• Nenhum resultado encontrado

A Política Carcerária da Remição da Pena pela Leitura na Região Sul do Brasil: uma abordagem metodológica

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A Política Carcerária da Remição da Pena pela Leitura na Região Sul do Brasil: uma abordagem metodológica"

Copied!
220
0
0

Texto

(1)

Emily Masson Steiner

A POLÍTICA CARCERÁRIA DA REMIÇÃO DA PENA PELA LEITURA

NA REGIÃO SUL DO BRASIL: UMA ABORDAGEM

METODOLÓGICA

Florianopólis 2019

Universidade Federal de Santa Catarina

Centro de Ciências Jurídicas

(2)

Emily Masson Steiner

A POLÍTICA CARCERÁRIA DA REMIÇÃO DA PENA PELA LEITURA

NA REGIÃO SUL DO BRASIL: UMA ABORDAGEM

METODOLÓGICA

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para a obtenção do Título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Claudio Macedo de Souza

Florianópolis 2019

(3)
(4)
(5)

RESUMO

Este trabalho objetiva investigar a metodologia prevista nas Portarias das Varas de Execuções Penais que regulamenta a remição de pena pela leitura de obras literárias no âmbito do sistema penitenciário da Região Sul do Brasil. A pesquisa tem como ponto de partida o contexto histórico no qual foi inserido o instituto da remição pela leitura, por meio da Lei 12.433/2011 que modificou a Lei de Execução Penal. A nova lei permitiu ao preso, em regime fechado ou semiaberto, remir por trabalho ou por estudo parte do tempo de execução da pena. Neste sentido, a Recomendação n. 44 do Conselho Nacional de Justiça, publicada em 26/11/2013, dispôs sobre atividades educacionais complementares para fins de remição da pena pelo estudo, estabelecendo critérios para a admissão pela leitura. Ao estimular a remição pela leitura, a Recomendação criou uma atividade educacional complementar no âmbito das unidades prisionais estaduais e federais, notadamente para presos para os quais não foram assegurados os direitos ao trabalho, à educação e à qualificação profissional. Disto resulta que a origem do problema gravitou em torno da compreensão da remição de pena pela leitura de obras literárias no âmbito do sistema penitenciário que atenda ao princípio da dignidade da pessoa humana. Nesta perspectiva, indagou-se: “Como os estabelecimentos prisionais localizados nos Estados da Região Sul do Brasil têm implementado a remição, disciplinada pela Recomendação n. 44/2013 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que permite ao preso diminuir o tempo de execução da sua pena mediante a leitura de obras literárias?” Supôs-se a existência de uma metodologia prevista nas Portarias das Varas de Execuções Penais que regulamenta a remição pela leitura de obras literárias no âmbito do sistema penitenciário da Região Sul que atende ao princípio da individualização da pena na fase da execução. Portanto, a pesquisa parte do pressuposto de que a metodologia deve fundamentar-se no princípio da individualização da pena na fase da execução, o qual se efetiva com a garantia ao direito à educação pelo condenado por meio da leitura, bem como atende ao Estado na função de política carcerária desprisionalizante, em busca da ressocialização.

Palavras-chave: Remição por leitura; Recomendação 44 do CNJ; Individualização da pena; Direito à Educação; Política Carcerária.

(6)

ABSTRACT

This study aims to investigate the methodology established in the Documents of the Laws of Criminal Law, which regulates the remission of punishment for the reading of literary works within the penitentiary system of the Southern Region of Brazil. The research has as its starting point the historical context in which the institute of remission was inserted through reading, through Law 12.433 / 2011 that modified the Law of Criminal Execution. The new law allowed the prisoner, in a closed or semi-open regime, to remit for work or study part of the sentence execution time. In this sense, 44 of the National Council of Justice, published on November 26, 2013, provided for additional educational activities for the purpose of remission of the sentence for the study, establishing criteria for admission by reading. By encouraging readmission, the Recommendation created a complementary educational activity within the state and federal prisons, notably for prisoners for whom the rights to work, education and professional qualification were not guaranteed. It follows that the origin of the problem was based on the understanding of remission of punishment by reading literary works within the penitentiary system that meets the principle of the dignity of the human person. From this perspective, we asked ourselves: "Since prisons located in the States of the Southern Region of Brazil have implemented the remission, which is regulated by Recommendation no. 44/2013 of the National Council of Justice (CNJ), which allows the prisoner to reduce the time of execution of his sentence by reading literary works? "It was assumed that there is a methodology provided for in the Portraits of Sticks of Criminal Enforcement that regulates the remission by reading literary works within the penitentiary system of the South Region that meets the principle of individualization of the sentence in the execution phase. Therefore, the research is based on the assumption that the methodology must be based on the principle of individualization of the sentence in the execution phase, which is effective with guaranteeing the right to education by the condemned through reading, as well as attending the State in deprivationalizing prison policy, in search of resocialization.

Keywords: Remission per reading; CNJ Recommendation 44; Punishment Individualization; Right to Education; Prision Politics.

(7)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 5

2 A REMIÇÃO DA PENA PELA LEITURA COMO FERRAMENTA JURÍDICA DE ACESSO ÀS POLÍTICAS EDUCACIONAIS ... 9

2.1 A ORIGEM DA REMIÇÃO DE PENA PELA EDUCAÇÃO NO BRASIL ... 10

2.2 UMA BREVE ANÁLISE DA REMIÇÃO PENAL A PARTIR DOS PROJETOS DE LEI ... 12

3 OFICINAS LITERÁRIAS: UMA NOVA CONFIGURAÇÃO DA REMIÇÃO DE PENA ... 17

3.1 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL QUE NORTEIAM A REMIÇÃO ... 20

3.2 REMIÇÃO E O SISTEMA PROGRESSIVO DA PENA ... 26

3.3 A EXECUÇÃO PENAL DA REMIÇÃO ... 28

4 DA INVESTIGAÇÃO DA METODOLOGIA APLICADA NA ESFERA DA EXECUÇÃO PENAL ... 32

4.1 O INSTITUTO DA REMIÇÃO PELA LEITURA NOS ESTABELECIMENTOS PENAIS DA REGIÃO SUL ... 32

4.2 REMIÇÃO PELA LEITURA NO ESTADO DO PARANÁ ... 33

4.3 REMIÇÃO PELA LEITURA NO ESTADO DE SANTA CATARINA ... 35

4.4 REMIÇÃO PELA LEITURA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ... 42

4.5 O INSTITUTO DE REMIÇÃO DE PENA PELA LEITURA COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA CARCERÁRIA ... 45

5 CONCLUSÃO ... 50

REFERÊNCIAS ... 57

(8)

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho objetiva investigar a metodologia prevista nas Portarias das Varas de Execuções Penais e Legislação Estadual que regulamenta a remição da pena pela leitura de obras literárias no âmbito do sistema penitenciário da Região Sul. A pesquisa tem como ponto de partida o contexto histórico no qual foi inserido o instituto da remição pelo estudo, por meio da Lei 12.433/2011, que modificou a LEP – Lei de Execução Penal. A nova lei modificou o texto dos artigos 126, 127, 128 e 129 da LEP n. 7.210/84 e permitiu ao preso, em regime fechado ou semiaberto, remir por trabalho ou por estudo parte do tempo de execução da pena.

Com o surgimento da Lei 12.433/2011, foi publicada a Recomendação n. 44 do CNJ – Conselho Nacional de Justiça em 26 de novembro de 2013, a fim de estabelecer critérios para admissão da remição da pena pela leitura, ou seja, ampliar as possibilidades da remição mediante a criação de atividade complementar educacional, no âmbito das unidades prisionais estaduais e federais. A atividade criada foi destinada aos presos para os quais o Estado não assegurou o direito ao trabalho, à educação e à qualificação profissional, nos termos da Lei n. 7.210/84.1

No âmbito da individualização da pena, o instituto da remição pela leitura deverá atender aos direitos fundamentais, resultantes do princípio da dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III, artigo 5º, incisos XLVI, XLVII e XLIX e artigo 6º, caput, da Constituição Federal). Nesta perspectiva, a remição da pena pela leitura deverá dar concretude ao direito à educação e, assim, poderá funcionar como estratégia para a resolução de problemas vivenciados pelo sistema carcerário nacional, como a superlotação, altos índices de reincidência criminal, a baixa escolaridade dos presos, dentre outros.

