• Nenhum resultado encontrado

ESPAÇO E IDENTIDADE: A COMUNIDADE NEGRA RURAL QUILOMBOLA SÓ ASSIM / AGROVILA SÓ ASSIM ALCÂNTARA, MA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ESPAÇO E IDENTIDADE: A COMUNIDADE NEGRA RURAL QUILOMBOLA SÓ ASSIM / AGROVILA SÓ ASSIM ALCÂNTARA, MA"

Copied!
11
0
0

Texto

(1)

ESPAÇO E IDENTIDADE: A COMUNIDADE NEGRA RURAL QUILOMBOLA SÓ ASSIM / AGROVILA SÓ ASSIM – ALCÂNTARA, MA

Ozimo Mendonça Neto / DEGEO – NEPA – UFMA

ozimogeo@hotmail.com

Anita Penha Ribeiro / DEGEO – UFMA

anita.penha@hotmail.com

Profa. Dra. Shirley Cristina dos Santos / DEGEO – NEPA – UFMA

shirley@ufma.br

RESUMO

Este trabalho tem por finalidade analisar o processo de relação espaço/identidade, por meio da disposição espacial e da infra-estrutura que dispõe a Agrovila Só Assim, Alcântara - MA, baseando-se nas manifestações culturais, sociais e econômicas. Construída ao longo do tempo no seu lugar de origem que foram bruscamente afastadas sem se importar com suas crenças, vínculos familiares e tradições construídas naquele espaço. Que atualmente se encontram em agrovilas, espaço este que infere em seus costumes antigos e tentam se articular conforme o novo espaço. O desenvolvimento do trabalho buscou analisar, descrever e questionar como o “espaço” está extremamente relacionado com a identidade do homem (quilombola), onde expressam significados e valores com sua identidade.

INTRODUÇÃO

O atual município de Alcântara - MA, até o início do século XVII era habitado por índios Tupinambá, até então denominado como Terras dos Tapuios, colonizada a partir da expulsão dos franceses pelos portugueses, onde os franceses mantinham sangrentas batalhas contra os índios Tupinambás, chegando a serem praticamente dizimados (CHOAIRY, 2000: 25), a partir deste período se formam unidades produtoras, baseadas na

(2)

escravidão indígena e africana, possuindo sua principal produção de algodão e cana-de-açúcar.

Nesta mesma época, Alcântara recebe ordens religiosas, tais como: Ordem do Carmo, dos Jesuítas, das Carmelitas, e dos Mercedários, que tinham como objetivos a catequização indígena, missões religiosas, e implantação do catolicismo.

Na metade do século XVIII, as fazendas dos Jesuítas foram confiscadas e vendidas a particulares, e depois doadas à igreja e ao governo. Dessa forma originam-se os seguimentos camponeses, existentes até hoje, as chamadas comunidades tradicionais (TAVARES, 2006: 29).

Com a perda de sua importância econômica, Alcântara passa a ser eminentemente habitada por escravos negros e descendentes de indígenas, estes ocupavam as terras mais férteis e as localizadas no litoral, possuíam a forma de cultivo coletiva e livre.

Com a queda do preço do algodão e pressões pela abolição da escravatura, muitos fazendeiros foram levados a abandonar suas terras. Conforme mostra Choairy (2000: 37), para ilustrar o momento em referência:

“O final do século XVIII e início do século XIX inauguram um período de grande valorização do algodão no mercado internacional, particularmente o inglês. Porém, já a partir do segundo decênio do século XIX, a economia local começa a sentir os primeiros abalos da denominada crise definitiva do sistema agro-exportador” Choairy (2000: 37).

Após vários anos de esquecimento, no final do século XX, Alcântara ressurge da crise que se encontrava por meio do Projeto de Implantação do Centro Espacial, ganhando novos olhares mundialmente.

O Centro Espacial, hoje denominado Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) que só foi possível ser implantado com a criação do Decreto Federal nº 88136 de 01 de março de 1983, em apoio com o Decreto Estadual, o governo do Estado disponibiliza uma área que corresponde aproximadamente à metade do território alcantarense, que se firmou com o Decreto nº 2785 em 21 de maio de 1956.

