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A ATUAÇÃO BRASILEIRA EM ESTADOS FRÁGEIS COMO NICHO DIPLOMÁTICO DE UMA POTÊNCIA EMERGENTE

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Academic year: 2021

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A ATUAÇÃO BRASILEIRA EM ESTADOS FRÁGEIS COMO

NICHO DIPLOMÁTICO DE UMA POTÊNCIA EMERGENTE

Aluno: Enzo Mauro Tabet Cruz Professor: Kai Michael Kenkel Introdução

O Brasil vem crescentemente ganhando destaque no sistema internacional, como um país diferenciado em termos diplomáticos e práticos. Seu intenso envolvimento em temáticas internacionais, nos mais variados organismos multilaterais, fizeram com que o país aumentasse sua inserção no cenário de poder internacional, transformando o Brasil em um grande foco de estudos na área de Relações Internacionais. O objetivo desta pesquisa é analisar até que ponto as ações brasileiras no que diz respeito à inserção internacional e legitimização do país como exemplo de liderança sobre um discurso diplomático de atuação diferenciada se reflete na prática, utilizando como objeto de estudo a atuação do país nos processos de reconstrução de Estados Frágeis, mais especificamente Haiti.

Metodologia

A definição da hipótese de pesquisa deu-se pela seguinte pergunta: como o Brasil vai se inserir internacionalmente através da atuação em Estados Frágeis no continente africano? A hipótese à ser analisada será a de que o Brasil se utiliza da atuação no processo de reconstrução de Estados Frágeis no continente africano como uma forma de demonstrar um papel diferenciado do país no âmbito internacional. Esta atuação seria instrumentalizada pela cooperação técnica internacional com estes países. Também, se utilizará da caracterização do Brasil como uma potência emergente, fazendo uso da lógica do desenvolvimento internacional como forma de compensar o restrito poder bruto em termos do tamanho das forças armadas e economia. E por fim, da atuação brasileira em termos de nichos diplomáticos, onde o país se coloca como legítimo em sua busca por liderança, ao ligar sua diplomacia externa, com as potencialidades no âmbito interno.

Um estudo de caso será feito com Haiti. A escolha deste país como caso principal levou em consideração o maior acesso à dados primários sobre o relacionamento entre o Brasil e Haiti e a atuação brasileira no processo de reconstrução do país após a guerra civil que destruiu grande parte das infra-estruturas haitianas.

Estados Falidos, Nicho Diplomático e Potências Emergentes

O Brasil vem crescentemente ganhando destaque no sistema internacional, como um país diferenciado em termos diplomáticos e práticos. Seu intenso envolvimento em temáticas internacionais, nos mais variados organismos multilaterais, fizeram com que o país aumentasse sua inserção no cenário de poder internacional, transformando o Brasil em um grande foco de estudos na área de Relações Internacionais. O objetivo desta pesquisa é analisar até que ponto as ações brasileiras no que diz respeito à inserção internacional e legitimização do país como exemplo de liderança sobre um discurso diplomático de atuação diferenciada se refletem na prática, utilisando como objeto de estudo a atuação do país nos processos de reconstrução de Estados Frágeis na África.

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Para que se entenda o comportamento brasileiro na busca por preponderância internacional é necessário a revisita aos conceitos teóricos sobre as potências médias e Estados Frágeis. Quando utilizada em referência a estados, a fragilidade é normalmente definida em contraposição ao tipo ideal de estado weberiano. Neste sentido, suas principais características são: a ineficiência e corrupção das instituições de governo; a falta de representatividade e accountability—e, portanto, de legitimidade; a ausência de segurança jurídica e a arbitrariedade no uso dos meios coercitivos do Estado [1]. As várias definições normalmente se baseiam em critérios funcionais atribuídos a unidades soberanas, mas há escasso consenso entre elas. Outras definições salientam as consequências da fragilidade para a segurança internacional, para o desenvolvimento, meio ambiente, crime internacional, entre outras [2]. A conceituação de um país como uma potência média varia. A conceituação mais comum vem da questão da hierarquia de poder no sistema internacional, medida através do tamnaho do país, população, recursos e economia. Entretanto, para este trabalho, existe uma definição de potência média que se encaixa melhor nos padrões brasileiros de atuação internacional: o comportamental [3]. Diz respeito ao fato de que os países que não se encontram em uma posição muitos recursos de poder bruto (hard power), como economia pesada e Forças Armadas extensas, teriam uma força política maior, como uma forma de compensar esta deficiência evitando ao máximo o uso da força. Buscam-se mais soluções através das vias multilaterais, bem como a participação em organismos internacionais.