Neste sentido, a remição possibilita uma nova abordagem do universo carcerário, uma vez que garante o acesso à educação por meio da leitura, o qual proporcionará ao preso a reinserção à sociedade. Significa dizer que, por força da Constituição, o ideal da remição pela leitura é orientar todo e qualquer indivíduo para a construção e/ou aprimoramento das suas aptidões intelectuais, mediante atividades capazes de ampliar as possibilidades concretas de acesso à educação no sistema carcerário.

1 Art. 41 - Constituem direitos do preso:

[...] II - atribuição de trabalho e sua remuneração;

[...] V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação;

VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena;

(9)

Para que esse ideal se concretize, é necessário assegurar a participação voluntária do preso, disponibilizando-lhe 01 (um) exemplar de obra literária, clássica, científica ou filosófica, dentre outras, de acordo com o acervo disponível na unidade, adquiridas pelo Poder Judiciário, pelo DEPEN, Secretarias Estaduais/Superintendências de Administração Penitenciária dos Estados ou outros órgãos de execução penal, doadas aos respectivos estabelecimentos prisionais.

Ainda, é preciso assegurar que o resultado da avaliação do preso seja enviado ao Juiz de Execuções Penais competente, a fim de que decida sobre o aproveitamento da leitura realizada, contabilizando-se 4 (quatro) dias de remição de pena para os que alcançarem os objetivos propostos. Disto resulta que, a origem do problema gravita em torno da compreensão da remição de pena pela leitura de obras literárias no âmbito do sistema carcerário que atenda ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Nesta perspectiva, indaga-se: “Como os estabelecimentos prisionais localizados nos Estados da Região Sul do Brasil têm implementado a remição pela leitura, disciplinada pela Recomendação n. 44/2013 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que permite ao preso diminuir o tempo de execução da sua pena mediante a leitura de obras literárias?”.

Supõe-se que exista uma metodologia prevista nas Portarias das Varas de Execuções Penais e na Legislação Estadual que regulamentam a remição pela leitura de obras literárias no âmbito do sistema penitenciário da Região Sul, que atende ao princípio da individualização da pena na fase da execução. Neste sentindo, a metodologia deve fundamentar-se no princípio da individualização da pena, o qual se efetiva com a garantia do direito à educação ao preso.

Partindo desse pressuposto, a pesquisa realça o caráter benéfico do instituto da remição pelo estudo, tendo em vista a possibilidade de “premiar” o preso pela sua produção intelectual e de desenvolver nele o sentimento de reparo humano, o que resulta em sua ressocialização. Ao desconstruir a ideia da remição pela leitura como privilégio do preso, reafirma a garantia de direito para aqueles que voluntariamente aderiram ao processo de ressocialização.

Com relação à metodologia de pesquisa, cumpre a nós informar que a Região Sul do país foi selecionada para desenvolver o tema, porque o Paraná foi o primeiro Estado da Federação brasileira a implementar e regulamentar a remição pela leitura nos estabelecimentos prisionais, instituído pela Lei Estadual n. 12.433/2011. Neste sentido, considerou-se que a investigação a respeito da metodologia aplicada no sistema prisional, a partir da Recomendação do CNJ, deveria começar pelos Estados da Região Sul.

Esta monografia está estruturada na pesquisa teórica sobre o princípio da individualização da pena na fase de execução, no âmbito da literatura jurídica; e, também, na pesquisa empírica com levantamento e avaliação de documentos oficiais, a fim de investigar a

(10)

metodologia adotada pelo Sistema Penitenciário dos Estados da Região Sul do Brasil. Como pesquisa empírica, propõe-se a pesquisa quantitativa como forma de abordagem mediante a coleta de documentos oficiais (leis, portarias, relatórios, dentre outros), publicados a partir de 2011, período de vigência da Lei 12.433.

Sendo assim, foram coletadas as Portarias disponibilizadas pelas Varas de Execuções Penais das Comarcas do Estado de Santa Catarina, informações junto ao Estado do Rio Grande do Sul, bem como a Legislação Estadual do Estado do Paraná que regulamentam o instituto da remição de pena pela leitura implementado nos respectivos estabelecimentos penais. Ainda houve o escopo qualitativo com vistas à avaliação do conteúdo das Portarias, documentos e Legislação coletadas.

A fase qualitativa foi determinante para verificar se a metodologia adotada estava fundamentada no princípio da individualização da pena. Em outros termos, a estratégia de pesquisa desenvolvida foi relevante para compreender se a remição pela leitura, prevista nas Portarias, é parte da política carcerária adotada pela administração penitenciária na fase da execução da pena capaz de garantir o acesso à educação. Cumpre ressaltar que o acesso à educação é forte indicativo de política carcerária orientada à reinserção do preso na sociedade. Portanto, este trabalho está dividido em 03 (três) capítulos. No primeiro capítulo objetivou-se trazer o contexto histórico da execução penal no país, explicando, de forma geral, a origem do instituto da remição, desde o seu surgimento, com as previsões de desconto de pena pelo trabalho e estudo, positivadas na LEP, até a chegada dos projetos de lei que tratam sobre a leitura.

O segundo capítulo buscou debater o instituto de remição constante nos artigos 126 e seguintes da Lei de Execução Penal n. 7.210/84, modificados pela Lei n. 12.433/2011, que dispõe sobre o desconto de parte do tempo da pena por estudo ou por trabalho, com enfoque na remição pela leitura de obras literárias, disposta na Recomendação n.º 44/2013 do Conselho Nacional de Justiça, que disciplina a matéria.

Na sequência, o terceiro capítulo objetivou investigar a metodologia prevista nas Portarias das Varas de Execuções Penais, que implementam a remição de pena pela leitura de obras literárias no âmbito do sistema carcerário de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, bem como a Legislação Estadual do Paraná que regulamenta o referido instituto. Ademais, o referido capítulo teve a função de contextualizar o instituto da remição de pena pela leitura, nos Estados da Região Sul do Brasil, com enfoque político criminal. Na verdade, o último capítulo, também buscou na discussão, inserir a remição como relevante instrumento de política carcerária nacional.

(11)

Na conclusão, retoma-se a pergunta inicial da pesquisa para afirmar que, embora tímida, a política de remição de pena pela leitura existe nos estabelecimentos penais dos Estados da Região Sul do Brasil. Porém, muitos estados ainda não possuem a regulamentação, ou seja, portaria ou legislação estadual, assim como, dentre aos analisados na presente pesquisa, o Estado do Rio Grande do Sul. Destacando-se o Estado do Paraná, que possui legislação estadual sobre o tema, sendo o pioneiro no país e o Estado de Santa Catarina que regulamenta e implementa o instituto da Remição pela leitura por meio de Portarias das Varas de Execuções Penais.

(12)

2 A REMIÇÃO DA PENA PELA LEITURA COMO FERRAMENTA JURÍDICA DE ACESSO ÀS POLÍTICAS EDUCACIONAIS

Este capítulo objetiva discutir o contexto histórico no qual está inserida a execução penal no país na perspectiva do instituto da remição de pena. Neste sentido, o aspecto histórico, do qual surgiram os projetos de lei sobre a remição da pena pela leitura, terá papel de destaque. A abordagem histórica é relevante para reafirmar o papel da remição no fortalecimento das políticas educacionais para o sistema penitenciário.

Com a revisão dos projetos de lei busca-se realizar uma breve análise do contexto histórico na tratativa dos processos de institucionalização de dispositivos jurídicos que regulam a remição de pena, em particular, sobre aqueles que levam em conta a educação, por meio da leitura de obras literárias.

Nesse sentido, serão explorados os aspectos jurídicos-políticos que envolveram os esforços pela garantia do direito à educação no cárcere, relativos à remição de pena pelo estudo, delimitando-se ao período que antecedeu a institucionalização pela Lei n.º 12.433, de 29 de junho de 2011, que modificou o texto dos artigos do Capítulo VII, Seção IV da Lei de Execução Penal.

