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N/Referência: P.º R P 25, 26, 27 e 28/2015 STJ-CC Data de homologação: PARECER. Relatório

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N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 2 • D at a: 16 -0 2-20 15 PARECER Relatório

1. Em 13/03/2015 foram apresentados na Conservatória do Registo Predial de …. quatro recursos hierárquicos,

aos quais vieram a caber as apresentações nºs …., …., …. e …., na sequência da decisão de recusa que incidiu sobre os pedidos de cancelamento das AP. .. de 2005/07/21 – Hipoteca Voluntária, AP. 4… de 2009/09/21 – Hipoteca Voluntária1, AP. 6… de 2009/12/04 – Hipoteca Voluntária2 e AP. 13… de 2014/06/19 – Penhora3,

decisão de qualificação essa que teve como fundamento a manifesta falta de título assente na não inclusão da aquisição no contexto de um processo de insolvência em que os cancelamentos seriam efetuados gratuita e oficiosamente nos termos do disposto no artigo 101.º, n.º 5, do Código do Registo Predial (CRP), mas no âmbito de um processo especial de revitalização.

1.1. Com efeito, em 08/02/2015 haviam sido requeridos os cancelamentos das citadas inscrições –

respetivamente anotados no diário sob as apresentações nºs ..7, ..8, ..9 e ..0 – que incidiam sobre os prédios nºs 3735/, 3736/, 3737/ e 3738/ da freguesia de …., concelho de ……….4, todos já registados a favor do Banco ...,

S.A..

1 Estas duas hipotecas voluntárias inscritas a favor do Banco ..., S.A.

2 Inscrita a favor de Pa…, S.A.

3 Resultante de processo de execução fiscal, inscrita a favor da AT – Autoridade Tributária e Aduaneira.

4 A penhora efetuada pela AP. 13.. de 2014/06/19 incidia apenas sobre a descrição n.º 3737/, da freguesia de ..., concelho de ...,

pelo que o pedido de cancelamento neste caso teve somente este prédio por objeto [Ap. ..0 de 2015/02/08]. No que concerne às

DIVULGAÇÃO DE PARECER DO CONSELHO CONSULTIVO N.º 38/ CC /2015

N/Referência: P.º R P 25, 26, 27 e 28/2015 STJ-CC Data de homologação: 01-06-2015 Recorrente: Banco ……., S.A., representado por Fernanda B…., Advogada

Recorrido: Conservatória do Registo Predial de ……

Assunto: Escritura de dação em cumprimento na sequência de Processo Especial de Revitalização [artigos 17.º A a 17.º-I do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE)] – Recusa de cancelamento dos direitos reais de garantia incidentes sobre os prédios – Emolumentos.

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1.2. A instruir os pedidos de cancelamento anexou a apresentante5 a escritura pública de dação em

cumprimento [que já tinha servido para realizar o registo de aquisição a favor do seu representado] através da qual a então titular inscrita, a sociedade comercial P… – ….. Imobiliária, Lda., em cumprimento do Plano de

Recuperação homologado judicialmente por decisão proferida a vinte e quatro de março de dois mil e catorze tendo transitado em julgado a catorze de abril de dois mil e catorze proferida no âmbito do referido processo […] dá, ao Banco ..., S.A., para pagamento parcial da referida dívida pelo valor de um milhão seiscentos e treze mil euros, livre de ónus ou encargos, os prédios supra referidos6;

1.2.1. Mas juntou também a certidão dos autos de Processo Especial de Revitalização, em que foi revitalizanda

a sociedade comercial P... – ... Imobiliária, Lda., contendo a sentença homologatória do plano de revitalização e o plano de recuperação.

1.2.1.1. Na sentença, julgou-se ineficaz o conteúdo do plano relativamente aos créditos do Estado,

homologou-se o plano de revitalização e destacou-homologou-se que a decisão vincula todos os credores, mesmo que não hajam participado nas negociações – artigo 17.º-F, n.º 6, do CIRE.

1.2.1.2. No plano aprovado pelos credores, consta, no que se refere à regularização da situação contributiva e fiscal, que se «propõe que os créditos do Estado e outros Entes Públicos sejam pagos na íntegra». O plano

propõe o pagamento imediato [a realizar aquando das dações em cumprimento] da quantia de 75.368,95€ de créditos da Fazenda Pública e que desse montante, a quantia de 74.211,48€ será paga pelas respetivas entidades beneficiárias da dação dos imóveis aí identificados com a respetiva repartição dos montantes a pagar.

1.2.1.3. Diz-se ainda: «A proposta de pagamento imediato da quantia de 74.211,48€ de créditos da Fazenda

Pública, acrescido de juros e encargos até ao efetivo pagamento, pressupõe o cancelamento dos ónus da Fazenda Pública registados nos bens imóveis propriedade da Devedora descritos nas alíneas a) a g) imediatamente anteriores [a alínea g) refere-se aos 3735/, 3736/, 3737/ e 3738/ da freguesia de ..., concelho de ...] e, bem assim, que o pagamento seja efetuado simultaneamente e contra a emissão do DUC de liquidação de IMT e Imposto do Selo que instruirá a(s) escritura(s) de dação desses bens imóveis.

hipotecas recaíam sobre todos os prédios. Portanto, as Aps. …7, ..8 e ..9 de 2015/02/08 visaram todos os prédios: nºs 3735/, 3736/, 3737/ e 3738/ da freguesia e concelho citados.

