és meu discípulo, portanto sou teu mestre. Uma coisa leva à mantêm-se as imagos narcisistas. Tu és meu discípulo, portanto sou teu mestre. Uma coisa leva à outra, circularmente

outra, circularmente. Nada irrita mais do . Nada irrita mais do que a intenção do outro de sair que a intenção do outro de sair do jogo, pois tropeça nodo jogo, pois tropeça no que sou. Se o paciente não admite sê-lo, desgosto narcisista no analista. Se o analista questiona que sou. Se o paciente não admite sê-lo, desgosto narcisista no analista. Se o analista questiona uma certeza do paciente, desperta nele outra

uma certeza do paciente, desperta nele outra tensão agressiva.tensão agressiva.

O imaginário interage com a ordem do simbólico do tesouro do significante. O imaginário interage com a ordem do simbólico do tesouro do significante. Lacan, com sua teoria

Lacan, com sua teoria do imaginário, produz uma reviravolta muito interessante no problemado imaginário, produz uma reviravolta muito interessante no problema da agressividade humana. Propõe que todo questionamento de nossas fascinações especulares da agressividade humana. Propõe que todo questionamento de nossas fascinações especulares causa uma visão paranóica do mundo. Basta dizer a alguém que não tem razão, que não é quem causa uma visão paranóica do mundo. Basta dizer a alguém que não tem razão, que não é quem acredita ser, mostrar-lhe um ponto onde se limita a asseveração de si, para que surja a

acredita ser, mostrar-lhe um ponto onde se limita a asseveração de si, para que surja a agressividade. Lacan considera a pulsão de morte como expressão do narcisismo. agressividade. Lacan considera a pulsão de morte como expressão do narcisismo.

Posteriormente, fa-la-á interagir, também, com o registro do simbólico, dizendo que o que Posteriormente, fa-la-á interagir, também, com o registro do simbólico, dizendo que o que insiste, o que se repete, é a cadeia do significante. Ao abandonar a biologia, como fator  insiste, o que se repete, é a cadeia do significante. Ao abandonar a biologia, como fator 

explicativo para a agressividade, resta apenas o efeito da estrutura narcisista, tornando tudo mais explicativo para a agressividade, resta apenas o efeito da estrutura narcisista, tornando tudo mais simples e lógico. Por outro lado, para que a fratura seja possível, deve-se admitir que, antes da simples e lógico. Por outro lado, para que a fratura seja possível, deve-se admitir que, antes da identificação com a

identificação com a gestalt  gestalt antecipada, o indivíduo devia ter uma imago ou representaçãoantecipada, o indivíduo devia ter uma imago ou representação deslocada, fragmentada de si mesmo. A citação na qual se refere à obra de Hyeronimus Bosch, deslocada, fragmentada de si mesmo. A citação na qual se refere à obra de Hyeronimus Bosch, ou aos desenhos e jogos infantis, indica-nos que Lacan acredita que estas imagens fantasmáticas ou aos desenhos e jogos infantis, indica-nos que Lacan acredita que estas imagens fantasmáticas são originárias. Fazem parte de uma herança mítica, simbólica, que o homem recebe de seus são originárias. Fazem parte de uma herança mítica, simbólica, que o homem recebe de seus antepassados de maneira ineludível. Se uma pessoa sentir como agressiva a afirmativa: "creio antepassados de maneira ineludível. Se uma pessoa sentir como agressiva a afirmativa: "creio que isto te será muito difícil" é, diria Lacan, porque esta afirmativa está questionando a imago que isto te será muito difícil" é, diria Lacan, porque esta afirmativa está questionando a imago onipotente, poderosa, íntegra, com a qual se identificara no estágio do espelho. Mas,

onipotente, poderosa, íntegra, com a qual se identificara no estágio do espelho. Mas,

simultaneamente, se o questionamento se tornar possível, é porque, em alguma parte de sua simultaneamente, se o questionamento se tornar possível, é porque, em alguma parte de sua mente, o indivíduo percebe a possibilidade de ser fragmentado, criticado ou desintegrado. Esta mente, o indivíduo percebe a possibilidade de ser fragmentado, criticado ou desintegrado. Esta representação

representaçãoa prioria priori faz parte do acervo que herdou, somente pelo fato de existir como ser faz parte do acervo que herdou, somente pelo fato de existir como ser  humano.

humano.