Para tanto, serão examinados documentos (relatórios, diretrizes, exposições de motivo, entre outros) que expressem tomadas de posição sobre a questão no espaço nacional que levaram o Conselho Nacional de Justiça, por ato administrativo, no dia 26 de novembro de 2013, dispor sobre atividades educacionais complementares para fins de remição de pena pelo estudo e estabelecer critérios para a admissão pela leitura, via Recomendação n.º 44.

Nessa perspectiva, observa-se, primordialmente, o fator do encarceramento em massa, que obtêm uma forte relação entre o discurso da “tolerância zero”, que é visto como a preservação da lei e da ordem no Estado brasileiro, no sentido de legitimar o aprisionamento provisório de pessoas sem condenação, motivo este, que tem corroborado efetivamente para o aumento gradativo da população carcerária, que atingiu no ano de 2016 mais de 726 mil presos no Brasil (DEPEN, 2016).

Sobre o movimento punitivista, instaurado no país, Ana Cláudia da Silva apresenta tal conceito em sua dissertação:

Os movimentos punitivistas estão diretamente relacionados às tendências neocriminalizadoras e expansionistas da moderna política criminal, haja vista importarem na defesa do Direito penal de prima ratio amparados na crença de que a tutela penal é (ainda) a ferramenta mais necessária e útil para a manutenção da paz e eficácia do controle social. Como consequência, pode-se afirmar que há, prepode-sentemente, uma intensa tendência ao uso do Direito penal máximo. (SILVA, 2008, p. 14).

(13)

Ainda, explana que o Direito penal aplicado seria uma resposta às exigências da sociedade “globalizada e supranacional”, como forma de combate eficaz à macrocriminalidade, que exige um incremento do poder punitivo, ou seja, à aplicação do Direito penal máximo, sendo este justificado pela sanção penal retributiva, bem como a manutenção da pena com fundamento na prevenção ao crime (SILVA, 2008).

Entretanto, a política criminal punitivista resta abalada quando se constata, conforme aduzem Zaffaroni e Batista (2003, p. 632), que:

O espantoso aumento do número de encarcerados não correspondeu a nenhuma alteração relevante na incidência criminal, estabilizada nos anos noventa graças ao pleno emprego e a uma redução demográfica da população jovem, deixando em aberto o real objetivo desse encarceramento massivo.

Destarte, supõe-se que a remição de pena (pagamento da pena) pela educação, e, atualmente, por analogia, pela leitura, institucionalizadas após um longo período de debates, também ocorreram em meio à ampliação do número de encarceramentos no Brasil.

2.1 A ORIGEM DA REMIÇÃO DE PENA PELA EDUCAÇÃO NO BRASIL

No Brasil, o instituto da remição de pena iniciou-se com a previsão na Lei n. 7.210 – Lei de Execução Penal de 1984, para fins de trabalho. Este fora concebido como ação política, com legitimidade jurídica, pelo Poder Executivo durante o Governo Figueiredo (1979-1985), ainda em período ditatorial que dispunha no artigo 126 que “o condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, pelo trabalho, parte do tempo de execução da pena”. Estando disciplinado que seria remido a cada três dias de trabalho um dia de pena.

Segundo Coelho e Silveira (1985), a possibilidade de remir a pena pelo trabalho, no ordenamento jurídico brasileiro, surgiu por inspiração no Direito Penal Militar Espanhol, que previa a possibilidade de reduzir parte da pena de indivíduos presos por dias trabalhados, o que acarretou na inclusão de tal instituto no código penal espanhol, em 1944.

Ocorre que, concessões semelhantes, porém, neste caso com a possibilidade de reduzir a pena de prisão por meio da educação, foram sendo institucionalizadas no Brasil em decorrência de entendimentos de alguns juízes das Varas de Execução Criminal de distintas comarcas e estados da federação, como por exemplo, o Estado do Rio Grande do Sul.

(14)

Nessa perspectiva, Eli Narciso da Silva Torres, traz em sua tese de doutorado2, a

entrevista realizada com professor Roberto da Silva3. Onde relata que a remição pelo estudo

teve início nos anos de 1990, no Estado do Rio Grande do Sul, a partir do entendimento de alguns membros do poder judiciário e do Ministério Público, que viram a possibilidade de estabelecer analogia entre trabalho e estudo. E assim, aplicar o artigo 126 da Lei de Execução Penal, que previa a remição de pena por trabalho, para a participação na prática educativa em espaços prisionais:

Os protagonistas desse... Você quer recuperar isso, ter historicidade desse processo... São alguns juízes e promotores, [são] eles que na verdade se utilizaram da analogia da remição pelo trabalho para estender aos presos um beneficio que eles achavam que era direito. Mas estes juízes e promotores, principalmente do Rio Grande do Sul, eles tiveram essa perspectiva um pouco mais idealista daquilo que o preso faz durante o cumprimento da pena e [que] devia ser valorizado.

Em 1990, já havia alguns juízes do Sul fazendo essa analogia, da remição pelo trabalho como remição pela educação. Mas isso leva um tempo, pelo menos uns 7 ou 8 anos até que se crie jurisprudência a respeito, porque ao mesmo tempo que tinha alguns juízes e promotores que eram favoráveis a isso tinha quem se colocava contra e recorria das decisões nos tribunais superiores e se negava isso (Entrevista, Roberto da Silva, março de 2016). (TORRES, 2017).

Cumpre destacar que, a discussão acerca da possibilidade do preso em cumprimento de pena em regime fechado e semiaberto poder remir parte do tempo da pena pelo estudo teve como marco o reconhecimento do Superior Tribunal de Justiça no Recurso Especial N.º 445.942/RS4, com relatório do Ministro Gilson Dipp, no ano de 2003.

No ano de 2007, após diferentes julgados e as frequentes controvérsias acerca da possibilidade ou não da concessão da remição de pena pelo estudo, fora sumulado que “a frequência a curso de ensino formal como causa de remição de parte do tempo de execução de pena sob regime fechado ou semi-aberto”, texto da Súmula 3415 do Superior Tribunal de Justiça

- STJ, que pacificou tal entendimento.

No entanto, anteriormente a edição da Lei de Execução Penal, mesmo com a referida Súmula, a doutrina discutia a questão da falta de regras, abusos, falta de sincronia entre

2 TORRES, Eli Narciso da Silva. A Gênese da Remição de Pena pelo Estudo: o dispositivo jurídico-político e

a garantia do direito à educação aos privados de liberdade no Brasil. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2017. [p.41].

3 Ex-interno da Febem (atual Fundação Casa) e ex-detento do sistema penitenciário, atualmente, professor doutor

no departamento de Administração Escolar e Economia da Educação, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

4 STJ, 5ª Turma, RESP 445942/RS; Recurso Especial 2002/0084624-8, Relator Min Gilson Dipp, julgado em

10/06/2003, publicado no Diário de Justiça em 25/08/2003, p.00352.

5 A Súmula justificava-se pelos seguintes Precedentes: HC 30.623-SP (5a T, 15.04.2004 – DJ 24.05.2004); HC

43.668-SP (6a T, 08.11.2005 – DJ 28.11.2005); REsp 256.273-PR (5a T, 22.03.2005 – DJ 06.06.2005); REsp 445.942-RS (5a T, 10.06.2003 – DJ 25.08.2003); REsp 595.858-SP (6a T, 21.10.2004 – DJ 17.12.2004); REsp 596.114-RS (5a T, 21.10.2004 – DJ 22.11.2004); REsp 758.364-SP (5a T, 28.09.2005 – DJ 07.11.2005).

(15)

situações semelhantes e idênticas, quanto a questão de horas de estudos a serem computadas para atingir um dia de trabalho; qual o tipo de estudo, entre outros requisitos para a aplicação da remição de pena pelo estudo. (NUCCI, 2008, p.509).

