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A trilogia de Wolfgang Koeppen : um discurso de resistência

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Academic year: 2021

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A T R I L O G I A DE

WOLFGANG KOEPPEN

DISCURSO DE RESISTÊNCIA

PORTO 1 9 8 7

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A T R I L O G I A DE

WOLFGANG KOEPPEN

DISCURSO DE RESISTÊNCIA

P O R T O 1 9 8 7

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PREFÁCIO

O trabalho que aqui se apresenta constitui uma análise de três romances do pós-guerra do escritor alemão Wolfgang Koeppen.

Wolfgang Koeppen ê um autor praticamente desconhecido em Por_ tugal. Nascido em 1906, so se volta para a ficção em 1934, depois de ter exercido muitas actividades, das quais a mais importante foi a de jornalista cultural. Contudo, apenas se torna conhecido nos meios literários com os romances escritos entre 1951 e 1954 e que consti-tuem o "corpus" desta tese: Tauben im Gras, Das Treibhaus e Der Tod in Rom. Depois desta incursão pelo romance, Koeppen abandona a fic-ção, escrevendo reportagens de viagens, entre 1958 e 1961 (Nach Russland und anderswohin, Amerikafahrt e Reisen nach Frankreich). Após um longo silêncio, sõ cortado por pequenos textos em prosa, al-guns dos quais reunidos na colectânea Roman isches Café, de 1972, publi ca, em 1976, o texto ficcional com características autobiográficas Jugend. Em 1986, Marcel Reich Ranicki, em colaboração com Dagmar von

Briel e Hans-Ulrich Treichel, edita as obras completas de Koeppen em seis volumes.

0 reconhecimento do valor literário de Koeppen foi tardio . Os seus dois romances publicados em 1934 (Eine ungltlckliche Liebe) e 1935 (Pie Mauer schwankt) passaram totalmente despercebidos. Os três romances dos anos 50 tiveram inicialmente uma recepção negativa. E foi sobretudo nos anos 60, quando o autor já deixara de publicar obras ficcionais, que a crítica lhe começa a ser mais favorável. 0 clima literário havia mudado, passa-se a louvar Koeppen e são-lhe atribuídos vários prémios, apesar de quase nada publicar.

So recentemente têm surgido obras sobre Koeppen. Datam de 1973 os primeiros estudos inteiramente dedicados ao autor: trata-se das monografias de Dietrich Erlach e de Manfred Koch. Seguiu-se, em

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1978, um estudo de Jean-Paul Mauranges focando essencialmente a te mática das viagens na obra do autor. So nos anos 80 e que a Germa-nistica internacional se voltou para Koeppen, com trabalhos que analisam aspectos temáticas globais (Richard Gunn, Hartmut Buch-holz) ou parciais (Stanley Craven, Bernhard Uske) ou que traçam a evolução interior das personagens (Carole Hanbidge), ou que focam um ou outro romance em particular (Thomas Richner, Karl-Heinz Gtftze). A estes trabalhos juntam-se, naturalmente, vários artigos em revistas da especialidade.

Todos vêem em Wolfgang Koeppen um crítico da evolução so-cio-política do põs-guerra da R.F.A., embora dando importância di-ferente a este facto. Em artigo anteriormente publicado, estudamos a questão de se considerar este autor como um autor político, pre-cisamente pela sua incidência temática .

Nesta dissertação procuraremos mostrar que os três roman-ces que nos ocupam constituem um discurso de resistência de Wolf-gang Koeppen face a uma realidade histórica e social, em particu-lar face a um discurso colectivo que representa valores de que Koeppen se distancia. Depois do silêncio (após 1935) como forma de luta contra o nacional-socialismo, o autor retoma a sua voz em 1951 para produzir um discurso muito critico em relação aos valo-res dominantes nos primeiros anos da era de Adenauer. A ficção sob a forma do romance é o tipo de discurso que lhe parece mais adequa do para exprimir a sua visão crítica. Essa crítica ê transmitida quer pelas situações narrativas quer pela criação de personagens e figuras que resistem ou tentam resistir ao discurso colectivo, aos valores por ele transmitidos. Essas personagens procuram, cada um ã sua maneira, a sua própria voz, mas a sociedade impede ou di-ficulta um discurso próprio. Os indivíduos acabam por ser vitimas da sua atitude de procura: querem realizar-se pela comunicação e o

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resultado é incapacidade comunicativa, o que implica incapacidade de realização.

A nossa análise procurará mostrar que através do complexo temático e também da própria estrutura romanesca Koeppen transmite ao leitor uma visão da incomunicabilidade ou da dificuldade de co-municação verdadeira, que tem a sua razão de ser em factores, quer

exteriores quer interiores das diferentes personagens. A dificulda de ou impossibilidade comunicativa entre as personagens revela-se no difícil relacionamento entre elas e entre os seus mundos e os seus passados respectivos. Este facto só é consciente nas persona-gens com quem o narrador (e o autor abstracto) de um ou outro modo simpatizam. Como veremos, para o autor a verdadeira comunicação não corresponde a simples transmissão de palavras de um sujeito pa ra outro, pois muitas vezes o comunicado não ë mais do que a repro dução do discurso colectivo massificado. Para Koeppen há ainda al-guma possibilidade de comunicação entre pessoas/personagens que partilham das mesmas preocupações estéticas e artísticas e que re-sistem, ou tentam resistir, de modos diferentes, aos valores domi-nantes.

Tendo em conta tudo isto, é natural que a recepção dos tex tos de Koeppen não tenha sido muito favorável numa época em que os discursos críticos não eram bem aceites. Tal justifica a posição de marginalidade do autor no panorama literário da República Fede-ral da Alemanha na primeira metade dos anos 50 e que só nos anos 60 veio a diminuir. No capítulo 1 deste trabalho procuraremos, de modo muito sucinto, mostrar essa posição relativamente à produção literária do autor, sobretudo até 1955 e o modo como foi recepcio-nado pela crítica. Serão também apresentados alguns dados da recep_ ção dos romances até aos nossos dias, mostrar a evolução operada na crítica face a obra koeppeniana.

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A análise a que submeteremos o "corpus" deste trabalho obe-dece a determinados pressupostos teóricos e metodológicos sobre o funcionamento do texto literário, nomeadamente os ligados ãs teo-rias da comunicação narrativa, que apresentaremos no capítulo 2. 0 ponto central do modelo proposto e que foi sobretudo desenvolvido a partir das teorias de Dieter Janik e Aleksandra Okopien-Slawins-ka, reside na proposta de que a comunicação literária, quer intra-textual quer extraintra-textual, se processa em diferentes níveis, geran do-se um jogo de estratégias entre os vários níveis, que funciona como uma instrução de leitura. 0 leitor e levado a participar acti-vamente na re-construção do texto, tendo em conta a estratégia glo-bal que preside a cada obra narrativa.

A parte central desta dissertação c preenchida pela análise dos três romances, dedicando um capítulo a cada romance (capítulos 3, 4 e 5). As análises obedecerão ã seguinte ordem de apresentação:

l9 - estudo do eixo comunicativo narrador-narratãrio, dado

que é este o nível textual que os leitores reais con-tactam em primeiro lugar e porque é o nivel discursivo hierarquicamente mais importante;

29 - em segundo lugar, estudaremos as estruturas

topológi-cas e temporais dos romances, o que permitirá mostrar como os factores de espaço e tempo influenciam as con-dições de comunicação entre as personagens;

39 - em terceiro lugar, analisaremos as relações entre as

personagens, focando as situações comunicativas em que participam e as consequências dessas situações.

Outras relações comunicativas entre personagens são de_ sejadas mas não chegam a concretizar-se, limitando-se a autocomunicação; daremos um certo relevo a este as-pecto, pois tais situações reflectem precisamente a di

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ficuldade ou a impossibilidade de se conseguir uma verdadeira comunicação.

Seguir-se-á, no capítulo 6, a análise de alguns temas domi nantes, que constituem o conteúdo quer da comunicação entre perso-nagens, quer da autocomunicação. Este capítulo abordará a trilogia no seu conjunto, o que permitirá mostrar a semelhança temática dos três romances. Daremos um maior relevo ao tema do erotismo (muito referido pela crítica, mas ainda pouco estudado de forma sistemãti_ ca), pois ele surge como complemento do tema da incomunicabilidade

Um outro campo ligado a problemática da comunicação ê o que diz respeito a relação dialõgica entre o texto koeppeniano e outros textos literários e os mitos clássicos, o que ocupará o ca-pítulo 7. Koeppen foi um grande leitor desde muito cedo, sempre li^ gou a sua propria vida ã literatura. 0 diálogo existente entre o autor real e a literatura não poderia deixar de se reflectir na sua própria produção literária. Essa carga transtextual exige mui-to dos seus leimui-tores porque os obriga a um diálogo com texmui-tos-ou- textos-ou-tros através do romance que estão a 1er. 0 mesmo se pode dizer dos mitos, que surgem desconstruídos na trilogia, pois o mundo já não parece apto para os manter vivos, esvaziando-os do sentido que ti-veram ao longo dos tempos, como uma voz viva do passado. Quer a li teratura quer o mito são vistos como discursos de resistência, de defesa da subjectividade face ao crescente materialismo e tecni-cismo da sociedade.

