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O MOVIMENTO CABAÇAL NO CEARÁ: ENTRE A INOVAÇÃO DO TRADICIONAL E A MANUTENÇÃO DA ESSÊNCIA

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Academic year: 2021

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O MOVIMENTO CABAÇAL NO CEARÁ: ENTRE A

INOVAÇÃO DO TRADICIONAL E A MANUTENÇÃO DA

ESSÊNCIA

Cícero Wagner¹, Márcio Mattos², Maria Goretti³

¹Universidade Federal do Ceará, Juazeiro do Norte, Ceará, Brasil ²Universidade Federal do Ceará, Juazeiro do Norte, Ceará, Brasil ³Universidade Federal do Ceará, Juazeiro do Norte, Ceará, Brasil

wagnerguitar1@gmail.com, marciomattos@marciomattos.com, goherculano@hotmail.com

RESUMO: O objetivo do presente artigo é investigar o Movimento Cabaçal do Ceará,

buscando compreender o que motivou a junção do novo ao tradicional e a importância destas mudanças. A pesquisa teve como proposta metodológica o estudo de caso, utilizando-se de entrevistas semiestruturadas com ex-membros da banda Dr. Raiz. Chegou-se, assim, a algumas conclusões, principalmente, os supostos motivos que levaram os artistas a realizar uma releitura da música tradicional, buscando algo novo que consiguisse quebrar as barreiras do preconceito e valorizar ainda mais a cultura musical do povo cearense.

INTRODUÇÃO

Este trabalho propõe-se a investigar o surgimento do Movimento Cabaçal no Ceará, buscando compreender quais os motivos que levaram algumas bandas a unir elementos sonoros modernos, com influência principalmente do gênero rock, à música regional tradicional. Essa proposta teve como ponto de partida o seguinte questionamento: Porque algumas bandas começaram a unir novos recursos sonoros e estéticos à música popular tradicional no Ceará dando origem ao Movimento Cabaçal e qual a importância destas mudanças?

Escolheu-se como fonte empírica do estudo a banda Dr. Raiz, que igualmente às outras bandas deste movimento, inovaram o tradicional com muita qualidade e profissionalismo, adicionando às músicas guitarras distorcidas, bateria, baixo e outros elementos modernos, tudo isso somado ao som dos pífanos, zabumba, sanfona, pandeiro, triângulo, além das performances de teatro e dança em seus shows. O referido grupo faz uma releitura da música regional, unindo o tradicional ao novo e fazendo experimentações a fim de se renovar, mas, mantendo sua essência.

Ao mapear a literatura disponível ficou clara a demanda de publicações sobre a temática. Desse apanhado encontraram-se algumas notícias sobre o Movimento Cabaçal na internet e também um artigo publicado: “As Políticas Culturais do Ceará e sua relação com o Movimento Cabaçal” de Jane Meyre Silva Costa. O artigo foi apresentado no III ENECULT e trata especialmente das políticas públicas relacionadas com o movimento e o que isso tem influenciado nos tempos atuais.

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A relevância da pesquisa é evidenciada em suprir uma lacuna até então não preenchida, haja vista que se propõe compreender os principais motivos que deram origem à tais mudanças. Desta forma, procura entender melhor sobre quais pontos de vista a cultura cearense busca se renovar para atender as novas necessidades sociais. Compreende-se ainda a importância desse estudo para que se visualize se estas mudanças tem realmente despertado no público uma visão diferente da música tradicional e se houve uma maior valorização da cultura popular.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo, do tipo “estudo de caso”, em que foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com dois componentes da banda Dr. Raiz, os senhores Dudé Casado e Geraldo Junior.

O estudo de caso é uma técnica de pesquisa qualitativa que não pretende analisar o individuo como um todo, mas é uma tentativa de visualizar as características mais importantes do tema que se está investigando, bem como seu processo de desenvolvimento (PADUA, 2011). A entrevista semiestruturada, por sua vez, permite que o entrevistado fale livremente sobre o tema. Contudo o pesquisador precisa seguir um roteiro pelo qual deverá orientar-se.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicia-se a discussão observando como as ações históricas e as várias mudanças científicas, tecnológicas e sociais podem afetar a cultura de um povo e como essa cultura se renova ao longo da história, ao mesmo tempo em que rebusca nas suas origens se manter sempre fiel à sua essência. No caso da música, especificamente, desde a antiguidade o homem tem esta busca constante pelo novo que se faz a partir dos conhecimentos adquiridos e experiências vividas.