Como, ainda, não eram estabelecidos os requisitos objetivos e subjetivos de quem teria direito de remir a pena por estudo, bem como não se tinha garantia de que os juízes corregedores atribuiriam a dedução do tempo estudado à contagem de tempo de prisão. É que, no ano de 2008, o Poder Judiciário do Estado do Mato Grosso do Sul reconheceu a Súmula 341, por meio dos juízes Francisco Gerardo e Vitor Luís de Oliveira, que uniformizaram a validade da remição pelo estudo, por meio da frequência em curso de ensino formal para presos do regime fechado e semiaberto a partir da publicação da Portaria n.º 002/2008.6

A partir de então, a remição pelo estudo instituída pela Vara de Execuções Penais, por intermédio da Portaria n. 002/2008, resolveu que um dia da pena seria remido por três dias de estudo, portanto, estabelecia que todo pedido de remição pela escolarização deveria chegar ao juiz acompanhado da frequência e aproveitamento escolar do aluno.

Assim como o judiciário do Estado do Mato Grosso do Sul e do Estado do Rio Grande do Sul, o judiciário de outros estados também acolheram o instituto da remição pelo estudo. Fato que serviu de parâmetro para promulgação da Lei N.º 12.433, do Senador Cristovam Buarque, sancionada pela presidenta Dilma Roussef, em 29 de junho de 2011, que alterou a redação dos artigos 126, 127 e 128 e a inclusão do artigo 129 da Lei de Execução Penal (LEP 7.210/84), ampliando o benefício aos presidiários dos demais estados da federação.

2.2 UMA BREVE ANÁLISE DA REMIÇÃO PENAL A PARTIR DOS PROJETOS DE LEI

É sabido que a população carcerária de nosso país, segundo dados divulgados em agosto de 2018, pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ)7, é considerada a terceira maior em

todo o mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos e China. Ainda assim, o Brasil foi o décimo e último país da América Latina a institucionalizar a remição de pena pelo estudo.8

6 TORRES, Eli Narciso da Silva. A Gênese da Remição de Pena pelo Estudo: o dispositivo jurídico-político e

a garantia do direito à educação aos privados de liberdade no Brasil. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2017. [p.41].

7 CNJ - BNMP 2.0. disponível em:

<https://paineis.cnj.jus.br/QvAJAXZfc/opendoc.htm?document=qvw_l%2FPainelCNJ.qvw&host=QVS%40neo dimio03&anonymous=true&sheet=shBNMPIIMAPA>. Acesso em: 15.abr.2019.

8 TORRES, Eli Narciso da Silva. A Gênese da Remição de Pena pelo Estudo: o dispositivo jurídico-político e

a garantia do direito à educação aos privados de liberdade no Brasil. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2017. [p. 84].

(16)

Com base na mesma entrevista, já citada, realizada com professor Roberto da Silva, Torres (2017) revela que a remição de pena pelo estudo foi pauta recorrente no Congresso Nacional ao longo de várias décadas, tendo tramitado pela primeira vez no ano de 1993, em proposta apresentada pelo Deputado Federal Jose Abrão do PSDB. Tal proposta, se deu quatro meses após a rebelião na Casa de Detenção de São Paulo, conhecida como o massacre do Carandiru (em 02 de outubro de 1992). A partir de então foram apresentados outros 27 Projetos de Lei ao longo de 18 anos.

Inicialmente, as propostas militavam em prol da garantia dos direitos da pessoa humana recolhida em prisão, e, paulatinamente e principalmente nos anos 2000, se mobilizaram efetivamente em torno de reivindicações pela garantia de direitos a educação e, em decorrência, a remição de pena pela educação.

No entanto, o primeiro Projeto de Lei (PL), apresentado em 1993, foi o de N. 216/1993, que previa em seu texto original o desconto de um dia de pena para cada dois dias de trabalho e/ou estudo dos presos em penitenciarias brasileiras. O PL 216/1993 foi aprovado pela Câmara e, então, encaminhado ao Senado Federal para aprovação em dois turnos, porém o texto sofreu alterações e inserção de emendas. Em razão a uma obediência a regra institucional, a nova redação foi submetida a apreciação do Congresso, que a rejeitou. Não havendo conciliação entre a Câmara dos Deputados e o Senado, o Projeto acabou sendo arquivado.

Como já dito, segundo o estudo de Torres (2017), entre os anos de 1993 e 2008, tramitaram no Congresso Nacional, pelo menos, 27 iniciativas parlamentares, de autoria de diferentes agentes e partidos políticos, e estas se encontram relacionadas no quadro 1 a seguir, elaborado pela autora citada.

(17)

Fonte: TORRES, 20179

Entre esses PL, dezesseis foram arquivados em virtude de consecutivos pedidos de vistas, pareceres e emendas. Voltando a entrevista realizada pela autora com o Professor Roberto da Silva, este considera que foi uma: “luta árdua e marcada por embates viscerais entre militâncias de grupos distintos, entre os anos de 1993 a 2008, em busca de construir disposições políticas especificas que conduzissem a aprovação do benefício da remição de pena pela educação”.

(18)

Ainda, conforme a análise de Torres (2017), esses projetos traziam propostas em relação a alteração na Lei de Execução Penal (LEP/84), com o objetivo de reformular a redação do artigo que versava sobre a remição de pena pelo trabalho, procurando incluir a possibilidade de remir a pena pelo estudo, tendo cada proposta critérios diferenciados, porém, com a mesma finalidade: o benefício da progressão de regime penal ao preso estudante.

Entretanto, a maioria destes legisladores se dedicou ao tema de forma pontual, ou seja, sem necessariamente “tomar para si” a causa da educação em espaços de privação de liberdade como uma “bandeira” de luta específica. Desses, destaca-se a proposta do projeto de Lei 265/2006, de autoria do senador Cristovam Buarque, que foi o que veio a se tornar a Lei N.º 12.433, institucionalizando a remição pela educação em 29 de junho de 2011, com a alteração da redação dos artigos 126, 127 e 128 e a inclusão do artigo 129 da Lei de Execução Penal.

Nesse sentindo, procurando ampliar o instituto da remição de pena pelo estudo, visou-se a inclusão da remição de pena pela leitura, para tanto, fora elaborado o Projeto de Lei nº 762/2015 que altera o art. 126 da LEP, para instituir a remição de pena pela leitura, trazendo a seguinte redação: “Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho, estudo ou leitura, parte do tempo de execução da pena.”

A intenção deste projeto de lei, ao instituir a remição de pena pela leitura, é propiciar tanto ao preso que esteja cumprindo sua pena em regime fechado ou semiaberto ou àquele preso de forma cautelar, a possibilidade de, através da leitura, obter o benefício da remição de sua pena, ou seja, diminuir o tempo da execução da sua pena.

Importante ressaltar que, a proposta a ser instituída, a remição de pena pela leitura, além de atender aos pressupostos jurídicos, têm como objetivo atender a demanda da sociedade contemporânea, que está marcada pela busca incansável de conhecimento e informação. Portanto, é imprescindível que o individuo entenda que a leitura é a porta de entrada para sua inclusão social e para melhorar sua formação enquanto sujeito atuante na sociedade.

O referido instituto propicia ao individuo a busca pelo conhecimento, através da prática de leitura, o que por consequência possibilita a formação de uma sociedade conhecedora de seus direitos e deveres, para que assim os cidadãos que a compõem tenham uma visão maior de mundo. Face esse pressuposto, a leitura é uma importante ferramenta a disposição do sujeito que visa o seu crescimento enquanto cidadão conhecedor de seus direitos e apto a exercer sua cidadania.

(19)

A partir de tais pressupostos, em nova modificação, a PL nº 7.528/2017, propõe, também, a alteração da redação do artigo 126 da LEP/84, incluindo o inciso III ao parágrafo 1º, bem como a inclusão do parágrafo 9º.10

Sendo assim, a PL nº 7.528/2017, complementa a proposta do Projeto de Lei nº 762/2015, pois além de prever a ampliação das hipóteses de remição de pena, com a inclusão da leitura, busca disciplinar a metodologia a ser adotada para à aplicação deste instituto de remição de pena. Tal metodologia, visa entre outros, possibilitar ao preso a oportunidade de obter a remição de pena pela leitura, por meio da confecção de resenha crítica de obra literária, clássica, científica ou filosófica, dentre outras; além de incentivar ao preso a leitura, mostrando a este que sua prática é meio facilitador para sua reinserção ao convívio em sociedade.