No capítulo 8 analisaremos a relação entre o autor real e os seus textos, isto é, o modo como Koeppen está presente nos ro-mances através das "consciências estruturantes" que são os autores abstractos. Simultaneamente, caracterizaremos os leitores implíci-tos dos romances, como parte das estratégias textuais do autor abs tracto. Veremos que os três romances têm uma estrutura apelativa

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semelhante, uma vez que são variações das mesmas ideias e temas. Terminaremos o nosso trabalho com um estudo, ainda que não exaustivo, sobre o autor real Koeppen e o seu mundo, apenas na me-dida em que aspectos deste encontram expressão nos romances. Os ro mances não são autobiografias, mas, como o próprio autor refere:

jeder Schriftstel1er, der in dieser Art schreibt,.ar-beitet mit aliem, was er schreibt, auch an seiner Bïo-graphie .

Neste capítulo 8 daremos essencialmente a voz ao próprio autor, tal como ele se referiu em textos não ficcionais e em entrevistas, quer a temas literários quer às condições do nosso tempo.

Aquando do início do nosso trabalho, so estavam publicadas as monografias jã referidas de Erlach e Koch e o estudo de Mauran-ges. Ã medida que íamos trabalhando, surgiram outros estudos, que fomos aproveitando e que por vezes levaram mesmo a alterações na estrutura desta dissertação, de modo a evitar repetições.

Como o plano acima exposto revela, o nosso estudo difere dos referidos, porque tenta mostrar de que modo a trilogia se cons

titui do ponto de vista temático e formal como um discurso de re-sistência, através da comunicação da incomunicabilidade. Koeppen apresenta trajectos de resistência, conseguida ou frustrada, e de "irresistência", de comunicação e de incomunicação.

Gostaríamos de agradecer a todos aqueles que directa ou in directamente contribuíram para a elaboração deste trabalho. Em pri^ meiro lugar, o nosso agradecimento vai para o Professor Doutor Olí vio Caeiro que, alem de nos ter dado a conhecer a obra de Koeppen, orientou o trabalho desde os primeiros esquemas até ã fase final,

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sendo enviadas. Através das muitas discussões, o trabalho foi mu-dando de face, até chegar a sua versão definitiva.

Gostaríamos também de agradecer â Professora Doutora Maria Manuela Gouveia Delille, que nos últimos anos tem orientado cienti_ ficamente o Instituto de Estudos Germanísticos da Faculdade de Le-tras do Porto, sucedendo nessa actividade ao Professor Doutor Olí-vio Caeiro. Das discussões sobre aspectos teóricos e metodológicos da abordagem do texto literário, surgiram muitas sugestões que uti_ lizamos neste trabalho.

Na fase inicial, o apoio dos Prof. Doutores Jochen Vogt e Erhard Schiitz, da Universidade de Essen, foi também importante, no meadamente no que diz respeito a material bibliográfico e a

ques-tões de metodologia. Queremos agradecer ao DAAD a bolsa que nos atribuiu em 1983 e que permitiu a nossa estadia em Essen e a compi_

lação de documentação bibliográfica relativamente ã recepção de Koeppen, efectuada sobretudo no "Zeitungsarchiv" de Dortmund.

0 nosso agradecimento vai também para o Instituto Nacional de Investigação Científica, pela concessão da equiparação a bolsei_ ro entre 1981 e 1984 e de um subsídio para a execução gráfica des-ta disserdes-tação e dos resdes-tantes textos elaborados para a presdes-tação das provas de doutoramento.

Um agradecimento também aos colegas do Instituto de Estu-dos Germanísticos pelo interesse com que seguiram a evolução desta tese.

Por ultimo, gostaria de agradecer ã minha mulher todo o apoio e ajuda, sobretudo na redacção da dissertação e o seu cons-tante incentivo para o avanço do trabalho.

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NOTAS

1 - Marcel Reich-Ranicki, um dos críticos que mais tem contribuído para a divulgação de Koeppen, sendo mesmo o responsável, como se disse, pela edição das suas obras completas, referia, num artigo sobre a literatura alemã, "Die Ichbesessenheit ist ntltz^ lich": "Aber Koeppen Trilogie, die wir heute zu den HOhenpunk-ten der deutschen Epik nach 1945 zahlen, war damais ziemlich erfolglos und wurde von den meisten Kritikern entweder igno-riert oder abgelehnt" (6.10.1982). O mesmo crítico escreveu, no mesmo jornal, aquando do 80' aniversario do autor: "Wer vor einem Vier tel jahrhundert entschieden fíir Koeppens Deutschland--Trilogie plSdierte, fand wenig Zustimmung, wer es heute tut, rennt offene TUren ein" (21.6.1986).

2 - G. Vilas-Boas, "Wolfgang Koeppen - um escritor político?", 1985, pp. 121-138.

3 - Erlach vê estes romances tendo como base a "Kommunikationslo-sigkeit und Einsamkeit" (1975, p. 263); Buchholz vê-os como "Dokumente der nicht vollzogenen oder missglUckten Kommunika-tion" (1982, p. 75); por seu lado, Peters diz que nos romances "wird gezeigt, dass die jeweiligen Protagonisten an ihrer Un-fà*higkeit zur Kommunikation scheitern" (1977, p. 315).

4 - Koeppen numa entrevista a Claus Ilebell, 11/12.10.1980.

CHAVE DAS SIGLAS UTILIZADAS

UL - Eine unglllckliche Liebe TH - Das Treibhaus MS - Pie Mauer schwankt TR - Der Tod in Rom TG - Tauben im Gras

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ENQUADRAMENTO HISTORICO-LITERARIO E RECEPÇÃO DA TRILOGIA DE KOEPPEN

1.1. A POSIÇÃO DE WOLFGANG KOEPPEN NA LITERATURA ALEMÃ OCIDENTAL DOS ANOS 50

Wolfgang Koeppen publica os seus dois primeiros romances em 1934 e 1935, Eine ungltlckliche Liebe e Pie Mauer Schvvankt, respecti-vamente, e e só depois de 16 anos de silêncio, em 1951, que recomeça

a escrever. Tal como nesse primeiro momento, Koeppen volta a ser um autor incompreendido, ainda que por razões diferentes.

Para se perceber a razão deste desfazamento entre o autor, a comunidade literária e o público leitor é necessário integrá-lo na produção literária da Alemanha Ocidental nos anos 50, o que faremos neste local de modo muito sucinto, limitando-nos aos aspectos que nos interessa salientar.

1945 representa uma grande mudança para a vida política, so-cial, económica e cultural da Alemanha. Interessa-nos sobretudo o si_ gnificado dessa data para a literatura alemã produzida nos sectores ocidentais do país que darão origem ã R.F.A., em 1949.

0 ano de 1945 constitui um corte com a pratica literária ofi_ ciai produzida desde 1933 . Mas não representa a abolição de todas as práticas de escrita anteriores. De facto, muitos autores que pu-blicaram entre 1945 e 1960 já haviam publicado anteriormente, não re_ presentando a sua produção do põs-guerra novos caminhos literários, nem sob o ponto de vista formal, nem sob o ponto de vista temático, ainda que as condições de produção se tivessem modificado radicalmen te.

Alguns autores tinham abandonado a Alemanha por causa da as-censão de Hitler ao poder. Apôs o fim da guerra, vários deles regres_

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saram a um ou a outro sector alemão e outros preferiram não regres-sar. Thomas Mann, Alfred DOblin, Carl Zuckmayer, só para citar al-guns, optaram pelo regresso, quer para a Alemanha Ocidental, quer pa ra a Suíça. A sua aceitação não foi sempre pacífica, tanto por parte dos autores que não tinham abandonado o país, como por parte do pú-blico. Thomas Mann foi um dos poucos autores regressados do exílio que teve grande importância na literatura alemã ocidental do põs-guerra. Mas este autor so se decidiu a regressar em 1952, e mesmo assim, pre feriu estabelecer a sua residência na Suíça. Os livros que publicou após 1945, como Doktor Faustus, 1947, Der Erw3hlte, 1951, ou

Bekennt-nisse des Hochstaplers Felix Krull, 1954, tiveram grande audiência entre o público alemão. 0 mesmo se pode dizer de um outro autor, ex.i lado na Suíça, mas que pouco escreveu depois de 1945, tendo, contudo, a sua obra anterior atingido um vasto público: trata-se de Hermann Hesse. A esta sua divulgação não será estranha a atribuição do Pre-mio Nobel da Literatura em 1946.

Maior importância literária do que os autores do exílio e de_ le regressados, tiveram os escritores que tinham ficado na Alemanha durante os doze anos de Hitler, fechados dentro da sua pequena comu-nidade literária, não afecta ao regime, e cortados os contactos com colegas de outras nacionalidades. São os autores da chamada "Innere Emigration". Nas suas obras ha uma continuidade entre o que produzi-ram durante a República de Weimar e o que publicaproduzi-ram após 45. Ê uma literatura com um certo caracter escapista, que não ë virada para a crítica do presente, estando interessada sobretudo na procura de uma verdade só atingível no interior do Homem, longe da realidade empiric ca.