4. O inconsciente estruturado como linguagem Primazia do significante e do grande Outro 4. O inconsciente estruturado como linguagem Primazia do significante e do grande Outro (A)

(A)

Lacan utiliza os elementos da lingüística em diversos planos e níveis. Por vezes, faz deles Lacan utiliza os elementos da lingüística em diversos planos e níveis. Por vezes, faz deles um uso antropológico e, em outras, sua reflexão sobre a linguagem tem aplicações

um uso antropológico e, em outras, sua reflexão sobre a linguagem tem aplicações

 psicanalíticas. Torna-se claro que seu pensamento não se move de maneira homogênea, nem  psicanalíticas. Torna-se claro que seu pensamento não se move de maneira homogênea, nem

sempre no mesmo plano, mas que os

sempre no mesmo plano, mas que os diversos elementodiversos elementos interagem de maneira variada. Nos interagem de maneira variada. No entanto, com finalidades explicativa

entanto, com finalidades explicativas, é s, é útil procurarmos discriminar estes diferentes níveis.útil procurarmos discriminar estes diferentes níveis. Em uma reflexão basicamente antropológica, Lacan destaca que o homem está inserido em Em uma reflexão basicamente antropológica, Lacan destaca que o homem está inserido em um universo de linguagem. De fato, o ser

um universo de linguagem. De fato, o ser humano é, graças à sua inclusão em um humano é, graças à sua inclusão em um sistema desistema de significantes, e é esta diferença essencial que distingue o

significantes, e é esta diferença essencial que distingue o homo sapienshomo sapiens das outras espécies dodas outras espécies do mundo animal. As abelhas, por exemplo, comunicam-se entre si, podem transmitir umas às mundo animal. As abelhas, por exemplo, comunicam-se entre si, podem transmitir umas às outras a localização das flores, necessária para a fabricação do mel. Mas estes insetos estão outras a localização das flores, necessária para a fabricação do mel. Mas estes insetos estão completamente incapacitados de criar, mediante seus meios de expressão, novos sentidos. completamente incapacitados de criar, mediante seus meios de expressão, novos sentidos. Devem se limitar a

Devem se limitar a "dizer-se" aquilo para o qual "dizer-se" aquilo para o qual estão etologicameestão etologicamente programados. O homem,nte programados. O homem, em compensação, pode utilizar seu meio de

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que a linguagem é muito mais do que um meio fixo de comunicação. Seu uso é que faz do que a linguagem é muito mais do que um meio fixo de comunicação. Seu uso é que faz do homem um ser

homem um ser especial.especial.

Através de que mecanismo pode a linguagem permitir esta criação? Sua própria estrutura é Através de que mecanismo pode a linguagem permitir esta criação? Sua própria estrutura é ambígua. Recordemos os conceitos de sincronia e diacronia. A linguagem é combinatória nos ambígua. Recordemos os conceitos de sincronia e diacronia. A linguagem é combinatória nos dois sentidos: um, horizontal

dois sentidos: um, horizontal, transcorre com o , transcorre com o passar do tempo; no outro, vertical, umpassar do tempo; no outro, vertical, um significa

significante desloca outro, que está nte desloca outro, que está ausente. Se dissermos "traze-me a ausente. Se dissermos "traze-me a mesa", em lugar mesa", em lugar de "traze-de "traze-me a

me a cadeira", a substituição do significante "mesa" por "cadeira" muda cadeira", a substituição do significante "mesa" por "cadeira" muda o sentido. Obviamente,o sentido. Obviamente, há substituições que dão muito mais sentido. Voltemos à utilizada páginas atrás: a substituição há substituições que dão muito mais sentido. Voltemos à utilizada páginas atrás: a substituição de "paixão" por "fogo" ou

de "paixão" por "fogo" ou de "lobo" por "homem", evidentemente, é criadora de um novode "lobo" por "homem", evidentemente, é criadora de um novo sentido. Segundo a opinião de Saussure, e também de Lacan, o que permite estes malabarismos sentido. Segundo a opinião de Saussure, e também de Lacan, o que permite estes malabarismos é a própria estrutura da linguagem, sua disposição em forma de trama, de

é a própria estrutura da linguagem, sua disposição em forma de trama, de entrecruzamenentrecruzamento, comto, com linhas que se associam, em sentido vertical e horizontal. Esta trama é o que chama de "cadeia linhas que se associam, em sentido vertical e horizontal. Esta trama é o que chama de "cadeia significante", descrita como "anéis, cuja corrente se fecha no anel de outra corrente feita de significante", descrita como "anéis, cuja corrente se fecha no anel de outra corrente feita de anéis" (1957 p. 481).

anéis" (1957 p. 481).