5 Fernanda B…., Advogada, que identificou o representado, Banco ..., S.A.

6 Foi ainda declarado, na escritura pública, pelo Banco credor: «Que […] aceita em pagamento parcial da referida dívida da sociedade

devedora, os prédios acima mencionados nos termos exarados, e perdoa o valor do remanescente da referida dívida prescindindo de, em qualquer altura, vir a reclamá-lo, da sociedade representada do primeiro outorgante e porque se trata de uma aquisição de imóveis por instituição de crédito em processo especial de revitalização estes destinam-se à realização de créditos resultantes de empréstimos, nada mais sendo devido pela sociedade representada do primeiro outorgante e garantes.»

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O remanescente da quantia proposta pagar no imediato [a realizar aquando das dações em cumprimento], no montante de 1.157,47€, acrescida de juros e encargos até efetivo pagamento, será paga no prazo legal, nos termos do CIRE.»

1.2.1.4. Propôs-se ainda o pagamento prestacional [a realizar nos termos do artigo 196.º do CPPT] de créditos

da Fazenda Pública no valor de 92.751,76€, com a constituição de garantias [hipoteca e penhor], e o pagamento prestacional dos créditos da Segurança Social no montante de 82.379,63€, também com prestação de garantia [hipoteca].

1.2.1.5. No que respeita à proposta de pagamento dos créditos garantidos, o plano aprovado pelos credores

expõe o seguinte:

«O plano de revitalização da Devedora propõe que os créditos garantidos, reclamados e reconhecidos, da Pa…, S.A., Banco B…, Banco ….., S.A. e Banco C….. sejam pagos na íntegra através da dação em cumprimento a seu favor ou a favor do FCR [Fundo de Capital de Risco] em constituição, nas situações em que os créditos sejam cedidos ao mesmo, dos bens imóveis e valores mobiliários infra descriminados [entre os quais estão os 3735/, 3736/, 3737/ e 3738/ da freguesia de ..., concelho de ...].

As sobreditas dações em cumprimento serão realizadas livres de ónus ou encargos nos termos do acordo a celebrar até 31 de outubro de 2013 entre aqueles credores, a Devedora e a sociedade gestora do FCR em constituição, no âmbito do qual se definirão os demais termos e condições da sua formalização.

As dações em cumprimento extinguem todos os créditos sobre a Devedora que se encontrem garantidos pelas inscrições hipotecárias registadas a favor daqueles credores, incluindo os créditos solidários, sem, contudo, com referência a estes últimos, extinguir a responsabilidade do(s) devedor(es) originário(s) e dos garantes desses créditos.»

2. Nos recursos hierárquicos7, autónomos, que se dão aqui por inteiramente reproduzidos, diferentes apenas no

que respeita à apresentação de que se recorre, alega-se identicamente e em síntese:

– Que a Recorrente, no exercício da sua atividade profissional, concedeu à sociedade P... – ... Imobiliária, Lda. um empréstimo no montante global de 14.600.000,00€ e como garantia esta constitui a seu favor hipoteca voluntária sobre os prédios descritos sob os nºs 3735/, 3736/, 3737/ e 3738/ da freguesia de ..., concelho de ...;

7 Onde se juntaram 4 documentos novos que não podem ser admitidos, determinando o seu desentranhamento dos autos. Como já tem

sido afirmado, o recurso hierárquico previsto e regulado nos artigos 140.º e seguintes do CRP é de revisão ou de reponderação da decisão recorrida, e não de reanálise do pedido. Neste sentido cfr. Processo R. P. 168/2008 SJC-CT e Processo R. P. 60/2014 STJ-CC. Todos os Processos a que fizermos referência estão disponíveis em http://www.irn.mj.pt/sections/irn/doutrina/pareceres/predial/.

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– Que no âmbito do Processo Especial de Revitalização da sociedade P... – ... Imobiliária, Lda., a Recorrente

apresentou reclamação de créditos, que se integram na categoria de créditos garantidos, tendo tal crédito sido reconhecido;

– Que, não obstante a Recorrente ter votado contra o plano de recuperação apresentado, o mesmo foi aprovado

e homologado por sentença e que no plano consta que os créditos garantidos “sejam pagos na íntegra através da dação em cumprimento a seu favor”, determinando, ainda, que “as sobreditas dações em cumprimento serão realizadas livres de ónus ou encargos”;

– Que, em cumprimento do plano, foi realizada a escritura de dação em cumprimento, e a sociedade P... – ...

