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Leandro Bortoleto Paulo Lépore Rogério Sanches Cunha

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2018

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Bruno Del Preti, Diego Senna, Duda Nogueira,

Fábio Ianni Goldfinger, Jaime Barreiros Neto, Leandro Bortoleto, Luciano Alves Rossato, Marcus Paulo Queiroz Macêdo, Paulo Lépore, Ricardo Ferracini Neto, Ricardo Silvares, Rogério Sanches Cunha, Tatiana Scaranello.

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Direito Constitucional

1. CONSTITUCIONALISMO. CONSTITUIÇÃO. CONCEITO. CLASSIFICAÇÃO. ELEMEN-TOS. PODER CONSTITUINTE: ORIGINÁRIO E DERIVADO. O CONSTITUCIONALIS-MO BRASILEIRO. A ORDEM CONSTITUCIONAL. EMENDAS À CONSTITUIÇÃO. DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

I. Conceito de Direito Constitucional

• Na lição de Pinto Ferreira, o direito constitucional na prática e na história surgiu

intimamente ligado a regime constitucional que limitou o Poder do Estado em pro-veito das liberdades públicas. Em síntese, o direito constitucional também pode ser compreendido como a ciência positiva das Constituições (Curso de Direito

Consti-tucional. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 3-5).

II. Objeto do Direito Constitucional

• De acordo com José Afonso da Silva, o objeto do direito constitucional “é

cons-tituído pelas normas fundamentais da organização do Estado, isto é, pelas normas relativas à estrutura do Estado, forma de governo, modo de aquisição e exercício do poder, estabelecimento de seus órgãos, limites de sua atuação, direitos fundamen-tai do homem e respectivas garantias e regras básicas da ordem econômica e social” (Curso de Direito Constitucional Positivo. 6 ed. São Paulo: RT, 1989, p. 33-35).

III. Formação do Direito Constitucional

• Pinto Ferreira ensina que a expressão direito constitucional surgiu na Itália, no fim

do século XVIII, firmando-se como disciplina jurídica no início do século XIX, na Fa-culdade de Direito de Paris (Curso de Direito Constitucional. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 3-5). Para além da formação da identificação da expressão “direito constitu-cional”, é importante o estudo da criação e evolução dessa disciplina jurídica, o que se faz por meio do estudo do constitucionalismo.

IV. Constitucionalismo

1. Constitucionalismo: movimento evolutivo de criação das Constituições. 2. Etapas do constitucionalismo ou ciclos constitucionais:

a) Constitucionalismo Primitivo (aproximadamente de 30.000 a. C. até 1.000 a. c): na antiguidade clássica, os líderes das famílias ditavam e resguardavam as

re-gras supremas para o convívio social. Segundo Karl Loewestein, o povo hebreu, teve grande destaque no movimento constitucionalista desse período, notadamente por

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reconhecer que os valores garantidos pelos primeiros textos bíblicos não podiam ser violados por ninguém (Teoria de La Constitución. Barcelona: Ariel, 1986, p. 154-157).

b) Constitucionalismo Antigo (aproximadamente de 1.000 a.c. ao Séc. V d.c.): os

Parlamentos e Monarcas formulavam as normas de convívio social, e já existia uma exortação aos direitos fundamentais dos indivíduos. Entretanto, o constitucionalis-mo tinha pouco efetividade, pois os Monarcas não cumpriam as garantias dispostas nos direitos fundamentais.

c) Constitucionalismo Medieval (Séc. V a XVIII): surgimento de documentos que

li-mitavam os poderes dos Monarcas e garantiam liberdades públicas aos cidadãos, a exemplo da Magna Charta de 1215, no Reino Unido. Também é desta época o que se denomina constitucionalismo whig ou termidoriano, que caracteriza a evolução lenta e gradual do movimento constitucionalista, e que se materializou com a ascen-são de Guilherme de Oranges e do partido whig no Reino Unido, no final do século XVII, também marcado pela edição da Bill of Rights (1689).

d) Constitucionalismo Moderno (Séc. XVIII a Séc. XX): materialização e afirmação

das Constituições Formais Liberais, que representavam garantias sérias de limitação dos Poderes Soberanos, e eram dotadas de legitimidade democrática popular. De-senvolveu-se à partir das revoluções liberais (Revolução Francesa e Revolução das 13 Colônias Estadunidenses). Representou o início do garantismo e o surgimento das primeiras Constituições dirigentes.

e) Constitucionalismo Contemporâneo (Séc. XX a Séc. XXI): caracteriza-se pela

con-solidação da existência de Constituições garantistas, calcadas na defesa dos direitos fundamentais igualitários, sociais e solidários. As disposições constantes nas Consti-tuições têm reafirmada sua força normativa destacada em relação às prescrições de outras fontes jurídicas (leis e atos estatais). Esse período é marcado pelas constitui-ções dirigentes, que prescrevem programas a serem implementados pelos Estados, normalmente por meio de normas programáticas. Vale destacar que esse período acabou manchado por algumas constituições criadas apenas para justificar o exercí-cio de um Poder não democrático, a exemplo da Carta Polaca de 1937, que susten-tou a Era Vargas no Brasil, e que faz parte do que se denomina constitucionalismo

semântico, uma vez que se busca extrair da Constituição apenas os significados que

possam reconhecer a tomada e manutenção de Poder por regimes autoritários.

f) Neoconstitucionalismo (Séc. XX e Séc. XXI): como um aprimoramento do

Cons-titucionalismo Contemporâneo, prega a importância destacada da moral e dos valores sociais, garantidos predominantemente por meio de princípios. Não se con-forma com as normas programáticas e as constituições dirigentes, afirmando que as Constituições devem ser dotadas de força normativa. Para conferir normatividade à Constituição, destaca o Poder Judiciário como garantidor, colocando a atividade legislativa em segundo plano. Em resumo: trabalha com a ideia de extração da má-xima efetividade do Texto Constitucional, pois a Constituição deve ocupar o centro do sistema jurídico.

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3. Constitucionalismo Brasileiro/História das Constituições do Brasil

a) Carta de 1824: fortemente influenciada pela Constituição Francesa de 1814, foi o

Texto Supremo de maior duração na história das constituições brasileiras: vigeu por 65 anos. Mantinha a escravatura da época colonial e trazia a forma unitária de Esta-do regida por um Governo Monárquico caracterizaEsta-do por uma forte centralização político-administrativa. Havia a previsão do Poder Moderador, atribuído exclusiva-mente ao Monarca, funcionando como um Quarto Poder que permitia toda ordem de interferências nos demais Poderes. O voto era censitário. O Estado era confessio-nal: a religião oficial do Império era a Católica Apostólica Romana.

b) Constituição de 1891: a nação passou a se chamar Estados Unidos do Brasil, tendo

sido adotada a forma federativa de Estado. Instituiu-se um regime constitucional republicano sem o Quarto Poder. Fim do Estado confessional.

c) Constituição de 1934: abarcou diversos direitos progressistas, com destaque para

os de natureza social. Implantaram-se a Justiça do Trabalho, a Justiça Eleitoral e o voto secreto e possível às mulheres. Foram criados o Mandado de Segurança e a Ação Popular e o STF foi cristalizado como Corte Suprema.