Ademais, a Educação é direito garantido a todos os cidadãos constitucionalmente e previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos, assim sendo, é função da administração pública proporcionar o livre acesso à educação de qualidade aos cidadãos, inclusive àqueles que se encontram privados do convívio em sociedade.

Posto isto, o PL nº 7.528/2017, cumpre com o seu papel, primordial, de garantir o direito à educação, por meio da leitura, que além de contribuir com a sociedade, irá propiciar que o condenado ou o preso cautelar possa diminuir a sua pena e influir em sua ressocialização, fato este que influi diretamente nas questões relacionadas à superlotação carcerária brasileira.

10 PL nº 7.528/2017: Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir,

por trabalho, por estudo ou por leitura de obra literária, clássica, científica ou filosófica, dentre outras, parte do tempo de execução da pena.

§1º. A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de: [...]

III - 4 (quatro) dias de sua pena e ao final de até 12 (doze) obras efetivamente lidas e avaliadas, a possibilidade de remir 48 (quarenta e oito) dias, no prazo de 12 (doze) meses.

[...]

§9º. O preso terá o prazo de 21 (vinte e um) a 30 (trinta) dias para a leitura da obra, apresentando ao final do período resenha escrita a respeito do assunto, que será avaliada por comissão formada por profissionais de ensino no âmbito da unidade prisional.

(20)

3 OFICINAS LITERÁRIAS: UMA NOVA CONFIGURAÇÃO DA REMIÇÃO DE PENA

Este capítulo objetiva debater o instituto da remição de pena pelo trabalho e pelo estudo, conforme constante no artigo 126 e seguintes da Lei de Execução Penal, com enfoque na remição de pena pela educação, que abarca a leitura de obras literárias, admitida pela Recomendação n.º 44/2013 do Conselho Nacional de Justiça, que disciplina a matéria.

Primeiramente, se faz necessário destacar que, a Lei n. 12.433/11 alterou a redação dos artigos 126, 127 e 128, bem como incluiu o artigo 129 da Lei n. 7.210/84 (LEP), possibilitando a remição de pena pelo estudo aos presos nos regimes fechado e semiaberto. Permitindo a remição de um dia de pena a cada doze horas de frequência escolar.

Após a referida mudança na LEP, surgiu a primeira iniciativa de âmbito nacional, para permitir a remição de pena pela leitura, com a Portaria Conjunta n. 276/2012 do Conselho da Justiça Federal (CJF) e da Diretoria Geral do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), pertencentes ao Ministério da Justiça. A Portaria Conjunta n. 276/2012 disciplinou o projeto de remição de pena pela leitura para os presos de regime fechado custodiados em penitenciárias federais de segurança máxima.11

No ano seguinte, o CNJ, considerando a portaria já existente, editou a Recomendação n.º 44, que trata das atividades educacionais complementares para fins de remição da pena pelo estudo e estabelece critérios para a admissão pela leitura. A edição da Recomendação foi solicitada ao CNJ pelos Ministérios da Justiça e da Educação, pois como a LEP não detalhou quais seriam as atividades complementares para remição da pena pelo estudo, havia entendimentos distintos na esfera judicial.

Neste sentido, a definição de remição, prevista na LEP, é interpretada por Bittencourt (2017, p.654), que diz:

Remir significa resgatar, abater, descontar, pelo trabalho realizado dentro do

sistema prisional, parte do tempo de pena a cumprir [...] Significa que, pelo trabalho (agora também pelo estudo), o condenado fica desobrigado de cumprir determinado tempo de pena. Remição com “ç” (desobrigação, resgate) não se confunde com remição com “ss”, que tem o significado de perdão.

Corroborando com o acima mencionado Nucci (2015, p. 982) assevera que remição de pena “é o desconto do tempo de pena privativa de liberdade pelo trabalho ou estudo, na proporção de três dias trabalhados ou de estudo por um dia de pena (art. 126, §1º, I e II, LEP)”.

11 Portaria Conjunta n. 276/2012. Disponível em:

(21)

Através do instituto da remição é que o preso tem a possibilidade de ter sua pena reduzida, entretanto, para que isso ocorra faz-se necessário que o sentenciado se dedique de forma rotineira ao trabalho e/ou estudo, observando sempre o previsto nos artigos 126 e seguintes da Lei de Execução Penal.

Reforçando o acima mencionado, Mirabete (2000, p. 50), assinala que, o instituto ora em comento, é uma forma de diminuir ou extinguir parte da pena atribuída ao preso. Ao preso é ofertado um estímulo para este se corrigir, e em troca o tempo de cumprimento de sua sanção é abreviado, para que dessa forma possa progredir de regime e/ou à liberdade condicional.

Em razão disso, o magistrado da execução penal é o responsável por declarar a remição da pena, ato este que é fiscalizado pelo Ministério Público, de acordo com o disposto nos artigos 66, inciso III, alínea c e artigo 67 da Lei de Execução Penal.

Segundo Moraes e Smanio (1999, p. 186 apud MARCÃO, 2012, p. 140):

Não tem direito à remição o agente que está submetido à medida de segurança de internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, ainda que essa internação possa ser objeto de detração penal, pois o sentenciado não estará cumprindo a pena segundo as regras do regime fechado ou semiaberto, expostas no caput do art. 126 da LEP.

A remição de pena tem por objetivo flexibilizar a execução das penas privativas de liberdade, possui caráter individualizador, sendo que a individualização é vista como uma adaptação da pena em sentido abstrato. Têm-se ainda que a remição é um meio de individualizar a pena atribuída ao sentenciado, uma vez que este instituto visa reduzir a severidade da intervenção penal e diminuir os efeitos dessocializadores (que o cumprimento da pena privativa de liberdade nos estabelecimentos prisionais causam aos apenados), permitindo o retorno mais rápido do preso ao convívio com a sociedade (BARROS, 2001, p. 183).

Em tempo, a Lei de Execução Penal traz em seu bojo a remição da pena pelo trabalho e pelo estudo, sabendo que mesmo antes da edição da lei, o instituto da remição já era reconhecido pela jurisprudência de nossos tribunais, assemelhando o estudo ao trabalho.

Neste tocante, a remição é um benefício contabilizado à medida que o preso trabalha ou estuda. Essa contabilização deve operar no subjetivismo dele, preso, como um estímulo para persistir enquadrado em boa conduta. É dizer: à medida que visualiza os dias que lhe são contabilizados favoravelmente, o preso vai se convencendo de que não interessa transgredir as regras inerentes à execução da pena, sob o risco de perder parte daquilo que já acumulou. O reconhecimento total da remição da pena constitui expectativa de direito condicionada ao preenchimento dos requisitos legais (MASSON, 2014).

(22)

É cediço que para que haja a possibilidade da remição da pena pelo trabalho, a qual está disciplinada pelo artigo 126, §1º, inciso II da Lei 7.210/84, não basta tão somente o trabalho esporádico ou ocasional do preso, é imprescindível se ter certeza da efetividade do laboro, assim como conhecimento dos dias trabalhados, é imposto ainda que a atividade laboral seja ordenada, empresarial, e, sobretudo, que seja remunerada, o que garante ao preso os benefícios da Previdência Social, com o intuito de proporcionar educação ao preso, equiparando assim o e presídio com uma verdadeira empresa.

Face a esse pressuposto Marcão (2012, p. 141) assinala que:

para o deferimento do pedido de remição de pena, necessário se faz o cômputo preciso dos dias em que o preso labutou, excluídos os dias do descanso obrigatório e aqueles em que a atividade laborativa foi inferior a seis horas, vedadas compensações. Tal exigência objetiva, justamente, evitar a ocorrência de fraudes.

É fundamental que os dias trabalhados sejam devidamente comprovados mediante a apresentação de um atestado que satisfaça tudo que a legislação exige para o fim a que se destina, deve constar quais os dias que o preso efetivamente laborou e se não houve qualquer tipo de falta. Para isso, o atestado firmado pelo diretor de um estabelecimento penal possui plena idoneidade, tratando-se de presunção juris tantum, uma vez que os documentos provenientes da Administração Pública possuem validade até que surja alguma prova em contrário.

