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Cercamento hipotético de parque urbano: impactos sobre atividades e percursos dos usuários

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Academic year: 2021

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Cercamento hipotético de parque urbano:

impactos sobre atividades e percursos dos usuários

Cássia Morais Mano (1); Cláudia Adriana Nichetti Marques (2); Amanda Schüler Bertoni (3); Antônio Tarcísio da Luz Reis (4)

(1) Faculdade de Arquitetura/PROPUR-UFRGS, Brasil. E-mail: cassia.arqurb@gmail.com (2) Faculdade de Arquitetura/PROPUR-UFRGS, Brasil. E-mail: claudia.nichetti@gmail.com

(3) Faculdade de Arquitetura/PROPUR-UFRGS, Brasil. E-mail: mandasbertoni@gmail.com (4) Faculdade de Arquitetura/PROPUR-UFRGS, Brasil. E-mail: tarcisio.reis@ufrgs.br

Resumo: O objetivo deste artigo é identificar os atuais usos no interior e nos limites de um parque urbano não cercado localizado na cidade de Porto Alegre-RS, o Parque Farroupilha, e investigar os impactos sobre tais usos em caso de um cercamento hipotético de seus limites, considerando também os percursos realizados por três grupos, nomeadamente: frequentadores do Parque Farroupilha que praticam alguma atividade de lazer, esporte ou que utilizam o Parque como passagem; moradores dos bairros do entorno do Parque (Santana, Farroupilha, Bom Fim e Cidade Baixa); e comerciantes em edificações do entorno, vendedores ambulantes no Parque Farroupilha, e expositores da Feira Ecológica e do Brique da Redenção. A coleta de dados incluiu levantamentos de arquivo, observações e registros dos atuais usos nos limites do Parque, identificação dos percursos realizados pelos três grupos, entrevistas com 30 vendedores ambulantes no Parque Farroupilha, e questionários aplicados a 54 frequentadores, 21 moradores e 46 comerciantes. Os dados obtidos por meio de questionários foram analisados através das frequências das respostas relativas às categorias consideradas. Os principais resultados evidenciam que o cercamento hipotético afetaria negativamente as atividades realizadas pelos três grupos, especialmente os frequentadores que praticam atividades como caminhada/corrida, e que utilizam o Parque como passagem.

Palavras-chave: Cercamento hipotético; Parque urbano; Usos em parques.

Abstract: The purpose of this paper is to identify the current uses in and around the edges of a non-fenced

urban park located in the city of Porto Alegre-RS, the Farroupilha Park, and to investigate the impact on such uses in a hypothetical case of fencing its borders, considering also three groups’ routes, namely: users of the Farroupilha Park that practice some leisure activity, sport or utilize the park as a passage; residents of the four surrounding neighborhoods (Santana, Farroupilha, Bom Fim and Cidade Baixa); and traders in the surrounding buildings, street vendors in the Farroupilha Park, and exhibitors in the Ecological Fair and Brique da Redenção. Data gathering means included archival records, observations and records of current uses within the Park boundaries, identification of the routes carried out by the three groups, interviews with 30 street vendors in the Farroupilha Park, and questionnaires administered to 54 Park users, 21 residents and 46 traders. The data from questionnaires were analyzed by the frequency of responses regarding considered categories. The main results show that the hypothetical fencing would adversely affect the activities of the three groups, especially the users who practice activities like walking/running, and utilize the park as a passage.

Key-words: Hypothetical fencing; Urban park; Uses in parks.

1. INTRODUÇÃO

Parques urbanos são espaços fundamentais para a dinâmica das cidades, particularmente quando não se restringem a atender a função de passagem e combinam diferentes tipos de atividades: organizadas e informais; atividades físicas ou recreativas; e manifestações culturais ou políticas (STIGGER et al., 2010; GEHL, 2013; BARAN et al., 2014). Segundo Gehl (2013), parques que proporcionam atividades como

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caminhada e permanência registram um aumento de uso em até 30 vezes quando comparados a parques com apenas oportunidade de cruzamento de pedestres. Ainda, como benefícios a seus usuários, os parques que possibilitam a realização de distintas atividades promovem a qualidade de vida, redução de estresse, saúde psicológica, sociabilidade, e estimulam a economia do entorno através da atração e consequente fluxo de pessoas (MARCUS; FRANCIS, 1998; MANNING, 1999; BARAN et al., 2014). Como forma a facilitar o uso e tornar os parques menos vulneráveis à ocorrência de crimes, medidas têm sido tomadas, tais como: redução de cercas; implementação de usos nas bordas dos parques; realização de atividades noturnas em áreas seguras; aumento do nível de iluminação; manutenção das linhas visuais desimpedidas; promoção de diferentes opções de rotas com múltiplas entradas e saídas; e sinalização legível (MARCUS; FRANCIS, 1998).