d) Carta de 1937: seu texto foi inspirado na Carta ditatorial polonesa, o que a levou a

ser apelidada de Polaca. Houve uma descaracterização da autonomia das entendi-das federaentendi-das, criando uma espécie de federalismo nominal ou formal. O Legislati-vo Federal era bicameral, mas seus membros eram eleitos indiretamente. O Poder Executivo acabava se sobrepondo aos demais Poderes por meio de prerrogativas e competências desarrazoadas.

e) Constituição de 1946: responsável pela restauração das garantias individuais e do

equilíbrio entre os Poderes. Expandiram-se os poderes da União. Determinou-se a representatividade dos Estados-Membros e da população no Senado e na Câmara dos Deputados.

f) Constituição de 1967: forjada sob a preocupação com a segurança nacional. Teve o demérito de consagrar ações de suspensão de direitos individuais e políticos.

g) Constituição de 1988: constituição democrática e plural, enuncia que a República

Federativa do Brasil se constitui em um Estado de Democrático de Direito que tem como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os va-lores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo jurídico. Conta com um detalhado catálogo de direitos fundamentais, além de versar sobre inúmeros temas de relevo como os direitos sociais, de nacionalidade, políticos e econômicos.

IV. Fontes e conteúdo do Direito Constitucional

• A fonte e o conteúdo do direito constitucional são as Constituições, produtos da

evolução do Constitucionalismo. Para uma adequada compreensão da essência do direito constitucional se faz necessário o estudo dos diversos conceitos e das mais variadas concepções de Constituição.

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V. Conceito e Concepção de Constituição

a) Constituição Sociológica (Ferdinand Lassalle – 1862): é aquela que deve traduzir a

soma dos fatores reais de poder que rege determinada nação, sob pena de se tornar mera folha de papel escrita, que não corresponda à Constituição real.

b) Constituição Política (Carl Schmitt – 1928): é aquela que decorre de uma decisão

política fundamental, e se traduz na estrutura do Estado e dos Poderes, e na pre-sença de um rol de direitos fundamentais. As normas que não traduzirem a decisão política fundamental não serão constituição propriamente dita, mas meras leis cons-titucionais.

c) Constituição Material: é o arcabouço de normas que tratam da organização do

po-der, da forma de governo, da distribuição da competência, dos direitos da pessoa humana, considerados os sociais e individuais, do exercício da autoridade, ou seja, trata da composição e do funcionamento da ordem política. Tem relação umbilical com a Constituição Política de Carl Schimitt.

d) Constituição Jurídica (Hans Kelsen – 1934): é aquela que se constitui em norma

hipotética fundamental pura, que traz fundamento transcendental para sua própria existência (sentido lógico-jurídico), e que, por se constituir no conjunto de normas com mais alto grau de validade, deve servir de pressuposto para a criação das de-mais normas que compõem o ordenamento jurídico (sentido jurídico-positivo).

e) Constituição Culturalista (Michele Ainis – 1986): é aquele que representa o fato

cultural, ou seja, que disciplina as relações e direitos fundamentais pertinentes à cultura, tais como a educação, o desporto, e a cultura em sentido estrito.

f) Constituição Aberta (Peter Haberle – 1975): é aquela interpretada por todo o povo

em qualquer espaço, e não apenas pelos juristas, no bojo dos processos.

g) Constituição Pluralista (Gustavo Zagrebelsky – 1987): não é nem um mandato nem

um contrato. É aquela dotada de princípios universais, segundo as pretensões acor-dadas pelas “partes”. Caracteriza-se pela capacidade de oferecer respostas adequa-das ao nosso tempo ou, mais precisamente, da capacidade da ciência constitucional de buscar e encontrar essas respostas na constituição.

h) Constituição Simbólica (Marcelo Neves – 1994): é aquela que traz uma grande

enunciação de direitos e valores sociais que não passam de álibis ou argumentos dilatórios frente à falta de efetividade prática do que se preceitua.

VI. Classificação das Constituições 1. Quanto à Origem

A. Democrática, Promulgada ou Popular: elaborada por legítimos representantes do povo, normalmente organizados em torno de uma Assembleia Constituinte.

B. Outorgada: é aquela elaborada sem a presença de legítimos representantes do povo, imposta pela vontade de um poder absolutista ou totalitário, não democrático.

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C. Constituição Cesarista, Bonapartista, Plebiscitária ou Referendária: é aquela criada por um ditador ou imperador e posteriormente submetida à aprovação popular por ple-biscito ou referendo.

D. Pactuada/Dualista: originada de um compromisso instável de duas forças políticas rivais, de modo que o equilíbrio fornecido por tal espécie de Constituição é precário. Esse modelo foi muito utilizado na monarquia da Idade Média. A Magna Carta de 1215, que os barões obrigaram João Sem Terra a jurar, é um exemplo.

E. Heteroconstituição (ou “Constituição Dada”): é aquela criada fora do Estado em que irá vigorar. Ex: Constituição do Chipre (procedente dos acordos de Zurique, de 1960, entre a Grã-Bretanha, a Grécia e a Turquia).

2. Quanto ao Conteúdo:

A. Formal: compõe-se do que consta em documento solene que tem posição hierárqui-ca de destaque no ordenamento jurídico.

B. Material: composta por regras que exteriorizam a forma de Estado, organizações dos Poderes e direitos fundamentais. Portanto, suas normas são aquelas essencialmente cons-titucionais, mas que podem ser escritas ou costumeiras, pois a forma tem importância se-cundária.

3. Quanto à Forma:

A. Escrita/Instrumental: formada por um texto.

A.1. Escrita Legal (Paulo Bonavides): formada por texto oriundo de documentos espar-sos ou fragmentados.

A.2. Escrita Codificada (Paulo Bonavides): formada por texto inscrito em documento único.

B. Não Escrita: identificada a partir dos costumes, da jurisprudência predominante e até mesmo por documentos escritos (por mais contraditório que possa parecer). Como esclare-ce Dirley da Cunha Júnior, “não existe Constituição inteiramente não-escrita ou costumeira, pois sempre haverá normas escritas compondo o seu conteúdo. A Constituição inglesa, por exemplo, compreende importantes textos escritos, mas esparsos no tempo e no espaço, como a Magna Carta (1251), o Petition of Rights (1628), o Habeas Corpus Act (1679), o Bill of Rights (1689), entre outros” (Direito Constitucional. 6 ed. Salvador: JusPodivm, 2012, p. 120).

4. Quanto à Estabilidade:

A. Imutável: não prevê qualquer processo para sua alteração.

B. Fixa: só pode ser alteração pelo Poder Constituinte Originário, “circunstância que implica, não em alteração, mas em elaboração, propriamente, de uma nova ordem cons-titucional” (CUNHA JÙNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 6 ed. Salvador: JusPo-divm, 2012, p. 122-123)

C. Rígida: aquela em que o processo para a alteração de qualquer de suas normas é mais difícil do que o utilizado para criar leis.