Ademais, para ampliar os direitos dos presos e com o propósito de atender ao objetivo das sanções penais, que é a ressocialização e reinserção do indivíduo preso à sociedade, o instituto de remição, que antes era realizado apenas pelo trabalho, fora complementado com o estudo/leitura, é uma temática que vem sendo discutida há alguns anos no país.

No passado, o estudo era visto e tratado como uma forma de produção, assim como o trabalho. E por analogia, através do estudo, o preso poderia remir a pena, pois se interpretava que havia a produção intelectual desse indivíduo. Motivo que ocasionou à normatização desse instituto por meio da Lei n. 12.433/2011, que entrou em vigor no dia 29 de junho de 2011. Modificou o texto dos artigos do Capítulo VII, Seção IV da Lei de Execução Penal.

Por conseguinte, nessa toada, a leitura, vista como atividade de ensino/estudo, fora admitida no dia 26 de novembro de 2013 pelo Conselho Nacional de Justiça, por ato administrativo, que dispõe sobre atividades educacionais complementares para fins de remição da pena pelo estudo e estabelece critérios para a admissão pela leitura, via Recomendação n.º 44.

(23)

Em suma, a possibilidade de remir a pena pelo estudo foi concretizada a partir da normatização desse instituto por meio da Lei n. 12.433/2011, que entrou em vigor no dia 29 de junho de 2011 e modificou o texto dos artigos do Capítulo VII, Seção IV da Lei de Execução Penal. Por consequência, a leitura, atualmente, vista como forma assemelhada de remição da pena pelo estudo, veio a ser admitida pela Recomendação n.º 44/2013 do Conselho Nacional de Justiça que dispõe sobre atividades educacionais complementares para fins de remição da pena pelo estudo.

3.1 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL QUE NORTEIAM A REMIÇÃO

O instituto de remição de pena, previsto no Capítulo VII, Seção IV da Lei de Execução Penal (LEP), bem como a remição de pena pela leitura, aplicada analogamente à remição pelo estudo, conforme Recomendação n.º 44/2013 do Conselho Nacional de Justiça, é permeado pelos princípios gerais do direito penal, tais quais serão explanados à seguir.

O princípio da legalidade afirma a necessidade de limitação do poder absoluto do Estado no Estado Democrático de Direito, prevendo a existência prévia de critérios legais que possam atingir o indivíduo, de forma que não fique à mercê dos desejos estatais.

No ordenamento jurídico brasileiro, a Constituição Federal assim o declara (art. 5º, XXXIX): “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Tal premissa, em sentido estrito, significa que só por meio de lei em sentido estrito, votada e aprovada na forma prevista na Constituição, anterior à prática dos fatos, o Estado poderá dispor sobre direito penal, definindo crimes e cominando penas.

Além da previsão constitucional, em razão da importância do referido princípio na defesa dos direitos dos cidadãos, principalmente no que tange à sua liberdade, encontra-se presente no Código Penal brasileiro desde o diploma de 1830, até o atual Código Penal Brasileiro de 1940, que dispõe: “Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”.

O doutrinador Paulo Bonavides, revela a importância do princípio da legalidade como base do ordenamento democrático:

O princípio da legalidade nasceu do anseio de estabelecer na sociedade humana regras permanentes e válidas, que fossem obra da razão, e pudessem abrigar os indivíduos de uma conduta arbitraria e imprevisível da parte dos governantes. Tinha-se em vista alcançar um estado geral de confiança e certeza na ação dos titulares do poder, evitando-se assim a dúvida, a intranquilidade, a desconfiança e a suspeição, tão usuais onde o poder é

(24)

absoluto, onde o governo se acha dotado de uma vontade pessoal soberana ou se reputa legibus solutus e onde, enfim, as regras de convivência não foram previamente elaboradas nem reconhecidas (1994, p. 112).

Tal viés limitador permeia todo o ordenamento jurídico, e diversos ramos do Direito, contudo, mostra-se essencial e peculiar no âmbito penal, pela limitação do jus puniendi estatal frente à privação da liberdade do indivíduo, que por ser medida tão extrema requer uma limitação clara de até aonde vai (ou onde começa) o poder-dever de punir.

Assim, o princípio da legalidade é a base para um sistema penal racional e justo. Nesse sentido Queiroz (2005, p. 26) afirma que:

Semelhante princípio atende, pois, a uma necessidade de segurança jurídica e de controle do exercício do jus puniendi, de modo a coibir possíveis abusos à liberdade individual por parte do titular desse poder (o Estado). Consiste, portanto, constitucionalmente, uma poderosa garantia política para o cidadão, expressiva do imperium da lei, da supremacia do Poder Legislativo – e da soberania popular – sobre os outros poderes do Estado, de legalidade da atuação administrativa e da escrupulosa salvaguardados direito e liberdade individuais.

Desta forma, o princípio da legalidade penal assegura a possibilidade do prévio conhecimento dos crimes e das penas, de forma a garantir que o cidadão não seja submetido a coerção penal distinta daquela predisposta em lei, nem à sanção por crime que passa a ser previsto no ordenamento posteriormente à prática deste pelo indivíduo (BATISTA, 2004, p. 67).

O princípio da legalidade está ligado aos critérios da proporcionalidade, servindo, também, como balança no âmbito probatório já que regula o que é permitido trazer para a processualística, podendo ser invocado subsidiariamente na obtenção da prova. Desta forma, o princípio em questão é desdobramento do princípio do devido processo legal, ou seja, havendo alguma colheita de prova ilícita ou ilegítima acarretará em nulidade ou inadmissibilidade, por ser ilegal.

Como colocado anteriormente, o princípio da proporcionalidade tem como pressuposto formal o princípio da legalidade, e como pressuposto material o princípio da justificação teleológica. O princípio da legalidade processual, desdobramento do princípio geral da legalidade (CF, art.5º, incisos II e LIV), demanda tanto a regulamentação, por lei, dos direitos exercitáveis durante o processo, como também a autorização e a regulamentação de qualquer intromissão na esfera dos direitos e liberdades dos cidadãos, efetuada por ocasião de um processo penal. Logo, por força do princípio da legalidade, todas as medidas restritivas de direitos fundamentais deverão ser previstas por lei (nulla coactio sine lege), que deve ser escrita,

(25)

estrita e prévia. Evita-se, assim, que o Estado realize atuações arbitrárias, a pretexto de aplicar o princípio da proporcionalidade (LIMA, 2016).

Seguindo esse raciocínio, outro fator muito importante diz respeito ao momento da ilegalidade: a prova ilícita está atrelada ao momento da obtenção (que antecede a fase processual) e complementa-se ainda que qualquer violação ao devido processo legal, em síntese, conduz à invalidade da prova. Diante disto percebe-se claramente que o princípio da legalidade regula a prova dentro do processo, inclusive as provas ilícitas (GOMES, 2011, n. p.).

Ainda, segundo Leão (2014, n. p.) exemplificava o explanado:

Podemos ainda citar a exceção referente à prova benéfica em prol do acusado, já pacificamente aplicada no direito brasileiro, e a relativa à prova obtida com ilícito praticado por pessoas que não fazem parte do órgão policial, o que mais uma vez denota a já mencionada essência da Exclusionary Rule norte-americana, que visa conter as ilegalidades cometidas pelas autoridades.

Nesta seara, entende-se que o princípio da legalidade em relação ao Estado de Direito, é justamente aquele que o qualifica e que lhe dá identidade própria, pois ele representa a submissão do Estado à lei (MENDES, 2012, p.1162). Assim, o Estado tem o dever de agir dentro da legalidade, não podendo aceitar qualquer exacerbação aos direitos fundamentais do réu, inclusive o de não ser condenado baseado em provas ilegais.

Ultimara-se que este princípio da legalidade está regulando todos os atos dos agentes públicos, policiais, Ministério Público, Juiz, e como servidores públicos devem ater-se a um andamento do processo imaculado de qualquer ilegalidade, seja na obtenção da prova ou nos atos processuais.

Outro princípio é o da humanidade, que no Direito Penal é o responsável por impedir que seja adotada a pena capital e a prisão perpétua no Brasil. Segundo este princípio, o Estado não pode aplicar, através de seu poder punitivo, aos condenados, sanções que atinjam sua dignidade ou ainda que tragam algum malefício para a constituição físico-psíquica destes.