Portanto, o homem nasce em um universo que fala, em um universo de linguagem. O fato de Portanto, o homem nasce em um universo que fala, em um universo de linguagem. O fato de ser nomeado o introduz no sistema lingüístico e este sistema o transforma em mais um

ser nomeado o introduz no sistema lingüístico e este sistema o transforma em mais um significante da cadeia. O sujeito é, segundo Lacan, um significante, para outros sujeitos ou significante da cadeia. O sujeito é, segundo Lacan, um significante, para outros sujeitos ou outros significantes. A única forma de designar um sujeito, em particular, é através dos outros significantes. A única forma de designar um sujeito, em particular, é através dos significa

significantes da linguagem; dizer "Pedro" ntes da linguagem; dizer "Pedro" ou enunciar "aquele homem de ou enunciar "aquele homem de óculos" requer nossaóculos" requer nossa submissão ao sistema significante da linguagem. Portanto, nada mais somos do que

submissão ao sistema significante da linguagem. Portanto, nada mais somos do que significantes, em um sistema de significantes. E o somos pelo próprio efeito do sistema. significantes, em um sistema de significantes. E o somos pelo próprio efeito do sistema.

Do dito até o momento, pode-se deduzir o sentido radical que possui o enunciado lacaniano: Do dito até o momento, pode-se deduzir o sentido radical que possui o enunciado lacaniano: "O sujeito é falado pelo Outro". O

"O sujeito é falado pelo Outro". O Outro é a lei, as Outro é a lei, as normas e, em última instância, a estrutura danormas e, em última instância, a estrutura da linguagem. O sujeito, enquant

linguagem. O sujeito, enquanto o é o o é não existe mais do que no e não existe mais do que no e pelo discurso do Outro. Somospelo discurso do Outro. Somos alienados pela linguagem, pois somos efeito dela. Recordemos que o sujeito também está

alienados pela linguagem, pois somos efeito dela. Recordemos que o sujeito também está

alienado no imaginário, segundo o descrevemos para o estágio do espelho. Dupla alienação: no alienado no imaginário, segundo o descrevemos para o estágio do espelho. Dupla alienação: no desejo do outro (o semelhante) e no discurso do

desejo do outro (o semelhante) e no discurso do Outro (a lei, a Outro (a lei, a linguagemlinguagem). Cada um ). Cada um de nós crêde nós crê ser o que, na

ser o que, na realidade, não é (nível imaginário), ao mesmo tempo que não é realidade, não é (nível imaginário), ao mesmo tempo que não é mais do que ummais do que um significa

significante, produto da nte, produto da estrutura que o estrutura que o transcende (nível simbólico).transcende (nível simbólico).

Falamos da criação de sentido, mas não nos detivemos em analisar o mecanismo de sua Falamos da criação de sentido, mas não nos detivemos em analisar o mecanismo de sua  produção. Dissemos que o que permite esta criação é a própria

 produção. Dissemos que o que permite esta criação é a própria estrutura da linguagem. Mas,estrutura da linguagem. Mas, como é que isso acontece efetivamente? Lacan introduz uma metáfora: a do ponto de capitonê como é que isso acontece efetivamente? Lacan introduz uma metáfora: a do ponto de capitonê ("point de capiton"). Do mesmo modo que o

("point de capiton"). Do mesmo modo que o ponto com que o tapeceiro une entre si ponto com que o tapeceiro une entre si as diferentesas diferentes  partes de um estofado, o ponto de capitonê fixa a significação em uma detetminada cadeia de  partes de um estofado, o ponto de capitonê fixa a significação em uma detetminada cadeia de

significantes. O último significante da cadeia é o que dá sentido aos que o precederam. Um significantes. O último significante da cadeia é o que dá sentido aos que o precederam. Um exemplo servirá para esclarecer esta idéia. Pensemos o

exemplo servirá para esclarecer esta idéia. Pensemos o quanto é diferente dizer: "a quanto é diferente dizer: "a mesa estámesa está vazia", do que "a mesa está". O

vazia", do que "a mesa está". O significansignificante "vazia" fecha o sentido, de uma maneira muitote "vazia" fecha o sentido, de uma maneira muito diferente do que é feito com o verbo "está". Sublinhemos, então, um efeito retroativo de cada diferente do que é feito com o verbo "está". Sublinhemos, então, um efeito retroativo de cada significante sobre os significantes que o precederam o que dá a significação, ou seja o sentido. significante sobre os significantes que o precederam o que dá a significação, ou seja o sentido.