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* Vale ressaltar que alguns autores falam em Constituição super-rígida, como aquela em que além de o seu processo de alteração ser mais difícil do que o utilizado para criar leis, dispõe ainda de uma parte imutável (cláusulas pétreas).

D. Flexível: aquela em que o processo para sua alteração é igual ao utilizado para criar leis.

E. Semi-rígida ou semiflexível: é aquela dotada de parte rígida (em que somente pode ser alterada por processo mais difícil do que o utilizado para criar leis), e parte flexível (em que pode ser alterada pelo mesmo processo utilizado para criar leis).

5. Quanto à Extensão:

A. Sintética: é a Constituição que regulamenta apenas os princípios básicos de um Es-tado.

B. Analítica ou prolixa: é a Constituição que vai além dos princípios básicos, detalhando também outros assuntos.

6. Quanto à Finalidade:

A. Garantia: contém proteção especial às liberdades públicas.

B. Dirigente: confere atenção especial à implementação de programas pelo Estado.

7. Quanto ao Modo de Elaboração:

A. Dogmática: sistematizada a partir de ideias fundamentais.

B. Histórica: de elaboração lenta, pois se materializa a partir dos costumes, que se mo-dificam ao longo do tempo.

8. Quanto à Ideologia:

A. Ortodoxa: forjada sob a ótica de somente uma ideologia. B. Eclética: fundada em valores plurais.

9. Quanto ao Valor ou Ontologia (Karl Loewestein):

A. Normativa: dotada de valor jurídico legítimo.

B. Nominal: sem valor jurídico; com papel eminentemente social.

C. Semântica: tem importância jurídica, mas não valoração legítima, pois é criada ape-nas para justificar o exercício de um Poder não democrático. São meros simulacros de Constituição.

Máximas quanto às Classificações das Constituições

• Toda Constituição rígida é escrita, pois não há rigidez em uma Constituição Não

Es-crita ou Costumeira.

• Toda Constituição costumeira é, ao menos conceitualmente, flexível, pois seu pro-cesso de alteração não se diferencia do que se utiliza para a alteração de qualquer outra norma que discipline o convívio social.

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• Nem toda Constituição escrita é rígida, pois a Constituição formada por um texto pode ser imutável, fixa, rígida, flexível ou semiflexível.

• Uma Constituição pode ter partes rígidas e partes flexíveis, e nesse caso será deno-minada de semirrígida ou semiflexível.

VII. Elementos das Constituições (Classificação de José Afonso da Silva) 1. Elementos Orgânicos: regulam a estrutura do Estado e do Poder.

2. Elementos Limitativos: referem-se aos direitos fundamentais, que limitam a

atua-ção do Estado, protegendo o povo.

3. Elementos Sócio-ideológicos: revelam o compromisso do Estado em equilibrar os

ideais liberais e sociais ao longo do Texto Constitucional.

4. Elementos de Estabilização Constitucional: asseguram a solução de conflitos

ins-titucionais entre Poderes, e também protegem a integridade do Estado e da própria Cons-tituição.

5. Elementos Formais de Aplicabilidade: referem-se às regras de interpretação e

apli-cação da Constituição, a exemplo do preâmbulo, do ADCT, e a aplicabilidade imediata dos direitos e garantias fundamentais.

VIII. Componentes da Constituição Federal de 1988:

1. Preâmbulo: designa o texto introdutório à Constituição. Segundo posição exarada

pelo STF no bojo da ADI 2.076, julgada em 2002, o preâmbulo da Constituição da República não tem força normativa, figurando como mero vetor interpretativo. Em seu voto, Celso de Mello sustentou que o preâmbulo não se situa no âmbito do direito, mas no domínio da política, refletindo posição ideológica do constituinte. Ademais, ele conteria proclamação ou exortação no sentido dos princípios inscritos na Constituição Federal.

Quanto à natureza jurídica do preâmbulo, a posição do STF filia-se à tese da irrelevância jurídica, afastando-se da tese da plena eficácia (que defende ter o preâmbulo a mesma eficácia das normas que constam da parte articulada da CF) e da tese da relevância jurídica indireta (para a qual o preâmbulo é parte da Constituição, mas não é dotado das mesmas características normativas da parte articulada). Por essa razão, também não serve de parâ-metro para controle de constitucionalidade.

2. Corpo ou articulado: é a parte densa da Constituição que se encontra disposta

em artigos e que tem vigência perene, ou seja, que tendem a vigorar e ter eficácia por um longo espaço de tempo. Refere-se aos Títulos I a X da CF, compostos pelos artigos 1º a 250.

3. ADCT: trata-se do ato das disposições constitucionais transitórias, composto por

nor-mas de eficácia exaurível. Exaurível porque seus dispositivos tendem a ter eficácia tempo-rária, pois são normas que servem apenas à transição e depois perdem a função.

Assim, o ADCT é a parte da Constituição destinada a realizar a transição do regime cons-titucional anterior para o atual.

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IX. Supremacia e Força Normativa da Constituição

1. Supremacia Constitucional: a noção de supremacia da Constituição é oriunda de

dois conceitos essenciais: a) a ideia de superioridade do Poder Constituinte sobre as ins-tituições jurídicas vigentes; e b) a distinção entre Consins-tituições Rígidas e Flexíveis. Nes-se Nes-sentido, a supremacia prega que as normas constitucionais repreNes-sentam o paradigma máximo de validade do ordenamento jurídico, de modo que todas as demais normas são hierarquicamente inferiores a ela. Na pirâmide normativa de Hans Kelsen a Constituição está no ápice e as demais normas estão abaixo dela (relação de compatibilidade vertical).

2. Força normativa da Constituição: as Constituições devem ocupar o epicentro dos

sistemas jurídicos. Nesse sentido, devem servir de orientação para a criação e aplicação das demais normas jurídicas, bem como ter seus preceitos implementados de forma direta e imediata. Essa é uma das bandeiras do neoconstitucionalismo, movimento que não admite relegar as Constituições a meros vetores interpretativos.

2. REPÚBLICA E FEDERAÇÃO NO DIREITO CONSTITUCIONAL GERAL. SISTEMA BRASILEIRO. REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS. UNIÃO: BENS E COMPETÊNCIA. COMPETÊNCIA EXCLUSIVA, COMPETÊNCIA DE NORMAS GERAIS, COMPETÊN-CIA COMUM E COMPETÊNCOMPETÊN-CIA CONCORRENTE

I. Organização do Estado e Federalismo

1. A República Federativa do Brasil (RFB), formada pela união indissolúvel dos Estados

e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político (art. 1º da CF).

• Para memorizar os fundamentos da RFB, o leitor pode se valer do termo mnemônico que reúne o início de cada uma das expressões: SO-CI-DI-VA-PLU.