Imobiliária, Lda. deu à Recorrente, livre de ónus ou encargos, os prédios descritos sob os nºs 3735/, 3736/, 3737/ e 3738/ da freguesia de ..., tendo sido o registo de aquisição a favor da Recorrente concedido em conformidade;

– Não tendo procedido ao cancelamento dos ónus incidentes sobre o prédio requereu, em 8 de fevereiro de 2015, tais cancelamentos, juntando a sentença homologatória do plano de recuperação e o respetivo plano, tendo sido recusados. Porém, não pode o despacho proceder:

Porque há aplicação subsidiária das normas referentes ao Plano de Insolvência ao Plano de Recuperação aprovado em sede de Processo Especial de Revitalização (artigo 17.º, n.º 5, do CIRE) pelo que se clama a aplicação ao caso vertente do disposto no n.º 5 do artigo 101.º do CRP;

E porque os títulos que servem de suporte ao registo de cancelamento – escritura de aquisição da propriedade e certidão do plano de revitalização aprovado e homologado por sentença – são suficientes para a efetivação do registo, onde sempre se refere que as dações são realizadas “livre de ónus ou encargos”.

– Que, quanto à questão da falta de pagamento de emolumentos, procedendo-se ao registo através da plataforma informática o sistema não gerou qualquer documento para pagamento, mas a indicação do valor do preparo a 0 e a menção relativa à isenção [artigo 28.º, n.º 18 do RERN], mas que caso se entenda que haveria

lugar ao pagamento de qualquer emolumento, deveria a entidade recorrida, proceder à notificação da Recorrente para efetuar o pagamento em falta, conforme é entendimento jurisprudencial unânime.

3. No despacho de sustentação, previsto no artigo 142.º-A, n.º 1, do CRP, que se dá aqui por integralmente

reproduzido, a Sr.ª Conservadora destacada defende a qualificação afirmando que a menção de que as dações em cumprimento são feitas livres de ónus e encargos não é título para cancelar nenhum registo, pois não se enquadra em nenhuma das situações previstas no artigo 13.º do CRP e que a aplicação subsidiária das normas referentes ao plano de insolvência ao plano de revitalização é efetuada pelo juiz, nos termos do n.º 5 do artigo 17.º-F do CIRE, e referem-se ao Título IX do CIRE, não ao Capítulo III do Título VI do CIRE respeitante à venda de bens em processo de insolvência, à qual se aplica o n.º 5 do artigo 101.º do CRP.

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3.1. Afirma finalmente que no que respeita à falta de pagamento de emolumentos, a menção constante da requisição de registo relativa a “Isenções, Reduções e Agravamentos Emolumentares” pensamos que ficará a dever-se ao facto de ter sido feita essa opção pelo apresentante, que é quem fornece os dados à aplicação. 3.1.1. Por outro lado, que a comunicação para pagamento não faria sentido, em virtude de se verificar falta de

título, pois não se ia notificar para pagamento dos emolumentos e depois recusar o registo.

4. O processo é o próprio, as partes têm legitimidade e o recurso é tempestivo, mas há uma questão processual

que importa resolver previamente.

QUESTÃO PROCESSUAL

Da apensação dos processos de recurso

1. Como vimos, na sequência da decisão de recusa que incidiu sobre os pedidos de cancelamento e que haviam

originado as apresentações nºs ..7, ..8, ..9 e ..0 de 08/02/2015, objetou a apresentante com a interposição de quatro recursos hierárquicos, cada um considerando respetivamente uma apresentação recusada – AP…. , ….., ….. e …. de 13/03/2015.

1.1. Nesse contexto, na proposta de apreciação dos recursos pelo Conselho Consultivo do IRN afigurou-se ser

de equacionar a apensação dos processos de recurso, uma vez que Recorrente e Recorrida coincidiam em todas as impugnações e era comum a questão jurídica debatida.

1.2. Mais se salientou o que ficou dito no Proc. R.P. 25, 26 e 27/2010 SJC-CT8 ou seja, que da apensação não

segue que passe a haver um recurso onde antes eram três, designadamente para efeitos de emolumento da

impugnação. A apensação funciona aqui como mero dispositivo de economia e eficiência processuais, que não

dissolve ou sequer atenua a autonomia material de cada particular impugnação, que cada qual surgiu no bem demarcado contexto de distinto e independente processo de registo9.

8 Sobre o tema, recentemente, vide ainda Proc. R.P. 1 e 2 /2009 SJC-CT e Proc. 4, 5 e 6/2014.

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1.3. De facto, a noção geral que se extrai do princípio da economia processual, princípio enformador do direito

processual civil, é o de que o resultado processual deve ser conseguido com a maior economia de meios, na dupla vertente de economia de processos e economia de atos e formalidades10.

1.4. Ora, a exigência de economia de processos explica, nomeadamente, a possibilidade de cumulação de

pedidos (artigo 555.º do Código de Processo Civil, doravante CPC) e a determinação oficiosa pelo juiz da apensação de ações que podiam ter sido reunidas no mesmo processo (artigo 267.º, n.º 4, do CPC).

1.5. Considerando o disposto no artigo 156.º do CRP, o facto de Recorrente e Recorrida coincidirem nas quatro

impugnações e ser a mesma a questão jurídica fundamental em questão, julgamos ser útil a apensação dos processos de recurso hierárquico em análise, sem prejuízo da eventual observação das propriedades únicas de cada um.