Quanto ao desempenho de parques urbanos cercados no Brasil, um estudo realizado em 38 parques cercados de São Paulo revela que 89% dos usuários entrevistados avaliam como adequado o horário de funcionamento destes parques (WHATELY et al., 2008). Contudo não há indicações de quais seriam estes horários – por exemplo, o Parque Ibirapuera fica aberto das 5h às 24h (logo, embora feche na madrugada, fica aberto no turno da noite), enquanto o Parque Burle Marx funciona das 7h às 19h (SÃO PAULO, 2015). No caso de Porto Alegre, foi aprovada uma lei que convoca um plebiscito a fim de consultar a população do município sobre a ideia de cercamento do Parque Farroupilha (PORTO ALEGRE, 2015), sem que fossem apresentadas evidências que justifiquem tal cercamento e uma proposta para sua localização com especificação da quantidade e posicionamento dos portões de acesso. Ainda, estudos sobre a percepção dos usuários quanto ao cercamento de parques urbanos em Porto Alegre indicam uma avaliação negativada ideia de cercamento do Parque Farroupilha quanto à segurança, acessibilidade ao Parque, e realização de atividades comerciais realizadas no interior do Parque (BOCHI et al., 2012; GREGOLETTO et al., 2013). Entretanto, existe a necessidade de aprofundar a investigação dos impactos de um cercamento hipotético, especificamente quanto às atividades realizadas no interior e nos limites do Parque Farroupilha e aos percursos realizados por diferentes grupos que possuem relações distintas com o Parque. Neste sentido, o objetivo deste artigo é identificar os atuais usos no interior e nos limites do Parque Farroupilha e investigar os impactos sobre tais usos de um cercamento hipotético do Parque, considerando também os percursos realizados por três grupos, nomeadamente: frequentadores do Parque Farroupilha que praticam alguma atividade de lazer, esporte ou que utilizam o Parque como passagem; moradores dos bairros do entorno do Parque (Santana, Farroupilha, Bom Fim e Cidade Baixa); e comerciantes em edificações do entorno, vendedores ambulantes no Parque Farroupilha, e expositores da Feira Ecológica e do Brique da Redenção.

2. METODOLOGIA

O Parque Farroupilha (popularmente conhecido como Parque da Redenção) está localizado no Bairro Farroupilha, possui área de 37,51 hectares, e é frequentado, aproximadamente, por cinco mil pessoas diariamente, de segunda a sexta-feira, e por cerca de trezentas mil pessoas durante os finais de semana, quando ocorrem dois eventos tradicionais na Av. José Bonifácio, adjacente ao Parque: a Feira Ecológica e o Brique da Redenção (BOCHI et al., 2012). O Parque Farroupilha apresenta uma diversidade de atividades comerciais e serviços nas ruas de seu perímetro (Figura 1a), bem como a existência de vendedores ambulantes no interior do Parque, o que proporciona um maior movimento de pessoas em busca destes serviços nas imediações. A Av. José Bonifácio (Figura 1b), possui alguma atividade comercial e de serviços e apresenta um movimento moderado de pedestres nos dias de semana, inferior ao da Av. Osvaldo Aranha e Av. João Pessoa. No entanto, nos finais de semana, a Av. José Bonifácio apresenta movimento intenso de pedestres proporcionado pelo Brique da Redençãoe Feira Ecológica. Nas Av. Osvaldo Aranha (Figura 1c) e Av. João Pessoa (Figura 1d) há um movimento intenso de pedestres, o que pode ser explicado pelas inúmeras edificações de comércios e serviços, assim como a existência de corredores de transporte coletivo. Por outro lado, as Avenidas Luiz Englert (Figura 1e) e Setembrina (Figura 1f) caracterizam-se pela existência de edificações institucionais, a UFRGS e o Instituto de Educação, que proporcionam movimento

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reduzido de pedestres, o que pode ser explicado pela baixa disponibilidade de acessos e conexões visuais, portas e janelas, voltados para estas vias.