1945 não representa um começo para estes autores e marca mes mo uma certa decepção, por verem que os valores espirituais

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conti-nuam arredados da população, excessivamente preocupada com o bem-es-tar material. 0 pessimismo cultural encontrará eco em muitos autores deste grupo.

As suas obras não correspondem, contudo, a uma uniformidade de critérios estéticos, temáticos ou filosóficos. Alguns situam-se

na linha do humanismo cristão, como Gertrud von Le Fort, Albrecht Goes, Reinhold Schneider, Werner Bergengruen. Outros integram-se no que se veio a chamar "realismo magico" e que SchUfer caracteriza

co-2

mo uma corrente existencialista e que continuara nos anos 50. Sao autores voltados mais para a realidade interior do que para a exte-rior. Tentam captar o que esta por detrás da realidade visível, pois também o lado invisível, irracional,faz parte da realidade e tem que encontrar a sua expressão. Não escaparam ã influência do existencialismo e mesmo do surrealismo, como também se notam marcas de autores como Franz Kafka, autor que teve, aliás, uma grande re-cepção na Alemanha através duma perspectiva existencialista: Elisa-beth LanggSsser, com UnauslOschliches Siegel, de 1946, Ernst Kreu-der, com Pie Gesellschaft vom Dachboden, de 1946, e Pie Unauffind-baren, de 1948, Hermann Kasack, cora Pie Stadt hinter dem Strom, Hans Erich Nossack, influenciado por Camus, com Nekya, de 1947,

In-terview ,mit dem Tod, de 1948,e Per jUngere Bruder, de 1948, são al-guns exemplos de autores com obras publicadas antes de 1945 e de um ou outro modo ligados ã "Emigração Interior", apesar da sua diversi-dade . E notória uma certa demonizaçao da história, compreensível se se tomar em conta a vivência recente desses autores.

A poesia da natureza, muito desenvolvida durante a "Emigra-ção Interior", afastou-se da linha geralmente conservadora, que fu-gia para o abstracto, para o descomprometimento com o presente. Al-guns poetas, de ambas as Aleraanhas, continuaram ligados a esse tipo de poesia, so que passaram a relacionar a natureza com o social,

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através da descrição da paisagem do presente histórico, onde a morte e as ruínas se tinham tornado parte integrante. GUnter Eich, Karl Krolow, Wilhelm Lehmann, Peter Huchel, fazem parte deste grupo de poetas.

Outros escritores, inicialmente ligados ao nacional-socialis_ mo, mas acabando por dele se distanciar, continuaram na linha de es-crita anteriormente encetada. Refira-se sobretudo Gottfried Benn e Ernst JUnger, que foram autores com um grande numero de leitores no pós-guerra. Ambos tomam posição contra a mediocridade do mundo que os rodeia, defendendo posições elitistas. Benn so acreditava no po-der da forma, distanciando-se dos valores culturais do seu próprio tempo. Ernst Jlinger louvou as virtudes do verdadeiro soldado, do in-divíduo face a barbarie colectiva. Em Heliopolis (1949) JUnger cria uma das poucas utopias positivas da literatura alemã do pos-guerra; neste romance, vislumbra-se uma saída para o homem, ainda que a ní-vel do escapismo, dentro de uma visão humanista cristã conservadora.

Alguns autores ligados ao nacional-socialismo continuaram a escrever, conseguindo, alias, alcançar grande popularidade: estão neste caso as obras de um Edwin Dwinger, de um Hans Grimm, de um Erwin Kolbenheyer. A literatura de guerra, como a de Hugo Hartung, sem estabelecer pontes entre o passado e o presente, tinha também uma grande aceitação .

Os autores acima mencionados , assim como outros que se podem integrar no mesmo tipo de produção literária, foram os mais lidos na Alemanha Ocidental. Tinham um nome, tinham uma tradição a que se agarrar e, sobretudo, distanciavam-se do presente, da crítica a rea-lidade concreta, o que correspondia aos desejos de grande parte do público leitor.

Além dos autores com passado literário, surge uma nova gera ção de escritores que ainda nada tinha publicado. Ë uma geração

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mar-cada pela guerra e pelas suas consequências.

Wolfgang Borchert é o paradigma dessa geração, a que se deve também acrescentar Wolfdietrich Schnurre e Heinrich B011 . Falou-se de "Triimmerliteratur", Weyrauch refere-se a "Kahlschlag" (alusão ao corte radical das florestas feito pelos aliados, para aquecer as po-pulações), vive-se a "Stunde Null" - mas estes termos so sãovãlidos para essa geração, não para o panorama global da literatura alemã ocidental. Esta nova geração caracterizava-se sobretudo pelo "tota-ler Ideologieverdacht", para utilizar um termo de Hans Mayer , e que vai ser também um traço da literatura dos anos 50. A produção literã

ria desta nova geração de escritores, a que se juntam alguns com obra anteriormente publicada, estava condicionada pelo país em ruí-nas e pelo desejo de se limitar a. inventariação ("Bestandsaufnahme") ,

sem tomada de posição aberta, daquilo que observam (recordemo-nos do poema "Inventur", de GUnter Eich). Não se trata contudo de um começo

a partir do zero, como pretendiam. E fácil traçar linhas de conver-gência com o expressionismo e com a literatura da Republica de Wei-mar, sobretudo nos romances dos finais dos anos 40 e dos anos 50. Es_ te período caracteriza-se também por uma linguagem simples e directa, como reacção ao abuso que os nacional-socialistas dela fizeram. Bor-chert escreveu, em "Das ist unser Manifest"; "Wir brauchen keine

5a Dichter mit guter Grammatik"

Os escritores desta nova geração têm muitos pontos de contac to com a literatura norte-americana, sobretudo Hemingway c Faulkner, mas também com o existencialismo francês de Camus, Sartre, Marcel. Ê o início de uma rica produção de contos, na linha da "short story" americana, um tipo de texto mais adequado para exprimir vivências parce lares, sem aprofundar as suas causas. São narrativas de início e fim abertos, focando aspectos isolados de experiências vividas pelos pró prios autores ou pelas personagens que criam.

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Muitos escritores ligar-se-ão ao Grupo 47, fundado por Hans Werner Richter e Alfred Andersch. Contudo, no grupo não havia qual-quer vínculo ideológico ou estético. Hã, todavia, alguns traços co-muns: um deles ê a grande importância dada ao lado estético. Orien-tam-se por modelos da literatura mundial, volOrien-tam-se para temas novos, incluindo a realidade alemã. Endres caracteriza a atitude deste gru-po como a recusa de uma literatura afirmativa gru-pois estão ligados ã "Idee des grossen klassischen Liberalismus des Geistes" .

Este grupo terá uma grande importância para a vida literária da R.F.A.. Mas sõ a pouco e pouco as obras destes escritores vão sen-do conhecidas sen-do vasto público. Era um publico difícil, interessasen-do

7

sobretudo na "literatura de consolação" , que quer esquecer o seu pas_ sado recente e não se quer culpabilizar pelo que acontecera. A politic ca de Adenauer segue esse desejo publico: trata-se de reconstruir o país, torna-lo de novo uma nação de que se pudessem orgulhar, um país

forte, olhando para a frente, sem precisar de se sentir culpado. Ja antes, durante o período da administração das potências aliadas, e apesar da "re-education", alguns alemães conotados com o antigo regi-me coregi-meçavam a reganhar poder, o regi-mesmo não acontecendo com muitos dos que regressaram do exílio.

Foi um período de censura interna, em que o tipo de literatu ra permitida por essas potências era preferencialmente a que ignorava

o o passado, como se nada tivesse acontecido .

A Alemanha, politicamente independente, mantinha fortes liga ções com os interesses norte-americanos. Interessava-lhe uma recons-trução rápida, o que implicava grandes sacrifícios por parte das popu lações. Algumas medidas menos populares eram defendidas em nome da se gurança face ao inimigo do outro lado da fronteira, especialmente as relativas a remilitarização. 0 clima de guerra-fria estava bem instau rado entre a população, o que dificultava o dialogo entre pessoas de

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opiniões d i f e r e n t e s . Como nota Endres:

Die feindlichen Beziehungen zwischen den Ja-Sagern und

den Nein-Sagern h a t t e die e r s t e Kra unserer jungen

g

Bundesrepublik geprSgt .

0 aspecto c u l t u r a l é descurado, o país torna-se numa socieda

de pouco t o l e r a n t e , onde qualquer c r í t i c a era v i s t a como proveniente

de algum simpatizante do comunismo. Pretende-se uma d e s p o l i t i z a ç ã o da

vida s o c i a l , o que abrange também a vida c u l t u r a l . Um dos aspectos

mais s a l i e n t e s desta atitude é o que se denominou de "unbewUltigte

Vergangenheit" - questionar o passado implicava também questionar o

presente,- pelo que interessava s i l e n c i a r quem quisesse f a l a r desse

passado . Pretendia-se uma sociedade sem memória, preocupada so com

a recuperação económica e com o bem-estar.

