Turma e Ano: Flex B (2014)
Matéria / Aula: Processo Penal / Aula 03 Professor: Elisa Pittaro
Conteúdo: Questões Polêmicas: Interceptação Telefônica - Degravação Parcial;
Prazo. CPI. Quebra de sigilo de dados bancários e fiscais. Busca e Apreensão.
Provas em Espécie: Prova Testemunhal: Conceito, Classificação.
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA (cont.):
( Na prova da Magistratura do RJ sempre cai questões de interceptação telefônica)
Degravação Parcial:
Há necessidade de que o laudo de degravação da interceptação telefônica seja
integral?
O STF, em julgado publicado no Informativo 742 entendeu que não é necessário que a degravação seja integral, desde que a defesa tenha acesso ao áudio gravado na interceptação.
Prazo da interceptação:
Qual o prazo da interceptação telefônica?
De acordo com a Lei 9296 o prazo é de 15 dias prorrogável por mais 15. Porém, STF e STJ entenderam que o prazo é indeterminado, porém submetido a consecutivas renovações de 15 em 15 dias.
Questões Polêmicas: CPI:
CPI estadual pode quebrar sigilo bancário e fiscal sem ordem judicial?
A Alerj ajuizou a ACO 730 (Ação Civil Ordinária), onde o STF reconheceu, em votação apertada, a possibilidade desde que a medida fosse necessária e a decisão pela quebra fosse fundamentada.
Posteriormente, a Alerj ajuizou a ACO 1271, onde voltou a questionar essa possibilidade diante da recusa da Receita Federal em repassar informações. Em 12 de fevereiro de 2014, a ação foi julgada prejudicada em razão do término da CPI.
Obs: Possibilidade da CPI federal quebrar o sigilo bancário e fiscal sem ordem judicial – art. 58, §3º CF.
Uma CPI federal poderia determinar uma interceptação telefônica?
Não pode, pois trata-se de regra protegida pela cláusula de reserva de jurisdição (expressão utilizada por Canotilho para sinalizar que determinadas
garantias individuais só podem ser violadas com ordem judicial).
As CPIs podem quebrar os sigilos dos dados telefônicos?
É possível, pois nesse caso não há cláusula de reserva de jurisdição. CPI municipal pode determinar a quebra do sigilo de dados telefônicos?
Existem duas orientações no STF:
1) Como não existe um Poder Judiciário Municipal essa CPI deverá se reportar sempre ao Judiciário.
2) O poder de investigar é inerente ao de legislar, sem contar que trata-se do Poder Legislativo Municipal.
Quebra de sigilo de dados bancários e fiscais:
O Banco Central pode enviar ao MP informações detalhadas e individualizadas de
natureza fiscal?
A questão foi discutida no STF no HC 99.223/PR e publicada nos Informativos 687, 689 e 707.
Alguns ministros entenderam que o Banco Central não poderia enviar extratos e movimentação financeira detalhada ao MP, pois isso implicaria em uma quebra de sigilo, o que exigiria prévia ordem judicial.
Outros ministros entenderam que de nada adiantaria ao Banco Central possuir poderes investigatórios e fiscalizatórios se no momento em que se deparasse com alguma irregularidade não pudesse comunicar o fato ao MP. Porém, o HC acabou perdendo o objeto, uma vez que foi declarada extinta a punibilidade.