(3)

Os resultados da implantação do CLA não vieram somente trazer novas luzes, glórias e desenvolvimento para o município de Alcântara, mas também sérias complicações, como a desapropriação de aproximadamente 312 famílias. Famílias essas foram bruscamente afastadas do seu espaço nativo, onde suas identidades foram construídas aos longos anos. Sem se importarem com suas crenças, vínculos familiares e tradições construídas naquele espaço que nunca mais será reconquistado, destinam-se a espaços articulados para reassentar as famílias deslocadas, as chamadas agrovilas (ANDRADE, 2009).

Foram criadas sete agrovilas para reassentar inúmeras famílias, são elas, Cajueiro, Marudá, Peru, Pepital, Ponta Seca, Espera e Só Assim. Nesses espaços novas identidades foram formadas ou transformadas, e até mesmo reconstruídas. Porém aquela que é mais importante para as comunidades tradicionais alcantarenses permanece até hoje, a identidade quilombola.

Segundo Font e Rufí (2006: 39):

“O lugar de origem imprime identidade ao indivíduo e ao grupo. Então, supondo que ele mude de lugar e que, portanto, desenvolva a sua vida quotidiana em outro lugar, este também imbuirá nele identidade em maior ou menor medida e em função de muitas e diversas circunstâncias. (...) Assim, a identidade – inclusive das minorias – não deve ser concebida como algo monolítico, mas como um fenômeno múltiplo, heterogêneo, multifacetado – e até certo ponto imprevisível – que problematiza e recompõe tradições. A identidade é algo que grande parte, constrói-se.” Dentre os inúmeros conceitos de espaço, temos o segundo Corrêa (1995: 15):

“A expressão do espaço geográfico ou simplesmente espaço, por outro lado, parece como vaga, ora estando associada a uma porção da superfície da terra identificada seja pela natureza, seja por um modo particular como o homem ali imprimiu as suas marcas, seja como referência à simples localização. Adicionalmente a palavra espaço tem o seu uso associado a indiscriminadamente a diferentes escalas, global, continental, regional, da cidade, do bairro, da rua, da casa, e de um cômodo no seu interior”.

(4)

O espaço vai muito além de uma porção da superfície da terra. Nele se constrói relações e vínculos, em função do pertencimento ao mesmo povoado, linguagem, tribo, grupo, etnolinguístico ou área cultural que fornecem referências básicas para cotidiano em sua dimensão espacial (CORRÊA, 1995: 32).

Entendemos que o espaço proporciona a construção de identidade, não estando apenas associada a características físicas, mas também culturais, religiosas e afetivas com o espaço.

“É por tudo isso que a perspectiva geográfica se reveste de um enorme interesse na hora de entender os diversos fenômenos sociais que se dão em um espaço determinado, por que estes estão estruturados pelo contexto, pelo meio, e pelo lugar. É no lugar onde se materializam as grandes categorias sociais (sexo, classe social, e idade), onde acontecem as interações sociais que provocaram uma resposta ou outra a um determinado fenômeno social” (FONT; RUFÍ, 2006: 205).

O Conceito de quilombo foi oficializado em 1740, pelo Rei de Portugal, segundo o Conselho Ultramarino ser quilombola seria: “toda habitação de negros fugidos, que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados nem se achem pilões neles” (MOURA, 2007).

Atualmente o termo quilombola, se aplica a comunidades negras rurais habitadas por descendentes de africanos escravizados, que mantêm laços de parentesco e vivem, em sua maioria, de culturas de subsistência, em terra doada, comprada ou ocupada secularmente pelo grupo (MOURA, 2007).

O território alcantarense é formado por uma grande concentração de comunidades remanescentes de quilombos. Ser quilombola em Só Assim / Alcântara - MA, vai além do conceito que Moura trabalha. Havendo uma ligação com as atividades camponesas, tais como, coleta extrativista, agricultura e a pesca. Hoje a Agrovila Só Assim luta para manter suas tradições, tentando manter acesa a chama de ser quilombola na contemporaneidade.

(5)

OBJETIVO GERAL: Analisar a relação entre espaço-idetidade, tendo em vista à Identidade Negra Quilombola em uma Comunidade Tradicional, por meio da disposição espacial e da infra-estrutura que dispõe a Agrovila Só Assim, Alcântara - MA.

OBJETIVO ESPECÍFICO: Visto que o objetivo específico está encetado na disposição espacial e na infra-estrutura que agrovila apresenta, analisados a partir da construção e reconstrução da identidade negra rural quilombola, baseados entorno das manifestações culturais, sociais e econômicas que a mesma dispõe.