Esta p o l í t i c a não podia deixar de i n f l u e n c i a r a produção l i

-t e r á r i a . 0 publico l e i -t o r não se queria ver lembrado do seu passado,

mas também não estava interessado nas c r í t i c a s ao p r e s e n t e , que e l e

construia com tantos s a c r i f í c i o s . 0 que se apreciava na l i t e r a t u r a

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eram as "sprachkUnstlerische Pinessen und Kapriolen" . No próprio

Grupo 47, em 1949, não se perguntava "Was schreibst Du", mas "Wie

s c h r e i b s t Du"

Glinter Grass, num discurso proferido em Berlim aquando do

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9

aniversário da derrota alemã, d i s s e :

Die flinfziger Jahre waren gepr^gt von Verdr&ngung. Die

Abkehr von der Wirklichkeit ais S t i l p r i n z i p . Nur nicht

deutlich werden

Os autores do Grupo 47 centravam as suas obras no mundo que

tinham vivido, a guerra e as suas consequências, questionando p o s i

-ções tomadas nesse tempo. 0 presente alemão e as suas rela-ções com o

passado ainda não era tema p r i o r i t á r i o para a maioria destes e s c r i t o

-r e s

1 5

.

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Contudo, a r e a l i d a d e da p o l í t i c a r e s t a u r a t i v a de Adenauer vai e n t r a n d o na l i t e r a t u r a : j ã em 1951 Paul Schalllick c r i t i c a v a a p o -l í t i c a a-lemã a p a r t i r da s i t u a ç ã o dos e s t u d a n t e s , no seu romance Wenn man aufhbren konnte zu lUgen.

Mas é s o b r e t u d o com Koeppen que e s t e p r e s e n t e h i s t ó r i c o se t o r n a tema c e n t r a l de o b r a s l i t e r á r i a s , a t r a v é s dos seus romances Tauben im Gras ( 1 9 5 1 ) , Das Treibhaus (1953) e Der Tod in Rom (1954). E s t e f a c t o l e v a a que e s t e a u t o r s e j a c o n s i d e r a d o como o romancista dos primeiros anos da época de Adenauer .

H e i n r i c h Btfll so em 1955 se volta para temas da r e a l i d a d e alemã - o c i d e n t a l , p r e o c u p a n d o - s e com a s o r t e dos i n d i v í d u o s n a q u e l a socieda de, como no romance Und s a g t e kein e i n z i g e s Wort (1953), e Haus ohne HUter (1954) , mas é s o b r e t u d o com B i l l a r d um halbzehn (1959) que o p r e s e n t e e as suas l i g a ç õ e s ao passado entram d e f i n i t i v a m e n t e na tema

t i c a romanesca do a u t o r . Em contos p u b l i c a d o s d u r a n t e a segunda meta-de dos anos 50, Btfll t e m a t i z a e s s a s o c i e d a d e , sempre da p e r s p e c t i v a de alguém que se s e n t e oprimido por e l a e que exerce as suas pequenas r e s i s t ê n c i a s p a r a não se d e i x a r a b s o r v e r p e l a grande maquina.

Martin Walser, que se d o u t o r a r a com uma t e s e sobre Kafka e que se e s t r e o u na v i d a l i t e r á r i a com contos na l i n h a daquele a u t o r -Ein Flugzeug Uber dem Haus und andere Geschichten (1954) - e s c r e v e era 1957 o romance Ehen in P h i l i p p s b u r g , onde a c r í t i c a s o c i a l é p a t e n t e . Também S c h l u s s b a l l (1958) de Gerd G a i s e r , Pie Blechtrommel (1959) de G r a s s , E n g e l b e r t Reinecke (1959) de Paul S c h a l l l i c k , Mutmassungen Uber Jakob (1959) de Uwe Johnson ou Die Rote (1960) , de Alfred Andersch re f l e c t e m o p r e s e n t e , a i n d a que de modos e p e r s p e c t i v a s muito d i f e r e n -t e s .

Uma das p r e o c u p a ç õ e s de a l g u n s d e s t e s a u t o r e s , como Btíll e G r a s s , é a c o n s t a t a ç ã o de uma continuidade do nacional-socialismo até ã Ale-manha de Adenauer, tema esse que jã tinha sido abordado por Koeppen e que lhe

(20)

mereceu, como veremos, duras c r i t i c a s . A a t i t u d e consumista, a vida apressada e estandardizada, onde os indivíduos têm pouco tempo para s i , o desejo de fuga ã realidade através de romances, r e v i s t a s ou f i l mes t r i v i a i s , fornecedores de sonhos b a r a t o s , e o refugio numa "pseu-do"- moral r í g i d a e pouco t o l e r a n t e são aspectos que vemos p r e s e n t e s nos romances de Koeppen, de B011, de Nossack.

Segundo H. BtJll,

ais die Wiederauf rllstung p r o p a g i e r t wurde, da fing doch ein gewisses Stadium des Sich-Verantwortlich-FUhlens

17 an

De facto, os best-sellers da época não são os romances dos autores do Grupo 47, nem de Koeppen, mas os romances apologéticos da Guerra, do soldado heroicizado de H. H. Kirst ou de H. G. Konsalik. Os romances de Btfll, Gaiser ou Andersch, onde a guerra surge aberta-mente como um factor de desumanização, têm um público muito mais redu zido.

A heroicização do soldado, a correspondente desculpabiliza-ção da guerra e a política de remilitarizadesculpabiliza-ção da Alemanha levada a ca bo pela.administração de Adenauer não podiam deixar de preocupar os escritores do Grupo 47. Isto justifica o facto de eles se voltarem ca da vez mais para os temas do presente alemão, como já fizera Koeppen, um pouco antes dos outros.

A burguesia foi atacada era muitos dos seus aspectos pelos romancistas desta época. Um desses foi Max Frisch, que conseguiu um grande êxito com Stiller (1954) e depois com Homo Faber (1957) . Mas a crítica de Frisch era aceite pela burguesia alemã por varias ra-zões: vinha de além fronteiras, criticava de modo indirecto e nenhuma instituição alemã ê nomeada explicitamente.

De facto, a literatura dos anos 50, sobretudo na primeira me_ tade da década, é uma literatura com poucas aberturas para o futuro,

(21)

é como uma renuncia ã utopia, apesar de se insistir na sua necessida-de. Ë uma literatura onde a crítica tinha sobretudo como alvo o esva-ziamento de sentido da existência humana e não tanto a situação con-creta da R.F.A., ainda que esta esteja sempre presente.

Esta síntese, longe de estar completa, pretende mostrar al-guns aspectos da produção literária alemã-ocidental, no pos-guerra, para melhor se compreender a posição a parte que Wolfgang Koeppen as-sume nesse período: por um lado, antecipa-se no que diz respeito ao tratamento de temas do seu presente histórico e, por outro lado, é um autor que representa o fim de uma determinada literatura humanista crítica, ligada aos anos 20.

De facto, Koeppen dificilmente se integra em qualquer dos grupos apresentados, apesar de com eles ter alguns pontos em comum. Foi um autor marginal face aos vários "grupos" em que se ordenaram os autores alemães na historia da literatura. Não se exilou e durante o período nacional-socialista publicou os dois romances jã referidos, após o que se calou como escritor. A sua produção daquele período e do pos-guerra não permitem liga-lo a "Emigração Interior". Essas duas obras interessam-nos sobretudo como termo de comparação em rela-ção a produrela-ção romanesca dos anos 50 .

0 próprio facto de ter obra publicada anteriormente exclui-o da geração da "Stunde Null" e da "TrUmmerliteratur". Por outro lado,

não se integrou no Grupo 47. Com estes novos escritores partilha do "totaler Ideologieverdacht" e da desilusão face ã política restaurati va de Adenauer, que representava para eles a morte dos seus sonhos de uma sociedade diferente.

Ë de notar que Koeppen foi dos escritores com obra publicada antes de 1945 o que retomou mais tarde a sua produção. A maior parte deles recomeçou a publicar logo após o final da guerra ou nos anos se

(22)

guintes. Koeppen só o volta a fazer em 1951. Depois da guerra, parece não ter encontrado nem a sua linguagem, nem o seu mundo, nem as suas

20 esperanças

A guerra e o nacional-socialismo tinham-no traumatizado de

tal maneira que não se sente capaz de tematizar essas vivências, como o fazem muitos outros escritores, que partem das

experiên-cias na guerra e do regresso as suas casas, vindos dos campos de bata lhas ou das prisões.

Além disso, os três romances dos anos 50, que passaremos a 21

referir como uma trilogia , constituem uma excepção a produção lite-rária da primeira metade da década. Já não o seriam tanto se essas obras tivessem aparecido no final da década, Ë que quando os outros escritores, cada um a seu modo, começam a tratar problemas que preocu param Koeppen na primeira metade do decénio, este autor volta-se para uma literatura totalmente descomprometida, para os relatos de viagens, a partir das suas "empfindsame Reisen", como ele as denomina no subtí_ tulo da primeira colectânea, Nach Russland und anderswohin, de 1958.