Com uma pequena margem de manobra, em um mundo centrado na questão de segurança militar, passaram a adotar um foco em programas de alívio às tensões globais, como o controle internacional de armas (IBIDEM, p.20). Também, percebe-se que as potências médias buscam se especializar em temáticas das chamadas low politics onde possuem mais chances de obter preponderância, como questões ambientais e de direitos humanos. Passam a criar e defender um nexo entre estas políticas e as chamadas high politics, como a segurança mundial, como uma forma de obterem preponderância internacional (IBIDEM, p.22). A diplomacia das potências médias portanto, buscam uma especialização muito forte diplomática, como uma forma de garantir uma ação diferenciada nas discussões internacionais em temáticas específicas, chamadas de “issue areas”. Buscam garantir que suas ações sejam vistas como diferenciadas dos demais países que ocupam status de grandes potências Ibid, p.24.

Logo, a ligação entre a segurança e o desenvolvimento se tornam um importante conceito à ser tratado, especialmente pelo Brasil, como uma forma de se inserir internacionalmente nos temas da alta política. A complementariedade entre a noção de segurança e desenvolvimento visa enxergar a problemática além do seu aspecto militar. Os riscos para a segurança humana estão intimamente ligados aos probelmas do subdesenvolvimento, como crescimento populacional desenfreado, pobreza e stress ambiental, aumentando a instabilidade e portanto o risco de eclosão de conflitos internos [4]. A proteção e melhora de vida das populações marginalizadas seriam então alguns dos instrumentos para se tratar da questão do desenvolvimento e segurança. Essa ligação entre segurança e desenvolvimento vem de um chamado antecedente liberal ou liberal foreground, procupado em garantir o controle dos processos biológicos e sociais em nome da população, dos direitos e liberdade Ibid, p.4.

O Brasil em sua política externa deseja ser reconhecido através da sua capacidade de negociação, e não como uma potência militar [5]. O país pretende se afirmar internacionalmente como um país que possui um diferencial em termos de atuação no sistema internacional, participando com forte ênfase no multilateralismo, afirmando

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seus próprios interesses através da participação na construção de normas e processos de construção institucional [6]. Este diferencial vem do fato de que o país se coloca como legítimo em sua busca por liderança, ao ligar sua diplomacia externa, com as potencialidades no âmbito interno. São exemplos, como a presença de uma democracia estável e as políticas sociais do governo Lula que permitem o país à criarem um discurso de legítimos líderes em termos da diminuição das assimetrias internacionais Ibid, p.21.

Para entender a ênfase brasileira em participar como peacebuilder no sistema internacional advém de sua concepção como país emergente do conceito de soberania. Este conceito advém de uma visão horizontal da soberania, definida como a inviolabilidade de fronteiras, como um fator de proteção própria. Esta característica vai marcar a posição brasileira no contexto das operações de paz [7] .

O reconhecimento do país em sua participação como contribuinte direto nos processos de paz são permitidas pela capacidade organizacional, de comportamento no âmbito internacional de política externa relativo à aderência das normas e de capacidade de implementação prática das mesmas. O discurso brasileiro relativo à sua participação em operações de paz nos contextos de instabilidade internacional é o país seria um ator diferenciado em termos de ação concreta, enumerada pelos seguintes fatores Ibid, p.652: Indicadores materiais, no que diz respeito à implementação de políticas sociais e de reforço democratico, favorecido pelos esforços internos no contexto de pobreza e desigualdade em que vive o país. Vai gerar um alinhamento às metas embutidas no processo de peacebuilding, ou de reconstrução no pós-conflito Ibid, 654. A experiência brasileira com o processo de redemocratização vai permitir que os militares brasileiros nestas missões tenham extensas capacidades no que diz respeito à implementação de infra-estrutura, desenvolvimento e controle de criminalidade (Ibid).