(6)

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Baseando-se no método fenomenológico, ciência cujo propósito é descrever fenômenos particulares, ou a aparência das coisas como experiência vivida. A experiência vivida do mundo da vida de todo dia é foco central da fenomenologia (MOREIRA, 2002: 67), norteia e contempla todos os dados obtidos e analisados perante a percepção dos moradores da agrovila Só Assim possuem em relação ao espaço físico-cultural, sendo eles: a casa de farinha (forno), tribuna (casa de festas), igreja, campo de futebol, lavanderia comunitária, roça, entre outros. Elementos esses que reafirmam a Identidade Negra Quilombola, realizados por meio da seguinte execução:

• Fundamentação e seleção bibliográfica;

Pesquisa in loco: realizada em três visitas, entre outubro de 2008 e setembro de 2009;

• Compilação de dados cartográficos;

• Elaboração e aplicação de formulários;

• Tabulação e discussão dos dados obtidos;

• Interpretação de imagens fotográficas obtidas durante a pesquisa in loco; RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES

Localizada aproximadamente 12 Km (segundo os moradores da comunidade) da sede municipal de Alcântara, a Comunidade Negra Rural Quilombola Só Assim (figura 1), uma das sete agrovilas formadas a partir da implantação do Centro de Lançamento de Alcântara, realocadas inicialmente 17 famílias, hoje habitam 32 famílias.

Famílias essas oriundas dos povoados Só Assim “Velho”, Boa Vista, Paraíso, Caicava, entre outros. Que passaram a viver em um único espaço, desprovido de solo fértil, distante do litoral, precariedade no transporte, acesso a educação e saúde. O mais

(7)

importante ainda a ser fomentado é a questão da identidade típica de cada povoado remanejado sem nenhum critério.

Mesmo possuindo características afins, serem descendentes de quilombolas, cada povoado possuía formas especificas a religião, os festejos, a formação cultural, hoje sem alternativa se conformam em manterem novas relações e construir/reconstruir uma nova identidade no espaço chamando Agrovila Só Assim.

Composição e disposição espacial da comunidade

A disposição e composição espacial da comunidade foi estrutura pela Base Militar do CLA, cada agrovila dispõe de sua organização física diferente uma das outras. Em Só Assim sua disposição é oval, pode-se observar na (figura 1), a qual dispõe de fotografias áreas das sete agrovilas no município de Alcântara.

Figura 1: Fotografia área das agrovilas.

(8)

Constatou-se nas pesquisas in loco, que a Agrovila Só Assim, apresenta casas de alvenarias com coberturas de telhas, eletrificação, água encanada, casa de farinha (casa de forno), tribuna, igreja, lavanderia e porco artesiano.

Quando foi perguntando a moradora da comunidade Dona Vera, 78 anos, o que ela acha da composição e organização das casas na agrovila, ela responde que: “Prefiro assim, eles queriam colocar as comunidades em uma só agrovila. A gente não ia ter sossego, ia ter muita fofoca”.

Casa de Farinha (casa de forno) : lugar onde se transforma a mandioca em farinha (figura 2), utilizada pelos moradores da comunidade, antes não dispunham dos aperfeiçoamentos que hoje possuem até mesmo a qualidade da farinha tornou-se diferente, uma melhoria, que proporcionou um aumente na venda. Uma característica que esse espaço apresenta em relação à identidade quilombola, está presente no trabalho coletivo, que vai desde o plantio da maniva até o torrar da farinha, conseguindo ainda prevalecer o uso comum do espaço.

Figura 3: Tribuna ou Casa de Festa. Fonte: Arquivo da Pesquisa, 2009

(9)

Tribuna ou Casa de Festa (figura 3): para comunidade esse espaço é destinando a realizações de reuniões e manifestações culturais. Dentre todos os espaços da comunidade, este é o mais importante da mesma, pois nele realiza-se o festejo de São Benedito e o Tambor de Crioula, constitui sua maior expressão, pois dentro dos povoados que hoje formam a Agrovila Só Assim não tinha em sua composição a presença do tambor de crioula como expressão cultural. Tendo como festa em louvor a São Benedito, característica está assumida por todos os membros da comunidade.

Figura 3: Tribuna ou Casa de Festa. Fonte: Arquivo da Pesquisa, 2009.

Igreja: tendo forte influência do catolicismo, podemos perceber por meio do aspecto histórico de Alcântara havendo uma forte influencia na Comunidade Negra Rural Quilombola do Só Assim, que traz consigo práticas católicas, a mais forte expressão se deu a partir da construção da igreja, tendo como São Benedito, seu santo Padroeiro.

