PRESERVANDO A MEMÓRIA E CONSTRUINDO A HISTÓRIA DA IMPRENSA ESPORTIVA NO BRASIL
Resumo:
A proposta dessa pesquisa é interpretar as diferentes estratégias utilizadas pelos meios de comunicação na construção e difusão dos fenômenos esportivos e suas conseqüências para a construção histórica da educação física/esportes e da comunicação esportiva brasileira, para tanto, pretendemos inventariar a história da imprensa esportiva no Brasil, buscando compreender as relações entre o esporte e os meios comunicacionais. A preocupação do estudo é investigar e documentar a trajetória da imprensa esportiva brasileira, à partir dos trabalhos publicados. Esse estudo é parte integrante do projeto da Rede Alfredo de Carvalho.
Palavras-Chaves: memória esportiva, jornalismo esportivo, história da imprensa
Introdução:
O esporte é uma das atividades esportivas mais presente na vida das pessoas, seja na escola, nas brincadeiras, na rua, no trabalho ou em uma conversa informal. É um dos fenômenos mais recorrentes da nossa civilização e que caracteriza muito bem a nossa sociedade, capitalista e mercadológica, mas as transformações ocorridas na sociedade, com a introdução das novas tecnologias comunicacionais trouxeram alterações importantes na vida das pessoas e até na forma de contato com as informações esportivas e esta acontece principalmente através da televisão.
Marcondes Filho (1993) parece estar correto ao afirmar que a ascensão da televisão deu-se em virtude da sua introdução de uma nova maneira de ver o mundo, que foi mostrado com novo movimento, muito mais rápido, mais ágil e trabalhado em detalhes. Estas características fizeram e fazem da TV o produto mais consumido pelo grande público. É o maior veículo de comunicação de massa, superando até o rádio.
Diariamente são veiculadas diversas informações sobre os mais diferentes esportes que são praticados por profissionais ou pessoas que buscam prazer, um corpo bonito ou uma prática para melhorar a qualidade de vida, passando assim do interesse individual a coletivo. Nesse sentido, concordamos com Babin & Kouloumdjian (1989) quando dizem que neste momento estamos assistindo à ascensão de um novo modo de ser e de pensar, pois com a invasão das tecnologias foi alterada e moldada a nossa sociedade. Os autores acrescentam ainda que vivemos a geração do áudio visual, do imagético e do simbólico. Ressaltamos a importância de se notar o valor das imagens que estão presentes neste tipo de sociedade.
O questionamento de todo esse cenário é como e porque a mídia aborda determinada modalidade e quais são os fatores que influenciaram nesta escolha (culturais, históricos, sociais e econômicos), e suas relações com a sociedade? Compreendemos que os meios de comunicação, modernamente são as principais fontes de conhecimento e informação da população em geral, se constituindo como a memória coletiva de uma sociedade ou grupo social. (HALBWACHS,1999)
Camargo ( 1998) acredita que a memória de um fato ou a lembrança do ato heróico de um personagem sempre foi perpetuada pelos componentes mais antigos de uma comunidade, que tinham através deste ato a função de servirem de transmissores dos feitos e fatos heróicos às novas gerações. Indiretamente eles estavam preservando não só um modelo de indivíduo a ser seguido mas, também de sociedade. Mas hoje a memória dos fatos presente nesta sociedade pós-moderna, está diretamente relacionada com os meios de comunicação e as tecnologias. Isto porque os meios de comunicação (televisão, publicidade, cinema, jornais) têm o poder de divulgar imagens, notícias, formando a memória da nossa sociedade, interferindo na “comunicação” diária e transformando comportamentos e o modo de aprender e que estão no imaginário de um grande número de indivíduos.