1.2. A RECEPÇÃO DOS ROMANCES DO PÕS-GUERRA

Antes de entrarmos na análise da trilogia, que serã o objec-to central desta tese, vamos referir alguns aspecobjec-tos da sua recepção, quer a nível editorial, quer a nível da crítica e estudos académicos. Esta abordagem sucinta serve para situar Koeppen face ã instituição literária e para mostrar que, também a nível da recepção, o autor foi marginalizado quer pela crítica quer pelo público.

1.2.1. A recepção a nível editorial

(23)

tira-gens, uma vez que e um autor que nao se integrou nas práticas do seu 23

-tempo . Os seus romances nao sao de leitura fácil, o que impediu um grande sucesso comercial. Retrospectivamente, o autor comenta esse facto da seguinte maneira:

Die beiden ersten NachkriegsbUcher, Tauben im Gras und Das Treibhaus , stiessen beim deutschen Buchhande.l, bei den deutschen Lesern und bei der Kritik auf allgemeines UnverstHndnis. Mein Stil, meine Schreibweise und auch inhaltlich manches tírgerte die Leute, stiess sie ab, be-sonders die Buchhandler, die hielten gar nichts von mir (...)• Dann kam der To d in Rom, der wurde nun schon be-gleitet von den Werken der Bundesrepublik und einem Bekanntwerden der auslUndischen Literatur, von der die Leute, die nur im Dritten Reich gelebt, nichts gewusst hatten, und ich war nicht mehr ein Wesen vom Mond, das heruntergekommen war, das neue Buch wurde ernster, nor-mal kritisch gewlirdigt

Tauben im Gras teve, em duas edições da Scherz und Goverts, uma tiragem de 6.500 exemplares. As edições de bolso de 1956 da Non--Stop-BUcherei e de 1966 da Fischer BUcherei não foram muito além da-quela cifra. Na Bibliothek Suhrkamp, nas edições de 1974 e 1979, teve uma tiragem de 11.000 exemplares. A Suhrkamp relançou o romance em li vro de bolso em 1980, reeditou-o em 1984, totalizando, nesta colecção, 26.000 exemplares.

Das Treibhaus teve, no início, uma venda relativamente gran-de, de 12.000 exemplares, por ter sido apresentado como um romance--chave, rodeado de um certo escândalo, o que levou a três edições no ano da sua publicação, 1953. Em 1955 surge em edição de bolso da Non--Stop-BUcherei, só voltando a ser reeditado em 1972, desta feita pela Suhrkamp. Esta edição de bolso teve, ate 1984, uma tiragem de 46.000

(24)

exemplares, ao mesmo tempo que se mantinha ã disposição do público a edição de 1980 da Bibliothek Suhrkamp.

Quanto a Der Tod in Rom,os números voltam a baixar; teve uma edição única da Goverts de 6.000 exemplares, em 1954. So voltou a ser

2 S

publicado, na R.F.A. em 1963, pela Fischer. Em 1971 a dtv publica-o em livro de bolso e em 1975 é a Suhrkamp que se encarrega da. reedição do romance, também em livro de bolso, que até 1982, data da edição ac tualmente à venda, teve uma tiragem de 32.000 exemplares.

A estas edições temos que acrescentar a edição conjunta dos três romances, em 1969 pela Goverts e pelo Deutscher BUcherbund e em 1972 pela Suhrkamp, reeditada em 1978, com um total de 6.000 exempla-res.

Quanto ao seu volume de contos, Romanisches Café, de 1972, alcançou ate 1984 uma tiragem de 22.500 exemplares.

Os números disponíveis apontam portanto para pequenas tira-gens dos seus romances.

Os relatos de viagens tiveram um maior êxito inicial. Assim, Nach Russland und anderswohin teve uma tiragem inicial de 16.000

exemplares, em 1958, e em 1983, a edição de bolso da Suhrkamp não ul-trapassava os 17.000 exemplares, enquanto Reisen nach Frankreich, de 1961, nesta mesma colecção, atingia era 1981 os 14.000 exemplares.

Para terminar esta apresentação da recepção, a nível edito-rial, na R.F.A., refira-se que o volume de prosa de caracter autobio-gráfico Jugend, de 1976, conseguiu ate 1982 uma tiragem de 45.000 exemplares.

Em Maio de 1986 foi publicada uma edição das suas obras com-pletas, em seis volumes, da responsabilidade de Marcel Reich-Ranicki.

Para se ter uma ideia do que representam os números acima re_ feridos, comparemo-los com os do romance Stiller (1954), de Max

(25)

Frisch, que sõ na colecção Suhrkamp em 1982 tinha uma tiragem de

400.000 exemplares ou ainda Die Blechtrommel, (1959), de GUnter Grass que na edição de bolso da Luchterhand, de 1974 a 1980, ia jã na 16a. edição ; Billard um halbzehn, de Heinrich Bfcfll, na edição dtv, até 1982 em 11 edições teve uma tiragem de 255.000 exemplares, enquanto

Gruppenbild mit Dame, na sua edição de bolso, também na dtv, em dois anos atingiu 4 edições com uma tiragem de 160.000 exemplares.

Nenhum romance de Koeppen atingiu os 100.000 exemplares, o que demonstra que é um autor que não conseguiu atingir um publico vasto .

0 mesmo se pode afirmar relativamente às traduções. Este

au-tor é;de facto, muito pouco conhecido fora da R.F.A..

Tauben im Gras sõ foi traduzido em francês, com uma edição única em 1953; Das Treibhaus foi traduzido em 1961 em húngaro, em 1966 em russo, em 1968 em letõnio e em 1972 em polaco; o romance mais traduzido, ainda assim, foi Der Tod in Rom: jã em 1956 aparecia na Inglaterra, com uma 2a. edição em 1961; em 1957 em polaco, em

1958 em servo-croata, em 1959 em italiano, em 1960 e 1967 em húngaro, em 1962 em francês, em 1964 em holandês, em 1966 em eslovaco e ucra-niano, em 1967 em letõnio e búlgaro, em 1968 em estõnio, em 1977 em

lituano, em 1978 em russo e em 1979 em jugoslavo.

Os três romances em conjunto foram ainda publicados em russo em 1972 e 1980 e em esloveno, numa edição de 1981, surgem os dois úl-timos romances, a que se junta o texto de características autobiográ-ficas Jugend. Este texto, por sua vez, foi traduzido para polaco, em 1978, para francês em 1979 e para checo em 1981.

Sem dúvida que estes números apontam para uma recepção rela-tivamente reduzida, ainda que o interesse pelo autor se mantenha vivo,

(26)

o que ê testemunhado pelas constantes reedições da Suhrkamp Taschen-buch, além de inúmeros artigos e estudos sobre a sua obra. É também significativo o elevado número de prémios com que tem sido distingui-do: em 1961, o prémio do Kulturkreis im Bundesverband der Deustschen Industrie e o FOrderungspreis flir Literatur der Landeshauptstadt MUn-chen; em 1962, o prémio BUchner; em 1965, o Literaturpreis d.er

Bayerischen Akademie der SchOnen KUnste, de Munique; em 1967, o

Immermann-Preis e o da Stiftung zur FOrderung des Schrifturns, de Muni_ que; em 1971, o prémio Andreas-Gryphius; em 1974, o FOrderpreis der Stadt Bergen-Enkheim; em 1982 o Kultureller Ehrenpreis der Landes-hauptstadt MUnchen. Em 1984, é-lhe entregue o prémio Arno Schmidt. E" de referir ainda que em 1982 foi convidado para fazer as "Frankfur-ter Vorlesungen ftlr Poetik", na Universidade de Frankfurt/M .

1 • 2 • 2 . A recepção critica nos jornais e revistas contemporâ-neos das primeiras edições da trilogia

Interessa-nos agora analisar a recepção crítica (recensões e críticas literárias) que os três romances tiveram a nível de jornais e revistas culturais. Esses textos são o primeiro momento objectivado da recepção das obras em questão, passível de influenciar, por um la-do, a propria leitura empírica do publico leitor, e, por outro lala-do, de modo indirecto, a produção subsequente do autor.

São, por isso, documentos de uma comunicação contemporânea da publicação dos romances, reacção dialõgica a textos, que, no caso de Koeppen, ira provocar também outros textos de crítica a crítica.

Tauben im Gras

A reacção ao romance foi relativamente positiva, ainda que muitos críticos o tenham pura e simplesmente ignorado .

(27)

por considerar que tudo se move numa atmosfera mórbida, sem força, 2 8

marcado por um pessimismo sem "substantielle Grbsse" . Rudolf KrHmer -Badoni reage também negativamente por encontrar no romance um tom mo

29 ralista, nao orientado para nenhuma direcção em particular

Numa recensão de Der Tod in Rom, Detmar Sarnetzki diz que em toda a produção de Koeppen s5 encontra em Tauben im Gras algumas figu ras decentes, mas "ausgerechnet ein paar humanit&r gesinnte USA-Negej_ -Soldaten1. I"30.

Das recensões referidas ressalta um aspecto comum: os críti-cos assinalam a coragem de Koeppen de enfrentar a realidade, num mo-mento em que a literatura estava de um modo geral desinteressada do

contexto que envolvia os escritores. 0 próprio Schwab-Felisch, ape-sar da sua posição negativa, não foge a este louvor: "Ein mutiges Unterfangen bleibt Koeppens Roman immerhin...".