(a) Ruas adjacentes ao Parque (b) Av. José Bonifácio (c) Av. Osvaldo Aranha

(d) Av. João Pessoa (e) Av. Luiz Englert (f) Av. Setembrina

FIGURA 1 – Parque Farroupilha e ruas adjacentes. Fonte: autores.

O levantamento de arquivo correspondeu à revisão da literatura, bem como à coleta de informações em instituições afins, de forma a obter dados sobre o Parque Farroupilha. O trabalho de campo incluiu entrevistas, questionários, identificação de percursos e mapa comportamental. Entrevistas foram realizadas presencialmente em outubro de 2014, com 30 vendedores ambulantes no Parque Farroupilha questionados sobre os impactos de um cercamento hipotético do Parque Farroupilha nas suas atividades comerciais, como segue: “O cercamento do Parque Farroupilha afetaria negativamente ou positivamente o seu negócio?”; “Por quê?”. Questionários foram realizados com 121 respondentes, divididos em três grupos: frequentadores do Parque Farroupilha que praticam atividades de lazer, esporte ou que utilizam o Parque como passagem (44,6% - 54 de 121); moradores dos bairros do entorno do Parque - Santana, Farroupilha, Bom Fim e Cidade Baixa (17,4% - 21 de 121); e comerciantes em edificações do entorno, vendedores ambulantes no Parque Farroupilha, e expositores da Feira Ecológica/Brique da Redenção (38% - 46 de 121). A coleta de dados foi realizada entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015 através de questionários respondidos via internet e presencialmente (Tabela 1). Ainda, foram identificados e registrados em mapa impresso 102 percursos realizados pelos três grupos (59 por frequentadores; 13 por moradores; e 30 por comerciantes) em um sábado pela manhã, sendo, posteriormente, digitalizados no programa AutoCAD (Figura 5).

Devido ao fato da lei municipal aprovada (PORTO ALEGRE, 2015) não apresentar uma proposta de cercamento do Parque Farroupilha, foi proposto um cercamento hipotético para verificar o impacto sobre as atividades realizadas no Parque, baseado nos seguintes critérios: 1) localização nas bordas do Parque, externamente aos canteiros existentes e junto ao alinhamento da calçada; 2) um número mínimo de portões que permitissem o acesso dos usuários, mas que também facilitassem o controle; 3) posicionamento dos portões em locais que interferissem o mínimo possível no desenho paisagístico existente do Parque; e 4) distribuição dos portões de maneira equilibrada pelos limites do Parque, correspondendo à posição das ruas que desembocam nas ruas adjacentes. Assim, esta proposta foi concebida com sete portões de entrada,

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sendo: dois na Av. João Pessoa, dois na Av. Osvaldo Aranha, dois na Av. José Bonifácio e um portão no encontro das Avenidas Luiz Englert e Setembrina (Figura 4).

As informações obtidas nos questionários foram tabuladas no programa estatístico Statistical Package for Social Sciences – SPSS/PC para análise comparativa das frequências das respostas de cada grupo. Em complementação aos dados coletados nas entrevistas e questionários, realizou-se a observação e registro em um mapa comportamental das atividades realizadas nas bordas do Parque Farroupilha, bem como os movimentos de entrada e saída do Parque. Devido ao uso intenso do Parque Farroupilha nos finais de semana, o mapa comportamental foi realizado em um sábado, das 10h30 às 11h30. As categorias observadas e marcadas nos mapas correspondem às atividades que os usuários realizavam no local, tais como: caminhar ou correr, andar de bicicleta, praticar esportes em grupo, encontrar de pessoas, passear com cães, observar a paisagem e/ou movimento de pessoas, tomar chimarrão, ir ao Brique da Redenção, ir à Feira Ecológica, passear com criança, e movimentos de entrada e saída do Parque Farroupilha.

TABELA 1 – Amostra dos respondentes

GRUPO CARACTERÍSTICAS DO GRUPO ACESSO AO QUESTIONÁRIO TOTAL DAS AMOSTRAS

121 (100%) FREQUENTADORES

Frequentadores do Parque

Farroupilha que praticam atividades de lazer, esporte ou que utilizam o parque como passagem.