Mais adiante, veremos que Lacan utiliza este enfoque na formalização de sua teoria do Mais adiante, veremos que Lacan utiliza este enfoque na formalização de sua teoria do desejo, aplicação que tem não poucas conotações. A mais evidente é que, de fato, nosso autor  desejo, aplicação que tem não poucas conotações. A mais evidente é que, de fato, nosso autor   postula que o desejo humano é, do mesmo modo que o próprio sujeito, efeito da estrutura da  postula que o desejo humano é, do mesmo modo que o próprio sujeito, efeito da estrutura da

linguagem, cumprindo, portanto

linguagem, cumprindo, portanto, suas regras , suas regras e normas. Até o momento, descrevemos o e normas. Até o momento, descrevemos o retratoretrato do homem tal como Lacan o concebe: aprisionado entre dois sistemas, o imaginário e o

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simbólico. Este último o determina como sujeito, nomeia-o, situa-o, distingue-o como homem. simbólico. Este último o determina como sujeito, nomeia-o, situa-o, distingue-o como homem. Em poucas palavras, torna-o ser.

Em poucas palavras, torna-o ser.

Como se exprimem estas considerações, aplicadas ao homem como sujeito analítico? Como se exprimem estas considerações, aplicadas ao homem como sujeito analítico? Partiremos de uma

Partiremos de uma das mais célebres das mais célebres e, também, controvertidas propostas lacanianas. Aquele, também, controvertidas propostas lacanianas. Aquelaa que postula que o inconsciente está estruturado como linguagem. Em seu trabalho "L'instance de que postula que o inconsciente está estruturado como linguagem. Em seu trabalho "L'instance de la lettre dans I'inconscient ou la raison depuis Freud" (1957), Lacan diz: "Nosso título dá a

la lettre dans I'inconscient ou la raison depuis Freud" (1957), Lacan diz: "Nosso título dá a entender que, além desta palavra, é toda a estrutura da linguagem o que a experiência entender que, além desta palavra, é toda a estrutura da linguagem o que a experiência

 psicanalítica descobre no inconsciente. Pondo em alerta, desde o princípio, o espírito, advertido  psicanalítica descobre no inconsciente. Pondo em alerta, desde o princípio, o espírito, advertido sobre o fato de que pode ser obrigado a revisar a idéia de que o inconsciente não é mais do que a sobre o fato de que pode ser obrigado a revisar a idéia de que o inconsciente não é mais do que a sede das pulsões" (

sede das pulsões" (ibid ibid ., pp. 474-475). A letra, por sua vez, é definida como "... este suporte., pp. 474-475). A letra, por sua vez, é definida como "... este suporte material que o discurso concreto toma da linguagem..." (

material que o discurso concreto toma da linguagem..." ( Ibid  Ibid .). O que, na verdade, nada mais é.). O que, na verdade, nada mais é do que o significante.

do que o significante.

"Digamos que o sonho é semelhante àquele jogo de salão, no qual se faz com que os "Digamos que o sonho é semelhante àquele jogo de salão, no qual se faz com que os

espectadores adivinhem um enunciado conhecido ou sua variante somente por meio de uma cena espectadores adivinhem um enunciado conhecido ou sua variante somente por meio de uma cena muda. O fato do sonho dispor da

muda. O fato do sonho dispor da palavra nada muda a este respeito, porque, para o inconsciente,palavra nada muda a este respeito, porque, para o inconsciente, ela nada mais é do que um elemento de colocação em cena, como os demais... Os procedimentos ela nada mais é do que um elemento de colocação em cena, como os demais... Os procedimentos sutis que, não obstante, o

sutis que, não obstante, o sonho costuma empregar para representar estas articulações lógicas, desonho costuma empregar para representar estas articulações lógicas, de maneira muito menos artificial do que aquela que o jogo geralmente utiliza, são objeto, em

maneira muito menos artificial do que aquela que o jogo geralmente utiliza, são objeto, em Freud, de um estudo especial no qual se confirma, uma vez mais, que o trabalho do sonho segue Freud, de um estudo especial no qual se confirma, uma vez mais, que o trabalho do sonho segue as leis do significante" (

as leis do significante" ( Ibid  Ibid ., p. 492).., p. 492).