Wolfgang von Einsiedel refere que Koeppen nem acusa nem se queixa, mas regista, da voz ao que vê. É vítima e testemunha de acon-tecimentos catastróficos

Heinz Schíjffler, por sua vez, afirma que

Zeitgeschichte ist flir ihn das Zugleich und Ineinander von Seelengeschichte und zivilisatorischer Kulisse,

nicht das Eine oder Andere, sondem beides zusammen32.

Para Karl Korn, o livro não é só ura documento do seu tempo, é também uma obra atravessada pelo sarcasmo, pelo "pathos". Ë "eine stumme Klage um die grosse Gefahr, in der wir schweben..."33.

de

Axel Kaun louva a coragem de Koeppen mostrar a realidade nua

e crua, em que os homens aparecem como bolas de jogo dos poderes34.

Gerhard Hering, por sua vez, refere a força da crítica so-cial do romance, onde os homens surgem como as pombas do poema de Ger trude Stein, além de assinalar o papel de Cassandra, que surge

(28)

refor-çado pela montagem de títulos de jornais

Horst Rlidiger vê em Tauben im Gras o romance que liberta a literatura alemã do provincianismo que a assolava. Referindo o aspec-to de crítica social, diz:

Doch das Buch Koeppens erschOpft sich nicht in der Angst-und Schreckenspsychose, die wir nun schon zum Uber-druss gewohnt sind, sondem es lasst einen Spalt Hoffnung

Walter Schllrenberg refere a importância das forças do desti-no, quer no presente, quer no passado. E louva a capacidade e o

domí-37 nio técnico do romancista

0 aspecto formal é também um dos aspectos focados em quase todas as recensões, sobretudo na de Von Einsiedel. Referem-se possí-veis influências, situando Koeppen na linha de um James Joyce, de um Alfred DOblin, de um John Dos Passos, de uma Virginia Woolf.

Wolfgang Koeppen reagiu a algumas críticas,como a do MUnchner Merkur, de 29.01.1952, onde se perguntava se é defensável sob o ponto de vista moral permitir que o escritor alargue o buraco da fechadura,

- 38

para melhor ver o que se passa na privacidade do lar alemão . No ar-tigo "Die elenden Skribenten", Koeppen defende-se, dizendo que

Dabei wollte ich nur einen Tag meiner Zeit einfangen, die Zeit und ihre Menschen beschreiben, wie ich sie sehe und empf mde . . .

Não se trata, portanto, de "vasculhar" a vida privada de in-divíduos, pois a cada uma das suas figuras correspondem "mehrere

40

Bewerber, mehrere angebliche Urbilder" , como ele próprio notou a partir de varias reacções de que teve conhecimento, em que muitos se viam visados por uma e mesma figura romanesca. Para o autor, não são necessárias máquinas fotográficas ou binóculos; basta-lhe estar em ca

(29)

s a , ã mesa, p a r a v e r o que se p a s s a â sua v o l t a . E s t e t i p o de r e a c ­ ções l e v o u ­ o a i n c l u i r um p r e f á c i o , na 2 a . e d i ç ã o , onde e x p l i c a que a sua obra tem o tempo h i s t ó r i c o como p o n t o de p a r t i d a e não i n d i v í ­

A 4 2

duos

Das T r e i b h a u s

E s t e segundo romance conheceu c o n d i ç õ e s de r e c e p ç ã o d i f e r e n ­ t e s das do p r i m e i r o . A e d i t o r a Scherz und Goverts e s t e v e um pouco na origem de um m a l ­ e n t e n d i d o que se gerou ã v o l t a do romance, l i g a n d o , no t e x t o da c a p a , o seu conteúdo a uma m a t e r i a muito a c t u a l ao tempo da sua p u b l i c a ç ã o , apontando, a s s i m , p a r a que o l i v r o f o s s e l i d o como um romance­chave.

0 l i v r o " c a i u " como uma bomba na paisagem l i t e r á r i a alemã.

4 3 ­

As c r i t i c a s ­ r e g i s t a r a m ­ s e mais de 25 ­ sao g e r a l m e n t e n e g a t i v a s , exceptuando o l o u v o r i n c o n d i c i o n a l em a l g u n s pequenos j o r n a i s de p r o ­

^ . 44 v m c i a

Várias críticas anónimas atacam mais o autor do que a pro­

pria obra. 0 tom geral ë de ódio e indignação, como a do jesuíta H.

Becker, que refere o romance como "die Kitzeleien in einer verwahrlos_ ten Bedlirfnisanstalt" . Para o crítico anónimo da "National­Zeitung", de Basileia, o romance é" um panfleto político, para ele o livro "... geht dem Leser so auf die Nerven, dass er nur noch angeekelt das Buch

46 «. . ­ .

aus der Hand legt" . Outro critico anónimo nota que o romance nao

­ 47

tem ironia, não e satírico, mas tao somente um "Gallenleiden" . Ou­ tra crítica anónima vê o autor como um "fieberkranker, der nur das

4 8 ■/■

Uble sieht" . E o crítico Klaus Harpprecht chega a afirmar que prefe_ 49

ria que nao houvesse literatura a ela continuar assim

Muitos consideram o escritor como alguém cheio de ressenti­

mentos . Fritz René Allemann segue o mesmo tipo de crítica, afirman­

do que

(30)

Ergebnis einer vielleicht geschickten, aber im Grunde tief erschreckenden literarischen Hochstapelei.

Acusa-o ainda de ter produzido "ein Stlick btfser literarischer Unehrlichkeit"51.

Por seu lado, Karl August Horst acusa o autor de sõ ter ima-gens "raacaqueadas" do passado, que o impedem de ver e compreender o

52 presente. Rotula este romance de "totaler Unlust"

Leva-se a mal o facto de Koeppen pôr em causa o que com tan-to sacrifício se esta a reconstruir. Pergunta-se mesmo se ë lícitan-to utilizar o talento do modo como Koeppen o faz e um crítico aventa mesmo a possibilidade de se instaurar a censura, num artigo que

inti-54 tuia de "Ein Bazillus der Unruhe"

Walter Karsch acusa Koeppen de não saber distinguir a verda-de da ma língua

A título de exemplo, refira-se uma reacção anónima de um lei_ tor, que chegou ã editora em Dezembro de 1953:

FUr einen Menschen mit Kultur nicht zu lesen. Er mllsste heissen: 'Das Mistbeet'

Mesmo algumas das apreciações positivas não deixam de criti-car o autor por ultrapassar as fronteiras do aceitável. Karl Korn, por exemplo, critica sobretudo a "Wollust des Ekels", apesar de notar o interesse formal da obra e o modo como chama a atenção para o facto político. Considera-o

ein bedeutendes Buch, das fiir die gesellschaftliche Aussenseiter situât ion der Intellektuellen in hohem

57 Grade symptomatisch ist

Horst Rlidiger defende que Koeppen ë demasiado cëptico e me-lancólico, se baseia sobretudo nas suas proprias preocupações, provo-cando "eine Radikalitat des Zweifels", e mostrando o clima de Bona, a

(31)

- 5 8 cidade onde decorre a acção, de modo demasiado "gespenstisch"

Um crítico anónimo louva sobretudo a coragem de Koeppen: Ein tapferes Buch von einem Mann, der die Wahrheit will. Viele werden darliber schimpfen - Minister, Générale, Abgeòrdnete - was tut's! Es ist ein Gluck, dass einer

59 die Wahrheit sagen konnte

Vários artigos anónimos de pequenos jornais louvam a crítica , «. . 60

social e politica deste romance

Neste mesmo sentido se situa Werner Gilles: para ele este li_ vro devia ser lido para tornar consciente o perigo que rodeava o seu tempo:

ein (hoffentlich) aufrlltteIndes Buch

Ernst von Salomon, embora vendo o interesse do livro, não o interpreta como uma crítica política:

Es richtet sich wenn es sich Uberhaupt richtet, gegen eine MentalitUt

Podemos ainda referir a recensão de Franz FUhraann, da R.D.A., Defende o livro como um romance-chave, como uma negação da política restaurativa de Adenauer. Mas falta-lhe o poder analítico, nada ë es-clarecido, tudo se move demasiadamente no abstracto: "Eine solche

Li-ft *z

teratur ist eine Literatur am Ende" Der Tod in Rom

Após Das Treibhaus e a recepção negativa de muitos críticos , é natural que Der Tod in Rom fosse recebido com cepticismo. De facto, provocou uma grande polemica, numa linguagem nem sempre digna, como foi o caso de uma recensão anónima, que considera este livro como um

64

bocado de lixo . Tal como relativamente ao romance anterior, também agora a crítica negativa se centra mais no autor do que na propria

, 65 obra

(32)

escreve Tamms, numa recensão com o sugestivo titulo de "Perverser Rei_ gen der Gespenster" . No momento em que a Alemanha procura os seus novos caminhos, esquecendo, reprimindo mesmo o passado, um tal livro não podia ser bem recebido. Também agora se volta a chamar a atenção,

indirectamente, para a possibilidade de reprimir a publicação de tais livros . Fala-se, de novo, dos ressentimentos do autor, que só pro-duz "Karikaturen des Deutschtums", neste romance que mais não ë do que "der Tod einer gesunden deutschen Epik" . Para Karl August Horst,

- 69 nao e o estilo que o perturba, mas a "monomanische Blickverengung"

As críticas destruidoras centram-se em dois aspectos do ro-mance: o seu carácter fantasmagórico e as obscenidades que, segundo elas, percorrem todo o texto. Arnold KUnzli, por exemplo, acusa o au-tor de confundir originalidade com obscenidade. Nessa sátira a uma si tira sobre a realidade (e não sátira da realidade), como nota KUnzli, a juventude não encontra pontos de apoio, no meio dos ''Gespenster in

70

der ewigen Stadt" . Eva Rbder ve Der Tod in Rom como um "Gespenster-buch"71.