APRECIAÇÃO

1. A questão a decidir é a de saber se os documentos trazidos a registo são títulos suficientes para os

cancelamentos das inscrições de hipoteca e penhora incidentes sobre os prédios, em virtude de, como defende o Recorrente, por um lado, se aplicar subsidiariamente ao processo especial de revitalização as normas do processo de insolvência e, por consequência, o artigo 101.º, n.º 5, do CRP, e, por outro lado, pelo facto de os documentos referidos mencionarem que a dação se faria “livre de ónus ou encargos”.

1.1. Ainda que resumidamente, vejamos em que consiste o Processo Especial de Revitalização e,

posteriormente, o âmbito de aplicação da norma contida no artigo 101.º, n.º 5, do CRP.

A) O Processo Especial de Revitalização (PER)11

10 Cfr. JOSÉ LEBRE DE FREITAS, Introdução ao Processo Civil - Conceito e princípios gerais à luz do novo código, Coimbra: Coimbra Editora,

2013, 3.ª ed., p. 203 e ss.

11 Para maiores desenvolvimentos sobre o PER, vide, entre outros: LUÍS A. CARVALHO FERNANDES e JOÃO LABAREDA, Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas Anotado, Lisboa: Quid Juris, 2013, p. 139 e ss.; CATARINA SERRA, O Regime Português da Insolvência, 5.ª ed., Coimbra: Almedina, 2012, p. 175 e ss., Processo Especial de Revitalização – Contributos para uma “Retificação”, Revista da Ordem dos Advogados, Ano 72, Abril/Setembro 2012, p. 715 e ss., Revitalização – A designação e o misterioso objeto designado. O Processo homónimo (PER) e as suas ligações com a insolvência (situação e processo) e com o SIREVE, I Congresso de Direito da Insolvência (Coord.: CATARINA SERRA), Coimbra: Almedina, 2013, p. 85 e ss.; MARIA DO ROSÁRIO EPIFÂNIO, Manual de Direito da Insolvência, 5.ª ed., Coimbra: Almedina, 2013, p. 275 e ss.; NUNO SALAZAR CASANOVA e DAVID SEQUEIRA DINIS, Processo Especial de Revitalização, Coimbra: Coimbra Editora, 2014; PAULO DE TARSO DOMINGUES, O CIRE e a recuperação das sociedades comerciais em crise, Coimbra: Almedina,

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1.2. A Lei 16/2012, de 20 de abril, procedeu à sexta alteração ao CIRE, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 53/2004,

de 18 de março12 tendo, além do mais, aditado o Capítulo II ao Título I, composto pelos artigos 17.º-A a 17.º-I,

com a epígrafe «Processo Especial de Revitalização». Criou um instrumento de revitalização pré-insolvencial.

1.2.1. É, portanto, um processo de recuperação do devedor que opera antes da declaração da insolvência13 e

por isso já sobejamente afirmado como pré-insolvencial14. Tem como vantagem a oportunidade que é conferida

ao devedor de obter um plano de recuperação sem ser declarado insolvente, afastando o anátema – que ainda

existe – associado à insolvência de um qualquer agente económico15.

2013, p. 31 e ss. (Sep. de: O princípio da territorialidade nas operações não financeiras […], Coleção Estudos, Instituto do Conhecimento AB.)

12 Que foi objeto de alteração pelos diplomas seguintes: Decreto-Lei n.º 76-A/2006, de 29-03; Decreto-Lei n.º 282/2007, de 07-08;

Decreto-Lei n.º 116/2008, de 04-07; Decreto-Lei n.º 185/2009, de 12-08; a falada Lei n.º 16/2012, de 20-04; Lei n.º 66-B/2012, de 31-12 e o Decreto-Lei n.º 26/2015, de 06-02.

13 Diferentemente, só em momento posterior à de declaração de insolvência e em princípio até ao encerramento do processo [cfr. artigos

209.º, n.º 2, 36.º, n.º 1, n), do CIRE] é que, nos termos dos artigos 192.º a 222.º do CIRE a liquidação do património do insolvente ou a recuperação do devedor podem ser regulados num plano de insolvência que, se visar a recuperação do devedor, se denomina plano de recuperação (artigo 192.º, n.º 3, do CIRE). De facto, o legislador regulou primeiro a tramitação “normal”, mas supletiva, do processo de insolvência no CIRE e depois, no Título IX, a matéria respeitante ao plano de insolvência.

De acordo com o n.º 2 do artigo 217.º do CIRE, com a sentença homologatória do plano de recuperação produzem-se efeitos sobre quaisquer atos ou negócios jurídicos previstos no plano de insolvência, dispensando a lei a forma legalmente prevista. É, no entanto, fundamental que constem do processo, por escrito, as necessárias declarações de vontade de terceiros e dos credores que o não tenham votado favoravelmente, ou que, nos termos do plano, devessem ser emitidas posteriormente à aprovação. Prescinde-se das declarações de vontade do devedor cujo consentimento não seja obrigatório e da nova sociedade ou sociedades a constituir.