Informativo 687 STF:
Bacen e envio de informações individualizadas
A 1ª Turma iniciou exame de habeas corpus em que se pleiteia a declaração de nulidade de ação penal, embasada na ilegalidade das quebras de sigilos bancário e fiscal dos pacientes. Outrossim, busca seja
assentada a nulidade das provas obtidas ilicitamente, determinando-se a prolação de nova sentença. O Min. Marco Aurélio, relator, julgou extinto o habeas, sem apreciação do pedido, por inadequação da via processual, porquanto substitutivo de recurso ordinário, mas concedeu, de ofício, a ordem para declarar insubsistente o processo adversado. Delineou estar em discussão a possibilidade de o Banco Central do Brasil - Bacen poder fornecer ao Ministério Público, sem autorização judicial, dados bancários. Explicitou que se, de um lado, a notícia da prática de crime seria dever de todo cidadão e, com base maior, de entidade como o Bacen, de outro, o afastamento do sigilo de dados, consoante disposto no inciso XII do art. 5º da CF (“é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal”), somente se faria possível mediante ato de órgão judicial. Anotou que o primado do Judiciário presente a garantia constitucional revelada no aludido preceito também abarcaria dados bancários. Aduziu estar-se diante de tema de grande importância considerada a ordem jurídica no que as Leis 4.729/65, 6.385/76 e 7.492/86 conteriam preceitos abrangentes a versarem o envio de elementos ao Ministério Público sem a intermediação judicial. Acentuou que o Bacen, mediante expediente dirigido ao Procurador-Geral da República, não se limitara a noticiar possível prática de crime e procedera à remessa de diversos dados, inclusive de correntistas individualizados. Dessa maneira, o Bacen, ao implementar a mencionada quebra, teria colocado em segundo plano a reserva do Judiciário prevista na Constituição. Por fim, complementou que, a partir desse fenômeno, a ação penal ter-se-ia iniciado. Após, pediu vista a Min. Rosa Weber.
HC 99223/PR, rel. Min. Marco Aurélio, 6.11.2012. (HC-99223)
Informativo 707 STF:
Bacen e envio de informações individualizadas - 2
Em conclusão de julgamento, a 1ª Turma assentou o prejuízo de habeas corpus no qual se pleiteava a declaração de nulidade de ação penal, embasada na ilicitude das quebras de sigilos bancário e fiscal dos pacientes — v. Informativo 687. Na espécie, o Banco Central do Brasil - Bacen teria enviado documentos ao Ministério Público e à Receita federais noticiando a suposta prática de crime contra o Sistema Financeiro Nacional. Esclareceu-se que o juízo de origem oficiara a esta Corte comunicando ter proferido sentença extintiva da punibilidade dos pacientes, pela ocorrência de prescrição da pretensão punitiva do Estado. Assim, consignou-se que o writ estaria prejudicado por perda de objeto. HC 99223/PR, rel. Min. Marco Aurélio, 21.5.2013. (HC-99223)
O MP pode sem ordem judicial quebrar o sigilo bancário ou fiscal? (questão de prova MPF)
1. Pacelli – Se as autoridades fazendárias podem ter acesso a essas informações, o MP também pode, mesmo porque todas as leis que tratam do
parquet deram ao MP poderes para requisitar informações. Ademais, “o MP
também quer o bem comum”.
2. STJ (Informativo 482 STJ) – MP sozinho não pode, uma vez que as leis complementares que tratam do assunto exigem prévia ordem judicial.
3. STF – Quando o crime envolver o desvio de dinheiro público, por conta do interesse público, o MP pode quebrar o sigilo bancário ou fiscal (citado por
BUSCA E APREENSÃO: Busca Pessoal (art. 244 CPP):
A busca pessoal está prevista no art. 244 do CPP e independe de ordem judicial, desde que haja fundadas suspeitas que a pessoa esteja portando algo de natureza criminosa.
Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar.
A busca no veículo é um prolongamento da busca pessoal e, portanto, também independe de ordem judicial.
Busca Domiciliar:
Qual o alcance da expressão “flagrante delito” mencionada no art. 5º, XI da CF?
1) Geraldo Prado, Nicolitt (Autores Garantistas) – Tratando-se de uma regra excepcional, a sua interpretação deve ser restritiva, ou seja, só é possível o ingresso no flagrante próprio, pois nessa hipótese há um contato visual com a prática do crime.
2) Jurisprudência – A Constituição não fez restrições, qualquer modalidade de flagrante previsto no art. 302 CPP permite o ingresso no domicílio sem ordem judicial.
Ordem de Busca e Apreensão:
A ordem de busca e apreensão deve ser precisa quanto ao local da diligência, bem como em relação ao objeto que deverá ser apreendido, sob pena de esvaziarmos a garantia constitucional.