Modernamente a mídia apresenta dois contextos interessantes: por uma lado ela é cruel com o esporte e seus praticantes, pois só divulga o que lhe convém (o que mercadologicamente acontece em quase todos os setores), ou seja, somente aquilo que é interessante para a imprensa e seus patrocinadores. Por outro lado, é
graças à mídia que as práticas esportivas têm intensa projeção, sendo capazes de mobilizar um país inteiro, como por exemplo na Copa do Mundo ou na morte de um ídolo esportivo que pode culminar em decretos de feriados oficiais. Consegue também tornar popular esportes elitizados como o tênis e a ginástica artística.
Esse é o cenário da mídia esportiva brasileria no século XXI, mas no início de sua trajetória como a midia esportiva se articulou? Moldou-se e influenciou as sociedades ou foi influenciada? Como aconteceram as primeiras aproximações entre o esporte e os meios de comunicação? Resgatar essas histórias e tentar caracterizar mapeando essas ações, é o nosso interesse.
A história da imprensa esportiva está ligada diretamente aos esportes (um influenciou o outro). À medida que um evoluía, outro tinha que se adequar para acompanhar a evolução da sociedade.
Com o casamento de interesses entre a mídia e o esporte, o profissional da Educação Física e o Jornalista não podem ficar à mercê da história e precisam conhecer os processos que geraram esse fenômeno que se constitui hoje como o mais representativo da sociedade : o esporte midiático.
Justificativa:
Camargo (1998) afirmava que a mídia sempre foi importante para o universo esportivo, exaltando através das imagens a figura de um campeão, ou de um esporte.
Convocada para realizar a cobertura e as reportagens dos eventos esportivos, ela os registra através das fotografias e das imagens, garantindo o status da veracidade para a
competição ocorrida. Foi desta forma que o esporte tornou-se uma informação presente em todos os meios de comunicação e representativamente as ações do homem na soceidade, e o futebol é o mais veiculado.
O futebol é um movimento social interessante, sempre marcou a vida brasileira. Nesse sentido, podemos apontar alguns estudos clássicos nessa área como O negro no futebol brasileiro, escrito por Mário Filho; O pontapé inicial: Memória do futebol brasileiro, escrito por Waldenyr Caldas; Revista USP-Dossiê Futebol, coletânea de autores. São autores que identificaram o futebol como um fator aglutinador da sociedade brasileira,
congregando alguns dos interesses das massas. O futebol alimenta o imaginário do torcedor, que por sua vez, se identifica com o jogador, o idolatra, criando dessa maneira, o mito. A construção do mito é muito bem realizada pela mídia e pelo esporte, os dois trabalham com o mecanismo da massificação e desse modo, constróem e destróem os valores culturais e impondo outros.
A parceria entre o futebol e a mídia é muito antiga. Temos registros que datam dos anos trinta quando a mídia impressa, mais especificamente o jornal, começou a divulgar as informações do futebol e tinha um caráter muito elitista, assim como encontramos no futebol da época, pois eram poucos, os que tinham acesso às informações e às práticas esportivas. As edições dos jornais tinham um custo elevado e a população tinha dificuldades de compreender a mensagem por falta de instrução ou porque os termos esportivos na época faziam referências às línguas estrangeiras, mais especificamente a língua inglesa, como podemos notar em relação aos termos: o corner, o pênalti, tão usuais no futebol, set, game no tênis de campo ou no voleibol. E o futebol, por sua vez, era praticado somente pela elite da sociedade que tinha acesso à prática esportiva nos clubes ou escolas. A massificação dos esportes e dos meios de comunicação de massa aconteceram efetivamente com a união do futebol de campo com o rádio. Este marco ocorreu por volta dos anos quarenta e cinqüenta. Os torcedores levavam o radinho aos estádios para acompanharem as narrações e este artefato de comunicação possibilitou a criação de um universo muito interessante em relação ao futebol, muitas gírias e jargões do jornalismo esportivo ascenderam nesta época, porque o radialista esportivo tinha a função básica de criar a imagem da disputa para aqueles que estavam distantes do jogo. O imaginário era acionado e deste modo, podemos afirmar sem nenhuma pretensão, que as ideologias, identificações e simbologias no esporte tiveram seu nascimento nesta época. Outra transformação importante que repercutiu na sociedade provocada pelo fenômeno do futebol midiático e que merecesse destaque nesta retrospectiva foi datada nos anos cinqüenta e sessenta com o surgimento da mídia audiovisual, que trouxe as narrações mais criativas do rádio para a televisão e envolveu os aspectos mercadológicos no esporte, como o patrocinador e o marketing esportivo, alterando o comportamento da sociedade futebolística.