2. Federalismo: pode ser classificado em: a) por agregação ou centrípeto: b) por

desa-gregação ou centrífugo:

2.1. Federalismo por agregação ou centrípeto: se forma a partir de Estados ou entes

independentes que se juntam para a formação de um Estado Federado, com garantia de autonomia aos seus componentes, mas que dota apenas o Estado Unido (reunião de seus entes autônomos) de independência. Assim, por serem autônomos, mas não independen-tes, os entes federados não têm direito à secessão, ou seja, não podem se tornar indepen-dentes do Estado Federado. Essa é a forma originária e própria de Federalismo, que ocorreu com as treze colônias que conquistaram a independência da Grã-Bretanha, mas optaram pela formação dos Estados (federados) Unidos da América.

2.2. Federalismo por desagregação ou centrífugo: se forma a partir da subdivisão

de um Estado unitário em entes independentes, que se harmonizam para a formação de um Estado Federado, com garantia de autonomia aos seus componentes, mas que dota apenas o Estado Unido (reunião de seus entes autônomos) de independência. Assim, por serem autônomos, mas não independentes, os entes federados não têm direito à secessão,

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ou seja, não podem se tornar independentes do Estado Federado. Essa é a forma imprópria de Federalismo, que ocorreu com o Brasil em 1891, formando os Estados Unidos do Brasil e permanece até hoje, mas sob nova roupagem, pois estamos sob a égide da República Federativa do Brasil.

Federalismo de terceiro grau: é o nome que se dá à Federação que também

confe-re autonomia aos Municípios. No Brasil, o federalismo de terceiro grau passou a exis-tir apenas a parexis-tir da Constituição Federal de 1988, momento em que os Municípios ganharam autonomia.

II. Organização político-administrativa

1. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil

com-preende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos ter-mos desta Constituição (art. 18, caput, da CF).

2. A autonomia dos Estados federados está assegurada por meio da sua capacidade de auto-organização (elaboração das Constituições Estaduais e Leis Orgânicas do DF e dos

Municípios), de autolegislação (criação de leis estaduais, distritais e municipais), de

au-togoverno (eleição de seus representantes) e autoadministração (organizações próprias

dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, ressalvado o judiciário municipal, que não existe).

3. Brasília é a Capital Federal (art. 18, § 1º, da CF).

4. Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado

ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar (art. 18, § 2º, da CF).

5. Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante

aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar (art. 18,§ 3º, da CF).

ATENÇÃO!

Exige-se lei complementar federal (com trâmite no Congresso Nacional) para a aprovação da criação de

novos Entes Estaduais (novos Estados).

6. Os Estados podem incorporar-se entre si, mas mediante aprovação da população

diretamente interessada, através de plebiscito, não de referendo.

• Consoante art. 3º, da Lei 9.709/98, nas questões de relevância nacional, de compe-tência do Poder Legislativo ou do Poder Executivo, e no caso do § 3º do art. 18 da Constituição Federal (Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou des-membrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar), o plebiscito e o referen-do são convocareferen-dos mediante decreto legislativo, por proposta de um terço, no

mínimo, dos membros que compõem qualquer das Casas do Congresso Nacio-nal, de conformidade com esta Lei.

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A consulta à população do território que restar do Estado originário é requisito

pa-ra a reconfigupa-ração de Estados (art. 18, § 3º, da CF). Nesse sentido: “A expressão

‘população diretamente interessada’ constante do § 3º do art. 18 da CF (...) deve ser

entendida como a população tanto da área desmembrada do Estado-membro como da área remanescente.” (ADI 2.650, julgada em 2011 e relatado pelo Ministro Dias

Toffoli).

• No bojo da ADI 2650, a Mesa da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (AL-GO) impugnava a primeira parte do artigo 7º da Lei 9.709/98, e o STF decidiu, por unani-midade, que o plebiscito para o desmembramento de um estado da federação

deve envolver não somente a população do território a ser desmembrado, mas a de todo o Estado. A ação tinha como objeto o plebiscito para o

desmembramen-to do Estado do Pará, que objetivava criar os Estados do Tapajós e de Carajás. Por fim, no dia 11 de dezembro de 2011, toda a população do Pará pode ir às urnas, e o resultado indicou que 66,59% escolheu “não” para a criação do Estado de Carajás e 66,08% rejeitou a criação do Estado de Tapajós.

7. A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão

por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e depen-derão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na for-ma da lei (art. 18, § 4º, da CF).

• Nos termos do art. 5º da Lei 9.709/98 (que regulamenta os plebiscitos, os referendos e a iniciativa popular de lei), o plebiscito destinado à criação, à incorporação, à fusão e ao desmembramento de Municípios, será convocado pela Assembleia

Legisla-tiva (não pela Câmara de Vereadores), de conformidade com a legislação federal e

estadual.

• Não obstante a inexistência de lei complementar federal regulamentando a criação de novos municípios, o STF deixou de pronunciar a nulidade de leis

esta-duais de criação de diversos municípios em razão da consolidada situação de fato e em respeito ao princípio da segurança jurídica. O art. 18, §  4º, da CF diz que é necessária LC federal para criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de municípios. Entretanto, vários municípios foram criados sem essa LC, que ainda não existe. Com isso o STF declarou inconstitucional a criação desses municípios, mas não anulou a criação deles. O Supremo, então, fixou um prazo (em alguns casos de 18 e outros de 24 meses) para o Congresso criar a LC. Porém, ao invés de o Congres-so editar a LC, editou a EC 57/2008 que acrescentou o art. 96 ao ADCT, convalidou os atos de criação dos municípios, desmembrados, fundidos ou incorporados – Art. 96 ADCT

8. Os Municípios integram a federação brasileira, possuindo autogoverno (gestão

próprio de suas atividades por Prefeito, Vereadores, e demais agentes públicos), auto--organização (possuem Lei Orgânica) e autoadministração (prestam e mantêm serviços próprios).

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9. O número de Vereadores não é definido por proporcionalidade. A CF, no art. 29, IV,

estabelece os limites máximos de vereadores de acordo com faixas que levam em

con-sideração o número de habitantes.

10. Município pode ter eleição em segundo turno se contar com mais de duzentos mil eleitores, não habitantes (art. 29, II, da CF).

• Portanto, cuidado! Para fixação de vereadores o critério é número de habitantes,

mas para determinação de segundo turno em eleições para o executivo municipal o critério é número de eleitores.

11. Não é possível na ordem constitucional a realização de eleições extemporâneas para a instalação de Municípios recém-criados. Assim decidiu o TSE: “Município. Criação.