Sobre o termo cultura podemos citar um conceito formulado por Edward B. Tylor(1871) que a define como todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos ou aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade (CASTRO, 2005). A cultura também é associada comumente às várias formas de manifestação artística. Na música podemos citar como exemplos a música erudita europeia; o samba, o choro e bossa nova brasileiros; o Atéba que é uma forma folclórica de se cantar nos países orientais, dentre outras inúmeras manifestações por todo o mundo.

No caso da música popular ou regional do Ceará podemos citar inúmeras manifestações artísticas e agrupamentos musicais que fazem parte dessa cultura cearense, o cabaçal, os reisados, a lapinha, o coco, a embolada, dentre outros. Estes foram a grande influência para bandas como Dona Zefinha, Jumenta Parida, Soul Zé, Dr. Raiz e tantos outros movimentos artísticos musicais que tem unido elementos tradicionais com modernos e que utilizam o popular como traço marcante em suas músicas, fazendo uma releitura e gerando uma tradição renovada (COSTA, 2007).

É muito importante conhecermos pelo menos alguns destes movimentos tradicionais ou estilos regionais para percebermos melhor sua influência na música que

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tem sido feita atualmente. Nesse contexto, é importante destacar que as Bandas Cabaçais ou simplesmente Cabaçal, é um movimento artístico muito antigo e talvez o mais importante conjunto instrumental de música folclórica brasileira. Tais bandas utilizam pífanos, zabumba, triângulo e pratos, o que gera uma musicalidade bem característica e inconfundível.As bandas cabaçais tocam em praças públicas, participam de festas religiosas, novenas, procissões, casamentos, enterro de anjinhos, acompanha folguedos populares e diverte o povo nos bailes.

Uma das bandas atualmente mais conhecidas é o grupo dos Irmãos Aniceto, banda cabaçal de origem no Crato - CE desde o século XIX e que é reconhecida como patrimônio imaterial da mesma cidade. O grupo tem como objetivo preservar a tradição e o espetáculo popular, fortalecendo a identidade cultural da região (COSTA, 2007).

Surge a partir desta música folclórica o interesse de algumas bandas em se fazer uma música com identidade própria, acrescentando a musicalidade contemporânea dos membros ao estilo regional.

Ao entrevistarmos os referidos componentes da banda Dr. Raiz, tentando compreender o que os motivou a elaboração desse novo estilo musical na região, destacamos os aspectos que vêm a seguir.

O elo com a região. Os dois músicos são naturais da cidade de Juazeiro do

Norte – CE, Dudé ainda mora nesta mesma cidade e Geraldo se mudou há aproximadamente três anos para a cidade do Rio de Janeiro, para dar continuidade ao seu trabalho com a música.

Estilos anteriores. Dudé relata na entrevista que aproximadamente desde o ano

de 1997 eles já tinham uma banda estilo punk rock chamada UTI, também tocavam covers de bandas como Ramones, The Doors, The Beatles, Pink Floyd, etc, e se viram na necessidade de começar a compor. A banda também tocou covers de Chico Science, Alceu Valença, Gilberto Gil, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e já fazendo a mistura com o Rock.

Influências. Geraldo Júnior cita que sempre foram ecléticos, escutavam muita

música, independente de gêneros e sem discriminação, e que tiveram muita influência dos movimentos Tropicália e Manguebeat. O Movimento Tropicalista foi um movimento de ruptura que renovou e recriou o ambiente da música popular brasileira e da cultura brasileira entre os anos de 1967 e 1968. As ideias tropicalistas culminaram na modernização da música ao unir o popular, o pop e o experimentalismo estético. O Manguebeat, que surgiu no início da década de 90 no Pernambuco, por sua vez também teve influência do Tropicalismo em se tratando deste ponto de vista da busca pelo novo, o que gerou um hibridismo entre o moderno e a cultura popular com suas tradições (FAVARETTO, 1979, NAPOLITANO & VILLAÇA, 1998).

