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ATLAS LINGUÍSTICO DO ESTADO DE GOIÁS: um esboço geolinguístico do linguajar histórico goiano. Vera Lúcia Dias dos Santos Augusto 1

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Academic year: 2021

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ATLAS LINGUÍSTICO DO ESTADO DE GOIÁS: um esboço geolinguístico do linguajar histórico goiano

Vera Lúcia Dias dos Santos Augusto1

1 Docente do Curso de Letras, UnU Morrinhos – UEG.

1 Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Lingüística da Universidade de São Paulo.

RESUMO

Em conformidade como os princípios gerais propostos pelo Projeto ALiB – Atlas Linguístico do Brasil, que ganhou forma em fins de 1996, por ocasião do Seminário Caminhos e Perspectivas para a Geolinguística no Brasil em Salvador, na Universidade Federal da Bahia, o estudo, ora apresentado, vem se desenvolvendo na perspectiva da Geolinguística. A Geolinguística, caracterizada por ser um campo interdisciplinar compartilhado pela geografia e pela linguística, considerada como geografia linguística e como sinôninmo de dialetologia, ocupa-se em estudar as línguas em seu contexto geográfico. Projetos de atlas regionais concluídos e em andamento ganharam novo impulso no final do século passado, ao mesmo tempo em que novos projetos surgiram, motivados pela concretização do Projeto ALiB, inclusive orientados pela metodologia adotada pelo tão almejado atlas nacional. A pesquisa vem traçando as isoglossas que marcam as variações linguísticas em alguns municípios no Estado de Goiás, estabelecendo-se como objetivo: levantar e descrever mapeando as variações semântico-lexicais do falar regional das comunidades num recorte sincrônico. Objetivando, também, a cartografação de um recorte do linguajar goiano, em princípio contemplando como pontos de inquérito, as cidades históricas (rurais e/ou urbanas) considerando a relevância histórica e geográfica de tais localidades no Estado de Goiás. A coleta de dados se dá por meio da aplicação do questionário semântico-lexical (QSL) formulado para o Projeto ALiB em 1998. Esse questionário conta com 233 questões divididas em 15 áreas semânticas. Com 10 pontos de inquérito já selecionados e 4 informantes por ponto espera-se obter até o final da pesquisa de campo 40 entrevistas gravadas, para serem transcritas grafematicamente em cartas linguísticas , daí a importância da cartografação dentro dos estudos geolinguísticos.

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É fato, que a língua revela a identidade de seu povo à medida que o modo de falar de um indivíduo deixa evidenciar traços culturais e sociais que acabam por revelar além do seu grupo a sua região de origem. As variedades na manifestação de uma língua em diferentes níveis podem ser motivadas por questões tanto de natureza sócio-histórico-cultural, quanto físico-geográfica. Descrevê-la é permitir que se apontem características e tendências linguístico-cultural de extrema importância para o registro e mais que isso, a busca pelo resgate da identidade cultural do povo de seu Estado.

Temos conhecimento de várias ciências que se ocupam do estudo da relação entre o homem e sua linguagem. Por isso, cabe à Lingüística o papel de descrever as línguas humanas e de demonstrar como elas se manifestam no âmbito de uma comunidade, além de procurar documentar a importância que esta confere à língua que se fala.

Dentre os diferentes estudos da Lingüística, situam-se a Dialetologia e a Geolinguística, que procuram voltar seus estudos para a descrição das diferenças regionais da modalidade oral da língua, tendo como objetivo mapear em cartas lingüísticas que, posteriormente, integram-se aos Atlas lingüísticos, resultados finais, das pesquisas geolinguísticas.

Os Atlas linguísticos são documentos de grande importância, pois registram um retrato lingüístico investigado, numa dada época e em um dado lugar, assim se pronuncia Ferreira e Cardoso (1994) “... um Atlas linguístico vale, assim, como registro documental da língua viva e como produto de uma reflexão sobre ela. Porém, como instrumento de trabalho ele pode ser ponto de partida para novas investigações, multiplicando-se, assim, o seu valor”.

Para Dubois (1978) “A Geolinguística ou Geografia Linguística é o estudo da variação na utilização da língua por indivíduos ou grupos sociais de origem geográficas diferentes”. Anterior a este estudioso temos em Iordan (1962) a afirmação sobre o estudo cartográfico dos dialetos que “A geografia linguística significa a representação cartográfica do material linguístico com o objetivo de determinar a repetição topográfica dos fenômenos”.