Zafforini (1991, p. 139 apud BITENCOURT, XXX, p. 128) asseveram que o principio ora em comento determina:

A inconstitucionalidade de qualquer pena ou consequência do delito que crie uma deficiência física (morte, amputação, castração ou esterilização, intervenção neurológica etc.), como também qualquer consequência jurídica inapagável do delito.

Diante disso, Capez (2012, p. 37), assinala que, tanto a criação quanto a cominação de qualquer tipo de pena que visa atentar de forma desnecessária a incolumidade física e moral do condenado, tal atitude é considerada inconstitucional, uma vez que agindo dessa forma estará

(26)

o Estado restringindo determinados direitos garantidos constitucionalmente a todos indivíduos e, quando exigido para a proteção do bem jurídico.

Em consequência desse princípio é proibido que a pena ultrapasse a pessoa do condenado, ressalvados determinados efeitos extrapenais da condenação, como por exemplo, a obrigação deste de reparar o dano causado na vitima na esfera cível, podendo ser atingidos portanto, os herdeiros do condenado até os limites de seu quinhão na herança, conforme previsto no artigo 5º, inciso XLV da Constituição Federal. 12

Este princípio é decorrente da dignidade da pessoa humana13, que encontra-se

consagrada do artigo 1º, inciso III, da Carta Magna Brasileira, como pilar da República Federativa do Brasil. É com fulcro nesse e em outros princípios, que o Supremo Tribunal Federal – STF, declarou ser inconstitucional o regime integralmente fechado para o cumprimento da pena privativa de liberdade para os crimes hediondos e os que a ele forem equiparados, o que foi superado com e a edição da Lei 11.464/2007 (MASSON, 2014, p. 106). Como princípio, a dignidade da pessoa humana, é um valor subjacente às numerosas regras de direito, daí a razão de ser da proibição de toda ofensa à dignidade da pessoa, já que ela representa uma questão de respeito ao ser humano, e que leva o direito positivo a protegê-la, a garanti-la e a vedar atos que podem de algum modo levar à sua violação, inclusive na esfera dos direitos sociais (MORAES, 2007, p. 46-47).

Mais do que uma garantia fundamental, a dignidade da pessoa humana, é um princípio que serve de base para todo o ordenamento jurídico pátrio bem como para nortear as condutas dos agentes públicos e sociais. Conforme leciona o jurista Silva (2017, p. 200), temos que:

A dignidade da pessoa humana encontra-se no epicentro da ordem jurídica brasileira tendo em vista que concebe a valorização da pessoa humana como sendo razão fundamental para a estrutura de organização do Estado e para o Direito.

Ainda, nesse mesmo sentido, Moraes (2015, p. 140), nos dá conta que:

A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável

12 CF/88: Art. 5º [...]

XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens se, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido. (BRASIL, 2011, p. 22)

13 CF/88: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e

do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...]

(27)

da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos.

Há de se notar que a dignidade humana, insculpida pela Carta Política em seu art. 1º, inciso III, não foi criada pelo Legislador Constituinte, mas sim, recepcionada por ele e, atuando sobre toda a ordem jurídica, o princípio em apreço funciona como verdadeira cláusula geral de tutela da pessoa, que contém em seu cerne a igualdade, a integridade psicofísica, a liberdade e a solidariedade, de modo a proteger o ser humano mesmo precedente ao nascimento.

O legislador constituinte elevou à categoria de princípio fundamental da República, à dignidade da pessoa humana (um dos pilares estruturais fundamentais da organização do Estado brasileiro), previsto no art. 1º, inciso III da Constituição de 1988. Cabe aqui dizer que, agir com respeito à dignidade da pessoa é uma forma de garantir a consecução dos demais princípios, direitos e garantias fundamentais reservados para a mesma na Carta Magna.

Com isso, vê-se que a dignidade da pessoa humana atribui integração aos direitos e garantias fundamentais das pessoas, sendo considerado um valor espiritual e moral inerente a ela, que se desponta na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que guarda consigo a aspiração ao acatamento por parte de outras pessoas. É, por assim dizer, um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar em favor dos seus (MORAES, 2015).

Esse primado constitui um critério para a conexão da ordem constitucional e condiciona a aplicação do direito positivo; é a partir dessa dignidade que se faz, quando necessária, a avaliação entre interesses constitucionais. Por meio desse princípio, o Estado deve, de forma integral, assegurar o exercício da liberdade pessoal e do livre arbítrio, mormente, porque a dignidade humana tem o propósito de valorizar o homem como ser singular, sujeito autônomo de deliberação moral. Ele adapta o bem comum por meio da livre opção dos membros da coletividade (ZIMMERMANN, 2006).

Como se pode compreender, a dignidade da pessoa humana, de um modo geral, se trata de um valor supremo de um ordenamento jurídico, que atrai o conteúdo e constitui o núcleo essencial de todos os direitos fundamentais do homem, sendo admitida na doutrina ora como valor supremo do ordenamento jurídico, ora como princípio.

Por fim, temos o princípio da individualização da pena na execução penal, que está previsto no artigo 5º, inciso XLVI da Constituição Federal14, está embasado no principio de

14 Art. 5º [...]:

(28)

justiça, trata-se da garantia de que as penas aplicadas aos condenados não sejam igualadas, mesmo que tenha sido praticados os mesmos delitos, pois o que deve ser levado em consideração, além da conduta, é o histórico pessoal de cada agente, assim sendo, deve então a cada um ser aplicada a pena que lhe cabe, respeitando sempre as diferenças existentes entre eles, objetivando à adequação as suas condições e necessidades, bem como sua reinserção social.

Este princípio também está previsto no artigo 34 do Código Penal Brasileiro “O condenado será submetido, no início do cumprimento da pena, a exame criminológico de classificação para individualização da execução. (Artigo com redação dada pela Lei n. 7.209/84), (CAPEZ, 2012, p. 135); assim como encontra-se também inserido na Lei de Execuções Penais (LEP), nos artigos 5º e 8º respectivamente: “Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal” e “O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da execução.”; no artigo 41, XII “igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena” e no artigo 92, parágrafo único, alínea b “o limite de capacidade máxima que atenda os objetivos de individualização da pena”. (BRASIL, 1984, n. p.).

Importante esclarecer, que o princípio: individualização da pena, ocorre em três planos, quais sejam, legislativo, judicial e administrativo. No plano legislativo, também denominado de individualização legislativa ou formal, ocorre quando o legislador descreve o tipo penal e indica quais as sanções penais são mais indicadas, determinando de maneira precisa seus limites (máximo e mínimo), as condições aptas para determinar o aumento ou a diminuição das penas cabíveis (PRADO, 2017).

A individualização da pena no âmbito judicial surge como um adendo do plano legislativo, uma vez que aquele não pode ser extremamente detalhista, nem tampouco possui a capacidade de prever todas as ocorrências da vida concreta que possam dar ensejo ao aumento ou a diminuição da sanção penal.

Portanto, a individualização da pena é efetivada pelo juiz, quando aplica a pena, utilizando-se de todos os instrumentais fornecidos pelos autos da ação penal, em obediência ao

a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens;

c) multa;

d) prestação social alternativa;

(29)

sistema trifásico delineado pelo art. 68 do Código Penal (pena privativa de liberdade), ou ainda ao sistema bifásico inerente à sanção pecuniária (CP, art. 49) (MASSON, 2014).

Por derradeiro, a individualização administrativa é efetuada durante a execução da pena, quando o Estado deve zelar por cada condenado de forma singular, mediante tratamento penitenciário ou sistema alternativo no qual se afigure possível a integral realização das finalidades da pena: retribuição, prevenção (geral e especial) e ressocialização (MASSON, 2014).

3.2 REMIÇÃO E O SISTEMA PROGRESSIVO DA PENA

A remição tem ligação direta com o sistema progressivo de cumprimento de pena, adotado pelo ordenamento jurídico brasileiro. O cumprimento progressivo, de um sistema penitenciário, propicia a gradual reinserção social do preso, mediante progressão para um regime de cumprimento de pena menos severo, alcançado por mérito, por meio de análise de requisitos de ordem objetiva e subjetiva.