Distribuição de panfletos no Parque Farroupilha com o endereço virtual do questionário para frequentadores e compartilhamento do endereço virtual via rede social e e-mail.

54 (44,6%)

MORADORES

Residentes dos Bairros Santana, Farroupilha, Cidade Baixa e Bom Fim

Distribuição de panfletos com endereço virtual nas caixas de correio dos edifícios residenciais que fazem frente ao Parque e contato direto no Parque Farroupilha através da distribuição de panfletos com o endereço virtual do questionário.

21 (17,4%)

COMERCIANTES

Lojistas que exercem atividades em edificações do entorno; vendedores ambulantes no Parque Farroupilha; e expositores da Feira Ecológica/ Brique da Redenção.

Questionários aplicados presencialmente, cujas respostas foram transcritas posteriormente para questionário online no programa Lime Survey.

46 (38%)

Nota: Desconsiderados da amostra 1 morador e 4 comerciantes que não utilizam o Parque Farroupilha.

3. RESULTADOS

3.1 Identificação dos atuais usos no interior e nos limites do Parque Farroupilha

No interior do Parque Farroupilha são realizadas atividades culturais, lazer, prática de esportes e comércio. O Auditório Araújo Viana é sede de eventos culturais, sendo que após a reforma em 2012 foi cercado e possui um único portão de acesso. O Parque Ramiro Souto, embora cercado, possui dois portões de acesso que permanecem abertos 24 horas, possui equipamentos como pista de corrida e quadras poliesportivas, e é utilizado para prática de esportes e lazer, mesmo durante à noite devido à iluminação adequada. As atividades comerciais presentes no interior do Parque Farroupilha (Figura 2) são: Mercado do Bom Fim, localizado na esquina da Av. Osvaldo Aranha com Av. José Bonifácio, com horário de funcionamento das 9h às 19h, o qual abriga diversas atividades, como central de informações turísticas, lojas de artesanato, cafeterias, restaurantes e floriculturas; Parquinho da Redenção, possui dois acessos restritos pela Av. Osvaldo Aranha e Av. José Bonifácio com equipamentos para lazer infanto-juvenil. Ainda, principalmente durante os finais de semana, os vendedores ambulantes estão presentes no interior do Parque Farroupilha, em quiosques ou carrinhos, com seus pontos de venda definidos pela SMIC (Secretaria Municipal de Indústria e Comércio).

Entre as cinco atividades praticadas no interior do Parque Farroupilha pelos três grupos da amostra, caminhada/corrida foi a mais mencionada (66,1% - 80 de 121), seguida por ir ao Brique da Redenção (53,7% - 65 de 121), encontrar pessoas (52,9% - 64 de 121), tomar chimarrão (41,3% - 50 de 121), e ir à Feira Ecológica (38,8% - 47 de 121) (Tabela 2). Entre os três grupos, observou-se o predomínio do grupo

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dos frequentadores para a prática das atividades no Parque Farroupilha, realizando tanto a atividade caminhada/corrida como ir ao Brique da Redenção (72,2% - 39 de 54), seguida por encontrar pessoas (68,5% - 37 de 54). Para o grupo dos moradores as duas atividades mais realizadas são caminhada/corrida e encontrar pessoas (66,7% - 14 de 21), seguida por ir ao Brique da Redenção. Para o grupo dos comerciantes, a atividade mais realizada é caminhada/corrida (58,7% - 27 de 46), seguida pela atividade comercial (41,3% - 19 de 46), sendo esta realizada apenas pelos vendedores ambulantes e expositores da Feira Ecológica e Brique da Redenção, e tomar chimarrão (32,6% - 15 de 46).