Para Lacan, o significante tem um peso maior do que o significado. De fato, propõe a Para Lacan, o significante tem um peso maior do que o significado. De fato, propõe a  primazia do significante

 primazia do significante. No seminário sobre o conto de Edgar Allan Poe, "A carta roubada". No seminário sobre o conto de Edgar Allan Poe, "A carta roubada" (( Ecrits Ecrits, pp. 5-55), fica evidente este ponto de vista, em contraste, digamo-lo, pp. 5-55), fica evidente este ponto de vista, em contraste, digamo-lo, com o , com o equilíbrioequilíbrio interno do signo lingüístico que Saussure postulara.

interno do signo lingüístico que Saussure postulara.  No relato, Poe cria uma trama em

 No relato, Poe cria uma trama em torno do desaparecimento de uma carta, cujo conteúdotorno do desaparecimento de uma carta, cujo conteúdo todos desconhecem. A presença ou ausência da carta põe os protagonistas em um jogo: quem a todos desconhecem. A presença ou ausência da carta põe os protagonistas em um jogo: quem a tiver, possuirá poder sobre quem não sabe onde ela está. Na carta há, ao que parece, uma

tiver, possuirá poder sobre quem não sabe onde ela está. Na carta há, ao que parece, uma

informação incriminatória sobre a rainha. Seu desaparecimento e substituição por um envelope informação incriminatória sobre a rainha. Seu desaparecimento e substituição por um envelope idêntico, mas com conteúdo diferente, gera a tensão e causa os diferentes movimentos

idêntico, mas com conteúdo diferente, gera a tensão e causa os diferentes movimentos executados pelos protagonistas.

executados pelos protagonistas.

Lacan utiliza o conto de Poe para demonstrar como o significante tem primazia sobre o Lacan utiliza o conto de Poe para demonstrar como o significante tem primazia sobre o significado. A carta é um envelope, cujo conteúdo é sus peitado mas não conhecido. Neste significado. A carta é um envelope, cujo conteúdo é sus peitado mas não conhecido. Neste sentido, nada mais é do que um significante. Sua posse é o que situa cada um dos personagens sentido, nada mais é do que um significante. Sua posse é o que situa cada um dos personagens em cena: quem o possui, está em situação de incriminar a rainha; quem o perde, fica em

em cena: quem o possui, está em situação de incriminar a rainha; quem o perde, fica em

desvantagem. O espectador pode suspeitar do conteúdo do envelope ( o significado), através de desvantagem. O espectador pode suspeitar do conteúdo do envelope ( o significado), através de sua circulação entre os diferentes personagens (significantes). Mediante esta metáfora, Lacan sua circulação entre os diferentes personagens (significantes). Mediante esta metáfora, Lacan encena a posição do

encena a posição do sujeito, quanto ao significantesujeito, quanto ao significante. O . O indivíduo move-se em torno, por indivíduo move-se em torno, por causacausa dele.

dele.

Também fica estabelecido seu ponto de vista acerca do que, em sua opinião, tem prioridade Também fica estabelecido seu ponto de vista acerca do que, em sua opinião, tem prioridade no interior do signo lingüístico: o significante. Em síntese, o conto de Poe ilustra duas idéias no interior do signo lingüístico: o significante. Em síntese, o conto de Poe ilustra duas idéias diferentes, mas vinculadas entre si: o significante tem prioridade sobre o significado e é sua diferentes, mas vinculadas entre si: o significante tem prioridade sobre o significado e é sua circulação que define o lugar que cada indivíduo ocupa na estrutura. Mas qual é o valor  circulação que define o lugar que cada indivíduo ocupa na estrutura. Mas qual é o valor 

representativo do significante? Lacan propõe que este decreta a morte da coisa. O significante é representativo do significante? Lacan propõe que este decreta a morte da coisa. O significante é

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