Orientações políticas abrangentes, pela aderência e suporte às instituições multilaterais. Sua política externa de não intervenção e a visão normativa no que diz respeito à soberania o transformaram em um defensor da resolução pacífica de conflitos, defensor dos direitos humanos e da auto-determinação. Isso vai se refletir na sua atuação no processo de manutenção e reconstrução da paz, diminuindo o foco nas ações militares concretas e buscando uma abordagem de resolução através da mediação (Ibid). Estudo de Caso: Haiti

O motivo da escolha de caso do Haiti se deu por ser um caso emblemático da participação brasileira em Estados Frágeis, possuindo diversos programas de cooperação, assim se caracterizando como um bom objeto de estudo para os propósitos desta pesquisa. A cooperação entre o Brasil e o Haiti está amparada pelo Acordo Básico de Cooperação Técnica e Científica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo do Haiti, promulgado em novembro de 2004. Desde essa data, cerca de 15 projetos de cooperação foram implementados em prol do desenvolvimento do povo haitiano, em diferentes áreas, tais como agricultura, saúde, infraestrutura, esportes, nutrição e desenvolvimento social, além de inúmeras outras ações de caráter emergencial e humanitário [8].

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A primeira parte do estudo se deu através da busca por indicadores que pudessem demonstrar o desenvolvimento ou não do país através das políticas brasileiras de cooperação, bem como os tipos de projetos de cooperação brasileira com o Haiti. Para tal foram utilizados índices do Banco Mundial relativo à matrícula escolar, para demonstrar o aumento nos níveis de educação primária e renda per-capita, bem como o IDH que resume de forma geral os maiores índices relativos ao desenvolvimento. Foi utilizado como base o ano de 2000, por ser o ano anterior à instauração da MINUSTAH, operação de paz sob o comando brasileiro como forma de estabilizar o ambiente de segurança do país. A missão é importante, pois a partir deste marco os projetos de cooperação com o país visando seu desenvolvimento se acentuaram de forma significativa [8].

Gráfico 1 [8]

Ao se analisar o gráfico relativo ao Desenvolvimento humano percebemos uma melhora geral nos índices se considerarmos o marco estabelecido do ano de 2000. Ao analisarmos a data posterior ao período de 2004, quando intensificaram-se diversos projetos de cooperação podemos perceber uma melhora significativa, especialmente no setor educacional e na expectativa de vida. Ao considerarmos que a área da saúde, por estar entre os temas prioritários para a reconstrução e a estabilização do Haiti, constitui, atualmente, um dos principais eixos da cooperação com o país, explica-se ao menos parcialmente o aumento na expectativa de vida. Podemos então caracterizar a atuação brasileira no país como produtiva, uma vez que auxiliou significativamente o aumento nos índices de desenvolvimento humano, ficado nas áreas enumeradas acima [9].

Conclusão

Conclui-se que o estudo do caso haitiano serviu como exemplo da atuação brasileira em Estados Frágeis. Podemos perceber através dos estudos dos gráficos e informações relativas ao desenvolvimento do país, um acentuado aumento. Este aumento em muito está relacionado com o auxílio brasileiro após assumir o comando da MINUSTAH, e assim então aumentando sua participação com projetos de desenvolvimento dentro do

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Haiti. Especialmente, serviu para demonstrar como esta cooperação pode ser utilizada como um possível instrumento de poder dentro do nicho diplomático brasileiro para se estabelecer como uma potência responsável no continente e pleitear uma maior preponderância em organismos internacionais.

Bibliografia:

1- BROCK, L. Fragile states : violence and the failure of intervention. Polity Press, Cambridge, U.K., 2012.

2- PATRICK, S. Weak links : fragile states, global threats, and international security. Oxford University Press Oxford ; Nova Iorque , 2011.

3- COOPER, Adrews. Relocating Middle Powers. University of British Columbia Press. Canadá. 1994

4- DUFFIELD, Mark. Development, Security and Unending War. Polity Press. Cambridge, 2010.

5- ALSINA, João Paulo Soares. Política Externa e poder militar no Brasil. Editora FGV. Brasil. 2009.

7- KENKEL, Kai. South American Perspectives on Peace Operations. International Peacekeeping, vol 17, n.5. Novembro, 2010

8- UNDP. Human Development Report 2013. United Nations. 2013

9- ABC. Haiti. Agência Brasileira de Cooperação. Disponível em

http://www.abc.gov.br/Projetos/CooperacaoSulSul/Haitiponível em

Referências

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