FIGURA 2 – Atuais usos no interior e nos limites do Parque Farroupilha. Fonte: autores. TABELA 2 – Atividades realizadas pelos grupos no Parque Farroupilha

Atividades realizadas pelos respondentes Frequentadores

54 (100%) Moradores 21 (100%) Comerciantes 46 (100%) Total da Amostra 121 (100%) Caminhada/corrida 39 (72,2%) 14 (66,7%) 27 (58,7%) 80 (66,1%) Ir ao Brique da Redenção 39 (72,2%) 12 (57,1%) 14 (30,4%) 65 (53,7%) Encontrar pessoas 37 (68,5%) 14 (66,7%) 13 (28,3%) 64 (52,9%) Tomar chimarrão 30 (55,6%) 5 (23,8%) 15 (32,6%) 50 (41,3%) Ir à Feira Ecológica 35 (64,8%) 8 (38,1%) 4 (8,7%) 47 (38,8%) Como passagem 29 (53,7%) 4 (19%) 9 (19,6%) 42 (34,7%)

Observar a paisagem e/ou movimento de pessoas 22 (40,7%) 8 (38,1%) 10 (21,7%) 40 (33,1%)

Levar crianças para passear 13 (24,1%) 3 (14,3%) 12 (26,1%) 28 (23,1%)

Andar de bicicleta 14 (25,9%) 6 (28,6%) 6 (13%) 26 (21,5%)

Atividade comercial 0 (0,0%) 0 (0,0%) 19 (41,3%) 19 (15,7%)

Levar cães para passear 7 (13%) 3 (14,3%) 1 (2,2%) 11 (9,1%)

Praticar esportes em grupo 4 (7,4%) 2 (9,5%) 3 (6,5%) 9 (7,4%)

Nota: Os valores entre parênteses referem-se aos percentuais das amostras individuais em relação ao total de cada grupo e ao total dos 121 respondentes dos três grupos (frequentadores do Parque Farroupilha, moradores dos bairros do entorno do Parque e comerciantes). Dentre as ruas adjacentes ao Parque Farroupilha, a Av. José Bonifácio é aquela que apresenta tanto o maior movimento de usuários como a maior diversidade de atividades (Figura 3). Verifica-se o predomínio de usuários utilizando a Feira Ecológica e o Brique da Redenção (uma vez que o levantamento foi realizado em um sábado, dia em que ocorrem estas atividades), assim como observando a paisagem, caminhando ou correndo. Os usuários costumam realizar percursos que incluem o interior e o exterior ou as bordas do

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Parque, devido ao fato de não existirem barreiras que impeçam tais percursos. O limite do Parque junto à Av. Osvaldo Aranha apresenta baixo movimento de usuários próximo à esquina com a Av. Setembrina, contudo, este movimento aumenta a partir da frente do Auditório Araújo Viana até a esquina com a Av. José Bonifácio, sendo a atividade predominante a caminhada/corrida, seguida por andar de bicicleta. Ainda, encontram-se pessoas sentadas observando a paisagem, se movimentando, levando crianças para passear, especialmente próximo ao Parquinho da Redenção, e também levando cães para passear.

FIGURA 3 – Mapa comportamental atividades nas bordas do Parque Farroupilha. Fonte: autores.

Nota: Somatório das pessoas registradas nas bordas do Parque Farroupilha, das 10h30 às 11h30, em um sábado.

O limite do Parque junto à Av. João Pessoa apresenta movimento moderado, sendo caracterizado por pessoas praticando exercícios físicos: corrida, caminhada e andando de bicicleta. Verificou-se que nas bordas junto à esta via existem poucos pontos de permanência, havendo uma preferência dos usuários por utilizar o espaço apenas como passagem e circuito de caminhada/corrida. Por fim, os limites do Parque junto às Avenidas Luiz Englert e Setembrina apresentam menor movimento, quando comparadas com as demais, havendo o predomínio de usuários praticando exercícios físicos tais como: corridas, caminhadas em ritmo mais acelerado e andando de bicicleta. Contudo, verificou-se um número expressivo de usuários acessando o Parque pelo eixo central, o que pode ser explicado pelo estacionamento localizado próximo à rótula (Figura 3).

3.2 Impactos de um cercamento hipotético nos atuais usos no interior e limites do Parque Farroupilha A partir da análise dos questionários, verificou-se o predomínio de respostas indicando que a atividade que seria mais afetada negativamente por um cercamento hipotético (Figura 4) seria o uso do Parque como passagem (34,7% - 42 de 121) (Tabela 4). O grupo dos frequentadores é o que mais avaliou o cercamento como negativo para a realização de suas atividades, sendo o uso do Parque como passagem também a atividade mais afetada (46,3% - 25 de 54). Dentro do grupo dos moradores, não há consenso entre as respostas, uma vez que a quantidade de pessoas que consideram que a caminhada/corrida seria afetada

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negativamente é a mesma daqueles que consideram que nenhuma atividade seria afetada negativamente (28,6% - 6 de 21). Dentro do grupo dos comerciantes, parte deles consideram que a sua atividade comercial seria afetada negativamente (41,3% - 19 de 46), seguido pelo mesmo percentual daqueles que consideram que nenhuma atividade seria afetada negativamente e que caminhada e corrida seria afetada pelo cercamento hipotético (32,6% - 15 de 46).