Mesmo Paul HUhnerfeld, na sua crítica no semanário Pie Zeit, não deixa de ver este romance como

eine Studie Uber Gespenster (...) von subtiler Meister-schaft. Ais Spiegel der deutschen Wirklichkeit aber ist es - vielleicht zum beabsichtigten - Zerrspiegel gewor-den in einer Sache wo wir dringend eines genauen Spiegels bedlirfen

Georg Hensel defende Koeppen dos ataques sobre o carácter fantasmagórico do romance. Para este crítico basta ver as pessoas que surgem nos jornais, para as encontrar no romance, figuras representa-tivas de diferentes gerações, estratos sociais e tipos de vivências. Contudo, segundo Hensel, Koeppen não teria necessidade de introduzir um tal

(33)

Sortiment von Perversitáten... und einen Schluss zu

73 bauen, der sich der Sexualkolportage bedenklich nâhert Tal como acontecera com Das Treibhaus, algumas recensões abertamente positivas vêm de pequenos jornais de província, onde se

•* 7 4

louva a coragem do escritor

Para Erich Franzen, estilisticamente o romance é de grande interesse. Lamenta contudo que as figuras não ultrapassem a

triviali-75 dade e que o autor não se tenha distanciado mais dos seus,fantasmas

Tanto Franzen como Walter Jens ou Alfred Andersch não vêem o romance como tendo uma mensagem política. Para Franzen, Der Tod in Rom prenuncia já, por parte de Koeppen, o abandono da crítica políti-ca presente nos romances anteriores. Aparece a "Sinnlosigkeit der menschlichen Geschichte", a "Geschichte und die Ohnmacht der Kunst", neste romance que é um "stinkendes Laboratorium der abendl&ndischen

7 f\

Menschheit" . Walter Jens afirma que o livro não desencadeou grandes sensações porque é "zu klug, zu artistisch geschrieben, eine

litera-77

rische Kostbarkeit" . Por seu ]ado, Andersch considera esta obra um romance metafísico, apesar de funcionar como um "sismõgrafo", de ser como uma "pistola levantada", um apontar os criminosos, através de

78 uma estrutura que lembra uma coreografia

As analises surgidas na R.D.A., apôs louvarem o empenho e a coragem de Koeppen, criticam a passividade das figuras, a paralisia

79 da reacção, a banalidade da realidade, a fuga

Em 1969 são editados os três romances reunidos num sõ

volu8 0

-me . A recepção foi mais co-medida, centrando-se nas qualidades for-mais dos romances; o aspecto político passa para segundo p]ano. A

crítica a R.F.A. jã se tinha tornado uma característica da literatu-ra, jã não chocava. 0 título do artigo de Jost Noite e sintomático

81 dessa mudança de atitude: "Revision im Falle Koeppens"

82

(34)

Koch, referindo-se a Tauben in Gras, considera que o romance teve uma

8 3 —

"zwiespSltige Rezeption" . Richard Gunn alarga esta opinião de Koch 84 - • aos outros dois romances . Concordando com a posição do estudioso

norte-americano, não podemos, contudo, deixar de considerar que o tom dominante foi o negativo.

Ë curioso notar que nas bibliografias de Erlach, Linder e Greiner não ha referências a recensões de origem austríaca, e as suí-ças são abertamente adversas aos três romances, enquanto as da R.D.A. embora louvando a crítica ao regime da Alemanha Ocidental, não são fa_ vorãveis do ponto de vista literário. As críticas da Alemanha Federal dividem-se entre as que o condenam abertamente e as que o louvam, fo-cando sobretudo o lado formal dos romances, não deixando, contudo, de condenar certos aspectos do conteúdo, que acham excessivos.

Koeppen, por seu lado, reagiu às críticas negativas, quer no seu artigo "Die elenden Skribenten", quer em conferências e entrevis-tas. Em Colónia, por exemplo, atacou os críticos pela sua "Richtig-keit und Unfehlbar"Richtig-keit", quando, no fundo, falham o objecto da

críti-85 ca

Uma analise mais séria da sua obra só começou nos anos 60, quando Koeppen praticamente jã deixara de escrever. E, curiosamente, é na altura do seu silêncio que começa a receber prémios literários, como jã foi anteriormente referido. São um reconhecimento 'tardio dos talentos de alguém que soube exprimir literariamente as suas preocupa ções com o mundo que o rodeava. Mas foram sobretudo os relatos de via gem que lhe granjearam mais louvores.

Entretanto, muito mudara na literatura alemã-ocidental, o que contribuiu para uma modificação na atitude em relação à obra de Koeppen. Varias obras de crítica social, como as de BtJll, Grass, John son, Walser, Weiss, entre outros, são aceites como as mais representa tivas. Benno von Wiese, no discurso que proferiu aquando da

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atribui-ção do premio Imraerraann, em 196 7, a Koeppen j u s t i f i c o u a reacatribui-ção nega t i v a aos romances; segundo e l e , a c r í t i c a aí formulada surge cedo d e

-* A A • 8 6

mais ou tarde demais

Nesta altura vários artigos sobre o autor e a sua obra vão - 8 7 aparecendo, sobretudo relacionados com a atribuição dos prémios

Erlach nota que no 50* aniversário do autor, em 1956, uma única nota assinala esse evento nos jornais, mas no 609 e no 659

ani-O Q

versãrios jã surgem muitos artigos em diversos jornais

Koeppen tem sido convidado para fazer conferências e tem si-do objecto de várias entrevistas.

Numa palavra; a pouco e pouco, Koeppen torna-se alguém na li_ teratura alemã nos anos 60, em grande parte devido a modificação das condições de recepção. E* sintomática uma das razões da atribuição do premio Immermann (1967):

Er hat vor aliem mit der Trilogie seiner drei Zeitromane Tauben im Gras, Das Treibhaus und Der Tod in Rom ein Werk geschaffen, dessen Uberragende Bedeutung erst heute

89 langsam sichtbar wird

Autor marginalizado pela crítica dos anos 50, quer pela sua novidade formal, quer sobretudo pela nova temática, Koeppen tem tam-bém contribuído para essa marginalização pelo facto de se recusar a aderir a grupos literários, como o Grupo 47, ou a tomar posição face a diferentes questões em conjunto com outros escritores. Falou-se muito dos silêncios de Koeppen - talvez ate demais - descurando-se

as-u 90

sim um pouco a sua obra

1.2.3. A trilogia como objecto de análise em revistas e li-vros

Neste subcapítulo, traçaremos uma síntese do que se escreveu sobre a trilogia em artigos e ensaios, publicados quer em revistas,

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quer em livros .

0 primeiro artigo sobre Koeppen foi escrito por Marcel Reich -Ranicki, em 1961, com o titulo "Der Fali Koeppen", onde se procurava dar uma resposta sobre as causas dos silêncios do autor; este artigo dominara a discussão sobre o escritor nos anos 60. Reich-Ranicki vê a

91

trilogia como uma "unerbittliche Zeitanalyse" . E considera que a re_ cepção negativa que teve levou Koeppen a optar por uma solução de com promisso, que resultou nos seus relatos de viagem. Este crítico consi_ dera-os obras secundárias face aos romances, "Seitensprllnge des Roman_

92

ciers" . Em artigos posteriores, Reich-Ranicki considerara Koeppen como "der sinnlichste deutscher Prosaist unserer Zeit", um autor que

9 3

sofre de "Leiden an der Zeit" , cujos romances sao "poetische 94

Deutschlandbticher" , uma ligação paradoxal e romântica de "Welt-95

flucht und Lebenshunger"

0 primeiro artigo citado marcará uma das linhas dominantes da crítica, aquela que separa claramente os romances dos relatos de viagem. A outra linha, pelo contrário, defenderá que os relatos são uma continuação dos romances, uma vez que estes não são predominante-mente políticos, como também não o são os relatos.

No seguimento de Reich-Ranicki vamos encontrar críticos de-fendendo posições diferenciadas, tendo em comum o facto de não verem continuidade entre a ficção e a literatura viagística.

R. H. Thomas e W. van der Will interpretam a trilogia como uma reacção ã realidade social. Contudo, criticam o autor por não as-sociar ao transitório e ao efémero nenhuma esperança. Centrando a sua análise na "Isolierung und Entfremdung", concluem que Koeppen tende

. . . 96 para o a-histoncismo

Peter Demetz, por seu turno, vê a trilogia como "die sichtba ren Konsequenzen der Hitlerjahre in einer neuen Methodik des

ErzHh-97 lens" .