Nestes termos, o próprio processo tem o valor de forma alternativa bastante para os atos que evidencia, desde que se verifiquem cumulativamente, os seguintes requisitos: a) os atos em causa integrem o plano aprovado pelos credores; b) sejam concretizados até à sentença homologatória; constem do processo, para lá da deliberação dos credores, as declarações de vontade, que se mostrem necessárias, de terceiros e de credores que as devam emitir individualmente (ou do próprio devedor se o seu consentimento for obrigatório) para que o ato ou negócio se conclua. Cfr. LUÍS A. CARVALHO FERNANDES e JOÃO LABAREDA, op. cit, anotação ao artigo 217.º.

14 Tendo sido já proferida sentença declaratória de insolvência, o PER não pode iniciar-se, devendo o juiz “indeferir” o “requerimento de

abertura” do PER. Cfr. CATARINA SERRA, Revitalização – A designação e o misterioso objeto designado […], cit., p. 92-93.

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1.2.2. Os devedores que se encontrem comprovadamente numa “situação de insolvência meramente iminente”16

ou numa “situação económica difícil”, podem, nos termos do artigo 17.º-A do CIRE, utilizar este instrumento de revitalização.

1.2.3. Mas, o PER pode ser representado de duas formas: como um procedimento que se traduz num processo

negocial entre devedor e respetivos credores e que acontece sob a alçada judicial, previsto nos artigos 17.º-A a 17.º-H do CIRE; ou num acordo extrajudicial de recuperação entre o devedor e os credores que representem pelo menos a maioria dos votos prevista no n.º 1 do artigo 212.º do CIRE, já fechado, apresentado ao juiz para homologação. Neste último caso, mencionado no artigo 17.º-I do CIRE, as negociações ocorrem antes da fase judicial17.

1.2.4. Assim, o PER tem como objetivo conseguir-se um plano de recuperação para o devedor, que deverá ser

aprovado pela maioria dos credores (artigos 17.º-F, n.º 3, 17.º-I, n.º 4 e 212.º, n.º 1, do CIRE) e homologado pelo juiz, que para a homologação ou sua recusa deve aplicar, com as necessárias adaptações, as regras vigentes em matéria de aprovação e aprovação do plano de insolvência previstas no Título IX, em especial o disposto nos artigos 215.º e 216.º do CIRE (artigos 17.º-F, n.º 5 e, 17.º-I, n.º 4, do CIRE).

1.2.5. Aprovado e homologado o plano de recuperação, o mesmo vincula todos os credores, mesmo aqueles

que não hajam participado nas negociações (artigos 17.º-F, n.º 6 e, 17.º-I, n.º 6, do CIRE).

1.2.6. Trata-se, em suma, não de uma modalidade de processo de insolvência, mas de uma espécie autónoma

construída para resultados distintos, já que se destina a evitar a situação de insolvência. O que não afasta, quando necessário e apropriado, a possibilidade de se aplicarem ao PER as normas que digam respeito ao

16 Sobre a definição de “insolvência iminente” vide CATARINA SERRA, Revitalização – A designação e o misterioso objeto designado […], cit., p. 90-92.

17 Cfr. PAULO DE TARSO DOMINGUES, op. cit., p. 50.

No entendimento de CATARINA SERRA, Revitalização – A designação e o misterioso objeto designado […], cit., p. 103, em análise à eventual perturbação da existência do PER para a atividade da empresa, «ao contrário do que se pretende, o PER não é um processo desjudicializado.»

Por outro lado, afirma CATARINA SERRA, O Regime Português da Insolvência, cit., p. 189, «Além do PER, prevê-se, no artigo 17.º-I, um instrumento tendente a valorizar (a favorecer) a negociação extrajudicial: a homologação de acordos extrajudiciais de recuperação do devedor […]. Apesar de aparecer integrado, sob o ponto de vista sistemático, no regime do PER, deve entender-se que a homologação de acordos extrajudiciais para recuperação tem alguma autonomia face ao PER, dado o carácter extrajudicial “puro” da negociação que pressupõe.»

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processo de insolvência. Fundamental é que a norma a aplicar não seja contraditória com o regime específico do

processo de revitalização nem remanesçam outras razões que a excluam18.

B) A norma contida no artigo 101.º, n.º 5 do CRP

1.3. De acordo com o disposto no n.º 5 do artigo 101.º do CRP19, «A inscrição de aquisição, em processo de

execução ou de insolvência, de bens penhorados ou apreendidos determina o averbamento oficioso de cancelamento dos registos dos direitos reais que caducam nos termos do n.º 2 do artigo 824.º do Código Civil20

1.3.1. Nestes termos, por um lado, a caducidade dos direitos reais opera como efeito automático da venda em

execução (artigo 811.º do CPC) ou de insolvência (artigo 164.º do CIRE) e, por outro, cabe ao conservador, oficiosamente, proceder ao cancelamento dos registos dos direitos reais que caduquem com a venda21.