FIGURA 4 – Proposta de cercamento. Fonte: autores.

TABELA 4 – Atividades afetadas negativamente pelo cercamento proposto

Das atividades que você realiza no Parque Farroupilha qual(is) seria(m) afetada(s) negativamente pelo cercamento proposto

Frequentadores 54 (100%) Moradores 21 (100%) Comerciantes 46 (100%) Total 121 (100%) Como passagem 25 (46,3%) 5 (23,8%) 12 (26,1%) 42 (34,7%) Caminhada/corrida 15 (27,8%) 6 (28,6%) 15 (32,6%) 36 (29,8%)

Nenhuma atividade seria afetada negativamente 8 (14,8%) 6 (28,6%) 15 (32,6%) 29 (24%)

Atividade comercial 0 (0,0%) 0 (0,0%) 19 (41,3%) 19 (41,3%)

Ir ao Brique da Redenção 10 (18,5%) 1 (4,8%) 4 (8,7%) 15 (12,4%)

Nota: Os valores entre parênteses referem-se aos percentuais das amostras individuais e em relação ao total de 121 participantes dos três grupos (frequentadores do Parque Farroupilha, moradores dos bairros do entorno do Parque, e comerciantes).

Verifica-se o predomínio de respostas que indicam que nenhuma atividade seria afetada positivamente pelo cercamento (37,2% - 45 de 121) (Tabela 5).

TABELA 5 – Atividades afetadas positivamente pelo cercamento proposto

Das atividades que você realiza no Parque Farroupilha qual(is) seria(m) afetada(s) positivamente pelo cercamento proposto

Frequentadores 54 (100%) Moradores 21 (100%) Comerciantes 46 (100%) Total 121 (100%)

Nenhuma atividade seria afetada positivamente 22 (40,7%) 5 (23,8%) 18 (39,1%) 45 (37,2%)

Caminhada/corrida 7 (13%) 3 (14,3%) 5 (10,9%) 15 (12,4%)

Encontrar pessoas 3 (5,6%) 4 (19%) 2 (4,3%) 9 (7,4%)

Levar crianças para passear 2 (3,7%) 2 (9,5%) 4 (8,7%) 8 (6,6%)

Atividade comercial 0 (0,0%) 0 (0,0%) 7 (15,2%) 7 (5,8%)

Nota: Os valores entre parênteses referem-se aos percentuais das amostras individuais e em relação ao total de 121 participantes dos três grupos (frequentadores do Parque Farroupilha, moradores dos bairros do entorno do Parque, e comerciantes).

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O grupo dos frequentadores é o que menos avalia positivamente o cercamento proposto, considerando que nenhuma atividade seria afetada positivamente por tal cercamento (40,7% - 22 de 54).

Ainda, dentre os 30 vendedores ambulantes entrevistados que avaliaram a proposta de cercamento do Parque Farroupilha, a maioria mencionou que afetaria negativamente sua atividade comercial (60% - 18 de 30), justificando que haveria uma diminuição no movimento de pedestres, ocasionando uma queda nas vendas dos produtos, as quais estão ligadas à circulação das pessoas pelo Parque. Apenas uma pequena parcela (23,3% - 7 de 30) entende que o cercamento proposto afetaria positivamente suas atividades comerciais, em razão de um maior controle de vendedores ambulantes irregulares dentro do Parque. 3.3 Impactos de um cercamento hipotético nos percursos dos usuários do Parque Farroupilha Em relação aos pontos de chegada ao Parque Farroupilha, observa-se nos percursos realizados (Figura 5), que os usuários costumam acessar o Parque predominantemente pela Av. José Bonifácio e Av. Osvaldo Aranha, sendo que os pontos de chegada tendem a ser distribuídos ao longo da Av. José Bonifácio, enquanto na Av. Osvaldo Aranha concentram-se próximos à frente do Araújo Viana e na sinaleira em frente à Rua Fernandes Vieira.