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Stephan Reinhardt também vê a trilogia como essencialmente apolítica, apesar de ter uma atitude crítica face a realidade que lhe serve de modelo:

Seine EmptJrung Uber Unterdrllckung bleibt im Rahmen 98

gefiihlsmassigen, naiven Protests

Não são, por isso, romances políticos, não passam de um avi-99

so

Por seu lado, Peter Laemmle considera que Koeppen cria uma utopia, a sua posição é um "Standhalten zwischen Utopie und

Resigna-. Resigna-. ,,10 0 tion

Peter Wieckenberg não aceita a p o s i ç ã o de R e i c h - R a n i c k i quan to as razões que levaram Koeppen a a b a n d o n a r a p r o d u ç ã o r o m a n e s c a , mas também defende que a trilogia apresenta o que o autor apreende no mundo que o rodeia, só que não vendo s o l u ç õ e s ,

so bleibt ihm nur die m e l a n c h o l i s c h e Mtfglichkeit d a r z u -s t e l l e n , wie -schlecht die Zu-stUnde -sind - und da-s um den

Preis des N i c h t w e i t e r e r z U h l e n k b n n c n s .

0 r o m a n c i s t a , segundo W i e c k e n b e r g , não foi capaz de p a s s a r da "arte a u r ã t i c a " (como W a l t e r Benjamim a definira em Pie Kunst im Zeitalter ihrer technischen R e p r o d u z i e r b a r k e i t ) p a r a a arte p o l í t i c a

Os críticos até agora a p r e s e n t a d o s neste p o n t o d e f e n d e m , por_ t a n t o , que há u m a linha de corte entre a trilogia e os relatos de v i a g e n s , em que desaparece a p r e o c u p a ç ã o com os fenómenos s o c i a i s .

A segunda linha da crítica teve o seu início no discurso lau datõrio de Walter J e n s , aquando da atribuição do p r é m i o BUchner em 1962. Jens aprecia e louva sobretudo os relatos de v i a g e n s e n ã o vê d e s c o n t i n u i d a d e entre eles e os r o m a n c e s , pela p e r m a n ê n c i a dos m e s m o s temas e m o t i v o s , sobretudo os temas da morte e da m e l a n c o l i a . S e g u n d o J e n s , o facto de Koeppen se ter libertado dos romances permitiu-lhe revê

102 lar-se como um grande e s t i l i s t a

(38)

Helmut HeissenbUttel considera os aspectos de crítica so-cial secundários; essenso-cial e

sichselbstfinden in einer Welt, in der dem Selbst der Boden entzogen ist

Vê que Koeppen está "einer SelbstentblOssung auf der Spur" - o que ë impossível na forma romanesca

Também Reinhard DOhl detecta a permanência da mesma temáti-ca. Nos romances, Koeppen atinge a fronteira do narrável, o que o obriga a escolher um novo ponto de partida para a sua escrita, uma vez chegado ao limite de alienação e da auto-alienação . Para DOhl, a grande diferença entre a prosa narrativa e a prosa viagística é que nesta o autor se mantém na facticidade .

A maioria dos analistas, contudo, segue a primeira linha apresentada, vendo na mudança de géneros um corte, salientando as ten dências críticas da trilogia e a ausência de crítica dos relatos.

Perante estas atitudes, surge a questão de saber se o roman-— roman-— - 10 7

cista Koeppen e ou não um autor político

Klaus Haberkamm recusa ver a trilogia como literatura políti ca. A observação da realidade por parte do romancista é demasiado des

108

comprometida e sobretudo a ligação constante ao mito faz tender pa ra o a-historicismo, para o "immergleich" . Presente nos três roman-ces está um fatalismo mítico , que impede a sua interpretação como romances políticos; para Haberkamm foram as circunstâncias que o tor-naram a posteriori num autor político

Para Josef Quack estes romances não são "politisch-histori-sche Zeitanalysen". No fundo, está patente um "Trauer tlber den Unter-gang ihrer eigenen Welt", onde o tempo do indivíduo está em

decadên-112 cia definitiva

Estes críticos, que defendera Koeppen como essencialmente apo

(39)

afirmações do próprio autor. Assim, a Horst Krliger, Koeppen diz em 1968:

mein Wort ist nicht politisch bewusst e em 1974 a Mauranges:

... Ich sehe das politische Engagement, die politische Moral nicht ais eine DomUne des Schriftstellers .an... A Heinz Ludwig Arnold afirma que a sua escrita nunca foi um programa político e em 1980 refere a Claus Hebell que não é um escritor po-lítico, pois se o fosse escreveria artigos editoriais em jornais e re_ vistas. E acrescenta:

Ich schreibe aber aus einen GefUhl, einer Empfindung, einem Wollen

A estas afirmações (a que poderíamos acrescentar outras na mesma linha de pensamento) podemos contrapor outras do mesmo autor que apontam para o oposto, nomeadamente, para um autor com preocupa-ções sociais e políticas, ainda que sem intenpreocupa-ções de intervenção di-recta.

Como justificar a afirmação de Koeppen que se vê como exer-cendo um papel de Cassandra, senão com a possibilidade de leitura dos romances como tendo preocupações políticas? A Horst Bienek, diz que

jedes Buch wirkt auch in die politische Welt . Varias vezes Koeppen tem referido que

jede Zeile, die ich schreibe, ist gegen den Krieg, gegen die Unterdrlickung, die Unmenschlichkeit, die Herzlosig-keit, den Mord gestellt .

E o autor também luta, toma partido,

nur fUr etwas, das noch nicht eingetreten ist, vielleicht nie eintreten wird. Er ist ein Anwalt der Schwachen, der

17 1

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£ possível, portanto, encontrar nas entrevistas de Koeppen argumentos que permitem defender ambas as posições. Tudo depende, no fundo, da acepção que se dã ao termo "político". Pessoalmente, acha-mos que um autor que toma posição face ã realidade, ainda que seja sõ para a observar, toma jã uma determinada posição política. Koeppen observa, mas faz transparecer o observado numa luz negativa,. isto é, toma posição face ao observado, e se este é político, acaba por tomar posição face ao político.

Contrariamente a outros escritores que se defrontaram também com a realidade política da R.F.A., Koeppen não tem um enquadramento ideológico determinado, o que provoca uma certa generalização da sua crítica, que tende para o abstraccionismo.

Muitos críticos e analistas vêem na trilogia a expressão da resignação e do pessimismo. E o caso, por exemplo, de Wolfdietrich Rasch. Não vê o cepticismo e a resignação como factores paralisantes, antes como um protesto, pois o mal não tem a sua origem em forças me-tafísicas, mas nos próprios homens

Por seu lado, para Mauranges, Koeppen acredita na missão do

- 121 escritor de revelar a miséria onde ela esteja escondida

Von Hofe e Pfaff afirmam que

ohne die Premisse einer Chance zur flnderung changiert Protest in schiere Klage,

,r\ 74

tornando-se assim o escritor num "enttMuschter AufklSrer .

Koeppen é, assim, visto como alguém que mostrou a Alemanha dos anos 50, mas que, dada a sua posição, não permite que a crítica gere reacções políticas nos leitores. Fritz Raddatz vê, por isso, os romances como políticos, mas ahistõricos . A atitude do escritor é definida por Raddatz como um

hineinhorchen in sich selber, zugleich auch Abhorchen von Geschichte

(41)

12 7 É um autor que sofre "das Leiden an der neuen Gesellschaft que apresenta um "Schreckbild das Untergangs blirgerlicher Individual^

tat"128.

Pela síntese apresentada, vemos que e dominante a tendência que defende a trilogia como crítica do seu tempo, ainda que vista co-mo apolítica, resignada, com traços de protesto. Koeppen não é um

au-129

tor da arte pela arte, embora também não recuse este aspecto . Nao 130

pode ser integrado na "literatura escapista" dos anos 50 , mas tam-bém não pode ser visto como um escritor eminentemente político. 0 fac_ to de a crítica se dividir na apreciação da trilogia é prova da gran-de complexidagran-de gran-deste autor.

1.2.4. Koeppen como objecto de trabalhos académicos

Após termos referido as principais linhas da crítica aos ro-mances do pós-guerra, vamos dedicar algum espaço â recepção da trilo-gia nos meios académicos. Este parágrafo serã apresentado de modo mui_ to sucinto, uma vez que todos os trabalhos referidos serão retomados ao longo desta tese, sobretudo para tomarmos posição quanto ãs dife-^ rentes propostas.

Seguiremos uma ordem cronológica, para uma melhor

contextua-- J - J * 131

çao da recepção deste autor

Num estudo de 1971 sobre a literatura alemã do pós-guerra, Charlotte Ghurye defende este autor como alguém para quem o idealismo e a política real não podem aparecer conjuntamente, o que leva Koeppen a uma posição pessimista face â realidade dos primeiros anos da R.F.A.,

A u - 1 3 2 que o preocupa de sobremaneira

0 primeiro trabalho inteiramente dedicado a Koeppen surgiu fora da Alemanha. Numa tese apresentada em 1973 na Universidade de Upp_

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