1.3.2. Quanto ao título para o cancelamento, não o fixa a norma, mas é bom de ver que no processo de

execução comum será o título de transmissão emitido nos termos do artigo 827.º, n.º 1, do CPC, quando a venda se realize mediante propostas em carta fechada; e, nas restantes modalidades de venda, o instrumento de venda respetivo (cfr. artigos 811.º, nºs 1 e 2 e artigo 827.º, n.º 2, do CPC)22.

18 Cfr. LUÍS A. CARVALHO FERNANDES e JOÃO LABAREDA, Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas Anotado, cit., p. 141, que

assim explicam o entendimento da aplicabilidade da regra contida no artigo 19.º do CIRE, no que respeita à apresentação do correspondente pedido.

De facto, nos artigos que disciplinam o PER, há remissão expressa para normas gerais do CIRE, que se devem aplicar, ainda assim, com as necessárias adaptações: os artigos 32.º a 34.º [artigo 17.º-C, n.º 3, a)], o artigo 24.º, n.º 1 [artigos 17.º-C, n.º 3, b) e 17.º-D, n.º 1], os artigos 37.º e 38.º [artigos C, n.º 4 e F, n.º 6], o artigo 161.º [artigo E, n.º 2], o n.º 1 do artigo 212.º [artigos F, n.º 3, 17.º-I, n.º 4], o artigo 211.º [artigo 17.º-F, n.º 4], os artigos 215.º e 216.º [artigo 17.º-F, n.º 5], o artigo 28.º [artigo 17.º-G, n.º 4], e a al. j) do n.º 1 do artigo 36.º [artigo 17.º-G, n.º 7].

19 Sobre a evolução legislativa deste preceito cfr. Proc. C.Bm. 28/2010 SJC-CT.

20 É a seguinte a redação do n.º 2 do artigo 824.º do CC: «Os bens são transmitidos livres dos direitos de garantia que os onerarem, bem

como dos demais direitos reais que não tenham registo anterior ao de qualquer arresto, penhora ou garantia, com exceção dos que, constituídos em data anterior, produzam efeitos em elação a terceiros independentemente de registo.»

21 Sobre o cancelamento oficioso dos registos dos direitos de garantia e demais direitos reais que caducam nos termos do n.º 2 do artigo

824.º do Código Civil em caso de registo de bens adquiridos em processo de insolvência, vide Proc. R.P. 20/2012 SJC-CT e Proc. R.P. 112/2012 SJC-CT. Quanto à necessidade de considerar as disposições legais aplicáveis ao concreto processo executivo em que a transmissão ocorra para se dar por titulado o cancelamento, cfr. o citado Proc. R.P. 25, 26 e 27/2010 SJC-CT.

22 No processo de execução fiscal o título será o despacho do órgão de execução fiscal a que se refere o artigo 260.º do CPPT. Estatui a

norma: «O levantamento da penhora e o cancelamento dos registos dos direitos reais que caducam, nos termos do n.º 2 do artigo 824.º do Código Civil, serão ordenados pelo órgão da execução fiscal se anteriormente não tiverem sido requeridos pelo adquirente dos bens.» Cfr. Proc. R.P. 227/2009 SJC-CT (nota 9) e o citado Proc. R.P. 25, 26 e 27/2010 SJC-CT.

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1.3.3. No que respeita ao processo de insolvência, será o título por que tenha optado o administrador da

insolvência – que assume a representação do devedor para todos os efeitos de caráter patrimonial que interessem à insolvência, como resulta do disposto no n.º 4 do artigo 81.º do CIRE – para a alienação dos bens apreendidos23, que pode resultar de qualquer uma das modalidades admitidas em processo executivo ou

qualquer outra que tenha por mais conveniente, nos termos previstos nos seis números do artigo 164.º do CIRE24.

2. Porém, no caso em apreciação, a dação em cumprimento não produz os efeitos previstos no artigo 824.º, n.º

2, do CC, isto é, os direitos que se extinguem com a dação em cumprimento não se extinguem por força do artigo 824.º, referido, mas, eventualmente, com a extinção da obrigação.

2.1. Portanto, a questão da ocasional aplicabilidade do artigo 101.º, n.º 5 do CRP, nem se chega sequer a

colocar25.

2.2. Contudo, é necessário analisar se entre os direitos reais de garantia que se pretendiam cancelar existiam

alguns em que se comprovou a extinção da obrigação a que serviam de garantia e que deveriam ter sido objeto de cancelamento ao abrigo da norma contida no artigo 97.º, n.º 1 do CRP.

2.2.1. Para o que ora nos interessa, no plano acordou-se que os créditos garantidos da Pa…., S.A. e do Banco

…., S.A., fossem pagos na íntegra através da dação em cumprimento a seu favor, ou a favor do FCR em constituição, dos bens imóveis aí descriminados, entre os quais estão os 3735/, 3736/, 3737/ e 3738/ da freguesia de ..., concelho de ...