Primeira eleição. Constituição. Simultaneidade. Observância. Necessidade. A eletividade do prefeito, do vice-prefeito e dos vereadores é a regra constitucional asseguradora da auto-nomia política do município, conforme o art. 29 da Constituição. A Constituição Federal de 1988 extinguiu a nomeação de prefeito em qualquer município. Como cediço, as regras de hermenêutica jurídica orientam que não é dado ao intérprete distinguir onde a lei não o fez. O inciso I do art. 29 da Constituição estabelece que as eleições para prefeito, vice-prefeito e vereador são realizadas simultaneamente em todo o país, não havendo distinção entre mu-nicípio criado e mumu-nicípio instalado, pelo que descabida a pretendida realização de pleito específico para instituir vigência de mandato mais curto, até as eleições gerais de 2012. Nem a Constituição nem a legislação infraconstitucional tratam de situação privilegiada dos municípios recém-criados e ainda não instalados que enseje a promoção de eleições extemporâneas. Há somente uma exceção: nos casos de dupla vacância na chefia do Poder Executivo. Trata-se, contudo, de excepcionalidade prevista na própria Constituição. Além disso, existe a previsão legal de situações específicas, descritas no art. 224 do Código Elei-toral, que possibilitam a realização de novas eleições em período diverso ao das eleições ordinárias. Todavia, esses pleitos decorrem da anulação de eleição anteriormente realizada que, de alguma forma, tenha sido maculada, afastando sua incidência no caso concreto. Sendo assim, as eleições extraordinárias constituem medida extrema, excepcional e sin-gular, e devem ocorrer apenas nas hipóteses previstas na Constituição ou em lei federal. À míngua de previsão específica sobre o tema, prevalece a simultaneidade constitucional. Ademais, a criação de um novo município não está vinculada a sua imediata estruturação e seu funcionamento, devendo ser observado o regramento constitucional. Assim, conquan-to o município recém-criado possua personalidade jurídica e possa compor seu governo, a ausência de norma que disponha sobre a realização das primeiras eleições no município implica a observância do inciso I do art. 29 da Constituição Federal. Nesse caso, não have-rá prejuízo algum ao município, uma vez que seu patrimônio e rendas continuarão a ser administrados pelo município-mãe. Some-se a isso o fato de que o processo eleitoral é de competência legislativa da União, nos termos do inciso I do art. 22 da Constituição, razão pela qual é vedado a outra unidade da federação legislar sobre o tema. Tampouco caberia a qualquer órgão da Justiça Eleitoral promover eleições sem amparo na Constituição Federal ou em outra lei (MS 39691-03, julgado em 2011 e relatado pelo Ministro Aldir Passarinho Junior).

(13)

12. Segundo o art. 29, X, da CF, o Prefeito está sujeito a julgamento perante o Tribunal

de Justiça. Por sua vez, a Súmula 702 do STF determina que a competência do Tribunal de Justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de competência da justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de se-gundo grau”, tal como o TRF ou o TRE. Tanto o texto da CF quanto a Súmula referem-se ao

julgamento de crimes comuns. Em se tratando de crimes de responsabilidade, entra em

cena o Decreto-Lei 201/66, segundo o qual, no crime de responsabilidade próprio (in-fração político administrativa punida com a cassação do mandato), a competência será da Câmara Municipal; já no crime de responsabilidade impróprio (crime de responsabilida-de punido com pena privativa responsabilida-de liberdaresponsabilida-de responsabilida-de responsabilida-detenção ou reclusão), a competência será do Tribunal de Justiça. Assim, trocando em miúdos, o TJ julgará o Prefeito tanto em caso de crime comum de competência da justiça estadual (porque se for federal, a competência será do TRF) e nos crimes de responsabilidade impróprios (punidos com pena privativa de liberdade de detenção ou reclusão).

13. Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba

sujeita à prestação de contas perante órgão federal (súmula 208 do STJ).

III. Repartição de Competências 1. Regras gerais

COMPETÊNCIAS Natureza das

Competências Espécie Regra Exceção

I. ADMINISTRATIVAS 1. Exclusiva: art. 21, da CF Somente a União exerce 2. Comum: art. 23, da CF Cooperação entre União, Estados, DF e Municípios II. LEGISLATIVAS 1. Privativa: art. 22, da CF

A União legisla priva-tivamente

Lei complementar poderá auto-rizar os Estados a legislar sobre questões relativas à competência privativa da União, criando a com-petência legislativa delegada

2. Delegada:

art. 22, p. único, da CF

Mediante LC, em que a União delega para Estados e DF. 3. Concorrente: art. 24, da CF A União edita as normas Gerais e os Estados e o DF editam as normas específicas de seus interesses

Se a União não editar as normas gerais, os Estados e o DF passarão a ter competência plena. Se, pos-teriormente, a União legislar, as normas gerais feitas pelos Estados terão a sua eficácia suspensa.

2. A competência material/administrativa exclusiva, do art. 21, é indelegável. Já a

competência material/administrativa comum do art. 23 segue a regra da cooperação entre União, Estados, DF e Municípios (a cooperação será regulada por Lei Complementar).

(14)

3. A competência legislativa da União ou é privativa (art. 22, da CF) ou é concorrente

(art. 24, da CF). Já a competência administrativa da União pode ser exclusiva (art. 21, da CF) ou comum (art. 23, da CF). Portanto, a União não exerce competência

remanescen-te ou residual. Na distribuição de competências feita pela CF, a competência residual ou

remanescente administrativa fica com os Estados (art. 25, § 1º) e a legislativa (em razão do interesse local) resta aos Municípios (art. 30, I, da CF).

4. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões relativas à

competência privativa da União. Assim, há a possibilidade de delegação.

Para Alexandre de Moraes, há três requisitos pertinentes à delegação de

compe-tência legislativa privativa da União para os Estados: i. formal; ii. material e; iii.

Implícito. O requisito formal se refere à necessidade de expedição de Lei comple-mentar. Já o requisito material se refere ao fato de que a delegação deve ser pontual, ou seja, especificando-se alguma matéria expressamente disposta no art. 22 da CF, que detalhada os temas de competência privativa da União. Por fim, o requisito im-plícito se refere ao fato que, se a União delegar determinada matéria a um Estado, deverá estender a mesma possibilidade a todos os Estados da Federação, sob pena de afronta ao princípio do art. 19, da CF, que veda o estabelecimento de preferência entre entes federados (Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2010, p. 309-310). Vale notar, que a questão da delegação de competência legislativa privativa da União aos Estados tem como base o art. 22, parágrafo único, da CF: “Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo”.

5. Na competência legislativa concorrente, a União limita-se a estabelecer normas

ge-rais. Entretanto, a competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.

6. Os Estados, inexistindo Lei Federal sobre normas gerais, exercerão a competência

legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Nesse caso, a superveniência de Lei Federal sobre normas gerais não suspende a eficácia da Lei Estadual, somente no que lhe for contrário.

7. A União não pode avocar uma competência estadual ou municipal, ainda que o

interesse público exigir. Isso porque, deve haver respeito à distribuição de competências feita pela CF, pois protege o equilíbrio do Pacto Federativo.

8. A suplementação na competência legislativa concorrente do art. 24, da CF, cabe aos Municípios, não à União.

9. Competência da União

• Compete privativamente à União legislar sobre comércio exterior e interestadual,

o que engloba a importação de bens de outros países.

• Compete privativamente à União legislar sobre direito civil. Gratuidade de paga-mento em estacionapaga-mento privado e mensalidade de serviço educacional são ma-térias de direito civil.

(15)

Compete privativamente à União legislar sobre direito processual. Mas, é de

compe-tência concorrente o estabelecimento de normas gerais sobre procedimentos.

• Súmula Vinculante 46: A definição dos crimes de responsabilidade e o estabeleci-mento das respectivas normas de processo e julgaestabeleci-mento são da competência legis-lativa privativa da União.