A autoridade poderá apreender outros objetos que não estavam relacionados na
ordem de busca e apreensão?
1) Luiz Flávio Gomes, Geraldo Prado / Prova Defensoria – Não pode, a ordem deverá ser cumprida nos exatos limites do mandado.
2) Pacelli – Devemos verificar se a diligência transcorreu de forma regular para que a apreensão seja válida.
3) Jurisprudência – A garantia constitucional já foi validamente violada, não fazendo sentido ignorarmos essa prova.
É possível a ordem de busca e apreensão genérica em favelas (questão de prova da Magistratura RJ)?
Em regra, a ordem de busca e apreensão deve pontuar o local da diligência, sob pena de esvaziarmos a garantia constitucional. Porém, em situações excepcionais, quando a medida tiver por objetivo proteger os moradores daquela localidade que estão entregues à criminalidade organizada, a medida poderá ser autorizada.
É possível apreensão e perícia no lixo?
Tudo o que for expelido ou abandonado pelo ser humano pode ser validamente apreendido e periciado, uma vez que não há aqui qualquer expectativa de intimidade.
É possível violar correspondência de preso?
Apesar da Constituição proteger as correspondências com uma inviolabilidade absoluta, existe dispositivo da LEP que permite a violação. É pacífico na jurisprudência que esse dispositivo foi recepcionado pela Constituição, uma vez que o preso já tem violado uma série de garantias individuais e questões de segurança do estabelecimento justificariam essa violação.
--- - PROVAS EM ESPÉCIE –
1) PROVA TESTEMUNHAL: Conceito:
Testemunha é todo homem estranho ao feito e equidistante das partes chamado ao processo para depor sobre fatos relevantes.
Classificação:
Testemunha Direta ou de viso – é aquela que irá depor sobre fatos que presenciou.
Testemunha Indireta ou de audito – é aquela que irá depor sobre fatos que ouviu
dizer.
Testemunha Instrumental – é aquela que irá depor sobre acontecimentos do inquérito ou da ação penal.
Testemunha Numerária – são aquelas que entram no computo legal: Procedimento Ordinário = 8 testemunhas
Procedimento Sumário = 5 testemunhas
Testemunha Extra Numerária – são aquelas que não entram no computo, ou seja, as referidas e os informantes.
O informante (testemunhas que não prestam compromisso) pode cometer
o crime de falso testemunho – art. 342 CP?
1. Polastri – No CP do Império, o compromisso era uma elementar do crime de falso testemunho, daí a sua relevância no CPP. O CP atual não faz qualquer menção ao compromisso, logo, qualquer testemunha, compromissada ou não, responde pelo crime.
2. Tourinho (entendimento que prevalece) – Por conta dos laços de parentesco não seria razoável a caracterização do crime, ou seja, haveria inexigibilidade de conduta diversa – excludente de culpabilidade (conclusão da professora).
Testemunhas de Caráter – são aquelas que irão depor sobre a vida pregressa do acusado.
O juiz pode condenar alguém com base apenas no depoimento de policiais?
1) Provas Defensoria (tese defensiva) / Poucos julgados TJ/RJ – Não é possível a condenação, pois esse depoimento não tem valor nenhum, uma vez que os policiais são suspeitos (suspeição), pois eles participaram das investigações e tem interesse que seu trabalho seja reconhecido.
2) Alguns precedentes TJ/RJ (posição extremada) - Como eles são funcionários públicos, os seus atos gozam de presunção de veracidade, que é atributo dos atos praticados pela Administração.
3) Súmula 70 TJ/RJ – Como qualquer prova, o depoimento dos policiais tem valor relativo e, desde que o juiz fundamente a sua decisão, ele poderá considerar o depoimento.
O juiz pode condenar alguém com base no depoimento infantil?
Existem alguns precedentes na jurisprudência (poucos) entendendo que o depoimento infantil não tem valor algum, pois em razão da sua imaturidade moral e psicológica a criança mente. Porém, o seu depoimento é uma prova como outra qualquer, ganhando especial relevância nos crimes sexuais, normalmente cometido às ocultas.