2.2.2. Ajustou-se ainda que as dações em cumprimento seriam realizadas livres de ónus ou encargos nos termos do acordo a celebrar até 31 de outubro de 2013 entre aqueles credores, a Devedora e a sociedade gestora do FCR em constituição, no âmbito do qual se definirão os demais termos e condições da sua formalização.

2.2.3. Finalmente, acordou-se que as dações em cumprimento extinguiriam todos os créditos sobre a Devedora

que se encontrem garantidos pelas inscrições hipotecárias registadas a favor daqueles credores, incluindo os créditos solidários, sem, contudo, com referência a estes últimos, extinguir a responsabilidade do(s) devedor(es)

originário(s) e dos garantes desses créditos.

23 Nos termos do n.º 1 do artigo 149.º do CIRE, proferida a sentença declaratória da insolvência, procede-se à imediata apreensão dos

elementos da contabilidade e de todos os bens integrantes da massa insolvente.

24 Quanto ao título para registo em caso de venda em processo de insolvência vide Proc. R.P. 29/2013 STJ-CC.

25 Consequentemente, também não se podia aplicar o artigo 14.º, n.º 1, b), do RERN, que prevê a gratuitidade dos averbamentos a que

se referem o artigo 101.º, n.º 5, do CRP. De salientar ainda que, nos termos de Orientação e Recomendação publicada no BRN 4/99, I Caderno, fls. 12, estes averbamentos são gratuitos, independentemente de serem requeridos ou lavrados oficiosamente.

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2.2.4. O que quer significar que aprovado e homologado o plano de recuperação, todos os credores, mesmo

aqueles que não hajam participado nas negociações, ficaram vinculados à celebração da respetiva escritura de dação em cumprimento (artigo 17.º-F, n.º 6 do CIRE).

2.2.5. E que (não tendo nós o acordo referido «a celebrar até 31 de outubro de 2013» entre os credores) o momento do pagamento dos créditos garantidos e da extinção dos mesmos é o da data da celebração das

respetivas dações em cumprimento26.

2.2.6. De facto, no seguimento do acordado, foi realizada escritura pública de dação em cumprimento a favor do

Banco ….., S.A., dos prédios supra identificados, para pagamento de dívida proveniente de empréstimos efetuados pelo Banco a favor da sociedade revitalizanda.

2.2.6.1. Ora, como já tivemos oportunidade de salientar, a dação em cumprimento, admitida no artigo 837.º do

CC, que pode designar-se sinonimamente como dação em pagamento, datio in solutum ou dação no lugar ou

em vez do cumprimento27, consiste na prestação ao credor pelo devedor ou por terceiro de uma “coisa” diferente

da devida, com o mesmo ou diferente valor, mas com o fim de extinguir imediatamente a obrigação28

2.2.6.2. Portanto, para ser causa de extinção de uma obrigação tem de encerrar dois pressupostos: i) a

realização de uma prestação diferente da que for devida; e ii) o acordo do credor relativo à exoneração do devedor com essa prestação, isto é, o assentimento do credor para que a prestação diferente da devida extinga imediatamente a obrigação.

2.2.7. No caso, sobre os prédios dados em cumprimento, incidem duas inscrições hipotecárias [AP. .. de

2005/07/21 e AP. 4…. de 2009/09/21, a favor do Banco ……., S.A.].

2.2.7.1. Porém, não resulta inequívoco do título (dação em cumprimento) que as obrigações extintas sejam

garantidas por essas hipotecas, pelo que nem ao abrigo do artigo 97.º, n.º 1, do CRP, o cancelamento podia ser efetuado. Aliás, a menção feita na escritura de dação em cumprimento de que o «cancelamento já se encontra assegurado» aponta no sentido de que o cancelamento não resultará da própria dação em cumprimento, mas de algum documento exterior.

26 O que acaba por desvalorizar a importância acentuada à menção “livre de ónus ou encargos”. Para a extinção dos créditos (de todos os

créditos a favor dos respetivos credores) importante é a celebração da escritura de dação em cumprimento.

27 A este respeito cfr. ADRIANO VAZ SERRA, “Algumas questões sobre dação em cumprimento”, Revista de Legislação e Jurisprudência,

Ano 99, 1966, p. 97 e ss.

28 ANTUNES VARELA dá a seguinte noção: «A dação em cumprimento (datio in solutum), vulgarmente chamada pelos autores dação em pagamento, consiste na realização de uma prestação diferente da que é devida, com o fim de, mediante acordo do credor, extinguir imediatamente a obrigação».

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2.2.8. De facto, como a hipoteca se extingue pela extinção da obrigação a que serve de garantia, nos termos da

alínea a) do artigo 730.º do CC, com o registo de aquisição a favor do Banco ……., S.A. que teve por título a citada escritura de dação em cumprimento, poderia ter-se procedido oficiosamente ao cancelamento das referidas duas inscrições hipotecárias, caso se fizesse prova que as referidas inscrições garantiam a

obrigação extinta29.