Segundo a lição de Cunha (2016, p. 144):

Sistema progressivo de cumprimento de pena - Levando em conta a finalidade reeducativa (ressocializadora) da pena, a progressão de regime consiste na execução da reprimenda privativa de liberdade de forma a permitir a transferência do reeducando para regime menos rigoroso (mutação de regime), desde que cumpridos determinados requisitos.

O sistema progressivo de cumprimento de pena é oriundo do sistema penitenciário progressivo, tido como uma evolução dos sistemas penitenciários mais antigos e primitivos, na medida em que contempla uma nova visão da pena, voltada para a ressocialização do preso, e não apenas sua segregação social. Na visão criminológica referente ao sistema penitenciário progressivo, assevera Fernandes e Fernandes (2010, p. 570):

Mais brando que os regimes pensilvânico e auburniano é o sistema penitenciário progressivo, que tende a tornar a vida prisional cada vez menos rigorosa, à medida que a sentença se aproxima de seu término. Inicialmente, foi adorado em 1854, nas prisões da Irlanda. Nesse sistema, tudo fica condicionado ao binómio conduta-trabalho. Compreende quatro etapas: período inicial ou de prova, com prazo indeterminado, em que o condenado fica enclausurado na cela; período de encarceramento no turno combinado com trabalho coletivo durante o dia; trabalho em semiliberdade, extramuros; liberdade condicional sob fiscalização. O sistema penitenciário progressivo parece satisfatório, sobretudo quando se trata de penas de longa duração. Propiciando, sem maior rigorismo, ciclos de suavização da pena que podem

(30)

culminar com a normal reinserção comunitária do preso quando em liberdade, o sistema penitenciário progressivo é adorado por quase todos os países adiantados do mundo: Inglaterra, Suíça, Dinamarca, Holanda, França, Itália, Espanha, Portugal, Irlanda, Argentina etc. O Brasil consagrou o sistema progressivo, fazendo-o, todavia, com feição peculiar visto que a pena de detenção não permite todas as fases desse modelo prisional. É a pena de reclusão que faz com que nosso ordenamento penal contemple o sistema penitenciário progressivo.

Assim, o cumprimento progressivo de pena busca a desinstitucionalização progressiva do indivíduo, de forma a prepará-lo, de forma gradual, para a volta ao convívio social.

Cada estágio do cumprimento de pena, que no Brasil, se divide em regime fechado, semiaberto e aberto, passa pela análise objetiva e subjetiva, que analisa a capacidade de progressão de regime do preso. Sendo que, a análise subjetiva, busca averiguar o comportamento carcerário do indivíduo, de forma a analisar sua capacidade de bom comportamento no retorno progressivo ao convívio social. E o requisito objetivo analisa se o tempo de pena cumprido é suficiente para a progressão de regime, conforme disposto em lei, quanto aos requisitos mínimos para inserção em regime mais benéfico.

O sistema progressivo de pena funciona como método de reeducação do preso, através de sua desinstitucionalização progressiva, de forma individualizada e meritória. É também um importante instrumento de política carcerária, na medida em que racionaliza o fluxo do superlotado sistema carcerário brasileiro.

Sob a ótica criminológica, tanto o sistema progressivo de cumprimento de pena quanto a remição, possuem forte ligação com a teoria do labelling approach (ou interacionista ou da reação social), enquanto teoria do conflito que desloca o problema criminológico da ação (crime) para a reação (social).

A teoria do interacionismo assevera a necessidade de desinstitucionalização do preso e o afastamento de cerimônias degradantes e segregadoras, objetivando a utilização de medidas que visem aproximar o indivíduo do convívio social ao invés de afastá-lo, função esta que a progressão de regime e a remição de pena buscam efetivar no sistema carcerário.

A remição, se apresenta ainda, como um instrumento de prevenção terciária, através da atuação do Estado no criminoso, com o fito de ressocializá-lo, seja diminuindo o tempo de pena e aproximando-o do convívio social, bem como proporcionando atividades construtivas e benéficas à vida social como o trabalho, o estudo e a leitura.

Assim, quando da análise do requisito objetivo, a remição é um importante instrumento que auxilia o indivíduo a alcançar mais rapidamente o tempo mínimo de cumprimento de pena para a progressão de regime. Se o sistema progressivo de pena permite a ressocialização gradual

(31)

do preso e se consubstancia em verdadeiro instrumento de política carcerária, a remição é instituto que visa acelerar esse processo, através do trabalho, do estudo e da leitura.

3.3 A EXECUÇÃO PENAL DA REMIÇÃO

A Lei de Execução Penal, visando estabelecer condições harmônicas para reintegrar o preso à sociedade, instaurou direitos e institutos capazes de auxiliar na persecução da finalidade de reintegração. Destaca-se, assim, o direito ao trabalho, ao estudo, bem como instituto da remição penal, que fomenta o exercício de tais atividades, assim sendo, será abordado de forma mais ampla neste tópico, o instituto da remição pelo estudo e analogamente a este a remição pela leitura.

Inicialmente, importa destacar que, ao consultar as principais doutrinas, realizar uma breve análise das jurisprudências dos tribunais e examinar a legislação, relacionadas ao tema proposto, nota-se a escassez do assunto nessas fontes de direito. No entanto, há discussões muito recentes por todas as instâncias, que buscam a efetivação da aplicação da Lei n. 12.433/2011, que entrou em vigor no dia 29 de junho de 2011 e modificou a redação dos artigos 126, 127 e 128, e incluiu o artigo 129 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal), que passou a permitir, além do trabalho, o estudo, como remição de pena.

Paralelamente à remição pelo estudo, a leitura, também considerada pelos tribunais como forma de produção intelectual, mais adaptável à realidade das penitenciárias nacionais, afinal o indivíduo preso pode realizar a leitura e produzir sua resenha até mesmo dentro da cela, fora admitida pela Recomendação n.º 44/2013 do Conselho Nacional de Justiça.

A remição por estudo ou por leitura, aplicada por meio da execução da pena, pode ser determinante para a recuperação do indivíduo preso, no sentido que, a remição pode ser apenas o início de uma nova trajetória de vida para o sujeito preso, que pode visualizar a fuga da criminalidade por meio do estudo, pois além de oportunizar ao indivíduo o encurtamento da pena, a remição por estudo/leitura pode motivar o indivíduo para o retorno da convivência em sociedade por caminhos de novas oportunidades.

Como assevera Carmen Silvia de Moraes Barros, “o preso, como trabalhador, identifica-se com a sociedade. O homem livre trabalha, o preso também.” (2001, p.188), visão essa que fortalece a ideia de que a remição é fundamental para a reintegração social, já que o estudo é assemelhado ao trabalho, pela legislação vigente, visto como produção intelectual do indivíduo. Ademais, busca-se com o referido instituto, garantir o princípio constitucional da

Referências

Documentos relacionados

apontarem a importância das empresas juniores no desenvolvimento de competências empreendedoras de seus membros, existe a necessidade de realizar mais estudos sobre o

No segundo capítulo analisamos as garantias constitucionais sobre a política de saúde no Brasil, as legislações referentes às pessoas acometidas pela hanseníase,

homogenato de ovos de Rhipicephalus microplus do grupo controle e do terceiro dia de postura de fêmeas tratadas com Metarhizium anisopliae s.l.2. Cromatogramas do

b) De verificação – A juízo do CDT, do Superintendente do Serviço de Registro Genealógico ou do MAPA, ou realizada de acordo com plano anual para verificação dos rebanhos. 106º

O objetivo do presente estudo foi conhecer os principais agentes etiológicos causadores de bacteremias no Hospital Universitário Júlio Müller no ano de 2007,

Associação “(...) durará por tempo indeterminado e compor-se-á de ilimitado número de sócios e sócias que professem a religião israelita”6 7 Algumas hipóteses poderiam ser

O nosso propósito foi estudar alguns detalhes da biologia e ecologia do agente causal da ferrugem da pimenta e pimentão (Capsicum spp.), Puccinia pampeana Speg. Essa ferrugem

Sem deixar de reconhecer a importância fundamental do atual ferramental disponível aos Gerentes de Projeto, seja através da disponibilidade de softwares específicos para suportar