Um precioso inventário de formas linguísticas foi deixado por Jules Gilliéron, considerado hoje o fundador da geografia linguística como método de investigação científica, que nos propicia uma visão da dinamicidade de fatos descritos, pela agilidade de comparação simultânea com outros fatos linguísticos considerando a distribuição espacial (diatópica) e natureza histórica (sincrônica ou diacrônica).

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É bom lembrar que o estudo geolinguístico no Brasil vem sendo desenvolvido desde 1826. O primeiro recorte de natureza dialetal produzido deve-se a Domingos Borges de Barros, conhecido com Visconde de Pedra Branca, que escreveu um capítulo para o livro

Introduction à l’atlas ethonographique du globe. Tal produção registra características da Língua Portuguesa falada no Brasil. Cardoso (2005) afirma que:

A idéia de um atlas lingüístico geral do Brasil, no que diz respeito à língua portuguesa, aflora no País, pelos meados do século XX, momento em que a Europa já incursionava pelos caminhos da Geografia Lingüística, com o seguro passo dado por Gilliéron, ao trazer a lume o Atlas Linguistique de la France (1902-1910). Contudo, só no final do século XX, confeccionar o Atlas geral do Brasil deixou de ser o sonho de outrora e vem sendo reativado por estudiosos e por instituições universitárias, como Cardoso (2005) salienta que “...assim, no apagar das luzes do século XX ou, melhor dizendo, ao se acederem as luzes do século XXI, tenta-se descrever o português do Brasil numa perspectiva geolinguística que culminará no altas lingüístico da língua portuguesa no Brasil”.

Em consonância como os princípios gerais propostos pelo Projeto ALiB, o estudo proposto vem traçando as isoglossas que marcam variantes linguísticas em algumas cidades previamente selecionadas do Estado de Goiás, que são (Goiás Velho), Catalão, Trindade, Pirenópolis, Região Kalunga, Ipameri, Morrinhos, Goiandira, Caldas Novas, Goiânia.

Portanto, o objetivo principal é levantar e descrever mapeando em cartogramas ou cartas linguísticas as variações semântico-lexicais do falar regional goiano, priorizando a variação espacial ou diatópica no estudo da língua portuguesa em modalidade falada.

Material e Métodos

A proposta da pesquisa apresentada à PrP – Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Estadual de Goiás – Unidade Universitária de Morrinhos aprovada em fevereiro e iniciada em março deste ano, vem contemplando a investigação apenas na cidade de Morrinhos, as demais cidades selecionadas estão sendo investigadas com recursos próprios até que se consigam parcerias que possam fomentá-las.

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Alguns critérios teórico-metodológicos considerados para a investigação são:

a) seleção e fixação dos pontos de inquérito (cidades históricas com cem ou mais de anos de existência, exceto as cidades de Caldas Novas e Goiânia);

b) seleção de informantes (em cada ponto de inquérito quatro informantes, de acordo com a seguinte estratificação: sexo, dois homens e duas mulheres; idade: com sessenta ou mais de sessenta anos; escolaridade, analfabetos ou escolaridade igual ou inferior ao 4º ano do ensino fundamental);

c) procedimentos para o levantamento de dados (as questões do questionário semântico-lexical – QSL são propostas a partir das áreas semânticas, sugeridas pela metodologia do Projeto ALiB: acidentes geográficos, fenômenos atmosféricos, astros e tempo, atividades agro-pastoris, fauna, corpo humano ciclos da vida, convívio e comportamento social, religião e crenças, jogos e diversões infantis, habitação, alimentação e cozinha, vestuário e acessórios, vida urbana e rural);

d) cotejamento e transcrição de dados (em conformidade com o objetivo destacado pelo Comitê Nacional do Projeto ALiB (2001), para a transcrição do corpus, vem se adotando os princípios propostos por Santos (2005) sobre a descrição da realidade linguística dos pontos de inquérito focando a identificação das diferenças diatópicas.

Além da metodologia previamente definida pelos princípios da geolingüística, a metodologia da sociolingüística contribui, também, não só para a seleção dos informantes, mas também orientar o método de entrevista propiciando uma dinamicidade maior e favorecendo mais qualidade à coleta e à análise de dados.

O processo de digitalização dos dados, por meio dos recursos mais atualizados e com programas na área computacional fazem-se necessários, visto que se deve evitar o acúmulo de atividades na fase do cotejamento, transcrição grafemática e elaboração dos mapas pelo processo de cartografação, após a reunião da documentação de todos os pontos de inquérito.