FIGURA 5 – Percursos dos grupos realizados nos turnos. Fonte: autores.

Na Av. João Pessoa verifica-se uma concentração de pontos de entrada próximo à Rua da República e a Av. Loureiro da Silva, onde existem caminhos com vegetação menos densa no interior do Parque. Quanto às Avenidas Luiz Englert e Setembrina, verificou-se um número reduzido de pontos de chegada, sendo que a maioria dos usuários acessa o Parque pelo eixo central, possivelmente pela existência de vegetação densa nestas vias que se tornam barreiras ao movimento, reduzindo o possível número de acessos. Ainda, na Av. Setembrina não foi encontrado nenhum usuário acessando o Parque ao longo da via. Em relação aos pontos de saída no Parque Farroupilha, observou-se que a maioria dos usuários costumam sair do Parque em vários pontos distribuídos pela Av. José Bonifácio, assim como nas esquinas desta via com as Avenidas Osvaldo Aranha e João Pessoa. O movimento em direção à Av. José Bonifácio pode ser explicado pela existência da Feira Ecológica e Brique da Redenção nesta via, que ocorrem aos sábados no turno da manhã, horário em que os percursos foram identificados. Nos limites do Parque junto às Avenidas João Pessoa e Osvaldo Aranha foram observados alguns pontos de saída, especialmente de usuários que utilizam o Parque como

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passagem, nas proximidades das Rua da República e Rua General João Telles, respectivamente. Quanto aos limites do Parque junto às Avenidas Luiz Englert e Setembrina, foram identificados alguns pontos de saída ao longo das vias, contudo o ponto de encontro destas vias, que possui conexão com o eixo central do Parque, é utilizado por muitos usuários como ponto de saída.

A partir da espacialização dos 102 percursos coletados, observa-se que para os três grupos da amostra (frequentadores, comerciantes e moradores) a maioria expressiva dos percursos seriam prejudicados pelo cercamento proposto (86,3% - 88 de 102), tanto nos pontos de entrada e saída do Parque Farroupilha como nos movimentos realizados durante os percursos (Tabela 6).

TABELA 6 – Existência ou não de impacto da proposta de cercamento sobre os percursos

Percurso seria afetado pela proposta de cercamento hipotético? Frequentadores 59 (100%) Moradores 13 (100%) Comerciantes 30 (100%) Total 102 (100%) Sim 50 (84,7%) 13 (100%) 25 (83,3%) 88 (86,3%) Não 9 (15,3%) 0 (0,0%) 5 (16,7%) 14 (13,7%)

Nota: Os valores entre parênteses referem-se aos percentuais das amostras individuais e em relação ao total de 102 percursos indicados pelos três grupos da amostra.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No interior e nos limites do Parque Farroupilha existe uma variedade de atividades culturais, recreativas, esportivas, e de comércio. Quanto às atividades realizadas pelos três grupos no interior do Parque, há o predomínio de caminhadas/corridas e idas ao Brique da Redenção. Dentre as ruas adjacentes, destaca-se a Av. José Bonifácio por possuir atividades com caráter de permanência que se beneficiam do movimento do Parque, como por exemplo: o Brique da Redenção, a Feira Ecológica, bares, restaurantes e cafeterias das proximidades, assim como o Colégio Militar que utiliza do espaço do Parque para atividades esportivas e cívicas. Logo, um cercamento hipotético funcionaria como uma barreira e acabaria com a conexão entre o Parque e a rua, prejudicando a dinâmica urbana existente e condicionando as trajetórias das pessoas através dos portões de acesso, o que possivelmente diminuiria o movimento em direção ao Brique/ Feira. Um exemplo de como uma intervenção alterou a dinâmica na Feira Ecológica foi revelada por uma expositora:

Antigamente a sinaleira aqui da Av. Osvaldo Aranha [esquina com a Av. José Bonifácio] era mais para a frente, fazendo com que as pessoas chegassem direto na feira. Quando ela foi para frente do posto [de gasolina], várias pessoas deixaram de atravessar a rua [Av. José Bonifácio] para vir até aqui, reduzindo o nosso movimento (Comerciante).