As sociedades contemporâneas caminham em ritmo veloz e, nesta velocidade, todas as informações presentes acompanham o movimento das modernas tecnologias comunicacionais, são descartadas e não se constitui a memória coletiva de um povo. Como preservar essas ações? A imortalização de um fato?
As informações acerca dos fatos e personagens do cotidiano veiculados pela mídia vão se alternando umas após as outras, cedendo lugar e espaço para novos acontecimentos que se colocam em evidência num tempo em que o presente é sempre renovado e que tragam alguma contribuição à sociedade. Nesse sentido, resgatar a história da imprensa esportiva está ligada a um projeto maior desenvolvido com o intuito de proporcionar o conhecimnto da trajetória da sociedade.
A relevância do resgate da memória da imprensa esportiva ocorre por vários fatores: carência de referenciais históricos e bibliográficos, melhor entendimento da relação mídia e esporte ao longo da história e compreender suas influências na comunicação e no esporte e diretamente na vida das pessoas.
Desenvolver ações públicas destinadas a comemorar os 200 anos da implantação da Imprensa no Brasil, é o objetivo da Rede Alfredo de Carvalho que busca preservar e ou até mesmo construir a história da iimprensa no Brasil que teve início com a vinda da família real ao Brasil.
A Rede Alfredo de Carvalho é coordenada pelo professor Dr. José Marques de Melo, e se constitui em uma rede de pesquisadores que está buscando parceiras em várias entidades, instituições e pesquisadores.
Parceiros
• Cátedra UNESCO/UMESP de Comunicação • Revista Imprensa
• Associação Brasileira de Imprensa (ABI) • Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHCB)
Equipe fundadora da Rede Alfredo de Carvalho
• José Marques de Melo (coordenador) Cátedra UNESCO/UMESP • Sinval de Itacarambi Leão ( Revista Imprensa)
• Esther Bertoletti ( Ministério da Cultura) • Fernando Segismundo (ABI) • Cybelle de Ipanema (IHGB)
• Marco Morel (UERJ) • Cecília Peruzzo (INTERCOM) • Luiz Guilherme Pontes Tavares (NHIB)
• Carlos Cavalcanti (CEICP)
Objetivo:
Resgatar a história da imprensa esportiva no Brasil a partir das pesquisas oriundas dos centros, institutos e faculdades, na figura dos pesquisadores e professores que desenvolvem a temática. Esse projeto de pesquisa fará parte de um projeto maior da Rede Alfredo de Carvalho. Tem ainda por finalidade contribuir para o desenvolvimento da área da Comunicação Esportiva no Brasil.
Objetivando:
• Levantamento histórico das ações midiáticas no esporte em cada região do Brasil. • Construção de um banco de dados bibliográficos sobre a comunicação esportiva. • Identificar os pesquisadores ligados à temática.
Trajetória Metodológica:
A coleta de dados para um estudo não constitui o primeiro passo a ser dado em sua realização. Antes é necessário construir o arcabouço teórico, estabelecendo o desenho da investigação; determinar os procedimentos de amostragem, sendo assim:
a) Identificação dos sujeitos e instrumentos de coletas de dados:
Inicialmente identificaremos os grupos e pesquisadores envolvidos com a temática, que já produziram uma pesquisa sobre o resgate da mídia esportiva brasileira. (livros, artigos, teses, monografias). Posteriormente iremos em busca de um suporte bibliográfico nas fontes documentais sobre o tema.
b) Procedimentos:
Após a identificação do material , iremos confrontar os dados categorizando-os e desse modo, desenhar a história da imprensa esportiva no Brasil e as ações midiáticas como se configuram em cada região.
c) Ações
De posse de todo material categorizado, será necessário voltar aos pesquisadores para realizar uma entrevista com o intuito de ampliar o olhar sobre o foco de análise, de modo a: -Verificar se a história da imprensa esportiva brasiliera apresenta uma tendência nacionalista ou se ela se constitui isoladamente, regionalmente.