A fase de planejamento, segundo Brandão (2005) procede-se pelo levantamento e leitura de materiais que servirão de caracterização da área de estudo, de tal modo que se tenha a oportunidade de conhecer os aspectos históricos, geográficos, ecológicos, socioeconômicos, ou seja, “uma visão global dos grupos humanos que ali vivam”.

Assim, um estudo abrangente nos pontos de inquérito, pontuando peculiaridades etnográficas da região de estudo, além dos registros semântico-lexicais, consequentemente se tem feito, objetivando a posteriori publicação de uma obra de caráter sociogeolinguístico, para incentivar a continuidade do mapeamento geolínguístico no Estado de Goiás.

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Resultados e Discussão

De modo amplo, dos resultados obtidos até o momento, visto que a pesquisa se encontra em andamento, vem registrando algumas diferenciações regionais e locais dos pontos de inquérito e propiciando um estudo comparativo entre os atlas regionais já existentes. De modo mais estrito, no qual o projeto se enquadra no programa da PrP da Universidade Estadual de Goiás é possível apresentar alguns resultados do processo de entrevista, apenas para esclarecer como se procede o registro da mesma

As convenções (2001) adotadas no QSL são: reticências (...), no início da pergunta, significam: “Como se chama?”; em itálico: remissões a itens anteriores, em gestos e atitudes imitar para facilitar o entendimento da pergunta pelo entrevistado; 3E: número da pergunta e Entrevistador abreviado e SSM: sujeito da região sul masculino, entre outras que não aconteceram nos exemplos citados, abaixo:

ACIDENTES GEOGRÁFICOS

3 E= ... o lugar onde o rio termina ou encontra com outro rio? SSM = BARRA

4 E= Muitas vezes, num rio, a água começa a girar, formando um buraco, na água, que puxa para baixo. Como se chama isto?

SSM = PILÃO SUMIDOR

6 E= ... o movimento da água do rio? Idem item 5. SSM = REMANÇO DO RIO

FENÔMENOS ATMOSFÉRICOS

16 E= Como dizem aqui quando termina a chuva e o sol começa a aparecer? SSM = CRESCIMENTO DA RAPOSA

17 E= Quase sempre, depois de uma chuva, aparece no céu uma faixa com listras coloridas e curvas (mímica). Que nomes dão a essa faixa?

SSM = ARCO-ÍRIS / ARCO DA VELHA ASTROS E TEMPO

22 E= ... a parte do dia quando começa a clarear? SSM = BARRA DO DIA / CLAREAR DO DIA

31 E= De noite, muitas vezes pode-se observar uma estrela que se desloca no céu, assim, (mímica) e faz um risco de luz. Como chamam isso?

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Conclusões

É de fundamental acuidade que se situe em diferentes épocas a feitura de uma pesquisa linguística, para que o valor do trabalho do investigador, e, ainda do método e da técnica utilizados na realização de um estudo da linguagem, seja qual for o campo do conhecimento, seja reconhecido e divulgado.

A elaboração dos Atlas Linguísticos Regionais, a exemplo do que está sendo feito em vários estados do Brasil, é um passo importantíssimo para o conhecimento, registro e análise das variantes regionais e sociais do Português do Brasil, além da organização de corpora da Língua Portuguesa colhidos com todas as normas e técnicas da pesquisa científica proposta pelo ALiB. O projeto tem previsão de término nos próximos três anos.

Referências Bibliográficas

BRANDÃO, S.F. A Geografia Lingüística no Brasil. São Paulo: Ática, 2005.

CARDOSO, S.A.M. O Atlas Linguístico do Brasil: de “Nascituro” a “Adolescente”. In: AGUILERA, V. de A. A Geolinguística no Brasil: trilhas seguidas, caminhos a percorrer. Londrina, PR: Eduel. 2005. p 391-404.

COMITÊ NACIONAL DO PROJETO ALiB – Atlas Linguístico do Brasil: questionários. Londrina: Editora da UEL, 2001.

DUBOIS, J. et al. Dicionário de Linguística. São Paulo: Cultrix, 1978.

FERREIRA, C; CARDOSO, S.A.M. A dialetologia no Brasil. São Paulo: Contexto, 1994. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0. Curitiba: Positivo, 2004. 1 CD-ROM.

IORDAN, I. Introdução à linguística românica. Trad. de Júlia Dias Ferreira. 2.ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1962.

SANTOS, I. P. (2005) Técnicas de transcrição grafemática para o ALiB: reflexões. In: AGUILERA, V. de A. A Geolinguística no Brasil: trilhas seguidas, caminhos a percorrer. Londrina, PR: Eduel. 2005. p 391-404. p. 391-404.

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