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Plantas e Fungos Alucinógenos.

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Academic year: 2021

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Plantas e Fungos Alucinógenos.

Dr. Davyson de Lima Moreira Pesquisador em Saúde Pública Far-Manguinhos – FIOCRUZ - RJ

É com grande satisfação que inicio esta coluna trazendo para discussão um tema que tem sido foco de interesse em nosso país: Plantas e

Fungos Alucinógenos. Bem, alguns estão certos em pensar que o tema não é

novo, porém, este sempre vem à baila já que o Brasil conta com uma biodiversidade riquíssima de espécies vegetais e de fungos com ação no Sistema Nervoso Central e nossa legislação sobre o tema ainda é bastante insipiente.

Tenho discutido sobre plantas e fungos alucinógenos em palestras e cursos de extensão e de Pós-Graduação há mais de 10 anos e posso afirmar que o tema me fascina, já que a todo momento novas drogas passam a circular em diferentes partes do mundo e no Brasil. Como exemplo recente posso citar a sálvia de origem mexicana (Salvia divinorum), espécie da família Lamiacea que tem sido usada por suas propriedades psicotrópicas.

Trataremos, portanto, nesta coluna, sobre plantas e fungos alucinógenos, em relação a histórico de uso, aspectos botânicos, usos na medicina tradicional, componentes químicos, farmacologia, toxicologia e reações de identificação do (s) constituinte (s) principal (ais).

Antes, porém, vamos discorrer um pouco sobre Química e Toxicologia Forenses, disciplinas da Ciência Forense que fornecem subsídios para o estudo de plantas e fungos alucinógenos.

Na Antiguidade, a intoxicação com drogas de origem mineral, animal ou vegetal era muito comum. Casos rumorosos foram registrados em várias obras, como por exemplo, nos escritos de Platão, que descrevem a condenação do filósofo grego Sócrates à morte executada com um cálice de cicuta (Conium maculatum L.).

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Essa planta nativa da Europa, Oeste da Ásia e Norte da África, é rica em alcalóides piperidínicos que são extremamente tóxicos, sendo o principal a coniina (1).

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Na Europa do Século XIX não era raro o uso de produtos contendo o elemento arsênio (pigmentos como o Amarelo Rei e Verde Paris) para o envenenamento ou suicídio. Nessa época cabia a Medicina Legal toda a pesquisa, busca e demonstração de outros elementos relacionados com a materialidade do fato penal, por meio de exames de integridade física do corpo humano, exame dos instrumentos de um crime e demais evidências, inclusive, a identificação de drogas. Várias propostas para identificação de arsênio (na forma de trióxido) e de alcalóides do ópio, outra droga muito usada em homicídios naquela época, foram propostas pelos cientistas. Assim, por exemplo, testes de desenvolvimento de cor ou formação de precipitado foram estabelecidos com o intuito de se identificar os alcalóides fenantrênicos do ópio, como a morfina (2) Tabela 1.

O O H O H H NH H (2)

Com o avançar do tempo, com a agregação de novos conhecimentos e o desenvolvimento de áreas técnicas, tais como a Física, Química e Toxicologia, tornou-se necessária a criação de uma nova disciplina para a pesquisa, análise e para facilitar a interpretação dos vestígios materiais encontrados em locais de crime, tornando-se, assim, fonte de apoio à Polícia e a Justiça: nasce a Química Forense.

A Química Forense faz uso de várias técnicas para o diagnóstico de drogas. Testes cada vez mais precisos foram desenvolvidos para o estudo de substâncias, no sentido de identificá-las (exame qualitativo) e quantificá-las

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(exame quantitativo). Diferentes técnicas são ferramentas da Química Forense, dentre essas, a caracterização de drogas utilizando reagentes específicos (testes qualitativos com reagentes de alteração de cor ou formação de precipitado), ensaios cromatográficos para separação (CCD, CG, CLAE) e análise espectrofotométrica de identificação (EM, RMN, IV, UV/VIS), além daquelas técnicas acopladas que permitem separação e identificação de diversas substâncias.

Tabela 1. Teste colorimétrico de Taylor para identificação de morfina#. Reagente Morfina Resultado Teste 2 Resultado

H2SO4 puro cristais coloração rósea adição de solução de

K2CrO4

coloração verde

HNO3 puro solubilizada em HCl coloração alaranjada intensa-vermelha aquecimento enfraquecimento da cor solução saturada de FeCl3 em solução aquosa

cor zul intenso gotas de HCl desaparecimento da cor solução saturada de FeCl3 em solução aquosa

cor zul intenso gotas de HNO3 solução com coloração vermelho-alaranjada solução de HIO3 em solução

aquosa

solução com cor castanha, devido iodo solução de amido solução com coloração vermelho-alaranjada passando a azul # Endeavour, 22 (4), 143-147, 1998.

Em se tratando da Toxicologia, de uma maneira geral, é uma ciência que tem como objeto de estudo o efeito nocivo decorrente da interação entre um agente tóxico e um sistema biológico.

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Desde épocas mais remotas o homem possuía conhecimentos sobre os efeitos tóxicos de substâncias de origem animal, mineral e de plantas. A ação mortal de um “veneno” era utilizada como instrumento de caça ou como arma contra inimigos.

A partir dos estudos de Felice Fontana (1720 - 1805) com venenos de serpentes e curares surgiu a Toxicologia Moderna. Posteriormente, o químico inglês James Marsh (1794 – 1846) desenvolveu e publicou em 1836 um método analítico para caracterização do elemento arsênio, a partir de materiais biológicos, o que deu origem a fase da Toxicologia que necessitava de provas biológicas de laboratório para o diagnóstico de intoxicações. O teste de detecção de arsênio desenvolvido por Marsh era bastante específico e sensível (presença de 0,002mg ou menos na amostra). Este teste baseava-se na redução do elemento arsênio na prebaseava-sença de zinco (que baseava-se oxidava), originando o gás arsino que era detectado posteriormente.

Matthieu Joseph B. Orfila (1787 - 1853), médico da Faculdade de Medicina de Paris, dedicou-se aos estudos em toxicologia e preparou a obra denominada Traité de Toxicologie (1852), que reunia elementos da Toxicologia Analítica, Clínica e Forense. Este pesquisador é considerado o pai da Toxicologia Forense.

A Toxicologia Forense utiliza-se das metodologias da Toxicologia Analítica para detectar e identificar agentes químicos, no sentido de auxiliar a polícia e à Justiça na elucidação de casos suspeitos de dependência, suicídio, homicídio, entre outros. A Toxicologia Forense difere-se da Química Forense na questão de, por exemplo, análise de substâncias, em relação à matéria-prima investigada. Enquanto os Peritos em Química Forense realizam ensaios no próprio material, ou seja, diretamente na substância, os Peritos em Toxicologia Forense realizam investigações em material de origem biológica (sangue, saliva, cabelo, fígado, conteúdo estomacal), no sentido de investigar o agente tóxico que tenha causado um determinado efeito nocivo.

Existem diversas classificações para as drogas de abuso, incluindo as de origem vegetal e de fungos. As mais antigas dividem as drogas em:

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mais atual relaciona as drogas como estimulantes, alucinógenas

(psicodélicas), depressoras.

Discutiremos em uma próxima oportunidade sobre uma planta muito interessante, e que tem sido usada recreativamente por aqueles que buscam alteração do estado de consciência: Salvia divinorum Epling & Jativa (Lamiaceae).

Referências

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