2.2.9. No seguimento, quanto à AP. 6…. de 2009/12/04, hipoteca voluntária inscrita a favor de Pa…, S.A., não foi

instruído o processo de registo com a dação em cumprimento que extinguiria todos os seus créditos, sobre a devedora, garantidos por inscrições hipotecárias registadas seu favor. De facto, como não se comprovou a extinção da obrigação [dos créditos, como se afirma no plano], não se poderia ter procedido ao cancelamento da respetiva inscrição.

2.2.10. Por fim, no que concerne à Penhora com a AP. 13… de 2014/06/19, resultante de processo de execução

fiscal e inscrita a favor da AT – Autoridade Tributária e Aduaneira, voltemos ao plano de recuperação.

2.2.10.1. Relativamente à regularização da situação contributiva e fiscal, propôs-se o pagamento imediato, a realizar aquando das dações em cumprimento, da quantia de 75.368,95€ de créditos da Fazenda Pública e que

desse montante, a quantia de 74.211,48€ seria paga pelas respetivas entidades beneficiárias da dação dos imóveis com a respetiva repartição dos montantes a pagar.

2.2.10.2. Pelo que, a ter sido efetivamente realizado o pagamento, o cancelamento do registo da penhora há de

efetuar-se através de certidão que comprove a extinção ou não existência de dívida à Fazenda Pública, nos termos previstos no artigo 58.º, nºs 1 e 3 do CRP, quando a ação já não se encontre pendente. Caso contrário, havendo pagamento voluntário da dívida exequenda, acrescida de juros e encargos até ao efetivo pagamento, o órgão de execução fiscal deve ordenar o levantamento da penhora e o cancelamento do respetivo registo, sendo esse documento que servirá para o respetivo cancelamento30.

2.2.11. Resta-nos abordar a questão da menção existente no plano e na escritura de que as dações se fariam

“livres de ónus ou encargos”.

2.2.11.1. Como é bom de ver, essa menção, a se, não é suficiente para o cancelamento de registos, pois não

produz a extinção do direito, ónus ou encargo registado se não resultar de execução de decisão administrativa ou tiver a intervenção judicial, devidamente transitada em julgado (artigo 13.º do CRP), nem, por isso, constitui título para registo nos termos dos artigos 56.º ou 58.º do CRP.

29 No mesmo sentido, vide Proc. C.P. 72/2014 STJSR-CC.

30 À semelhança do que se prevê no artigo 271.º do Código de Procedimento e Processo Tributário (CPPT) para a extinção da execução

por anulação da dívida. Nesse sentido, vide JORGE LOPES DE SOUSA, Código de Procedimento e de Processo Tributário: Anotado e Comentado, IV Volume, Lisboa: Áreas Editora, 2011, 6.ª Ed., p. 263.

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3. O despacho de qualificação abordou ainda que, ainda que houvesse título para o registo, não poderia ser efetuado, pois não foi paga qualquer quantia.

3.1. Realmente, acentuadas como foram as diversidades existentes entre o plano de insolvência/recuperação

previsto nos artigos 192.º a 222.º do CIRE e o processo especial de revitalização, conjeturado nos artigos 17.º-A a 17.º-I do CIRE, dada a disposição contida no artigo 5.º do RERN, de que as disposições tabelares não admitem interpretação extensiva, nem integração analógica, não é possível aplicar-se ao caso a norma contida no artigo 28.º, n.º 18, do RERN, que prevê isenção de tributação emolumentar nos atos de registo de registo

exigidos para execução de providências integradoras ou decorrentes de plano de insolvência judicialmente homologado que visem o saneamento da empresa, através da recuperação do seu titular ou da sua transmissão, total ou parcial, a outra ou outras entidades31.

3.2. Portanto, estando, como estão, os atos solicitados ao serviço de registo sujeitos a tributação emolumentar,

não tendo as apresentações sido objeto de rejeição [artigo 66.º, n.º 1, e), do CRP], deveria o serviço de registo ter notificado o interessado para, no prazo de dois dias, proceder à entrega das quantias em falta (artigo 151.º, n.º 9 do CRP). Só haveria fundamento de recusa de qualificação se, entretanto, o preparo não tivesse sido completado [artigo 66.º, n.º 4 do CRP].

3.3. Não tendo a Sr.ª Conservadora procedido à notificação nem à recusa de qualificação, não pode agora

recusar o registo com fundamento no artigo 69.º, n.º 1, g), do CRP, porquanto o mesmo só é aplicável quando algum preparo tiver sido feito.

*******

Em conformidade, propomos a improcedência do recurso e formulamos a seguinte,

CONCLUSÃO

A dação em cumprimento realizada em execução de processo especial de revitalização não produz os efeitos do artigo 824.º do Código Civil, pelo que o registo respetivo não suscita a aplicação do artigo 101.º, n.º 5, do Código do Registo Predial.

Parecer aprovado em sessão do Conselho Consultivo de 28 de maio de 2015.

Blandina Maria da Silva Soares, relatora, António Manuel Fernandes Lopes, Luís Manuel Nunes Martins, Maria Madalena Rodrigues Teixeira.

Este parecer foi homologado pelo Senhor Presidente do Conselho Diretivo, em 01.06.2015.

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