• Nos termos do art. 177, V, da CF, constituem monopólio da União, a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios e minerais nucleares e seus derivados, com exceção dos radioisótopos cuja produção, comercialização e utilização poderão ser autorizadas sob regime de permissão, con-forme as alíneas b e c do inciso XXIII do caput do art. 21 desta Constituição Federal. Em seguida, no art. 177, § 1º, da CF, há regra segundo a qual a União poderá con-tratar com empresas estatais ou privadas a realização das atividades previstas nos incisos I a IV deste artigo observadas as condições estabelecidas em lei. Sendo assim, o inciso V, do art. 177 fica excluído, ou seja, a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios e minerais nucleares e seus derivados não pode ficar a cargo de empresas estatais ou privadas, ainda que contratadas com a União.

• Caso se edite lei estadual proibindo as empresas de telecomunicações de cobrarem taxas para a instalação de segundo ponto de acesso à Internet, tal lei deverá ser con-siderada inconstitucional, visto que invadirá a competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações (art. 22, IV, da CF), matéria que já foi decidida pelo STF na ADI 4.083, julgada em 2010 e relatada pela Ministra Cármen Lúcia.

• Lei estadual que institua a obrigatoriedade de instalação de cinto de segurança em veículo de transporte coletivo será inconstitucional, visto que trânsito e transporte é matéria de competência privativa da União (art. 22, XI, da CF e ADI 874, julgada em 2011 e relatada pelo Ministro Gilmar Mendes).

• Se for editada lei distrital de iniciativa parlamentar instituindo gratificação especí-fica para os policiais militares e o Corpo de Bombeiros Militar do DF, essa lei será

inconstitucional, pois é competência da União organizar e manter a Polícia Militar e

o Corpo de Bombeiros Militar do DF, conforme art. 21, XIV, da CF e ADI 3.791, julgada em 2010 e relatada pelo Ministro Ayres Britto.

• “A Constituição estadual representa, no plano local, a expressão mais elevada do exercício concreto do poder de auto-organização deferido aos Estados-membros pela Lei Fundamental da República. Essa prerrogativa, contudo, não se reveste de caráter absoluto, pois se acha submetida, quanto ao seu exercício, a limitações jurí-dicas impostas pela própria Carta Federal (art. 25). O Estado-membro não dispõe

de competência para instituir, mesmo em sua própria Constituição, cláusulas tipificadoras de crimes de responsabilidade, ainda mais se as normas estaduais

definidoras de tais ilícitos tiverem por finalidade viabilizar a responsabilização po-lítica dos membros integrantes do Tribunal de Contas. A competência constitucio-nal para legislar sobre crimes de responsabilidade (e, também, para definir-lhes a

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respectiva disciplina ritual) pertence, exclusivamente, à União Federal. Precedentes. Súmula 722/STF. (ADI 4.190-MC-REF, julgada em 2010 e relatada pelo Ministro Celso de Mello).

Segundo o STF: “Legislação sobre trânsito: competência privativa federal: CF, art. 22, XI. Lei 11.766, de 1997, do Estado do Paraná, que torna obrigatório a qualquer

veículo automotor transitar permanentemente com os faróis acesos nas rodo-vias do Estado do Paraná, impondo a pena de multa aos que descumprirem o

pre-ceito legal: inconstitucionalidade, porque a questão diz respeito ao trânsito.” (ADI 3.055, julgada em 2005 e relatada pelo Ministro Carlos Velloso).

• No julgamento da ADI 3.279, em 2011, relatada pelo Ministro Cezar Peluso, o STF en-tendeu que a definição dos crimes de responsabilidade do Chefe do Executivo

Estadual é de competência privativa da União (art. 22, I, da CF).

• É inconstitucional lei estadual que estabeleça, em favor dos portadores de deficiên-cia proprietários de automóveis, a gratuidade nos estacionamentos situados no es-tado, pois nos termos da jurisprudência do STF, há invasão da competência da

União, in verbis: “Estacionamento de veículos em áreas particulares. Lei estadual que

limita o valor das quantias cobradas pelo seu uso. Direito Civil. Invasão de compe-tência privativa da União. Hipótese de inconstitucionalidade formal por invasão de

competência privativa da União para legislar sobre Direito Civil (CF, art. 22, I).

Enquanto a União regula o direito de propriedade e estabelece as regras substan-tivas de intervenção no domínio econômico, os outros níveis de governo apenas exercem o policiamento administrativo do uso da propriedade e da atividade eco-nômica dos particulares, tendo em vista, sempre, as normas substantivas editadas pela União.” (ADI 1.918, julgada em 2001 e relatada pelo Ministro Maurício Corrêa). • Telecomunicações e energia elétrica. Abrangência. “O sistema federativo

ins-tituído pela CF de 1988 torna inequívoco que cabe à União a competência le-gislativa e administrativa para a disciplina e a prestação dos serviços públicos de telecomunicações e energia elétrica (CF, arts. 21, XI e XII, b, e 22, IV). A Lei

3.449/2004 do Distrito Federal, ao proibir a cobrança da tarifa de assinatura básica

‘pelas concessionárias prestadoras de serviços de água, luz, gás, TV a cabo e telefonia no Distrito Federal’ (art. 1º, caput), incorreu em inconstitucionalidade

for-mal, porquanto necessariamente inserida a fixação da ‘política tarifária’ no âmbito de poderes inerentes à titularidade de determinado serviço público, como prevê o art. 175, parágrafo único, III, da Constituição, elemento indispensável para a pre-servação do equilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão e, por con-sequência, da manutenção do próprio sistema de prestação da atividade. Inexiste, in casu, suposto respaldo para o diploma impugnado na competência concorrente dos Estados-membros para dispor sobre direito do consumidor (CF, art. 24, V e VII), cuja interpretação não pode conduzir à frustração da teleologia da referida regra ex-pressa contida no art. 175, parágrafo único, III, da CF, descabendo, ademais, a apro-ximação entre as figuras do consumidor e do usuário de serviços públicos, já que o regime jurídico deste último, além de informado pela lógica da solidariedade social

(17)

(CF, art. 3º, I), encontra sede específica na cláusula ‘direitos dos usuários’ prevista no art. 175, parágrafo único, II, da Constituição. Ofende a denominada reserva de admi-nistração, decorrência do conteúdo nuclear do princípio da separação del poderes (CF, art. 2º), a proibição de cobrança de tarifa de assinatura básica no que concerne aos serviços de água e gás, em grande medida submetidos também à incidência de leis federais (CF, art. 22, IV), mormente quando constante de ato normativo emana-do emana-do Poder Legislativo fruto de iniciativa parlamentar, porquanto supressora da margem de apreciação do chefe do Poder Executivo Distrital na condução da admi-nistração pública, no que se inclui a formulação da política pública remuneratória do serviço público.” (ADI 3.343, Rel. p/o ac. Min. Luiz Fux, julgamento em 1º-9-2011, Plenário, DJE de 22-11-2011).