Lavanderia: um dos marcos referencial de mudanças de hábitos, pois aqueles que tinham em suas rotinas os rios ou riachos como locais destinados a lavagem de suas roupas. Atualmente a agrovila dispõe de lavanderia com local destinado a esse uso. Pois possuir

(10)

água encanada em direção as suas moradias já ficou em desuso a lavanderia. Deixando uma rotina de uso em comum para uso particular, perdendo ainda mais a tradição da união de lavagem, já vindo esquecida a partir do afastamento dos rios.

A resistência e a reconstrução de identidade vão além dos hábitos e costumes encontrados na agrovila Só Assim, pois o espaço é um dos elementos essencial para formação de sua identidade, visto que, a necessidade de se sentir e identificar em um espaço específico é agora sentido de forma viva, sem que isso signifique voltar inevitavelmente à forma tradicional de sua identidade. Alcântara teve que abrir mão de sua identidade, saindo assim do esquecimento que sofreu com a desvalorização da lavoura proporcionando pela implantação do Centro de Lançamento de Alcântara. Resultado disso foi à desconstrução e atualmente reconstrução da identidade tradicional quilombola, excluindo essa população de seu território, desprezando vínculos afetivos com o espaço quê ali nasceu seus pais, manifestações culturais típicas e sua identidade.

Font; Rufí (2006: 16):

“Nossa sociedade sempre gerou espaços de exclusão, entendidos como expressão territorial das diferenças sociais, políticas, ideológicas, econômicas e culturais entre os grupo humanos. (...) Os indivíduos e os grupos que não se ajustam à ortodoxia socioespacial serão condenados aos territórios da exclusão, e não terão outra solução a não ser abrir caminho nesses territórios”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ANDRADE, M. de P. São intransigentes os quilombolas? Disponível em:

<http://www.global.org.br/principal.asp?id_menu=&id_noticia=242>. Acessado em 15/08/2009.

CASTRO, I. E.; CORRÊA, R. L.; GOMES, R. L. (Orgs). Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.

(11)

CENTRO DE LANÇAMENTO DE ALCÂNTARA. Foto das Agrovilas. Disponível em http://www.cla.aer.mil.br/. Acesso em 11/08/2009.

CHOAIRY, A. C. C. Alcântara vai para o espaço: A dinâmica da implantação do centro de lançamento de Alcântara. São Luís: Edições UFMA; PROIN (CS), 2000.

FONT, J. N.; RUFÍ, J. V. Geopolítica, Identidade e Globalização. São Paulo: Annablume, 2006.

MOURA, G. Salto para o Futuro: Educação Quilombola. Proposta pedagógica. Boletim 10. Junho de 2007.

TAVARES, F. R. C. Território e Identidade: uma experiência na Comunidade Quilombola de “Só Assim”, em Alcântara-MA. Monografia apresentada ao curso de Geografia da Universidade Federal do Maranhão. São Luís: UFMA, 2006.

Referências

Documentos relacionados

− Reações muito raras (ocorrem em menos de 0,01% dos pacientes que utilizam este medicamento): acidose láctica (ver “Advertências e precauções”); redução grave do número

A questão quilombola é pouco reconhecida na comunidade, até porque é assim, não tem nenhum projeto que faça assim a pessoa reconhecer como quilombola, agente sabe que

Dia 13 - Roseanne Lyra, filha do companheiro Evandro Lyra e Elizabeth Dia 14 - Elizabel Diniz, esposa do companheiro Olacy Cavalcanti Dia 14 - Pedro Carvalho, esposo da

A partir da realização desta etnografia, pode-se afirmar que a comunidade negra rural Cerro das Velhas se auto-identifica como quilombola, porque reconhece que já possui

A pesquisa foi realizada na Escola Municipal Francino Albino da Silva, localizada na Comunidade Remanescente Quilombola Estrela situada na zona rural do Município de

O presente trabalho, baseado no estudo prévio da fitossociologia da floresta de várzea de açaizal da Comunidade Quilombola São Mauricio, Alcântara, objetivou

Adotamos aqui o conceito de comunidade quilombola definido pela ABA (Associação Brasileira de Antropologia), que diz ser quilombo: “Toda comunidade negra rural que agrupe

No cômputo global, em Portugal, há já mais mulheres do que homens juízes nos tribunais de primeira instância, neles incluídos os administrativos e fiscais; sendo as mulheres