-Compreender as influências de alguns estados no panorama da imprensa esportiva brasileira.
-Perceber a influência dos esportes no contexto da mídia ou a interferência da mídia no contexto do esporte.
Material e Métodos:
Utilizaremos como método de pesquisa a Revisão bibliográfica cujo objetivo será recolher todas as histórias sobre a imprensa esportiva à partir das pesquisas realizadas pelos autores. De posse dessas “histórias” iremos compreender os elementos comuns nas histórias e os divergentes. Ampliar o olhar sobre o fenômeno e compreender suas atuações na sociedade e relações com o esporte. Nesse sentido, também iremos utilizar a técnica de entrevista para elucidar algum foco de
incompreensão ou algum dado mal interpretado e proporcionar um feedback aos pesquisadores-entrevistados.
Plano de Trabalho:
A consulta aos trabalhos pioneiros realizados no país, juntamente com a leitura de importantes autores em âmbito internacional fornecerá a essa pesquisa uma base referencial, e estamos compreendendo essas ações em 04 partes assim estruturadas: a) Levantamento Bibliográfico sobre a temática (Scielo e Sistemas Informáticos/Integrados de Biblioteca- USP-UNICAMP e UNESP)
b) Identificação dos grupos e pesquisadores (Plataforma Lattes, Anais dos Congressos do CBCE e da Intercom) duas entidades representativas da áreas da Educação Física e da Comunicação)
c) Caracterização dos fenômenos comunicacionais em cada região. Levantamento das histórias.
d) Entrevistas com os pesquisadores para ampliar o olhar sobre o objeto.
e) Levantar material existente na ACESP (Associação dos Cronistas Esportivos de São Paulo)
Cronograma de Execução:
Para a realização do trabalho está previsto a sua realização em um ano. Atendendo a seguinte execução:
1O TRIMESTRE 2O TRIMESTRE 3O TRIMESTRE 4O TRIMESTRE Levantamento bibliográfico Xxxxxxxxxx Levantamento Plataforma Lattes Xxxxxxxxxx Identificação dos grupos Xxxxxxxxxxx Análise do material (leitura e a categorização) Xxxxxxxxxxx Relatório – Intermediário Xxxxxxxxxx Entrevista com os pesquisadores xxxxxxxxxxxx Entrega do Relatório Final (redação) Xxxxxxxxxx Participações em congressos e eventos científicos Xxxxxxxxxxx
Forma de Análise dos Resultados
Por estarmos trabalhando com fontes impressas (livros, teses, monografias e dissertações) iremos confrontá-las com os documentos oficiais e também utilizaremos a técnica da entrevista, para compreender melhor o objeto da pesquisa. Após a redação final iremos apresentar esses dados em Congressos da área e enviaremos aos pesquisadores. Como essa pesquisa faz parte de um projeto maior da Rede Alfredo de Carvalho iremos submetê-lo também a aprovação do Conselho. Está previsto um primeiro encontro com todos os
pesquisadores em junho de 2004, será uma das reuniões de trabalho para a preparação dos 200 anos da história da imprensa no Brasil.
Bibliografia
BABIN,P.& ,KOULOUMDJIAN, M. Os novos modos de compreender. SãoPaulo: Paulinas, 1989.
CAMARGO, VRT. O telejornalismo e o esporte-espetáculo. Tese de doutorado – Universidade Metodista de São Paulo, 1998.
HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.