• De acordo com notícia divulgada no Informativo 634 do STF, “O Plenário julgou pro-cedente pedido formulado em ação direta, ajuizada pelo Governador do Estado de Santa Catarina, para declarar a inconstitucionalidade da Lei 12.775/2003,

daque-la unidade federativa, que dispõe sobre o uso obrigatório de equipamento que ateste a autenticidade de cédulas de dinheiro por estabelecimentos bancários

e dá outras providências. Reputou-se que a norma adversada teria invadido a

competência privativa da União para legislar sobre o sistema financeiro nacio-nal” (CF, artigos 21, VIII; 22, VII; e 192, caput). ADI 3515/SC, rel. Min. Cezar Peluso,

1º.8.2011. (ADI-3515)

Lei estadual que disponha sobre a destinação de armas de fogo apreendidas, fazendo remissão expressa à lei federal que trata do tema e utilizando os pre-ceitos nela contidos é inconstitucional, pois invade competência legislativa atribuída à União. Assim entende o STF: “Competência da União para legislar sobre

direito penal e material bélico. Lei 1.317/2004 do Estado de Rondônia. Lei estadual que autoriza a utilização, pelas polícias civil e militar, de armas de fogo apreendi-das. A competência exclusiva da União para legislar sobre material bélico, comple-mentada pela competência para autorizar e fiscalizar a produção de material bélico, abrange a disciplina sobre a destinação de armas apreendidas e em situação irre-gular.” (ADI 3.258, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 6-4-2005, Plenário, DJ de 9-9-2005.) No mesmo sentido: ADI 3.193, rel. min. Marco Aurélio, julgamento em 9-5-2013, Plenário, DJE de 6-8-2013.

• “Mensalidades escolares. Fixação da data de vencimento. Matéria de direito

con-tratual. (...) Os serviços de educação, seja os prestados pelo Estado, seja os prestados

por particulares, configuram serviço público não privativo, podendo ser desenvol-vidos pelo setor privado independentemente de concessão, permissão ou autoriza-ção. Nos termos do art. 22, I, da CB, compete à União legislar sobre Direito Civil.” (ADI 1.007, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 31-8-2005, Plenário, DJ de 24-2-2006.) No mesmo sentido: ADI 1.042, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 12-8-2009, Ple-nário, DJE de 6-11-2009.

“A definição das condutas típicas configuradoras do crime de responsabilidade

(18)

agentes políticos federais, estaduais ou municipais envolvidos são da competên-cia legislativa privativa da União e devem ser tratados em lei nacional especompetên-cial

(art. 85 da CR).” (ADI 2.220, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 16-11-2011, Ple-nário, DJE de 7-12-2011.).

• Segundo o entendimento da Suprema Corte, divulgado no Informativo 782, é

for-malmente inconstitucional lei estadual que estabelecer restrições ao ingresso, armazenamento e comercialização de produtos agrícolas importados no

âmbi-to do estado-membro, pois estará caracterizada invasão da competência

priva-tiva da União para legislar sobre comércio exterior. Nesse sentido, “Ação direta

de inconstitucionalidade. Lei estadual (RS) nº 12.427/2006. Restrições ao comércio de produtos agrícolas importados no Estado. Competência privativa da União para legislar sobre comércio exterior e interestadual (CF, art. 22, inciso VIII). 1. É formal-mente inconstitucional a lei estadual que cria restrições à comercialização, à esto-cagem e ao trânsito de produtos agrícolas importados no Estado, ainda que tenha por objetivo a proteção da saúde dos consumidores diante do possível uso indevido de agrotóxicos por outros países. A matéria é predominantemente de comércio ex-terior e interestadual, sendo, portanto, de competência privativa da União (CF, art. 22, inciso VIII). 2. É firme a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido da inconstitucionalidade das leis estaduais que constituam entraves ao ingresso de produtos nos Estados da Federação ou a sua saída deles, provenham esses do exte-rior ou não (cf. ADI nº 280, Rel. Min. Francisco Rezek, DJ de 17/6/94; e ADI nº 3.035, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ de 14/10/05). 3. Ação direta julgada procedente” (STF. ADI 3813, julgada em 2015 e Relatada pelo Min. Dias Toffoli).

3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. DA INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO. EFI-CÁCIA E APLICABILIDADE DA NORMA CONSTITUCIONAL

I. Princípios de Interpretação Constitucional 1. Princípios Enunciados por Canotilho

a) Princípio da unidade da Constituição: preceitua que a interpretação

constitucio-nal deve ser realizada tomando-se as normas constitucionais em conjunto (inter-pretação sistêmica), como um sistema unitário de princípios e regras, de modo a se evitarem contradições (antinomias aparentes) entre elas.

b) Princípio do efeito integrador ou da eficácia integradora: traz a ideia que as

nor-mas constitucionais devem ser interpretadas com objetivo de integrar política e so-cialmente o povo de um Estado Nacional.

c) Princípio da máxima efetividade ou eficiência: exige que o intérprete otimize a

norma constitucional para dela extrair a maior efetividade possível, guardando es-treita relação com o princípio da força normativa. Segundo Luis Roberto Barroso, por meio dele realiza-se uma aproximação, tão íntima quanto possível, entre o de-ver-ser normativo e o ser da realidade social. (Curso de direito constitucional

(19)

d) Princípio da conformidade/correção funcional/exatidão funcional ou da juste-za: limita o intérprete na atividade de concretizador da Constituição, pois impede

que ele atue de modo a desestruturar as premissas de organização política previstas no Texto Constitucional.

e) Princípio da concordância prática ou da harmonização: a interpretação de uma

norma constitucional exige a harmonização dos bens e valores jurídicos colidentes em um dado caso concreto, de forma a se evitar o sacrifício total de um em relação a outro.

f) Princípio da força normativa: a partir dos valores sociais, o intérprete, em

ativida-de criativa, ativida-deve extrair aplicabilidaativida-de e eficácia ativida-de todas as normas da Constituição, conferindo-lhes sentido prático e concretizador, em clara relação com o princípio da máxima efetividade ou eficiência. Por meio dele, a Constituição tem força ativa para alterar a realidade.