Para os três grupos, o impacto do cercamento hipotético foi percebido como negativo para a realização de suas atividades, sendo que entre as principais razões apontadas para o impacto negativo está a limitação de entradas e saídas, o que poderia levar a uma falta de estímulo para uso do Parque Farroupilha, principalmente pelo grupo dos frequentadores. Ainda, a maioria dos vendedores ambulantes entende que tal proposta de cercamento diminuiria sua atividade comercial devido à redução no movimento de pedestres.

Contudo, caso fosse implementado o cercamento proposto, o grupo dos frequentadores seria o mais prejudicado quanto aos pontos de entrada e saída do Parque, uma vez que estes geralmente ocorrem pelas esquinas, local onde não foram previstos portões de acesso. Já o grupo dos moradores não seria tão prejudicado, pois percebe-se que a maioria costuma entrar e sair em locais próximos aos portões de acesso do cercamento proposto. No grupo dos comerciantes há um predomínio de acessos ao Parque em um ponto próximo à Rua da República, devido a um depósito de mercadoria existente nas proximidades. Contudo, parte deste grupo, composto predominantemente por vendedores ambulantes, que acessa o Parque pela Av. José Bonifácio teria que, necessariamente, percorrer em média 130 metros a mais para chegar ao portão de acesso mais próximo. Os lojistas da Av. Osvaldo Aranha que utilizam o Parque como passagem seriam os

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mais prejudicados, uma vez que os pontos de entrada observados são distribuídos ao longo da via e estão localizados próximos às lojas.

Considerando os 102 percursos dos usuários identificados, em caso de cercamento hipotético as pessoas teriam que caminhar em média 142,5 metros a mais para chegar de seu ponto de entrada atual até um dos sete portões de acesso propostos na pesquisa. Desta forma, todos os percursos seriam afetados em algum grau, uma vez que a acessibilidade ao Parque seria claramente reduzida com um cercamento hipotético. Os percursos realizados em atividades como caminhada/corrida ficariam também comprometidos, já que os frequentadores costumam realizar trajetos que incluem o interior e o exterior ou as bordas do Parque. Ainda, o Brique da Redenção teria a área de circulação dos seus usuários reduzida caso fosse implantado o cercamento proposto, já que esta atividade movimenta um número considerável de pessoas, as quais ocupam a borda do Parque Farroupilha, adjacente à Av. José Bonifácio, assim como a própria via, o que ocasiona, inclusive, o fechamento do trânsito aos domingos em razão do movimento intenso de pedestres em toda sua extensão.

Estes resultados corroboram estudos anteriores, os quais indicam que a implantação de um cercamento hipotético nas bordas do Parque Farroupilha afetaria negativamente o comércio local no interior do Parque por limitar o acesso dos frequentadores (BOCHI et al., 2012), bem como por diminuir a acessibilidade ao Parque, especialmente, para aqueles que frequentam o Brique da Redenção e a Feira Ecológica, praticam atividades como caminhada/corrida, e utilizam o Parque como passagem (GREGOLETTO et al., 2013). Desta forma, o estudo reflete a importância da participação da população no planejamento de intervenções nos espaços públicos, uma vez que aponta diferenças sobre a ideia de cercamento do Parque Farroupilha entre as percepções dos frequentadores, moradores e comerciantes, e o que foi argumentado pelo Poder Público para justificar a criação da Lei Municipal nº11.845/15.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BOCHI, Thaís Caetano; GREGOLETTO, Débora; REIS, Antônio Tarcísio da Luz. Cercamento de parques urbanos conforme a percepção de usuários comerciantes. In: XVI CONGRESSO ARQUISUR, Buenos Aires, Argentina, 2012. Anais... Buenos Aires: FADU - Facultad de Arquitectura, Diseño y Urbanismo de La Universidad de Buenos Aires, 2012.

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GEHL, Jan. Cidade para pessoas. São Paulo, F.D: Perspectiva, 2013.

GREGOLETTO, Débora; BOCHI, Thaís; SILVA, Fernanda Costa da; REIS, Antônio Tarcísio da Luz. Existência e inexistência de cercamento, segurança e acessibilidade de parques urbanos. Arquisur Revista, v. 3, p. 124-137, 2013. MANNING, Robert. Studies in outdoor recreation: search and research for satisfaction. Oregon: Oregon State University Press, 1999.

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