A constituição do novo. Começaram, então, a compor e fazer um trabalho

baseado na mesma proposta do Manguebeat. Assim, começaram a compor com influência da cultura regional, devido ao fato de sempre terem visto e ouvido, desde criança, o repente, os reisados, as bandas de pífanos, as letras e musicalidade do cordel etc. Logo, fizeram uma mistura com outros estilos que já conheciam e tocavam, fazendo, assim, uma releitura do tradicional cearense de forma natural, nada forjado ou por estar na moda, mas sim por isto tudo já fazer parte da cultura e musicalidade deles.

Esta primeira parte da discussão já vem nos revelar bastante sobre as ideias iniciais que culminaram na formação da banda Dr. Raiz, e podemos ver que a cultura pop rock inglesa também teve grande influência na música da banda e fez com que

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principalmente os jovens olhassem de forma diferente para o Movimento Cabaçal, pois como falou Geraldo (...) “a nossa música não precisava unicamente da guitarra em si para ser moderna, mas a guitarra traz uma referencia que torna mais fácil a assimilação do publico mais jovem”. Desta forma, procuraram despertar o interesse das pessoas em conhecer melhor o folclore da região, toda história local, mitos, musicalidade etc, que deram um sotaque próprio e muito especial às músicas do Dr. Raiz e de tantas outras bandas que fizeram parte do Movimento Cabaçal.

Eles também se identificam como uma banda regional que faz música sem limitações, sem estar preso a formatos. A expressão artística sempre esteve em primeiro lugar e cresceu sem amarras, e este é um dos motivos que fez com que a música da banda repercutisse tanto no cenário nacional e até internacional.

Como sabemos a cultura é dinâmica e sofre mudanças ao longo do tempo devido ser um mecanismo adaptativo e cumulativo, e isto fica explícito nesta discussão, a construção de uma identificação que se dá a partir da subjetividade do indivíduo que está sujeito à outras culturas, bem como suas diferenças e influências sociais, que gera a partir daí uma identidade (SILVA, 2000; HALL, 2005).

CONCLUSÃO

Verificamos após a pesquisa que uma das características mais marcantes do Movimento Cabaçal é a introdução de novos conceitos e a difusão de conceitos a partir de outras culturas gerando essa releitura do regional.

O principal motivo que levou os entrevistados a fazerem este trabalho na Dr. Raiz foi o desejo de preservar seu regionalismo, fazer com que houvesse maior geração de conhecimento e, consequentemente, uma maior valorização das tradições da região.

Nesse sentido, procuraram quebrar o preconceito com que muitas pessoas olham para a cultura tradicional, além de outros pontos importantes, como levar a música popular para além das periferias e alicerçar sua identificação como cultura renovada.

AGRADECIMENTO

Agradeço ao PROEXT pela bolsa concedida através do projeto MAPEAMUS (1899.PJ.0215).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTRO, Celso. Evolucionismo Cultural. Textos de Morgan, Tylor e Frazer. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

COSTA, Jane Meyre Silva. As políticas culturais do Ceará e sua relação com o

Movimento Cabaçal. Salvador: III ENECULT, 2007.

_____. A Cultura em Simmel: um estudo sobre o Movimento Cabaçal. Maringá:

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DE PÁDUA, Elisabete. Matallo. Marchesini. Metodologia de Pesquisa: Abordagem teórico-Prática. Papirus Editora. 2011. São Paulo.

FAVARETTO, Celso. Tropicália: alegoria, alegria. São Paulo, Kairos, 1979.

HALL, Stuart. A identidade cultural na Pós-Modernidade/ Stuart Hall; tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro – 10° edição – Rio de Janeiro: DP&A, 2005.

NAPOLITANO, Marcos & VILLAÇA, Mariana Martins. Tropicalismo: As relíquias do Brasil em debate. São Paulo: Revista Brasileira de História vol. 18 n°35, 1998.

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