2. Outros Princípios

a) Princípio da razoabilidade ou da proporcionalidade: exige a tomada de decisões

racionais, não abusivas, e que respeitem os núcleos essenciais de todos os direitos fundamentais. Por meio dele, analisa-se se as condutas são adequadas, necessárias e trazem algum sentido em suas realizações.

b) Princípio da interpretação conforme: consiste em conferir-se a um ato normativo

polissêmico (que admite vários significados) a interpretação que mais se adéque ao que preceitua a Constituição, sem que essa atividade se constitua em atentado ao próprio texto constitucional. Aplicável ao controle de constitucionalidade, a inter-pretação conforme permite que se mantenha um texto legal, conferindo-se a ele um sentido ou interpretação de acordo com os valores constitucionais.

c) Princípio da presunção de constitucionalidade das leis: traz a ideia que todas as

normas infraconstitucionais criadas estão de acordo com a Constituição. Toda lei é válida e constitucional até que se prove o contrário, portanto, a presunção de cons-titucionalidade é relativa (juris tantum). Esse princípio ainda tem por missão orientar que o judiciário declare a inconstitucionalidade de uma norma apenas se ela for patente ou chapada, não permitindo uma interpretação conforme a constituição. Sobre o princípio, a lição de Luís Roberto Barroso: “a) não sendo evidente a incons-titucionalidade, havendo dúvida ou a possibilidade de razoavelmente se considerar a norma como válida, deve o órgão competente abster-se da declaração de incons-titucionalidade; b) havendo alguma interpretação possível que permita afirmar-se a compatibilidade da norma com a Constituição, em meio a outras que carreavam para ela um juízo de invalidade, deve o intérprete optar pela interpretação legitima-dora, mantendo o preceito em vigor” (Interpretação e aplicação da Constituição. 2. ed. São Paulo: Saraiva. 1998, p. 165).

d) Princípio da vedação do retrocesso: significa que uma vez garantido em um

orde-namento jurídico, notadamente no Texto Constitucional, um direito humano (que se torna fundamental pela positivação na Constituição) não pode mais deixar de

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existir naquela sociedade ou Estado. Tal princípio está implícito nos ordenamentos jurídicos de todos os países que reconhecem a importância e a validade do direito internacional dos direitos humanos.

II. Classificação dos princípios constitucionais segundo José Afonso da Silva 1. Princípios Constitucionais Sensíveis: são aqueles que devem ser observados, sob

pena de intervenção federal, consoante art. 34, II, da CF.

2. Princípios Constitucionais Extensíveis: são aqueles que trazem as normas de

or-ganização que a Constituição Federal estendeu aos Estados-membros, a exemplo do art. 6º da CF.

3. Princípios Constitucionais Estabelecidos: são aqueles que limitam a autonomia

organizatória do Estado, a exemplo do art. 37 da CF.

III. Métodos de Interpretação Constitucional

1) Método Jurídico ou Hermenêutico Clássico (Ernest Forsthoff): parte de uma Tese

da Identidade que existiria entre a Constituição e as demais leis, ou seja, se a constituição é uma lei, não há porque criar-se um método específico para interpretá-la. Ele se vale basi-camente dos seguintes elementos: a) genético (origem do ato); b) gramatical ou filológico (análise textual e literal); c) histórico (momento e contexto de criação do ato); d) lógico (não contradição); e) sistemático (análise do todo ou conjunto); f) teleológico (finalidade social do ato).

2) Método Científico-espiritual, Valorativo ou Sociológico (Rudolf Smend): tem

como norte o espírito constitucional, ou seja, valores consagrados nas normas constitu-cionais. Além dos valores, levam-se em conta também outros fatores extraconstitucionais, como a realidade social e cultural do povo, exigindo-se uma interpretação elástica do texto constitucional, alçando a Constituição a instrumento de integração e solução de conflitos em busca da construção e da preservação da unidade social.

3) Método Tópico-problemático (Theodor Viehweg): atua sobre as aporias (aporia:

dificuldade de escolher entre duas opiniões contrárias e igualmente racionais sobre um dado problema). Topos que no plural são os topoi representam formas de pensamento, raciocínios, argumentações, pontos de vista ou lugares comuns. Os topoi são retirados da jurisprudência, da doutrina, dos princípios gerais de direito e até mesmo do senso comum. Trata-se de uma teoria de argumentação jurídica em torno do problema. A partir do proble-ma expõem-se os argumentos favoráveis e contrários e consagra-se como vencedor aquele capaz de convencer o maior número de interlocutores. Tem aplicabilidade nos casos de difícil solução, denominados por hard cases.

4) Método Hermenêutico-concretizador (Konrad Hesse): é aquele em que o

intér-prete se vale de suas pré-compreensões valorativas para obter o sentido da norma e então aplicá-la à resolução de determinado problema. O conteúdo da norma somen-te é alcançado a partir de sua insomen-terpretação concretizadora, dotada do carásomen-ter criativo que emana do exegeta. Nesse sentido, o método de Hesse possibilita que a Constitui-ção tenha força ativa para compreender e alterar a realidade. Mas, nesse mister, o texto

(21)

constitucional apresenta-se como um limite intransponível para o intérprete, pois se o exegeta passar por cima do texto, ele estará modificando ou rompendo a Constituição, não a interpretando.

5) Método Normativo-estruturante (Friedrich Müller) ou Concretista (Paulo Bona-vides): é aquele em que o intérprete parte do direito positivo para chegar à estruturação

da norma, muito mais complexa que o texto legal. Nesse caminho, há influência da juris-prudência, da doutrina, da história, da cultura e das decisões políticas. Em outras palavras: o exegeta colhe elementos da realidade social para estruturar a norma que será aplicada.

6) Método Concretista da Constituição Aberta (Peter Häberle): traz a ideia que a

Constituição deve ser interpretada por todos e em quaisquer espaços (abertura interpreta-tiva), e não apenas pelos juristas no bojo de procedimentos formais.

7) Método da Comparação Constitucional (Peter Häberle): prega a interpretação a

partir da comparação entre diversas Constituições.

IV. Normas constitucionais

1. Normas Jurídicas de Primeiro Grau (Princípios e Regras): os Princípios são

man-dados de otimização que impõem a promoção de um fim, na maior medida possível, com abstração e generalidade, enquanto as Regras prescrevem comportamentos imediatos, de modo mais completo e preciso.

2. Normas Jurídicas de Segundo Grau/Postulados Normativos (Humberto Ávila):

situam-se num plano distinto daquele das normas cuja aplicação estruturam. A violação deles consiste na não interpretação de acordo com sua estruturação. Não impõem a pro-moção de um fim, mas, em vez disso, estruturam a aplicação do dever de promover um fim. Não prescrevem imediatamente comportamentos, mas modos de raciocínio e de argu-mentação relativamente a normas que indiretamente prescrevem comportamentos.

3. Colisão de Direitos Fundamentais: a colisão ocorrida em âmbito constitucional

não pode ser considerada na mesma perspectiva do conflito entre leis (também chama-das de “regras”), ou seja, como um “conflito aparente de normas” para cuja solução seriam utilizados os critérios cronológico, hierárquico ou da especialidade, na forma do “tudo ou nada” (“all or nothing”), em que só se aplica um documento normativo daqueles que apa-rentemente conflitavam. Essa solução é inaplicável aos princípios, que não se sujeitam a esses critérios apontados pela doutrina, tampouco podem ser afastados um em razão de outro. Assim, em toda colisão de princípios deve ser respeitado o núcleo intangível dos direitos fundamentais concorrentes, mas sempre se deve chegar a uma posição em que um prepondere sobre outro (mas, sem eliminá-lo). A colisão deve ser resolvida por concor-dância prática (Konrad Hesse), com aplicação do princípio da proporcionalidade (tradição alemã) ou pela dimensão de peso e importância (Ronald Dworkin), com aplicação do prin-cípio da razoabilidade (tradição norte-americana)

V. Classificação das Normas Constitucionais quanto à Eficácia e Aplicabilidade (Jo-sé Afonso da Silva)

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